domingo, 30 de novembro de 2014

A Cultura Artística sob uma Perspectiva Reformada


               

Ao discorrermos sobre arte no campo da cosmovisão cristã reformada, devemos inicialmente compreender a importância de um correto posicionamento teológico sobre o assunto. Segundo o conhecido historiador da arte Hans Rookmaaker, a arte deve ser feita não por amor a arte, nem por amor a entronização do artista, mas, para glória de Deus [1]. Partindo desse principio, que é sem sombra de dúvida evidente desde a era dos reformadores, onde podemos ler nos antigos escritos, tanto de Lutero como de Calvino, o entendimento correto sobre a arte como dom de Deus é que deve ser devolvida a ele. No entanto, ao voltarmos nosso olhar, tanto para o período renascentista quanto o iluminista, a concepção dada à arte desde suas escolas mais famosas como o Impressionismo, Pontilhismo, Art Nouveaux, Simbolismo, Primitivismo, Expressionismo, Cubismo, Abstracionismo e Construtivismo, todas estas decorrentes dos séculos IXX e XX e também o Dadaísmo, Surrealismo e Expressionismo Abstrato só para citar algumas, são as bases para o atual desenvolvimento artístico. Trabalhando nesse período da historia contemporânea, após a revolução francesa, observamos que tais insigths são resultado de um clamor da alma do homem em se encontrar, e se achar, em se realizar. No entanto, essa procura nas artes não pode ser o ponto final dessa busca, porque a busca pelo belo em si não promove o devido resultado de satisfação, por isso o artista sempre continua fazendo arte, essa satisfação plena não existe. Tomando como exemplo o surrealismo que, inspirado nos escritos de Freud, materializou através da arte o mundo surreal residente no homem, trouxe as ânsias humanas certas doses de desespero, também que, diametralmente, o conduziu a uma inválida jornada por resultados insatisfatórios e inconclusos no que se refere a nobreza de sua capacidade e a satisfação plena em si mesmo, essa satisfação plena só pode ser alcançada em Deus, a arte conduz o homem ao supremo criador, no entanto, fora da esfera da glória ela é condenatória ao homem.

Nas Institutas da Religião Cristã do reformador João Calvino, observamos:

... E assim na consciência da nossa ignorância, fatuidade, penúria, fraqueza, enfim, de nossa própria depravação e corrupção, reconhecemos que em nenhuma outra parte, senão no Senhor, se situam a verdadeira luz e sabedoria, a sólida virtude a plena abundância de tudo que é bom, a pureza da justiça, e daí somos por nossos próprios males instigados à consideração das excelências de Deus. Nem podemos aspirar a ele com seriedade antes que tenhamos começado a descontentarmos de nós mesmos. [2]

Calvino versa no livro I sobre a semente da religião, que só é possível o homem conhecer a si mesmo se conhecer a Deus:

... O Verdadeiro e sólido conhecimento consta de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos...

Essa compreensão é muito importante para que estabeleçamos uma sólida teologia sobre a arte. A expressão artística deve ser voltada para glorificação do soberano Deus e não a arte pela arte ou por amor a arte [3]. 

Ao chegarmos no período cibercultural, que é nossa pauta, percebemos como a arte popularizou-se com mais força, inclusive, mais do que a revolução industrial que levou a arte a um contexto mercantil e a popularizou. A internet nos deu a possibilidade de irmos ao museu do louvre sem sairmos de casa, temos a possibilidade de assistirmos congressos sobre conjunturas artísticas em Madri ou Viena da sala de nossa casa. O mundo artístico está em nossa sala, em nossa tela. Verdade é que os protestantes são desconhecedores das grandes contribuições que cristãos deram ao mundo das artes, como Johann Sebastian Bach assinava ao fim das partituras – S.D.G – Soli Deo Gloria [4].

Como o pensamento artístico no mundo teve imensa contribuição de Cristãos e muitos deles protestantes, essa revolução artística que experimentamos hoje pela internet deve nos levar a dois pontos de reflexão: O que tem promovido o atual movimento gospel e qual é a finalidade da atual arte cristã.

O Que tem Promovido o atual movimento gospel?

Youtube, Faceboock, Myspace, Twitter e tantas outras redes que tem surgido, tem sido uma útil plataforma de propaganda do trabalho artístico, essa base leva a uma congratulação artística convergente e emergente para um cenário segmentado no meio fonográfico. Embora atualmente o mercado gospel seja de interesse dos grandes conglomerados empresariais, os cristãos devem sim apoiar o desenvolvimento artístico em nosso meio, as crianças devem ser estimuladas as artes e as Igrejas devem apoiar esse crescente interesse de jovens e crianças em relação à prática artística. Lemos no livro do Êxodo: 

"Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor, para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, e em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor." Êxodo 31:2-5 

Notamos que o próprio Deus dotou Bezalel com a capacidade artística, para Seu louvor, para Sua glorificação. Infelizmente não é o que observamos no atual movimento gospel, ou melhor, na indústria gospel, que tem feito arte pela arte por amor a arte e não para glória de Deus. Shows que promovem a idolatria, onde honram o Senhor com lábios, mas, o coração está distante de Deus. 

Qual é a finalidade da atual arte cristã?

Em seu livro sobre a cosmovisão cristã do calvinismo, o renomado teólogo Abrahan Kuyper [5] nos mostrará com clareza que a arte cristã deve ter um propósito teleológico, deve ter um propósito final, a arte promovida por cristãos deve ter como finalidade a gloria de Deus. Tanto na música, nas artes plásticas, em artes visuais nas suas várias vertentes e as demais manifestações do estético devem regar um coração compungido e contrito em agradar o criador de todas as coisas.

Por isso, se a arte cristã não estiver regada por esse sentimento de temor e adoração, não podemos chama-la de cristã. Além do fator interior e da função teleológica da arte, não podemos deixar de sublinhar a precisão doutrinária da arte cristã. Ao observarmos, por exemplo, a questão do estético, podemos destacar algumas coisas interessantes tomando o livro do Apocalipse como base.

O livro do Apocalipse foi escrito em um estilo literário, o estilo apocalíptico, como os livros poéticos de Jó, Salmos e Cantares. O estilo literário é uma forma artística e uma manifestação do belo. O belo é a manifestação, ainda que limitada, da glória de Deus. No exemplo que tomamos, sabemos pelos conhecimentos históricos que João não inventou o estilo apocalíptico, na verdade, temos fontes antigas do estilo. No Antigo Testamento temos o livro de Ezequiel, Daniel e Zacarias que esboçam um estilo apocalíptico. Aonde chegamos com isso? Que a arte é uma manifestação da graça comum e deve ser devotada a Deus para sua glória. 

O desenvolvimento cultural pela web tem sido de grande valor para os homens e também para a igreja, mas, a cultura cristã deve ser para a glória de Deus, e não dos homens ou instituições. Se isso for feito não há nada de dessemelhante a arte desse século, que entroniza a arte e o amor a arte, que coloca o homem sendo superior a manifestação artística e não Deus como o doador e o sustentador de tais capacidades.

Soli Deo Gloria

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Bibliografia:
[1] A Arte não precisa ser justificada, Ed. Ultimato
[2] Institutas da Religião Cristã, Ed. Unesp
[3] O Conceito Calvinista de Cultura, Henry R. Van Til, Cultura Cristã
[4] Se Jesus não tivesse nascido, D. James Kennedy, Ed. Vida
[5] Calvinismo, Abrahan Kuyper, Ed. Cultura Cristã
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Fonte: Bereianos

Deus não joga xadrez


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Einstein certa vez disse que “Deus não joga dados”, e ao que parece essa frase se eternizou. Hoje eu digo que Deus não joga xadrez. Arminianos, apesar de obstinados, muitas vezes não gostam de ser confrontados no tocante a suas premissas, os que isso fizeram e se mantiveram coerentes com suas crenças tornaram-se teístas abertos.

Por estes dias mantive conversa com um arminiano que não acredita na impecabilidade de Cristo, ou seja, ele acredita que Cristo poderia pecar, para isso ele usou o “se” preferido dos arminianos, o “se quisesse”. Evidentemente a cristologia desse irmão (quero crer que seu posicionamento seja apenas fruto do mau doutrinamento presente na maioria das igrejas atuais) é distorcida, por separar o homem Jesus do Deus Jesus, coisa que é impossível, pois Sua natureza divino-humana é inseparável. Dizer que Jesus poderia pecar é o mesmo que afirmar que Deus pode pecar. Para isso ele raciocina da seguinte forma: “se Jesus não fosse pecável, não poderia representar plenamente o homem, pois todas as suas tentações seriam uma encenação, e a cruz apenas um espetáculo”.

Uma coisa que devemos compreender é que opção não é igual a possibilidade. Se alguém me perguntar: “Cristo, diante das tentações, tinha a opção por pecar?”, responderei que sim, ele tinha esta opção; mas se alguém me perguntar: “Cristo diante das tentações PODERIA pecar?”, a resposta será um retumbante NÃO, Ele não poderia, tanto que não pecou.

Para demonstrar isso vou me disfarçar de arminiano e, ao invés de usar a fórmula calvinista dos Decretos Eternos de Deus, vou usar a fórmula arminiana da presciência. Vou deixar o exemplo de Jesus de lado e passar para o exemplo de Adão, que inclusive alguns calvinistas afirmam ser o único homem a possuir livre-arbítrio, coisa da qual eu discordo.

Um arminiano comum diz “Adão poderia não ter pecado se quisesse”, primeiro essa assertiva é completamente contrária ao arcabouço teológico arminiano.

Vejamos, todos os arminianos afirmam que Deus não interfere nas decisões humanas, mas os deixa livres para fazerem suas escolhas, e ao mesmo tempo afirmam a presciência divina, ou seja, Deus sabe qual será a decisão humana antes mesmo deste fazer sua escolha. Pois bem, pergunto: o que Deus viu Adão fazendo após tomar o fruto proibido das mãos de Eva? Resposta simples e direta: viu ele comê-lo. Pois bem, se Deus viu ou previu Adão comer o fruto, como podemos afirmar que Adão poderia não ter comido? Isso é completamente ilógico, e destrói, ou a suposta liberdade do homem ou a presciência divina.

Agora deixe-me colocar de outra forma, se eu perguntar: “Adão tinha a opção para não pecar?”, sim, ele tinha essa opção, mas de forma alguma ele poderia não comer o fruto pois o seu futuro já estava definido pela presciência. O grande problema é que o homem natural, ao invés de buscar conhecer a Deus mediante as Escrituras, cria um Deus a sua imagem e semelhança, e só aplica atributos divinos presentes nas Escrituras quando deseja defender seu ponto de vista distorcido, como por exemplo, a “eleição por presciência”, mas quando aplicamos a presciência de forma coerente eles pulam fora.

Diante disso a maioria começa a tender para o molinismo. Molinismo é a doutrina criada pelo jesuíta Luis Molina, daí o nome, que defende que Deus não conhece apenas o futuro, mas todas as opções de futuro possíveis. Essa doutrina foi inicialmente criada numa tentativa de conciliar a onisciência divina e o livre-arbítrio humano, porém ela não resolve problema algum, pelo contrário, deixa Deus numa posição de expectativa, pois a priori Ele sabe o que fazer em resposta a determinada decisão do homem, mas efetivamente não sabe que escolha o homem fará. De qualquer forma, reduz Deus a um mero espectador e coloca o homem como o protagonista da história. Por isso o título da postagem, pois num jogo de xadrez é  importante antecipar as jogadas dos adversário para que haja chance de vitória.

Para concluir, numa tentação possuímos duas opções: ceder ou resistir; sabemos qual devemos escolher, mas nunca realmente sabemos o resultado. Adão possuía duas opções, resistir ou ceder à tentação da serpente, sabia que não devia comer do fruto, mas não podia escapar do resultado decretado (ops!) previsto por Deus. Isso simplesmente porque o futuro a Deus, e somente a Ele, pertence. Existem opções? SIM! Existe a possibilidade de agir de forma contrária àquilo que Deus já viu? NÃO!

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Fonte: Internautas Cristãos

Calvinismo Recalcitrante: Desafios metodológicos do conceito de Calvinismo



O livro Calvinismo Recalcitrante, de João Flávio Martinez contém quatro blocos principais de argumentação, intitulados Panorama Geral do Calvinismo, O Fatalismo Condenável, O que á a TULIP? e Refutando Algumas Ideias Estranhas. Constam ainda uma introdução e conclusão, apêndices e um glossário. A primeira grande seção da obra, Panorama Geral do Calvinismo, fornece definições e conceito do Calvinismo, bem como informações sobre quem foi João Calvino.

Este post menciona uma curiosidade sobre o título do livro, bem como analisa as definições e conceitos do Calvinismo providos por Martinez. No próximo post, escreverei sobre o retrato que ele fornece de João Calvino.

Sobre o título Calvinismo recalcitrante

Martinez escreve: “Recentemente tenho observado o recrudescimento e o endurecimento do calvinismo e, devido a isso, concluímos que o melhor nome para o livro seria ‘Calvinismo Recalcitrante’”.[1] Coincidente e curiosamente, a expressão “calvinismo recalcitrante” é também utilizada pelo pregador pentecostal nicaraguano Dr. Antonio Bolainez, em uma palestra intitulada Tres Armas Que Pueden Dañar a La Iglesia.[2] “A primeira arma [...] é o Calvinismo recalcitrante, que com suas afirmações e questionamentos acerca da predestinação e salvação, podem confundir o crente, desmotivando-o de perseverar na fé”.[3] Parece que, para ambos os autores, o Calvinismo pode prejudicar a perseverança em santidade do cristão (se Deus permitir, abordarei esta questão ao analisar a seção O Que É TULIP?).

Sobre a ausência de dicionários e (confiáveis) enciclopédias teológicas

Antes de prosseguir é importante registrar que, do ponto de vista metodológico, é recomendável que definições e conceitos sejam buscados em dicionários. Especialmente quando lidamos com Teologia, o procedimento indicado é, primeiramente, consultar um Dicionário da Língua Portuguesa, a fim de obter a compreensão do vocábulo segundo a cultura vigente. O segundo passo é consultar um Dicionário de Filosofia, a fim de verificar o entendimento da ideia sob o escrutínio humanista-racional, ou seja, a maneira como os acadêmicos em geral concebem e articulam a matéria. Por fim, a fim de obter a compreensão cristã, bíblica e teológica do termo, é importante checar Dicionários e Enciclopédias de Teologia.

Aplicando tal método ao vocábulo “Calvinismo”, eis o que encontramos. O Dicionário Aurélio define Calvinismo como “sistema teológico da Reforma protestante, exposto e defendido por Calvino (1509-1564)”.[4] Para o Dicionário Oxford, Calvinismo é:
Forma rigorosa de protestantismo que se distingue pela crença na Bíblia como critério de fé, pela negação da liberdade humana desde o pecado original e pelo destaque particular que dá à predestinação arbitrária da salvação de uns e da condenação, para outros. O Calvinismo era o credo dos huguenotes, e teve bom acolhimento na Escócia.[5]

Ambos os conceitos exigem expansão e detalhamentos, fornecidos por dicionários e enciclopédias de Teologia. A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã sugere que o Calvinismo enfatiza, quanto às Escrituras, o princípio “sola Scriptura (‘somente a Escritura’). A rigor, Calvino era primariamente um teólogo bíblico. Treinado nas técnicas de exegese gramático-histórica pelos seus estudos humanistas e jurídicos, dirigiu-se às Escrituras para ver com clareza o que realmente diziam”.[6]

Um segundo aspecto do sistema denominado Calvinismo é seu entendimento do ser de Deus, subscrevendo-se “a doutrina histórica do Deus Trino e Uno, que é Pai, Filho e Espírito Santo, os mesmos em substância e iguais em poder e glória. Além disso, enfatizou grandemente o fato de que Deus é soberano [...] perfeito em todos os aspectos, detentor de todo poder, justiça e santidade”.[7] De modo específico, Deus “não está sujeito nem ao tempo nem a quaisquer outros seres, nem pode ser reduzido a categorias espaciais e temporais na compreensão e análise humanas. Para suas criaturas, Deus sempre deve ser misterioso, a não ser à medida que ele se revela a elas”.[8] Um dos desdobramentos disso é que “assim como Deus sustenta de modo soberano toda a sua criação, ele também, na providência, a governa e guia para a realização dos seus propósitos finais, a fim de que todas as coisas sejam somente para a glória de Deus (soli Deo gloria)”.[9]

O terceiro aspecto do Calvinismo, conforme Reid, é o homem que, “tendo a imagem de Deus, também tinha livre-arbítrio, o que significa que possuía a capacidade de livremente obedecer ou desobedecer aos mandamentos de Deus”.[10] A queda representou, no entanto, uma declaração de “independência do Deus soberano”,[11] uma adoração da criatura ao invés do Criador e, consequentemente, não apenas colocou o homem “sob condenação divina”,[12] mas também tornou-o “totalmente corrupto, transmitindo esta corrupção aos seus descendentes no decurso da história”.[13]

Reid prossegue:
O Deus soberano, no entanto, não permitiu que seus planos e propósitos fossem frustrados. Já na eternidade, como parte de seu plano secreto, ele tinha escolhido para si mesmo um grande número das suas criaturas caídas, para serem reconciliadas com ele. Deus nunca revelou por que agiu assim; diz, apenas, que ele escolheu fazer assim na sua misericórdia, porque, com toda justiça, poderia ter rejeitado a totalidade da raça humana pelos seus pecados. Na execução deste plano e propósito de redenção, o Pai enviou ao mundo o Filho, a segunda Pessoa da Trindade, a fim de receber a pena pelos pecados dos eleitos e cumprir a favor deles a justiça completa da lei de Deus.[14]

A estes escolhidos “é enviado o Espírito Santo, não somente para iluminá-los para entenderem o evangelho [...], como também para capacitá-los a aceitar a promessa do perdão divino. Mediante esta ‘chamada eficaz’ vêm a ter fé em Cristo como Redentor”.[15] Dito de outro modo, “é [...] pela fé somente (sola fidei) que são salvos, mediante o poder regenerador do Espírito Santo”.[16] Qual o resultado prático desta fé? “A partir de então, [...] devem viver vidas que, embora nunca sejam perfeitamente santas, devem manifestar de que são o seu povo, procurando [...] glorificá-lo nos pensamentos, palavras e ações”.[17]

Um quarto aspecto destacado relaciona-se com a organização da igreja. Concorda-se geralmente “que a igreja deve ser governada por presbíteros [...] eleitos pela igreja. Alguns, porém, creem que uma forma episcopal de governo eclesiástico é a forma correta, ou pelo menos permissível, de organização”.[18] Ademais, leva-se “em conta a pluralidade de formas da igreja”,[19] reconhecendo-se “que ela não é perfeita”[20] e insistindo-se “em que deve haver uma uniformidade ou congruência básica de doutrina”.[21]

Reid finaliza pontuando as contribuições de Calvino e do Calvinismo para “o desenvolvimento da democracia [...], as artes, [...] as ciências, as atividades econômicas e a reforma social”.[22]

Novo Dicionário de Teologia sublinha como principais características da Teologia Reformada e, por conseguinte, o Calvinismo, a “centralidade de Deus”,[23] a “Cristocentricidade”[24] e a “pluriformidade”.[25] Concluindo sua exposição cuidadosa, Letham assevera:
A teologia reformada mostra uma capacidade contínua para a autocrítica e uma renovação que apresenta promissor prognóstico futuro, pois, conforme argumenta Warfield, o futuro do Cristianismo é inseparável do bom êxito da fé reformada. Seu interesse em um teocentrismo consistente, sua abrangente cosmovisão e sua Cristocentricidade, pelo menos implícita, exemplificam sua rigorosa exploração teológica do evangelho, sua busca de “fé procurando entendimento” e seu movimento em direção à integração da criação com a redenção em Cristo. Na verdade, onde quer que uma oração seja feita, há provavelmente uma igreja protestante se engajando na teologia reformada.[26]

Eis duas menções do Calvinismo, em uma Enciclopédia de História e Teologia, e em um Dicionário de Teologia contemporâneos. Observe-se, porém, que nove das dez citações da primeira parte do capítulo inicial de Calvinismo Recalcitrante de Martinez são oriundas de web sites. Observe-se ainda que, no endereçamento destas fontes da Internet, não são fornecidas as URLs completas. Os links de Martinez nos remetem à páginas iniciais dos sites, requerendo trabalho adicional para encontrar os textos mencionados. De fato, somente uma citação provém de um livro (no caso, um sermão de Spurgeon). Na conceituação do Calvinismo, Martinez não recorre a qualquer dicionário ou enciclopédia academicamente reconhecida.

Sobre o endereçamento e objetividade das fontes

A citação de uma fonte serve para corroborar um argumento ou a apresentação de um fato ou ideia. Literalmente, corresponde a recorrer a uma testemunha, autor confiável, especialista, autoridade ou representante reconhecido de determinado grupo ou escola de pensamento. Por isso, é fundamental que:
1 - As fontes sejam devidamente endereçadas, permitindo ao leitor acessar a bibliografia pertinente e ler o texto em seu contexto original.
2 - As citações sejam objetivas ou imparciais. Quando é mencionado um autor que afirma uma opinião contestada (que não é unanimemente aceita por todos os estudiosos do assunto), a citação deve deixar claro que trata-se de um ponto de vista que é rebatido por alguns. O melhor, inclusive, é mencionar as ideias contrárias, para que o leitor tenha como decidir (uma das palavras prediletas dos arminianos) pela interpretação que considere melhor ou mais consistente.

Martinez nem sempre atenta para o endereçamento das fontes. Pelo contrário, em sua primeira citação do capítulo, ele menciona a Wikipédia que, por sua vez, registra uma longa citação das Institutas, sem endereçamento.[27] Trata-se de uma citação deInstitutas, IV.XVI.32, mas o leitor que não é versado em Calvino fica “perdido”, sem saber onde encontrar o texto referido. Esta prática é repetida em Calvinismo Recalcitrante, como indicarei em outros posts.

Quanto à objetividade das fontes, Martinez cita O Outro Lado do Calvinismo, de L. Vance, cuja definição do Calvinismo é contestada por alguns estudiosos bíblicos. Primeiro, lemos que “a Expiação Limitada é o ensino que Jesus Cristo, por sua morte na cruz, somente fez expiação pelo grupo de homens previamente eleitos para salvação [Deus não amou o mundo todo, negando Jo 3.16]”.[28] Independentemente da parte entre colchetes ser do próprio Vance ou de Martinez, afirmar que o Calvinismo negaJoão 3.16 é passível de contestação, pelos seguintes motivos:

Primeiro, o próprio João Calvino, em nenhum lugar de seus escritos nega João 3.16. Ao ensinar que a encarnação de Cristo não teve outro propósito, senão nossa redenção, Calvino cita João 3.16 da seguinte forma:
Quando ouvimos ser Cristo particularmente devotado por Deus para levar ajuda a míseros pecadores, todo aquele que vai além destes limites incorre em curiosidade demasiado estulta. Quando ele apareceu pessoalmente, afirmou ser esta a causa de sua vinda: que, sendo Deus aplacado, conduzisse ele da morte para a vida. Os apóstolos atestaram o mesmo a respeito. Assim, antes de ensinar que a Palavra se fez carne [Jo 1.14], João narra a rebelião do homem [Jo 1.9-11]. Mas é melhor que o ouçamos pessoalmente a sentenciar acerca de seu encargo: “Deus assim amou o mundo”, diz ele, “que deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça. Pelo contrário, tenha a vida eterna” [Jo 3.16]. De igual modo: “A hora vem em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” [Jo 5.25]. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” [Jo 11.25]. Também: “O Filho do homem veio para salvar o que se havia perdido” [Mt 18.11]. Ainda: “Os sãos não têm necessidade de médico” [Mt 9.12]. Não haveria limite, se eu quisesse mencionar todos os textos pertinentes.[29]

Em outro lugar, ao explicar a inter-relação dos atributos das naturezas humana e divina de Cristo, Calvino novamente cita João 3.16 afirmando que “João ensina que Deus deu sua vida por nós [Jo 3.16]”.[30] Logo adiante ele assevera que “a despeito de nosso pecado e rebeldia, que lhe excitariam a ira, Deus jamais deixou de nos amar”[31] e, como prova, dentre outros textos, propõe João 3.16, como segue, “nisto Deus manifestou seu amor para conosco: que o Filho Unigênito foi entregue à morte [Jo 3.16]”.[32]

E não apenas isso. Calvino inicia sua explicação sobre a ação mútua do mérito de Cristo e da graça de Deus deste modo:
Esta diferenciação entre a graça de Deus e o mérito de Cristo se deduz de muitas passagens da Escritura. “Assim amou Deus ao mundo que deu seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça” [Jo 3.16]. Vemos como o amor de Deus mantém o primeiro lugar, como a causa suprema e a origem; a ele segue a fé em Cristo, como a causa segunda e mais próxima.[33]

No mesmo capítulo, combatendo uma sugestão de Lombardo e dos escolásticos (de que Cristo, em sua morte, adquiriu mérito para si mesmo), Calvino apregoa: “Ora, o Pai não diz ter granjeado provento para o Filho nos méritos deste; ao contrário, que o entregou à morte, não o poupou [Rm 8.32], porque amava o mundo [Jo 3.16]”.[34]

No terceiro volume de suas Institutas, Calvino sustenta que “todas as causas de nossa alvação estão postas na graça, não nas obras”.[35] Neste contexto, João 3.16 é citado magistralmente:
Se, porém, atentarmos para as quatro modalidades de causas que os filósofos preceituam que se deve considerar na efetuação das coisas, nenhuma delas acharemos que se ajuste às obras para que nossa salvação se consuma. Pois, a Escritura, por toda parte, proclama que a misericórdia do Pai celeste e seu gracioso amor para conosco são acausa eficiente para adquirir-nos a vida eterna; a causa material é por meio de Cristo com sua obediência, mediante a qual adquiriu justiça para nós; e qual diremos ser a causa formal, ou também instrumental, senão a fé? E João compreende estas três, a um tempo, em uma sentença, quando diz “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” [Jo 3.16].[36]

Ademais, Calvino faz uso de João 3.16 como Palavra de Deus que nos revela que a eleição se baseia, se efetua e se assegura somente em Cristo.[37] Nestes termos:
Portanto, que semelhantes exemplos [dos que se dizem crentes, mas revelam que jamais foram convertidos] não nos alterem nem nos impeçam de descansar confiados na promessa do Senhor, quando diz que o Pai lhe deu [a Cristo] a todos aqueles que com verdadeira fé o recebem, dos quais nem um sequer perecerá por ser ele seu guardião e pastor [Jo 3.16; 6.39].[38]

Finalmente, comentando o Evangelho de João (especialmente 3.16), o reformador de Genebra escreve que “nossas mentes não conseguem encontrar calmo repouso, até que chegamos ao amor gratuito de Deus”.[39] O amor de Deus pelo “mundo” é explicado assumindo-se que a fé em Cristo traz vida a todos, e que Cristo trouxe vida, porque o Pai Celestial ama a raça humana, e deseja que eles não se percam”.[40]

E como devemos entender “todos”, “raça humana” e “eles”, neste comentário de Calvino? Primeiro ele destaca que “Cristo falou desta maneira, a fim de atrair os homens a partir da contemplação de si a olhar para a misericórdia de Deus”.[41]

Segundo, João 3.16 revela “que, até que Cristo conceda a sua ajuda em resgatar os perdidos, todos estão destinados à destruição eterna”.[42]

Terceiro, a fé correta abandona toda ideia de mérito próprio para a salvação e apoia-se unicamente na morte de Cristo como evidência do amor divino.[43]

Quarto, em João 3.16 temos aquilo que os teólogos calvinistas posteriores denominarão chamado externo do evangelho, ou seja, Deus “convida todos os homens, sem exceção, à fé de Cristo, que é nada mais do que uma entrada para a vida”.[44]

Quinto, “enquanto a vida é prometida universalmente para todos os que creem em Cristo, ainda a fé não é comum a todos”.[45] E porque nem todos creem? Calvino responde que “Cristo é dado a conhecer [...] à vista de todos, mas [os da] eleição [...] são aqueles cujos olhos Deus abre, para que possam procurá-lo pela fé”.[46]

Outro detalhe da citação de Vince, também entre colchetes, abordando a Graça Irresistível, é que o Calvinismo ensina que “o homem não é tocado pelo amor de Deus, mas recebe salvação pela imposição divina”.[47] Eu não conheço qualquer escrito do Calvinismo que afirme que o eleito “recebe salvação pela imposição divina”. Para o Calvinismo, Deus não força a vontade a fim de conceder salvação, e sim a restaura e renova mediante a regeneração. Como afirma Turretini, “que disposição pode haver em um homem morto para viver, em um cego para ver, em uma pedra para sentir?”[48] E prossegue: “se requer antecipadamente a cura da faculdade prejudicada a fim de que possa apreender corretamente o objeto e firmar seu próprio ato”.[49] Dito de outro modo, a alma curada pela regeneração é capacitada a enxergar Cristo e responder ao amor de Deus com arrependimento e fé. Se Deus permitir, retornarei a este ponto ao analisar a seção O Que é TULIP? (p. 35-73) da obra de Martinez.

Voltando à questão metodológica, as duas afirmações entre colchetes, inseridas na citação de Vince, na p. 16 de Calvinismo Recalcitrante, exigem informações adicionais. Para que a citação possa ser compreendida como objetiva ou imparcial, ao registrar, entre colchetes, que o Calvinismo afirma que “Deus não amou o mundo, negando Jo 3.16”, o correto seria afirmar que o Calvinismo interpreta João 3.16 diferente do Arminianismo. Seria útil ainda informar o leitor sobre o modo como a passagem é entendida pelo próprio João Calvino. Além disso, ao sugerir que, no Calvinismo, “o homem não é tocado pelo amor de Deus, mas recebe salvação pela imposição divina”, o correto seria mostrar a opinião contrária, dando ao leitor “liberdade de escolha” entre os argumentos do Calvinismo e Arminianismo.

Concluindo: Calvinismo Recalcitrante descreve um “Calvinismo” reduzido

Quatro das citações (a da Wikipédia, p. 13-14; a do site Calvinismo.com, p. 15; a de Vance, p. 15-16 e a do web site daCovenant Protestant Reformed Church)[50] destacam a TULIP ou as doutrinas da graça. Uma citação parece apenas sugerir que Calvino disseminou “outra compreensão sobre as questões de fé levantadas por Martinho Lutero”.[51] Outra, que o Calvinismo “hoje tem grande rejeição no meio evangélico”,[52] ou que ele (Spurgeon, ao dizer que “o Calvinismo é o Evangelho”) sinaliza uma “ufania teológica”.[53] Uma citação é mencionada apenas para ser qualificada como “opinião estranha”.[54] Duas citações (de Olson e Hunt, p. 18-19) consideram a retórica do Calvinismo como sendo “de exclusão” e a identificação do Calvinismo com a Reforma como “reivindicação presunçosa”. Tais citações de definições e conceito do Calvinismo, fornecidas por Martinez, ao invés de expor o Calvinismo de modo amplo e imparcial, sugerem um “Calvinismo” reduzido.

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Notas:

[1] MARTINEZ, João Flávio. Calvinismo Recalcitrante. São José do Rio Preto: Martinez Publicações, 2014, p. 9.
[2] BOLAINEZ MINISTRIES INC. Tres Armas Que Pueden Dañar a La Iglesia. Disponível em: <http://www.bolainezproductions.com/p234/Tres-armas-que-pueden-da%C3%B1ar-a-la-Iglesia/product_info.html>. Acesso em: 10 Set. 2014.
[3] BOLAINEZ MINISTRIES INC., op. cit., loc. cit. Tradução nossa.
[4] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Calvinismo. In: Dicionário Aurélio Eletrônico 7.0. Curitiba: Editora Positivo, 2009. CD-ROM.
[5] BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997, p. 50.
[6] REID, W. S. Calvinismo. In: ELWELL, Walter. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 225. v. 1 A — D.
[7] REID, op. cit., p. 226.
[8] Ibid., loc. cit.
[9] Ibid., loc. cit.
[10] Ibid., loc. cit.
[11] Ibid., p. 227.
[12] Ibid., loc. cit.
[13] Ibid., loc. cit.
[14] Ibid., loc. cit.
[15] Ibid., loc. cit.
[16] Ibid., loc. cit.
[17] Ibid., loc. cit.
[18] Ibid., loc. cit.
[19] Ibid., loc. cit.
[20] Ibid., p. 228.
[21] Ibid., loc. cit.
[22] Ibid., loc. cit.
[23] LETHAM, R. W. A. Teologia Reformada. In: FERGUSON, Sinclair R.; WRIGHT, David F. (Ed.). Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 1134-1136.
[24] LETHAM, op. cit., p. 1136.
[25] Ibid., p. 1136-1138.
[26] Ibid., p. 1138.
[27] MARTINEZ, João Flávio. Calvinismo Recalcitrante. São José do Rio Preto: Martinez Publicações, 2014, p. 14. Há um problema adicional aqui. Por ser livremente editável, a Wikipédia, assim como qualquer outra fonte de dados baseada na plataforma wiki, não possui credibilidade para pesquisas acadêmicas.
[28] MARTINEZ, op. cit., p. 16.
[29] CALVINO, João. As Institutas: Edição Clássica, doravante denominada Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, II.XII.4, p. 223-224.
[30] CALVINO, Institutas, II.XIV.2, p. 239.
[31] Ibid., II.XVI.4, p. 260.
[32] Ibid., loc. cit.
[33] Ibid., II.XVII.2, p. 280. Grifos do autor.
[34] Ibid., II.XVII.6, p. 284.
[35] CALVINO, João. As Institutas. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, III.XIV.17, p. 253.
[36] CALVINO, Institutas, loc. cit.
[37] Ibid., III.XXIV.5, p. 431. Grifo nosso.
[38] Ibid., III.XXIV.7, p. 433.
[39] CALVIN, John. Commentary on the Gospel According to John. Bellingham, WA: Logos Bible software, 2010, p. 122–123. v. 1. Tradução nossa.
[40] CALVIN, op. cit., p. 123.
[41] Ibid., loc. cit.
[42] Ibid., loc. cit.
[43] Ibid., loc. cit.
[44] Ibid., p. 125.
[45] Ibid., loc. cit.
[46] Ibid., loc. cit.
[47] MARTINEZ, op. cit., p. 16. Grifo nosso.
[48] TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, loc. 15.6.VIII, p. 657. v. 2.
[49] TURRETINI, op. cit., loc. cit.
[50] MARTINEZ, op. cit., p. 17.
[51] BRASIL ESCOLA. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/>. Acesso em: 26 mai. 2014, apud MARTINEZ, op. cit., p. 15.
[52] Ibid., p. 17.
[53] Ibid., p. 17-18.
[54] Refiro-me a PALMER, Edwin H., apud ARMINIANISMO.COM. Disponível em: <http://www.arminianismo.com/>. Acesso em: 17 mai. 2014, apud ibid., p. 19.

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Sobre o autor: Rev. Misael Nascimento é pastor efetivo da Igreja Presbiteriana Central de São José do Rio Preto (IPB Rio Preto) desde janeiro de 2010. Doutorado em Ministério no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ) - São Paulo-SP e Reformed Theological Seminary (RTS), Jackson, Mississipi. Módulos cursados na sede do CPAJ, em São Paulo, 2008. Graduação em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Mackenzie (EST), 2006. Especialização Lato Sensu em Teologia Prática na Faculdade Teológica Batista de Brasília (FTBB), 2001. Graduação em Teologia. Faculdade Teológica Batista de Brasília (FTBB), concentração em ministério pastoral, 1996.

Fonte: Somente pela Graça

Devo me preocupar com o que pensam de mim?


Sim e não. É bom lembrar que quando você se converteu ganhou de Deus uma nova natureza, que está em total antagonismo à velha natureza, a carne, que vive em você. Então a preocupação com o que as outras pessoas pensam de você pode ter dois aspectos: Ou elas estão se referindo à sua velha carne ou ao "do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade." (Ef 4:24). 

Como cristãos sua preocupação não deveria ser quando falam mal de você injustamente. Ao contrário, você deveria estar mais preocupado quando incrédulos falam bem de você. Veja o que o Senhor Jesus diz: "Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas." (Lc 6:26 - NVI). O que o Senhor pensava da opinião ou aparência das pessoas? Podemos descobrir pelas palavras de seus adversários: "Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens." (Mc 12:14). 

O apóstolo Paulo não dava a mínima para o que os outros pensavam dele, e aprendemos isto de Gálatas 1:10, quando ele diz: "Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo." (Gl 1:10). Mas este "não dar a mínima para o que os outros pensam" não é no sentido de viver uma vida inconsequente fazendo a própria vontade e ofendendo a Deus e aos homens, mas de viver apenas preocupado com a opinião de Deus, não dos homens. "Porque também Cristo não agradou a si mesmo", mas se dispôs a servir de uma espécie de "para-raios" atraindo para si toda injúria dirigida a Deus: "Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam." (Rm 15:30). 

Ao se referir ao seu ministério, Paulo mostrou bem a quem ele servia: "Falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações. Porque, como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem houve um pretexto de avareza; Deus é testemunha; e não buscamos glória dos homens, nem de vós, nem de outros."(1 Ts 2:4-6). 

Há muitas razões para agirmos de modo contrário a este demonstrado por Paulo. Podemos omitir a verdade ou esconder o evangelho para sermos populares entre  as pessoas e não sofrermos perseguições. Eu e você certamente já tivemos oportunidade de testemunhar de Cristo e não o fizemos porque logo veio um pensamento em nossa mente: "O que essa pessoa irá pensar quando souber que eu sou cristão?". Esta é uma forma de conservarmos uma reputação de neutralidade diante de incrédulos para sermos aceitos por eles. 

Mas é um engano pensar que os incrédulos aceitam um crente totalmente. Quando Davi decidiu se esconder justamente entre os inimigos de Deus foi preciso fazer-se e louco para não ser morto por eles, e assim é o cristão que quer ser popular entre incrédulos: acabará sempre sendo visto como um louco: "E Davi levantou-se, e fugiu aquele dia de diante de Saul, e foi a Aquis, rei de Gate. Porém os criados de Aquis lhe disseram: Não é este Davi, o rei da terra? Não se cantava deste nas danças, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares?  E Davi considerou estas palavras no seu ânimo, e temeu muito diante de Aquis, rei de Gate. Por isso se contrafez diante dos olhos deles, e fez-se como doido entre as suas mãos, e esgravatava nas portas de entrada, e deixava correr a saliva pela barba. Então disse Aquis aos seus criados: 'Eis que bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim? Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para que fizesse doidices diante de mim?'" (1 Sm 21:10-25). 

Também podemos ser do tipo lisonjeador por pretexto de avareza, isto é, para lucrar com isso, ganhar votos ou por qualquer outro motivo. Somos treinados desde pequenos a sermos educados na presença das pessoas, e isso é ótimo. O Senhor não chegou para a mulher na beira do poço em João 4 logo trazendo à conversa que ela tinha dormido com vários homens, mas deixou que o assunto chegasse ao ponto em que sua vida de escolhas erradas viesse à tona com a intenção de salvá-la. Ele foi, ao mesmo tempo, educado e honesto em suas colocações, pois não tinha vindo no caráter de quem esmaga "o caniço rachado" ou apaga "o pavio fumegante", isto é, não pisava nas pessoas já feridas e nem as desmotivava. Mas ao mesmo tempo não era um lisonjeador barato pois não buscava a glória dos homens. 

Existe um equilíbrio que é bíblico entre viver de modo agradável a Deus e ao mesmo tempo não ser inconveniente diante dos homens. Muitos cristãos saem por aí batendo com a Bíblia na cabeça das pessoas e expondo todos os seus erros até receberem o troco, que geralmente vem com força total. Aí saem orgulhosos de estarem sendo perseguidos, pois se lembram da passagem que diz que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos." (2 Tm 3:12). A questão é que esse tipo de perseguição não veio por desejarem viver piedosamente, mas por terem sido brutos, inconvenientes e ofensivos em suas abordagens. 

O apóstolo Pedro escreveu sobre o cuidado que devemos ter para não darmos motivo para os incrédulos falarem mal de nós: "Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação." (1 Pe 2:11-12). 

Quando algum incrédulo criticar nosso mau proceder, aí sim devemos nos preocupar e corrigir nossos passos, porque se um incrédulo é capaz de enxergar em nós algo que cause escândalo é porque nosso andar está até pior do que o daqueles que não temem a Deus. Como Paulo escreveu, ao falar do homem que vivia em pecado moral na assembleia de Corinto:"Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem abuse da mulher de seu pai." (1 Co 5:1). 

Mas se as críticas e perseguições forem consequência de nosso andar piedoso, então não há com quê nos preocuparmos, cuidando sempre de reagirmos com mansidão e temor: "Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo. Porque melhor é que padeçais fazendo bem (se a vontade de Deus assim o quer), do que fazendo mal." (1 Pe 3:14). 

Juntando tudo, devemos nos preocupar com o que as pessoas pensam de nós? Sim e não. Sim, se o que pensam de nós for de algum modo ofensivo a Cristo por ser consequência de nosso mau testemunho neste mundo. Não, se o que pensam de nós for o resultado de estarmos vivendo para a glória de Deus. No primeiro caso devo considerar o outro, que pensa ou fala mal de mim, uma espécie de "consultor gratuito". Consultores são contratados para encontrar defeitos nas empresas e ajudá-las a corrigi-los. Se formos acusados justamente nossa reação deve ser reconhecer nossos erros e deixá-los. Devemos também nos retratarmos para com aqueles que se sentiram ofendidos. Mas se formos acusadosinjustamente devemos nos sentir felizes por padecermos fazendo o bem. 

"Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus; quanto a eles, é ele, sim, blasfemado, mas quanto a vós, é glorificado. Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte." (1 Pe 4:14-16) 

"Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente." (2 Pe 2:19-23) 

por Mario Persona 

Interpretando 1 Pedro 1:1-2




Pedro, apóstolo de Jesus Cristo,


Aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue:

Graça e paz lhes sejam multiplicadas. (1 Pedro 1.1-2)

A passagem de 1 Pedro 1. 1-2 afirma que somos eleitos “de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai”. Como já vimos, a presciência de Deus é o deleite especial ou a afeição graciosa com a qual Ele nos vê. Mais uma vez, um bom sinônimo é “amar primeiro”. Precisamos também interpretar a força da proposição traduzida por “de acordo com” (kata).

A maioria concorda que a palavra kata nessa passagem tem o sentido de “em conformidade com”. Em outras palavras, a presciência de Deus ou seu amor eterno por nós era o padrão ou norma à luz da qual seu ato eletivo foi realizado. Contudo, como sugerido por M.J. Harris, é quase como se a noção de conformidade fosse “totalmente deslocada, passando kata a denotar ‘fundamento’. Assim, a eleição é fundamentada na (kata) presciência de Deus Pai, realizada pela (en) obra santificadora do Espírito, tendo como objetivo ou conquista (eis) a obediência e a aspersão constante do sangue de Cristo”.

Precisamos ser cautelosos para não fundamentar uma grande parte da nossa teologia nas nuances das preposições gregas. Entretanto, não podemos nos dar ao luxo de ignorar as preposições como se elas não tivessem qualquer importância. Um exemplo relacionado a ignorar as preposições é a tentativa de Norman L. Geisler de contornar a doutrina da eleição incondicional. Geisler insiste em que, segundo 1 Pedro 1. 1-2, a eleição e a presciência são atos simultâneos, que nenhum se baseia no outro, seja cronológica ou logicamente. Mas dizer que a eleição é “de acordo com” a presciência (que é a interpretação de Geisler) não é a mesma coisa que dizer que a eleição é “concomitante” ou “simultânea” à presciência. A exegese de Geisler tem duas falhas graves. Primeira: ele pensa erroneamente que a presciência se refere a não mais do que a onisciência divina, o atributo em virtude do qual Deus conhece todas as coisas. E a segunda: ele lê na preposição kata um significado estranho ao Novo Testamento.

Em suma, o argumento de Pedro é o mesmo que o de Paulo. Em conformidade com o amor, ou talvez com base nele e na afeição graciosa pré-temporais de Deus pelos pecadores, Ele nos predestinou à fé e à vida.

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Fonte: Texto extraído do capítulo 8 da obra Escolhidos: Uma exposição da doutrina da eleição.
Selecionado por: Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos

Perdão





O perdão do pecado é aquilo que o pecador espiritualmente despertado mais deseja. Todavia, é possível o perdão? Sem a Bíblia jamais saberíamos se tal perdão seria possível. Vemos, nas Escrituras, que Deus fala de Sua misericórdia desde os dias mais antigos: "O Senhor... perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado" (Ex. 34:7).

Na Bíblia Deus fala de muitos modos a respeito do Seu perdão, como também sobre a pecaminosidade humana, de muitas maneiras diferentes. Os pecadores são descritos como "corrompidos" e "abomináveis". O perdão de Deus é descrito como "limpeza" e "cobertura". Os pecadores são descritos como "devedores" e "sobrecarregados". O perdão é apresentado como "apagador" de dívidas e como "levantador" do abatido. As ofensas "vermelhas" são tornadas brancas "mais que a neve". O perdão de Deus é inteiramente adequado ao teu pecado!

O perdão de Deus para o pecado é gratuito, pleno e eterno. Estes três aspectos merecem considerações mais detalhadas, para mostrar quão completamente Deus na Sua misericórdia perdoa os pecadores.

Este perdão é gratuito. Não há condições para serem cumpridas antes dele ser dado. Os exemplos das Escrituras tornam isso bem claro. Que condições Saulo de Tarso teve de cumprir antes de ser perdoado? Nenhuma! Ele era um inimigo de Deus. Foi perdoado não porque tivesse cumprido certas condições, mas, "para que em mim, o principal pecador, evidenciasse Jesus Cristo a Sua completa longanimidade e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna" (I Tim. 1:16). Paulo, sem merecer, foi perdoado como "um modelo" para nós, da graça perdoadora de Deus.

Que condições Zaqueu, ou a samaritana, ou o carcereiro de Filipos cumpriram para obterem o perdão? Nenhuma, de fato! Nenhum deles merecia ser perdoado. Outros exemplos também poderiam ser citados, porém contentar-me-ei com apenas mais um. Que condições o ladrão moribundo teve de cumprir para ser perdoado? Também nenhuma! Ele era um notório pecador. Teria ele razão para esperar uma resposta feliz à sua oração: "Lembra-te de mim..."? Seu perdão foi unicamente um ato da graça de Deus! E o fato de só ele ter sido perdoado, dos dois ladrões, é um ato da graça discriminativa.

Ainda que este perdão seja gratuito para os pecadores, nunca devemos esquecer-nos de que Cristo pagou um alto preço por ele. Perdão para a menor das nossas ofensas só se tornou possível porque Cristo cumpriu as mais aflitivas condições, — Sua encarnação, Sua perfeita obediência à lei divina e Sua morte na cruz. O perdão que é absolutamente gratuito ao pecador teve um alto custo para o Salvador. Entretanto, no exato momento de pagar esse preço, como para mostrar que ele não foi pago em favor de pessoas justas ou dignas aos seus próprios olhos, Jesus moribundo perdoou livremente o ladrão. É evidente que o perdão vem pela graça, e a graça é favor dado sem o cumprimento de quaisquer condições preestabelecidas.

Penso que já foram apresentados fatos suficientes para provar que o perdão é gratuito. Eu poderia facilmente acrescentar outros fatos. Mas deixo-os de lado e só quero lembrar-te de um versículo marcante: "Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho" (Rom. 5:10). Está claro, então, que o perdão não foi dado por qualquer coisa boa que tais "inimigos" tivessem feito!

Em segundo lugar, este perdão é pleno. Mesmo só um pecado traz a maldição da lei sobre o pecador. O perdão deve ser pleno o suficiente para incluir cada pecado, e deve abranger os piores pecados, não importando quão perversos eles sejam, ou de outro modo tal perdão seria inadequado. Uma pessoa com um só pecado não perdoado, está perdida.

O sangue de Cristo tem valor infinito por causa da gloriosa dignidade d Aquele que o derramou. A morte de Cristo é capaz de "nos purificar de toda injustiça" (I Jo. 1:9), e isso significa que nos pode purificar de cada pecado, por pior que seja, e de todos os pecados, não importando quão numerosos sejam eles.

Podemos muito bem clamar: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e esqueces da rebelião do restante da tua herança. O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; subjugará as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Miq. 7:18-19).

Venha, então, trêmulo pecador! Pense nas riquezas da graça! Não permitas que nenhum pecado, ou mesmo uma multidão deles, te leve ao desespero. Deus nunca confere o Seu favor por causa do merecimento do pecador e nunca o nega por causa do seu demérito. A graça é livre e plena. Descanse sobre esta verdade!

Em terceiro lugar, o perdão é para sempre. Esta é a coroação final de um perdão completo. Ele é irreversível. As Escrituras dizem isto claramente: "... de seus pecados não me lembrarei mais" (Heb. 8:12). Esta promessa não é condicional, e sim absoluta. Não depende do perfeito comportamento subsequente do pecador (Se dependesse, então esse perdão certamente fracassaria e não poderia ser mantido). Depende do valor eterno da morte expiatória do Senhor e da inabalável fidelidade de Deus. "Quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões" (Sal. 103:12). "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rom. 8:33). Estas fortes expressões significam que o perdão jamais poderá ser revertido.

O fato de Deus castigar Seus filhos quando eles pecam, não significa que eles possam perder o seu perdão. O castigo que lhes impõe é evidência do Seu amor e do Seu interesse por eles, e não um sinal de que os está rejeitando.

O fato dos crentes orarem continuamente para que Deus lhes perdoe os pecados, não significa que eles já não estejam perdoados. Eles buscam a consciência de que foram perdoados. Não vamos imaginar que toda vez que eles pecam, arrependem-se, confessam o seu pecado e pedem perdão, Deus realiza novos atos de perdão. Contudo, eles precisam conscientizar-se sempre de que o perdão já lhes pertence, por serem filhos de Deus.

Quão glorioso, portanto, é o perdão que procede da graça de Deus. Quão completo é esse perdão! Nada existe que possa levar o pior pecador a deixar de pedi-lo. Ninguém tem razão para dizer: "Infelizmente, meus pecados são enormes demais!"

"Que diremos, pois, permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum" (Rom. 6:1-2). Antes, o pecador perdoado dirá com a mais profunda gratidão: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome... (porque) é ele que perdoa todas as tuas iniquidades" (Sal. 103:1,3).

"O perdão de Deus é da mesma natureza dEle. Não é estreito, difícil, frio, restrito e condicionado como o perdão que impera entre os homens; mas é pleno, livre, insondável, sem limites, absoluto — é da mesma natureza das excelências de Deus. Lembrem-se disso, pobres almas, quando tiverem de tratar com Deus a respeito deste assunto. O perdão não é merecido por obras piedosas realizadas antes, porém, é o mais forte motivo para se viver piedosamente depois de recebê-lo. Aquele que não aceita o perdão, a não ser que possa merecê-lo de uma forma ou de outra, não participará dele. Aquele que presume tê-lo recebido, e não se sente obrigado a ser obediente a Deus por causa do perdão que recebeu, na verdade não goza dele!"

Leitor, um tal perdão não seria próprio para você? Almeja ser perdoado? Então, olhe para Jesus que morreu por você. Isso que tanto deseja é um dom livre que se tornou possível por causa do Seu sacrifício a favor dos pecadores.

Você já está perdoado? Então o teu coração deve estar cheio de santo amor pelo Senhor e de compaixão para com qualquer que te ofenda. Aquele que se considera perdoado, mas não perdoa aos outros, "é mentiroso" (I Jo. 4:20).


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Fonte: The Reign of Grace
Tradução: Josemar Bessa
Via: Josemar Bessa