segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Nosso lugar perante Deus - Edward Dennett

Estou um pouco preocupado em pensar que você, que agora sabe que tem paz com Deus, e que deveria estar contente, venha a se acomodar, achando que essa bênção é tudo o que Deus proveu para você em Cristo. Muitos caem neste engano, e por conseguinte nunca compreendem a posição na qual foram introduzidos.



Permita-me, então, lembrá-lo de que, apesar da grandiosidade dessa bênção, a qual você dever estar desfrutando agora, os pensamentos e desejos de Deus a seu respeito vão infinitamente além disso. Posso tornar isto mais simples chamando a sua atenção mais uma vez para o fundamento. A base de tudo encontra-se na cruz de Cristo, pois foi ali que Ele pôde satisfazer, em nosso favor, tanto os requisitos exigidos pela santidade de Deus, como também glorificá-Lo em cada atributo de Seu caráter. É a isto que o Senhor Jesus Se referia quando disse: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer" (João 17.4). E foi com base nisso, como já tendo resolvido uma demanda de Deus, que Ele orou: "E agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha Contigo antes que o mundo existisse" (João 17.5).

Portanto, como você poderá perceber, Deus mostra a importância que deu à obra consumada na cruz, pelo fato de haver feito Cristo assentar à Sua direita. Podemos dizer ainda que nada menos do que isso poderia ter sido considerada uma resposta adequada à exigência de Deus que Cristo cumpriu através de Sua obra consumada. E certamente nada menos poderia ter satisfeito o coração de Deus; pois quem poderá jamais imaginar o Seu gozo ao intervir levantando Cristo de entre os mortos, colocando-O à Sua direita, e dando-Lhe, ainda, "um Nome que é sobre todo o nome"? "Pelo que também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um Nome que é sobre todo o nome; para que ao Nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Filipenses 2.9-11).

Observe, então, com muito cuidado, estas três coisas: Primeiro, o lugar agora ocupado por Cristo na glória é fruto de Sua obra redentora; segundo, Cristo ocupa esse lugar como Homem; e, por conseguinte, terceiro, Ele está ali em favor dos que são Seus. As consequências são que Deus nos levará para o mesmo lugar; que a glória de Deus está empenhada em dar aos crentes o mesmo lugar de aceitação perante Si; e - isto mesmo! - que o Seu coração se compraz em reconhecer, também deste modo, a obra e o valor do Seu Filho amado. Portanto, todo crente encontra-se agora diante de Deus em virtude da eficácia da obra de Cristo, desfrutando ali de toda a aceitação que a própria Pessoa de Cristo desfruta. Deste modo, o crente desfruta de uma posição de perfeita proximidade de Deus, e é ainda objeto da perfeita bondade de Deus; pois ele é introduzido - e efetivamente está - na presença de Deus em Cristo Jesus.

Agora gostaria de levar você a examinar algumas passagens que comprovam plenamente as afirmações acima. O versículo que vem logo em seguida àquele que ocupou nossa atenção na última carta encaixa-se perfeitamente aqui. "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo"; e então o apóstolo continua: "Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5.1,2). Dessa forma, quando cremos, não somente temos paz com Deus, mas temos também acesso, por meio de Cristo, a esta graça na qual estamos firmes. Isto é, somos introduzidos no completo favor de Deus - transportados para a sempre radiante luz da Sua presença, onde podemos nos regozijar na esperança da glória de Deus - pois tudo já foi estabelecido e assegurado.

Por meio da fé em Cristo - e fé nAquele que ressuscitou Jesus nosso Senhor de entre os mortos - somos levados a uma posição tão perfeita e tão segura que, apesar das tribulações, dificuldades e perigos de nosso caminho por este deserto, podemos nos regozijar na esperança - na firme e inabalável perspectiva - da glória de Deus. Poderemos sofrer tribulações, como o apóstolo segue dizendo em sua carta, mas, se assim ocorrer, podemos nos gloriar até nas tribulações, "sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5.3-5).Foi esse o amor que Deus demonstrou ter, e nos deu; foi nesse mesmo amor que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. E se, sendo nós ainda pecadores, nos reconciliou com Deus pela morte de Seu Filho, quanto mais somos levados a concluir que seremos salvos - salvos completamente, inclusive com a redenção de nosso corpo (Romanos 8.23) - por Sua vida, a vida do Salvador ressurreto e assentado à direita de Deus. E não apenas isto, mas também nos regozijamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de Quem recebemos agora a reconciliação (Romanos 5.3-11). Sendo assim, temos como nossa presente porção o amor de Deus derramado em nossos corações, nos regozijamos nEle, ocupamos perante Ele um lugar de perfeito favor e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Mas isso ainda não é tudo. Na mesma epístola, não apenas somos ensinados que nossa culpa se foi para sempre no exato momento em que cremos em Cristo, que somos justificados, etc., mas também nos é mostrado que somos totalmente transportados, por meio da morte e ressurreição de Cristo, a um novo lugar - um lugar fora de nossa carne, pois estamos "em Cristo" diante de Deus. A parte seguinte da epístola ou carta de Paulo, começando no versículo 12 deste capítulo e terminando no capítulo 8, fala deste assunto. Você irá notar, em primeiro lugar, que tudo tem início ou a partir de Adão ou a partir de Cristo, as duas cabeças; o primeiro homem Adão, e o segundo homem Cristo (Romanos 5.12-21). A consequência é que todos estão, ou em Adão, ou em Cristo, e é quase desnecessário dizer que a diferença entre estarmos em Adão ou em Cristo depende se ainda somos incrédulos ou se já somos crentes. Se, pela graça de Deus, somos crentes, então estamos em Cristo. Sendo assim, há certas consequências benditas que desejo indicar rapidamente, deixando então que você fique à vontade para meditar mais neste assunto.

A primeira coisa que o apóstolo nos lembra é que a posição em que nos encontramos - a posição que assumimos por meio de nosso batismo - demonstra que professamos estar mortos com Cristo, e isto, como pode ser observado em Colossenses 3.3, aplica-se a todos os crentes diante de Deus. Se você ler cuidadosamente o capítulo 6 de Romanos, irá logo perceber que o apóstolo incita a nossa responsabilidade sobre este fundamento. Portanto, o meu velho eu saiu da vista de Deus assim como aconteceu com os meus pecados, caso contrário o apóstolo não poderia ter afirmado, como o fez em Romanos 6.11: "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor".

No capítulo seguinte ele ensina que "vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo" (Romanos 7:4), e isto, após discutir o efeito da aplicação da lei a alguém despertado pelo Espírito de Deus, abre o caminho para descortinar a presença constante do pecado na natureza e a total incompatibilidade entre a nova e a velha natureza (Romanos 7:13-25), o que nos leva a uma declaração completa da verdade com respeito ao crente. "Portanto", continua ele, "agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8.1), tão completa é a libertação, assim como o perdão, que temos em Cristo. "Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós" (Romanos 8.9). Ele nos mostra, deste modo, que a posição do crente não é na carne, não no primeiro homem - Adão - mas o crente permanece diante de Deus em um lugar que é caracterizado como estando no Espírito. Isto é, o Espírito, e não a carne, caracteriza a existência do crente diante de Deus, pois na morte de Cristo a natureza má do crente também foi julgada; pois "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" (Romanos 8.3).

Assim, após apontar mais essas benditas consequências de sermos habitados pelo Espírito, o apóstolo declara que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho; a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8.28,29). Então ele pergunta: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8.31), ao que responde lembrando que Deus, ao entregar o Seu Filho à morte por nós, provou-nos que também nos dará livremente todas as coisas. Isso leva o apóstolo à triunfante conclusão de que nada pode servir de acusação contra os eleitos de Deus; que se o próprio Deus os justificou, nada poderá condená-los; que se Cristo morreu e ressuscitou, estando bem à direita de Deus para interceder por nós, nada "nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (leia Romanos 8.31-39).

Portanto seria um grave erro você parar no capítulo 5 de Romanos, se quisesse conhecer a plenitude da graça de Deus e o tremendo caráter da salvação que Ele concede; pois a menos que leiamos até o capítulo 8 de Romanos, nunca saberemos o que é verdadeiro para nós e a nosso respeito diante de Deus - a completa e perfeita libertação que cada crente tem em Cristo, mesmo que ignore isso. É também da maior importância que você possa notar que essas bênçãos que foram assinaladas não estão associadas a nossos esforços para consegui-las. Tudo o que mostrei é a porção que possui todo aquele que clama "Aba, Pai"; a porção que pertence a cada recém-nascido em Cristo, quer ele saiba ou não.

Há ainda muita coisa além disso, e se você der uma olhada em Efésios eu lhe mostrarei, em poucas palavras - pois não tenho intenção de prolongar esta carta - o pleno caráter do lugar que o crente ocupa diante de Deus. Olhe, em primeiro lugar, para as maravilhosas expressões do primeiro capítulo: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, O qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em caridade [amor]; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado" (Efésios 1.3-6). Preste atenção em cada uma das sentenças que coloquei em realce e você verá como é perfeito o nosso lugar diante de Deus. Pois Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais...; e Seu propósito era que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor; e nos fez agradáveis a Si no Amado.

No capítulo seguinte (Efésios 2) temos a maneira como fomos introduzidos nos lugares celestiais. "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2.4-6). Aqui somos considerados como havendo estado mortos em pecados; Cristo é visto nesta epístola aos Efésios como tendo descido àquela condição - morto - como de fato ocorreu, no lugar do pecador. Deus, sendo rico em misericórdia e agindo segundo o Seu próprio coração de amor veio, em graça, e nos vivificou juntamente com Cristo. E então nos ressuscitou e nos fez assentar juntamente com Cristo nos lugares celestiais, o que significa que transportou-nos à Sua própria presença. Portanto, o nosso lugar atual - mesmo enquanto ainda estamos em nosso corpo - é agora nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Nada menos do que isso expressa a plenitude da Sua graça ou satisfaz o Seu coração.

Há mais uma passagem que gostaria de trazer a você antes de terminar: "Qual Ele é, somos nós também neste mundo" (1 João 4.17). Assim como Cristo é, ali à direita de Deus - a alegria e o gozo do coração de Deus - ali também em toda a perfeição da Sua Pessoa e em todo o doce aroma do Seu sacrifício, assim também somos nós neste mundo; pois estamos firmados não em nós mesmos, mas em Cristo, sendo, por esta razão, dotados de toda a aceitação e odor suave que Ele mesmo tem diante de Deus.

Que o Senhor nos conceda um maior reconhecimento do lugar no qual, por Sua inexprimível graça, fomos introduzidos em Cristo Jesus. 
Edward Dennett

UM EVANGELHO QUE DEVEMOS CONHECER E TORNAR CONHECIDO


Por Paul Washer
"Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei..." 1 Coríntios 15.1
Um escritor ou pregador do evangelho teria muita dificuldade para elaborar uma introdução melhor ao evangelho de Jesus Cristo do que esta introdução dada pelo apóstolo Paulo à igreja de Corinto. 1 Nestas poucas linhas, Paulo nos oferece verdades suficientes para vivermos durante toda a vida e conduzir-nos à glória. Somente o Espírito Santo poderia capacitar um homem a dizer tanto, com tanta clareza, em tão poucas palavras.
Conhecendo o evangelho
Nesta pequena passagem das Escrituras, achamos uma verdade que tem de ser redescoberta por todos nós. O evangelho não é apenas uma mensagem de introdução ao cristianismo. Ele é "a" mensagem do cristianismo; e o crente fará muito bem se gastar sua vida em procurar "conhecer" a glória do evangelho e em "tornar conhecida" esta glória. Há muitas coisas a conhecermos neste mundo e inúmeras verdades a serem investigadas na esfera do cristianismo, mas o glorioso evangelho de nosso Deus bendito 2 e de seu Filho, Jesus Cristo, é superior a todas elas. É a mensagem de nossa salvação, o instrumento de nosso progresso na santificação e a fonte cristalina da qual flui toda motivação pura e correta para a vida cristã. O crente que compreende algo do conteúdo e do caráter do evangelho nunca terá falta de zelo, nunca será tão necessitado que buscará forças em cisternas rotas e vazias feitas pelas mãos de homens. 3
De nosso texto, entendemos que o apóstolo Paulo já tinha pregado o evangelho à igreja de Corinto. De fato, ele era o pai espiritual daqueles crentes! 4 Entretanto, Paulo viu a necessidade de continuar pregando-lhes o evangelho: não somente de recordar as suas verdades essenciais, mas também de ampliar o seu conhecimento. Na conversão deles, começaram uma jornada de descoberta que abrangeria toda a sua vida e se estenderia pelas eras intermináveis da eternidade – a descoberta das glórias de Deus revelada no evangelho de Jesus Cristo.
Como pregadores e congregantes, seríamos sábios se víssemos o evangelho novamente com os olhos deste apóstolo da antiguidade e o estimássemos como digno de uma vida inteira de investigação cuidadosa. Embora já tivéssemos vivido muitos anos na fé, embora possuíssemos o intelecto de Edwards e o discernimento de Spurgeon, embora pudéssemos entender toda publicação desde os pais na igreja primitiva, passando pelos reformadores e puritanos, até aos eruditos do tempo presente, estejamos certos de que ainda não atingimos nem mesmo os contrafortes deste Everest que chamamos de "evangelho". E isso será dito a nosso respeito mesmo depois de uma eternidade de eternidades!
Vivemos em mundo que nos oferece um número quase infinito de possibilidades, e existe um número incalculável de opções que rivalizam por nossa atenção. O mesmo pode ser dito sobre o cristianismo e a ampla esfera de temas teológicos que um aluno pode estudar. Há um número quase infinito de verdades bíblicas que um homem pode gastar a vida examinando-as. E mesmo o tema menos importante da Escritura é digno de milhares de vidas em seu estudo. Todavia, há um tema que se eleva sobre todos os demais e que é fundamental para o entendimento de todas as outras verdades bíblicas – o evangelho de Jesus Cristo. É por meio desta mensagem singular que o poder de Deus se manifesta na igreja e na vida do crente individual.
Quando examinamos os anais da história do cristianismo, vemos homens e mulheres de paixão incomum por Deus e por seu reino. Anelamos ser como eles e nos perguntamos como chegaram a possuir um zelo tão duradouro. Depois de uma consideração diligente de sua vida, doutrina e ministério, descobrimos que eles diferiram em muitas coisas, mas tiveram um denominador comum entre si. Todos eles tiveram um vislumbre da glória do evangelho, e sua beleza acendeu a paixão deles e os impulsionou a prosseguir. A vida e o legado deles provam que paixão genuína e duradoura resulta de um entendimento cada vez mais crescente e mais profundo do que Deus fez por seu povo na pessoa e na obra de Jesus Cristo! Não há substituto para esse conhecimento!
O evangelho cristão tem sido designado como "evangelho", uma palavra que vem do latim evangellium, que significa boas novas. Esta é a razão por que os crentes são muitas vezes chamados de evangélicos. Somos "evangélicos" porque cremos no evangelho e o estimamos como a verdade primordial e central da revelação de Deus para os homens. O evangelho não é um prefácio, um provérbio ou uma explicação posterior. Não é meramente a classe de introdução ao cristianismo, e sim todo o curso de estudo do cristianismo. É a história de nossa vida, as insondáveis riquezas que procuramos explorar e a mensagem que vivemos para proclamar. Por esta razão, podemos dizer que somos mais cristãos e mais evangélicos quando o evangelho de Jesus Cristo é a nossa única esperança, o nosso único motivo de orgulho e a nossa única e maior obsessão.
Hoje, são realizadas tantas conferencias no âmbito do evangelicalismo, especialmente para jovens, que têm o objetivo de estimular a paixão dos crentes por meio de música, comunhão, palestrantes eloquentes, histórias emocionais e apelos comoventes. Contudo, o entusiasmo que tais conferências produzem, seja ele qual for, desaparece rapidamente. Pequenos fogos foram acessos em pequenos corações e se acabam em poucos dias. Temos esquecido que paixão genuína e duradoura nasce do conhecimento da verdade e, em específico, a verdade do evangelho. Quanto mais "conhecemos" e compreendemos a beleza do evangelho, tanto mais somos tomados por seu poder. Um vislumbre do evangelho moverá o coração verdadeiramente regenerado a segui-lo. Cada vislumbre maior do evangelho acelerará o seu passo, até que ele esteja correndo resolutamente em direção ao prêmio. 5 A essa beleza o coração verdadeiramente cristão não pode resistir. Esta é a grande necessidade do momento! É o que temos perdido e o que temos de obter novamente – uma paixão por conhecer o evangelho e uma paixão idêntica por torná-lo conhecido.
Tornando conhecido o evangelho
Não seria um exagero dizer que o apóstolo Paulo foi um dos maiores instrumentos humanos do reino de Deus, na história da humanidade e na história da redenção. Ele foi responsável pela propagação do evangelho em todo o Império Romano durante um tempo de perseguição incomparável e permanece como um exemplo do que significa ser um ministro cristão. No entanto, ele fez tudo isto por meio da proclamação simples da mensagem mais escandalosa de todas que já chegaram aos ouvidos dos homens. Ao considerarmos a vida do apóstolo Paulo, notamos que ele foi um homem excepcionalmente dotado, em especial no que concerne ao seu intelecto e zelo. Todavia, ele mesmo nos ensinou que o poder de seu ministério não estava em seus dons, mas na proclamação fiel do evangelho. Em sua primeira carta dirigida aos cristãos de Corinto, Paulo escreveu sua grande resignação:
Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. 6
Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. 7
Podemos dizer que o apóstolo Paulo foi, acima de tudo, um pregador! Como Jeremias antes dele, Paulo foi constrangido a pregar. O evangelho era como um fogo ardente encerrado em seus ossos, que ele não podia suportar. 8 Aos cristãos de Corinto, Paulo declarou: "Eu cri; por isso, é que falei" 9 e: "Ai de mim se não pregar o evangelho!" 10 Essa estimativa tão elevada do evangelho e de pregá-lo não pode ser fingida, quando não existe no coração do pregador, e não pode ser ocultada, quando existe. Deus chama diferentes tipos de homens para levarem o fardo da mensagem do evangelho. Alguns deles são mais solenes e sérios, enquanto outros são mais desatentos e joviais, porém, quando a conversa muda para o assunto do evangelho, uma mudança ocorre no semblante do pregador, e parece que você tem diante de si uma pessoa muito diferente. A eternidade está estampada na face dele, o véu foi removido, e a glória do evangelho brilha com uma paixão genuína. Tal homem tem pouco tempo para histórias fantásticas, antídotos morais ou para compartilhar pensamentos vindos de seu coração. Ele veio para pregar e tem de pregar! Não descansará enquanto seu povo não ouvir a mensagem de Deus. Se o servo Eliezer não pôde comer enquanto não entregou a mensagem de seu senhor, Abraão, 11 quanto menos um pregador do evangelho ficará tranquilo enquanto não houver entregado o tesouro do evangelho que lhe foi confiado! 12
Embora poucos discordem do que escrevi até aqui, parece que, de modo geral, a pregação apaixonada do evangelho está fora de moda. Ela é considerada por muitos como algo que não possui o requinte e a sofisticação necessários para que seja eficaz nesta era moderna. O pregador cheio de paixão que proclama ousada e categoricamente a verdade é agora considerado um obstáculo para o homem pós-moderno que prefere um pouco mais de humildade e de abertura para com outras opiniões. O argumento da maioria é que temos de mudar nossa maneira de pregar porque o evangelho parece loucura para o mundo.
Essa atitude para com a pregação é prova de que perdemos nosso senso de direção na comunidade evangélica. Foi Deus quem ordenou que a "loucura da pregação" seja o instrumento para levar ao mundo a mensagem salvadora do evangelho. 13 Isto não significa que a pregação deve ser tola, ilógica ou bizarra. Contudo, o padrão pelo qual toda pregação deve ser comparada é a Escritura e não as opiniões contemporâneas de uma cultura decaída e corrupta, que é sábia a seus próprios olhos 14 e prefere ter seus ouvidos coçados e seu coração entretido a ouvir a Palavra do Senhor. 15
Aonde quer que o apóstolo Paulo viajasse, ele pregava o evangelho. Faremos bem se seguirmos o seu exemplo. Embora o evangelho possa ser compartilhado por meio de instrumentos, não há outro instrumento tão ordenado por Deus como a pregação. Portanto, aqueles que estão buscando constantemente meios inovadores para compartilharem o evangelho com uma nova geração de pessoas interessadas fariam bem se começassem e terminassem sua busca nas Escrituras. Aqueles que enviam milhares de questionários que perguntam aos nãos convertidos o que eles mais gostariam de ver em um culto de adoração devem compreender que as inúmeras opiniões de homens carnais não possuem a autoridade de "um i ou um til" da Palavra de Deus. 16 Precisamos entender que há um grande abismo de diferenças irreconciliáveis entre o que Deus ordena nas Escrituras e o que a cultura carnal contemporânea deseja.
Não devemos nos admirar de que homens carnais tanto dentro como fora da igreja desejem teatro, música e mídia no lugar da pregação do evangelho e da exposição bíblica. Enquanto o coração de um homem não for verdadeiramente regenerado, ele aborda o evangelho da mesma maneira como os demônios gadarenos abordaram o Senhor Jesus Cristo: "Que temos nós contigo?" 17Sem a obra de regeneração realizada pelo Espírito Santo, o homem carnal não tem nenhum interesse ou apreciação verdadeira pelo evangelho, mas, apesar disso, este milagre é operado no coração de um homem por meio da pregação do evangelho que, a princípio, ele desdenha. Portanto, devemos pregar aos homens carnais a própria mensagem que eles não querem ouvir, e o Espírito Santo deve agir! Sem isto, os pecadores não podem ver a beleza do evangelho, assim como porcos não podem ver beleza em pérolas, ou como cães não podem mostrar reverência para com carne santificada, ou como cegos não podem apreciar uma pintura de Rembrandt. 18 Os pregadores não fazem bem aos homens carnais por oferecer-lhes as coisas que seu coração caído deseja, e sim por colocar diante deles a verdadeira comida, 19 até que, pela obra miraculosa do Espírito Santo, reconheçam-na como o que ela realmente é, provem e vejam que o Senhor é bom! 20
Antes de terminar esta breve discussão sobre a pregação do evangelho, temos de falar sobre um assunto final. Apresenta-se frequentemente a teoria de que nossa cultura não pode tolerar o tipo de pregação que foi tão eficaz durante os grandes despertamentos e avivamentos do passado. A pregação de Jonathan Edwards, George Whitefield, Charles Spurgeon e outros pregadores semelhantes seria ridicularizada, satirizada e escarnecida pelo homem moderno. No entanto, esta teoria não leva em conta o fato de que estes mesmos pregadores foram ridicularizados e satirizados pelos homens de seus dias! A verdadeira pregação do evangelho será sempre "loucura" para toda cultura. Qualquer tentativa de remover a ofensa do evangelho e de tornar a pregação "conveniente" diminui o poder do evangelho. Também frustra o propósito para o qual Deus escolheu a pregação como o meio de salvar homens – que a esperança dos homens não esteja em nobreza, eloquência ou sabedoria mundana, e sim no poder de Deus. 21
Vivemos numa cultura que está presa ao pecado com algemas de aço. Histórias morais, máximas extraordinárias e lições de vida compartilhadas de um coração de um palestrante querido ou de um "tutor de vida espiritual" não têm nenhum poder verdadeiro contra essas trevas. Precisamos de pregadores do evangelho de Jesus Cristo, que conhecem as Escrituras e são capacitados, pela graça de Deus, a encarar qualquer cultura e a clamar: "Assim diz o Senhor!"
1 - 1 Coríntios 15.1-4.
2 - 1 Timóteo 1.11.
3 - Jeremias 2.13-14; 14.3.
4 - 1 Coríntios 4.15.
5 - Filipenses 3.13-14.
6 - 1 Coríntios 1.17.
7 - 1 Coríntios 1.22-24.
8 - Jeremias 20.9.
9 - 2 Coríntios 4.13.
10 - 1 Coríntios 9.16.
11 - Gênesis 24.33.
12 - Gálatas 2.7; 1 Tessalonicenses 2.4; 1 Timóteo 1.11; 6.20; 2 Timóteo 1.14; Tito 1.3.
13 - 1 Coríntios 1.21.
14 - Romanos 1.22.
15 - 2 Timóteo 4.3.
16 - Mateus 5.18.
17 - Mateus 8.29.
18 - Mateus 7.6.
19 - Isaías 55.1-2.
20 - Salmos 34.8.
21 - 1 Coríntios 1.27-30.

Por Paul Washer, via ministeriofiel.com.br; adaptação para o blog Rev. Ronaldo P Mendes

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Por causa dos anjos - Paul Wilson


"Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o varão, e o varão a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. 

"O varão pois não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do varão. Porque o varão não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. Todavia, nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus. 

"Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o varão ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus." 1 Coríntios 11:3-16

Este trecho da Palavra de Deus, que é de grande importância prática, é freqüentemente mal compreendido. Se Deus fala de qualquer assunto, deve ser porque precisamos conhecê-lo. E havendo Deus falado, devemos estar prontos para considerar o que Ele tem dito. Além do mais, deve ser admitido que Deus é capaz de fazer com que seja claro e simples o que Ele quer dizer, a fim de não permanecer nenhuma dúvida. Se, porém, não entendemos, é bem provável que o problema seja conosco. Ou não temos lido cuidadosamente, ou estamos com alguma idéia pré-concebida, ou, o que é pior, não vemos porque somos obstinados e não queremos enxergar daquele modo.

UMA QUESTÃO DE ORDEM

No versículo 3 o Espírito de Deus diz, por intermédio do apóstolo, que "Cristo é a cabeça de todo o varão, e o varão a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo". É esta, portanto, a ordem de poderio estabelecida por Deus. Deus tem um lugar para cada um, homem ou mulher, e certamente não é doloroso permanecer nesse lugar. O homem tem o seu lugar como representante de Deus na terra - "a imagem e glória de Deus" (v. 7). A mulher também tem um lugar distinto - não o lugar de proeminência, mas o lugar de sujeição em conformidade com a ordem estabelecida por Deus. Ela pode, no entanto, glorificar a Deus no lugar que lhe é próprio. O homem pode, e infelizmente ele o faz, falhar tristemente em ocupar o seu lugar, mas ainda assim é esse o seu lugar. Ele deveria procurar agir em seu lugar como estando diante de Deus, e ela deveria estar feliz por ocupar o seu próprio lugar. Cada um deveria julgar um privilégio ocupar o lugar designado por Deus.

Deus estabeleceu uma certa ordem por toda a Sua Criação. Os homens e mulheres cristãos não devem negligenciar essa ordem, porém devem lembrar-se de que são um espetáculo divinamente designado - sim, um espetáculo para os próprios anjos (v. 10). Os anjos estão conhecendo a sabedoria de Deus; estão sendo espectadores dos caminhos de Deus. O fato de eles estarem observando os caminhos de Deus aqui é também mencionado em 1 Coríntios 4:9 e Efésios 3:10.

INSTRUÇÕES PARA O HOMEM E PARA A MULHER

Há, então, uma regra muito simples a seguir, a qual demonstrará o lugar que o homem possui. Ele NÃO deve orar ou profetizar (comunicar o pensamento de Deus a outros) tendo uma cobertura sobre a sua cabeça. Ter sua cabeça coberta iria estragar a demonstração, diante de outros, do lugar designado por Deus para o homem. Seria um sinal do homem estar abandonando o lugar de autoridade, e resultaria na falta de uma cabeça visível.

A regra para a mulher é igualmente simples: ela NÃO deve orar ou profetizar sem ter uma cobertura sobre sua cabeça. Se ela ora sem uma cobertura sobre a cabeça, ela desonra sua cabeça. Seria uma desordem que estaria sendo testemunhada por anjos. A cobertura sobre sua cabeça é o sinal exterior de sua sujeição. O profetizar exercido por uma irmã é, obviamente, restrito por outras passagens. Ela não deve fazê-lo na assembléia (1 Co 14:34), nem tampouco ela deve ensinar ou usurpar a autoridade sobre o homem (1 Tm 2:12).

O fato de esta simples ordem acerca de cobrir a cabeça ser geralmente menosprezada na cristandade não é desculpa para nenhuma mulher deixar de obedecê-la. Alguns colocam esta passagem de lado por atribuir sua autoria a Paulo; porém foi o Espírito de Deus o divino Autor, e Paulo apenas a escreveu. Ele disse, acerca das coisas que escreveu, que "são mandamentos do Senhor" (1 Co 14:37). Se isto é verdade, então trata-se de algo muito sério resistir a esses mandamentos.

Escute a linguagem forte que é usada: "Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu" (vers. 6). Qual é a mulher que gostaria de ter sua cabeça rapada? Ela seria publicamente envergonhada e teria que se esconder. Bem, se é assim, diz a Palavra de Deus, que ela traga sobre sua cabeça uma cobertura quando estiver orando ou profetizando.

Não se trata de uma questão de superioridade e inferioridade, mas de posições relativas na Criação. Deus na Sua sabedoria determinou um lugar para cada um conforme pareceu bem a Ele, e bem-aventurados são aqueles que reconhecem tal e procuram, pela sabedoria e direção de Sua Palavra, se comportar como convém àquele lugar.

UM EXEMPLO DADO PELA PRÓPRIA NATUREZA

O apóstolo, pelo Espírito, volta até a Criação para declarar a ordem estabelecida de Deus desde o princípio. A ordem e o propósito da Criação são colocados diante de nós como a base para a sujeição da mulher ao homem (vers. 8 e 9). Então, nos versículos 14 e 15, ele chama a atenção para aquilo que aprendemos da observação da natureza. Isso demonstra como é apropriado que uma mulher tenha sua cabeça coberta quando ora. A natureza ensina que o cabelo longo é a glória para a mulher (quão triste é quando mulheres cristãs cortam seus cabelos à semelhança do mundo), e significa uma posição mais recatada. Ela não era para se mostrar com a ousadia dos homens. Seu cabelo lhe foi dado "em lugar de véu"(vers. 15). Ele marcou um lugar retirado; um lugar de sujeição na Criação de Deus. Isso foi feito por Deus e tem sua bem-aventurança onde não é colocado de lado pela vontade do homem. Devemos nos lembrar de que na "nova Criação" não há homem nem mulher, mas são todos um em Cristo Jesus. Porém, não é este o ponto tratado aqui, e sim os respectivos lugares de cada um neste mundo diante dos olhos de outros - dos próprios anjos.

Alguns, ao resistirem às Escrituras, têm distorcido isso ao tentar provar que o cabelo da mulher é a cobertura requerida. A tentativa de assim empregar mal a instrução divina é tão simplória que não mereceria comentário. Mas para alguns que talvez tenham sido enganados por essa estranha distorção, é bom chamarmos a atenção para alguns pontos. Se a cobertura de uma mulher pudesse ser entendida como sendo o seu cabelo, então o cabelo do homem seria a cobertura deste também. Bem, este não poderia ser, evidentemente, o significado no caso do homem. Qual é o homem que iria rapar a cabeça para ficar livre de sua cobertura? A própria natureza indica que ele deve ter cabelos curtos. E o homem, que deve ter cabelos curtos, "não deve cobrir a cabeça" quando fala a Deus, ou quando fala por Deus. "O varão pois não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus" (v. 7.)

Como poderia a expressão "não deve cobrir" significar que ele não deve deixar o cabelo crescer como o de uma mulher quando estiver orando? As palavras deste versículo expressam ação ou ausência de ação no momento da oração. Trata-se de algo que ele não deve fazer quando estiver orando. Ele pode cobrir a sua cabeça em outras ocasiões, mas estas instruções referem-se ao momento em que ele "ora ou profetiza". Como poderia alguém pensar diferente? Portanto, vemos que no caso do homem o seu cabelo não é a cobertura a que o texto se refere; ele não deve colocar um chapéu ou outra cobertura sobre sua cabeça nesse momento específico.

Repare outra vez no sexto versículo: fazer do cabelo da mulher a sua cobertura, ao invés de um véu, chapéu ou outro objeto, seria algo ridículo. Tal raciocínio faria aquele versículo significar que se uma mulher não tivesse nenhum cabelo sobre sua cabeça, então seu cabelo deveria ser cortado - uma impossibilidade óbvia! A tolice de se buscar provar que o cabelo da mulher é sua cobertura deveria ficar evidente. No versículo 15 lemos "em lugar de véu". Seu cabelo longo simplesmente marcou, na natureza, um lugar mais recatado, um lugar de sujeição.

OUTRAS DISTORÇÕES

Há alguns, na cristandade, que escrevem de forma a fazer um esforço para torcer as instruções simples, dizendo que o "cabelo crescido" é a cobertura, e que isto subentende uma proibição contra enrolar o cabelo. Com certeza é triste quando uma mulher cristã enrola sua glória, conformando-se, assim, com este mundo. Mas como poderia ela manter seu cabelo enrolado a maior parte do tempo, para então desenrolá-lo quando estivesse orando?

Trata-se de uma questão de ela demonstrar e reconhecer o lugar que lhe foi divinamente designado por Deus quando fala para Deus ou por Deus. Isto ela faz colocando uma cobertura sobre sua cabeça nesse momento. Obviamente se ela tem cabelos longos o tempo todo, ainda assim há algo para fazer quando estiver orando. Assim como vimos que no caso do homem Deus falou de uma ação a não ser executada no momento da oração, a mulher, que já tem o seu lugar recatado por natureza, e já tem o seu cabelo longo que marca a sua posição, deve então colocar uma cobertura sobre sua cabeça para demonstrar a sua sujeição nesse lugar. Será que isto não é simples o suficiente? O fato de estar descoberta seria, para a mulher, um sinal de que estaria tomando um lugar de autoridade, abandonando a posição que lhe é própria. Seria confusão na ordem estabelecida por Deus, e isso seria testemunhado por anjos. Deus deu explicações detalhadas para mostrar os motivos de tal regra. Por que tanto esforço para mudar isso? Deve-se temer que o simples ato de se recusar a exibir essa marca exterior de subordinação seja meramente a indicação de que o lugar dado pelo próprio Deus está sendo recusado.

Há outros que procuram colocar de lado a aplicação genérica desta instrução divina, dizendo que isso somente se aplica para o momento em que todos encontram-se juntos em assembléia. Isso é um grande erro, e é facilmente notado pelo fato de que a uma mulher não é permitido falar na assembléia (1 Co 14:34). Como poderia, então, ser dado a ela instruções de como agir quando estivesse profetizando na assembléia? Um versículo iria contradizer e anular o outro, se o significado fosse que sua cabeça deveria estar coberta somente quando estivesse em uma reunião. A instrução desta passagem é para os homens e para as mulheres, em todo o tempo, e em todo lugar. Seria igualmente errado para um homem orar a Deus, usando chapéu, tanto na privacidade de seu quarto como em público. E da mesma forma seria fora de ordem para uma mulher orar sem ter sua cabeça coberta mesmo quando estivesse sozinha em casa.

O versículo 16 dá força às instruções divinas. O que era válido para a assembléia em Corinto valia também para todas as assembléias; não era para ser deixado aberto às opiniões individuais, nem tampouco às decisões locais. E não havia espaço para ninguém contender - simplesmente não havia permissão para nenhum outro costume ou prática. O assunto estava encerrado, e não aberto à discussão.

Desde que Adão e Eva, no jardim do Éden, desejaram ser "como Deus" e caíram, a exaltação própria tem sido uma das piores ervas daninhas no coração humano. O primeiro casal não estava satisfeito com a parte que recebeu e, buscando exaltar-se a si mesmo, caiu em miséria e ruína. Bendito contraste com o segundo homem - o Senhor vindo do céu! Ele humilhou-Se a Si mesmo até o mais profundo, e agora Deus O exaltou sobremaneira (veja Fp 2). Bendito Salvador; possamos nós aprender mais de Ti!

Uma palavra mais a respeito da cobertura da cabeça. Que o Senhor possa exercitar as mulheres cristãs a selecionarem objetos que sejam realmente uma cobertura, quando for este o propósito de usá-los. Quão necessário é que ponham-se diante do Senhor ao adquirirem uma cobertura, que seja do agrado dEle.

Paul Wilson

A ALMA CATÓLICA DOS EVANGÉLICOS NO BRASIL


Por Augustus Nicodemus

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo (“cosmovisão”). O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, seremos 40 milhões neste ano de 2006 – mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica. É um fato que a conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica uma mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados “em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.9-11), sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou a formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã. Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil. E que tendências são essas?

1) O gosto por bispos e apóstolos – Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.

2) A ideia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com poucas mudanças. Até nas igrejas chamadas históricas, os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles e como se os pastores funcionassem como mediadores entre eles e os favores divinos. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc.

3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos, uso de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, objetos ungidos e santificados, água benta, entre outros. Hoje, há um crescimento espantoso, entre setores evangélicos, do uso de copo d’água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, pentes santos do kit de beleza da rainha Ester, peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão), o cajado de Moisés... é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo. Esse fenômeno só pode ser explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos.

4) A separação entre sagrado e profano – No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça, idealizada e defendida por Tomás de Aquino, um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica. Na prática, isso significou a aceitação de duas realidades coexistentes, antagônicas e freqüentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora. Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir Missa e se confessar. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque. É a mesma atitude dos evangélicos. Faltanos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada, permeada de pressupostos anticristãos, eduque os nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções. Em outros países, os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que, além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciência, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos. Numa cultura permeada pela idéia de que o sagrado e o profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e freqüentemente antagônicos, não há como uma visão integral surgir e prevalecer, a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre os evangélicos.

5) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo catolicismo romano vem permeando a ética brasileira há séculos. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e a condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais. Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito ou de que teria sido reeleito por uma margem tão grande. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros. As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos?

O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anticatólicos do mundo. Só para ilustrar (e sem entrar no mérito dessa polêmica), o Brasil é um dos países onde convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas. O anticatolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo, os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento, e não somente os nossos pecados. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2 Co 10.4-5).

Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas, me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neocatolicismo tardio que surge e cresce em nosso país, onde até os evangélicos têm alma católica.



Por rev Augustus Nicodemus, via:ministeriofiel.com.br; adaptação para o blog: rev. Ronaldo P mendes

Nosso lugar perante Deus - Edward Dennett


Estou um pouco preocupado em pensar que você, que agora sabe que tem paz com Deus, e que deveria estar contente, venha a se acomodar, achando que essa bênção é tudo o que Deus proveu para você em Cristo. Muitos caem neste engano, e por conseguinte nunca compreendem a posição na qual foram introduzidos.



Permita-me, então, lembrá-lo de que, apesar da grandiosidade dessa bênção, a qual você dever estar desfrutando agora, os pensamentos e desejos de Deus a seu respeito vão infinitamente além disso. Posso tornar isto mais simples chamando a sua atenção mais uma vez para o fundamento. A base de tudo encontra-se na cruz de Cristo, pois foi ali que Ele pôde satisfazer, em nosso favor, tanto os requisitos exigidos pela santidade de Deus, como também glorificá-Lo em cada atributo de Seu caráter. É a isto que o Senhor Jesus Se referia quando disse: "Eu glorifiquei-Te na Terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer" (João 17.4). E foi com base nisso, como já tendo resolvido uma demanda de Deus, que Ele orou: "E agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti mesmo, com aquela glória que tinha Contigo antes que o mundo existisse" (João 17.5).

Portanto, como você poderá perceber, Deus mostra a importância que deu à obra consumada na cruz, pelo fato de haver feito Cristo assentar à Sua direita. Podemos dizer ainda que nada menos do que isso poderia ter sido considerada uma resposta adequada à exigência de Deus que Cristo cumpriu através de Sua obra consumada. E certamente nada menos poderia ter satisfeito o coração de Deus; pois quem poderá jamais imaginar o Seu gozo ao intervir levantando Cristo de entre os mortos, colocando-O à Sua direita, e dando-Lhe, ainda, "um Nome que é sobre todo o nome"? "Pelo que também Deus O exaltou soberanamente, e Lhe deu um Nome que é sobre todo o nome; para que ao Nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Filipenses 2.9-11).

Observe, então, com muito cuidado, estas três coisas: Primeiro, o lugar agora ocupado por Cristo na glória é fruto de Sua obra redentora; segundo, Cristo ocupa esse lugar como Homem; e, por conseguinte, terceiro, Ele está ali em favor dos que são Seus. As consequências são que Deus nos levará para o mesmo lugar; que a glória de Deus está empenhada em dar aos crentes o mesmo lugar de aceitação perante Si; e - isto mesmo! - que o Seu coração se compraz em reconhecer, também deste modo, a obra e o valor do Seu Filho amado. Portanto, todo crente encontra-se agora diante de Deus em virtude da eficácia da obra de Cristo, desfrutando ali de toda a aceitação que a própria Pessoa de Cristo desfruta. Deste modo, o crente desfruta de uma posição de perfeita proximidade de Deus, e é ainda objeto da perfeita bondade de Deus; pois ele é introduzido - e efetivamente está - na presença de Deus em Cristo Jesus.

Agora gostaria de levar você a examinar algumas passagens que comprovam plenamente as afirmações acima. O versículo que vem logo em seguida àquele que ocupou nossa atenção na última carta encaixa-se perfeitamente aqui. "Sendo pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo"; e então o apóstolo continua: "Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Romanos 5.1,2). Dessa forma, quando cremos, não somente temos paz com Deus, mas temos também acesso, por meio de Cristo, a esta graça na qual estamos firmes. Isto é, somos introduzidos no completo favor de Deus - transportados para a sempre radiante luz da Sua presença, onde podemos nos regozijar na esperança da glória de Deus - pois tudo já foi estabelecido e assegurado.

Por meio da fé em Cristo - e fé nAquele que ressuscitou Jesus nosso Senhor de entre os mortos - somos levados a uma posição tão perfeita e tão segura que, apesar das tribulações, dificuldades e perigos de nosso caminho por este deserto, podemos nos regozijar na esperança - na firme e inabalável perspectiva - da glória de Deus. Poderemos sofrer tribulações, como o apóstolo segue dizendo em sua carta, mas, se assim ocorrer, podemos nos gloriar até nas tribulações, "sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança. E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5.3-5).Foi esse o amor que Deus demonstrou ter, e nos deu; foi nesse mesmo amor que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. E se, sendo nós ainda pecadores, nos reconciliou com Deus pela morte de Seu Filho, quanto mais somos levados a concluir que seremos salvos - salvos completamente, inclusive com a redenção de nosso corpo (Romanos 8.23) - por Sua vida, a vida do Salvador ressurreto e assentado à direita de Deus. E não apenas isto, mas também nos regozijamos em Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de Quem recebemos agora a reconciliação (Romanos 5.3-11). Sendo assim, temos como nossa presente porção o amor de Deus derramado em nossos corações, nos regozijamos nEle, ocupamos perante Ele um lugar de perfeito favor e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Mas isso ainda não é tudo. Na mesma epístola, não apenas somos ensinados que nossa culpa se foi para sempre no exato momento em que cremos em Cristo, que somos justificados, etc., mas também nos é mostrado que somos totalmente transportados, por meio da morte e ressurreição de Cristo, a um novo lugar - um lugar fora de nossa carne, pois estamos "em Cristo" diante de Deus. A parte seguinte da epístola ou carta de Paulo, começando no versículo 12 deste capítulo e terminando no capítulo 8, fala deste assunto. Você irá notar, em primeiro lugar, que tudo tem início ou a partir de Adão ou a partir de Cristo, as duas cabeças; o primeiro homem Adão, e o segundo homem Cristo (Romanos 5.12-21). A consequência é que todos estão, ou em Adão, ou em Cristo, e é quase desnecessário dizer que a diferença entre estarmos em Adão ou em Cristo depende se ainda somos incrédulos ou se já somos crentes. Se, pela graça de Deus, somos crentes, então estamos em Cristo. Sendo assim, há certas consequências benditas que desejo indicar rapidamente, deixando então que você fique à vontade para meditar mais neste assunto.

A primeira coisa que o apóstolo nos lembra é que a posição em que nos encontramos - a posição que assumimos por meio de nosso batismo - demonstra que professamos estar mortos com Cristo, e isto, como pode ser observado em Colossenses 3.3, aplica-se a todos os crentes diante de Deus. Se você ler cuidadosamente o capítulo 6 de Romanos, irá logo perceber que o apóstolo incita a nossa responsabilidade sobre este fundamento. Portanto, o meu velho eu saiu da vista de Deus assim como aconteceu com os meus pecados, caso contrário o apóstolo não poderia ter afirmado, como o fez em Romanos 6.11: "Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor".

No capítulo seguinte ele ensina que "vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo" (Romanos 7:4), e isto, após discutir o efeito da aplicação da lei a alguém despertado pelo Espírito de Deus, abre o caminho para descortinar a presença constante do pecado na natureza e a total incompatibilidade entre a nova e a velha natureza (Romanos 7:13-25), o que nos leva a uma declaração completa da verdade com respeito ao crente. "Portanto", continua ele, "agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8.1), tão completa é a libertação, assim como o perdão, que temos em Cristo. "Vós, porém, não estais na carne, mas no espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós" (Romanos 8.9). Ele nos mostra, deste modo, que a posição do crente não é na carne, não no primeiro homem - Adão - mas o crente permanece diante de Deus em um lugar que é caracterizado como estando no Espírito. Isto é, o Espírito, e não a carne, caracteriza a existência do crente diante de Deus, pois na morte de Cristo a natureza má do crente também foi julgada; pois "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" (Romanos 8.3). 

Assim, após apontar mais essas benditas consequências de sermos habitados pelo Espírito, o apóstolo declara que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por Seu decreto. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho; a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8.28,29). Então ele pergunta: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Romanos 8.31), ao que responde lembrando que Deus, ao entregar o Seu Filho à morte por nós, provou-nos que também nos dará livremente todas as coisas. Isso leva o apóstolo à triunfante conclusão de que nada pode servir de acusação contra os eleitos de Deus; que se o próprio Deus os justificou, nada poderá condená-los; que se Cristo morreu e ressuscitou, estando bem à direita de Deus para interceder por nós, nada "nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (leia Romanos 8.31-39).

Portanto seria um grave erro você parar no capítulo 5 de Romanos, se quisesse conhecer a plenitude da graça de Deus e o tremendo caráter da salvação que Ele concede; pois a menos que leiamos até o capítulo 8 de Romanos, nunca saberemos o que é verdadeiro para nós e a nosso respeito diante de Deus - a completa e perfeita libertação que cada crente tem em Cristo, mesmo que ignore isso. É também da maior importância que você possa notar que essas bênçãos que foram assinaladas não estão associadas a nossos esforços para consegui-las. Tudo o que mostrei é a porção que possui todo aquele que clama "Aba, Pai"; a porção que pertence a cada recém-nascido em Cristo, quer ele saiba ou não.

Há ainda muita coisa além disso, e se você der uma olhada em Efésios eu lhe mostrarei, em poucas palavras - pois não tenho intenção de prolongar esta carta - o pleno caráter do lugar que o crente ocupa diante de Deus. Olhe, em primeiro lugar, para as maravilhosas expressões do primeiro capítulo: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, O qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em caridade [amor]; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado" (Efésios 1.3-6). Preste atenção em cada uma das sentenças que coloquei em realce e você verá como é perfeito o nosso lugar diante de Deus. Pois Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais...; e Seu propósito era que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor; e nos fez agradáveis a Si no Amado.

No capítulo seguinte (Efésios 2) temos a maneira como fomos introduzidos nos lugares celestiais. "Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo Seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2.4-6). Aqui somos considerados como havendo estado mortos em pecados; Cristo é visto nesta epístola aos Efésios como tendo descido àquela condição - morto - como de fato ocorreu, no lugar do pecador. Deus, sendo rico em misericórdia e agindo segundo o Seu próprio coração de amor veio, em graça, e nos vivificou juntamente com Cristo. E então nos ressuscitou e nos fez assentar juntamente com Cristo nos lugares celestiais, o que significa que transportou-nos à Sua própria presença. Portanto, o nosso lugar atual - mesmo enquanto ainda estamos em nosso corpo - é agora nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Nada menos do que isso expressa a plenitude da Sua graça ou satisfaz o Seu coração.

Há mais uma passagem que gostaria de trazer a você antes de terminar: "Qual Ele é, somos nós também neste mundo" (1 João 4.17). Assim como Cristo é, ali à direita de Deus - a alegria e o gozo do coração de Deus - ali também em toda a perfeição da Sua Pessoa e em todo o doce aroma do Seu sacrifício, assim também somos nós neste mundo; pois estamos firmados não em nós mesmos, mas em Cristo, sendo, por esta razão, dotados de toda a aceitação e odor suave que Ele mesmo tem diante de Deus.

Que o Senhor nos conceda um maior reconhecimento do lugar no qual, por Sua inexprimível graça, fomos introduzidos em Cristo Jesus.
Edward Dennett

Considerações cristãs sobre a homossexualidade

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Em vista dos desafios contemporâneos em relação ao comportamento homossexual e sua crescente aceitação na sociedade ocidental, a Igreja Cristã deve olhar com cautela para essa questão. Devemos lembrar que o ensino bíblico deve ser considerado acima de quaisquer ilações sociológicas sobre o assunto. De fato, vivemos em um tempo em que o Liberalismo Teológico, em especial devido ao método histórico-crítico, tem feito surgir mesmo no seio da Cristandade, movimentos que negam a imoralidade da homossexualidade propondo uma releitura dos textos bíblicos e uma abertura eclesiásticas aos homossexuais. Outros mantém uma posição contra a homossexualidade relativizada, subordinada ao “politicamente correto”, efeito de um marxismo cultural, e por isso é possível ver pessoas que condenam a homossexualidade religiosamente, mas não absolutamente. 

Vamos dar uma olhada nas causas da homossexualidade e no que a Bíblia têm a nos dizer sobre o aspecto moral, bem como nas distinções entre disposição psicológica e expressão comportamental e entre decisão legalista e escolha consciente. Desse modo, será possível apresentar uma “cosmovisão cristã sobre a homossexualidade”. 

CAUSAS DA HOMOSSEXUALIDADE


Nessa primeira seção é importante fazer alguns esclarecimentos. Não se pretende buscar as causas da homossexualidade num sentido médico-etiológico. Não entendemos a homossexualidade como uma doença, nem propomos a ideia de “cura gay”[1]. O objetivo aqui é refutar a ideia de que a não-escolha na questão da atração homossexual seja um problema para o Cristianismo.

A princípio é importante observar que o inatismo ou o biologismo homossexual é um equívoco e um reducionismo da sexualidade humana. De igual modo o “psicologismo homossexual”, ou mesmo o “ambientalismo” constituem-se visões com as quais deve-se ter cautela. A causa ou causas da homossexualidade permanece(m) um mistério. Alguns proporiam a ideia de pareamento de estímulos condicionados, outros a influência de hormônios durante os períodos intrauterinos, ainda a genética, a epigenética, a identificação materna/paterna na infância entre outros.

Deveríamos ser hesitantes quanto a ideia de causa única. É comum alguns acharem que a causa é unicamente ambiental, outros que é unicamente biológica. Há quem pense que se provar que alguém nasce homossexual terá refutado a moral cristã. Este não é o caso, já que a antropologia cristã compreende que todos nascem pecadores. As Escrituras dizem que nascemos mentirosos (Salmos 58.3), mas não deixa de condenar a mentira como pecado (Colossenses 3.9). A natureza pecaminosa herdada de Adão é capaz de produzir toda sorte de desejos desordenados.[2]

Mas têm algo de importante aqui, em relação às causas. Muitos “biologistas” apelam para a presença de supostos “comportamentos homossexuais” entre os animais. Parece haver um erro evidente nesse modo de pensar. Não somos animais! Não somos determinados fatalistamente a seguir nosso destino biológico. Somos humanos, e como tais, não somos guiados meramente por uma questão instintual. Que estranho, que alguns queiram reduzir a dignidade humana ao colocar o homem como um animal fadado ao seu destino biológico, apregoando uma vida hedonista, segundo a qual a felicidade está em viver de acordo com os seus desejos. A Bíblia, por outro lado, traz uma visão que valoriza a dignidade humana.

VISÃO BÍBLICA


Desde os tempos do Velho Testamento, a condenação da homossexualidade é objetiva. Deus abomina os que praticam a homossexualidade: “Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é” (Levítico 18:22). A Lei Teocrática do Antigo Testamento exigia a pena de morte aos seus praticantes: “Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles.” (Levítico 20.13). Evidentemente que a pena capital não é mais requerida na Era Cristã[3], mas os homossexuais impenitentes não deixam de estar sob a condenação divina à morte eterna no lago de fogo e enxofre (cf. Apocalipse 21.8). 

No Novo Testamento Jesus ratifica as leis de moral sexual do Antigo Pacto (Mateus 5.17-18), e passa a condenar como porneiatoda prática que se desvia da relação sexual lícita (Marcos 7.21-22). Obedecendo aos ensinos da Lei Antiga e de Jesus Cristo, o apóstolo Paulo reafirma com clareza a posição judaico-cristã:
Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. - Romanos 1:26 – 27

Estaríamos sendo mentirosos, caso querendo ser politicamente corretos, disséssemos que a homossexualidade é um pecado como qualquer outro. Paulo fala da homossexualidade como um exemplo primário de impiedade[4], sinal de um povo que chegou aos últimos estágios de depravação. Isso acontece quando ocorre uma inversão da ordem criacional natural: troca-se a verdade de Deus pela mentira, a criatura toma o lugar do Criador, e a homossexualidade usurpa a ordem criacional “macho e fêmea”. Além de idolatrar as coisas deste mundo, o homem passa a adorar a si mesmo, envolvendo-se em relações narcísicas, pois ignorando a alteridade, passa a se unir com um “outro”, que na realidade, em gênero, é um de “si mesmo” (cf. Romanos 1.18-25). 

O apóstolo Paulo descreve os praticantes da homossexualidade como pessoas que não terão lugar no Reino de Deus. “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus.” (1 Coríntios 6:9-10; cf. 1 Timóteo 1.10). 

Muitos, dispostos a negar a verdade de Deus, distorcem deliberadamente as Escrituras para satisfazer seus desejos egóicos. Alguns querem invalidar a ordenança de Levítico, confundindo-a com as interdições cerimoniais de Levítico 19.28-29 (“Não cortem o cabelo, arredondando­o nos cantos da cabeça, nem cortem também os cantos da barba, tal como fazem os pagãos. Tão pouco devem dar-se golpes na vossa carne ou fazer marcas na pele a título de ritos funerários, por causa de alguém que tenha morrido. Eu sou o Senhor”). Outros, a despeito da ratificação de Cristo da Lei moral, querem fazer soar nos discursos de amor do Nazareno uma aceitação da distorção do amor conjugal. Há ainda aqueles ávidos a relativizar culturalmente os ensinos paulinos, ignorando sua clara posição de um casamento heterossexual com submissão feminina, o que não faria o mínimo sentido se houvesse da parte dele qualquer apoio ao “casamento gay” (cf. Efésios 5.22-33; 1Coríntios 11.3; 1Pedro 3.1). As Escrituras são claras: A homossexualidade é uma abominação perante Deus.

DISTINÇÕES IMPORTANTES

É importante distinguir a disposição psicológica da homossexualidade da expressão comportamental da mesma. A atração homossexual involuntária advinda da natureza pecaminosa adâmica não é em si pecado. O que a Bíblia condena é a expressão comportamental na forma de estimulação de desejos impuros (pornografia, masturbação, pensamentos lascivos...) e na prática propriamente dita (relação sexual). Uma pessoa não estará pecando se resistir às tentações e não ceder aos seus desejos, ainda que continue sentido atrações homossexuais. 

Alguns neste ponto podem indagar: Pode um homossexual, ter felicidade verdadeira, renunciando seus impulsos sexuais?[5] Primeiro alguém que não expressa comportamentalmente e habitualmente uma sexualidade homossexual, apesar de sua disposição psicológica, não deve assumir uma identidade homossexual. Nesse sentido, não existe “homossexual cristão”. 

No entanto, quando se fala de alguém com tendências homossexuais, mas que decidiu abrir mão de sua sexualidade por causa de suas crenças, estamos falando de dois grupos de pessoas: (i) aqueles que reprimem sua sexualidade simplesmente porque sua religião diz que é errado (decisão legalista), (ii) aqueles que voluntariamente fazem a escolha de abrir mão de sua vida sexual por uma vida de prazer na presença de Deus (escolha voluntária).

O Cristianismo convida as pessoas a fazerem parte do grupo ii, atenderão a esse chamado àqueles nos quais a graça de Deus opera, levando-os a unir-se ao sacrifício de Cristo. Tais pessoas não reprimem neuroticamente seu prazer sexual, ao invés disso o transfere, sublima, canaliza para atividades ainda mais prazerosas, como a oração, o altruísmo e atividades espirituais. Elas abrem mão da sua sexualidade não porque se submetem a um conjunto de regras legalistas, mas porque escolheram abrir mão da homossexualidade voluntariamente. Tais pessoas são felizes, desfrutando de uma paz interior plena, pois vivem a vida que elas escolheram viver. A realidade, no entanto, é que foi Deus quem as escolheu para viverem dentro do padrão moral d'Ele.

CONCLUSÃO

Ficou claro que algo é pecado ainda que haja a possibilidade de que isso seja inato, pois o que define o que é pecado são os mandamentos de Deus, e não a causa desse algo. O ensino bíblico, conforme revelado por Deus, é o de que a prática homossexual constitui em um grave pecado contra a ordem criacional, e como tal é enojada pelo Criador. É importante ter em mente que o condenado pelo Cristianismo não é a disposição psicológica ou atração homossexual em si, mas a expressão comportamental, por meio de ações, pensamentos ou estimulações de desejos dessa ordem. Por fim, o Evangelho chama ao arrependimento, a uma vida de santidade e ao amor de Deus todos aqueles que praticam a homossexualidade, e reafirma a possibilidade dos eleitos que tem desejos homossexuais de viverem a vontade preceptiva do Criador. Por fim, defendemos claramente a nossa convicção pela absolutidade da Moral Cristã diante do fenômeno degradante que se desdobra na sociedade.