sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sou do Senhor

"Não sois de vós mesmos... Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." (1 Co 6:19-20).

Que conforto pode ser encontrado nestas palavras: Sou do Senhor. O Senhor Jesus nos redimiu com Seu próprio e precioso sangue. Tendo nos avaliado em tão alto preço, e havendo nos comprado para Si, com toda a certeza nos conservará. Nenhum dos Seus será arrancado de Sua mão. Nossa vida está a salvo muito além de todas as contingências, pois "está escondida com Cristo em Deus" (Cl 3:3). "De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor." (Rm 14:8).
Podemos ser sacudidos pelas circunstâncias que sempre mudam. No entanto, o fato de estarmos aptos a dizer: Sou do Senhor, deveria nos capacitar a dizer também que nada disso irá me abalar, pois "em nada tenho a minha vida por preciosa" (At 20:24).
Que forças se nos acrescentarão se estas poucas palavras "sou do Senhor", se transformarem em um pensamento perpetuamente presente em nossos corações! Nos livrarão do mundo mau; nos manterão calmos e pacientes em meio a toda a luta e inquietação, e seus tumultuosos distúrbios e comoções. Nos elevarão acima dos vãos prazeres deste mundo e nos protegerão de seus perigosos ardis. Assim, em coisa alguma estaremos ansiosos e nosso cuidado será tão somente em agradar a nosso Pai. Pois quaisquer que sejam os problemas que nos assaltem e ameacem, podemos seguir com confiança, tornando nossas petições conhecidas de Deus, e a Sua própria paz, em conformidade com Sua Palavra, "guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus" (Fp 4:7).
A própria morte não é o fim para o crente; é a entrada para a vida, desimpedida de qualquer obstáculo que nos pressione a ficarmos aqui neste mundo tão inferior. A paz não apenas será a nossa porção, mas o gozo estará sempre jorrando, sabendo que "O que há de vir virá, e não tardará" (Hb 10:37), e então estaremos para sempre com o Senhor (1 Ts 4:17).

E. J. Checkley

Concepções errôneas sobre a espiritualidade

Existem algumas concepções errôneas sobre a espiritualidade e a maturidade cristã que simplesmente não são à prova d'água.
Advertência: Elas podem ser uma surpresa para você, talvez até um choque; portanto, fique firme.
Por ser cristão, todos os seus problemas serão resolvidos.
Prestamos um grande desserviço a um in­crédulo quando o fisgamos com a frase: "Venha a Cristo e todos os seus problemas vão acabar". A Bíblia nunca diz isso. Ela promete que seremos novas criaturas, garante que teremos um destino seguro, mas não pressupõe uma desci­da suave ladeira abaixo uma vez que Cristo entre na vida da pessoa.
De fato, em alguns casos os problemas aumen­tam e a estrada fica mais difícil!
Todos os problemas que terá de enfrentar estão mencionados na Bíblia.
Não estão. É bem pouco sábio fazermos declarações amplas, abrangentes, em relação a pontos sobre os quais as Escrituras não falam.
Muitas ve­zes não encontramos uma resposta explícita na Escritura para o nosso problema específico. Nessas ocasiões, somos forçados a andar pela fé, confiando no Senhor para mos­trar-nos o próximo passo conforme necessário. 
A Bíblia simplesmente não oferece uma resposta específica para cada problema da vida.
Se você está tendo problemas é porque lhe falta espiritualidade.
Não é triste que essa idéia seja anunciada em muitos lugares hoje? A existência de um problema simplesmente mostra que você é humano! Todos, temos problemas e você não deixa de ser espiri­tual porque luta com um dilema. Na verdade, muitos dos homens e mulheres mais espirituais que conheço enfrentaram alguns dos mais difíceis problemas que a vida oferece.
Pense em Jó e no seu sofrimento. Ele não tinha uma resposta. Ele não compreendia o porquê. Seus conselheiros, com suas declarações rígidas e precipitadas, estavam total­mente enganados; eles também não sabiam as respostas. Embora Jó fosse espiritual, tinha problemas enormes.
A exposição a ensinamentos bíblicos sólidos resolve automaticamente os problemas.
A instrução bíblica por si só não resulta em soluções instantâneas dos problemas. Por mais confiável que seja o ensino, ou quão talentoso o professor, a declaração da verdade não proporciona a re­moção das dificuldades.
Pense nas Escrituras como um mapa absolutamente exa­to. O mapa lhe diz como chegar a um determinado desti­no. Mas o fato de apenas olhar um mapa não irá transportá-lo automaticamente ao Arizona, à Inglaterra ou ao Peru. Para chegar a esses lugares você terá de se esforçar... pagar o preço... arranjar tempo para a viagem... permanecer nela até chegar ao destino.
O mesmo acontece na vida cristã. O mapa de Deus é confiável e está disponível. Ele também é claro e direto. Não há, porém, nenhum artifício em suas páginas que en­vie automaticamente o leitor ao seu destino por meio de um tapete mágico.

Extraído do Livro PERSEVERANÇA de Charles Swindoll

Eu Estou Indo Para Sempre!

Em 23 de agosto de 1683 - um dia antes de morrer - John Owen (Um gigante na história da igreja)
ditou uma carta final para seu amigo Charles Fleetwood. Parte dela diz:

Eu estou indo para Ele a quem a minha alma tem amado, ou melhor, que me amou com um amor eterno, que é todo fundamento de toda minha consolação. A passagem é muito cansativa e sofrida, através de fortes dores de vários tipos que são acompanhadas de uma febre intermitente. . . Eu estou deixando o navio da igreja em uma tempestade, mas enquanto o grande piloto está nele a perda de um pobre remador será desprezível.



Apesar de ser um dos maiores nomes na história da igreja neste mundo, John Owen entendeu, como todos devemos entender, que depois de vivermos totalmente para Deus aqui, devemos partir em paz sabendo que é Deus quem edifica e guarda sua igreja e não nós. Somos apenas pobres remadores. O capitão levará o barco até o porto: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não poderão vencê-la.” - Mateus 16:18 – Ele edifica e garante a entrada de cada santo, cada homem regenerado que compõe a Sua igreja, na glória: “Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los diante da sua glória sem mácula e com grande alegria, ao único Deus, nosso Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.” - Judas 1:24-25

Somos apenas remadores, talvez não como John Owen foi, mas ainda assim remadores. Remem enquanto esse é o tempo determinado para nós fazermos isso. Depois Ele nos receberá na glória e continuará edificando Sua igreja.
Fonte: Josemar Bessa

Jonatas

Faltou uma coisa
Há algum tempo, durante uma reunião de estudo da Palavra, minha atenção foi despertada para as tristes circunstâncias da morte de Jônatas no Monte Gilboa. Israel fugiu diante do inimigo, e foi vencido. Saul foi morto, e seus três filhos foram mortos juntamente com ele. 


Foi a completa derrota do reino de Saul. Que triste cena - o corpo de Saul e os corpos de seus três filhos pregados no muro de Bete-Sã! Acaso não seria esse um final triste para qualquer homem que terminasse assim? Imagine então o que foi para Jônatas chegar a um tão vergonhoso fim! E como foi que isso aconteceu? Por que aconteceu? E que lição Deus quer que aprendamos desta história inspirada, nestes últimos dias em que vivemos?
O ponto decisivo na história de Jônatas está em 1 Samuel 18, e ilustra também o ponto decisivo na história de toda alma que é nascida do alto. É verdade que encontramos Jônatas, antes disso, como um homem poderoso da casa de Saul. "E Jônatas feriu a guarnição dos filisteus que estava em Gibeá, o que os filisteus ouviram: pelo que Saul tocou a trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam os hebreus!" (1 Sm 13:3). Nós o encontramos outra vez como um homem valente na passagem de Micmas. Alguém pôde dizer, dez séculos mais tarde, "E eu, nalgum tempo, vivia sem lei." (Rm 7:9). "Se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu... hebreu de hebreus." (Fp 3:4-5). Assim, o ponto decisivo na vida de Jônatas foi, em figura, muito parecido com o ponto decisivo na vida de Paulo a caminho de Damasco.
O PODEROSO ADVERSÁRIO
É iniciado o assunto. Que estudo temos aqui! Israel estava reunido em ordem de batalha no vale de Elá. Do outro lado do vale estava o adversário da casa de Saul, o desafiador dos exércitos de Israel. E não havia um libertador na casa de Saul. Naquele dia, Deus enviou um rei-salvador - aquele desprezado pastor um rapazinho. Ah, aquele desprezado era o ungido de Deus, o rei de Israel. O poderoso inimigo foi morto naquele dia pelo filho mais novo de Jessé. "E disse-lhe Saul: De quem és filho, mancebo? E disse Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita." "E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi; e Jônatas o amou, como à sua própria alma." (1 Sm 17:58; 18:1).
Ah, Jônatas tinha olhado para o outro lado do vale de Elá e, vendo aquele terrível adversário, Golias de Gate, cuja altura era de seis côvados, ficou com muito medo. E não foi só por um dia ou dois que Golias se apresentou, mas por quarenta dias, e com ele todos os exércitos da Filístia. Quão grande a graça de Deus em enviar ao acampamento aquele Davi salvador, o rei desconhecido! Ali permaneceu ele, tendo terminado a obra que Deus lhe havia dado para cumprir. A vitória fora completa; o campeão estava morto, e os filisteus fugiram. Olhe para Davi agora. Porventura não é uma figura daquela maior vitória do maior Filho de Davi?
A UM PASSO DA ETERNIDADE
Como Jônatas olhou para o outro lado daquele vale de Elá, assim também uma alma é, às vezes, levada a olhar para além do vale da morte. E, oh, quão terrível será o horror se o grande adversário estiver ali, e se todos os pecados da vida passada estiverem ali também, tudo disposto em uma terrível ordem, como as hostes dos filisteus! Permita-me que lhe peça que olhe para o outro lado desse estreito e profundo vale, e responda: Porventura o Salvador Jesus já foi revelado à sua alma, como foi o salvador Davi ali revelado a Jôtanas? Evidentemente, este último é apenas uma figura do primeiro. Mas havia realidade e certeza para Jônatas, e aquilo, de uma vez para sempre, ligou seu coração a Davi. Este assunto é tão oportuno - o vale que nos separa da eternidade é tão estreito. Outro suspiro - não, talvez, nem chegue a outro suspiro e já poderá ser, após a morte, a vez do seu julgamento! Se assim for, você certamente tem um motivo ainda maior para ficar aterrorizado, do que o que teve Israel naquele dia. Você pode ter sido, até hoje, um príncipe tão poderoso quanto Jônatas; a trombeta de Saul pode ter propagado o seu louvor; mas será que Deus revelou Jesus à sua alma - Aquele que foi enviado por Deus - Aquele que foi desprezado e rejeitado? Você pode vê-Lo? Então diga-me: O que são aquelas cicatrizes nas Suas mãos e no Seu lado? Elas falam docemente ao coração: "Tendo consumado a obra que Me deste a fazer" (Jo 17:4). Olhe para o poderoso Conquistador, o Unigênito enviado por Deus. "Eis o Cordeiro de Deus!" (Jo 1:29).
Oh, quão maravilhoso é o efeito da fé simples em Jesus, Aquele que completou a obra da redenção! Quarenta dias esse adversário, Golias, desafiou Israel; mas por quarenta séculos Satanás desafiou o homem e desonrou a Deus. Quem mais além do santo Substituto poderia sair ao encontro do adversário e preservar a glória de Deus? Pois assim como Davi abateu Golias no vale de Elá, também Jesus encontrou todo o poder de Satanás no vale da morte. Minha alma, faz bem meditar nisto. Cada pecado que o acusador poderia trazer contra mim foi carregado por Jesus.
AMAR E DESPOJAR-SE
Duas coisas foram produzidas em Jônatas por essa, por assim dizer, primeira revelação de Davi: Jônatas o amou como à sua própria alma, e se despojou. Evidentemente, isso foi algo simples e natural. De que maneira singular ele olhou para a face daquele jovem pastor que, com o risco da própria vida, munido apenas de sua funda e de sua pedra consumara tão grande livramento! E será que você pode também olhar para Jesus, Aquele que deu Sua vida tão preciosa, Aquele que suportou a ira pelos pecados que você cometeu, Aquele que mostra Suas mãos e Seu lado e, com doçura, lhe diz: "Paz seja convosco" (Jo 20:19). Ao tomar conhecimento disto, pode você ainda ficar sem amar Aquele que tanto amou você primeiro?
Portanto, como se pode ver, a fé deve produzir amor. Quão belo e simples é tudo isso! Então vem o despojar-se. Por que foi que Jônatas se despojou? Bem, Paulo, aquele outro hebreu de hebreus, nos conta por que ele se despojou; e acho que ao fazê-lo explica também por que razão Jônatas também se despojou. Menciono estes dois por terem sido, cada um deles, dos mais puros hebreus de sua época. Saulo de Tarso, do qual Jônatas é um tipo ou figura, foi um perfeito judeu; um dos mais conceituados fariseus que já pôde se firmar em sua própria justiça. Leia Filipenses 3 e você verá o registro honesto que ele dá de si próprio. Paulo diz: "Segundo a justiça que há na lei, irrepreensível" (Fp 3:6). Era isto o que aquele hebreu de hebreus podia dizer, e, oh, quantos pobres fariseus de nossa época gostariam de poder dizer o mesmo!
DEIXANDO TUDO POR CRISTO
Mas vamos agora aplicar a Paulo a questão relativa a Jônatas. Por que Paulo se despojou a si mesmo? Quão clara e simples é a resposta: "Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo. E seja achado nEle, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas... a justiça que vem de Deus" (Fp 3:7-9).
Sem dúvida alguma, quão belo e apropriado, é este despojamento! O Jesus despojado, que morreu na cruz pelos pecados de Paulo, aparecia agora àquele hebreu de hebreus, fariseu de fariseus, em uma glória que sobrepujava o sol em seu esplendor: "Eu sou Jesus, a Quem tu persegues" (At 9:5). Que mudança aquelas palavras produziram! Nos anos que se seguiram, o mesmo Paulo escreveria dAquele glorioso Ser que foi entregue por nossas ofensas, e ressuscitou de entre os mortos para nossa justificação, para ser nossa justiça permanente, sim, que Deus O ressuscitou de entre os mortos, o Santo e Justo, nossa perfeita e eterna justiça diante de Deus e de todo o universo (Rm 4:25; 5:18; 1 Co 1:30; Fp 3:9-10). E, oh, quão grande a paz de Deus que enche a alma que assim conhece a Ele, e ao poder da Sua ressurreição!
Agora iremos ver que tudo aquilo que exaltava a Saulo, o hebreu de hebreus, só podia servir para diminuir a Cristo; e, sendo assim, oh, com que alegria ele se despoja a si próprio para que Cristo possa ser tudo! Será, leitor, que o seu coração está unido assim a Jesus? E será que você está assim despojado?
Do mesmo modo como Paulo se despojou de tudo, também "Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a Davi, bem como os seus vestidos, e até a sua espada, o seu arco, e o seu cinto" (1 Sm 18:4). Que senso da dignidade de Davi, o rei-salvador! Sendo ele um nobre militar, despojar da espada era algo bem significativo. Que rendição! Lemos, acerca dos vinte e quatro anciãos, que eles "lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder" (Ap 4:10-11).
AS MARCAS DE UM CRISTÃO
Coloco estas duas coisas como marcas benditas de um cristão, da maneira como são ilustradas em Jônatas. O senso do valor da redenção por meio do sangue de Jesus é tamanho, que o coração fica ligado a Ele em amor; e tamanho é o senso do que Ele é como nossa justiça e justificação, ressuscitado de entre os mortos, que nos leva ao completo despojamento da velha capa de justiça-própria, sim, de cada trapo, da espada e do cinto, de tudo; tudo aquilo que pertence ao ego: sua justiça, seus esforços, suas lutas e seu andar, tudo entregue a Jesus, a Justiça de Deus, Cristo em ressurreição.
E estou certo, querido leitor, de que se Cristo não estiver assim revelado a você, como Davi foi revelado a Jônatas, nada poderá levá-lo a abrir mão de sua capa, vestidos, espada e cinto. Se a sua velha capa não lhe inspirar muita confiança para comparecer na presença de Deus, o diabo tentará de outra forma, dando-lhe a esperança de que você talvez possa lutar melhor, ou andar melhor; ou pode ser que ele lhe diga que conseguirá melhorar indo à missa, guardando a lei e cumprindo ritos e cerimônias. Satanás fará qualquer coisa para mantê-lo fora da sala de despojamento de Jônatas; o lugar onde você não é nada e Cristo é tudo.
CONFESSANDO A CRISTO
Vamos dar uma olhada mais adiante dessa história tão instrutiva (1 Sm 19). Conhecer verdadeiramente a Cristo não é uma mera emoção passageira, mas um amoroso vínculo com Jesus, e uma crescente fé na Sua obra consumada - uma fé tal que o levará a confessá-Lo diante dos homens, custe o que custar. Com certeza é isto que encontramos em Paulo, e em todos os membros da Igreja nos seus primórdios; e é de algo assim que lemos neste capítulo: "Jônatas, filho de Saul, estava mui afeiçoado a Davi" (1 Sm 19:1).
"Mui afeiçoado!" Deveremos notar, a esta altura da história, um surpreendente paralelo.
Naquela época o reino de Israel era, em sua forma visível, governado pela casa de Saul. 
Mas Deus havia rejeitado Saul e sua casa, e Samuel tinha ungido Davi; e a fé podia reconhecer Davi como o rei ungido que havia de vir. De modo semelhante, a fé agora reconhece, por meio do registro da Palavra de Deus, que a glória deste mundo, com seus reinos e seu deus, já está julgada e a ponto de ser varrida na vinda do Rei de Justiça e Príncipe da Paz.
O ÓDIO DO MUNDO
Bem, o mesmo acontecia com Israel naquele tempo. O ódio que é agora manifestado contra Cristo e contra Seus verdadeiros seguidores foi, de modo semelhante, manifestado por Saul contra Davi e seu pequeno grupo de verdadeiros seguidores. Não se esqueça disto, está bem? Pois você irá descobrir que o ódio do mundo contra Cristo é um verdadeiro teste para o seu próprio coração. E assim Jônatas foi submetido a esse teste.
"E falou Saul a Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos para que matassem a Davi." (1 Sm 19:1). E o que faz o amoroso Jônatas? Ele contou a Davi. Não é maravilhoso? Oh, que eu e você possamos ir e fazer a mesma coisa!
Acaso você já não ficou surpreso ao encontrar, em certas ocasiões, ódio contra Jesus vindo de onde você menos esperava? Talvez você tenha sido convidado para se encontrar com alguns amigos, todos eles professando ser crentes - e Saul também professava - para logo descobrir que seus amigos falam de tudo e de todos, menos de seu tão amado Jesus, em Quem você tem tanto prazer. E você descobre que, entre eles, não há nem como falar do glorioso Rei que virá; não estão nem um pouco interessados. Oh, saia do meio desses hipócritas! Vá antes contar a Jesus, e então fale por Jesus como Jônatas falou por Davi; pois se não o fizer, lembre-se de que você estará, ainda que em silêncio, negando a seu Senhor, só por ficar ali sentado com aqueles que, na prática, dão as boas-vindas a Barrabás e dizem "Fora com esse Senhor que vai voltar!"
"Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e porque os seus feitos te são mui bons. Porque pôs a sua alma na mão, e feriu aos filisteus, e fez o Senhor um grande livramento a todo o Israel; tu mesmo o viste, e te alegraste: por que, pois, pecarias contra o sangue inocente, matando a Davi sem causa?" (1 Sm 19:5).
Então, não era essa uma boa confissão? Encontramos Paulo seguindo no mesmo caminho: "Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor" (2 Co 4:5). E Jesus disse: "Porquanto qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de Mim e das Minhas palavras, também o Filho do Homem Se envergonhará dele, quando vier na glória de Seu Pai, com os santos anjos" (Mc 8:38).
FALAMOS BEM DE JESUS?
E se Jônatas falou bem de Davi, oh, será que não podemos falar bem de Jesus? Porventura não trouxe Ele uma maior salvação? Será que existe algo maior ou melhor fora de Jesus? Acaso houve algum outro que tenha glorificado a Deus, acerca do pecado, como Ele o fez sobre a cruz? Acaso alguma outra coisa ou pessoa pode dar vida eterna, além de Jesus ressuscitado? Existe algo mais que possa dar paz, mesmo para uma consciência culpada, além do sangue de Jesus? Não conheço nada mais, seja na história do mundo ou em qualquer nação, que dê forças para o homem permanecer à beira da sepultura, esse vale de Elá, e, olhando firmemente para a eternidade, dizer: "Estou confiante". "Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor." (2 Co 5:8).
Além disso, diga-me: Porventura Jesus não trouxe à luz vida e incorruptibilidade? Sim, vida por meio dAquele que tem existência própria; dAquele por meio de Quem todas as coisas criadas foram trazidas à existência. E não foi Ele mesmo que, pela morte, conquistou, para o homem, um novo lugar que está muito além do pecado e da morte? E, como primícias dessa nova criação, Ele é agora aquilo que nós, em ressurreição, seremos para sempre, "quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade" (1 Co 15:54). Ele mui breve Se manifestará; Ele que é Deus manifestado - inefável centro da adoração universal, cujo sorriso encherá de gozo todo o universo! Oh, nestes poucos dias finais de Sua rejeição aqui, será que deveríamos sentir vergonha de Jesus? Assim como Jônatas confessou o nome de Davi na condenada casa de Saul, possamos nós assim também, e muito mais, confessar o nome de Jesus diante deste mundo condenado!
QUANDO VEM A PERSEGUIÇÃO
Venha; vamos agora seguir nosso Jônatas um pouco mais em 1 Samuel 20. Saul continua procurando matar Davi. "Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim também agora." (Gl 4:29). Mas é a perseguição que revela aqueles que são verdadeiros seguidores de Jesus: "Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações." (Lc 22:28). Isso foi ternamente expressado, e mostrava também como o coração de Jesus apreciava a comunhão fiel, ainda que sem brilho, de Seus discípulos, quando a casa religiosa dominante procurava atentar contra a Sua vida, buscando ocasião para condená-Lo à morte. Com toda certeza, isso foi maravilhosamente prefigurado em nosso capítulo. A simpatia do devoto Jônatas era preciosa para Davi. E quanto isso adoçou a taça amarga! Aquelas palavras, "Saulo, Saulo, por que Me persegues?" (At 9:4). nos revelam claramente como o coração de Jesus está afeiçoado a todos os Seus membros aqui nesta Terra. E será que isto não mostra quão preciosa é para Ele a simpatia que demonstramos para com aqueles que são odiados e perseguidos? Oh, que coisa mais estranha foi, e ainda é, o ódio do homem contra Jesus!
Será que você não notou que desde aquele dia o ódio do homem é proporcional à fidelidade do cristão a Cristo? Porventura não é assim que acontece? Quem mais é tão odiado pela grande casa professante de nossos dias, senão os poucos que desejam realmente caminhar sobre Suas benditas pegadas? Existirão outros tão caluniados e odiados como estes? Mas desde os dias de Paulo, até o presente momento, a pior mentira acerca de Cristo é esta: que se dermos a Ele a honra de uma salvação completa e eterna, sem obras de nossa parte, essa doutrina nos levará à desobediência e ao descuido no andar. Quão completamente é esta mentira rechaçada por nosso Jônatas - "E disse Jônatas a Davi: O que disser a tua alma, eu te farei" (1 Sm 20:4). Que preciosa obediência, obediência de coração, fruto da fé! Posso apontar em qualquer parte do Novo Testamento e encontrar o mesmo fruto. "Senhor, que queres que faça?" é o primeiro impulso de Paulo nascido de novo (At 9:6).
FAZER A VONTADE DO SENHOR
Será que é esta também a linguagem do seu coração para com seu precioso Senhor? "O que disser a Tua alma, eu Te farei". Isto vai muito além da lei, boa, santa e justa como era. Trata-se do desejo, implantado pelo céu, de fazer a vontade do Senhor no que quer que Ele possa desejar que eu faça. E havia, em Jônatas, esta prontidão para servir Davi na casa de seu pai, e mostrar a Davi o que seu pai tinha em mente, fosse isso bondade ou ódio. Creio que podemos dizer que ele era verdadeiramente um homem de Davi na casa de Saul.
A julgar pelas aparências exteriores, Davi era o desterrado - o rejeitado; e, mesmo assim, com que beleza a fé podia ver nele o escolhido de Jeová! "E Jônatas fez jurar a Davi de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma." (1 Sm 20:17).
E quando chegou a lua nova, e o rei tomou o seu assento, o lugar de Davi estava vazio; e então, quão plenamente Jônatas confessou o nome de Davi, apesar de sua confissão atrair sobre si a severa ira de seu pai Saul! "Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas, e disse-lhe: Filho da perversa em rebeldia; não sei eu que tens elegido o filho de Jessé para vergonha tua e para vergonha da nudez de tua mãe? Porque todos os dias que o filho de Jessé viver sobre a Terra nem tu serás firme, nem o teu reino: pelo que, envia, e traze-mo nesta hora; porque é digno de morte." (1 Sm 20:30-31) Ainda assim Jônatas fala em favor de Davi: "Por que há de ele morrer? Que tem feito?" (1 Sm 20:32). "Se a Mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós." (Jo 15:20). "Então Saul atirou-lhe com a lança, para o ferir." (1 Sm 20:33). Agora ele bem conhecia o ódio resoluto que seu pai tinha contra Davi.
O quanto ele sentiu em seu coração, quando a flecha de aviso foi atirada, nós podemos deduzir disto: "E, indo-se o moço, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes: e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, até que Davi chorou muito mais. E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz: o que nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre minha semente e a tua semente, seja perpetuamente. Então se levantou Davi, e se foi; e Jônatas entrou na cidade" (1 Sm 20:41-43).
As tristezas de Davi, o ungido de Deus, não passavam de sombras das tristezas muito mais profundas do Filho Unigênito de Deus, seja quando olhamos para os múltiplos sofrimentos pelo qual Ele foi consagrado Príncipe da nossa salvação, ou no sofrimento da morte, por meio da qual Ele está agora glorificado à destra de Deus. Sem dúvida, a pressão no coração de Davi foi usada para dar expressão àqueles sofrimentos futuros de nosso Jesus.
  
SEGUIR O REJEITADO
Mas neste ponto da história de Jônatas - e trata-se de um ponto solene - devemos nos lembrar de que Davi passava a ser um desterrado da casa de Saul, e que o Senhor Jesus é, neste exato momento, um desterrado deste mundo; e assim como Saul odiou Davi, de modo semelhante, e até mais, este mundo odiou, rejeitou e desterrou - sim, até mesmo assassinou - o ungido Cristo de Deus; e Ele continua sendo, ainda hoje, o odiado e rejeitado Jesus.
Mas há um outro lado nesta figura. Deus havia rejeitado a casa de Saul, embora a tivesse suportado por um longo tempo - sim, durante todo o tempo da rejeição de Davi. E Ele havia escolhido e ungido a Davi. E o Senhor estava com Davi, tanto quanto não estava com Saul. Certamente Samuel sabia disso, e Davi sabia também, ainda que a fé estivesse sendo dolorosamente provada. E Jônatas sabia disso, como veremos em seu próximo, e último, encontro com Davi.
Mas devo agora falar a você daquela uma só coisa que faltou em nosso Jônatas. É muito doloroso fazê-lo; devo dizer-lhe por que? Ah, porque existem tantos Jônatas em nossos dias! Porventura não é algo triste conhecer Jesus, amar Jesus, confessar o Seu Nome, se deleitar muito em Jesus, desejar servi-Lo neste mundo mau, e, apesar de tudo, parar de repente quando só faltava uma coisa!
O que poderia ser essa coisa? O leitor talvez possa dizer, pela graça de Deus: "Tudo o que você disse de Jônatas se aplica a mim". Pode, então, lembrar-se de quando Deus fez com que você visse os seus pecados; de quando o adversário teve permissão para fustigar sua alma, como Golias desafiando os exércitos de Israel no vale de Elá? Você não encontrou libertação, não encontrou paz, até que o Espírito Santo revelasse Jesus à sua alma; até que lhe fosse revelado Aquele que foi enviado por Deus, e Ele mostrasse a você como havia completado a grande obra da redenção, e que, pelo Seu precioso sangue, seus pecados tinham ido embora para sempre, como os filisteus haviam fugido do vale de Elá. E não foi isso o que conquistou o seu coração para Jesus, do mesmo modo como Jônatas teve seu coração unido a Davi? Talvez seu orgulho próprio tenha sido, desde então, muitas vezes esmagado, mas será que você pode dizer: "Senhor, Tu sabes que Te amo"? (Jo 21:15).
SÓ FALTOU UMA COISA
Você já conseguiu se despojar de toda a sua justiça-própria? Será que você está totalmente sujeito a Jesus? Será que Ele é tudo, e você nada? É Ele precioso para a sua alma? Pode você dizer: "Tenho nEle o meu prazer?" Pois estou certo de que pode-se ter muito prazer nEle, à medida que compreendemos a vaidade de tudo o mais, e a inutilidade de tudo aquilo que vem do homem. E será que você já confessou o nome de Jesus em seu círculo social em, digamos, sua própria casa? Você continuou falando bem de Jesus, mesmo tendo que enfrentar todo o ódio e oposição? Assim como Jônatas foi testemunha de Davi - foi o homem de Davi na casa de Saul - têm você sido testemunha de Jesus? Tem sido seu prazer manter comunhão com Jesus e servi-Lo, como Jônatas teve prazer em falar com Davi e servi-lo? Se sua resposta for "sim", não seria triste descobrir que, apesar de tudo, só faltou uma coisa?
Você reparou quais foram as últimas palavras de nosso Jônatas? (1 Sm 20:42). "Então se levantou Davi, e se foi; e Jônatas entrou na cidade." (1 Sm 20:43). Para onde foi Davi? No capítulo 22 nós o encontramos na caverna de Adulão. "Então Davi se retirou dali, e se escapou para a caverna de Adulão: e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai, e desceram ali para ele. E ajuntou-se a ele todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles: e eram com ele uns quatrocentos homens." (1 Sm 22:1-2). Mas havia um que não estava com ele, e esse era o próprio Jônatas. Talvez você pergunte: "Como podia ser possível que Jônatas, que sabia do reino de Davi que estava para vir, não estivesse com ele?" Bem, vamos ler a última conversa que Jônatas teve com Davi, e não teremos mais dúvidas sobre isto.
"Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi para Davi ao bosque, e confortou a sua mão em Deus; e disse-lhe: Não temas, que não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo: o que também Saul meu pai, bem sabe. E ambos fizeram aliança perante o Senhor: Davi ficou no bosque, e Jônatas voltou para a sua casa" - a casa, a mesma casa de Saul, o rejeitado por Deus. No entanto, fica evidente que Jônatas bem sabia do reino vindouro de seu amado Davi; tanto quanto sabia da rejeição da casa de Saul; e, ainda assim falhou quando deveria ter saído dela e tomado o seu lugar, o lugar da fé, com o rei que viria, o escolhido de Deus.
Você sabe, querido leitor, como terminará a presente era? Você sabe que "quando disserem: Há paz e segurança; então lhes sobrevirá repentina destruição"? (1 Ts 5:3); - que "é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus"? (1 Pd 4:17); - que, assim como a casa apóstata de Saul foi eliminada, o mesmo acontecerá com a cristandade apóstata que será vomitada da Sua boca? (Ap 3:16). Acaso você não está vendo que há muitas coisas ao seu redor que refletem um espírito assim? Que dia este de trombetas soando! Ouçam os hebreus o que estamos fazendo! (1 Sm 13:3). Nunca antes houve uma época de tantos feitos humanos e de tantas trombetas alardeando esses feitos. "Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu." (Ap 3:17). Esta é a descrição, dada pelo próprio Senhor, do último estado da grande e condenada casa professa (Ap 3:15-20). Saul certamente era grande neste mundo, se comparado com o desterrado Davi, mas quão desventurado e miserável foi o seu fim!
REUNIDOS A JESUS
Mas, querido leitor, acaso você não sabe que esse Jesus, rejeitado no mundo, encontra-Se neste exato momento à destra da Majestade nas alturas, e que Ele cedo virá, e com um clamor reunirá os Seus santos para encontrá-Lo nos ares (1 Ts 4); e que depois disso Ele voltará em juízo sobre aqueles que não obedeceram ao evangelho (2 Ts 1); e que então o glorioso reino desse, agora rejeitado, Jesus certamente terá o seu lugar? Você concorda que todas essas coisas certamente acontecerão? E será que você sabe que Deus está, pelo Seu Espírito, reunindo uns poucos dos redimidos do Senhor a esse Jesus, agora rejeitado, como foram reunidos a Davi aqueles quatrocentos homens na caverna de Adulão? É verdade, aqueles quatrocentos formavam um grupo bem desprezível, mas era a Davi que estavam reunidos. Ah, se Jônatas tivesse sido um deles, você acha que seu corpo teria sido pregado no muro de Bete-Sã?
Está mais do que na hora de colocar esta questão diante de você: Onde é que você está? Será que está construindo com madeira, feno e palha na grande casa de Saul - essa cristandade vistosa de mera profissão exterior - essa que professa ser a Igreja de Deus, mas que, na realidade, tornou-se a igreja do mundo? Ou será que você já tomou o seu lugar fora do arraial com esse Jesus, agora rejeitado, mas que voltará? Ah, penso estar ouvindo você dizer: "Oh, esses cristãos separados; são pessoas tão horríveis!" Jônatas deve ter dito o mesmo daqueles quatrocentos homens que estavam com Davi. Mas o que dizer de Jesus? Será que Ele não é digno de que você deixe tudo para identificar-se só com Ele? Você encontrará alguns outros, poucos, mas que por graça encontram-se nesse mesmo bendito lugar; apesar de o mundo religioso tentar fazer deles uma seita, e até, como nos dias de Paulo, uma seita da qual em todo lugar se fale mal. Estou sendo franco; falo sem rodeios. Há uma grande casa de profissão exterior, como era a casa de Saul; e há uma separação dela, em identificação com Jesus em Sua rejeição, como os quatrocentos que estavam com Davi; e se você é um cristão, certamente você está, ou em um lugar, ou no outro. É provável que você diga: "É neste grande sistema que ganho o meu pão". Bem, se assim for, admito que trata-se de um assunto bem sério. Mas o mesmo acontecia com Jônatas, e você pôde ver o fim dele - os muros de Bete-Sã.
"Mas", outro poderá dizer, "será que você não consegue ver a influência que posso ter, permanecendo onde estou? Veja que bela congregação! 
Que oportunidades de falar de Jesus! Você acha que eu conseguiria ter as mesmas oportunidades, ou algo parecido, se tomasse meu lugar fora, ao nome de Jesus? E pense só na oposição que encontraria daqueles com quem me relaciono! Por que deixar todo o esplendor e conforto de tudo o que é admirado no mundo, e onde pode-se, ao mesmo tempo, verdadeiramente confessar o nome de Jesus?"
Ah, meu amigo, Jônatas pode muito bem ter dito o mesmo, mas por que foi que ele perdeu o prêmio de seu amor e serviço a Davi? E por que foi ele acabar vergonhosamente pregado nos muros de Bete-Sã? Acaso não foi por ele ter agido nos mesmos princípios sobre os quais muitos agem ainda hoje? Ele uniu-se àquilo que era exterior, aquilo que Deus havia rejeitado, e falhou ao não tomar o seu lugar junto com os pobres e desprezados seguidores do ungido de Deus.
Você sabe muito bem, querido leitor, que Deus não Se associa a esse comércio, mundanismo e pecado que é tolerado na igreja professa. Se você tem um grande apreço por Jesus, se você deseja fazer o que quer que Ele deseje de você, então certamente Sua voz poderá ser ouvida nestas preciosas passagens que falam dEle. Oh, não é triste ficar perdendo o seu tempo com aquilo, e para aquilo, que será destruído na vinda do Senhor? Tem comunhão e encontros ocasionais com Davi e, então, lá vai você de volta para a casa de Saul. Ah, isso de nada adiantará! Você pode ter as quatro características que Jônatas teve, de uma verdadeira conversão a Cristo, e ainda assim perder seu galardão.
1. Como Jônatas, você pode ter ficado cheio de amor para Jesus, reconhecendo-O como o Cordeiro de Deus que levou de uma vez para sempre os seus pecados (1 Sm 18:1);
2. Você pode ter se despojado para Jesus (1 Sm 18:4);
3. Você pode ter feito plena confissão do nome de Jesus, deleitando-se muito nEle (1 Sm 19:1-5);
4. Você pode ter desejado fazer o que quer que Jesus desejasse (1 Sm 20:4).
Mas será que, como Rebeca que deixou tudo para ir ao encontro de seu Isaque, você está disposto a deixar tudo e tomar o seu lugar de devota identificação com Jesus?

C. Stanley

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Não se Esqueça da Ressurreição


Em 1874, um ministro batista chamado Robert Lowry redigiu um dos mais comoventes hinos e que muito exaltou a ressurreição de Jesus Cristo – “Fundo, no túmulo, Ele deitou”. Note como estes versos contrastam a impotência da morte e do sofrimento com o poder da ressurreição de Cristo:
Fundo, no túmulo, Ele deitou, Jesus, meu Salvador;

À espera do dia seguinte, Jesus, meu Senhor!
Em vão observam o leito de Jesus, meu Salvador;
Em vão, eles selam o morto, Jesus, meu Senhor!
A morte não pode deter sua presa, Jesus, meu Salvador;
Ele rompeu as barreiras, Jesus, meu Senhor!
A morte, o mais terrível inimigo do homem, não tem poder para reinar sobre o Senhor da vida. Essa verdade tem significado para você e para mim, aqui e agora, no vigésimo primeiro século. Você pode ver isto na parte mais emocionante e comovente do hino de Lowry, o refrão que pontua cada estrofe.
Do túmulo, Ele ergueu-se,
Com um poderoso triunfo sobre seus inimigos,
Ele ergueu-se, como um conquistador,
Vencendo o domínio da escuridão
Ele vive para sempre, com seus santos a reinar.
Ele levantou-se! Ele levantou-se!
Aleluia! Cristo ressuscitou!

Você vê nestas linhas o que a ressurreição de Jesus significa para você? Se você é um cristão, pode se regozijar no fato de que Cristo levantou-se dos mortos como um conquistador, um campeão que vive para sempre, para reinar “com seus santos”. Isso se refere à promessa baseada em nosso batismo na morte e ressurreição em Cristo – é a nossa esperança e a razão e base de tudo o que cremos.
Mas, e se não houve a ressurreição? E, se a ressurreição de Jesus Cristo é apenas um mito do primeiro século a ser ignorado ou marginalizado como uma questão secundária? As implicações dessa abordagem são devastadoras para o cristianismo.

Chamo sua atenção ao que Paulo escreveu em 1 Coríntios 15.16-19, de modo que você possa ver o que acontece quando esquece a ressurreição.
Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
Sem dúvida, se Jesus ainda está no túmulo, se Ele é perpetuamente o sofredor e nunca, o conquistador, então você e eu estamos desesperadamente perdidos. E, embora esse não seja o caso, quero focalizar no hipotético “e, se” que Paulo presume temporariamente, em 1 Coríntios 15. “E, se a ressurreição fosse um mito? E, se Jesus Cristo ainda estivesse morto e no túmulo?”

Em primeiro lugar, vocês ainda estariam em seus pecados, sob a tirania da morte, juntamente com o mais vil e incrédulo pagão. Se Jesus não ressuscitou dos mortos, então, o pecado ganhou a vitória sobre Ele e continua a ser vitorioso sobre você também. Se Jesus permaneceu no túmulo, então, quando você morrer haverá de permanecer morto. Além do mais, visto que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23), se você tivesse de permanecer morto, a morte e a punição eterna seriam o seu futuro.
A razão de confiarmos em Cristo é para perdão de pecados. Porque é do pecado que precisamos ser salvos. “Cristo morreu pelos nossos pecados” e “foi sepultado, e… ressuscitou ao terceiro dia” (1 Co 15.3-4). Se Cristo não ressuscitou, sua morte foi em vão, sua fé nEle seria sem sentido, e seus pecados ainda seriam contados contra você e não haveria nenhuma esperança de vida espiritual.

Segundo, se não há ressurreição, então, “ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram” (v. 18). Isso significa que todo santo do Antigo Testamento, todo santo do Novo Testamento, e todo santo desde que Paulo escreveu estaria sofrendo em tormento neste exato momento. Isso incluiria o próprio Paulo, os outros apóstolos, Agostinho, Lutero, Calvino, Wesley, Moody, e os santos de fé e oração que você conheceu – todo e qualquer crente, em todas as eras, também estaria no inferno. Sua fé teria sido em vão, seus pecados não teriam sido perdoados, e seu destino seria a condenação.

À luz das outras consequências, a última é bem óbvia: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos homens”. Sem a ressurreição de Cristo, a salvação e as bênçãos que ela traz, o cristianismo seria sem sentido e lamentável. Sem a ressurreição não teríamos o Salvador, o perdão e o evangelho, jamais teríamos a fé significativa, nem a vida, e nunca poderíamos ter esperança por alguma dessas coisas.

Esperar em Cristo somente nesta vida seria ensinar, pregar, sofrer, sacrificar-se, e trabalhar inteiramente por nada. Se Cristo ainda está morto, então Ele somente não tem habilidade de salvar você no futuro, mas Ele também não pode lhe ajudar agora. Se Ele não estivesse vivo, onde estaria sua fonte de paz, alegria ou satisfação hoje? A vida cristã seria uma galhofa, uma farsa, uma piada cruel e trágica. Os cristãos sofreriam e até morreriam porque a fé seria apenas tão cega e patética quanto a daqueles “crentes” que seguiram Jim Jones e o Templo do Povo, David Koresh e as Raízes Davídicas, e Marshall Applewhite e a seita do Portão do Céu.

Se o cristão não tem um Salvador, senão Cristo; um Redentor, senão Cristo; e um Senhor, senão Cristo; e, se Cristo não é ressurreto, Ele não está vivo; nesse caso, a nossa vida cristã é sem vida. Nós nada teríamos para justificar nossa fé, nosso estudo bíblico, nossa pregação ou testemunho, nossa adoração e serviço de culto a Ele, e nada para justificar nossa esperança nesta vida ou na próxima. Nós nada mereceríamos, senão a compaixão reservada para os tolos.

Mas, Deus sim ressuscitou “dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.24-25). Porque Cristo vive, nós também viveremos (Jo 14.19). “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados” (At 5.30-31).
Não somos dignos de pena, pois Paulo imediatamente encerra a terrível seção “e, se”, dizendo: “Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (1 Co 15.20). Como Paulo disse, no final de sua vida, “sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito [i.e. sua vida] até aquele Dia” (2 Tm 1.12).

Aqueles que não esperam somente em Cristo para salvação são verdadeiros tolos; eles são os que precisam ouvir seu testemunho compassivo sobre o triunfo da ressurreição de Cristo. Então, não esqueça a ressurreição; regozije-se nela e glorie-se nela, pois Ele ressuscitou de fato.
 
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Juventude

O Privilégio de Dar ao Senhor os Melhores Dias de Sua Vida

"Eu, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade." (1 Rs 18:12). Que bendita afirmação fez Obadias! O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e se começamos nossa vida cristã assim, nossa caminhada será alegre por estarmos servindo-O.
Um irmão muito querido disse, certa vez, a um grupo de jovens cristãos: "Vocês, meus queridos jovens, em todo o frescor e em toda a beleza da juventude, me fazem lembrar um belo ramalhete de flores. Suponhamos que queiram dar um belo ramalhete a alguém que é muito querido de vocês. Vocês compram o ramalhete e acabam achando-o tão bonito que resolvem ficar com ele. Mas depois de três dias percebem que ele começa a murchar, então se apressam a dar o ramalhete murcho ao seu amigo ou amiga. Não façam o mesmo com o Senhor. Entreguem-se a Ele enquanto estão na força e vigor da juventude. Sirvam-nO de todo o coração. Lembrem-se do que Ele fez por vocês".
Oh, quão pouco os rapazes e moças gozam da bênção que é entregarem sua juventude a Deus - seus melhores dias - o tempo de maior vigor e ânimo de suas breves vidas. Enquanto você ainda for jovem, entregue-se a Deus para o Seu serviço e Sua honra. Enquanto você ainda for jovem vá adiante e adiante por Cristo, como um bom soldado dEle. Não diga em seu coração: Por que não gozar do mundo e de seus prazeres como todos fazem? Jesus, o Filho de Deus acena para vocês com uma vida mais nobre; Ele os chama para uma vida de devoção e sacrifício-próprio, na qual terão alegrias que vão muito além de tudo o que este pobre mundo já conseguiu dar aos seus servos.

Queridos jovens cristãos, a vida verdadeiramente feliz é aquela que é entregue ao Senhor. Há mais alegria no serviço de Cristo do que em todos os prazeres do mundo. Atendam agora mesmo, enquanto vocês ainda são jovens, a este apelo para se dedicarem a Ele.

Agência de curas divinas e organizações paraeclesiásticas


Por Rev. Rogério da Silva Cardoso



Agência de curas divinas

A cura divina como tal, isto é, como objetivo único de um grupo ou de um líder carismático, não constitui Igreja, mas “movimento”. 

Os líderes carismáticos de cura divina estabelecem balcões de oferta de bens de religião a uma clientela flutuante e descompromissada na qual a relação do fiel com o sagrado ocorre na base do “dar para receber”. A prática dos grupos de cura divina avizinha-se das práticas de magia, e como afirmou E.Durkheim, não há Igreja mágica. Embora alguns desses grupos mantenham seu discurso nos parâmetros da fé cristã, sua prática às vezes se afasta dela, enquanto outros apresentam discurso e prática quase irreconhecíveis do ponto de vista do cristianismo ortodoxo.

A maior agência brasileira de cura divina é a Igreja Pentecostal “Deus é Amor”, de David Miranda, que tem numerosas similares em grandes ou pequenas salas espalhadas nas áreas deterioradas ou nas periferias pobres dos grandes centros urbanos. Seu público é a massa desesperada em busca dos bens mínimos de sobrevivência como saúde e emprego. É a religião da aflição, em palavras de Peter Fry. Atrai gente de muitas religiões e não exige das pessoas nenhum compromisso a não ser a contraparte das graças recebidas. Na cura divina o milagre é fim, e não percurso, como nas Igrejas pentecostais.

Diariamente afluem para a sede da “Igreja Pentecostal Deus é Amor”, um megatemplo construído no bairro do Glicério na cidade de São Paulo – Milhares de pessoas que participam dos cultos de cura divina. “Deus é Amor” já se faz presente em muitos estados da Federação.

Apesar do nome Igreja, entretanto, “Deus é Amor” ainda é apenas um movimento. Sua população é flutuante, e a relação fiel/liderança/sagrado ainda é contratual e descompromissada. É impossível falar em número de membros. O movimento atrai as massas trabalhadoras periféricas e pobres por causa da ênfase na cura no seu sentido mais amplo, isto é, saúde, emprego e problemas existências.

Sem entrar em valores religiosos, o pentecostalismo e o movimento de cura divina exercem papel social importante, promovendo a catarse dos conflitos do cotidiano que desabam sobre a classe trabalhadora pobre e periférica dos grandes centros urbanos e das áreas camponesas de trabalhadores assalariados.

Organizações paraeclesiásticas
Para o historiador K.S. Latourette, o período entre 1815 e 1914 constitui o “grande século” do cristianismo. Pelo menos para o protestantismo, o século XIX foi o período de formação de sua teologia e de sua grande difusão, no caminho aberto pela expansão dos impérios coloniais anglo-saxões. Mas ao mesmo tempo em que no interior dos grandes avivamentos formava-se a teologia prática do conversionismo, motor das missões protestantes, nos subterrâneos do Iluminismo gestava-se a teologia liberal que iria, no século XX, minar as próprias bases das missões. Acresça-se, ainda, que Igrejas e missões se fundamentaram no postulados do século XIX de que o cristianismo, no caso entendido como protestantismo, era a religião mais avançada do mundo e, como tal, representava também a civilização mais desenvolvida. Hoje o cenário mudou. Religiões e nações não-cristãs revitalizaram-se e puseram em xeque essa convicção. 

Há duas causas, portanto, para os recuos, perdas e crises do protestantismo missionário de 1914 para cá: a teologia liberal e a revitalização das nações não-cristãs. Carl Joseph Hahn entende que teólogos do século XIX, ao tentarem tornar o cristianismo aceitável à geração da “idade da razão”, fizeram concessões em demasia e tiraram da fé cristã o que é essencial ao trabalho missionário. Desde I.Kant, passando por F. Schleiermacher, G.F. Hegel, D. Strauss e B. Baur, até J. Wellhausen, a fé cristã foi sendo reduzida a uma questão de consciência, e não de revelação. Além disso, a historicidade de Jesus foi questionada, debatida e devassada, culminando com a clássica obra de Albert Schweitzer, de 1906, em que o teólogo e missionário retorna às teses de D. Strauss em A vida de Jesus, de 1835. A teologia liberal, cujo principal componente foi a crítica histórica, minou dois grandes pilares das missões protestantes: a inspiração da Bíblia e a cristologia.

No primeiro caso, transformou a Bíblia num livro condicionado pela história. No segundo, pôs em dúvida a historicidade de Jesus e, desse modo, seu papel de Salvador absoluto. A questão da revitalização de nações não-cristãs como Japão, China, países árabes e africanos pôs em dúvida a superioridade do cristianismo em relação às religiões ditas “pagãs”. 

Os fatores em questão exigiam, para a retomada da expansão protestante, ainda vista como garantia dos valores e do status quo das nações dominantes do capitalismo mundial, uma retomada da teologia conversionista e a revisão da estratégia missionária.

A teologia convercionista, componente da tradição missionária, repousa sobre o princípio de que convertendo-se os indivíduos a sociedade acabará se convertendo e mudando para melhor. Mas, ao contrário do que cria o Evangelho Social, a sociedade nunca será inteiramente justa a não ser no milênio. A mudança de estrutura social está fora de cogitação. A estrutura ideal é essa que está aí, que precisa apenas ser aperfeiçoada. O grande responsável pelos males e injustiças é pecado individual. Daí a ênfase na conversão o duplo papel de, ao mesmo tempo, reparar as brechas provocadas pela teologia liberal e prosseguir a ocupação ideológica do status quo.

Mas o veículo não podia ser mais a velha estrutura das Igrejas, que revelava certo cansaço e alguma relutância em aceitar missionários estrangeiros por causa do nacionalismo e do surgimento de liderança própria.

Neste cenário é que surgem as organizações paraeclesiásticas, justamente após a II Guerra Mundial, quando as nações vitoriosas dividem o mundo em dois blocos ideológicos distintos e quando o bloco ocidental busca estender sua hegemonia sobre nações subdesenvolvidas, tradicionalmente em sua periferia. Elas passaram a representar, no fim dos anos de 1950, uma nova estratégia missionária. 

Paraeclesiásticas são organizações missionárias diferentes das tradicionais. Elas não se ligam às juntas ou comitês das grandes Igrejas norte-americanas, mas se organizam independentemente delas com contribuições em dinheiro de membros das diversas Igrejas que assumem compromissos individuais de sustentação de missões ou missionários. No entanto, como não estão ligadas às grandes estruturas eclesiásticas, mas a compromissos individuais teoricamente precários, são chamadas “missões de fé”. 

As paraeclesiásticas agem em três diferentes níveis: evangelização de massa, acampamentos para juventude e literatura. A evangelização de massa, em que organizações paraeclesiásticas como a Visão Mundial esforçam-se por envolver as denominações em geral em campanhas evangelísticas de grande amplitude, inspira-se no “Pacto de Lausanne”, celebrado no Congresso Internacional de Evangelização realizado em Lausanne, Suíça, em 1974. O “Pacto de Lausanne” inspira-se no movimento “evangelical” do século XIX e procura mobilizar as Igrejas para a evangelização mundial.

Em 1983, em Belo Horizonte, a Visão Mundial realizou o Congresso Brasileiro de Evangelização em que os temas de Lausanne foram retomados e atualizados em termos de realidade brasileira.

Não se pode avaliar ainda o movimento quanto ao crescimento das Igrejas. Sob o ponto de vista da mobilização das Igrejas para o compromisso com a sociedade brasileira, é de crer que o conteúdo teológico muito conservador não as leve nessa direção. É possível, ao contrário, que convercionismo individualista e o messianismo de espera, tradicionais no protestantismo brasileiro, sejam reforçados e dificultem ainda mais a aproximação do protestantismo tradicional das realidades sociais do país.

Os acampamentos de juventude, cujo protótipo no Brasil é a organização Palavra da Vida, são estratégia para a conversão de jovens. Partem do princípio de que todos necessitam de conversão, mesmo os jovens fiéis das Igrejas tradicionais, que afluem em grande número aos seus retiros semanais de férias escolares. O resultado, pelo que se pode inferir dos testemunhos desses jovens que, em equipes, saem pelas Igrejas com o objetivo de atrair outros jovens, é uma sensível alienação em relação à família, à Igreja e à sociedade. 

Ao creditar ao acampamento seu novo programa de vida, o jovem, no seu testemunho e nas suas ações, desqualifica a família, que não “soube conduzi-lo na religião”, a Igreja, que “não lhe deu o ambiente adequado à sua conversão”, e a sociedade, cujos valores ele repudia, incluindo a educação e o trabalho. Os jovens frequentadores de acampamentos tendem a formar, nas Igrejas, grupos separados, às vezes em clara oposição às lideranças. 

A literatura religiosa protestante é atualmente muito numerosa no Brasil. A qualidade das publicações, sob o ponto de vista da apresentação gráfica, é boa e relativamente barata. Os temas explorados pelas editoras dessa literatura – Betânia (extinta) e Vida Nova, por exemplo – são variados. No entanto, obtêm grande sucesso os livros que veiculam aquilo que em outro estudo chamamos de protestantismo positivo. O protestantismo positivo é a contrapartida da classe média ao pentecostalismo e à cura divina e se baseia na crença de que problemas existenciais e de saúde podem ser resolvidos mediante um programa devocional bem elaborado e seguido à risca.

Histórias reais de pessoas, em geral de outros países, que resolveram seus problemas seguindo este ou aquele método devocional encorajam os leitores a fazer o mesmo. O resultado é o fortalecimento de uma religiosidade individualista e solitária, tendente a enfraquecer o sentido de vida religiosa comunitária.

Em suma, as organizações paraeclesiásticas, todas de origem estrangeira, tendem a enfraquecer as Igrejas pelo menos em dois aspectos: primeiro, pela paralisação a que induzem pela teologia conservadora que programam e, segundo, pelo conformismo das Igrejas que acabam delegando às paraeclesiásticas os projetos que deveriam empreender: a formação de novas gerações. As paraeclesiásticas correm em pista própria e apagam o brilho das Igrejas tradicionais.

Considerações Finais

No cenário protestante brasileiro atual, composto de mais ou menos de 25 milhões de evangélicos – somados tradicionais e pentecostais, a balança pende negativamente para os protestantes tradicionais.

Esses talvez cheguem a somar 5 milhões, ficando o restante com as igrejas pentecostais. Em 1990, estimava-se que os pentecostais atingiriam 30 milhões até o final daquele século, porém não se contava com a “explosão neopentecostal”.

Alguns fatores considerados neste estudo, podem contribuir para uma nova explosão dos pentecostais frente a uma retração das Igrejas protestantes tradicionais.

As Igrejas tradicionais de origem missionária não conseguiram inserir-se na sociedade brasileira, mesmo depois de algumas terem se afastado das missões estrangeiras. Atualmente as paraeclesiásticas estão contribuindo para reforçar e prolongar o distanciamento dos membros dessas Igrejas em relação ao mundo circundante por meio de conceito de salvação individual e do messianismo de espera. Sendo Igrejas de classe média e propensa à manutenção do discurso lógico-teológico e intelectualizado, não atraem a massa de assalariados pobres, cada vez maior. Adicione-se a isso outro fator: o isolacionismo das comunidades protestantes tradicionais, que se assemelham a clubes fechados em que se entra mediante convite especial. Há um bom número de templos que mais se assemelham a capelas particulares, quase escondidos em fundos de terrenos arborizados, em ruas secundárias, às vezes sem saída, ou perdidas em meio a salões e salas de reuniões.

O elemento simbólico, importante em todas as religiões, foi praticamente perdido pelas Igrejas tradicionais de origem missionária.

__________________
Referência Bibliográfica: 
MENDONÇA, A.G. e VESLASQUES Filho, P. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola, 1990, p. 55-59.

Sobre o autor: Rev. Rogério da Silva Cardoso é Pastor na Igreja Presbiteriana de Parque Terra Nova II - São Bernardo do Campo - SP. É formado em Teologia pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Durante sete anos foi missionário no Acre; É professor no Instituto Bíblico Ashbel Green Simonton.

Fonte: Aula dada em sala (História da Igreja no Brasil).

Ditadura, revolução, e responsabilidade



Por Allen Porto


Esse texto pode ser polêmico. Infelizmente.

Eu desprezo a polêmica gratuita. Certamente há temas pelos quais devemos lutar até a morte, se preciso. A história da Igreja é prova disso. Mas normalmente a melhor abordagem não é o conflito público, que tanto inflama os egos e sentimentos, criando indisposições para todos os lados.

Ainda assim, devido ao ambiente de erros ou dúvidas, algumas questões polêmicas precisam ser tratadas. Não pretendo ter a palavra final sobre o assunto discutido, e estou aberto à reflexão e diálogo. Acredito, porém, que existe uma compreensão muito perniciosa e um revisionismo que nos prende negativamente ao passado, e por isso trago a questão à tona.

Nestes dias as agendas se misturam. A páscoa e o calendário cristão tentam resgatar algo da paz promovida pelo sacrifício e vitória de Jesus na cruz e ressurreição. Mas, especialmente no Brasil, outro tema se levanta: os eventos do fim de Março e início de Abril, relacionados à ditadura militar e à ação revolucionária em nosso país.

Os pólos são claros: de um lado, militantes esquerdistas recontam a história do país culpando a ditadura pelas mazelas existentes em nossa sociedade e resistem a ela tão intensamente como se os militares ainda estivessem no poder. No outro extremo, direitistas exaltam a honra dos militares e agradecem pelo que fizeram, livrando o Brasil de se tornar um país comunista. Há evangélicos nos dois lados desta história, o que complica ainda mais o debate.

Como, então, podemos ser responsáveis e agir no meio deste contexto?

Correndo o risco de passar por simplista, mas não desejando escrever um tratado sobre o tema, apresento breves teses que direcionam uma postura equilibrada. Obviamente isso não significa que você não possa adotar um partido – apenas clama por uma visão menos maniqueísta da história, e, portanto, melhor abastecida para compreender a complexidade da questão, e para tratá-la quando necessário. Às teses:

1. Nenhum cristão pode ser a favor da ditadura. O ensino bíblico a respeito do papel do Estado não permite uma atuação ditatorial e restritiva das liberdades individuais de modo opressivo. A ditadura, seja qual for, viola a dignidade do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, e cria marcas profundas na história de um povo. Fragiliza uma organização política saudável e violenta a consciência popular. A ditadura é um excesso, e leva a excessos de várias ordens. Por causa da maldade do coração humano, não é ridículo acreditar que muitos militares se excederam profundamente no trato com pessoas, utilizando, inclusive, a prática de tortura.

2. Nenhum cristão pode ser a favor da revolução. A ditadura do proletariado também é uma ditadura, e assim se encaixa no aspecto anterior. A revolução também rompe com o ensino bíblico sobre as autoridades terem sido instituídas por Deus. Subverter a ordem a fim de instaurar um regime contrário às liberdades individuais é tão repulsivo quanto instaurar uma ditadura. Por causa da maldade no coração humano, não é ridículo acreditar no treinamento que as milícias revolucionárias receberam de Cuba, nem nos roubos, torturas, sequestros e assassinatos que tais grupos realizaram, além de estimular um clima de vandalismo desordeiro. Desonrar as autoridades é desonrar a autoridade final que institui todas as demais – o próprio Deus.

3. A história “oficial” do regime militar é contada pelas esquerdas. Precisamos levar em consideração que nossa compreensão do evento de 1964 e seus desdobramentos se desenvolve a partir dos livros de história escritos por marxistas, e a apresentação do assunto se dá normalmente de maneira revanchista. Embora possamos entender o senso de indignação diante das atrocidades cometidas, devemos ser inteligentes o suficiente para perceber alguns pontos importantes, como: (1) quem conta a história com senso de vingança retrata os fatos de modo a lhe fazer parecer a vítima justiçada e fazer o outro parecer o vilão destruidor; (2) Não é de hoje que movimentos de esquerda desejam transformar a opinião popular mediante o envolvimento com a produção cultural que distorce – levemente ou brutalmente – os fatos em seu favor (é nessa linha que vemos o absurdo número de teses, filmes, livros, revistas, que tratam a questão).

Richard Wurmbrand conheceu na pele o que o comunismo
faz com cristãos. A história que demonstra os comunistas como
apenas “vítimas” precisa ser questionada.
4. Existem versões do outro lado que caminham no mesmo erro das esquerdas. Simplesmente transformar os militares em heróis parece simplista demais. Personagens históricos reais possuem traços de heroísmo e covardia, ações louváveis e outras detestáveis. Deste modo, mesmo que a história “oficial” não seja contada pelos militares, existem os seus registros, que também devem ser observados com cautela.

Talvez o mais responsável seja perceber o relato dos dois lados e montar o quebra-cabeças da história com estes componentes. Os livros esquerdistas estão em todas as salas de aulas e livrarias – são o padrão. Devem ser contrastados com materiais que revelam o que eles escondem. “A ditadura escancarada” deveria ser contrastado com “A verdade sufocada”, “Ditadura e repressão” com “O Guia politicamente incorreto da História do Brasil” (e o da América Latina também), entre outros.

Acredito que essa postura nos livrará de simplificações irresponsáveis, e até levianas, que mais prejudicam do que ajudam qualquer pessoa.

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- Sobre o autor: Allen Porto é pastor da Igreja Presbiteriana do Renascença (MA), está plantando a Igreja Presbiteriana do Araçagy, também em São Luís (MA), e estuda teologia no Centro de Pós-graduação Andrew Jumper (SP).