terça-feira, 29 de março de 2016

O dízimo do Velho Testamento, versus o dadivar do Novo Testamento

Introdução

A idéia de que todo crente é obrigado a dizimar (dar 10% da sua renda para a obra do Senhor) é largamente difundida nas igrejas evangélicas de hoje.  Já bem cedo na vida espiritual, praticamente todo crente é ensinado que tem que dizimar. Algumas igrejas crêem tão fortemente em dizimar que seus membros regularmente recitam o Credo do Dizimista -- "O dízimo é do Senhor. Em a verdade, o aprendemos. Em a fé, o cremos. Em a alegria, o damos. O dízimo!"  Outros [muitos] pregadores têm clamado que qualquer crente que não dá o dízimo para o trabalho do Senhor está roubando Deus e está sob maldição, de acordo com Malaquias 3:8-10.

Neste livrinho, examinaremos o que a [própria] Bíblia ensina sobre o assunto do dízimo, sendo nosso propósito entendermos [somente pela Bíblia]  qual a [real] relevância que o dízimo tem para os crentes no Senhor Jesus Cristo, vivendo sob o Novo Pacto. Faremos isto examinando o que a [própria] Bíblia tem a dizer sobre o dízimo: 1) antes da Lei ser dada; 2) sob a Lei Mosaica; 3) nas Escrituras do Novo Testamento. 
[0]




1 - O dízimo, antes da Lei

Há duas passagens Bíblicas que falam de um dízimo sendo dado antes que a Lei fosse instituída no Sinai. As passagens envolvem Abraão e Jacó, dois dos patriarcas de Israel.

Gênesis 14:17-20: 
"E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. 18 E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. 19 E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; 20 E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. [Todas as citações são da Almeida Corrigida Fiel]"

Nesta passagem, somos ditos que Abraão deu um dízimo a Melquisedeque, presumivelmente como uma expressão de gratidão a Deus por capacitar-lhe e conceder-lhe resgatar seu sobrinho Ló, que tinha sido levado cativo. Aqueles que crêem que o dízimo é mandatório para os crentes do Novo Testamento argumentam que, uma vez que o dízimo foi praticado antes que a Lei Mosaica fosse dada, ele forçosamente também tem que ser praticado depois da Lei Mosaica (que tem sido feita obsoleta pelo estabelecimento do Novo Pacto, através do sacrifício de Cristo) (He 8:13). No entanto, antes que cheguemos a qualquer decisão dura e apressada,  olhemos de mais perto o texto [acima] e façamos algumas observações pertinentes.

- Não há nenhuma evidência neste texto de que dizimar foi ordenado por Deus. De fato, tudo no texto nos leva a crer que dar o dízimo foi, completamente, uma decisão e [livre] escolha de Abraão. Como tal, foi completamente voluntária. Como veremos pouco depois em nosso estudo, o dízimo, na Lei, de modo algum era voluntário, mas sim obrigatório a todo o povo de Deus.
- Ademais, este é o único dízimo que as Escrituras mencionam que Abraão jamais deu [em toda a sua vida]. Não temos nenhuma evidência de que dizimar era sua prática geral [habitual, constante].
- Ainda mais, este dízimo proveio do despojo da vitória que Abraão adquiriu por poderio militar. Como notaremos depois em nosso estudo, o dízimo exigido sob a Lei Mosaica era sobre o lucro da colheita, dos frutos e dos rebanhos, e para ser dado em uma base anual -- não o despojo de uma vitória militar!


Gênesis 28:20-22
Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; 21 E eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; 22 E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.
Jacó, nesta passagem, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de Deus, em um sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó "... Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; 14 E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; 15 E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado."  (v. 13-15). Em resposta, Jacó fez o voto que, se Deus guardasse Sua promessa, ele, por sua vez, daria a Deus um dízimo. Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, parece que este dízimo foi voluntário da parte de Jacó. Se ele de fato começou a dizimar [a Bíblia não o registra] depois que Deus cumpriu a promessa que lhe fez, Jacó ainda adiou o dizimar por 20 anos! [até depois da volta a Canaã.]

Estes dois são os únicos exemplos de dizimar que podem ser encontrados no Velho Testamento antes da Lei ser dada. Ambos são exemplos de algo voluntário, e nenhum desses dois dizimar foi pedido por Deus. Em nenhum dos personagens [Abraão e Jacó, que deram estes dois dízimos,] vemos um exemplo de dizimar como uma prática geral [habitual, constante] das suas vida. De fato, na vida de Abraão, parece que temos um dízimo como algo que ele só deu uma única vez em sua vida, e foi [um dízimo] dos despojos de uma vitória militar, dado a um sacerdote de Deus [1]. Se nossa única evidência para obrigar crentes sob o Novo Pacto a dizimarem se apóia nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que estamos nos apoiando em um fundamento muitíssimo inseguro!




2 - Dizimando, sob a Lei Mosaica

Que ensina a Bíblia sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? Nesta seção do nosso estudo, examinaremos todas as passagens significantes que descrevam o dízimo sob a Lei, nas Escrituras.

Levítico 27:30-33
"Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. 31 Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. 32 No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao SENHOR. 33 Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados."Note que, nesta passagem, o dízimo é descrito como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores, do gado, e do rebanho. O dízimo não era o dar dinheiro. Em local algum das Escrituras você encontrará que dizimar era o dar dinheiro para Deus. Ademais, o dízimo era provavelmente dado em uma base anual. Cada ano, depois que a terra tinha sido colhida, as pessoas traziam para os sacerdotes as décimas partes de suas colheitas e do aumento na manada e no rebanho[2]. Daí, penso que podemos imediatamente ver que nossa contribuição  semanal (ou mensal) de dez por cento de nossa renda monetária difere muito da prática do dízimo que encontramos na Bíblia.

Números 18:21-24 ["O Dízimo para os Levitas"]:
 E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação.22 E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. 23 Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniqüidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, 24 Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao SENHOR em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão. 
Note, neste texto, que o dízimo foi planejado para ser o sustento dos levitas. Uma vez que estes não tinham nenhuma herança [terra para atividade agro-pastoril] na Terra Prometida, tal como a tinham as outras tribos, Deus fez provisão para o sustento deles através do dízimo das outras famílias de Israel. De fato, em Números 18:31 somos ditos "E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porquevosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação." O dízimo foi o pagamento- recompensa que Deus supriu para os levitas, pelos seus serviços sacerdotais. Isto é similar ao sustento que os funcionários do governo recebem hoje no nosso país, através dos impostos e taxas pagos pelo trabalhador comum.

Deuteronômio 14:22-27 ["O Dízimo para o Festival"]:
 Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. 23 E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. 24 E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; 25 Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; 26 E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; 27 Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo. Este texto fala de um dízimo sendo usado para prover para as festas e festivais religiosos de Israel. Números 18:21 nos diz que Deus deu todo o dízimo em Israel para ser a herança para os Levitas. Se todo o dízimo foi dado aos Levitas, então como é que este dízimo (em Dt 14) é dito para ser usado para as festas e festivais religiosos de Israel? A resposta tem que ser que este é um segundo dízimo. O primeiro era usado para o sustento dos Levitas e o segundo para prover para os festivais religiosos, tanto assim que chegou a ser referido como "O  Dízimo para o Festival". O povo de Israel devia usar este dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém (o local que Ele escolheu para estabelecer seu nome). Se fosse demasiadamente incômodo para as pessoas de longe trazerem seus dízimos todo o caminho até Jerusalém, seria permitido que elas o vendessem  e trouxessem o dinheiro [apurado] até Jerusalém, onde poderiam comprar aquilo de necessidade para os festivais. Deus expressamente encoraja as pessoas a gastarem o dinheiro deles em "tudo o que deseja a tua alma," incluindo bebida forte! ! [3] O propósito era que o povo de Israel  pudesse  aprender [ambas as coisas:] a temer o Senhor e a regozijar ante Ele. Note que ter um sentimento de temor do Senhor, e regozijar ante Ele, não são mutuamente exclusivos, mas, na realidade, são complementares, deveriam  acompanhar um ao outro! Este "Dízimo Para o Festival"  tornou possível ao povo de Israel ter toda a comida e bebida necessárias para que  pudesse usufruir gozosamente das festas religiosas de Israel, e adorar ante o Senhor.

Deuteronômio 14:28-29 ["O Dízimo para os Pobres"]:
 
Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; 29 Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem. 
Aqui, somos ensinados a respeito de um terceiro dízimo que é coletado a cada terceiro ano. Os comentaristas Bíblicos estão divididos quanto a se este é realmente um terceiro dízimo, em separado, ou apenas é o segundo dízimo usado de um modo diferente, no terceiro ano. O historiador judeu Josephus apóia o ponto de vista de que este foi um terceiro dízimo, em separado. Outros antigos comentaristas judeus têm escrito em apoio a que é [apenas] o segundo [tipo de] dízimo que, a cada três anos, era coletado e usado com outro fim. É impossível se determinar com absoluta certeza quem está certo. De qualquer modo, o povo judeu tinha sido ordenado a dar pelo menos [10 + 10  =] 20 por cento das suas colheitas e rebanhos, e talvez tanto quanto  [10 + 10 + 10/3] = 23.3 por cento! Este dízimo particular bem poderia ser chamado "O Dízimo para os Pobres". Não devia ser ajuntado em Jerusalém, mas nas aldeias. As pessoas de cada aldeia deviam trazer uma décima parte de suas colheitas e rebanhos e ajuntar tudo, para prover para os pobres da aldeia, incluindo os estrangeiros, os órfãos, e as viúvas.

Em muitos aspectos, parece que o dízimo exigido sob a Lei é hoje similar à taxação que o  governo impõe sobre nós. Israel era governado por uma teocracia. Sob ela, o povo era responsável por prover para os trabalhadores do governo (os sacerdotes e os levitas em geral), para os dias santificados (festas de alegria ao Senhor), e para os pobres (estrangeiros, viúvas e órfãos).

 
Neemias 12:44:
 
Também no mesmo dia se nomearam homens sobre as câmaras, dos tesouros, das ofertas alçadas, das primícias, dos dízimos, para ajuntarem nelas, dos campos das cidades, as partes da lei para os sacerdotes e para os levitas; porque Judá estava alegre por causa dos sacerdotes e dos levitas que assistiam ali. Note que o texto diz que os dízimos eram exigências "da Lei".
Estes dízimos não eram voluntários como o foi nas vidas de Abraão e Jacó. Similarmente, lemos em Hebreus 7:5 "os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão." [Indiscutivelmente] o dízimo nunca foi voluntário, sob a Lei de Moisés. Note, aqui, que, nos dias de Neemias, homens eram indicados para ajuntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Estas câmaras eram para os bens armazenados, e depois se tornaram conhecidas como "casas do tesouro". Isto se tornará importante quando olharmos para o nosso próximo texto, em Malaquias 3.

 
Malaquias 3:8-12:
 
Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos?Nos dízimos e nas ofertas. 9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. 10 Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. 11 E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. 12 E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos. 
Examinemos esta passagem verso por verso, para que dela possamos extrair algumas importantes verdades.


3:8 Este verso nos diz que quando um homem retém seus dízimos ele está roubando, na realidade, aDeus. Isto porque ele está retendo algo que não lhe pertence, antes é propriedade de Deus. [4]  Sob o Velho Pacto, o dízimo era mandatório, portanto retê-lo era se tornar um ladrão. Note também que Deus diz que o povo o estava roubando em dízimoS. Ele não disse no "dízimo", mas sim nos "dízimoS" (plural). Estes "dízimos"  têm que se referir aos diferentes dízimos requeridos do povo de Deus (o Dízimo para o Levita, o Dízimo para as Festas ao Senhor, e o Dízimo para os Pobres). Adicionalmente, observe que Deus não está condenando o reter apenas dos dízimos, mas também das ofertas. Estas, sem dúvida, referem-se às ofertas especificadas em Levíticos 1-5, tais como a oferta queimada [holocausto], a oferta dos manjares, a oferta de paz, a oferta pelos pecados, e a oferta pelas culpas. Todas estas ofertas eram constituídas, principalmente, de sacrifícios de animais. O suprimento de comida e mantimento para os Levitas era provido, em grande parte, através destes sacrifícios de animais, dos quais os Levitas eram permitidos participar [comendo-os], em certos casos. Uma importante pergunta emerge a este ponto. Por que é que reconhecemos que o sacrifício de animais não é coisa para o Novo Pacto, mas dizemos que o dízimo o é? Se estivéssemos sob a obrigação de pagar dízimos hoje, então, certamente, ainda estaríamos obrigados a oferecer sacrifícios de animais. Deus amarrou um ao outro (os dízimos e os sacrifícios), e disse que Seu povo O estava roubando por reter a ambos. Não podemos decidir "pegar e escolher" qual dos dois ofereceremos a Deus, hoje. Das duas uma: [a] estamos sob a obrigação de oferecer ambos, tanto dízimos como ofertas de animais (sacrifícios), ou [b] ambos [dízimo e sacrifício] têm sido abolidos pela ab-rogação da Lei Mosaica.

3:9 Aqui, somos ditos que, como o povo de Israel estava retendo os dízimos e ofertas, conseqüentemente estava amaldiçoado com uma maldição. Note que o verso não diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda a humanidade." Ao contrário, diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação." Se dizimar fosse um mandamento moral e eterno para todos os povos de todos os tempos, então todos estes estariam sob maldição. Mas nosso texto somente diz que é toda nação de Israel que estava sob a maldição. Agora, o que é interessante sobre esta "maldição" é que, em Deuteronômio 28, somos ditos que se Israel, sob a Lei Judaica, desobedecesse os mandamentos de Deus, então a nação seria amaldiçoada. Note os seguintes textos: Deuteronômio 28:18 "Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. 23 E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. 24 O SENHOR dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. 38 Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá. 39 Plantarás vinhas, e cultivarás; porém não beberás vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as colherá. 40 Em todos os termos terás oliveiras; porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona cairá da tua oliveira. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do SENHOR teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado;" (Dt 28:18, 23-24, 38-40, 45). Nestes versos, Deus adverte que, se o Seu povo desobedecesse Seus mandamentos e estatutos, então as ceifas dele falhariam, as chuvas não viriam, as colheitas seriam pequenas, a locusta [tipo de grilos ou gafanhotos] consumiria a comida, e o fruto das árvores falharia.

3:10
 Nesta passagem, Deus fala da "casa do tesouro". Com base em Neemias 12:44, sabemos que isto se refere às câmaras no Templo, postas à parte e designadas para guardar os dízimos dados pelo povo para o sustento dos sacerdotes [e a todos os demais levitas]. Não existe sequer um fiapo de evidência de que devemos associar estas "casas do tesouro"  aos prédios das igrejas para os quais os crentes do Novo Pacto devem trazer seus dinheiros. Ademais, a razão pela qual Israel devia trazer todos os dízimos para dentro da casa do tesouro era que houvesse [bastante] alimento na casa de Deus. Deus estava interessado em que os levitas tivessem comida para comer. Este era o propósito daqueles dízimos que eram trazidos para o Templo de Deus. Somos ditos, também, que se o povo de Deus fosse fiel em trazer seus dízimos para a casa do tesouro, Deus abriria as janelas do céu e derramaria para eles uma bênção até que transbordasse. Isto sem dúvidas refere-se à promessa de Deus de trazer abundantes chuvas para produzir a bênção de uma transbordante ceifa.

3:11
 Neste verso, Deus promete que se Israel trouxer os dízimoS [e as ofertaS], Ele repreenderá o devorador para que não destrua o fruto da terra. Sem dúvidas, o "devorador" é uma referência às locustas que Deus adverte que virão sobre os campos de Israel se o povo falhar em trazer o dízimo (Dt 28:38; vide acima). 

3:12
 Neste verso, Deus graciosamente promete que, se Israel for obediente no dar os seus dízimoS e ofertaS, todas as nações a chamarão abençoada. É interessante que Deus não apenas advertiu Israel de que seria amaldiçoada se desobedecesse a Lei Mosaica, mas também prometeu que seria abençoada se a obedecesse. Note estes textos, "1 ¶ E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. 2 E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR teu Deus; (Dt 28:1-2). 4 Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. 8 O SENHOR mandará que a bênção [esteja] contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o SENHOR teu Deus. 11 E o SENHOR te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o SENHOR jurou a teus pais te dar. 12 O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado." (Dt 28:1-2, 4, 8, 11-12). Aqui, Deus prometeu abençoar Israel materialmente, se ela fosse obediente. A promessa inclui abundantes colheitas, copiosas chuvas, e grandes aumentos nas manadas e nos rebanhos.


Portanto, é minha convicção que as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3:8-12 referem-se às bênçãos materiais que Deus prometeu a Israel, se ela obedecesse seus mandamentos e estatutos. Dizimar foi um destes mandamentos.

Portanto, que podemos concluir sobre o dízimo, sob a Lei Mosaica? Penso que, com segurança, podemos concluir que o dízimo não tinha nada a ver com o dar dinheiro regularmente, numa base semanal ou mensal, mas, ao contrário, tinha a ver com a adoração a Deus conforme ordenada no tempo do Velho Pacto. O mandamento para dizimar, tal como os mandamentos para não comer camarão nem ostras, tornou-se obsoleto e foi colocado de lado, pela inauguração do Novo Pacto, na morte de Cristo. O dízimo foi o sistema de impostos e taxas ordenado por Deus sob o sistema teocrático do Velho Testamento.

Se alguém deseja dizimar realmente [literalmente] de acordo com as Escrituras, teria que fazer o seguinte:
1) Deixar seu trabalho e comprar uma terrinha, de modo que possa criar seu gado e plantar e colher [grãos, verduras e frutas].
2) Encontrar algum descendente de Leví, para sustentá-lo [e este a um descendente do levita Arão (que realmente seja sacerdote, no Templo, em Jerusalém)].
3) Usar suas colheitas para observar as festas religiosos do Velho Testamento (tais como Páscoa, Pães Asmos, Pentecostes, Tabernáculos) [quando, como e onde Deus ordenou. Literalmente];
4) Começar por dar pelo menos 20 por cento de todas as suas colheitas e rebanhos a Deus; e
5) Esperar que [com toda certeza] Deus amaldiçoe sua nação [em oposição ao próprio crente] com [grande] insuficiência material, se ela for infiel, ou a abençoe com [grande] abundância material, se for fiel.


Penso que todos nós concluiríamos que isto é completamente absurdo! Todos reconhecemos que Cristo tem abolido o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais, e as festas religiosas, em Cristo. Bem, se isto é verdade, por que estamos tentando segurar [i.é  manter] o dízimo, que foi parte e parcela de todas essas ordenanças do Velho Testamento?



3 - Dizimando, no Novo Testamento

A coisa mais interessante sobre o conceito de dizimar, debaixo do Novo Testamento, é que é quase que virtualmente ausente . No NT há [somente] quatro diferentes passagens  que fazem alguma menção ao dízimo. [Examinemo-las.]

Mateus 23:23:
 
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas."
Esta passagem em Mateus é também repetida de uma forma similar em Lc 11:42. Em ambos os casos é importante notar que o dízimo tinha a ver com ervas que serviam de condimentos e eram cultivadas no quintal (o produto do campo), ao invés de ter a ver com dinheiro. Adicionalmente, Jesus falou estas palavras aos fariseus, que eram muito religiosos e guardadores da Lei, e o fez enquanto a Lei ainda estava em vigor. Dizer que, uma vez que Jesus falou a estes fariseus que deviam dizimar, isto força que também nós devemos dizimar, ignora o fato que aqueles fariseus viviam sob pacto e leis diferentes daqueles de um salvo do Novo Testamento. Cristo, através da sua morte, inaugurou o Novo Pacto, assim efetivando uma mudança na Lei (Lc 22:20; He 7:12) [Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós. (Lucas 22:20) Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. (Hebreus 7:12)]. Finalmente, notemos que o dízimo aqui mencionado não foi voluntário em nenhum sentido da palavra. Jesus lhes diz que "deveis" [tendes o dever de] dizimar. [O dízimo] era mandamento, ordem para todos os judeus e, assim, era obrigatório.


Lucas 18:12:
 
"Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo."
Jesus, nesta passagem, está ensinando a parábola acerca do fariseu e do cobrador de impostos. Cristo põe estas palavras na boca do fariseu que se via a si mesmo como justo: "dou os dízimos de tudo quanto possuo." Cristo está enfatizando [não o dever do crente neo-testamentário pagar o dízimo mosaico aos levitas, mas] que o homem se vê a si mesmo como justo, confia em suas obras para ser aceitável ante Deus, todavia, a despeito do melhor que faça, não é justificado ao olhos de Deus. Repetimos: Cristo está falando acerca de um fariseu que dá o dízimo, ao tempo em que vivia sob a Lei Mosaica, não de um crente [da Dispensação da Igreja] dizimando sob o Novo Pacto.


Hebreus 7:1-10:
 
"1 ¶ Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; 2 A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; 3 Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. 4 Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. 5 E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. 6 Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas. 7 Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. 8 E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. 9 E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. 10 Porque ainda ele estava nos lombos de seu pai quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro."
Nesta longa passagem, o objetivo do autor é mostrar a superioridade do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio levítico e, portanto, exortar seus leitores para não retornarem às suas formas judaicas de adorar, repletas com seus sacerdócio, Templo e sacrifícios. O autor menciona o relato de Abraão pagando dízimos a Melquisedeque, [somente para o autor] mostrar que, desde que Levi estava nos lombos do patriarca Abraão, na realidade Levi pagou dízimos a Melquisedeque e foi abençoado por ele. Uma vez que é óbvio que o menor é sempre abençoado pelo maior, Melquisedeque e seu sacerdócio são maiores que os levitas e o sacerdócio deles. Aqui, o autor de Hebreus não está mais que reafirmando o fato que Abraão pagou dízimos a Melquisedeque, um fato que já temos analisado [acima]. Esta passagem não está exortando os crentes [neo testamentários] a darem [o dízimo] como Abraão o fez [mesmo que só do despojo de guerra e só uma vez na vida]. Ao contrário, está instruindo os crentes a perceberem a excelência de Cristo, o qual ministra como um sacerdote muitíssimo superior aos levitas. Portanto, esta passagem não pode ser usada para forçar o dízimo sobre os cristãos. Simplesmente, ela não foi escrita para tratar deste assunto. Ela não tem nada a ver com cristãos dadivando das suas rendas para Deus e sua obra, mas, ao contrário, tem tudo a ver com a superioridade de Cristo.
Bem, aí você tem a totalidade do ensino do Novo Testamento sobre o dízimo. Não há nem sequer uma, uma só palavra em todo o Novo Testamento que ordene ou mesmo sugira que se espera que crentes, dentro do Novo Pacto, dizimem. Mas, enquanto o Novo Testamento fica em total silêncio sobre o dever dos cristãos dizimarem, não o fica sobre o assunto de dadivar, sobre isto o NT fala muito e muito alto.

O Novo Testamento nunca estipula um certo valor percentual como um padrão obrigatório e exigido para nossas contribuições. Ao contrário, as Escrituras declaram: "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria." (2Cor 9:7). O dízimo do Velho Testamento foi exigência legal. Os judeus estavam sob obrigação de dá-lo. O ensino do Novo Testamento sobre o contribuir focaliza o seu caráter voluntário "Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente." (2Co 8:3). Esta contribuição voluntária é exatamente o que Abraão e Jacó estavam praticando antes da instituição da Lei, e é o que todos os cristãos devem estar praticando hoje. Os crentes de hoje têm a liberdade de dadivar tanto quanto decidam. Se quiserem dar dez por cento como Abraão e Jacó o fizeram [já vimos a ocasião e através de quem o fizeram], eles estão perfeitamente livres para tal. No entanto, se decidirem dar 9 por cento ou 11 por cento ou 20 por cento ou 50 por cento, então podem muito bem fazê-lo. O padrão de suas contribuições não é uma percentagem fixa, mas o exemplo de um maravilhoso Salvador  -- "Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis." (2Co 8:9). Nosso [exemplo-] padrão de contribuir é o próprio Cristo, o qual não deu 10 por cento nem 20 por cento nem mesmo 50 por cento, mas 100 por cento! Ele deu tudo que tinha, inclusive sua própria vida, para redimir homens e mulheres pecadores como eu e como você!

Algumas vezes aqueles que são ricos sentem que, se pagarem apenas seus dez por cento, Deus estará alegre com eles. No entanto, um rico que dá [apenas] dez por cento de seus rendimentos pode na verdade desagradar a Deus, se estiver vivendo uma vida de luxo extravagante enquanto dá [talvez mesmo de má vontade] uma mera "ração de fome" para a obra de Deus e para as necessidades dos outros. A vontade de Deus em relação a este homem pode ser que dadive de 50 a 80 por cento de seus rendimentos, ao invés de 10 por cento. Cada pessoa deve buscar a Deus sobre o [quanto e o] como ela deve dadivar.

Ademais, aqueles que são pobres não devem se sentir culpados se não forem capazes de dar dez por cento de seus rendimentos. É verdade que Deus honrará o homem que dá sacrificialmente, mas se uma pessoa decide que não pode dar dez por cento dos seus rendimentos e ainda assim satisfazer as necessidades mais básicas [suas e de sua família], nós temos que permiti-lo aquela liberdade, sem julgá-lo. Afinal, em lugar nenhum Deus falou aos cristãos que é dever deles dar qualquer percentagem fixa.

Que o efeito deste estudo seja libertar-nos dos grilhões das tradições dos homens que não possam ser substanciadas pela Palavra de Deus (Mar 7:1-13) [... 7 Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. 8 Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; ... 9 E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. ... 13 Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. ...]. Olhai para Jesus como o padrão e exemplo do vosso contribuir. Procurai a Deus diligentemente, sede generosos e prontos a compartilhar, para que entesoureis para vós mesmos o tesouro de uma boa fundação para o futuro, de modo que alcanceis aquela que é a verdadeira vida! (1 Tim 6:18-19) [
18 Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; 19 Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar  a vida eterna].




4 - Dadivando, no Novo Testamento

Se é verdade que dizimar foi parte da adoração de Israel no Velho Testamento, e que não tem nenhuma injunção prática sobre os crentes do Novo Testamento, então vem à tona, naturalmente, a pergunta "Que é que o Novo Testamento realmente ensina sobre o dar das nossas rendas [a Deus]?" Seguramente, o local de partida para os crentes do Novo Pacto começarem a entender qual é a revelada vontade de Deus para o dadivar deles, está nas Escrituras do Novo Testamento. É exatamente para lá que eu gostaria de lhe levar, para juntos examinarmos a vontade de Deus para o dadivar do [verdadeiro] cristão.


4.1 - o quanto do nosso dadivar

Uma vez que já temos estabelecido que o dízimo não é o padrão para crentes na Nova Aliança, como então determinarmos quanto os [verdadeiros] cristãos devem contribuir? Examinemos três diferentes textos, para colhermos, com esforço e cuidado, algum [real e profundo] entendimento sobre este importante assunto.

1 Coríntios 16:1-2:
 "1 ¶ Ora, quanto à coleta que se faz para os santos, fazei vós também o mesmo que ordenei às igrejas da Galácia. 2 No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as coletas quando eu chegar."
Em nosso texto, o apóstolo Paulo dá direções à igreja de Corinto: é em proporção ao quanto [cada um] tem prosperado que eles devem dar na coleta para os santos em Jerusalém, [os quais estão] em grande pobreza [e passando por enormes aflições]. Embora não exista nenhuma menção dos santos em Corinto darem um dízimo [ou qualquer outra percentagem imposta], eles são instruídos a darem proporcionalmente à sua prosperidade. O ponto em foco é simples -- aqueles com mais dinheiro dêem mais, aqueles com menos dinheiro, podem dar menos. Nada mais claro nem mais simples.

Atos 11:27-30: "... 29 E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia. ..."
Note, na narrativa, que foi proporcionalmente aos seus meios que os irmãos em Antioquia dadivaram para os irmãos que sofriam na Judéia. Em outras palavras, deram de acordo com suas capacidades. Aqueles com mais dinheiro deram mais, aqueles com menos dinheiro deram menos. Nada mais claro nem mais simples.

2 Coríntios 9:7:
 "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria."
Aqui, Paulo dá direções à igreja, para que dêem aquilo que têm proposto em seus corações. Note que o apóstolo não lhes diz quanto dar, nem lhes impõe uma percentagem fixa como padrão. Ele simplesmente lhes diz que, o que quer que tenham decidido dadivar, devem ir em frente e [efetivarem o] dadivar. Muitas vezes, no instante em que vemos uma necessidade, determinamo-nos a dar uma certa quantia, mas depois, quando o tempo de dar nos alcança, somos tentados a voltar atrás [ou ficar aquém]. Paulo ensina que devemos ser fiéis em fazer o bem segundo o que já tínhamos proposto em nosso coração. Mas note igualmente que o apóstolo Paulo deixa o valor a critério dos Coríntios. Não devemos permitir que outras pessoas [indevidamente] nos manipulem ou nos intimidem [psicologicamente ou de qualquer outra forma, levando-nos] a dar por um sentimento de culpa ou de pressão. Tem que não haver nenhuma compulsão [externa] em nosso dar; o valor tem que ser nossa própria decisão.

Estes textos do Novo Testamento nos ensinam que Deus deixa a nós o decidirmos sobre o valor das nossas contribuições. [Sim,] devemos dar em proporção aos nossos meios e a como Deus nos tem prosperado; ...  mas, ao final, somos livres para darmos aquilo que temos o desejo de dar. Quão libertador isto é, quando consideramos as táticas manipulativas de arrancar dinheiro que muitas igrejas de hoje tão freqüentemente usam. Tenho estado em igrejas onde os líderes são induzidos a tomarempréstimos de mil ou dois mil dólares [22 a 44 salários mínimos brasileiros] [cada líder,] [para dar oferta extra à igreja, em certas campanhas]. Foram ditos que, se não derem [o estipulado], a obra de Deus fracassará. Os membros da congregação são pressionados a escrever e telefonar para parentes, pedindo dinheiro. Há campanhas pressionando para promessas [assinaturas de carnês, notas promissórias e outros documentos morais e legais]  e para o fundo de construção, com grandes gráficos coloridos. À medida que o tempo passa, [todos] são pressionados a dar mais e mais. Permita-me submeter-lhe que tudo isto corre em direção contrária aos ensinos do Apóstolo em 2Co 9:7 [ver acima]. A vontade de Deus é que, quando vemos uma necessidade, oremos ferventemente por direção sobre como podemos satisfazer aquela necessidade. Então, com base na nossa situação financeira, dadivamos com um coração prazeroso e alegre.



4.2 - o propósito do nosso dadivar

A quais tipos de necessidades devemos usar nosso dinheiro para satisfazer? Será que o Novo Testamento nos dá alguma luz sobre este importante assunto? Creio que as Escrituras são muito claras nesta área. O Novo Testamento ensina que há três propósitos para nosso dadivar:


 1. Satisfazer as necessidades dos santos:

Este tema é como um fio que vai através de [toda] a Escritura. Consideremos alguns textos:
Atos 2:44-45 "44 E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. 45 E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister." O espírito de amor e generosidade era tão grande, na igreja primitiva, que os crentes, de própria vontade e  alegremente, abriram mão de suas próprias propriedades e possessões, para ministrarem às necessidades dos outros santos. Eles chegaram mesmo ao ponto de vender suas terras e casas para tomarem conta um do outro (Atos 4:34).
1 João 3:17
"Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus?"

Gálatas 6:9-10 
"9 E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. 10 Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé." Embora o "façamos bem"  não seja claramente definido, seguramente incluiria o dadivar para satisfazer as necessidades dos domésticos da fé.
Em adição a estes claros textos, lemos também, em Mt 25:31-40, que, quando Cristo voltar, separará as ovelhas dos bodes. As ovelhas são descritas como aqueles que alimentaram Cristo quando ele estava faminto, deram-lhe de beber quando estava sedento, vestiram-no quando estava nu. Quando as ovelhas replicam: "
Senhor, quando ... e te demos de comer?  ... e te demos de beber? 38 ... e te hospedamos?  ... e te vestimos? 39  ... e fomos ver-te?"  Cristo responde " Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." Aqui, Jesus nos diz claramente que quando usamos nosso dinheiro para vestir e alimentar os irmãos de Cristo (crentes, de acordo com Mt 12:50["... qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, e irmã e mãe."]), estamos ministrando a ele. Ademais, 1Tm 5:16 ["... para que se possam sustentar as que deveras são viúvas."] dá instruções sobre como a igreja deve sustentar viúvas desvalidas. Ainda mais, temos visto, nos textos já citados, as muitas exortações do apóstolo Paulo para dadivar aos santos pobres em Jerusalém. Portanto, é bastante claro que uma das prioridades do dadivar no Novo Testamento é satisfazer as necessidades dos santos.


2. Satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos:
Além de usarmos nosso dinheiro para satisfazer as necessidades dos nossos irmãos e irmãs em Cristo, as Escrituras também nos levam a usar nosso dinheiro para sustentar os que trabalham na obra do Senhor. Consideremos as seguintes passagens:
1 Timóteo 5:17-18: "17 ¶ Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina; 18 Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário."
Neste texto, "honra" tem que significar mais que [meras] estima e respeito, pois, no verso 3 do mesmo capítulo, Paulo manda a Timóteo "Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas." Honrar estas viúvas é prover para elas (v. 8) e assisti-las (v. 16). Portanto, quando Paulo menciona "honrar" os anciãos que trabalham duramente na pregação e ensino [da Palavra], imediatamente depois que ele mencionou honrar as viúvas, Paulo tem que ter a mesma coisa em mente -- prover e assistir aos anciãos financeiramente, de modo que possam se dedicar ao trabalho de labutarem na Palavra. Um ancião ensinador é como um boi que deve ser permitido comer enquanto está debulhando. Em outras palavras, deve ser sustentado e cuidado enquanto está trabalhando com todo esforço. Ele também é como um operário, o qual é digno de seu salário. A uniforme prática apostólica do Novo Testamento foi a de apontar anciãos para superintenderem as igrejas que os apóstolos plantavam. Paulo simplesmente está dirigindo as igrejas a proverem e assistirem financeiramente estes anciãos, de modo que possam dar seu tempo à tarefa de ministrarem ao rebanho.


1 Coríntios 9:6-14 
"6 Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? 7 Quem jamais milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do gado? 8 Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo? 9 Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois? 10 Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante. 11 Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? 12 Se outros participam deste poder sobre vós, por que não, e mais justamente, nós? Mas nós não usamos deste direito; antes suportamos tudo, para não pormos impedimento algum ao evangelho de Cristo. 13 Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? 14 Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho."
Nesta passagem Paulo está clamando que os apóstolos tinham todo o direito de abster-se de [viverem de] trabalhos seculares e todo o direito de receberem o sustento material daqueles a quem serviam. De fato, Paulo assevera que o Senhor mandou àqueles que proclamam o evangelho que obtenham seu viver do evangelho.
Filipenses 4:15-18 "15 E bem sabeis também, ó filipenses, que, no princípio do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar e a receber, senão vós somente; 16 Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica. 17 Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa conta. 18 Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou, depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado, como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus."Neste texto o apóstolo declara expressamente que a dádiva que os filipenses lhe haviam enviado foi um fragrante aroma, um sacrifício aceitável, e foi agradável a Deus. O próprio Deus nos tem dado sua aprovação para usarmos nosso dinheiro para sustento de fiéis obreiros cristãos. Portanto, é importante que o povo de Deus utilize seus recursos financeiros para sustentar obreiros cristãos, quer sejam anciãos de uma igreja local, ou evangelistas itinerantes, ou missionários.



3. Satisfazer as necessidades dos pobres:
  

Em adição ao uso do nosso dinheiro para satisfazer às necessidades dos santos e dos obreiros cristãos, as Escrituras também nos mandam usar nosso dinheiro na satisfação das necessidades dos pobres. Considere os seguintes textos:
Lucas 12:33-34 "33 Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. 34 Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração." 

Efésios 4:28 
"Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade."Aqui a pessoa que sofre a necessidade não é identificada como crente, mas presumivelmente pode ser qualquer um padecendo privação.

Tiago 1:27 
"A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo."Visitar órfãos e viúvas em suas necessidades tem que significar mais que fazer-lhes uma mera visitinha social. Está implícita, na declaração, a idéia de ajudar estes órfãos e viúvas, o que, sem dúvidas, requereria dadivar sacrificialmente.


Como temos visto, podemos desta maneira sumariar o ensino do Novo Testamento sobre o propósito do dadivar --
[a] satisfazer as necessidades dos santos,
[b] satisfazer as necessidades dos obreiros cristãos, e
[c] satisfazer as necessidades dos pobres.
Note que o dadivar, no Novo Testamento, é sempre para satisfazer as necessidades das pessoas. É interessante que aquela coisa na qual a igreja na América gasta a maior parte do seu dinheiro, depois de pagar o salário do seu pessoal, não é de modo algum mencionada [no Novo Testamento] -- prédios da igreja! A Bíblia simplesmente não fala de [nenhuma] igreja entrando em débito para comprar [ou construir] caros prédios, pela simples razão de que a igreja primitiva não se reunia em prédios especiais. Eles se reuniam em casas. Assim, não havia despesa "não estrita e diretamente com o evangelho e com pessoas" [tal despesa], só faria drenar a energia e as finanças da igreja. Desta maneira, todas as dádivas do povo de Deus podiam ir diretamente para satisfazer as necessidades de pessoas.

Incidentalmente, não há nas Escrituras nada de que eu tenha conhecimento e que exija que todo nosso dadivar ao Senhor tem que ser primeiramente entregue aos líderes da igreja, e depois distribuídos por eles [conforme eles o prefiram]. De fato, creio que algumas das nossas dádivas devem ser feitas diretamente de pessoa para pessoa, para preservarmos o anonimato (Mt 6:1-4). É, razoável, portanto, colocar de lado (em casa ou numa conta bancária separada e especial) uma parte da sua dádiva total, de modo que, quando uma necessidade especial ou uma emergência surgir, tenhamos alguns recursos financeiros de que possamos sacar para satisfazer aquela necessidade.
 


4.3 - o modo do nosso dadivar

Além de nos iluminar sobre o valor total e sobre o propósito do nosso dadivar, as Escrituras nos ensinam diversas coisas sobre como devemos dadivar.

 1. Devemos dadivar anonimamente:

Em Mateus 6:1-4 [1 ¶ Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. 2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. 3 Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; 4 Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.Jesus nos ensina a dadivar em segredo, para que aquele que vê em segredo nos recompense. Este tipo de dadivar é preferível pois protege o dadivador de orgulho espiritual. Quando você quiser dar uma dádiva a alguém, procure maneiras de satisfazer a necessidade que você percebeu, sem que o beneficiário jamais saiba quem deu o dinheiro [5].

2. Devemos dadivar voluntariamente (por nossa vontade, com amor):

2 Coríntios 8:3-4 diz "3 Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente. 4 Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos."Somos aqui ensinados que as igrejas da Macedônia deram de suas próprias vontades. Ninguém os estava manipulando [emocional e psicologicamente], nem lhes torcendo o braço [obrigando-os]. Em2Cor 9:7 Paulo diz "Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria."  Se não devemos dadivar  com tristeza ou sob compulsão [externa], então devemos dadivar voluntariamente [de ânimo pronto, com prazer e alegria]. Deus quer que nosso dadivar provenha do nosso coração. Ele quer que dadivemos porque temos todo odesejo de fazê-lo.


3. Devemos dadivar 
expectativamente:

Quando dadivamos, devemos esperar que Deus nos abençoe nesta presente vida. Consideremos os ensinos do apóstolo Paulo.

2 Coríntios 9:6 "E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará."Quando alguém semeia por girar seu braço e espalhando abundantemente as sementes com a mão aberta, parece que está apenas jogando fora bom grão. Mas, se ele firmemente prendesse as sementes na sua mão [não deixando nenhuma escapar], ou se apenas jogasse uma ou duas sementes, teria uma ceifa muito pequena. Assim também com o dadivar do crente. Se não dermos nada ou se dermos muito pouco, só podemos esperar muito poucas bênçãos. Mas, se dermos com uma mão aberta e generosa, podemos esperar que colhamos abundantemente. John Bunyan disse uma certa vez: "Um santo nunca dizia 'esta moeda é minha', e, quanto mais ele dadivava, mais ele tinha." Muitos têm torcido 2Cor 9:9 como se ensinasse que Deus quer que dadivemos tendo, dentro de nós mesmos, o objetivo de recebermos. Este tipo de ensino apela para a carne, e faz crescer um espírito de avareza e cobiça nos crentes. Mas, ao contrário disto, Paulo nesta passagem está ensinando que devemos dadivar com o objetivo de recebermos mais para podermos dadivar [ainda] mais. Vejamos como Paulo expressa isto, nos versos 8-11: "8 E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, A FIM DE QUE, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra; 9 Conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; A sua justiça permanece para sempre. 10 Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, também vos dê pão para comer, e multiplique a vossa sementeira, e aumente os frutos da vossa justiça; 11 Para que em tudo enriqueçais PARA toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus." Notemos, nesta passagem, que Paulo está asseverando que Deus abençoará o dadivador generoso fazendo toda a graça abundar sobre ele, para que, em conseqüência, este tenha uma abundância para toda boa obra. Ademais, Deus promete multiplicar a semente do dadivador para semear e [promete] aumentar a colheita de sua retidão. Estas passagens sem dúvida alguma apontam para o fato de que Deus abençoa aqueles que dadivam, de modo que possam dar ainda mais. Uma vez que Deus é o maior dadivador de todos, devemos nos esforçar para sermos na semelhança dele. E a única maneira de podermos ser maiores dadivadores no futuro é começarmos a dar generosamente agora! É muito interessante que isto seja exatamente o que os Provérbios de Salomão nos ensinam, embora tenham sido escritos centenas de anos antes.
Provérbios 19:17 "Ao SENHOR empresta o que se compadece do pobre, Ele lhe pagará o seu benefício."

Provérbios 11:24-25 
"24 ¶ Ao que distribui mais se lhe acrescenta, e ao que retém mais do que é justo, é para a sua perda. 25 ¶ A alma generosa prosperará e aquele que atende também será atendido."

Em adição, também devemos esperar que Deus nos abençoará na vida futura. Se há uma coisa que a Bíblia deixa muito clara é que, quando dadivamos, estamos entesourando para nós mesmos tesouros no céu. Note a ênfase nos tesouros celestiais, futuros, nas seguintes passagens:


Mateus 6:19-21
 "19 ¶ Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; 20 Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. 21 Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração."

Lucas 12:33 
"Vendei o que tendes, e dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que nunca acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói."

1 Timóteo 6:18-19 
"18 Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; 19 Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna."


Em todas estas passagens (quer dirigidas aos discípulos, ao rico jovem proprietário, ou aos opulentos crentes de Éfeso) a mensagem é a mesma -- o generoso dadivar será recompensado por tesouros celestiais. Preferirias tu ter ter seu tesouro na terra, onde perecerá, ou no céu, onde o gozarás eternamente? Tua resposta a esta pergunta terá muito a ver com o como verás e usarás tuas riquezas.

 
4. Devemos dadivar 
animadamente (com ânimo, alegria):

Em 2Coríntios 9:7 nós aprendemos qual espírito devemos ter ao dadivarmos "Cada um contribua segundo propós no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria."Se cada crente soubesse quão grande chuva de bênçãos gozaríamos através do dadivar, seríamos como os crentes da Macedônia, que imploraram a Paulo para terem a oportunidade de dadivar (2Cor 8:3-4)! Dadivar deveria ser visto como um grande privilégio, não como uma pesada carga ou um doloroso dever. Deus não deseja que seu povo dadive movido por um sentimento de compulsão [ser empurrado à força e contra a vontade], mas sim movido por uma atitude de alegria e animação. A suprema e definitiva passagem no NT que declara a atitude com a qual devemos dadivar, descrevê-a como "com alegria". Que Deus nos ajude a dadivar em um espírito que O honre!

5. Devemos dadivar sacrificialmente:

Nas Escrituras temos vários exemplos onde Deus olha com aprovação para o nosso dadivar sacrificial:

2 Coríntios 8:1-5 "1 ¶ Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus dada às igrejas da Macedónia; 2 Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade. 3 Porque, segundo o seu poder (o que eu mesmo testifico) e ainda acima do seu poder, deram voluntariamente. 4 Pedindo-nos com muitos rogos que aceitássemos a graça e a comunicação deste serviço, que se fazia para com os santos. 5 E não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram primeiramente ao Senhor, e depois a nós, pela vontade de Deus."
Logo de partida, notemos que os crentes macedônicos tinham pouquíssimos dinheiro e bens. São descritos como estando suportando muita aflição e experimentando profunda pobreza. Apesar de tudo, também é dito que tinham dadivado além das suas possibilidades! Que Deus nos habilite a os imitarmos em nossas próprias vidas!

Marcos 12:41-44 "41 ¶ E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito. 42 Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo. 43 E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro; 44 Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento."Jesus escolheu esta mulher para servir aos seus discípulos de maravilhoso exemplo do dadivar. Quando Cristo viu o espírito sacrificial dela [amoroso e de vontade livre e boa], Ele chamou os Seus discípulos para se aproximarem, observarem, e aprenderem uma lição, através da vida dela. Que também aprendamos, e saiamos, e façamos semelhantemente!


Podes tu afirmar que teu dadivar é caracterizado por um espírito de sacrifício [com felicidade]? Teu dadivar realmente te é custoso? [Realmente representa um sacrifício?] Na realidade, não é quanto dadivamos que é tão importante, mas sim quanto [é que resta e] guardamos para nós mesmos, depois de dadivarmos. Que nosso grande e glorioso Deus nos habilite a praticarmos um gozoso e sacrificial dadivar!


4.4 - a motivação do nosso dadivar

Agora que já temos visto os que as Escrituras nos ensinam com referência ao total, ao propósito, e à maneira de dadivarmos, voltemo-nos para examinar o que a Bíblia nos ensina sobre qual deve ser amotivação do nosso dadivar.

1. O exemplo de Cristo:

Justo na metade da mais extensa exposição do Novo Testamento sobre o dadivar  (2Cor 8-9), o apóstolo Paulo lança mão do exemplo de Jesus Cristo para estabelecer qual deve ser nossa maior motivação. Considere as palavras de Paulo em 2Cor 8:9"Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis." Cristo era infinitamente rico em sua existência pré-encarnação, no céu. Era incessantemente adorado por uma grande hoste de seres angelicais. Sendo Deus, exercia onipotência, onisciência e onipotência. Juntamente com o Pai e o Espírito Santo, reinava sobre todo o universo que tinham criado. Todavia, Cristo de livre vontade escolheu se tornar pobre. Jogou no chão seu direito ao exercício independente de seus atributos. Nasceu em um estábulo e foi criado por pais muito pobres. Viveu uma vida obscura e simples.  Dependeu do [Deus-] Pai para toda a sua sobrevivência. Nunca acumulou possessões durante [todo o] tempo de sua vida; na verdade, parece que as únicas possessões que ele podia chamar de suas foram as roupas sobre suas costas. Ao final de sua vida, [pela própria vontade] ele entregou a única coisa que ainda lhe restava, sua própria vida. Ao depor sua vida Jesus estava dando tudo, para nos livrar dos nossos pecados. Embora fosse rico, tornou-se pobre. E qual foi o propósito deste grande ato de sacrifício? Foi que, através de sua pobreza, nós nos tornássemos ricos. Nós, aqueles que cremos nele, temos herdado grandes riquezas: perdão, adoção, justificação, Deus o Espírito Santo habitando em nós, paz com Deus, acesso a Deus, santificação, e a glória eterna que em breve virá! Note que Cristo não nos deu apenas dez por cento dos seus recursos ao nos comprar e presentear tamanhos tesouros! Ele deu 100%! Um discípulo naturalmente deseja ser como seu senhor. Portanto, empenhemo-nos esforçadamente para imitar nosso Senhor. Não nos contentemos em dar uma pequena fração de nossa renda. Oremos que Deus nos habilite a dar mais e mais, para ajudar pessoas sofrendo e para expandir o reino de Deus através do mundo!



2. A ordem de Cristo:

Não apenas temos o exemplo de Cristo para nos motivar, como também temos sua ordem. Jesus expressou-se muito claramente em João 15:12-13, "12 O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. 13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.". Jesus, nesta passagem, está ordenando aos seus seguidores que amem um ao outro de modo idêntico àquele com que Ele os amou -- a saber, sendo totalmente dedicado a eles. Este tipo de dedicação tem que, pela própria natureza do caso, incluir a vontade de darmos dos nossos recursos para ajudarmos um ao outro. Jesus deu tudo, inclusive sua própria vida, por nós. É deste modo que somos ordenados amar um ao outro. Saberemos se realmente amamos nossos irmãos e irmãs quando estivermos desejosos de abrir nossa carteiras ou talões de cheque e dar para satisfazer suas [reais] necessidades. Que Deus nos habilite a seguirmos seu Filho em obediência!



5 - Conclusão

As Escrituras não ensinam que o dízimo é obrigatório sobre os crentes durante [a dispensação de] o Novo Testamento. No entanto, as mesmas Escrituras [decididamente] ensinam que os crentes devem ser dadivadores generosos, sacrificiais, expectantes, e gozosamente animados! Será que isto descreve você? É minha sincera oração que o Espírito Santo use este escrito para o desafiar a repensar os seus padrões de dadivar, e para verificar se eles se alinham com a vontade de Deus, conforme expressa no Novo Testamento. Se não estiverem, vá ao Senhor em oração e peça-lhe o poder e a graça para lhe obedecer plenamente em todas as coisas.
Brian AndersonMilpitas Bible Fellowship, 1715 E. Calaveras Blvd, Milpitas, Ca 95035, brian@solidrock.netTraduzido por Hélio de Menezes Silva, visite http://solascriptura-tt.org

[0] Nota do Tradutor: Ninguém pode deixar de se impressionar com a perfeita semelhança entre os argumentos dos maiores defensores (e rebatedores) da extensão da obrigatoriedade da guarda do sétimo dia para os crentes da dispensação da igreja (tão literalmente como se estivéssemos sob a Lei) e os argumentos dos maiores defensores (e rebatedores) da obrigatoriedade dos 10% para os crentes da dispensação da igreja (tão literalmente como se estivéssemos sob a Lei)!... 

[1] Nota do Tradutor: Melquisedeque foi especialíssimo, nem mesmo nenhum outro sacerdote pode ser comparado a ele, e parece ter sido uma Cristofania, isto é, uma manifestação do Verbo antes de Sua encarnação. No Novo Testamento, todos os crentes são sacerdotes. 

[2] Nota do Tradutor: A questão não é esta. Se, no contexto tecnológico e econômico de hoje, fôssemos o mesmo povo [Israelitas] sob a mesma dispensação [da Lei] em que viveu Davi, então o mesmo princípio que vigorava quando quase todos viviam da agricultura, com renda anual, estender-se-ia a nós, quando quase todos têm renda em períodos menores que anuais e não oriundas do praticarem a agricultura ...

[3] Nota do Tradutor: Lembremos que:
(a) nós, os crentes desta dispensação, somos sacerdotes e reis;
(b) estes não podiam beber nada alcoólico;
(c) Deus (talvez por ironia, ou com desgosto, ou para nos testar) às vezes, por certo tempo, expressou  TOLERAR-nos certos erros (esta é Sua vontade PERMISSIVA), mas, depois, ORDENOU-nos Sua vontade PERFEITA. Compare com o divórcio, a poligamia, etc. !!! ...


[4] 
Nota do Tradutor: Arrisquemo-nos a ser repetitivos, para que ninguém perca algum aspecto da verdade -- O Velho Testamento fala de vários tipos dízimos:
- Todos os israelitas davam um dízimo de suas rendas anuais, aos levitas (Lev 27:30-33; Nu 18:21-24; 2Cr 31:4-12; Ne 10:37; 12:44; 13:5; Ml 3:8-12), para alimentação e sustento deles (não para o Templo!); davam a si mesmos outro dízimo das suas rendas anuais, deleitando-se ao comerem e descansarem e alegrarem-se, em gozoso "acampamento - férias - festa - adoração", que só podia ser em Jerusalém (Dt 12:6-7,11-21; 14:22-27); e, a cada 3 anos, davam aos pobres outro dízimo das suas rendas, para que se deleitassem ao comerem e descansarem e alegrarem-se aonde quer que morassem (Dt 14:28-29; 26:12).
- Os levitas davam aos sacerdotes (que eram levitas descendentes de Arão) o dízimo do dízimo que tinham recebido  (Nu 18:26-29; Ne 10:38-39; 12:44; 13:5,12; Ml 3:8-12).
- Ag 2:9-11 não tem nada a ver com nenhum destes tipos de dízimo e sim com ofertas para a reconstrução do Templo. Há analogia entre cada crente neotestamentário e o Templo, mas não há nenhuma analogia entre o Templo e os prédios de uma igreja local.


[5]
 Nota do Tradutor: Muito mais importante é que ninguém mais o saiba!

Para ajudar um 
pastor ou missionário ou irmão em necessidade: 
Pôr um envelope com dinheiro e anônimo por baixo da porta 
dele [0 pessoas lhe glorificarão] é melhor que 
Dar-lhe pessoalmente, pedindo-lhe segredo [1 pessoa glorificará a você] é melhor que
Pedir a um irmão (de outra igreja?) que leve sua oferta a ele, sem lhe revelar a fonte [1 pessoa glorificará a você] é melhor que
Pedir seu pastor ou 1 oficial que leve sua oferta a ele, sem lhe revelar a fonte [1 pessoa glorificará a você] é melhor que
Pedir a todo o corpo de oficiais que leve sua oferta a ele, sem lhe revelar a fonte [8 pessoas glorificarão a você] é melhor que
Dar-lhe ante toda a igreja, fazendo-o anunciar pelo microfone [1000 pessoas glorificarão a você]. [Que coisa horrível! Mesmo alguns descrentes dadivam anonimamente]

[6]
 Nota do Tradutor: Por causa da presente ênfase em "riquezas e todo tipo de prosperidade, já", dos pentecostais, é bom notarmos que o autor não necessariamente está enfatizando bênçãos materiais ...

terça-feira, 22 de março de 2016

O diadema perdido - F. B. Hole


Dizer que uma característica marcante do tempo presente é o espírito quase universal de inquietação é falar o óbvio. A coisa toda é tão patente ao ponto de ser evidente até para a mente mais frívola. Confronto de interesses, conflito, revolta e inquietação já não são novidades no mundo. Desde a entrada do pecado, quando foi que coisas assim não existiram? Todavia, ao admitirmos isso nos atrevemos a afirmar que a atual epidemia de agitação e revolta atingiu proporções tais que pode ser corretamente denominada como a principal característica desta era. E mais: tendo a Bíblia como nosso guia podemos antecipar que isso irá aumentar ainda mais.

A agitação que existe hoje traz em si duas características que são dignas de nota. A primeira é que ela é praticamente universal em sua extensão. Cada país de maior importância está sendo afligido por ela, e a maioria dos países menores também. Na antiguidade isso ficava mais manifesto nas terras bárbaras, porém agora é algo mais pronunciado nas nações mais ricas e civilizadas. Não importa se a civilização é oriental e antiga, como a China, ou ocidental e moderna, como os Estados Unidos e Grã-Bretanha. A mão de ferro do comunismo, massacrando milhões de seres humanos para atingir seus propósitos, podia parecer que tinha colocado um fim a essa agitação, mas sob a sua superfície ela continuou existindo. Além disso, nas terras com maior liberdade o vento da agitação e do levante sopra com força. Logo poderá se transformar num furacão.

A segunda característica é que a agitação nos dias de hoje atinge cada área do pensamento e atividade humana. Nunca antes foi assim. Impérios surgiram, floresceram e decaíram enquanto a calma reinava no mundo da filosofia e das ciências aplicadas. Hoje as mudanças violentas vêm de todas as direções. As mentes dos homens estão funcionando com uma energia quase sobre-humana na formulação de novas ideias e teorias nos campos social, político e teológico, e também na fabricação de equipamentos inacreditáveis.

O que tudo isso significa? Esta é a questão que certamente deve predominar na mente de todo observador sóbrio. Para o cristão, que se submete à Palavra de Deus e aceita a luz que ela derrama, não há dificuldade alguma para descobrir a resposta. As histórias humanas nos dão, no máximo, os melhores detalhes imperfeitos de alguns poucos acontecimentos de uma época, mas a somente Bíblia nos revela o fio dourado da meada do propósito divino, o qual corre ao longo de toda a história. Vamos tentar discernir isso pela orientação do Espírito Santo de Deus e, deste modo, encontrar a resposta divina a esta questão.

A maioria dos leitores está ciente de que não existia governo antes do Dilúvio. Aquela era culminou em tamanha violência e corrupção que o único remédio foi a destruição. Veja Gênesis 6:1-13. Por intermédio da pessoa de Noé, o governo foi instituído em uma terra limpa e lavada (Gênesis 9:1-6). Após a separação ocorrida em Babel, a autoridade parece ter se afastado da linha principal dos descendentes de Noé, e cada família separadamente começou a se colocar debaixo de sua própria cabeça tribal, surgindo a ideia da realeza. No que diz respeito ao governo da parte de Deus, não houve qualquer novo desenvolvimento até ele chamar o seu povo Israel para fora do Egito, a fim de que ele, o grande Jeová, pudesse exercer autoridade em seu meio.

O momento em que Deus decidiu fazer isso foi da maior importância. O Egito, talvez uma das nações mais antigas, havia atingido o ponto mais alto de sua glória, tendo expulsado a dinastia estrangeira dos “Reis Pastores”, e se unido sob o governo de Faraós nativos, poderosos e guerreiros, que levaram adiante suas conquistas até o Eufrates. Foi então que Deus reclamou seus direitos sobre o seu povo, e feriu o opressor com um duro golpe, o qual evidentemente marcou o início do declínio daquele império. Apesar das perversões de seu povo, Deus os conduziu até a terra da promessa. Jeová reclamou a terra como sendo sua, num sinal de que toda a terra pertence a ele. Duas vezes é dito do Senhor como“Senhor de toda a terra” em conexão com a travessia do Rio Jordão (veja Josué 3:11-13).

Tendo chegado à terra da promessa, aquele povo cansado de ser peculiar e de ter somente a Deus como seu Líder invisível, clamou por um rei humano. Isso lhes foi permitido, ainda que significasse um sério desvio deles para com seu Deus e, após a amarga experiência que tiveram com o homem segundo seus corações, Deus levantou a Davi, o homem segundo o coração de Deus, colocando-o como pastor sobre seu povo, estendendo o seu reino e coroando de sucesso os seus braços. O diadema, que na verdade não era apenas de Israel, mas de todo o mundo, foi colocado sobre sua cabeça e confirmado à sua descendência. Durante um curto período de tempo ele foi usado por Davi e por Salomão, seu sucessor.

Então veio a inevitável história do declínio. O reino foi dividido, ficando apenas a parte menor portando o diadema de Davi e, como consequência de seu abandono, o declínio de seu poder se tornou cada vez mais pronunciado, apesar de reavivamentos ocasionais operados por Deus.

Finalmente o fim chegou. Zedequias, o último a portar o diadema, embora o portasse apenas de nome, acrescentou aos seus muitos pecados a traição e desonrou o nome de seu Deus. Diante disso, como ficou registrado não menos que três vezes nas Escrituras, em 2 Reis 25, 2 Crônicas 36 e Jeremias 52, Jerusalém caiu diante dos babilônios, e o domínio passou para as mãos de Nabucodonosor. Assim começou “o tempo dos gentios”.

Foi nessa época que a pena do profeta Ezequiel assinalou palavras memoráveis. Tendo em mente que o diadema não era apenas de Israel, mas de toda a terra, ele caiu da cabeça do último príncipe apóstata da linhagem de Davi atingido pela mão de Deus como castigo, foi por isso que aquelas palavras foram redigidas. Elas são tão importantes que as reproduzimos na íntegra:

“E tu, ó profano e ímpio príncipe de Israel, cujo dia virá no tempo da extrema iniquidade, assim diz o Senhor DEUS: Tira o diadema, e remove a coroa; esta não será a mesma; exalta ao humilde, e humilha ao soberbo. Ao revés, ao revés, ao revés porei aquela coroa, e ela não mais será, até que venha aquele a quem pertence de direito; a ele a darei.” (Ez 21:25-27)

Quão maravilhosamente esclarecedor! Quão revelador é o facho de luz que aqui é lançado sobre as tenebrosas páginas da história humana desde aquele dia! O diadema certamente foi removido, e se alguém escrevesse uma história abrangente do mundo, ela provaria ser não mais que um registro das várias tentativas dos homens e nações de se exaltarem e tentarem tomar para si o diadema, e apesar da maneira determinada e hábil em que todas as vezes pareciam ter conseguido seu intento, Deus os destronou e humilhou.

A Daniel foi dada uma visão disso, que ele registrou em sua profecia no capítulo 7 de seu livro. Ela confirmou o sonho previamente dado a Nabucodonosor e registrado no capítulo 2 de Daniel. Por um breve momento pareceu que o diadema iria pertencer àquele grande rei. Mas ao se exaltar acima de medida, ele foi dolorosamente humilhado com loucura extrema, como é registrado em Daniel 4. Não muito tempo depois o seu grande império de Babilônia seria derrubado. Assim também aconteceu com os impérios que se sucederam — Persa, Grego e Romano. Cada um teve o seu momento, e cada um foi derrubado no final.

Desde a dissolução do Império Romano, Deus não permitiu que qualquer grande império, que abrangesse praticamente toda a terra civilizada sob seu domínio, viesse a se levantar. É verdade que há cerca de um século os homens começaram a falar de um Império Britânico, já que a Rainha Victoria havia sido proclamada Imperatriz da Índia. Todavia, tudo aquilo passou e sua dissolução, se é que tal império realmente existiu, continua de forma constante. Duas grandes guerras de dimensão mundial aconteceram, e hoje tanto a Ásia como a Europa mais parecem campos armados. O diadema da terra está perdido, já não tem o seu lugar. Nações poderosas que desejam reconquistá-lo, hesitam temendo que, ao destronarem outras, elas próprias acabem derrubadas.

O atual estado de equilíbrio extremamente instável não pode, todavia, seguir assim para sempre. Não são poucos os que estão cientes disso e falam vagamente de um ‘Armagedom’ que se aproxima, significando com isso que um grande conflito irá engolfar toda a terra civilizada. Parecem se esquecer de que quando esta palavra é usada em Apocalipse 16:13-16, o que ela prediz não é um terrível conflito de homens contra homens, mas o ousado e ímpio avanço das forças humanas unidas contra Deus. É mais que possível, todavia, que esses avisos dos males que virão sirvam para anunciar que o real Armagedom está às portas. As palavras deles, como aquelas de Caifás em João 11:49-52, podem significar mais do que eles próprios imaginam.

Novas forças de grande poder se levantaram nos últimos anos. Nas terras onde ainda perdura alguma forma de cristianismo, elas estão centralizadas na ideia de uma ‘irmandade de todos os homens’ baseada na ‘paternidade universal de Deus’. A nova teologia, progressiva e humanista, o Unitarismo, o Socialismo, são todos ramos de uma mesma ideia raiz. Mais imponente ainda é o comunismo ateu, que agora domina as mentes e ações de grandes nações, abrangendo cerca de um terço da raça humana. Tudo isso nas mãos de Satanás pode muito bem pavimentar o caminho para a última grande federação humana, a fim de prepará-la para o anticristo.

Alguns poderão observar que o Messias, a quem o diadema realmente pertence, já veio. Ele certamente veio, mas não para tomar posse desses direitos, mas para permitir que o homem tivesse a sua hora, e o poder das trevas se afirmasse a fim de que o Messias pudesse cumprir a redenção por sua morte. Satanás, que usurpou de maneira profana o diadema, chegou mesmo a oferecê-lo a ele durante a tentação no deserto. Ele o recusou, e não quis aquele atalho rápido e fácil para a glória, mas sim a senda de sofrimento que passava pela morte e ressurreição.“Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas e entrasse na sua glória?” (Lc 24:26)

Ele, no entanto, claramente previa a vinda de outro príncipe que aceitaria o diadema das mãos de Satanás, alegando ser aquele o verdadeiro diadema do mundo. “Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis.” (Jo 5:43)

Nos dias da vinda da grande trindade maligna — o dragão, a besta e o falso profeta, dos quais lemos em Apocalipse 13 — ela será vista como se a última profecia de Ezequiel tivesse sido invertida e nulificada. Os homens terão se reunido em confederação numa condição conhecida como ‘irmandade’, que precisará apenas ter a aparência de um ‘super-homem’ sem escrúpulos para poder tomar posse dos reinos de poder, e instituir uma tirania de uma monstruosidade tal como o mundo jamais testemunhou. Quando esse estado de coisas chegar, o que poderá salvar os homens da rede na qual eles enfiaram seus próprios pés? Mesmo assim, uma vasta maioria poderá até mesmo se gloriar na tirania que será estabelecida. As pessoas dirão “paz e segurança”, achando que finalmente o diadema foi recuperado de forma tão permanente que não terão de se preocupar com mais nenhuma ruína.

Mas, “quando disserem: ‘Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição’” (1 Ts 5:3). A última linha da profecia de Ezequiel terá um repentino cumprimento. A derradeira e grande queda acontecerá no verdadeiro Armagedom. Primeiro, tanto a besta quanto o falso profeta e seus exércitos serão destruídos pela súbita aparição daquele “a quem [o diadema] pertence de direito” (Ez 21:27). Logo depois, conforme nosso entendimento, os imponentes poderes do Norte, Gogue, o príncipe de Rós, Meseque, Tubal e seus muitos aliados, trarão enorme destruição conforme foi previsto em Ezequiel 38 e 39. Terá então ocorrido a última e decisiva destruição.

Naquele dia, o diadema há muito perdido, então com o fulgor não apenas das gemas da criação, mas também com as joias mais brilhantes da redenção, será visto sobre a cabeça daquele Homem de Nazaré, outrora rejeitado, nosso adorável Senhor Jesus. Dali nunca mais será removido, pois, no final dos mil anos de seu reinado de justiça, acontecerá a rebelião engendrada por Satanás libertado, como previsto em Apocalipse 20:7-10, rebelião essa que será instantaneamente esmagada para que nunca mais ocorra outra destruição. Sobre sua sagrada cabeça o diadema terá então encontrado seu lugar de descanso permanente e eterno.

Tendo estas coisas em vista, o que podemos dizer? Primeiro, não devemos nos perturbar em nossos pensamentos quando observarmos a inquietude e o espírito de revolta que hoje enche a terra. Ao contrário, devemos estar preocupados em manter alçada a bandeira do verdadeiro testemunho de Cristo e do Evangelho que é centrado nele. Deus não altera seu plano de ação à semelhança do modo como os homens invariavelmente precisam fazer. As instruções dadas por nosso Senhor em seus últimos momentos aqui continuam valendo — o Espírito Santo já veio e seguimos o exemplo dos primeiros discípulos do Senhor, aos quais ele disse: “Sereis minhas testemunhas” (At 1:8).

E tem mais: não saiamos de mãos dadas com o mundo e nem auxiliemos seus esquemas e movimentos, pois eles ignoram que estão pavimentando o caminho para o Anticristo. Fiquemos em comunhão com o Pai e com o Filho, quando então nossa atitude para com os homens do mundo será aquela que as Escrituras nos ensinam: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”, e ao invés de nos deixarmos dominar pelo mal, devemos vencer “o mal com o bem” (Rm 15:18-21).

Frank Binford Hole - 1874-1964

Olhe agora para o ceu - Mario Persona


Abraão, considerado um grande profeta, é um homem muito admirado no mundo todo por judeus, cristãos e muçulmanos. Os judeus inclusive o chamam de “nosso Pai Abraão” (Jo 8:53), o patriarca, de onde vieram Isaque, Jacó e todas as tribos de Israel. No Novo Testamento, inclusive nas cartas dos apóstolos, Abraão é mencionado várias vezes como um homem de fé. Mas o que tem esse homem de tão especial para ser assim tão conhecido e estimado por tantos?

Atualmente existem grandes homens que são admirados por sua riqueza, influência e poder. Homens que tem grande poder de decisão seja na política, nos negócios, no mundo religioso, onde agem com grande influência sobre as massas. Há também homens e mulheres com grande prestígio nas artes. É comum vermos, por exemplo, artistas de cinema ou TV tão influentes, que passam a ser grandes formadores de opinião. E existem também aqueles que têm poderes específicos. Uma vez vi numa reportagem da CNN uma jornalista dizendo que o líder da Coreia do Norte — um país minúsculo, mas que possui poderio atômico — havia conseguido deixar em alerta exércitos de grandes países só com palavras de ameaça. A jornalista falava que o líder coreano, apenas fazendo ameaças com seu poderio atômico, havia vencido, e que seu exemplo seria logo seguido por muitos tiranos em busca de poderio militar. Portanto, vemos que existem pessoas que tem poder, riqueza e influência. 

E Abraão, terá sido ele um homem rico? Sim, existe uma passagem na Bíblia, mais especificamente em Gênesis 13:2, que diz que era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro”. Era também um homem influente. Quando os fariseus aparecem nos Evangelhos rechaçando as afirmações do Senhor Jesus, eles perguntam a Jesus: “És tu maior do que o nosso pai Abraão?” (Jo 8:53). Para eles não havia ninguém maior que Abraão, nenhum homem era mais influente que o patriarca. Havia Moisés, obviamente, que havia lhes dado a Lei, mas Abraão era a base de tudo. Tanto que uma das histórias que o Senhor Jesus conta, e é uma história verídica e não uma parábola, porque Jesus cita nomes, é a história do rico e de Lázaro. E nessa passagem da de Lucas 16:19-31 Deus é apresentado como “Pai Abraão”, ali representando a figura de Deus, de tão influente que esse homem foi e continua sendo para os judeus e para esses grupos religiosos mencionados anteriormente. 

Abraão tinha também poderio militar. Vimos um homem com um exército pequeno, comparado às grandes potências, líder de um país igualmente minúsculo e pobre, que é a Coreia do Norte, conseguindo colocar em alerta nações poderosas. Abraão era também um homem pequeno em relação aos poderes da sua época. Mas quando Ló, o sobrinho de Abraão, foi sequestrado, Abraão juntou seus criados nascidos em sua casa, que eram trezentos e dezoito homens, e armou-os. O que é um exército de trezentos e dezoito empregados transformados em soldados? Nada! Mas foi com esse pequeno exército que ele combateu e venceu quatro reis! Então, de alguma forma, esse homem tinha também poder estratégico, pois sabemos que as guerras antigamente dependiam de grandes exércitos, diferente de hoje, quando já não se precisa ter uma grande tropa. Veja só o exemplo das onze pessoas que explodiram prédios nos Estados Unidos e criaram uma enorme crise mundial, jogando aviões que nem eram militares nem bombas, contra alvos onde estavam milhares de pessoas. Hoje o terrorismo é um poder tremendo. O próprio estado de Israel que existe atualmente é um estado fundado com base em terrorismo. Os líderes de Israel hoje foram terroristas no passado e conquistaram seu espaço dessa maneira.

Portanto Abraão tinha riquezas, influência e poder, mas é por isso que ele é admirado? É por isso que ele é um homem que aparece tantas vezes nas escrituras? Não. A marca que Abraão traz é que ele era um homem de fé. Isso o tornava peculiar. A sua história é muito bonita e pode ser lida a partir de Gênesis, capítulo 12, onde há várias passagens que contam episódios da vida de Abraão. Tudo começou quando ele ainda vivia numa cidade chamada Ur, no meio do povo caldeu. Ur era uma das cidades mais evoluídas da época, e os caldeus um dos povos mais desenvolvidos da antiguidade. Até hoje aquela civilização é estudada e admirada, e sempre são descobertas mais ruínas escondidas e muitos escritos em tabletes de argila. Certo dia, Deus chamou Abraão para fora de Ur e lhe disse: 

“Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12:1-3). 

Se eu dissesse a alguém que existem grandes oportunidades de negócios no Rio de Janeiro, e que essa pessoa deveria sair agora de sua cidade e mudar-se para o Rio, ela poderia se informar melhor sobre a minha sugestão e concluir que seria mesmo ser uma boa ideia. Ela pesquisaria e descobriria que algum evento de grande importância, como a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, iria acontecer ali atraindo grandes empresas e gerando muitas possibilidades de negócios naquela cidade. Isso ajudaria essa pessoa a tomar a decisão de ir. Ou eu poderia auxiliar uma outra pessoa a mudar para um determinado país, porque agora seria uma boa oportunidade de seus investimentos darem mais rendimentos ali.

Mas o que Deus efetivamente falou a Abraão foi: “Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”. Ou seja, Deus não deu um destino para Abraão. Isso seria algo como eu dizer a você:“Prepare-se, saia de sua cidade e vá, porque terá grandes negócios lá”. Aí você perguntaria: “Mas lá onde?!”, e eu responderia: “Lá. Vá, ponha a mudança no caminhão e saia, quando você estiver na estrada eu ligo para você para dizer o lugar”. Você não poderia agir de forma assim tão impulsiva, saindo com todas as suas coisas sem saber o destino. Mas foi o que Abraão fez, e por isso ele é considerado um homem de fé. A história de Abraão é contada no Antigo Testamento, mas na Carta aos Hebreus, quando são mencionados vários homens e mulheres de fé, Abraão é um deles.“Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia” (Hb 11:8).

Nos dias de hoje a palavra “fé” é muito usada, e muitos dizem: “Você precisa ter fé que vai dar certo, confie em si mesmo, siga seu coração, confie em si mesmo”. Ora, como vou confiar nessa ruína que sou? Não posso confiar em mim mesmo! Seguir meu coração? Nem pensar! Meu coração já traçou destinos que se eu tivesse seguido teria sido muito pior do que a situação na qual me encontrava antes de dar esse passo de “fé no coração”. Mas Abraão saiu com base em um comando dado por Deus. Para ir aonde, a qual endereço? Ele saiu sem saber para onde ia! Lemos em Hebreus 11:9 que“pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas”. Existe uma definição na Bíblia para a palavra fé, no versículo 1 do mesmo capítulo de Hebreus 11, e ali diz que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem. Fé é o firme alicerce das coisas que se esperam.

Normalmente em ciência, a prova vem pelo visível, pelo que é experimentado. A prova vem pela experiência e comprovação de uma teoria. Já o fundamento da fé, são coisas que se esperam. Você ainda não as tem, é a prova das coisas que você não vê. Por isso chama-se fé, e não vista, visão. A questão fundamental não é quanta fé eu tenho, se muita ou pouca, a questão é onde eu coloco a minha fé. Onde coloco essa esperança, essa confiança. Posso ter fé numa grande parede por exemplo, mas como fé numa parede, vai me ajudar? O que a parede pode fazer por mim? Talvez você me diga que possui uma imagem de “Santo Fulano” em sua casa e tem grande fé nela. Mas você precisa frequentemente tirar o pó que se forma sobre ela, certo? Se aquela imagem não consegue nem tirar o pó de si mesma, como poderia fazer algo por você? Outra pessoa poderia dizer: “Tenho fé no pé de coelho que carrego num chaveiro e me dá uma sorte tremenda”. É mesmo? Será que você não percebeu que o coelho tinha quatro pés de coelho e isso não lhe deu sorte nenhuma? Ele foi morto assim mesmo. Portanto, não é a fé que importa, mas onde eu a coloco.

Abraão creu. Deus o chamou e este, pela fé, crendo no invisível, crendo no que Deus disse, saiu da sua terra e foi pelo caminho esperando Deus indicar aonde iria levá-lo. “Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa”, diz o versículo 9 de Hebreus 11, e continua: “Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus” (Hb 11:10). Sua fé e esperança tinham como alvo a cidade que tem fundamentos, projetada e construída por Deus.

Portanto temos duas coisas muito importantes aqui. Primeiro, a fé é a prova das coisas que se não veem; lembre-se de que Abraão saiu sem enxergar. Mas a fé também é o firme fundamento das coisas que se esperam. Abraão tinha uma esperança que Deus deu a ele, a terra. Deus deu uma ordem, “Vá!”, e ele foi, esperando chegar nessa terra que Deus iria indicar. Nos versículo 11 e 12 lemos ainda que “pela fé também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber, e deu à luz já fora da idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido. Por isso também de um, e esse já amortecido, descenderam tantos, em multidão, como as estrelas do céu, e como a areia inumerável que está na praia do mar.”. 

Um já amortecido, o que está sendo dito aqui? Que Sara era uma idosa e Abraão um homem centenário. Os dois eram muito velhos quando tiveram um filho, Isaque. Eles não estavam, como se fala hoje, na “terceira idade”, como se costuma dizer. Estavam na quarta ou quinta idade. Nem na “melhor idade”, uma expressão muito utilizada hoje na tentativa de mascarar a velhice. Só se for “melhor idade” para médicos, hospitais e laboratórios farmacêuticos, que venderão mais consultas, cirurgias e medicamentos. Ou talvez seja mesmo a “melhor idade” porque irá terminar logo, com todas as suas fraquezas, dores e perda de memória. A Bíblia não chama a velhice de “melhor idade”, mas de “maus dias”. Ela diz: “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento” (Ec 12:1). Isso mesmo, é a “pior idade”, quando as coisas começam a falhar. A continuação da passagem descreve como os olhos, os ouvidos, os dentes, a saúde e tudo mais vai decaindo até o colapso final. 

Foi nesse estado de decadência, de amortecimento de que fala o texto, que aquele casal de idosos teve um filho, um milagre de Deus que havia sido prometido a eles. E Abraão creu naquela promessa. É certo que num determinado momento ele duvidou, e até Sara o influenciou para que tivesse um filho de sua serva, mas esse filho não era o cumprimento da promessa que Deus havia feito, dizendo que sua descendência seria como estrelas. 

Onde Abraão foi buscar forças ou segurança para crer em Deus tanto assim? Primeiro, ele creu na Palavra de Deus, naquilo que Deus falou. Se abrirmos a Bíblia em Gênesis, veremos que Deus já havia conversado com ele algumas vezes antes. O capítulo 15 de Gênesis começa dizendo: “Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão”. Aqui ele ainda se chamava Abrão, mas seu nome seria mudado mais tarde para Abraão. O dicionário diz que “Abrão”, em hebraico, significa “pai elevado”, “pai ilustre” ou “pai excelso”. O significado de Abraão seria “pai de uma multidão” ou “pai de muitos”

"Depois destas coisas veio a palavra do Senhor a Abrão em visão, dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão. Então disse Abrão: Senhor Deus, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer?” (Gn 15:2). Ele teria que deixar toda sua riqueza como herança para o mordomo de sua casa, pois não tinha descendência. Para alguém vivendo no tempo dos patriarcas a descendência era uma coisa importantíssima, pois era a certeza de transmitir sua herança ao longo da sua genealogia. O diálogo entre Abrão e Deus continua: “Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro. E eis que veio a palavra do Senhor a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro.” (Gn 15:3-4). Em seguida temos uma passagem maravilhosa: “Então o levou fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência. E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça. Disse-lhe mais: Eu sou o Senhor, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la” (Gn 15:5-7). Repare que Deus leva Abrão para fora da tenda, e lhe diz: “Olha agora para os céus”.

Uma das grandes diferenças entre o ser humano e um animal, é que o animal não olha para o céu. Talvez um macaco, na árvore, levante sua cabeça ao ouvir o grasnar de uma águia, mas os animais geralmente são encurvados. Mesmo a girafa, que é um animal tão alto, está sempre procurando comer as coisas que estão na árvore à sua frente, ou se encurvam para beber água que está abaixo de si, mas não é natural olharem. Os quadrúpedes, como a vaca ou o porco estão sempre pastando ou chafurdando a lama, olhando para o chão. Animais de rapina olham adiante de si, no máximo para as árvores em busca de uma presa. O que importa para eles é o aqui e o agora, são as coisas que acontecem na terra, não nos céus.

“Olha agora para os céus!”, diz Deus a Abraão, e eu pergunto a você: Para onde você está olhando agora? Onde busca a resposta para o seu destino? Onde quer ir morar? Pergunto porque, como já disse, nosso corpo está se deteriorando e a morte é apenas uma questão de tempo. Nenhum de nós fica aqui para semente; nenhum de nós encontrou a fonte da juventude para viver perpetuamente neste mundo. Todos nós saímos da fábrica com prazo de validade. Quando compramos um medicamento, olhamos a data e temos um prazo de validade para tomá-lo. Alguns têm um prazo mais longo ou mais curto. Assim acontece também com os alimentos. O leite, por exemplo, deve ser logo utilizado depois de aberta a embalagem, que é chamada de “Longa Vida”, mas também tem uma data limite para consumo. Se você não usar logo o leite vai talhar, vai azedar. Nós também azedamos! Temos prazo de validade, e qual é a sua data de vencimento? Quanto do seu prazo de validade você já consumiu? Nenhum de nós pode dizer. “Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor” (1 Pe 1:24). 

Lembro-me de uma história que meu pai costumava contar. Ele falava de um amigo seu, homem saudável, muito forte e rico, cuja mulher vivia doente e passava muitos de seus dias enferma na cama. Seu marido costumava dizer a ela que, quando ela morresse, ele iria fazer isso e aquilo, que iria preparar dessa ou daquela maneira o seu funeral e coisas do tipo. Afinal, ela vivia pendurada por um fio entre a vida e a morte. Nem preciso falar o que aconteceu, certo? O marido se foi e a esposa ficou ainda muitos anos vivendo num leito de enfermidade, vindo a falecer bem depois dele.

E você, qual é a sua data de validade? O que acontece depois que essa data vence? Um medicamento ou um alimento, vencida a data de validade, é descartado, tal qual nosso corpo, que é descartado na sepultura. Mas não somos apenas corpo. Somos espírito alma e corpo. Somos um ser tripartido. O nosso corpo é essa parte visível, e na nossa alma é onde habitam os nossos sentimentos. Um cachorro também tem alma, porque ele tem sentimentos, fica triste ou contente, mas há algo que nos distingue de todos os seres vivos: temos um espírito. Esse espírito que Deus nos deu desde a criação do primeiro ser humano serve principalmente para termos comunhão com ele; é a nossa ligação com nosso Criador. Portanto, somos seres tripartidos. 

Observe a música, que nos afeta de três maneiras diferentes. Quando ouvimos uma música muito ritmada ela afeta nosso corpo. A parte mais baixa da música, se é que podemos falar assim, a parte menos nobre, é o ritmo, a cadência. Quando você entra num ambiente em que está tocando um batuque, logo você está balançando seu corpo, batendo o pé no chão ou os dedos numa mesa sem perceber. Você entra no ritmo porque seu corpo tem essa capacidade. Mas então, vem a melodia. Um violino, uma guitarra, um piano, um som bonito, harmonioso. Aí você é tocado nas suas emoções, o que significa que sua alma está sendo tocada. Quando você escuta as palavras, a letra da canção, você é tocado naquela parte mais elevada do seu ser, o seu espírito. Animais podem até ser influenciados pelo ritmo e pela melodia, mas não são tocados pelas palavras de uma canção. Nunca vi um cão emocionado com a letra de uma canção, mas o ser humano sim. O ser humano ouve a música na sua plenitude; ele balança o corpo com o ritmo, se emociona com a melodia, mas é a parte inteligente dele, a parte que realmente Deus colocou no homem, que faz toda a diferença: seu espírito, é tocado pelas palavras. 

Portanto somos esse ser tão complexo que, mesmo assim, um dia morrerá. Nosso corpo vai para a sepultura e nossos sentimentos permanecerão com nosso espírito, que volta para Deus. Talvez você diga: “Ah, então está bom assim, eu vou para Deus”. Bem, não é assim tão simples. Por causa do pecado que entrou na humanidade, todos nós nascemos réus. Por sermos pecadores não podemos ter comunhão com Deus. Deus, que é um justo juiz, precisa julgar o pecado. 

Se na sociedade em que vivemos esperamos que um bom juiz julgue os crimes, os erros e ilegalidades que os homens praticam, então queremos também que Deus seja justo. E ele é! Todavia a justiça exigida por Deus é inalcançável, inatingível para qualquer homem em sua condição de pecador. Nenhuma pessoa é capaz de viver cem por cento uma vida agradável a Deus; só um homem foi capaz de fazer isso, por ele ser Deus e homem. Falo de Jesus, Filho de Deus, quando se fez carne e veio ao mundo para viver aqui. Ele se fez carne porque já existia antes, pois ele é o Filho eterno de Deus que se tornou homem. E foi como um homem perfeito que ele caminhou aqui até o fim de sua vida. Até o sucesso da sua caminhada? Não. Até ser pregado numa cruz por nós, suas próprias criaturas. Isso foi o que o ser humano fez com o Filho de Deus. 

Lemos os jornais e nos espantamos com tanta crueldade, tantos crimes, tanta corrupção e coisas medonhas, mas, que crime medonho todos nós cometemos? Pegamos o Filho de Deus e o pregamos numa cruz. Esse foi o pior crime que o ser humano poderia cometer. “Mas eu não estava lá”, você poderia argumentar. Não estava por força das circunstâncias, mas se estivesse, estaria também bradando: “Crucifica-o! Crucifica-o! Soltem Barrabás”. Assim somos nós, todos nós. Muitas daquelas pessoas que vemos nas páginas dos jornais, que cometeram atrocidades, são bandidos profissionais, mas não foram sempre assim. Um dia foram crianças adoráveis, brincando, jogando bola, correndo, e só mais tarde se transformaram em bandidos. As pessoas costumam dizer que a culpa é do meio social em que viviam, das influências externas, das más companhias. O meio social? Influências externas? Más companhias? Quantos crimes você já viu acontecerem nas classes mais altas sociedade? Quantos crimes você já viu cometidos por pessoas com curso superior? Quantas pessoas saídas de famílias normais e respeitadas se transformaram em corruptos e criminosos? 

Qualquer um de nós é capaz de cometer um ou mais crimes, porque temos o pecado dentro de nós. Se algum dia você já pensou em praticar algum crime, em cometer algum pecado, isso significa que você também tem a capacidade de executar seu intento. Ou talvez influenciar ou até contratar alguém para fazê-lo. Considerando que o próprio pensamento já é pecado para Deus, pois ele também lê nossos pensamentos, então somos por natureza pecadores perdidos e condenados a perdição. Não há um que possa sair desta terra e entrar na presença de Deus alegando que andou aqui em perfeita justiça e obediência a Deus, que nunca praticou um mal, que nunca teve um pensamento ruim. Será que você nunca maquinou o mal em sua mente? Nunca mentiu? Nunca praticou algo que precisou se retratar ou de que se arrependeu mais tarde? Todos são assim, e eu e você também.

Cada coisa que praticamos Deus tem registrada. Nós também gostamos de registrar a nossa contabilidade, fazemos diários, registramos o nosso dia a dia nas redes sociais, inclusive com fotos dos lugares que visitamos, das pessoas com quem estivemos ou dos esportes que praticamos. É claro que ali você não publica coisas que poderiam comprometer ou denegrir sua imagem, mas só as coisas boas e bonitas. Você publica a foto que tirou em sua viagem na Europa, aparece num ‘selfie’ ao lado de alguma personalidade ou talvez entregando um ramalhete de flores para sua amada. Mas e as coisas podres de seu dia-a-dia, as coisas sórdidas que só você sabe que pensou ou praticou, os subornos que deu ou recebeu? Você não publica, mas pode ter certeza de que elas estão registradas na ‘rede social’ de Deus! Ele grava todas as coisas em seus livros, Deus tem tudo anotado. Nada escapa aos seus olhos e ouvidos, portanto se tivermos de nos encontrar com Deus como nosso Juiz estaremos perdidos. O que fazer então? “Conheça-te a ti mesmo”, dirá uma das máximas da sabedoria humana. Eu conheço a mim mesmo e eu sou uma droga. No meu interior sou péssimo, sou horrível! “Evite ter pensamentos negativos!” É mesmo? Você consegue? Então me diga um pensamento negativo que não devo ter. Pronto, você acaba de pensar negativamente. 

Quando Deus escolheu Moisés para ir até Faraó, como um enviado para libertar o povo hebreu que estava escravizado no Egito, Deus deu a ele inicialmente dois sinais para Moisés excutar na presença de faraó. Mais tarde, Deus lhe daria outros que seriam as pragas que cairiam sobre o Egito, caso faraó não se arrependesse e se recusasse a deixar o povo sair do Egito. Primeiro, Moisés lançaria sua vara ao chão e ela se transformaria numa serpente, o que supostamente faria com que faraó ficasse impressionado e deixasse o povo ir embora. Havia, porém, um outro sinal. Deus disse a Moisés para enfiar sua mão no peito por dentro de suas vestes. Quando ele fez isso, a sua mão saiu leprosa. Então Deus pediu que ele enfiasse novamente a mão no peito, e quando a tirou, estava de novo limpa. Deus disse a Moisés para fazer essas duas coisas, mas ele, quando estava diante de Faraó, fez somente um sinal: Jogou sua vara no chão e esta se transformou em uma cobra, como Deus havia dito. Mas os magos de faraó, usando de poder satânico, também o imitaram. Moisés não mostrou o outro sinal. Claro, nós não gostamos de mostrar o que há em nós, pois na Bíblia a lepra é uma figura do pecado, e o que Deus estava mostrando a Moisés era que ele era um pecador; que ele estava podre por dentro, estava leproso. Obviamente Moisés não queria mostrar isso para ninguém. Nós mantemos as aparências, mas por dentro, somos condenáveis. 

Então, onde buscar o recurso? Dentro de nós? Não, esqueça! Fora de nós? Se um pastor ali na esquina faz milagres e coisas incríveis, ele vai me ajudar a ser salvo? Não, ele é igual a você. Não há um que não peque! A Bíblia diz que não há um homem que não seja pecador, então não há recurso nem dentro e nem fora de você. Se olhar para o chão, como um animal, para esta terra em volta de você, não irá encontrar socorro. Para onde olhar então? “Olha agora para os céus”, disse Deus a Abraão, conta as estrelas, se as podes contar” (Gn 15:5). É para lá que devo olhar, buscar nos céus, na habitação de Deus, o meu recurso, a minha salvação. E Abraão levantou os olhos para os céus, creu em Deus e isso lhe foi depositado em conta, como justiça. 

O problema é que, se levantarmos os olhos, o que pode vir sobre nós da parte de Deus? Acabei de dizer que somos pecadores, portanto o que podemos esperar de Deus sendo pecadores? Juízo, claro! Deus condena o pecado e precisa condenar o pecador. Se você tivesse de se encontrar com Deus agora mesmo na condição de réu culpado, o que poderia esperar dele além de justiça? Ora, diga a um réu, diga a um facínora qualquer, que você vai levá-lo até o juiz. O que você acha que uma pessoa assim irá esperar do juiz? Só a condenação. O réu sabe que não sairá da cadeia, e nos países onde existe a pena de morte ele sabe que esse encontro pode significar o seu fim. Então você levanta seus olhos para os céus. O que poderia lhe ajudar vindo dos céus? 

Há uma outra passagem na Bíblia onde Abraão também precisa levantar os olhos para enxergar. No capítulo 22 de Gênesis encontramos Abraão agora já com seu filho Isaque crescido. Deus cumpriu sua promessa de lhe dar um filho, porém está prestes para colocar Abraão à prova para testar sua fé. Deus lhe diz: “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi” (Gn 22:2). O que é um holocausto? É amarrar um animal num altar em cima de uma pilha de lenha e pôr fogo. Abraão não hesita em cumprir uma ordem que para qualquer um pareceria loucura. Por que? No Novo Testamento descobrimos a razão. Existe uma passagem que diz que Abraão cria tanto em Deus, ao ponto de ter certeza de que Deus era capaz de trazer seu filho de volta dos mortos. “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; e daí também em figura ele o recobrou.” (Hb 11:17-19). 

Isso é fé! O mesmo Deus que lhe havia dito para levantar os olhos para os céus, que lhe daria um filho, e a sua descendência seria como as estrelas do céus; o mesmo que prometeu a ele um filho quando ele e sua esposa já eram idosos, era o mesmo que agora pedia a Abraão para levantar os olhos para enxergar o local onde seu filho deveria ser sacrificado em holocausto. Esse mesmo Deus, que fez um milagre quando Abraão levantou os olhos da primeira vez, poderia desta vez também fazer um milagre e trazer seu filho de volta da morte. Assim Abraão obedeceu.

Esse holocausto, porém, tinha que ser sobre uma das montanhas que Deus iria lhe mostrar, portanto uma vez Abraão sai por fé, mesmo não sabendo para qual montanha se dirigia. Ele vai caminhando, levando, além do seu filho, dois empregados, a lenha para o holocausto, uma faca para matar a vítima e fogo para o holocausto. No versículo 4 de Gênesis 22 lemos: “Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe.”. Mais uma vez ele precisou levantar os olhos para ver o lugar de Deus; para ver a montanha que Deus havia escolhido para o sacrifício ser oferecido. Ali Abraão amarra seu filho sobre uma pilha de lenha e está a ponto de matá-lo, quando um anjo do Senhor lhe brada, desde os céus, no versículo 11, “Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho. Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho.” (Gn 22:11-13). Mais uma vez Abraão precisou levantar os olhos para enxergar, porém desta vez o carneiro preso pelos chifres num arbusto. O sacrifício que Deus exigia era Isaque, mas ele proveu um substituto para o menino, o carneiro. Mas para isso Abraão precisou escutar a voz de Deus e levantar os olhos para enxergar.

E qual carneiro poderia ser o meu e seu substituto? Qual cordeiro é chamado na Bíblia de “O Cordeiro de Deus”? Quando o Senhor Jesus começa seu ministério, por volta dos 30 anos de idade, João Batista o vê, aponta para ele e diz às pessoas que estão em volta: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Ali estava o verdadeiro Cordeiro que seria sacrificado de uma vez para sempre no lugar do ser humano pecador. Isso aconteceu também em um monte, o monte calvário ou “Caveira”, que era o lugar onde os criminosos eram executados fora de Jerusalém. Ali encontramos o relato de três cruzes. Numa delas está Jesus, o Salvador, morrendo na cruz, julgado pelos homens, condenado à morte. Num determinado momento daquela cena terrível de muita dor e muito sofrimento, vemos nos evangelhos que houve trevas sobre toda a terra. Naquele momento, dos mesmos céus para onde Deus mandou Abraão olhar vinha, não uma benção, não uma libertação, não uma salvação para Jesus, mas sim, o fogo do terrível juízo de Deus, que caiu sobre o Filho de Deus feito pecado ali por nós. Naquelas três horas de trevas ele recebeu sobre si o juízo pelos pecados de todos os que nele creem. Ali estava o Cordeiro preso, não nos arbustos, mas num madeiro substituindo o homem pecador, para que todo aquele que viesse a crer nele, fosse salvo.

Deus efetuou essa obra porque viu que não havia salvação para nós. Não havia uma maneira de nos salvar, a não ser entregando o seu próprio Filho como sacrifício, do qual Isaque é um tipo. Mas naquela cena do Antigo Testamento ele acaba salvando Isaque da morte ao substituí-lo por um carneiro preso pelos chifres em um arbusto. Na realidade para a qual aquele tipo apontava não houve ninguém para substituir o Filho de Deus. Ele precisou morrer para ser o substituto do pecador. 

Você talvez pergunte se antes de Cristo não havia um cordeiro, não havia um Salvador. Sim, havia e era o mesmo Jesus, o Cordeiro, “conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós” (1 Pe 1:20). Os que viveram antes de Cristo e se reconheceram pecadores incapazes de se salvarem a si mesmos, depositando na misericórdia e graça de Deus sua esperança, ou seja, “olhando para os céus”, foram salvos pelo sacrifício que Deus faria no seu devido tempo. Os que hoje são salvos igualmente pela fé, buscando em Deus nos céus a fonte de sua salvação, são salvos por uma obra já consumada. A cruz é um marco da história da humanidade. Antes de Cristo, todas as pessoas que morreram crendo que Deus iria prover uma solução para o pecado, e de uma certa forma, crendo então nesse cordeiro sacrificado, foram salvas. Depois de Cristo, todas as pessoas hoje que creem em Jesus como seu Salvador, que aceitam pela fé o destino que Deus dá a elas, são salvas pela cruz.

É como se Deus dissesse, tanto antes como depois do Calvário, para todo aquele que busca por um recurso nos céus:“Creia no meu sacrifício, no meu Filho, e levarei você para o céu”. Alguém poderia argumentar que aqueles que vieram ante de Cristo não faziam ideia de como seria esse sacrifício, mas do mesmo modo os que vieram depois também só têm a Palavra de Deus onde se firmarem. Acaso você estava lá? Você viu a cruz e Jesus pregado nela? Testemunhou as horas de trevas? Não, você só sabe de tudo isso porque a Palavra de Deus preservou isso até os nossos dias. Você deve crer nessa Palavra como Abraão creu nela em seus dias, e é por isso que se chama fé! Não se chama vista. Todo aquele que hoje crê em Jesus como Salvador, como o Substituto que morreu no lugar do pecador para que não passássemos pelo juízo fina, tem assegurada por Deus a sua salvação. E esse seguro onde está? No mesmo lugar onde todos esses fatos são relatados, este livro que chamamos de Bíblia e é na verdade a Palavra de Deus. Deus falou para Abraão que ele teria um filho, e Abraão creu em Deus. Deus mandou Abraão sacrificar esse mesmo filho, e Abraão creu de novo. Abraão cria em algo que não via, que não poderia experimentar de antemão, que eram absurdas para a inteligência humana. 

Convido você agora a também crer. Não olhe para si mesmo, porque em si só verá pecado, fraqueza e morte. Olhar para si e para seu coração é assistir ao pior espetáculo de ruína e corrupção. A minha história e a sua história é só de fracassos. Não olhe para si mesmo, não olhe para o chão, para o seu redor, para as pessoas, para a religião, para imagens de santos, para pastores, padres, gurus, seja lá o que for. “Olhe agora para os céus”. No Salmo 121, lemos:Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.”. 

Onde você tem colocado a sua confiança? “O Senhor é quem te guarda”. O Senhor! Não existe outro. Não é religião, sacramento ou clérigo. O Senhor é o seu recurso, e você pode agora mesmo levantar os olhos para os céus, sem medo de receber o juízo porque esta é a dispensação da graça de Deus, na qual ele ainda está agindo em misericórdia dando a você o que não merece — a salvação eterna — para não dar a você o que merece — o juízo eterno. Para isso creia naquele que morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia, pois só assim o Senhor irá guardar você de todo mal, “desde agora e para sempre”.

Lembre-se da família de Noé. No Antigo Testamento, quando a terra estava totalmente corrompida pelo pecado e não havia nada que se aproveitasse na terra, Deus escolheu a família de Noé e quis salvá-la. Deus manteve essa família impermeável ao pecado, aos erros, e a todas as coisas terríveis que os homens estavam praticando, até que Noé terminasse de construir uma arca, que era o meio de salvação. Deus colocou essa família na arca e fechou a única porta por fora. Deus literalmente impermeabilizou aquela família contra as águas e o juízo que cairia sobre todo o mundo e todos os seus habitantes. Todos morreram naquele dilúvio, que era um juízo e prefigurava o juízo final ainda por vir. Hoje Deus quer impermeabilizar você contra o pecado, quer impermeabilizar você contra o juízo que virá! Como já disse, todos nós temos uma data de validade, todos iremos nos encontrar com Deus, e então virá o dia do juízo, porém apenas para os que não foram, por assim dizer, impermeabilizados pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Abraão creu em Deus e foi-lhe foi imputado; foi colocado em sua conta como justiça. Creia você também.

Disse Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24).