quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Rei eterno, imortal, invisível. – Jonathan Edwards (1703-1758)


Quando estamos ausentes de nossos queridos amigos, eles nos estão fora de vista, mas quando estamos com eles, temos a oportunidade e satisfação de vê-los. Enquanto os santos estão no corpo e ausentes do Senhor, sob vários aspectos Ele está fora de nossa vista. "o qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (1 Pe 1.8). Eles têm neste mundo uma visão espiritual de Cristo, mas vêem "por espelho em enigma' e com grandes interrupções; mas no céu eles o vêem "face a face". São bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.


A visão beatífica que eles têm de Deus está em Cristo, que é o brilho ou fulgência da glória de Deus, pela qual sua glória brilha no céu, à vista dos santos e anjos lá como também aqui na terra. Este é o Sol da Justiça, que não só é a luz deste mundo, mas também o sol que ilumina a Jerusalém celestial, por cujos raios luminosos a glória de Deus brilha, para a iluminação e felicidade de todos os habitantes gloriosos. "A glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada" (Ap 21.23)- Ninguém vê Deus Pai imediatamente. Ele é o Rei eterno, imortal, invisível. Cristo é a imagem desse Deus invisível pela qual Ele é visto por todas as criaturas eleitas. O Filho unigênito que está no seio do Pai, Ele o declarou e o manifestou.



Ninguém jamais viu o Pai, somente o Filho; e ninguém mais vê o Pai de outro modo senão pela revelação que o Filho faz dEle. No céu, os espíritos dos justos tornados perfeitos o vêem como Ele é. Eles vêem a sua glória. Eles vêem a glória de sua natureza divina, que consiste em toda a glória da deidade, a beleza de todas as suas perfeições; sua grande majestade e poder Todo-poderoso; sua sabedoria, santidade e graça infinitas. Eles vêem a beleza de sua natureza humana glorificada e a glória que o Pai lhe deu, como Deus-Homem e Mediador.


Para este fim, Jesus desejou que os santos estivessem com Ele, para que vissem sua glória. Quando a alma do santo deixa o corpo para ir estar com Cristo, ela vê a glória da obra de Redenção que "os anjos desejam bem atentar". Os santos no céu têm a visão mais clara da profundidade insondável da sabedoria e conhecimento de Deus e das demonstrações mais brilhantes da pureza e santidade de Deus que aparecem nessa obra. Eles vêem de uma maneira muito mais clara que os santos aqui "qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento" (Ef 3-18,19). Assim como eles vêem as riquezas e glória indizíveis da graça de Deus, eles entendem claramente o amor eterno e imensurável de Cristo por eles em particular.


Em resumo, eles vêem tudo em Cristo, o que tende a acender e satisfazer o amor da maneira mais clara e gloriosa, sem escuridão ou ilusão, sem impedimento ou interrupção. Agora os santos, enquanto no corpo, vêem um pouco da glória e amor de Cristo; como nós, no alvorecer da manhã, vemos um pouco da luz refletida do sol misturada com a escuridão. Mas quando separados do corpo, eles vêem o Redentor glorioso e amoroso, assim como vemos o sol quando está acima do horizonte, pelos seus raios diretos num hemisfério claro e com dia perfeito.

Como ver a Perfeição de Deus! | Jonathan Edwards (1703-1758)



“Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”.

- Salmos 46:10 -


Deus é um ser absoluta e infinitamente perfeito, e é impossível que Ele venha a fazer o mal. Como Ele é eterno e não recebe a sua existência a partir de qualquer outro, ele não pode ser limitado em seu ser, ou qualquer atributo, a qualquer certa quantidade determinada.


Se alguma coisa tem limites fixados para ele, deve haver algum motivo ou razão por que esses limites são fixos exatamente onde eles estão. Seguirá que cada coisa limitado deve ter alguma causa e, portanto, o ser que não tem causa deve ser ilimitado. É completamente evidente nas obras de Deus que o seu entendimento e poder são infinitos.


Porque o que tem feito todas as coisas a partir do nada e sustenta e governa e administra todas as coisas a cada momento, em todas as eras, sem jamais ficar cansado, deve ter necessariamente um poder infinito. Ele também deve ser de um conhecimento infinito, pois se Ele fez todas as coisas e sustenta e governa todas as coisas continuamente, seguirá que Ele conhece e perfeitamente vê todas as coisas, grandes e pequenas, no céu e na terra, continuamente em um único ponto de vista, o que não pode ser sem uma compreensão infinita. Sendo assim, infinito em conhecimento e poder, Ele também deve ser perfeitamente santo, pois impiedade argumenta sempre para algum defeito, alguma cegueira, alguma incapacidade. É impossível que a maldade possa ser composta com a luz infinita. Deus é infinito em poder e conhecimento, ele deve ser então  auto-suficiente e totalmente suficiente.


Portanto, é impossível que Ele deve estar sob qualquer tentação de fazer algo errado, pois Ele não pode ter um fim em fazê-lo. Porque todos os que são tentados a fazer algo errado,  sempre são motivados para fins egoístas. Mas como pode ​​um Ser auto-suficiente, que não necessita de nada, ser tentado a fazer o mal para fins egoístas? Então, Deus é essencialmente santo, e nada é mais impossível do que Deus fazer o mal. Na graça que resgata e não mão justa que pune eternamente, Ele é o eterno, justo, bom e santo Deus.


• Jonathan Edwards (1703-1758) - “The Sole Consideration, That God Is God, Sufficient to Still All Objections to His Sovereignty”


Graça comum não transforma o homem – Jonathan Edwards



Portanto assim diz o Senhor DEUS: Eis que a minha ira e o meu furor se derramarão sobre este lugar, sobre os homens e sobre os animais, e sobre as árvores do campo, e sobre os frutos da terra; e acender-se-á, e não se apagará.


Jeremias 7:20


Homens em uma condição natural podem ter percepções da culpa que recai sobre eles, da ira de Deus e seu perigo da vingança divina. Tais percepções são raios de luz da verdade. Podemos ver que alguns pecadores têm uma maior percepção de sua culpa e miséria que outros, e isto é porque alguns têm mais luz, ou mais apreensão da verdade do que outros. E essa luz e percepção podem fluir do Espírito de Deus.


O Espírito dá alguma percepção aos homens do pecado, mas ainda assim a natureza é muito mais predominante nele do que a comunicação da a luz espiritual e divina. Trata-se da obra  do Espírito de Deus apenas como auxiliar nos princípios naturais, e não infundindo novos princípios.


A graça comum difere da especial na medida em que influencia apenas ajudando a natureza e não por transmitir graça ou concedendo qualquer coisa acima e além da natureza. A luz que é obtida é totalmente natural, ou de nenhum tipo superior ao que a mera natureza alcança, embora mais desse tipo é obtida do que seria obtido se os homens ficaram entregues a  si mesmos. Ou, em outras palavras, a graça comum só ajuda as faculdades da alma para fazer mais plenamente o que eles fazem por natureza, como a consciência natural ou razão -  será por mera natureza comum fazendo um homem sensato da culpa e vai acusar e condenar quando ele fizer algo errado.


A consciência é um princípio natural para os homens, e o trabalho que ela faz, naturalmente, ou de si mesmo, é dar uma apreensão de certo e errado e sugerir à mente a relação que existe entre o certo e o errado e uma retribuição que virá. O Espírito de Deus, naquelas percepções que os homens não regenerados às vezes têm, auxilia a consciência para fazer este trabalho em um grau muito maior do que faria se eles fossem deixados entregues a si mesmos.


Trata-se assim, da obra  do Espírito de Deus apenas como auxiliar nos princípios naturais, e não infundindo novos princípios. O homem continua no mesmo estado de depravação e escuridão espiritual.


Jonathan Edwards (1703-1758)  - “A Divine and Supernatural Light”

Uma luz no crepúsculo – Martyn Lloyd-Jones (1899-1981)


Nada há tão desesperador no mundo como a bancarrota da perspectiva não-cristã da vida. Charles Darwin no fim da vida confessou que o resultado de haver concentrado sua atenção em um único aspecto da vida foi que perdeu a capacidade de apreciar a poesia e a música, e, em grande medida, perdeu até a capacidade de apreciar a natureza. Pobre Darwin. . . O fim de H. G. Wells foi bem parecido. Ele, que havia dado tanto valor à mente e ao entendimento humano, e que havia ridicularizado o cristianismo com suas doutrinas do pecado e da salvação, no final da vida confessou-se frustrado e confuso.



O próprio título de seu último livro — Mind at the End of iís Tether (Mente Sem Mais Recursos) — dá eloqüente testemunho em prol do ensino bíblico sobre a tragédia que caracteriza o fim dos ímpios. Ou considere a frase da autobiografia de um racionalista como o dr. Marret, que foi diretor de uma faculdade, em Oxford... «Para mim, porém, a guerra pôs repentino fim ao longo verão de minha vida. Daí em diante, não tenho mais nada para ver pela frente senão o frio outono e o inverno mais frio ainda, e, contudo, devo esforçar-me de algum modo para não perder o ânimo».



A morte dos ímpios é coisa terrível. Leia as biografias deles. Passam os seus dias de esplendor. Não têm diante de si nenhuma expectativa bem-aventurada, e, à semelhança do que ocorreu ao falecido Lord Simon, procuram alento revivendo seus idos sucessos e triunfos.



No Livro de Provérbios lemos que «o caminho dos perversos é como a escuridão». «Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito» (Provérbios 4.19,18). Que glória! . . .ouça então ao apóstolo "Paulo (2 Timóteo 4.6-8).



Uma das mais soberbas apologias feitas por João Wesley, dos seus primeiros metodistas, era esta: «Nossa gente morre bem» ... A Bíblia, em toda parte, nos exorta a que ponderemos sobre o nosso «derradeiro fim» . . . Renda-se a Cristo e confie nEle e no Seu poder. . . E o fim será glorioso.



Faith on Trial, p. 51-3

A Cruz e o Ego - Arthur W. Pink

“Então, disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz, e siga-me” — (Mateus 16:24).
Antes de desenvolver o tema deste verso, comentemos os seus termos. “Se alguém”: o dever imposto é para todos os que desejam se unir aos seguidores de Cristo e alistar sob a Sua bandeira. “Se alguém quer”: o grego é muito enfático, significando não somente o consentimento da vontade, mas o pleno propósito de coração, uma resolução determinada. “Vir após mim”: como um servo sujeito ao seu Mestre, um estudante ao seu Professor, um soldado ao seu Capitão. “Negue”: o grego significa “negar totalmente”. Negar a si mesmo: sua natureza pecaminosa e corrompida. “E tome”: não passivamente sofra ou suporte, mas assuma voluntariamente, adote ativamente. “Sua cruz”: que é desprezada pelo mundo, odiada pela carne, mas que é a marca distintiva de um cristão verdadeiro. “E siga-me”: viva como Cristo viveu — para a glória de Deus.

O contexto imediato é mais solene e impressionante. O Senhor Jesus tinha acabado de anunciar aos Seus apóstolos, pela primeira vez, a aproximação de Sua morte de humilhação (v. 21). Pedro se assustou, e disse, “Tem compaixão de Ti, Senhor” (v. 22). Isto expressou a política da mente carnal. O caminho do mundo é a procura para si mesmo e a defesa de si mesmo. “Tenha compaixão de ti” é a soma de sua filosofia. Mas a doutrina de Cristo não é “salva a ti mesmo”, mas sacrifica a ti mesmo. Cristo discerniu no conselho de Pedro uma tentação de Satanás (v. 23), e imediatamente a rejeitou. Então, voltando-se para Pedro, disse: Não somente “deve” o Cristo subir à Jerusalém e morrer, mas todo aquele que desejar ser um seguidor dEle, deve tomar sua cruz (v. 24). O “deve” é tão imperativo num caso como no outro. Mediatoriamente, a cruz de Cristo permanece sozinha; mas experiencialmente, ela é compartilhada por todos que entram na vida.

O que é um “cristão”? Alguém que sustenta membresia em alguma igreja terrena? Não. Alguém que crê num credo ortodoxo? Não. Alguém que adota um certo modo de conduta? Não. O que, então, é um cristão? Ele é alguém que renunciou a si mesmo e recebeu a Cristo Jesus como Senhor (Colossenses 2:6). Ele é alguém que toma o jugo de Cristo sobre si e aprende dEle que é “manso e humilde de coração”. Ele é alguém que foi “chamado à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Coríntios 1:9): comunhão em Sua obediência e sofrimento agora, em Sua recompensa e glória no futuro sem fim. Não há tal coisa como pertencer a Cristo e viver para agradar a si mesmo. Não cometa engano neste ponto, “E qualquer que não tomar a sua cruz e não vier após mim não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:27), disse Cristo. E novamente Ele declarou, “Mas aquele (ao invés de negar a si mesmo) que me negar diante dos homens (não “para” os homens: é conduta, o caminhar, que está aqui em vista), também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:33).

A vida cristã começa com um ato de auto-renúncia, e é continuada pela auto-mortificação (Romanos 8:13). A primeira pergunta de Saulo de Tarso, quando Cristo o apreendeu, foi, “Senhor, que queres que eu faça?”. A vida cristã é comparada com uma “corrida”, e o corredor é chamado para “deixar todo embaraço e o pecado que tão de perto nos assedia” (Hebreus 12:1), cujo “pecado” é o amor por si mesmo, o desejo e a determinação de ter o nosso “próprio caminho” (Isaías 53:6). O grande alvo, fim e tarefa posta diante do Cristão é seguir a Cristo — seguir o exemplo que Ele nos deixou (1 Pedro 2:21), e Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3). E há dificuldades no caminho, obstáculos na estrada, dos quais o principal é o ego. Portanto, este deve ser “negado”. Este é o primeiro passo para se “seguir” a Cristo.
O que significa para um homem “negar a si mesmo” totalmente? Primeiro, isto significa a completa repudiação de sua própria bondade. Significa cessar de descansar sobre quaisquer obras nossas, para nos recomendar a Deus. Significa uma aceitação sem reservas do veredicto de Deus que “todas as nossas justiças [nossas melhores performances], são como trapo da imundícia” (Isaías 64:6). Foi neste ponto que Israel falhou: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Romanos 10:3). Agora, contraste com a declaração de Paulo: “E seja achado nEle, não tendo justiça própria” (Filipenses 3:9).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria sabedoria. Ninguém pode entrar no reino dos céus, a menos que tenha se tornado “como criança” (Mateus 18:3). “Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!” (Isaías 5:21). “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Quando o Espírito Santo aplica o Evangelho em poder numa alma, é para “destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). Um moto sábio para o todo cristão adotar é “não te estribes no teu próprio entendimento” (Provérbios 3:5).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria força. É “não confiar na carne” (Filipenses 3:3). É o coração se curvando à declaração positiva de Cristo: “Sem mim, nada podeis fazer” (João 15:5). Este é o ponto no qual Pedro falhou: (Mateus 26:33). “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Provérbios 16:18). Quão necessário é, então, que prestemos atenção à 1 Coríntios 10:12: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”! O segredo da força espiritual reside em reconhecer nossa fraqueza pessoal: (veja Isaías 40:29; 2 Crônicas 12:9). Então, “fortifiquemo-nos na graça que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:1).

Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente sua própria vontade. A linguagem do não-salvo é, “Não queremos que este Homem reine sobre nós” (Lucas 19:14). A atitude do cristão é, “Para mim, o viver é Cristo” (Filipenses 1:21) — honrá-Lo, agradá-Lo, servi-Lo. Renunciar sua própria vontade significa atender à exortação de Filipenses 2:5, “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”, o qual é definido nos versos que imediatamente seguem como de abnegação. É o reconhecimento prático de que “não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço” (1 Coríntios 6:19,20). É dizer com Cristo, “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres” (Marcos 14:36).
Para um homem “negar a si mesmo” totalmente, deverá renunciar completamente suas luxúrias ou desejos carnais. “O ego do homem é um feixe de ídolos” (Thomas Manton, Puritano), e estes ídolos devem ser repudiados. Os não-cristãos são “amantes de si mesmos” (2 Timóteo 3:1); mas aquele que foi regenerado pelo Espírito diz com Jó, “Eis que sou vil” (40:4), “Eu me abomino” (42:6). Dos não-cristãos está escrito, “todos buscam o que é seu e não o que é de Cristo Jesus” (Filipenses 2:21); mas dos santos de Deus está registrado,“eles não amaram a sua vida até à morte” (Apocalipse 12:11). A graça de Deus está “ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tito 2:12).

Esta negação do ego que Cristo requer de todos os Seus seguidores deve ser universal. Não há nenhuma reserva, nenhuma exceção feita: “Nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Romanos 13:14). Deve ser constante, não ocasional: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Deve ser espontânea, não forçada, realizada com satisfação, não relutantemente: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Colossenses 3:23). Ó, quão impiamente o padrão que Deus colocou diante de nós tem sido rebaixado! Como isso condena a vida acomodada, agradável à carne e mundana de tantos que professam (mas, de maneira vã) que eles são “cristãos”!

“E tome a sua cruz”. Isto se refere não à cruz como um objeto de fé, mas como uma experiência na alma. Os benefícios legais do Calvário são recebidos através do crer, quando a culpa do pecado é cancelada, mas as virtudes experimentais da Cruz de Cristo são somente desfrutadas à medida que somos, de um modo prático, “conformados com a Sua morte” (Filipeneses 3:10). É somente à medida que realmente aplicamos a cruz às nossas vidas diárias, regulamos nossa conduta pelos seus princípios, que ela se torna eficaz sobre o poder do pecado que habita em nós. Não pode haver ressurreição onde não há morte, e não pode haver andar prático “em novidade de vida” até que “carreguemos no corpo o morrer do Senhor Jesus” (2 Coríntios 4:10). A “cruz” é o sinal, a evidência, do discipulado cristão. É sua “cruz”, e não o seu credo, que distingue um verdadeiro seguidor de Cristo do mundano religioso.

Agora, no Novo Testamento a “cruz” tem o significado de realidades definidas. Primeiro, ela expressa o ódio do mundo. O Filho de Deus veio aqui não para julgar, mas par salvar; não para punir, mas para redimir. Ele veio aqui “cheio de graça e verdade”. Ele sempre esteve à disposição dos outros: ministrando aos necessitados, alimentando os famintos, curando os enfermos, libertando os possessos pelo demônio, ressuscitando os mortos. Ele era cheio de compaixão: gentil como um cordeiro; inteiramente sem pecado. Ele trouxe com Ele felizes notícias de grande alegria. Ele procurou os perdidos, pregou aos pobres, todavia, não desdenhou dos ricos; Ele perdoou pecadores. E, como Ele foi recebido? Que tipo de recepção os homens Lhe deram? Eles O “desprezaram e rejeitaram” (Isaías 53:3). Ele declarou, “Eles Me odeiam sem uma causa” (João 15:25). Eles tiveram sede de Seu sangue. Nenhuma morte ordinária os apaziguaria. Eles demandaram que Ele deveria ser crucificado. A Cruz, então, foi a manifestação do ódio inveterado do mundo pelo Cristo de Deus.

O mundo não mudou, não mais do que o etíope pode mudar sua pele ou o leopardo suas manchas. O mundo e Cristo ainda estão em aberto antagonismo. Por conseguinte, está escrito: “Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). É impossível andar com Cristo e comungar com Ele, até que tenhamos nos separado do mundo. Andar com Cristo necessariamente envolve compartilhar Sua humilhação: “Saiamos, pois, a Ele, fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hebreus 13:13). Isto foi o que Moisés fez (veja Hebreus 11:24-26). Quanto mais próximo eu andar de Cristo, mais eu serei mal-entendido (1 João 3:2), ridicularizado (Jó 12:4) e detestado pelo mundo (João 15:19). Não cometa engano aqui: é extremamente impossível continuar com o mundo e ter comunhão com o Santo Cristo. Portanto, “tomar” minha “cruz” significa, que eu deliberadamente convido a inimizade do mundo através da minha recusa em ser “conformado” a ele (Romanos 12:2). Mas, o que importa o olhar carrancudo do mundo, se estou desfrutando os sorrisos do Salvador?

Tomar minha “cruz” significa uma vida voluntariamente rendida a Deus. Como o ato dos homens ímpios, a morte de Cristo foi um assassinato; mas como o ato do próprio Cristo, foi um sacrifício voluntário, oferecendo a Si mesmo a Deus. Foi também um ato de obediência a Deus. Em João 10:18 Ele disse, “Ninguém a [Sua vida] tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”. E por que Ele o fez? Suas próximas palavras nos dizem: “Este mandato recebi de meu Pai”. A cruz foi a suprema demonstração da obediência de Cristo. Nesta Ele foi o nosso Exemplo. Uma vez mais citamos Filipenses 2:5: “Que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. E nos versos seguintes nós vemos o Amado do Pai tomando a forma de um Servo, e tornando-Se “obediente até a morte, e morte de cruz”. Agora, a obediência de Cristo deve ser a obediência do cristão — voluntária, alegre, sem reservas, contínua. Se esta obediência envolve vergonha e sofrimento, acusação e perda, não devemos nos acovardar, mas por o nosso rosto “como um seixo” (Isaías 50:7). A cruz é mais do que o objeto da fé do cristão, ela é o sinal de discipulado, o princípio pelo qual sua vida deve ser regulada. A “cruz” significa rendição e dedicação a Deus: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12:1).

A “cruz” significa serviço vicário e sofrimento. Cristo deu a Sua vida pelos outros, e Seus seguidores são chamados a estarem dispostos para fazerem o mesmo: “Devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1 João 3:16). Esta é a lógica inevitável do Calvário. Somos chamados para seguir o exemplo de Cristo, para a companhia de Seus sofrimentos, e para ser participantes em Seu serviço. Assim como Cristo “a si mesmo se esvaziou” (Filipenses 2:7), assim devemos fazer. Assim como Ele “veio para servir, e não para ser servido” (Mateus 20:28), assim devemos ser. Assim como Ele “não agradou a si mesmo” (Romanos 15:3), assim devemos fazer. Assim como Ele lembrou dos outros, assim devemos lembrar: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos, como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados” (Hebreus 13:3).

“Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á” (Mateus 16:25). Palavras quase idênticas a estas são encontradas novamente em Mateus 10:39. Marcos 8:35, Lucas 9:24; 17:33, João 12:25. Certamente, tal repetição mostra a profunda importância de notar e prestar atenção a este dito de Cristo. Ele morreu para que nós pudéssemos viver (João 12:24), e assim devemos fazer (João 12:25). Como Paulo, devemos ser capazes de dizer “Em nada tenho a minha vida por preciosa” (Atos 20:24). A “vida” que é vivida para a gratificação do ego neste mundo, está “perdida” para eternidade; a vida que é sacrificada para os interesses próprios e rendida a Cristo, será “achada” novamente, e preservada durante toda a eternidade.
Um jovem universitário graduado, com prospectos brilhantes, respondeu ao chamado de Cristo para uma vida de serviço a Ele na Índia, entre a casta mais baixa dos nativos. Seus amigos exclamaram: “Que tragédia! Uma vida lançada fora!” Sim, “perdida”, até onde diz respeito a este mundo, mas “achada” novamente no mundo porvir !

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 22 de Janeiro de 2005.

Arrependimento - Dwight L. Moody


Eu não me dirijo somente ao não convertido, porque sou daqueles que crêem que a igreja precisa se arrepender muito antes que muita coisa de valor possa ser feita no mundo. Acredito firmemente que o baixo padrão de vida cristã está mantendo muita gente no mundo e nos seus pecados. Se o incrédulo vê que o povo cristão não se arrepende, não se pode esperar que ele se arrependa e se converta de seu pecado. Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.

Assim, quero pregar tanto para os cristãos como para os não-convertidos, tanto para mim mesmo quanto para aquele que nunca conheceu a Cristo como seu Salvador.

Há cinco coisas que fluem do verdadeiro arrependimento:
1. Convicção.
2. Contrição.
3. Confissão de pecado.
4. Conversão.
5. Confissão de Cristo diante do mundo.

Convicção

Quando um homem não está profundamente convicto de seus pecados, é um sinal bem certo de que ainda não se arrependeu de verdade. A experiência tem me ensinado que as pessoas que têm uma convicção muito superficial de seus pecados, cedo ou tarde recaem em suas velhas vidas. Nos últimos anos tenho estado bem mais ansioso por uma profunda e verdadeira obra de Deus entre os já convertidos do que em alcançar grandes números. Se um homem confessa ser convertido sem reconhecer a atrocidade de seus pecados, provavelmente se transformará num ouvinte endurecido que não irá muito longe. No primeiro sopro de oposição, na primeira onda de perseguição ou ridículo, eles serão carregados de volta para o mundo.

Creio que é um erro lamentável conduzirmos tantas pessoas à igreja que nunca experimentaram a verdadeira convicção de pecados. O pecado no coração do homem é tão negro hoje quanto o foi em qualquer outra época. Às vezes penso que está mais negro. Porque quanto maior a luz que uma pessoa tiver, maior sua responsabilidade, e, por conseguinte, maior a sua necessidade de profunda convicção.

Até que a convicção de pecados nos faça cair de joelhos, até que estejamos completamente humilhados, até que tenhamos perdido toda esperança em nós mesmos, não podemos encontrar o Salvador.

Há três coisas que nos levam à convicção:
(1) A Consciência;
(2) A Palavra de Deus;
(3) O Espírito Santo .
Todos os três são usados por Deus.

Muito antes de existir a Palavra escrita, Deus tratava com o homem através da consciência. Foi por isto que Adão e Eva se esconderam da presença do Senhor Deus entre as árvores do Jardim do Éden. Foi isto que convenceu os irmãos de José quando disseram: 'Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos. Por isso', disseram eles (e lembre-se, mais de vinte anos haviam se passado depois que eles o venderam como cativo), ' por isso nos vem essa ansiedade'.
É a consciência que devemos usar com nossos filhos antes de atingirem uma idade onde podem entender a Palavra e o Espírito de Deus. E é a consciência que acusa ou inocenta o ímpio.
A consciência é 'uma faculdade divinamente implantada no homem, que o pede a fazer o que é certo'. Alguém disse que ela nasceu quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, quando seus olhos foram abertos e 'conheceram o bem e o mal'. Ela julga, mesmo contra nossa vontade, os nossos pensamentos, palavras, e ações, aprovando ou condenando-os de acordo com a sua avaliação de certo ou errado. Uma pessoa não pode violar sua consciência sem sentir a sua condenação.
Mas a consciência não é um guia seguro, porque freqüentemente ela só dirá que uma coisa é errada depois de você a praticar. Ela precisa ser iluminada por Deus porque faz parte de nossa natureza caída. Muitas pessoas fazem o que é errado sem serem condenadas pela consciência. Paulo disse: 'Na verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno' (At 26:9). A própria consciência precisa ser educada.
Outra vez, a consciência freqüentemente é como um relógio despertador , que a princípio desperta e acorda, mas com o tempo a pessoa se acostuma com ele, e então perde o seu efeito. A consciência pode ser asfixiada. Creio que cometemos um erro em não dirigirmos as pregações mais para a consciência .

Portanto, no devido tempo a consciência foi suplantada pela Lei de Deus, que no seu tempo foi cumprida em Cristo.
Neste país cristão, onde as pessoas têm Bíblias, a Palavra de Deus é o meio que Deus usa para produzir convicção. A Bíblia nos diz o que é certo e o que é errado antes de você cometer o pecado, e assim o que você precisa é aprender e apropriar-se de seus ensinos, sob a direção do Espírito Santo. A consciência comparada à Bíblia é como uma vela comparada ao sol lá no céu.
Veja como a verdade convenceu aqueles judeus no dia de Pentecostes. Pedro, cheio do Espírito Santo, pregou que 'este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo'. 'Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?' (At 2: 36, 37).

Em terceiro lugar, enfim, o Espírito Santo convence. Algumas das mais poderosas reuniões de que já participei foram aquelas em que houve uma espécie de quietude sobre o povo e parecia que um poder invisível se apoderava das consciências. Lembro-me de um homem que veio à reunião e no momento em que entrou, sentiu que Deus estava lá. Um senso de reverência veio sobre ele, e naquela mesma hora sentiu convicção e se converteu.

Contrição

A próxima coisa é a contrição, o profundo sentimento de tristeza segundo Deus e humilhação de coração por causa do pecado . Se não houver verdadeira contrição, o homem voltará direto para o seu velho pecado. Esse é o problema com muitos cristãos .

Um homem pode sentir raiva e se não houver muita contrição, no dia seguinte sentirá raiva outra vez. A filha pode dizer coisas indignas, ofensivas à sua mãe, e porque sua consciência lhe perturba ela diz: 'Mãe, sinto muito. Perdoe-me'.

Mas logo há um outro impulso genioso, porque a contrição não foi profunda nem verdadeira. Um marido diz palavras agressivas à sua esposa, e então para aliviar sua consciência, compra um buquê de flores para ela. Ele não quer enfrentar a situação como um homem e dizer que errou.

O que Deus quer é contrição, e se não houver contrição, não há arrependimento completo. 'Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido.' 'Coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus.' Muitos pecadores lamentam por seus pecados, lamentam por não poderem continuar pecando; mas se arrependem apenas com corações que não estão quebrantados. Não creio que saibamos como nos arrepender atualmente. Precisamos de um João Batista, que ande pelo país, gritando: 'Arrependam-se! Arrependam-se! '

Confissão de pecado

Se tivermos verdadeira contrição, ela nos levará a confessarmos nossos pecados. Creio que nove décimos dos problemas em nossa vida cristã são resultado de não fazermos isso. Tentamos esconder e cobrir nossos pecados. Há muito pouca confissão deles. Alguém disse: 'Pecados não confessados na alma são como uma bala no corpo'.

Se você não tiver poder, talvez seja porque há algum pecado que precisa ser confessado, alguma coisa em sua vida que necessita ser removida. Não importa quantos salmos você cante, ou a quantas reuniões você compareça, ou o quanto você ore e leia a sua Bíblia, nada disso encobrirá esse tipo de problema. O pecado deve ser confessado, e se o meu orgulho me impede de confessar, não devo esperar misericórdia de Deus nem respostas às minhas orações .

A Bíblia diz: 'O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará' (Pv 28:13). Pode ser um homem no púlpito, um sacerdote por trás do altar, um rei no trono _ não me importo quem ele seja. O homem está tentando fazer isso há seis mil anos. Adão o tentou e falhou. Moisés o tentou quando enterrou o egípcio que matou, mas falhou.

'Sabei que o vosso pecado vos há de achar.' Por mais que você tente enterrar o seu pecado, este tornará a aparecer mais cedo ou mais tarde, se não for apagado pelo Filho de Deus. Se o homem nunca conseguiu fazer isso em seis mil anos, é melhor você e eu desistirmos de tentar.

Há três maneiras de se confessar pecados . Todo pecado é contra Deus, e a Ele deve ser confessado. Há pecados que eu não preciso confessar a pessoa alguma no mundo. Se o pecado foi entre mim e Deus, devo confessá-lo sozinho no meu quarto. Não preciso cochichá-lo no ouvido de nenhum mortal. 'Pai, pequei contra o céu e diante de Ti.' 'Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos.'

Mas se fiz algo errado a alguma pessoa, e ela sabe que a prejudiquei, devo confessar o pecado não somente a Deus mas também a esta pessoa . Se o meu orgulho me impede de confessar meu pecado, não preciso ir a Deus.

Posso orar, posso chorar, mas isso não adiantará. Primeiro confesse àquela pessoa, e depois a Deus, e veja com que rapidez Ele lhe ouvirá e lhe enviará a paz. 'Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta.' (Mt 5: 23, 24). Esse é o caminho bíblico.

Há outra classe de pecados que devem ser confessados publicamente. Suponha que fui conhecido como um blasfemador, um alcoólatra ou um depravado. Se me arrependo de meus pecados, devo ao público uma confissão. A confissão deve ser tão pública quanto foi a transgressão. Muitas vezes uma pessoa dirá algo maldoso a respeito de outra na presença de terceiros, e então tentará apaziguar isso indo somente à pessoa prejudicada. A confissão deve ser feita de forma que todos os que ouviram a transgressão possam ouvir a confissão.

Somos bons em confessar o pecado de outras pessoas, mas se experimentarmos um verdadeiro arrependimento, ficaremos mais que ocupados cuidando dos nossos próprios pecados. Quando alguém dá uma boa olhada no espelho de Deus, não encontrará ali faltas dos outros; tem coisas demais a ver em si mesmo.

'Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça' (1 Jo 1:9). Obrigado Senhor pelo Evangelho! Crente, se há algum pecado em sua vida, resolva confessá-lo, e seja perdoado. Não deixe nenhuma nuvem entre você e Deus. Garanta o seu título para a mansão que Cristo foi preparar para você .

Conversão

A confissão leva à verdadeira conversão, e não pode haver uma verdadeira conversão, até que se tenha dado esses três passos .

Agora a palavra conversão significa duas coisas. Dizemos que uma pessoa é 'convertida' quando nasce de novo. Mas conversão também tem um significado diferente na Bíblia. Pedro disse: 'Arrependei-vos...e convertei-vos' (At 3:19). Existe uma versão que traduz assim: 'Arrependei-vos e voltai-vos'. Paulo disse que não foi desobediente à visão celestial, mas começou a pregar a judeus e gentios para que se arrependessem e se voltassem para Deus. Um certo teólogo de outra época disse: 'Todos nós nascemos de costas para Deus. O arrependimento é uma mudança de trajetória. É uma volta de cento e oitenta graus .'

Pecado é afastar-se de Deus. Como alguém disse, é aversão a Deus e conversão para o mundo; enquanto que o verdadeiro arrependimento significa conversão a Deus e aversão ao mundo. Quando há verdadeira contrição, o coração está entristecido por causa do pecado; quando há verdadeira conversão, o coração fica liberto do pecado. Deixamos a velha vida, somos transportados do reino das trevas para o reino da luz. Maravilhoso, não é?

A não ser que nosso arrependimento inclua essa conversão, não vale muito. Se alguém continua em pecado, é a prova de uma profissão inútil. É como bombear água para fora do navio, sem tampar os vazamentos. Salomão disse: 'Se o povo orar... e confessar teu nome, e se converter dos seus pecados... '(2 Cr 6:26).

Oração e confissão não seriam de proveito nenhum enquanto o povo continuasse em pecado. Vamos prestar atenção à chamada de Deus. Vamos abandonar o velho caminho perverso. Voltemos ao Senhor, e Ele terá misericórdia de nós, e ao nosso Deus, porque Ele perdoará abundantemente.

Confissão de Cristo

Se você é convertido, o próximo passo é confessar isso abertamente . Ouça: 'Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação' (Rm 10:9, 10).

A confissão de Cristo é o clímax da obra de verdadeiro arrependimento . Devemos isso ao mundo, aos nossos semelhantes cristãos e a nós mesmos. Ele morreu para nos redimir, e podemos estar envergonhados ou com medo de confessá-Lo? A religião como uma abstração, como uma doutrina, tem pouco interesse para o mundo, mas aquilo que as pessoas podem testemunhar da experiência pessoal sempre tem peso.

Ah, amigos, estou tão cansado de cristianismo medíocre. Vamos nos entregar cem por cento por Cristo. Não vamos dar um som inseguro. Se o mundo quer nos chamar de tolos, que o faça. É apenas por um pouco. O dia da coroação está chegando. Graças a Deus pelo privilégio que temos de confessar a Cristo!

Autor: Dwight L. Moody

Frases 59 - Thomas Watson

"A verdadeira água benta não é aquela que o papa esparge, mas a que é destilada dos olhos arrependidos."


"É bom desmascarar os nossos pecados, para que eles não nos desmascarem."


"A Bíblia é a biblioteca do Espírito Santo."


"A Bíblia é uma mina de diamantes, um colar de pérolas, a espada do espírito; um mapa pelo qual o cristão navega para a eternidade; o roteiro pelo qual anda todos os dias; o relógio pelo qual acerta sua vida; a balança com a qual pesa suas ações."


Fonte: Pérolas do Evangelho

Como lidar com terríveis fraquezas?


Aquilo que você não consegue dominar hoje, lhe dominará amanhã

Salmos 103:14…porque ele sabe de que é que somos feitos, e não se esquece de que somos pó.

Toda fraqueza nossa que recusamos tratar continuará amanhã nos levando em caminhos maus e impedirá que cheguemos à nossa vitória, pra viver uma vida de vitória, devemos primeiramente aceitar que as nossas fraquezas podem ressurgir em qualquer momento.

AQUILO QUE VC NÃO CONSEGUE DOMINAR HOJE, LHE DOMINARÁ AMANHÃ.

Salmos 71:9: Na minha velhice não me rejeiteis, ao declinar de minhas forças não me abandoneis.

SE DECIDIMOS VOLTAR A DEUS E ACEITAMOS QUE ELE TRABALHE EM NÓS, O ESPIRITO SANTO IRÁ REPETIDAMENTE LHE AVISAR.

JESUS DISSE A PEDRO : “ Lucas 22:31-32 Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.”

VOCÊ CONSEGUE IMAGINAR JESUS ORAR POR VOCÊ? É EXATAMENTE AQUILO QUE ACONTECE.

1 João 2:1: Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.

POR MAIS INCRÍVEL QUE PAREÇA, DEUS CONTINUARÁ A SE SERVIR DE VOCÊ MESMO SE AS SUAS FRAQUEZAS DOMINAM AINDA A SUA VIDA. ELE DARÁ INÚMERAS OPORTUNIDADES PARA QUE VOCÊ POSSA VOLTAR A ELE E LHE PEÇA AJUDA.

JESUS LANÇOU ESSA ADVERTENCIA A JERUSALEM : Mateus 23:37  Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! QUANTAS VEZES quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste!

Se você rejeita a graça divina, o que lhe resta?

Somente as consequências da sua decisão!

O que posso fazer então?

Volte a Deus!

Ele não será surpreso nem chocado do quanto existem fraquezas dentro de você. Ele jamais recusará lhe ajudar!

Reconhece, em primeiro lugar, que você precisa de ajuda! Depois... confronta as suas fraquezas!

Deixe o Espírito de Deus lhe encher do seu poder, Ele pode libertá-lo, mas também transformar as piores fraquezas em suas verdadeiras armas ofensivas para atacar satanás.

UMA ORAÇÃO PARA HOJE :

SENHOR, PARECE QUE NÃO CONSIGO VOLTAR PORQUE TODAS AS MINHAS FRAQUEZAS RESSURGEM APÓS UM TEMPO. MAS ACEITO O TEU PERDÃO E MAS UMA VEZ ACEITO A TUA MÃO QUE ME CONVIDA A BUSCAR A TUA FACE.
  
Pr. Chris Duran / Bob Gass

Frases 38 - Thomas Watson


"Há tanta diferença entre as alegrias espirituais e as terrenas quanto entre um banquete saboreado e outro pintado na parede."


"Amizade falsa é pior do que dinheiro falso."


"O amor é a única coisa com que podemos pagar a Deus na mesma moeda... Não podemos pagar-lhe tintim por tintim, mas devemos amá-lo generosamente."


"As pessoas que não têm Cristo como Rei para reinar sobre elas jamais terão seu sangue para salvá-las."


Fonte:  Pérolas do Evangelho

Examinando Nosso Arrependimento - Thomas Watson


Se alguém diz que se arrependeu, desejo que examine-se a si mesmo, seriamente, por meio dos sete... efeitos do arrependimento delineados pelo apóstolo em 2 Coríntios 7.11.

1. Cuidado. A palavra grega significa uma diligência intensa ou um esquivar-se atento de todas as tentações ao pecado. O homem verdadeiramente arrependido foge do pecado como Moisés fugiu da serpente.

2. Defesa. A palavra grega é apologia. O sentido é este: embora tenhamos muito cuidado, podemos cair no pecado devido à força da tentação. Ora, nesse caso, o crente arrependido não deixa o pecado supurar em sua alma; antes, julga a si mesmo por causa de seu pecado. Derrama lágrimas perante o Senhor. Clama por misericórdia em nome de Cristo e não O deixa, enquanto não obtém o seu perdão. Assim, em sua consciência, ele é defendido da culpa e se torna capaz de criar uma apologia para si mesmo contra Satanás.


3. Indignação. Aquele que se arrepende levanta o seu espírito contra o pecado, assim como o sangue de alguém sobe quando ele vê um indivíduo a quem odeia mortalmente. A indignação significa ficar importunado no coração por causa do pecado. O penitente sente-se inquieto consigo mesmo. Davi chamou a si mesmo de “ignorante” e “irracional” (Sl 73.22). Agradamos mais a Deus quando arrazoamos com nossa alma por conta do pecado.

4. Temor. Um coração sensível é sempre um coração que teme. O penitente sentiu a amargura do pecado. Este vespa o ferrou, e agora, tendo esperança de que Deus está reconciliado, ele teme se aproximar novamente do pecado. A alma penitente está cheia de temor. Tem medo de perder o favor de Deus, que é melhor do que a vida, e receia que, por falta de diligência, fique aquém da salvação. A alma penitente teme que, depois de amolecido o seu coração, as águas do arrependimento sejam congeladas, e ela seja endurecida no pecado novamente. “Feliz o homem constante no temor de Deus” (Pv 28.14)... Uma pessoa que se arrependeu teme e não peca; uma pessoa que não tem a graça de Deus peca e não teme.

5. Desejo intenso. Assim como o bom tempero estimula o apetite, assim também as ervas amargas do arrependimento estimulam o desejo. O que o penitente deseja? Ele deseja mais poder contra o pecado, bem como ser livre deste. É verdade que ele está livre de Satanás; mas anda como um prisioneiro que escapou da prisão com algemas nas pernas. Ele não pode andar com liberdade e destreza nos caminhos de Deus. Deseja, portanto, que as algemas do pecado sejam removidas. Ele quer ser livre da corrupção. Clama nas mesmas palavras de Paulo: “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Em resumo, ele deseja estar com Cristo, assim como tudo deseja estar em seu devido lugar.


6. Zelo. Desejo e zelo são colocados lado a lado a fim de mostrar que o verdadeiro desejo se manifesta em esforço zeloso. Oh! como o crente arrependido se estimula nas coisas pertinentes à salvação! Como se empenha para tomar por esforço o reino de Deus (Mt 11.12)! O zelo incita a busca pela glória. Ao se deparar com dificuldades, o zelo é encorajado pela oposição e sobrepuja o perigo. O zelo faz o crente arrependido persistir na tristeza santa mesmo diante de todos os desencorajamentos e oposições. O zelo desprende o crente de si mesmo e leva-o a buscar a glória de Deus. Paulo, antes de sua conversão, era enfurecido contra os santos (At 26.11). Depois da conversão, ele foi considerado louco por amor a Cristo: “As muitas letras te fazem delirar!” (At 26.24). Paulo tinha zelo e não delírio. O zelo causa fervor na vida espiritual, que é como fogo para o sacrifício (Rm 12.11). O zelo é um estímulo para o dever, assim como o temor é um freio para o pecado.

7. Vindita. Um crente verdadeiramente arrependido persegue os seus pecados com uma malignidade santa. Busca a morte dos pecados como Sansão queria vingar-se dos filisteus pelos seus dois olhos. O crente arrependido age com seus pecados da mesma maneira como os judeus agiram com Cristo. Ele lhes dá fel e vinagre para beberem. Crucifica as suas concupiscências (Gl 5.24). Um verdadeiro filho de Deus busca a ruína daqueles pecados que mais desonram a Deus... Com o pecado, Davi contaminou o seu leito; depois, pelo arrependimento, ele inundou seu leito com lágrimas. Os israelitas pecaram pela idolatria e, posteriormente, viram como desgraça os seus ídolos: “E terás por contaminados a prata que recobre as imagens esculpidas e o ouro que reveste as tuas imagens de fundição” (Is 30.22)... As mulheres israelitas que haviam se vestido à moda da época e, por orgulho, tinham abusado do uso de seus espelhos ofereceram-nos depois, tanto por zelo como por vingança, para o serviço do tabernáculo de Deus (Êx 38.8). Com o mesmo sentimento, os mágicos... quando se arrependeram, trouxeram seus livros e, por vindita, queimaram-nos (At 19.19).

Estes são os benditos frutos e resultados do arrependimento. Se os acharmos em nossa alma, chegamos àquele arrependimento do qual nos fala 2 Co 7.10.

Fonte: Editora Fiel

A MENSAGEM DA REFORMA PARA OS DIAS DE HOJE - SOLANO PORTELA (parte 2)

IV. CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS SOBRE A REFORMA E OS REFORMADORES

Nosso apreço pela Reforma e pelas suas doutrinas não deve nos levar a uma visão utópica e idealista com relação aos seus personagens principais. Devemos reconhecer os seus feitos, mas também as suas limitações. É na compreensão da falibilidade humana que detectamos a mão soberana de Deus empreendendo os seus propósitos na história. Vejamos alguns pontos que valem a pena ser recordados:

A. Lutero foi um homem falível

As 95 Teses de Lutero realmente representaram um marco e um ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas. Entre as teses, encontramos expressões de compreensão dos ensinamentos da Bíblia, como por exemplo na tese 62 ("O verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho da glória e da graça de Deus") e na tese 94 ("Os cristãos devem ser exortados a seguir a Cristo, a sua cabeça, com diligência"). Entretanto, devemos reconhecer que elas estão longe de ser, em sua totalidade, expressões precisas da verdadeira fé cristã. Elas registram, na realidade, o início do pensamento de Lutero, que seria trabalhado e refinado por Deus ao longo de estudos e experiências posteriores do Reformador. Vejamos os seguintes exemplos:



Lutero faz referência ao Purgatório, sem qualquer contestação à doutrina em si, em 12 das suas teses (teses 10,11, 15, 16, 17, 18, 19, 22, 25, 26, 29, 82). Ex.: Tese 29: "Quem disse que todas as almas no Purgatório desejam ser redimidas? Temos exceções registradas nos casos de S. Severino e S. Pascal, de acordo com uma lenda sobre eles".

Além da menção aos santos na tese acima, Lutero faz referência a Maria como mãe de Deus (Tese 75), aparentemente não no sentido histórico do termo (o termo histórico, em grego Theotokos, tinha o propósito de reconhecer a divindade de Jesus), mas no conceito católico da expressão, que infere a existência de um poder especial em Maria: Diz a Tese 75– "É loucura considerar que as indulgências papais têm tão grande poder que elas poderiam absolver um homem que tivesse feito o impossível e violado a própria mãe de Deus."

Quatro teses sugerem legitimidade ao papado e à sucessão apostólica (77, 5, 6, 9). Ex.: Tese 77: "É blasfêmia contra São Pedro e contra o Papa dizer que São Pedro, se fosse o papa atual, não poderia conceder graças maiores [do que as atualmente concedidas]."

Além disso, verificamos que resquícios do romanismo se fizeram presentes na formulação da Igreja Luterana, principalmente na sua estruturação hierárquica e na compreensão quase católica dos elementos da Ceia do Senhor. Possivelmente poderíamos também dizer que na Reforma encontramos individualismo em excesso e falta de unidade entre irmãos de mesma opinião teológica (principalmente nas interações dos luteranos com Zwinglio e Calvino). Mas, com todas essas limitações, os Reformadores foram poderosamente utilizados por Deus na preservação das Suas verdades.

B. A revolta de Lutero foi eminentemente espiritual

Não poderemos compreender a Reforma se acharmos que Lutero foi movido por uma revolta contra pessoas, contra padres corruptos, apenas. A ação de Lutero foi uma revolta contra uma estrutura errada e uma doutrina errada de uma igreja que distorcia a salvação. A Reforma não foi um movimento sociológico; Lutero não pretendia ensinar a salvação do homem pela reforma da sociedade, embora compreendesse que a sociedade era reformada pelas ações do homem resgatado por Deus. Na realidade, a Reforma do Século XVI foi um grande reavivamento espiritual operado por Deus, que começou com uma experiência pessoal de conversão.

C. Lutero não formulou novas doutrinas, ou novas verdades, mas redescobriu a Bíblia em sua pureza e singularidade

As 95 Teses representam coragem, desprendimento, uma preocupação legítima com o estado decadente da Igreja, e uma busca dos verdadeiros ensinamentos da Palavra. Mas é um erro achar que a Reforma marca a aparição de várias doutrinas nunca dantes formuladas. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob o entulho da tradição, é que foi resgatada. Uma das características comuns das seitas é a presunção de ter descoberto supostas verdades que eram totalmente desconhecidas até que foram reveladas a algum líder. Essas "verdades" passam a ser determinantes na interpretação das demais e tornam-se o ponto central dos ensinamentos da seita. A Reforma coloca-se em completa oposição a esta característica. Nenhum dos Reformadores declarou ter "descoberto" qualquer verdade oculta. Eles tão somente apresentavam, com toda singeleza, os ensinamentos das Escrituras. Seus comentários e controvérsias versavam sempre sobre a clara exposição da Palavra de Deus.

Mais uma vez, Martin Lloyd-Jones nos indica "que a maior lição que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é olhar para trás." Lutero e Calvino, diz ele, "foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinham esquecido."

V. A MENSAGEM DA REFORMA PARA OS DIAS DE HOJE

As mensagens proclamadas pela Reforma continuam sendo pertinentes aos nossos dias. Da mesma forma como a Palavra de Deus é sempre atual e representa a Sua vontade ao homem, em todas as ocasiões, a Reforma, com suas mensagens extraídas dessa mesma Palavra, transborda em atualidade para a cena contemporânea da Igreja Evangélica. Vejamos apenas alguns pontos pregados pelos Reformadores e a sua aplicação presente:

A. A Reforma resgatou o conceito de pecado - Rm 3:10-23

A venda das indulgências mostra como o conceito do pecado estava distorcido na ocasião da Reforma do Século XVI. A Igreja Medieval e, principalmente, as ações de Tetzel, fugiram totalmente da visão bíblica de que pecado é uma transgressão da Lei de Deus, qualquer falta de conformidade com Seus padrões de justiça e santidade. A essência do pecado foi banalizada ao ponto de se acreditar que o seu resgate podia se efetivar pelo dinheiro. É fácil ver as implicações que a falta de um conceito bíblico de pecado traz para outras doutrinas chaves da fé cristã. Por exemplo: se o resgate é em função da soma de dinheiro paga, como fica a expiação de Cristo, qual a necessidade dela? Ao se insurgir contra as indulgências, Lutero estava, na realidade, reapresentando a mensagem da Palavra de Deus sobre o homem, seu estado, suas responsabilidades perante o Deus Santo e Criador e sua necessidade de redenção.

Hoje, estes conceitos estão cada vez mais ausentes da doutrina da Igreja contemporânea. A mensagem da Reforma continua necessária aos nossos dias. Estamos nos acostumando a ouvir que todas as ações são legítimas; que pecado é uma conceito relativo e ultrapassado; que o que importa é a felicidade pessoal e não a observância de princípios. Mesmo nos meios evangélicos, existe grande falta de discernimento — há uma preocupação muito maior com a necessidade de encontrar justificativas, explicações e racionalizações do que com a convicção e o arrependimento.

B. A Reforma pregou a doutrina da Justificação somente pela Fé - Gl. 3:10-14

A Igreja Católica havia distorcido o conceito da salvação, pregando abertamente que a justificação se processava por intermédio das boas obras de cada fiel. Lendo a Palavra, Lutero verificou o quão distanciada essa pregação estava das verdades bíblicas — a salvação é uma graça concedida mediante a fé e as boas obras não fornecem a base para ela; mas apenas a evidenciam e são subprodutos dela. A salvação procede da infinita misericórdia de Deus para com o homem pecador. É Deus quem arranca o homem da lama e perdição do pecado. Enfim, a obra completa da salvação é realizada por Deus.

Hoje, estamos novamente perdendo essa compreensão – a mensagem da Reforma é necessária. A justificação pela fé continua sendo esquecida e procura-se a justificação pelas obras. Muitas vezes prega-se e procura-se a justificação perante Deus através do envolvimento em ações de cunho social.

A justificação pela fé está sendo, ultimamente, considerada um ponto secundário, mesmo no campo evangélico. Assim, muitos têm partido para trabalhos de ampla cooperação, como base de fé e de unidade, como vimos no pensamento expresso pelo documento já referido: Evangélicos e Católicos Juntos.

C. A Reforma resgatou o conceito da autoridade vital da Palavra de Deus - 2 Pe 1:16-21

Na ocasião da Reforma, a tradição da Igreja já havia se incorporado aos padrões determinantes de comportamento e da doutrina e, na realidade, já havia abandonado as prescrições das Escrituras. A Bíblia era conservada distante e afastada da compreensão dos devotos; era considerada um livro só para os entendidos, um livro obscuro e até perigoso para as massas. Os Reformadores redescobriram e levantaram bem alto o único padrão de fé e prática: a Palavra de Deus e, por este padrão, aferiram tanto as autoridades como as práticas religiosas em vigor.

Hoje o mundo está sem padrão. Mas não é somente o mundo, a própria Igreja Evangélica está voltando a enterrar o seu padrão em meio a um entulho místico pseudo-espiritual – a mensagem da Reforma continua necessária.

Sabemos que nas pessoas sem Deus imperam o subjetivismo e o existencialismo. A única regra de prática existente parece ser: "Comamos e bebamos porque amanhã morreremos." Verificamos que nas seitas existe uma multiplicidade de padrões. Livros e escritos são apresentados como se a sua autoridade estivesse paralela ou até acima da Bíblia. A cena comum é a apresentação de novas revelações, geralmente de caráter escatológico e de características fluidas, contraditórias e totalmente duvidosas.

No meio eclesiástico liberal, já nos acostumamos a identificar o ataque constante à veracidade das Escrituras. Já há mais de dois séculos os liberais têm contestado sistematicamente a Palavra de Deus, como se a fé cristã verdadeira fosse capaz de subsistir sem o seu alicerce principal.

Mas é no campo Evangélico que somos perturbados com os últimos ataques à Bíblia como regra inerrante de fé e prática. Ultimamente muitos pseudo-intelectuais têm questionado a doutrina que coloca a Bíblia como um livro inspirado, livre de erro. Podemos tomar como exemplo o caso do Fuller Theological Seminary. Esta famosa instituição evangélica foi fundada em 1947 sobre princípios corretos. Logo após o seu início, formulou-se uma declaração de fé que especificava: "…os livros do Velho Testamento e Novo Testamento…, nos originais, são inspirados plenariamente e livres de erro, no todo e em suas partes…" Entretanto, em 1968, o filho do fundador, Daniel Fuller, que havia estudado sob Karl Barth, começou a questionar a inerrância da Bíblia, fazendo distinção entre trechos "revelativos" e trechos "não revelativos" das Escrituras. Foi seguido nesta posição pelo presidente, David Hubbard, e por vários outros professores, todos considerados evangélicos. Logicamente não há critério coerente ou autoritativo para fazer esta distinção. Subtrai-se da Igreja o seu padrão, derruba-se um dos pilares da Reforma, e a Igreja é retroagida a uma condição medieval de dependência dos "especialistas" que nos dirão quais as partes em que devemos crer realmente e quais as que devemos descartar como mera invenção humana.

No campo evangélico neopentecostal a suficiência da Palavra de Deus é desconsiderada e substituída pelas supostas "novas revelações", que passam a ser determinantes das doutrinas e práticas do povo de Deus.

A Confissão de Fé de Westminster, em seu Capítulo 1º, apresenta a mensagem inequívoca da Reforma do Século XVI, cada vez mais válida aos nossos dias. Ali a Bíblia é descrita como sendo a "… única regra infalível de fé e de prática".

D. A Reforma redescobriu na Palavra a doutrina do Sacerdócio Individual do Crente – Hb 10:19-21

O sacerdócio individual do crente foi uma outra doutrina resgatada. Ela apresenta a pessoa de Cristo como único mediador entre Deus e os homens, concedendo a cada salvo "acesso direto ao trono" por intermédio do sacrifício de Cristo na cruz e pela operação do Espírito Santo no "homem interior". O ensinamento bíblico, transmitido pela Reforma, eliminava os vários intermediários que haviam surgido ao longo dos séculos, entre o Deus que salva e o pecador redimido. Na ocasião, esse era um ensinamento totalmente estranho à Igreja de Roma, que sempre se apresentou como tendo a palavra final de autoridade e interpretação das Escrituras.

Lutero rebelou-se contra o véu de obscuridade que a Igreja lançava sobre as verdades espirituais e levou os fiéis de volta ao trono da graça. Isso proporcionou uma abertura providencial de conhecimento teológico e religioso. Lutero sabia disso, mas sabia também que o acesso a Deus deveria estar fundamentado nas verdades da Bíblia, tanto que um de seus primeiros esforços, após o rompimento com a Igreja Romana, foi a tradução da Palavra de Deus para a língua falada em seu país: o alemão.

O ensinamento do sacerdócio individual do crente foi o grande responsável pelo estudo aprofundado das Escrituras e pela disseminação da fé reformada. Levados a proceder como os bereanos, os crentes verificaram que não dependiam do clero para o entendimento e aplicação dos preceitos de Deus e passaram a entender com determinação as doutrinas cristãs.

A mensagem da Reforma continua sendo necessária hoje. A igreja contemporânea está multiplicando-se em quantidade de adeptos, mas é uma multiplicação estranha que segue acompanhada de uma preguiça mental quanto ao estudo. Parece que fomos todos tomados de anorexia espiritual, onde nos contentamos com muito pouco, nos achamos mestres sem estudar, nos concentramos na periferia e não no cerne das doutrinas e ficamos felizes com o recebimento só do "leite" e não da "carne".

A mensagem da Reforma é necessária para que não venhamos a testemunhar a consolidação de toda uma geração de "analfabetos cristãos". Em vez de procurar "tudo enlatado" e de deixar que apenas formas de entretenimento povoem nossa mente e coração, devemos nos lembrar constantemente da importância de "guardar a palavra no coração".

Precisamos nos aperceber de que a objetividade da Palavra de Deus é verdade proposicional objetiva. Mas esta objetividade tem que ser acompanhada do nosso estudo e da nossa capacidade de compreensão, sob a iluminação do Espírito Santo de Deus, e da aplicação coerente dos ensinamentos desta Palavra em nossa vida.

E. A Reforma apresentou, de forma clara e inequívoca, o conceito de Soberania de Deus - Salmo 24

Na ocasião da Reforma, as expressões de religiosidade tinham se tornado totalmente centralizadas no homem. Isso ocorreu principalmente pela grande influência de Tomás de Aquino na sistematização do pensamento católico romano. Abraçando as idéias de Pelágio, Aquino enfatizou completamente o livre arbítrio do homem. Ele desconsiderou a gravidade da escravidão ao pecado que torna o homem incapaz de escolher o bem. Lutero reconheceu que a salvação se constituía em algo mais que uma mera convicção intelectual. Era, na realidade, um milagre da parte de Deus. Por isso, ele tanto pregou quanto escreveu sobre "a prisão do arbítrio". Costumamos atribuir a cristalização das doutrinas relacionadas com a soberania de Deus a João Calvino apenas, mas o ensinamento bíblico de Lutero traz, com não menor veemência, uma teologia teocêntrica na qual Deus reina soberanamente em todos os sentidos.

Hoje, a mensagem continua a ser necessária, pois o homem, e não Deus, continua sendo o centro das atenções. Mesmo dentro dos círculos evangélicos, a evangelização elege a felicidade do homem como alvo principal, e não a glória de Deus. Até a nossa liturgia é desenvolvida em torno de algo que nos faça "sentir bem", e não com o objetivo maior da glorificação a Deus. Nesse aspecto, deveríamos estar atentos à mensagem de Amós, que nos ensina (Am 4:4-5) que Deus não Se impressiona com a liturgia que não é direcionada a Ele. Nesse trecho vemos que a adoração realizada em Betel e Gilgal tinha várias características dos cultos contemporâneos:

1. Os locais eram suntuosos e famosos (Betel possuía belas fontes no topo da montanha).

2. A periodicidade dos cultos e possivelmente a freqüência era exemplar (diariamente se reuniam).

3. As contribuições eram abundantes, superando até os padrões de Deus (de três em três dias traziam as ofertas).

4. O louvor era abundante (sacrifícios de louvor eram ofertados; Am 5.23 e 6.5 falam também do estrépito dos cânticos e da transbordante música instrumental).

5. Havia bastante publicidade (as ofertas eram divulgadas e apregoadas).

6. Havia alegria e deleite geral nos trabalhos ("disso gostais", diz o profeta).

O resultado de toda essa adoração centralizada no homem foi a mão pesada de Deus em julgamento sobre aquela sociedade insensível (com aquele culto, as pessoas, dizia o profeta, "multiplicavam as suas transgressões"). Realmente, à semelhança da Reforma, precisamos resgatar a pregação da soberania de Deus e demonstrar esta doutrina na prática de nossa vida e na das nossas igrejas.

CONCLUSÃO

Devemos reconhecer a Reforma como um movimento operado por homens falíveis, mas poderosamente utilizados pelo Espírito Santo de Deus para resgatar Suas verdades e preservar a Sua Igreja. Não devemos endeusar os Reformadores nem a Reforma, mas não podemos deixá-la esquecida e nem deixar de proclamar a sua mensagem, que reflete o ensinamento da Palavra de Deus para os dias de hoje. A natureza humana continua a mesma, submersa em pecado. Os problemas e situações tendem a se repetir, até no seio da Igreja. O Deus da Reforma fala ao mundo hoje, com a mesma mensagem eterna. Devemos, em oração e temor, ter a coragem de pregá-la e proclamá-la à nossa Igreja.

Fonte:
O Presbiteriano Conservador


Extraído de: http://www.materiasdeteologia.com