domingo, 13 de outubro de 2013

A realidade do Cristianismo - A. W. Tozer


A verdadeira espiritualidade manifesta-se nos desejos dominantes. Desejos presentes e profundamente arraigados, suficientemente poderosos para motivar e controlar a vida:

1. Desejo de ser santo, antes que ser feliz

2. Desejo de ver Deus honrado com sua vida, mesmo que isto o leve a sofrer desonra ou perda temporária. O Homem desses ora: “santificado seja o teu nome” e acrescenta: “a qualquer custo Senhor”. Ele não tem necessidade de debater a matéria com seu coração; não há o que se debater. Suspira ofegante pela glória de Deus, como alguém asfixiado fica ofegando pelo ar.

3. Deseja levar a cruz, ou seja, estar ligado à pessoa de Cristo, submisso a seu senhorio e obediente a sua vontade.

4. Desejo de ver todas a coisas do ponto de vista de Deus. Atribui a todas as coisas o mesmo valor que é atribuído por Deus. Seu olhar não fica na superfície, mas penetra até o verdadeiro sentido das coisas.

5. Desejo de morrer na retidão do que viver no erro. Nunca admite negociar qualquer fundamento do cristianismo.

6. Desejo de ver outros cristãos acima Dele e fica feliz quando vê outros sendo promovidos e ele deixado de lado. Não há inveja em seu coração; quando seus irmãos são honrados, fica feliz.

7. Desejo de fazer julgamentos segundo a eternidade e não segundo os valores temporais. Conseqüentemente prefere ser útil a ser famoso, servir a ser servido.

Se Deus nos separou para ser objeto de Sua graça, podemos esperar que ele nos honre com mais estrita disciplina e com sofrimento maior do que os outros.O escultor não usa um estojo de manicuro para transformar o mármore informe e rude num espécime de beleza. A serra, o martelo e o cinze são instrumentos cruéis, mas sem eles, a tosca pedra será sempre destituída de forma e beleza.

Para fazer em nós a suprema obra de sua graça, Ele vai tirar do nosso coração tudo aquilo que mais amamos. Tudo aquilo que nos leva a confiarmos em nós mesmos. Cinzas amontoadas jazerão onde nossos tesouros mais preciosos costumavam estar.O que escrevo aqui não é nada original, todas as gerações de verdadeiros cristãos observaram esta verdade. No entanto é necessária dizê-lo a esta geração de “cristãos”, pois o tipo da mensagem atual não constitui nada tão sério e difícil como isto. Ao que parece, a busca do cristão moderno é de paz mental, alegria e apreciável prosperidade material, introduzidas como prova do favor divino.

Contudo, alguns compreenderão isso, ainda que seja pequeno número deles, e eles continuarão o sólido núcleo de santos praticantes tão seriamente necessário nesta hora grave, para que o verdadeiro cristianismo sobreviva.
“Deus nos chamou para o lado de Cristo”, escreveu um discípulo, “e agora o vento que está dando no rosto de Cristo nesta terra; e vendo que estais com Ele, não podeis esperar abrigo a sotavento ou do lado ensolarado da escarpa”.
A bela sensibilidade dessas palavras no diz que o vento está soprando no rosto de Cristo, e porque o seguimos, também temos o vento soprando em nosso rosto. Não devemos esperar menos.

O anseio pelo abrigo ensolarado é natural, ninguém gosta de andar no vento frio. Contudo os verdadeiros cristãos vem tendo que marchar com o vento dando em seus rostos através dos séculos.
O homem criou uma outra mensagem, oferecendo as pessoas o lado ensolarado da escarpa, na avidez de se conseguir novos adeptos. Elas acreditam em nós, e o primeiro vento frio as envia arrepiada a algum conselheiro para ver o que está errado; e essa é a última notícia que temos de muitas delas.

Os ensinamentos de Cristo revelam que ele é realista no melhor sentido da palavra. Em nenhuma parte do evangelho encontramos algo que seja visionário ou exageradamente otimista. Ele dizia toda a verdade a seus ouvintes e deixava que eles tomassem suas decisões. Ele podia entristecer-se com a retirada de um interessado que não podia enfrentar a verdade, nunca, porém, corria atrás dele para tentar ganhá-lo mediante róseas promessas. Ele queria que os homens o seguissem sabendo o preço, ou, se não, deixava que seguissem os seus caminhos.
Isso é simplesmente dizer que Cristo é honesto. Ele nunca será popular entre os que se perdem e sabe que seus seguidores não precisam esperar popularidade. O vento que sopra em seu rosto será sentido por todos que viajam com Ele.

Atender ao real chamado de Cristo muda de fato o pecador, mas não muda o mundo. O vento continua soprando em direção ao inferno, e o homem que caminhar na direção oposta terá o vento batendo no rosto. É importante considerarmos esta realidade espiritual. Se as insondáveis riquezas de Cristo não merecem que por elas soframos, é bom saber disso agora e parar de brincar de religião.

O livro de Atos é a história de homens e mulheres que expunham o rosto ao rijo vento da perseguição e do prejuízo, e seguiam a Cristo a qualquer preço. Sabiam que o mundo odiou Cristo, e os odiava por causa Dele; mas mantiveram-se inabaláveis.
A fé vê de longe a vitória de Cristo e se dispõe a padecer qualquer coisa para ser participante dela. A incredulidade não está segura de coisa alguma, exceto que odeia o vento e aprecia a costa ensolarada da colina. Cada pessoa terá que decidir sozinha, se poderá arcar ou não com o terrível fausto da incredulidade.

Fonte:  Orthodoxia

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