quarta-feira, 28 de maio de 2014

Você deve ter "visão espiritual" para conduzir os espiritualmente cegos


É difícil você levar alguém para "mais alto" na dimensão de Deus quando você mesmo mal conhece o Seu endereço. Você deve ter visão espiritual como Maria para conduzir os espiritualmente cegos à luz da Sua presença.

O erro de Marta foi acusar Jesus de "não se importar" com o fato de Maria abandonar a cozinha para adorar aos Seus pés.(Lc.10.40) A virtude dela estava em que ela pareceu aprender com seu erro. Evidentemente, Marta começou a apreciar a sensibilidade de Maria para com Jesus e o caminho que ela seriou no Seu coração. Talvez por isso ela "arranjou" para que Maria pensasse que Jesus a havia chamado depois que Lázaro morreu.( João 11:28)

Eu imagino se Marta esperava que as lágrimas de adoração de Maria pudessem realizar o que o seu confronto confiante não conseguiu — trazer o Jesus operador de milagres para a sua crise de dor. A prática Marta provavelmente teve um cuidado extra para prestar atenção na percepção de Maria depois do primeiro desastre em Betânia. Ela nunca mais perderia um encontro divino com o Mestre.

A Marta em você precisa tocar no poder da sensibilidade espiritual de Maria, assim como Bartimeu "tomou emprestado" seus olhos e percepção de outros para compensar sua cegueira natural.

Muitas vezes, no momento da nossa fome, não sabemos para que lado clamar, o que dizer, o que orar, o que cantar! O cego Bartimeu viu Jesus somente depois que tinha recebido um milagre. Ele teve que acreditar na palavra de alguém, de que a causa do tumulto era Jesus, e de que Ele estava próximo.

Pode haver ocasião na sua vida em que seus "sentidos" espirituais pareçam surdos ou cegos, e você não é capaz de sentir a proximidade de Deus. Em tempos de privação sensorial espiritual, ande pela fé e permaneça na Sua Palavra. Pode ser que você tenha que tomar a palavra de mais alguém de que Ele está na casa. Quer seja um líder de adoração, uma esposa, ou um pregador, preste muita atenção quando a pessoa diz: "Ele está por perto". Naquele momento, estenda a mão para Ele, com toda a paixão e fome no seu coração — "sinta-O e O encontre, embora Ele não esteja distante de todos nós".(Lc.6.6-11)

Na história bíblica, o cego Bartimeu buscou ajuda dos observadores da parada que "enxergavam", para iniciar um encontro divino com Jesus, e recebeu sua vista. A Marta dentro de nós, com alma viva e algumas vezes "desafiada espiritualmente", necessita nos nossos corações da visão e da percepção da Maria que "enxerga" espiritualmente. A busca unificada da Divindade é talvez o único caminho para encerrar a nossa luta interna.

Algumas vezes a sua alma precisa se aquietar e ouvir os sussurros do espírito. A música de louvor do coração pode ajudar você a descobrir seu caminho no labirinto da razão fria e do calor das emoções não checadas.

A comparação bíblica de A. Moody Stuart entre a Maria e a Marta também lançam luz sobre a natureza da "batalha de irmãs" que ocorre às vezes dentro de nós:

Marta começa com trabalho atribulado e, sendo reprovada, termina com um serviço leal, contudo rotineiro. Maria começa ouvindo calmamente e termina com um trabalho nobre, grande, que permanece para sempre. Trabalhar é mais fácil do que ouvir, porque o trabalho pode bem ser desejado por sua própria razão. 

O trabalho não é um fim em si mesmo. Embora nem um bem real seja feito, ainda é trabalho. E a alma, ocupada com ele, descansa nele. Embora nem um traço do trabalho tenha sido aceito por Deus, o trabalhador se agradou, e encontra uma paz traiçoeira. Mas o fruto do ouvir é menos facilmente enganoso.

Extraído do livro Caçando Deus Servindo ao homem de autoria Tommy Tenney

A essência do cristianismo



por John Frame


Essência é a qualidade pela qual algo é definido, essa qualidade que faz algo que se distinguir de outras coisas. Tri – lateralidade é uma característica essencial de um triângulo. Uma figura pode ser curta, longa, grande, pequena, mesmo em frente e verso ou lados irregulares, não importa, com ou sem qualquer uma dessas qualidades ainda será um triângulo. Mas tire suas tri-lateralidade, e de repente já não é um triângulo, tornou-se algo mais.

Agora, muitos têm procurado descobrir a “essência” do cristianismo, o que torna o cristianismo o que é, aquilo sem o qual seria outra coisa. Livros foram escritos (como por Feuerbach e Harnack), intitulados com: A essência do cristianismo. E muitos teólogos, embora escrevendo livros com outros nomes, têm procurado, com efeito, se não em tantas palavras, identificar a essência. A grande variedade das sugestões, no entanto, põe em dúvida ore o projeto. Qual é a essência? A moral (Kant)? O sentimento religioso (Schleiermacher)? Dialética filosófica (Hegel)? Realização de desejo (Feuerbach)? A paternidade de Deus (Harnack)? Palavra de Deus (Barth)? O encontro pessoal (Brunner, Buber)? Atos de Deus (Wright)? A auto-negação do ser (Tillich)? Auto-compreensão existencial (Bultmann)? Esperança (Moltmann)? Libertação (Gutierrez)? Encarnação (Ortodoxia Oriental)? Aliança (muitos calvinistas)? Cinco “fundamentos” (muitos conservadores americanos)? E o quanto a santidade, a justiça, a misericórdia, a fé, o amor, a graça, o louvor, o espírito, a paz, a alegria, a vida do corpo? O quanto ao evangelismo, adoração? Todos estes têm alguma reivindicação para serem chamadas de “coração do Evangelho” ou o “centro do cristianismo.” Ou por que não dizer simplesmente que “o Cristianismo é Cristo?”

Assim, somos inundados com “teologias da” isto e aquilo, cada um alegando que seu tema é o (até então negligenciado!) “O foco central” do cristianismo. Como é que vamos responder? Bem, esses projetos muitas vezes têm valor positivo. Eles podem ser esclarecedores para escolhermos um conceito bíblico ou de ensino e tentar ver o resto da Escritura à luz de tal ensinamento. Somos seres finitos e, portanto, não podemos ver toda a Bíblia de uma vez. É útil ter um “foco”, um ponto de partida, e muitos destes estudos proporcionam isso. Por outro lado, também existem perigos deste tipo de teologia: (1) Teologia organizada em torno de uma “doutrina central” muitas vezes ignoraram, falseiam ou mesmo atacam outras doutrinas bíblicas que julgam ser “periféricas”. (2) Eles freqüentemente dão a impressão de que seu foco em particular é o foco único motivo legítimo para a teologia, portanto, injustamente negando o valor de outras abordagens. (3) Tais propostas podem promover um absurdo arrogante: que os elementos mais importantes do cristianismo tem sido praticamente esquecidos por dois mil anos, apenas foram recuperados pela genialidade dos estudiosos modernos.

Os grandes teólogos, como Agostinho, Tomás de Aquino, Lutero e Calvino, não procuraram organizar os seus sistemas em torno de uma “doutrina particular central”. Em vez disso, eles procuraram expor uma complexidade (unificada) da escritura ensinando-a como um todo. O resultado foi uma multilateralidade, uma amplitude e uma profundidade, raramente vistas no mundo moderno das “teologias disso e aquilo”. Talvez este tipo de realização possa ser atribuída somente aos gênios. O resto de nós, talvez, os teólogos comuns devemos nos contentar em encontrar uma “doutrina central” e escrever sobre ela. Mas se fizermos isso, seria prudente que nos lembremos que o cristianismo tem muitos centros, ou melhor, um (Cristo), que pode ser descrito a partir de uma ampla variedade de “perspectivas”. Cada “doutrina central”, então, é um “ângulo” certo de que todo o ensinamento da Escritura pode ser vista. Com essa visão “perspectivista” da questão, podemos promover uma “doutrina central” sem diminuir as outras e sem reduzir a riqueza do evangelho de Cristo.

***
Fonte: Frame & Poythress
Traduzido por: Rafael Bello
Via: Reforma 21

A Infinita Misericórdia de Deus


E guiarei os cegos por um caminho que nunca conheceram, fá-lo-eis caminhar por veredas que não conheceram; tornarei as trevas em luz… E as coisas tortas farei direitas. (Is. 42.16).

Que diz Deus aos que se preocupam e se entristecem pelo deplorável estado de Sião, pela apostasia da cristandade, pela queda e impenitência de muitos membros e dirigentes das igrejas?

O que diz aos que desejam ajudar e fazer algo a fim de que esta situação melhore, mas se dão conta de não lograr mudanças favoráveis?

Assim diz o Senhor: “Alegrem-se com Jerusalém, e gozem com ela todos os que a amam; enchei-vos com ela de gozo, todos os que por ela estão enlutados”.

As Escrituras demonstram que o poder de Deus tudo pode mudar. Que Deus pode consertar e tornar tudo novamente novo.

O poder do Pai é suficiente, assim como são suficientes os méritos do Filho, e o poder do Espírito Santo. A boa vontade e misericórdia de Deus, sua fidelidade e verdade nos demonstram isso: “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”, que nunca devemos nos sentir infeliz e nos entristecermos como os que não têm esperança.

Se for uma verdade que eu sou pecador, também é verdade que meu Salvador Jesus Cristo é Justo.

É verdade que sou imundo, mas Cristo é puro. Eu sou fraco, mas Cristo é forte. Quando me sinto só e isolado, e anelo a companhia de Deus, o Senhor me faz lembrar: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.

Se minhas fraquezas me entorpecem, e me sinto incapaz de orar, “O espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis”.

Se eu tremo diante da morte e do inferno, o Senhor me diz: “Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória?”.

Se nisso crêssemos e nisso pensássemos um pouco mais, que felicidade celestial teríamos já aqui na terra! Viveríamos com nossos corações  no Paraíso! Como honraríamos e louvaríamos a Deus!

Seria como se já estivéssemos nos céus… Com o apóstolo Paulo diríamos: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”

Oh Deus, não deixes que nos tornemos arrogantes e tampouco preguiçosos. Que o diabo não nos separe de tua preciosa palavra nem cause divisões em nosso meio. Amém.

C.O. Rosenius (1816-1868) Novo Dia – Trad. Sóstenes Ferreira da Silva

A oração na vida do Pastor



Por Rev. Felipe Camargo

Introdução:

Os pastores são pessoas escolhidas por Deus para exercer o ministério da Palavra. No entanto, a expressão “ministério da Palavra” pode levar muitos pastores e pregadores menosprezar suas reais funções diante de Deus. Atos 6.4 demonstra que a preocupação principal do pastor deve ser a oração e o ministério da palavra.

Os pastores realizam um grande número de atividades em suas igrejas: visitação, aconselhamento, administração eclesiástica, etc. O ensino e a pregação da Palavra de Deus também é algo que exige muito tempo do pastor, desde a preparação até a exposição. Por causa desse grande número de atividades o pastor pode ser tentado a deixar de orar. Por imaginar ser dispensável, ou por falta de compreensão, ou por qualquer outro motivo, ignoram a sua necessidade. 

Por esse motivo, apresento, neste trabalho, a urgência da oração na vida dos ministros de Deus. Muito embora o temas “pregação” e “oração” serem desenvolvidos neste trabalho, o tema da oração será o tema central.

1. A Oração e o ministério

1.1. Oração e a dependência do Pastor

O primeiro ponto a ser desenvolvido é a dependência do pastor. Como todo cristão ele é dependente de Deus. Geralmente a falta de oração na vida de um pastor é a falta de compreensão do real significado e motivo dela. O ministro de Deus não realiza seu ministério por suas próprias forças. Ao se colocar diante de Deus em oração ele está demonstrando submissão à vontade de Deus. Sua pregação não pode ser melhor que sua oração, pois isto não está em acordo com os ensinos de Cristo.[1] Holdt afirma que:
“O ministro que não ora por seu rebanho não é ministro de jeito nenhum. Ele é orgulhoso, porque faz seu trabalho como se pudesse obter algum sucesso sem o poder de Deus”.[2]  

Rosscup neste sentido argumenta que “se Jesus, o homem, dependeu do poder divino, quanto mais necessitamos nós de fazer o mesmo”.[3] De fato, Deus não precisa da oração do líder da igreja para realizar a sua obra, mas o pastor precisa de Deus para realizar qualquer coisa. “Uma vida de oração é o calvinismo em sua melhor forma; é uma declaração simples, aberta e honesta na presença de Deus, de total impotência”.[4]  

Neemias é um grande exemplo neste ponto. Como líder do povo de Deus, demonstrava grande dependência através da oração. A oração era algo comum para ele. Logo no primeiro capítulo encontramos Neemias jejuando e orando a Deus. Enquanto estava na presença do rei Artaxerxes precisando dizer palavras sábias a ele, Neemias orou (Ne 2.4). Por diversas vezes ele roga a Deus com a expressão “lembra-te” (Ne 5.19; 6.14; 13.14,22,29,31) mostrando sua dependência.

No mesmo sentido, Jesus é outro grande exemplo. Sendo o próprio Deus ele demonstrava sua dependência do Pai em todo momento através da oração. Do começo ao fim do seu ministério esteve em oração. 

Ferguson nesse sentido afirma que a “oração é a expressão de fraqueza e de necessidade”. É por esse motivo que oramos, porque reconhecemos nossa incompetência apresentando “nossos rogos porque não podemos satisfazer-nos a nós mesmos”.[5] 

1.2. oração pelo ministério

A oração pelo próprio ministério é algo primordial. De fato o pastor deve orar pelo rebanho, mas antes disso, o pregador precisa ter o costume de orar por si e por seu próprio ministério. Russell Shedd argumenta que a oração é o meio ordenado por Deus para levantar os líderes da Igreja. Moisés foi levantado em resposta do clamor do povo. Os discípulos foram escolhidos após Jesus ter passado uma noite inteira orando.[6] E ressalta, também, que após tê-los escolhidos passou a ensiná-los sobre a necessidade da oração.[7] 

Essa oração deve ser praticada não somente pelos próprios pastores, mas por todos os que estão à sua volta. Cristo em sua oração, ora pelos seus discípulos e pela missão que eles receberam (Jo 17). Paulo em Romanos 15.30-33 pede para a igreja orar pelo seu ministério para que assim ele fale com ousadia. “Esse tipo de oração deveria estar nos nossos lábios constantemente, apresentada a Deus em favor daqueles cuja tarefa é anunciar o evangelho a outros”.[8] 

Portanto, para que o pregador possa realizar sua tarefa de maneira que agrade a Deus e tenha o melhor desempenho possível em seu ministério, é preciso orar pelo seu ministério e conseguir fazer seu rebanho esteja sustentando-o em oração.[9]  

1.3. A vida de oração do Pastor

É necessário entender que a oração deve fazer parte da vida do pastor. Não somente para a pregação em si, mas primeiramente pelo fato do ministro ser um cristão. No entanto, a sua vida de oração deve se destacar acima dos outros cristãos, pois senão “estaria desqualificado para o cargo que assumiu”.[10]  

Ao olharmos para a história de grandes pregadores, veremos que a oração sempre foi algo primordial e destacado.[11] James E. Rosscup utiliza grande parte do seu artigo “A Prioridade da pregação na pregação” relatando a importância que alguns desses grandes pregadores e professores de pregação dão a oração.[12] Neste artigo ele cita o professor de homilética David Larsen que diz que é mais importante ensinar seus alunos a orar do que a pregar.[13] 

Esta relação entre a oração e o pastor é um conceito ressaltado desde o princípio da Igreja. Os apóstolos ao nomearem os diáconos no capítulo 6 de Atos, o fazem para que não deixassem de lado sua obrigação de pregar a Palavra. Neste instante, ao dar as características dos diáconos, eles ressaltam qual seria a obrigação dos apóstolos: oração e ao ministério da Palavra.

Neste sentido, podemos perceber que aquele que se consagra ao ministério da Palavra tem a obrigação de ter uma vida de oração. Não há como um pastor se preocupar com a vida espiritual de sua igreja se ele não se preocupa com a sua. Ele deve antes de ensinar a Igreja a como ter uma vida espiritual ser um exemplo para ela.[14] Conforme Holdt:
“Os pastores precisam, invariavelmente, orar, assim como todas as outras pessoas. Eles devem fazer aquilo que todos os cristãos fazem: começar o dia com oração, programar-se a passar o dia com oração, e terminar o dia com oração, porém eles precisam ir além disso.” [15] 

2. O Pastor como pregador

Todo pastor deve ser pregador. Como foi apresentado acima, uma das prioridades do pastor deve ser a pregação. Desprezar esta tarefa é ignorar uma de suas principais tarefas. Ele deve se esmerar em ser um bom transmissor da Palavra de Deus. Portanto, uma das grandes questões a ser tratada é a relação entre a oração e a pregação.

2.1. A prática da oração pelo pregador

Tanto Lloyd-Jones quanto Spurgeon enfatizam que a oração deva ser constante na vida do pregador. Não somente no ato de orar, mas todo seu serviço como ministro está relacionado com oração cumprindo a ordem: “orai sem cessar”.[16] Ou seja, a todo o momento o pregador deve estar em espírito de oração.

Stott ressalta que muitos pastores têm seus ministérios em decadência por não darem a devida atenção ao ministério ao qual foram chamados: da Palavra e de oração. Argumenta, também, que estes pastores têm uma Igreja que não realiza sua obra por ter um pastor que trabalha por eles ao invés de se dedicar à pregação e a oração.[17] 

Neste sentido temos um grande exemplo do puritano Richard Baxter. Seu ministério era realizado de duas formas: pregações e reuniões pastorais com os membros para discussões e oração.[18] Ele mesmo afirma que é necessário conhecer o seu rebanho para poder pregar e orar por ele.[19] É necessário, portanto, orar por todo o rebanho.[20] Baxter também afirma:
“Como a oração também é força motora na realização da nossa obra, pois quem não ora por seu rebanho não lhe pregará poderosamente. Se não persuadirmos Deus a dar-lhes fé e arrependimento, não teremos probabilidade de os persuadir a crer e arrepender-se. [...] Se não persuadirmos Deus a ajudar os outros, nosso trabalho será vão.”[21]  

Portanto, assim como Holdt ressalta, é de estrema importância orar por toda a Igreja de forma nominal, ou seja, lembrando-se “de cada um individualmente”.[22] 

2.2. Oração para o preparo da pregação

Como pregador, o momento em que ele mais necessita de ter uma vida comprometida com a oração está no preparo da pregação e no transmitir a Palavra de Deus. Pois, para compreender as Escrituras é necessário a orientação do autor da mesma. 

Paulo nos ensina que as escrituras são inspiradas por Deus (2ª Tm 3.15-17). O mesmo vai nos ensinar Pedro dizendo a Palavra de Deus foi escrita por homens santos movidos pelo Espírito Santo (2ª Pe 1.21). Baseado nesta verdade, Paulo argumenta que somente o Espírito Santo conhece as grandezas de Deus (1ª Co 2.10-13). Neste sentido, MacArthur está correto ao dizer que “orar é buscar a fonte divina do entendimento – o próprio Deus”.[23] 

Grande parte das orações de Paulo tem como ênfase, que a igreja tivesse uma real compreensão das doutrinas bíblicas. Em sua carta aos efésios onde encontramos duas orações, ele roga a Deus que iluminasse o coração dos leitores (Ef. 1.15-19; 3.14-19). Da mesma forma aos colossenses, ele revela que constantemente orava pela igreja para que pudessem ter uma real compreensão da vontade de Deus (Cl 1.9). Podemos, portanto, perceber por essas afirmações de Paulo, não somente seu interesse em orar por seus rebanhos, mas que a oração para compreensão das Escrituras é algo essencial.

Anglada ressalta que devemos aprender com os reformadores, como Calvino e Lutero, que faziam do estudo e da oração a melhor regra hermenêutica:
Orare e labutare foram palavras empregadas por Calvino para resumir a sua concepção hermenêutica. Com estes termos ele expressou a necessidade de súplica pela ação iluminadora do Espírito Santo e do estudo diligente do texto e do contexto histórico, como requisitos indispensáveis à interpretação das Escrituras. Com o mesmo propósito, Lutero empregou uma figura: um barco com dois remos, o remo da oração e o remo do estudo. Com um só destes remos, navega-se em círculo, perde-se o rumo, e corre-se o risco de não chegar a lugar algum.[24]

E conclui:
Não é tempo de fazermos da oração uma prática hermenêutica, suplicando pela iluminação do Espírito Santo; e de labutarmos no estudo diligente das Escrituras, dando a devida atenção à língua e às circunstâncias históricas em que foram escritas? [25]

Para Calvino um coração devotado ao Senhor através da oração era algo primordial para a preparação de um texto. Para ele oração, e ensino estão unidos. Aquele a quem Deus chamou para ensinar na Igreja deve ser diligente na oração. [26]  

Os teólogos da Assembléia de Westminster compreendiam bem a necessidade de oração para a correta compreensão das Escrituras. Enquanto formulavam as doutrinas na Igreja eles passavam grandes momentos em oração e pregação. O início de cada sessão começava com uma oração e os jejuns eram freqüentes, pelo menos uma vez por mês:
“O Rev. Robert Baillie nos conta como num dia desses de jejum e culto houve quem orasse duas horas, sermões de uma hora entrecortados por orações de quase duas horas.” [27] 

Portanto, a oração deve vir antes de se preparar um sermão.[28] O pregador que não tem uma vida de oração demonstra falta de intimidade com o autor da Palavra. MacArthur afirma que pregar sem orar é desrespeitar o autor da Palavra:
Nenhum cristão deve olhar para baixo, para a Palavra, sem primeiro olhar para cima, para a fonte da Palavra e pedir direção. Engajar-se no estudo da Bíblia sem oração é presunção, ou até mesmo um sacrilégio.[29]

Spurgeon diz que somente através da oração as riquezas e os verdadeiros ensinos de uma determinada passagem serão encontrados.[30] “Os comentadores são bons instrutores, mas o próprio Autor é muito melhor, e a oração faz um apelo direto a Ele e O alista em nossa causa”.[31]  

2.3. A oração e a aplicação da mensagem

Há uma necessidade de que a oração e a pregação estejam ligadas. Os pregadores não têm poder para aplicar a mensagem no coração de seus ouvintes. Mas são totalmente dependentes do poder do Espírito Santo. Paulo demonstrava sua total dependência do Espírito Santo em sua pregação (1ª Co 2.4). 

A oração, dessa maneira, tem grande influência para a pregação. Se na preparação do sermão, houve dependência do Espírito, na pregação não será diferente. Orando, o pregador declara sua dependência na transmissão das verdades bíblicas. Não somente isto, mas demonstra sua dependência e completa confiança de que é o Espírito que aplicará a mensagem aos ouvintes.
“De fato, nenhuma outra coisa pode qualificar-vos tão gloriosamente para pregar como alguém que desce do monte da comunhão com Deus a fim de falar com os homens.” [32]  

Nesse sentido Spurgeon também afirma que melhor que qualquer método de eloqüência que o homem possa criar, não substitui a comunhão com Deus em oração.[33] 

Conclusão

Se nós cremos que, tanto a oração quanto a pregação bíblica, são meios que Deus se utiliza para nos abençoar, estes meios devem andar juntos. Os pastores devem ter esta consciência de que a oração é essencial para eles. Deve-se ter sempre em mente a ordem divina de “orai sem cessar”. Os pastores não foram chamados simplesmente para pregar, mas também para orar. Isso é cumprir a vocação divina. O mesmo Espírito que inspirou homens a escrever a Bíblia é o Espírito que todo pregador deve buscar em oração. Desprezar a oração ou a Palavra é desprezar o próprio Espírito Santo. 

Se o ministro de Deus despreza a necessidade da oração em sua vida ele não compreende o seu chamado. Ele precisa compreender que ele deve orar por sua vida, pelo seu ministério, pelo seu rebanho e por todos os que estão à sua volta. Como foi apresentado, a própria pregação em si necessita da oração. Desde sua preparação até a aplicação no coração dos ouvintes é necessário a atuação do Espírito Santo. Em todos os momentos o pregador é dependente desta atuação. Esta dependência é expressa através da oração do pregador e da Igreja.

É necessário, portanto, que haja um despertar no coração de cada pregador para a necessidade da oração. Não há como ter um bom ministério sem uma vida entregue a comunhão com Deus. Não é errado se preocupar com outras atividades do ministério, no entanto, é um grande erro desprezar as principais atividades: pregação e oração.

__________
Notas:
[1] SPURGEON, C. H. Lições aos meus alunos. São Paulo, SP: PES, 1990. (2). p. 66.
[2] HOLDT, Martin. Ore sempre. In: ASCOL (Ed.). Amado Timóteo. S. J. Campos, SP: Fiel, 2005. Cap.Cap. 6. p. 87-99. p. 91.
[3] ROSSCUP, James E. The Priority of Prayer in Preaching. 29 de agosto, 2008. p. 23.
[4] HOLDT. Ore sempre.p. 95.
[5] FERGUSON, Sinclair B. O Espírito Santo. São Paulo, SP: Puritanos, 2000. p. 261.
[6] SHEDD, Russell Philip. A oração: e o preparo de líderes cristãos. São Paulo, SP: Shedd Publicações, 2005. p.25-27
[7] Ibid. p. 28.
[8] CARSON, Donald A. Servos ordenados, São Paulo, SP, Edição 19, Out/Dez. 2008. p. 20.
[9] SHEDD. A oração: e o preparo de líderes cristãos. p. 42.
[10] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 48.
[11] LLOYD-JONE, David Martyn. Pregação & Pregadores. 2ª. ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 1986. p. 123.
[12] ROSSCUP. The Priority of Prayer in Preaching,  p. 33-43.
[13] Ibid. p. 35.
[14] Ibid. p. 21-22.
[15] HOLDT. Ore sempre.p. 90.
[16] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 49; LLOYD-JONE. Pregação & Pregadores. p. 124.
[17] STOTT, John R. W. A mensagem de Atos: Até os confins da terra: A Bíblia fala hoje. São Paulo, SP: ABU, 2005. p. 136.
[18] FERREIRA, Franklin. Gigantes da fé. São Paulo, SP: Vida, 2001. p. 184.
[19] BAXTER, Richard. O pastor aprovado: modelo de ministério e crescimento pessoal. 2ª. ed. São Paulo, SP: PES, 1996. p. 140.
[20] Ver. SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 70-71.
[21] BAXTER. O pastor aprovado: modelo de ministério e crescimento pessoal. p. 40.
[22] HOLDT. Ore sempre.p. 93.
[23] MacARTHUR, John. Como obter o máximo da Palavra de Deus. São Paulo, SP: CEP, 1999. p. 183
[24] ANGLADA, Paulo R. B. Orare et Labutare: A Hermenêutica Reformada das Escrituras. 25 de agosto, 2008.
[25] Ibid.
[26] LAWSON, Steven J. A arte expositiva de João Calvino. São Paulo, SP: Fiel, 2008. p. 49.
[27] KERR, Guilherme. A Assembléia de Westminster. 2ª. ed. São Paulo, SP: Fiel, 1992. p. 16.
[28] LLOYD-JONE. Pregação & pregadores. p. 120.
[29] MacARTHUR. Como obter o máximo da Palavra de Deus. p. 183.
[30] SPURGEON. Lições aos meus alunos. p. 50.
[31] Ibid. p. 51.
[32] Ibid. p. 53. 
[33] Ibid. p. 53.

***
Trabalho em cumprimento da matéria “Fundamentos bíblico-teológicos para revitalização e multiplicação de igrejas”, ministrada pelos professores. Rev. Jedeias Duarte e Rev. Arival Dias. Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper - São Paulo, SP.

Sobre o autor: Felipe Camargo é Pastor da Igreja Presbiteriana do Estoril no Riacho Grande, São Bernardo do Campo em SP. Formado em Teologia no Seminário JMC, mestrado em Divindade (M.Div), com habilitação em Pregação e cursando Mestrado em Antigo Testamento no Centro de Pós Graduação Andrew Jumper.

Artigo gentilmente cedido pelo autor ao blog Bereianos.

FRATERNIDADE CRISTÃ


E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.”(Atos 2.42-44)
Fraternidade é um termo vindo do latim frater, que significa "irmão". Por esse motivo, fraternidade significa convivência afetuosa entre irmãos; irmandade. Pode ser entendido também como amor demonstrado pelo próximo; afeto revelado àqueles os quais não se conhece.
O livro de Atos descreve a união que havia entre os seguidores de Jesus. A primeira comunidade de crentes partilhava uma intimidade que os levava a abrir seus corações e se confraternizarem. Não havia constrangimento por serem pobres ou terem problemas familiares ou outros. A fraternidade que desfrutavam tornou possível o partir do pão, de modo que não havia necessitados entre eles.
Muita coisa mudou desde o primeiro século. A vida atual não permite que as pessoas se reúnam todos os dias. Pouco restou da intimidade que havia entre os crentes. Muitos não dispõem de tempo para se devotarem ao ensino dos apóstolos e à fraternidade cristã. Outros usam máscaras para esconder suas dores, mesmo quando estão na igreja.

Uma coisa, porém, não mudou: é a nossa real necessidade de companheirismo com outros crentes. Alguns anseiam por um lugar aonde possam ir, não somente para ouvir a Palavra de Deus, mas também para encontrar refrigério. Outros se tornaram estranhos em suas próprias casas e amiúde buscam solidariedade fora – nas escolas, nos clubes ou no trabalho. Precisamos experimentar novamente aquela fraternidade dos primitivos cristãos. E isto pode ocorrer pelo poder do Espírito de Deus. 

Rev. Ronaldo P Mendes

quinta-feira, 22 de maio de 2014

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Parábolas de Jesus

Podemos ter um conceito de parábolas (em latim) ou palavras (em português), quando ela consiste em explicar, ou antes, fazer descobrir uma verdade profunda, uma realidade espiritual, por meio de comparações figuradas que tocam nosso espírito.

Razões insondáveis levaram Jesus Cristo a não escrever o que ensinava, por isso, os ensinamentos por meio de parábolas tornaram-se os mais adequados, para que pudessem ser guardados pelos Apóstolos, homens de poucos recursos intelectuais. É indubitável que as suas palavras fossem proferidas de modo direto, sem o recurso das parábolas, a sua assimilação seria muito mais difícil.

O Mestre criava personagens que davam vida às narrações de suas parábolas, as quais passavam assim a ter profundeza e extensão necessárias para que pudessem atravessar os séculos, chegando incólumes às várias gerações que o sucederiam.

Vamos enumerar algumas parábolas proferidas por Jesus:

1 – A Parábola do Semeador (Marcos 4: 3-8)
Esta parábola mostra o que acontece quando diferentes tipos de pessoas ouvem o Evangelho. Em alguns o Evangelho cria raízes, alimenta-se através do esforço do crente e se aprofunda no compromisso. Para outros o Evangelho se enraíza, mas nunca é nutrido e a fé morre. Em outros o Evangelho é pregado aos ouvidos surdos e corações duros, que apresentam um ambiente inóspito para o testemunho crescer.

2 – Do Trigo e do Joio (Mateus 13: 24-30)
O Senhor permite que o justo e o ímpio cresçam em maturidade juntos, até que estejam completamente maduros em qualquer situação: bondade ou maldade. Ele vai separar o trigo que representa os justos do joio que significa os ímpios, sendo que os primeiros vão para o Reino de Deus e os segundos para o inferno.

3 – Do Grão de Mostarda (Lucas 13: 18-22)
O grão de mostarda é uma semente minúscula, mas, uma vez lançada a terra, germina, deita raízes, através das quais assimila os elementos de que necessita; projeta-se para o ar livre, ramifica o seu caule, emite folhas até reproduzir a planta de onde provem, tornando-se a maior das hortaliças. Assim acontece com a implantação do reino dos céus na alma humana.

4 – Da Ovelha Perdida (Lucas 15: 4-7)
O Senhor se preocupa com seus filhos, tanto quanto o pastor se preocupa com suas ovelhas. Um bom pastor deixa o rebanho e vai procurar a ovelha perdida. O Senhor se alegra quando esta é encontrada e trazida de volta ao rebanho. Isso acontece em nossa vida quando abandonamos a Deus e depois voltamos a encontrá-lo pedindo perdão.

5 – Do Filho Pródigo (Lucas 15: 11-24)
Nos fala da alegria de um pai que vê o filho retornar a sua casa, pois tinha pedido ao pai que lhe entregasse sua herança, foi correr o mundo e voltou arrependido. Jesus usou esta parábola e seus dons especiais para mostrar o amor e o perdão de Deus aos pecadores que se arrependem.

6 – A dos Talentos (Mateus 25: 14-30)
Deus vai fazer-nos responsáveis pelos dons que Ele nos deu. Devemos usar esses dons para servir em seu reino terreno, especialmente para atender aos nossos semelhantes. O Senhor diz: “muito bem, servo bom e fiel; tens sido fiel sobre poucas coisas, vou te fazer reinar sobre grandes coisas.”

7 – Do Bom Samaritano (Lucas 10: 30-37)
Eis aí a demonstração clara e precisa de que os chamados hereges são muitas vezes aqueles que propiciam melhores demonstrações de amor; a prova de que não adianta ser portador de títulos relevantes no seio das religiões, se não existir a humildade e o desprendimento.

8 – Do Rico Insensato (Lucas 12: 16-20)
Pode ser vista como uma severa admoestação aos usurários e avarentos. Os bens terrenos que possuímos não têm valor algum perante os tesouros espirituais que levaremos para a eternidade.

9 – Casamento do Filho do Rei (Mateus 22: 1-14)
O rei convida todos os tipos de convidados para o casamento de seu filho. Muitos se recusam a ir. Alguns matam seus servos que ele enviou para convidá-los. Outros vêm, mas são indignos ou despreparados. Esta parábola termina assim: “Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos.” O Senhor nos convida para tornar-nos parte do Seu Reino, mas poucos se qualificam para a vida eterna em Sua presença.

Por meio das parábolas, Cristo levou a todos a mensagem da salvação, incentivando seus ouvintes a se arrependerem e crerem, a praticar sua fé e se sentia a vontade em todos os níveis sociais e sabia ministrar sabiamente a todos independente de formação ou profissão.

Fonte: 4IEQ

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Amor de Deus por você - Paul Washer (Lançamento 18 Maio 2014) (+playlist)

Pedro 3.8 Nega a Expiação Limitada ou Particular? - R. C. Sproul

Deus emprega de modo justo agentes ímpios



Por João Calvino


Uma dificuldade maior é-nos apresentada por aquelas passagens das Escrituras onde se diz que o próprio Satanás e todos os ímpios são controlados e dirigidos pela vontade de Deus. Pois a mente natural dificilmente pode compreender como Deus pode operar pela instrumentalidade deles, e ainda permanecer livre de toda a culpa e lavrar uma sentença justa contra Seus próprios agentes. Para enfrentar esta dificuldade, alguns inventaram uma distinção entre aquilo que Deus faz e aquilo que Ele permite. Mas isso, embora seja bem intencionado, é uma tentativa para vindicar a honra de Deus por meio de uma teoria falsa; porque Ele mesmo repudia tal defesa ao dizer claramente que faz as coisas referidas. Inúmeras passagens das Escrituras comprovam claramente que os homens não realizam nada senão de acordo com o decreto sigiloso de Deus.

Quando o salmista diz: "No céu está o nosso Deus; e tudo faz como lhe agrada" (Sal. 115:3), fica evidente que isto inclui todas as ações dos homens; e esta verdade é vista mais claramente em ocorrências especiais. Sabemos pelo livro de Jó que Satanás se apresenta diante de Deus para receber ordens tanto quanto os santos anjos que obedecem de boa vontade. Logo, quando Satanás e os sabeus afligiram e roubaram a Jó, ele reconheceu que a mão de Deus o fizera, e disse: "O Senhor o deu, e o Senhor o tomou." Da mesma maneira, quando foi da vontade de Deus que Acabe fosse enganado, "Então saiu um espírito e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei." Disse o Senhor: "Tu o enganarás, e ainda prevalecerás; sai, e faze-o assim." Se a cegueira e a estultícia de Acabe lhe sobrevieram como julgamento da parte de Deus, a teoria de uma simples permissão é vã; porque seria absurdo para um juiz meramente permitir a execução de uma sentença, e não decretar que fosse executada.

E mais: era o propósito dos judeus destruir a Cristo; Pilatos e os soldados cumpriram seus desejos furiosos, mas os discípulos confessaram na linguagem solene da oração que os ímpios fizeram somente o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At. 4:27-28). Eu poderia aduzir muitos outros exemplos de outras partes das Escrituras.

Aquilo que Salomão diz a respeito do coração do rei, isto é, que está na mão do Senhor que o dirige para onde quiser, é igualmente verdadeiro acerca dos corações de todos os homens. Até os conceitos de nossas mentes são dirigidos pelo poder sigiloso de Deus para cumprir Seus propósitos. Nada pode comprovar isto mais claramente do que o fato de que Deus tão frequentemente nos diz que cega as mentes dos homens, aflige-os com delírio, derrama sobre eles o espírito do sono, fere-os com loucura, endurece seus corações. (Ver Rom. 1:26 e 11:8). Muitos, conforme dissemos, atribuem todas estas declarações à "vontade permissiva de Deus" mas esta solução não me parece sábia, visto que o Espírito Santo expressamente declara que a cegueira e a loucura são infligidas sobre os ímpios pelo reto juízo de Deus.

Até este ponto tenho apenas exposto o que é aberta e claramente ensinado nas Escrituras; portanto considerem que tipo de censura tomam sobre si todos aqueles que estigmatizam os oráculos sagrados com difamação. Se disserem, "Tais coisas estão além do nosso conhecimento, e queremos crédito pela nossa modéstia em deixá-las como estão", eu respondo: "O que pode ser mais arrogante do que falar uma única sílaba contra a autoridade de Deus, e dizer: "Eu penso de modo diferente", ou "É melhor não tocar em tais doutrinas?" Semelhante arrogância não é novidade; pois em todos os tempos houveram homens ímpios, sem Deus, que têm atacado esta verdade como cães furiosos. Tais insolentes descobrirão que as palavras de Davi são verídicas, que Deus "será tido por justo... no seu julgar" (Sal. 51:4).

Tem-se argumentado que, se nada acontece senão segundo a vontade de Deus, então Ele deve ter duas vontades contrárias, pois secretamente decreta o que na Sua lei abertamente proíbe. É fácil desmascarar esta falácia, mas antes de fazer isso, deixem-me lembrar aos meus leitores que se trata de uma cavilação contra o Espírito Santo e não contra mim; pois o Espírito Santo certamente ensinou a Jó a dizer: "O Senhor o tomou", quando salteadores o despojaram dos seus bens. Está escrito também que os filhos de Eli não obedeciam a seu pai, porque o Senhor resolvera matá-los (1 Sam. 2:25). Assim também, em tempos posteriores, a Igreja diz que Herodes e Pilatos conspiraram juntos para fazerem o que a mão de Deus e o Seu propósito predeterminaram (At. 4:27-28). Realmente, se Cristo não tivesse sido crucificado pelo desígnio de Deus, como poderíamos ter obtido a redenção?

O fato é que Deus não está em desacordo com Si mesmo, nem sofre mudança Sua vontade, nem finge que não deseja as coisas que deseja. Sua vontade é una e indivisa, mas parece-nos, por causa da fraqueza do nosso entendimento, que está em desacordo com ela mesma. Sobre este assunto Agostinho tem uma declaração com a qual todas as pessoas piedosas concordarão: "Alguns homens têm bons desejos que não estão de acordo com a vontade de Deus, e outros têm maus desejos que estão de acordo com a vontade de Deus. Por exemplo, um bom filho pode corretamente desejar que seu pai viva, ao passo que é a vontade de Deus que morra; e um mau filho pode maldosamente desejar que seu pai morra, quando é também a vontade de Deus que o pai morra. E mesmo assim, o filho piedoso agrada a Deus ao desejar aquilo que não é da vontade de Deus; enquanto o filho ímpio desagrada a Deus ao desejar aquilo que é da vontade de Deus." 

Deus às vezes cumpre Seus propósitos justos mediante os maus propósitos dos ímpios. O mesmo escritor (Agostinho) diz que os anjos apóstatas e todos os ímpios, no que lhes dizia respeito, fizeram aquilo que era contrário à vontade de Deus; mas, quanto à Sua onipotência, era impossível para eles fazerem qualquer coisa contra a Sua vontade; pois, enquanto agem em oposição à vontade de Deus, ela é cumprida por eles. Acrescenta que um Deus bom não permitiria que o mal fosse feito, a não ser que um Deus onipotente pudesse transformá-lo em bem.

Uma resposta semelhante pode ser dada a outra objeção que tem sido feita contra a verdade que agora estamos considerando. A objeção é a seguinte: Se Deus não somente emprega a instrumentalidade dos ímpios, como também governa seus planos e paixões, porventura não seria Ele o autor de todos os seus crimes? E quanto aos homens que estão sujeitos à Sua vontade, não estariam injustamente condenados por cumprirem Seus decretos? Este falso raciocínio confunde a vontade de Deus com Seu mandamento, embora fique evidente por muitos exemplos que há uma diferença muito grande entre eles. Foi a vontade de Deus que o adultério de Davi fosse vingado pela imoralidade de Absalão (com as concubinas do seu pai); mas não se segue que Deus ordenou a Absalão cometer tal ato incestuoso; a não ser que possamos falar assim a respeito de Davi, da mesma maneira que ele fala das maldições de Simei. Quando o rei disse:"Deixai-o, que amaldiçoe, pois o Senhor lhe ordenou" (2 Sam. 16:11), de modo algum recomendava Simei por sua obediência a Deus; mas, reconhecendo que a língua maligna daquele homem era o flagelo de Deus, submeteu-se pacientemente a ser castigado por ela. Devemos apegar-nos firmemente ao princípio de que os ímpios, por cujo intermédio Deus realiza os Seus justos julgamentos e decretos, não devem ser considerados inculpáveis como se tivessem obedecido ao Seu mandamento, mandamento este que atrevida e deliberadamente quebram.


É sábio abraçarmos com mansidão e humildade tudo quanto é ensinado nas Sagradas Escrituras. Aqueles que têm a insolência de difamar suas doutrinas soltam suas línguas contra Deus e não são dignos de mais refutação.

***
Fonte: CALVINO, João. As Institutas: Edição Clássica. Vol. 1, Cap. XVIII. São Paulo: Cultura Cristã, 2006
Via: O Calvinista

Vista Seus Sonhos com Tecido Resistente


Alguns colegiais pensam que o trabalho manual conduz à Presidência. . . até que recebam o diploma. De repente, raia a luz. A realidade franze o cenho. E aquele estudante esforçado, inteligente, vesgo, que se especializou em literatura medieval e se desinteressou do latim atinge a maioridade. Ele experimen­ta uma estranha sensação no íntimo do abdô­men duas semanas depois de mandar pôr no quadro o seu diploma. Fome. Notável motiva­ção acompanha este sentimento.

Suas tentativas para encontrar emprego são fúteis. Aqueles lugares que possuem vaga em realidade não necessitam de um cara com mestrado em literatura medieval. Nem mes­mo sabem o que é isto.

Quem se importa se um motorista de caminhão entende poesia européia do século décimo-segundo? Ou que importa se o colega que coloca os estoques nas prateleiras do supermercado pode citar-lhe a nona letra do alfabeto latino?

Quando se trata de obter um emprego, a maioria dos empre­gadores são notoriamente pragmáticos e na­da sofisticados. Eles estão procurando pes­soas que tenham mais do que conhecimento acadêmico e rugas entre suas orelhas. Real­mente pouco lhes importa quanto um rapaz ou uma moça sabe.

O que eles querem é alguém que possa pôr em uso o conhecimento que foi adquirido, seja no campo da geologia ou da contabilidade, seja na engenharia ou no assentamento de canos, seja na física ou na barbearia, seja no jornalismo ou como solda dor.

Isso não acontece por acaso. As pessoas mui­to procuradas hoje são aquelas que sabem usar a imaginação — depois concretizá-la. As que podem pensar e depois levar a bom ter­mo. Aquelas que vestem seus sonhos ousados com vestimentas práticas de tecido resistente. Isso exige certa medida de talento, um toque de perícia e uma tonelada de disciplina!

Ser prático exige que trafeguemos na realidade, permanecendo flexíveis nas interligações on­de as luzes piscam indicando pare e siga. Também demanda compreensão dos outros que estão dirigindo de modo que evite coli­sões.

Outra marca de particularidade é uma constante consciência de tempo. A vida de uma pessoa prática e descomplicada é geralmente metódica. A mente prática preferiria satisfazer um prazo final e decidir-se por ob­jetivos limitados a realizar o máximo e atra­sar-se.

As expressões prediletas de uma alma prá­tica muitas vezes começa com "qual?"
O que é que o emprego exige?
Que é que você espera de mim?
Qual é o último prazo?
Quais são as técnicas? Ou "como". . .
Como isso funciona?
Como fazê-lo no menor prazo? Ou "quanto?"
Quando custa?
Quanto tempo vai levar?

Os sonhadores não se misturam muito bem com os pragmáticos. Eles se irritam mutuamente quando se encontram. . . não obstante ambos são necessários. Elimine-se o primeiro e você tem um resultado previsível e muitas vezes sem vida. Remova-se o último e você tem idéias criativas sem rodas, visões brilhan­tes mas irrealizáveis. . . e você se esgota ten­tando levantar vôo. . .

A Bíblia está cheia de homens e mulheres que tiveram sonhos e viram visões. Mas não se detiveram aí. Eles tinham fé, eram pessoas que viam o impossível, e ainda assim seus pés estavam plantados no planeta Terra.

Tomemos Neemias como exemplo. Que homem! Coube-lhe a tarefa de reconstruir o mu­ro de pedra ao redor de Jerusalém. Ele passou dias pensando, orando, observando, sonhan­do e planejando. Mas sempre era prático! Or­ganizou um grupo desordenado em equipes de trabalho. . . enfrentou a crítica com realis­mo. . . permaneceu na tarefa sem apagar fo­gueiras desnecessárias. . . ele cumpriu os pra­zos finais. . . e manteve o orçamento.

Ou tomemos Abigail. Que mulher! Ela era casada com um delator de primeira categoria, chamado Nabal. Devido à sua falta de sabedo­ria, à sua ganância, ao seu preconceito e ao egoísmo, ele suscitou a cólera de seus empre­gados. Eles traçaram planos para matá-lo. Sendo uma mulher de fé, Abigail percebeu a trama, orou e planejou. Então fez algo notá­vel. Preparou uma refeição para aqueles ho­mens famintos e revoltados. Mulherzinha inteligente! Devido a seu espírito prático, a vida de Nabal foi salva e um bando de homens irados foi acalmado e voltou atrás.

É a pessoa prática, escreve Emerson, que se torna "uma veia em tempos de terror e atrai a admiração dos mais sábios". Muito verda­deiro. Fato surpreendente com relação à pes­soa prática — talvez ela não tenha muita graça ou não tenha os mais profundos pensamen­tos, mas raramente passa fome!

Está terminando os estudos? Procurando um emprego? Este é o motivo de você estar desanimado?

Lembre-se disto — os sonhos são fantasias e as visões têm o seu sabor. Mas em última análise, quando chegar a hora do acer­to de contas elas terão de ser pagas com tra­balho manual. Mão de obra... trabalho duro forjado na fornalha da praticabilidade.

Meu conselho de estímulo a você é. . . en­frente-o. Seja prático!

Extraído do livro Dê-me ânimo de Charles R. Swindoll