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A fim de “preservar o caráter de Deus”, os arminianos acreditam que para isso, a única solução possível é a de que os homens, necessariamente, devem ter o que é chamado de livre arbítrio libertário. De acordo com Roger Olson, o livre arbítrio libertário (ou livre arbítrio não compatibilista) “é a livre agência que permite às pessoas fazerem o contrário do que fazem”[1]. É o que poderíamos chamar também de “poder de escolha contrária”. Olson nos dá um exemplo em sua obra para que possamos entender melhor o que isso significa. Vejamos:
O mesmo autor aplica este conceito aos assuntos espirituais afirmando que este é um dom de Deus por meio da graça preveniente, isto é, a graça que capacita os primeiro indícios de uma boa vontade em relação a Deus.
Outra razão pela qual os arminianos creem que o livre arbítrio libertário é o único refúgio para resolver os problemas teológicos, é que somente tal conceito é compatível com a responsabilidade humana. Em outras palavras, alguém só pode ser considerado responsável por seus atos se ele puder escolher o contrário. Afirmar algo diferente seria injustiça! Dizem eles.
Vale salientar também que, segundo os proponentes deste conceito, negá-lo, é ir contra a nossa própria “intuição”, ou contra o nosso próprio sistema de leis, e que a ideia de um poder de escolha contrária é bastante “óbvia”.
No entanto, tais afirmações nada mais são que estados subjetivos. Assim, um arminiano não pode provar a existência de um livre arbítrio meramente porque ele é “tão óbvio” como parece. O óbvio deve ser transformado em argumentos conclusivos antes que o ponto seja óbvio para outra pessoa.
Para não ficarmos presos no abstrato, vejamos apenas um exemplo bíblico que supostamente pressupõe o livre arbítrio libertário. Depois analisaremos outros textos que provam o contrário.
Talvez um dos mais usados (ou o mais usado) é o exemplo de Caim. A Bíblia diz: “Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” (Gn 4.6-7).
Muitos afirmam que o caso de Caim é um exemplo nítido de livre arbítrio libertário. Estes dizem que é bastante óbvio que Caim poderia ter escolhido fazer o contrário. Por que eles afirmam isso? Simplesmente porque qualquer outra ideia que não esse poder de escolha contrária faria de Deus um ser ambíguo e não haveria como responsabilizar o homem uma vez que ele não podia fazer diferente. Mas nada disso é pressuposto aqui no texto. Em primeiro lugar, Deus de forma alguma estaria sendo ambíguo. Ele não está sendo incoerente senão falando uma verdade: “porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” Onde a Bíblia nos diz que o dever pressupõe o poder? Em nenhum lugar das escrituras, a responsabilidade pressupõe liberdade (ou livre arbítrio). Ademais, as escrituras sequer tratam da relação entre estes conceitos.
Agora, atentemos para uma passagem do novo testamento que contraria o conceito aqui tratado. É a passagem em que Pedro nega a Cristo por três vezes. Mas antes, permitam-me inquirir: Pedro foi responsabilizado (ou pode ser responsabilizado) ou não por ter negado a Cristo? Eu acredito que todos concordam que sim. A outra pergunta é: Pedro poderia não ter negado a Cristo? Isto é, ele poderia ter feito o contrário? Vejamos o texto:
Observem que Jesus enfaticamente afirma que Pedro, antes que o galo cantasse, o negaria por três vezes. O mais interessante é que o próprio Pedro diz: “de modo algum te negarei”. E o que aconteceu? A Bíblia prossegue o relato em Mateus 26.69-74 afirmando que Pedro realmente nega a Cristo por três vezes como Jesus havia dito. Finalmente, No v. 75 diz: “Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E saindo dali, chorou amargamente”.
Então, onde está o livre arbítrio libertário aqui? Em outras palavras, Pedro poderia ter feito diferente? Vimos que não. Afirmar o contrário faria do próprio Cristo um mentiroso (ou não-onisciente) uma vez que ele disse que Pedro o negaria e, é claro, ninguém se atreve a afirmar algo desse tipo. E a responsabilidade, onde fica? Para o calvinista não há nenhum problema em responder que ela permanece, esta pergunta fica para o arminiano que sustenta que alguém só pode ser responsabilizado por algo se ele puder fazer o contrário.
Vejamos II Pe 1.20: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” Todos nós sustentamos a inspiração bíblica, que a Bíblia é a palavra de Deus e que foi escrita por homens da parte de Deus. Pense um pouco agora: como poderia ter acontecido se esses escritores tivessem liberdade libertária? Se em vez de cada palavra, cada construção gramatical que eles escreveram eles pudessem ter escrito outra coisa e Deus não pudesse controlar o que eles escreveram? Se eles tivessem liberdade libertária e essa é a palavra de Deus, Deus deu muita sorte. Essa é a única conclusão que nós podemos chegar.
Poderíamos citar outros textos, mas estes são suficientes para mostrar a falácia do livre arbítrio libertário. Nesse sentido, podemos ver que tal conceito acarreta vários problemas teológicos, além de não ter respaldo bíblico.
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Nota:
[1] OLSON, Roger. Teologia arminiana: mitos e realidades. 1 ed. São Paulo: Reflexão, 2013.
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Por Francisco Alison Silva Aquino
A fim de “preservar o caráter de Deus”, os arminianos acreditam que para isso, a única solução possível é a de que os homens, necessariamente, devem ter o que é chamado de livre arbítrio libertário. De acordo com Roger Olson, o livre arbítrio libertário (ou livre arbítrio não compatibilista) “é a livre agência que permite às pessoas fazerem o contrário do que fazem”[1]. É o que poderíamos chamar também de “poder de escolha contrária”. Olson nos dá um exemplo em sua obra para que possamos entender melhor o que isso significa. Vejamos:
“Por exemplo, uma pessoa pode escolher livremente entre pizza e macarrão para o jantar [presumindo que ambos estejam disponíveis], se a pessoa escolher macarrão, a escolha é livre no sentido não compatibilista de que a pizza também poderia ter sido escolhida. Nada determinou a escolha do macarrão, exceto a decisão da pessoa.” (p.27).
O mesmo autor aplica este conceito aos assuntos espirituais afirmando que este é um dom de Deus por meio da graça preveniente, isto é, a graça que capacita os primeiro indícios de uma boa vontade em relação a Deus.
Outra razão pela qual os arminianos creem que o livre arbítrio libertário é o único refúgio para resolver os problemas teológicos, é que somente tal conceito é compatível com a responsabilidade humana. Em outras palavras, alguém só pode ser considerado responsável por seus atos se ele puder escolher o contrário. Afirmar algo diferente seria injustiça! Dizem eles.
Vale salientar também que, segundo os proponentes deste conceito, negá-lo, é ir contra a nossa própria “intuição”, ou contra o nosso próprio sistema de leis, e que a ideia de um poder de escolha contrária é bastante “óbvia”.
No entanto, tais afirmações nada mais são que estados subjetivos. Assim, um arminiano não pode provar a existência de um livre arbítrio meramente porque ele é “tão óbvio” como parece. O óbvio deve ser transformado em argumentos conclusivos antes que o ponto seja óbvio para outra pessoa.
Para não ficarmos presos no abstrato, vejamos apenas um exemplo bíblico que supostamente pressupõe o livre arbítrio libertário. Depois analisaremos outros textos que provam o contrário.
Talvez um dos mais usados (ou o mais usado) é o exemplo de Caim. A Bíblia diz: “Então o Senhor perguntou a Caim: Por que te iraste? e por que está descaído o teu semblante? Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” (Gn 4.6-7).
Muitos afirmam que o caso de Caim é um exemplo nítido de livre arbítrio libertário. Estes dizem que é bastante óbvio que Caim poderia ter escolhido fazer o contrário. Por que eles afirmam isso? Simplesmente porque qualquer outra ideia que não esse poder de escolha contrária faria de Deus um ser ambíguo e não haveria como responsabilizar o homem uma vez que ele não podia fazer diferente. Mas nada disso é pressuposto aqui no texto. Em primeiro lugar, Deus de forma alguma estaria sendo ambíguo. Ele não está sendo incoerente senão falando uma verdade: “porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” Onde a Bíblia nos diz que o dever pressupõe o poder? Em nenhum lugar das escrituras, a responsabilidade pressupõe liberdade (ou livre arbítrio). Ademais, as escrituras sequer tratam da relação entre estes conceitos.
Agora, atentemos para uma passagem do novo testamento que contraria o conceito aqui tratado. É a passagem em que Pedro nega a Cristo por três vezes. Mas antes, permitam-me inquirir: Pedro foi responsabilizado (ou pode ser responsabilizado) ou não por ter negado a Cristo? Eu acredito que todos concordam que sim. A outra pergunta é: Pedro poderia não ter negado a Cristo? Isto é, ele poderia ter feito o contrário? Vejamos o texto:
“Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que esta noite, antes que o galo cante três vezes me negarás. Respondeu-lhe Pedro: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo algum te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos.” (Mt 26.34)
Observem que Jesus enfaticamente afirma que Pedro, antes que o galo cantasse, o negaria por três vezes. O mais interessante é que o próprio Pedro diz: “de modo algum te negarei”. E o que aconteceu? A Bíblia prossegue o relato em Mateus 26.69-74 afirmando que Pedro realmente nega a Cristo por três vezes como Jesus havia dito. Finalmente, No v. 75 diz: “Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: antes que o galo cante, tu me negarás três vezes. E saindo dali, chorou amargamente”.
Então, onde está o livre arbítrio libertário aqui? Em outras palavras, Pedro poderia ter feito diferente? Vimos que não. Afirmar o contrário faria do próprio Cristo um mentiroso (ou não-onisciente) uma vez que ele disse que Pedro o negaria e, é claro, ninguém se atreve a afirmar algo desse tipo. E a responsabilidade, onde fica? Para o calvinista não há nenhum problema em responder que ela permanece, esta pergunta fica para o arminiano que sustenta que alguém só pode ser responsabilizado por algo se ele puder fazer o contrário.
Vejamos II Pe 1.20: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” Todos nós sustentamos a inspiração bíblica, que a Bíblia é a palavra de Deus e que foi escrita por homens da parte de Deus. Pense um pouco agora: como poderia ter acontecido se esses escritores tivessem liberdade libertária? Se em vez de cada palavra, cada construção gramatical que eles escreveram eles pudessem ter escrito outra coisa e Deus não pudesse controlar o que eles escreveram? Se eles tivessem liberdade libertária e essa é a palavra de Deus, Deus deu muita sorte. Essa é a única conclusão que nós podemos chegar.
Poderíamos citar outros textos, mas estes são suficientes para mostrar a falácia do livre arbítrio libertário. Nesse sentido, podemos ver que tal conceito acarreta vários problemas teológicos, além de não ter respaldo bíblico.
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Nota:
[1] OLSON, Roger. Teologia arminiana: mitos e realidades. 1 ed. São Paulo: Reflexão, 2013.
Fonte: Pelo Calvinismo
Imagem: A Negação de Pedro, por Caravaggio - 1610, atualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Layout adaptado ao blog Bereianos.
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