segunda-feira, 19 de maio de 2014

A ética dos meios de comunicação


Por E. D. Cock


O mundo dos meios de comunicação abrange os diversos meios dos livros, os periódicos, as revistas, o rádio, a televisão, o cinema, os discos, o CD, e o crescente âmbito dos ordenadores e os sistemas visuais e as táticas interativas. Os meios de comunicação controlam e processam massas de informação, oferecendo educação e conhecimento além do ócio. Levantam-se várias questões éticas sobre a natureza dos diversos meios. O impacto do visual e as imagens que emite, assim como as novas possibilidades que oferece a “realidade virtual”, que nos permite participar e experimentar sendo, ao mesmo tempo, meros expectadores, suscita perguntas fundamentais sobre os abusos do sistema e o controle necessário.

A centralidade da verdade e o perigo de manipulá-la, simplificando-a em excesso ou distorcendo-a para encaixar com o meio, o tempo disponível, a intenção do produtor e os desejos do proprietário da empresa, são temas importantes. A própria diversidade dos meios e as diferentes apresentações das mesmas notícias respaldam a crítica feita aos meios de comunicação por seus prejuízos e sua falta de objetividade.

É possível que o propósito da mídia de massa seja o de informar, educar ou o entretenimento. Os limites adequados a estes propósitos que concedem ao expectador/leitor a liberdade de formular os seus próprios juízos sobre a vida são cruciais. É importante considerar se os meios intentam controlar e conformar a opinião pública ou meramente refleti-la. Em questões políticas e morais isto pode levar a evitar que o poder resida em mãos de uns poucos proprietários de meios de comunicação, que não são eleitos pela maioria, nem são representantes dela.

A lei intenta controlar os meios de comunicação equilibrando a necessidade de liberdade de imprensa com a proteção de pessoas vulneráveis, mediante leis sobre o libelo e a difamação. A invasão de privacidade pode ser legislada, e no contexto de um tribunal, a informação ou as restrições de identidade protegem ao inocente, quando por exemplo, se salvaguarda o anonimato de uma vítima de violação. O governo limita os meios quando estão em jogo questões de segurança nacional.

Aqueles que trabalham em e para os meios de comunicação podem enfrentar-se com problemas morais relativos a conflitos de interesses, que podem afetar a sua objetividade e capacidade de informar adequada e justamente. A implicação com uma fonte de notícias ou a pressão de um superior para omitir ou acrescentar um ponto informativo pode criar outros problemas.

O impacto dos meios na vida social e na política suscita a questão moral de até que ponto deveriam respaldar ou questionar o status quo. As campanhas políticas são afetadas diretamente pela televisão, com sua ênfase nos “debates públicos”, a política das personalidades e as oportunidades de se usar fotografias inconvenientes.

A imprensa e os meios “sujos” são culpados de criar ambientes que induzem ao indivíduo a atuar de maneira criminal ou ofensiva. Isto encontra eco no “periodismo de cheque” que compra histórias e corre o risco de fazer uma montanha com apenas um grão de areia, enquanto se prende na ganância e vulnerabilidade das pessoas. Os meios somente regulam-se a si mesmos, como nas situações em que corre perigo a vida do repórter senão oculta as informações sobre um sequestro ou os detalhes de determinados crimes. O uso de fontes informativas anônimas nos leva a questionar como ele obteve a informação. Temas como o suborno e o pagamento de serviços prestados são questões morais.

Também é possível que um governo abuse dos meios e intente censurar a informação. A sociedade expressa seus pontos de vista sobre tais questões mediante a lei e seu cumprimento, mas as sociedades seculares estão profundamente divididas a respeito da liberdade dos indivíduos para criar e contemplar a pornografia, e sobre a necessidade de controlar o material sexualmente explícito e violento. Parte dessa preocupação centraliza-se no impacto que tais coisas têm sobre os vulneráveis e jovens. Não se chega a um acordo sobre o grau em que as pessoas se endurecem e se tornam insensíveis, convertendo-se em imitadores ou são estimulados. Frequentemente os meios de comunicação se limitam mediante a normativa de não emitir certos programas (com cenas sexuais ou violentas explicitas ou uma linguagem inconveniente) antes das nove da noite. Há certas organizações e autoridades nacionais que tratam as reclamações do público contra os meios, ainda que as penas impostas frequentemente pareçam ser ineficazes.

A publicidade, nas questões de dizerem a verdade, exagerar, criar imagens ou induzir a má interpretação são áreas morais nas quais as autoridades reguladoras da publicidade lutam incessantemente para manter alguns padrões de integridade elevados.

O interesse cristão centraliza-se na importância da verdade como parte das exigências e mandamentos divinos sobre a humanidade, assim como na verdade em sua plena e definitiva expressão em Cristo. A preocupação com o impacto da mídia nos vulneráveis e crianças deve ir conjugada ao que devemos sentir pelas imagens que projetam das mulheres, os grupos raciais e anciãos. O modo como a publicidade cria necessidade e conduz a uma dívida crescente dentro de uma sociedade baseada no consumo e egoísta, revela o poder dos meios para criar e reforçar valores. Há que revelar tais valores, provando-os para justificar a sua correspondência com os valores que devem manifestar os cristãos e segundo os quais devem viver.

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Fonte: E.D. Cock, “Ética de los médios de comunicación, La in: David J. Atkinson, Diccionario de Ética Cristiana y Teología Pastoral (Barcelona, Editorial CLIE & Publicaciones Andamio, 2004), pp. 559-561.

Tradução: Ewerton B. Tokashiki, em 12 de Março de 2014.

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