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Dada a óbvia evidência da eleição nas escrituras, muitos arminianos hoje estão atraídos para a visão de que Deus escolheu a igreja como uma entidade corporativa em Cristo desde toda a eternidade, mas não indivíduos para pertencer a ela.[1] Embora haja, é claro, indivíduos escolhidos para certas tarefas (como Davi e Ciro) e outros são rejeitados (como Faraó e Saul), esses contextos não têm nada a ver com a salvação, argumenta Ben Witherington.
A eleição para Paulo é uma coisa corporativa. Estava no Israel étnico; está agora em “Cristo”. Do ponto de vista de Paulo, que é simplesmente uma adaptação da visão encontrada no judaísmo primitivo, “eleição” não garante a salvação final dos cristãos convertidos individuais maior do que garantia a salvação dos israelitas individuais no passado.[2]
Essa visão é falha não pelo que afirma, mas pelo que nega. Os calvinistas concordam que a igreja, como conhecida por Deus, é o corpo corporativo dos eleitos. Também enfatizam que a eleição é “em Cristo”, o mediador que é o Deus que elege bem como o cabeça em quem o povo é escolhido. Também concordamos que algumas pessoas são escolhidas e rejeitadas para certas tarefas temporais que não dizem respeito à salvação.
Entretanto, há simplesmente muita evidência bíblica para a eleição de indivíduos em Cristo para esquecer o assunto. O argumento de Paulo em Romanos 9 é oposto à afirmação de Witherington. De fato, o apóstolo baseia seu argumento para a liberdade divina de eleger e rejeitar no fato de que ele exerceu essa liberdade na história de Israel. É incontestável que os indivíduos estão em vista: eles têm nomes (Ismael e Isaque, Jacó e Esaú, Moisés e Faraó). Além disso, a aplicação de Paulo é claramente soteriológica (isto é, concernente à salvação). “Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Romanos 9.8).
A questão tem a ver com ser “herdeiros da promessa” — isto é, herdeiros da graça salvadora de Deus na história. Porque ela está baseada no “propósito de Deus conforme a eleição [...] não por obras, mas por aquele que chama”, a salvação é completamente pela graça (Romanos 9.11, 12). Não é uma questão de quem Deus usará em seu serviço para tarefas específicas, mas se as pessoas são salvas por “desejo ou esforço humanos” ou pela “misericórdia de Deus” (v. 16). Alguns são “vasos de sua ira” não meramente num sentido temporal, mas como aqueles “preparados para a destruição”, em contraste com os “vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para a glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios” (v. 22-24).
Efésios 1 é também claramente soteriológico no contexto e inclui indivíduos (“os santos que estão em Éfeso”). Os dois argumentos estão evidentes no texto:
“Porque Deus nos escolheu nele [em Cristo] antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo [...] Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados [...] Nele também fomos escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade.” (Efésios 1.4-5, 7, 11).
Certamente ninguém diria que indivíduos não são adotados ou que Cristo redimiu por meio de seu sangue a igreja corporativamente, mas não indivíduos, ou que a igreja, e não os indivíduos que a compõem, é perdoada.
Além disso, Paulo acrescenta: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Certamente ele está falando a indivíduos bem como à igreja enquanto corporação. O apóstolo diz aos tessalonicenses que “Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do espírito e a fé na verdade” (II Tessalonicenses 2.13). Aqui não é apenas a igreja que é escolhida, mas os crentes Tessalonicenses que foram escolhidos para crerem no evangelho. Não é apenas a igreja, mas crentes individuais que são salvos, “não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Essa graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (II Timóteo 1.9).
A eleição corporativa é meramente outro modo de expressar a visão tradicional arminiana da eleição baseada na fé antevista: Deus elege os crentes, mas não elege pecadores a crer. Todos os que aceitam a Cristo estão salvos (e, portanto, eleitos), mas Deus não elege ninguém para a salvação. Entretanto, as escrituras ensinam que Deus elegeu sua igreja em Cristo porque ele escolheu quem pertencerá a ela desde a eternidade.
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Notas:
[1] Veja, por exemplo, Robert Shank, Elect in the son: a Study of the Doctrine of election (Minneapolis: Bethany, 1970); William Klein, The New Chosen People: A Corporate View of Election (Grand Rapids: Zondervan, 2005).
[2] Bem Witherington, The Problem with Evangelical Theology: Testing the Exegetical Foundations of Calvinism, Dispensacionalism and Wesleyanism (Waco, Tx: Baylor Univ. Press, 2005). 62 – 3.
***Dada a óbvia evidência da eleição nas escrituras, muitos arminianos hoje estão atraídos para a visão de que Deus escolheu a igreja como uma entidade corporativa em Cristo desde toda a eternidade, mas não indivíduos para pertencer a ela.[1] Embora haja, é claro, indivíduos escolhidos para certas tarefas (como Davi e Ciro) e outros são rejeitados (como Faraó e Saul), esses contextos não têm nada a ver com a salvação, argumenta Ben Witherington.
A eleição para Paulo é uma coisa corporativa. Estava no Israel étnico; está agora em “Cristo”. Do ponto de vista de Paulo, que é simplesmente uma adaptação da visão encontrada no judaísmo primitivo, “eleição” não garante a salvação final dos cristãos convertidos individuais maior do que garantia a salvação dos israelitas individuais no passado.[2]
Essa visão é falha não pelo que afirma, mas pelo que nega. Os calvinistas concordam que a igreja, como conhecida por Deus, é o corpo corporativo dos eleitos. Também enfatizam que a eleição é “em Cristo”, o mediador que é o Deus que elege bem como o cabeça em quem o povo é escolhido. Também concordamos que algumas pessoas são escolhidas e rejeitadas para certas tarefas temporais que não dizem respeito à salvação.
Entretanto, há simplesmente muita evidência bíblica para a eleição de indivíduos em Cristo para esquecer o assunto. O argumento de Paulo em Romanos 9 é oposto à afirmação de Witherington. De fato, o apóstolo baseia seu argumento para a liberdade divina de eleger e rejeitar no fato de que ele exerceu essa liberdade na história de Israel. É incontestável que os indivíduos estão em vista: eles têm nomes (Ismael e Isaque, Jacó e Esaú, Moisés e Faraó). Além disso, a aplicação de Paulo é claramente soteriológica (isto é, concernente à salvação). “Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão” (Romanos 9.8).
A questão tem a ver com ser “herdeiros da promessa” — isto é, herdeiros da graça salvadora de Deus na história. Porque ela está baseada no “propósito de Deus conforme a eleição [...] não por obras, mas por aquele que chama”, a salvação é completamente pela graça (Romanos 9.11, 12). Não é uma questão de quem Deus usará em seu serviço para tarefas específicas, mas se as pessoas são salvas por “desejo ou esforço humanos” ou pela “misericórdia de Deus” (v. 16). Alguns são “vasos de sua ira” não meramente num sentido temporal, mas como aqueles “preparados para a destruição”, em contraste com os “vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para a glória, ou seja, a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios” (v. 22-24).
Efésios 1 é também claramente soteriológico no contexto e inclui indivíduos (“os santos que estão em Éfeso”). Os dois argumentos estão evidentes no texto:
“Porque Deus nos escolheu nele [em Cristo] antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo [...] Nele temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados [...] Nele também fomos escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade.” (Efésios 1.4-5, 7, 11).
Certamente ninguém diria que indivíduos não são adotados ou que Cristo redimiu por meio de seu sangue a igreja corporativamente, mas não indivíduos, ou que a igreja, e não os indivíduos que a compõem, é perdoada.
Além disso, Paulo acrescenta: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o espírito Santo da promessa” (Efésios 1.13). Certamente ele está falando a indivíduos bem como à igreja enquanto corporação. O apóstolo diz aos tessalonicenses que “Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do espírito e a fé na verdade” (II Tessalonicenses 2.13). Aqui não é apenas a igreja que é escolhida, mas os crentes Tessalonicenses que foram escolhidos para crerem no evangelho. Não é apenas a igreja, mas crentes individuais que são salvos, “não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça. Essa graça nos foi dada em Cristo Jesus desde os tempos eternos” (II Timóteo 1.9).
A eleição corporativa é meramente outro modo de expressar a visão tradicional arminiana da eleição baseada na fé antevista: Deus elege os crentes, mas não elege pecadores a crer. Todos os que aceitam a Cristo estão salvos (e, portanto, eleitos), mas Deus não elege ninguém para a salvação. Entretanto, as escrituras ensinam que Deus elegeu sua igreja em Cristo porque ele escolheu quem pertencerá a ela desde a eternidade.
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Notas:
[1] Veja, por exemplo, Robert Shank, Elect in the son: a Study of the Doctrine of election (Minneapolis: Bethany, 1970); William Klein, The New Chosen People: A Corporate View of Election (Grand Rapids: Zondervan, 2005).
[2] Bem Witherington, The Problem with Evangelical Theology: Testing the Exegetical Foundations of Calvinism, Dispensacionalism and Wesleyanism (Waco, Tx: Baylor Univ. Press, 2005). 62 – 3.
Fonte: HORTON, Michael. A favor do calvinismo. 1ª ed. São Paulo: Reflexão, 2014. p. 82-84.
Via: Pelo Calvinismo
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