domingo, 27 de dezembro de 2015

O Livro de 1 e 2 Tessalonicenses - por Carl Ballard


1 Tessalonicenses 1:1-10
Cristãos Exemplares
Quando Paulo chegou em Tessalônica durante sua segunda viagem missionária, alguns foram convertidos pela pregação do evangelho. Outros, principalmente judeus invejosos, rebelaram-se violentamente contra Paulo e os outros pregadores, querendo levá-los à força para o meio do povo para serem julgados como criminosos (veja Atos 17:1-5). Como não podiam achá-los, "arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as autoridades", acusando-os de hospedar homens que "procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei" (veja Atos 17:6-7). Mesmo com esta tribulação a igreja floresceu. Alguns meses depois de sua saída de lá, Paulo escreveu para encorajá-los a continuarem firmes no Senhor com a mesma convicção do início.
Ações de graças (1:1-5). Ao lembrar desta igreja, Paulo dava sempre graças a Deus pela fé ativa, amor sacrificial, e esperança firme dela (1:1-3). Paulo e os outros davam graças a Deus porque os que haviam se convertido se tornaram irmãos verdadeiros, na mesma família amada de Deus, e eleitos juntos porquanto obedeceram ao mesmo evangelho (1:4-5).
Modelo para os crentes (1:6-10). Os irmãos tessalonicenses seguiram o exemplo dos evangelistas e do próprio Cristo, obedecendo a palavra e aprendendo o viver do servo de Deus (veja Mateus 28:18-20). Assim, eles mesmos se tornaram exemplos para outros ao redor (1:6-7). Observemos o exemplo perfeito destes irmãos:
"A operosidade da [sua] fé" (1:3, 8): a fé deles era ativa - se dedicavam em divulgar a palavra do Senhor. Fé verdadeira levará o servo de Deus a ensinar o evangelho por palavra e por exemplo (veja Colossenses 3:16-17; Atos 4:12-20; 1 Pedro 4:11).
"A abnegação do [seu] amor" (1:3, 9): o amor deles para com Deus se manifestou visivelmente em suas vidas. Eles deixaram de servir ídolos, se converteram a Deus e serviram a Deus. O amor de Deus exige que deixemos a velha vida e mudemos para servir a ele de acordo com a sua vontade e não a nossa (veja Marcos 8:34).
"A firmeza da [sua] esperança" (1:3, 10): os tessalonicenses ficaram firmes mesmo no meio de tribulações porque sua esperança estava em Cristo, no céu, e não aqui na terra. Muitos perdem a esperança em tribulação porque esperam por dinheiro ou saúde ou coisas desta vida. Mas estes esperavam o galardão verdadeiro do céu - a salvação.
Perguntas para mais estudo:
  • Como foram os irmãos "eleitos"? (1:1-5)
  • Como era ativa a fé dos irmãos? (1:6-8)
  • Os irmãos esperavam o quê? (1:10)

1 Tessalonicenses 2:1-16
Evangelistas Exemplares
A pregação do puro evangelho do Senhor quase sempre encontra resistência, pois homens preferem fazer o que lhes agrada do que mudar e fazer a vontade de Deus (veja João 3:19-20; 2 Timóteo 4:1-4). Quando Paulo e Silas chegaram a Tessalônica, eles carregavam marcas desta resistência em seus próprios corpos, pois ainda estavam se recuperando dos açoites que receberam em Filipos por pregar o evangelho (2:1-2; veja Atos 16:19-23). Mesmo assim, eles e seus companheiros se empenhavam em pregar sem medo toda a verdade de Deus aos tessalonicenses.
Firmes em tribulação (2:1-6). É fácil imaginar que Paulo mudaria sua pregação para não sofrer mais. Porém, confiando no Senhor, Paulo e os outros pregaram firmemente o evangelho na sua integridade, a fim de produzirem fruto para Deus (2:1-2). Eles não estavam preocupados em fazer amigos, ganhar dinheiro, ou ter reconhecimento dos homens. Deus havia confiado a eles a palavra da salvação, e por isso podiam pregar somente aquilo que o agradasse e o glorificasse (2:3-6; veja 1 Pedro 4:11; 2 João 9).
Carinhosos com os irmaõs (2:7-12). Como prova do seu amor e seus motivos puros para com os tessalonicenses, Paulo e os outros deixaram de receber deles qualquer sustento pelo seu trabalho, mesmo que este trabalho era penoso, e mesmo que eram os escolhidos do Senhor (2:7-9). Em vez disso, olharam para os irmãos tessalonicenses como seus próprios filhos, com muito amor e carinho. Qual mãe pede um salário pelo trabalho de cuidar da sua família? O pai trabalha muito mais na disciplina da sua família do que para seu chefe, e nunca pensa em receber sustento por isso (2:10-12; veja Hebreus 12:5-11; 1 Timóteo 4:11-16; 2 Timóteo 4:1-5; Tito 2:15).
O resultado (2:13-16). Vendo que Paulo e os outros não mudaram a pregação para ela ser "conveniente", mesmo quando isto trouxe perseguição, os tessalonicenses entenderam que ela era verdadeiramente a palavra de Deus (2:13). Com a convicção de que estavam servindo a Deus de acordo com a verdade, os tessalonicenses ficaram firmes em tribulação, assim como fizeram as outras igrejas, os apóstolos, e o próprio Senhor Jesus (2:14-16).
Perguntas para mais estudo:
  • Se a maioria não recebe bem o evangelho, devemos mudá-lo? (2:1-6)
  • É lícito pagar um pregador? (2:7-9) Isto deve ser motivo de pregar? Como o pregador é como "mãe" e "pai" dos instruídos? (2:7-12)
  • O que convenceu os tessalonicenses e os capacitou a continuar servindo a Deus mesmo em meio a dificuldades? (2:13-16)

1 Tessalonicenses 2:17 - 3:13
Preocupação com os Irmãos
Saudades deles (2:17-20). Paulo e os que estavam com ele não foram embora de Tessalônica porque queriam. Antes, por causa da tribulação dos judeus invejosos, os irmãos os impeliram a saír de noite às pressas (Atos 17:5-10). Estando longe dos irmãos pelas circunstâncias, com grande amor Paulo e os outros faziam de tudo para poder estar com eles novamente, onde teriam motivo de alegria e glória perante Deus (2:17,19-20). Porém, Satanás os impediu, fazendo com que fosse necessário que pregassem o evangelho também para pessoas perdidas em outros lugares (2:18; veja 2 Timóteo 2:24-26; Atos 17:16; etc.).
Paulo envia Timóteo (3:1-5). Enquanto estavam separados, Paulo ficou preocupado com a saúde espiritual deles, posto que continuavam sendo perseguidos. Por isso, ele mandou Timóteo para servi-los "em benifício da [sua] fé". Como ministro do evangelho, o trabalho dele era de fortalecer os irmãos e encorajá-los a não se deixarem abalar por causa do sofrimento (3:1-3). A tribulação faz parte da vida cristã, e Timóteo precisava lembrá-los disso para que não desistissem na luta contra "o Tentador" (3:3-5; veja Filipenses 1:29-30; 2 Timóteo 3:12). Paulo lhes mandou Timóteo porque sabia que a pregação do evangelho é a única coisa capaz de dar ao homem o que é preciso para resistir a todos os ataques do diabo (veja João 8:31-36; Efésios 6:10-18).
Consolados pelas boas notícias (3:6-13). Quando ele voltou da Tessalônica, Timóteo trouxe melhores notícias do que haviam esperado. Visto que os irmãos continuavam firmes em Cristo, Paulo podia sentir alívio mesmo no meio de sua própria tribulação (3:6-8). Notemos que consolação e paz em Cristo não são o resultado de uma vida sem persegui-ções, e sim de uma vida cujo foco é o Senhor e o bem-estar dos servos dele (veja Filipenses 4:4-9; 1 Timóteo 2:1-4).
Sobremaneira alegres com estas notícias, Paulo e os outros reagiram com constantes ações de graças a Deus, pedindo ainda mais que Deus lhes concedessem maneira de estarem todos juntos novamente (3:9-11). Além das ações de graças, Paulo pediu que Deus ajudasse os tessalonicenses a continuarem crescendo em amor, a fim de que fossem inteiramente prontos para a vinda de Jesus (3:12-13).
Perguntas para mais estudo:
  • Como Satanás "barrou o caminho" de Paulo de volta à Tessalônica? (2:17-20)
  • O que Timóteo fez para ajudar os irmãos a ficaram firmes no meio das suas perseguições? (3:1-5)
  • Como Paulo se sentiu ao saber que os irmãos estavam firmes? (3:6-8) Qual a reação natural dele a estas notícias? (3:9-13)

1 Tessalonicenses 4:1-12
Deus Nos Chamou para Santificação
Continuem progredindo (4:1-2). Ao ouvir o evangelho de Cristo e ao recebê-lo como a palavra de Deus e não como a dos homens (veja 1 Tessalonicenses 2:13), os tessalonicenses aprenderam a maneira pela qual deviam viver e agradar a Deus (4:1). O evangelho revela "a justiça de Deus", ou seja, tudo aquilo que Deus julga necessário que saibamos, a fim de vivermos vidas que lhe sejam agradáveis e que levem à vida eterna (veja Romanos 1:16-17; 2 Pedro 1:3-4). Estes irmãos foram "inteirados" nas instruções do Senhor Jesus (4:2; veja Mateus 28:18-20), e precisavam continuar "progredindo cada vez mais" (4:1). A vida cristã não é o resultado do mero conhecimento da vontade de Deus, e sim da prática desta vontade (veja Tiago 1:22-25).
Da santidade (4:3-8). O ensino do evangelho visa a vontade de Deus para nos santificar (4:3; veja 1 Pedro 2:4-5, 9-10). "Santificar" (e assim, "santo," "santidade," etc.) literalmente quer dizer "separar", e significa que Deus, pelo evangelho, separa do mundo para salvação as pessoas que lhe obedecem (veja Hebreus 5:9; 2 Tessalonicenses 2:13-14; 1 Pedro 1:14-16). Quem é santo se disciplinará na vontade de Deus em todos os aspectos da sua vida, mas aqui Paulo fala explicitamente de santidade nas relações sexuais. A ordem de Deus é que o cristão não participe de prostituição, ou seja, relações sexuais antes de casar ou com quem não é seu cônjuge (4:3).
Estas não são meras recomendações de Paulo baseadas na ética ou na moralidade, e sim são mandamentos de Deus, visando a disciplina e a santidade do corpo e da mente, pois até "o desejo de lascívia" não cabe a pessoas que conhecem a Deus (4:4-5). O cristão se afastará da sensualidade do mundo, sabendo que Deus vai julgar toda impureza, quer seja pública, quer seja em particular (4:6-8; veja Hebreus 4:12-13).
Do amor fraternal (4:9-12). Nunca é possível amar demais, e mesmo que os irmãos já fossem instruídos e estivessem fazendo bem na prática do amor fraternal, Paulo achou necessário exortá-los a progredir (4:9-10). Ele lhes deu exemplos de como aplicar o amor em suas vidas: vivendo sua própria vida de maneira que não perturbassem a outros (veja Romanos 12:17-18, 13:13-14), e trabalhando para suprir as suas necessidades e as de outras pessoas (veja Efésios 4:28), para que não viessem a ser um peso a ninguém (4:11-12).
Perguntas para mais estudo:
  • É mais importante conhecer a vontade de Deus ou praticá-la? (4:1-2)
  • Qual o mandamento de Deus acerca de relações sexuais? Como isto se aplica também à mente cristã? (4:3-8)
  • Qual a relação entre nosso trabalho e o amor ao próximo? (4:9-12)

1 Tessalonicenses 4:13 - 5:11
Consolai-vos com Estas Palavras
Acerca dos que "dormem" (4:13-18). A morte é um assunto que assusta quase todos. Mas a Bíblia afirma que Cristo veio para destruir "aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo" e livrar "todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida" (Hebreus 2:14-15). A palavra do Senhor foi revelada para que pessoas não fossem desconhecedoras dos planos de Deus (4:13; veja 1 Coríntios 12:1). Os irmãos tessalonicenses conheceram e aceitaram a palavra, e não faria sentido eles encararem a morte com o desespero daqueles que não conhecem a Deus (veja 4:5). Por isso, Paulo, assim como fazia Jesus, trata os mortos como "os que dormem" (4:13-15; veja Marcos 5:39; João 11:11-14). Essa descrição é bastante consoladora, pois realça que a morte é um estado temporário. Assim como quem dorme acordará, também quem está morto ressuscitará (veja João 5:24-29; 1 Coríntios 15:21-22). A morte e a ressurreição de Jesus são a garantia disso (4:14). Posto que no último dia todos serão ressuscitados, Paulo fala aqui apenas dos "mortos em Cristo", ou seja, daqueles que morrem obedientes a Jesus (4:16). O verdadeiro consolo é que a morte física dos fiéis não tira deles o galardão. De fato, quando Cristo voltar, eles ressuscitarão primeiro e virão em sua companhia para buscar os fiéis que ainda vivem (4:14-18).
"Vigiemos e sejamos sóbrios" (5:1-11). Muitos perdem seu tempo "estudando" os "sinais dos tempos" para determinar exatamente quando o Senhor voltará. Estes trabalhos são geralmente espetaculares e assustadores para quem não conhece a Bíblia. Porém, a palavra de Deus deixa claro que o Senhor virá "como ladrão de noite", quando as pessoas menos esperam (5:1-3; veja Mateus 24:42-44). Assim como o ladrão não avisa quando vai chegar, é certo que também não haverá avisos sobre quando Cristo voltará.
Portanto, Paulo aconselha os irmãos a viverem sempre preparados como "filhos da luz e filhos do dia" (5:4-7; veja João 12:35-36). Quem obedece a palavra anda na luz, como Cristo andou (veja 1 João 1:5-7), sempre vigilante e sóbrio (5:6-8). A vida do cristão é uma vida de passos deliberados e não apenas uma vida à deriva. O cristão, pelo estudo honesto da palavra de Deus, vai se revestir de fé, amor e esperança, a fim de "alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo" (5:8-9). Assim, quem anda na luz terá a esperança de estar com Jesus seja na vida, seja na morte (5:10-11).
Perguntas para mais estudo:
  • Por que Paulo disse que os mortos "dormem"? (4:13-16). Como temos certeza que eles "acordarão"? (4:14,16).
  • De acordo com o texto, quais serão os sinais da vinda do Senhor? (5:1-3).
  • Já que ninguém sabe quando o Senhor vai voltar, qual a responsabilidade dos "filhos da luz"? (5:4-11).

1 Tessalonicenses 5:12-28
Diversas Exortações Finais
Para que os tessalonicenses continuem a crescer, Paulo termina a carta com várias exortações práticas.
Valorizar os líderes (5:12-13). Deus determinou que a fé e o crescimento espiritual viriam pela pregação da palavra (veja Romanos 10:17; 2 Timóteo 2:15). Ele concedeu e capacitou homens para fazerem este trabalho (veja Efésios 4:11-16; 1 Timóteo 3:1-13; Tito 1:5-9). Assim, é uma grande bênção do Senhor quando homens fiéis e maduros nos admoestam e nos corrigem pela palavra da verdade. Em vez de ficar irritado com quem o admoesta, o cristão deve apreciar e amar os que se dedicam neste serviço de cuidado pelas almas de outros.
Ajudar pessoas que têm dificuldades (5:14-15). Nem todos os membros de uma congregação serão espiritualmente maduros, e alguns até precisarão de atenção imediata. Os insubmissos, por exemplo, deixam de andar de acordo com o ensino do evangelho e isto influencia a congregação toda. É necessário admoestá-los para que entendam o perigo do pecado e não contaminem os outros com sua rebeldia (veja 1 Coríntios 5:1-6). A luta contra o pecado é dura, e às vezes haverá quem se desanime. Devemos consolar estes com a lembrança da esperança eterna, para que não desistam de vez (veja 4:13-18; 5:11; Hebreus 12:1-13). E alguns, por serem novos na fé ou por não terem crescido como deviam, serão mais fracos e precisarão de bastante ajuda dos outros membros para que cresçam além das suas fraquezas. Pois, a igreja é um corpo, e não funcionará bem se seus membros não são fortes e saudáveis (veja 1 Coríntios 12:25-26).
Ao lidarmos com essas necessidades especiais, devemos ser pacientes, e nunca devemos "corrigir" alguém por motivo de vingança, mas somente por causa da preocupação com as suas almas (5:14-15; veja Tiago 5:19-20).
A vida constante (5:16-18). Não importa a situação, o cristão terá sempre motivo para regozijo, oração e ações de graças (veja Filipenses 4:4-13). Estas coisas são a reação natural na vida de quem tem a salvação em Cristo Jesus (veja Salmo 51:10-15).
Acerca das profecias (5:19-22). A palavra de Deus foi revelada pelos apóstolos e profetas no Espírito (veja Efésios 3:3-5). É a responsabilidade de cada pessoa aceitar o que vem de Deus e rejeitar o que é do mal. Há necessidade, então, de julgarmos tudo que aprendemos para que possamos fazer a vontade de Deus com discernimento (veja Hebreus 5:13-14). A única maneira que temos para julgar o que pessoas nos ensinam sobre Deus é de compará-lo com a palavra do Espírito que já nos foi confirmada na Bíblia (veja Hebreus 2:1-4; 1 João 4:1; 2 João 9-10).
Desejos finais (5:23-28). Ao terminar a carta, Paulo ressalta a fidelidade de Deus em santificar inteiramente os que lhe obedecem (5:23-24). Então, ele pede a oração dos irmãos (5:25), lhes manda uma saudação de amor santo (5:26), e pede que leiam a carta perante todos (5:27). A carta encerra com a graça de Deus, assim como começou (5:28; veja 1:1).
Perguntas para mais estudo:
  • Como devemos tratar pessoas que nos admoestam pela palavra? (5:12-13)
  • Por quê é tão necessário ajudar as pessoas com dificuldades? (5:14-15)
  • É errado uma pessoa "julgar" o ensinamento de outros? (5:19-22)

2 Tessalonicenses 1:1-12
Cumpre-nos Dar Graças a Deus
Provavelmente apenas alguns meses depois de enviar sua primeira carta, Paulo, ainda junto com Silvano e Timóteo, escreve mais uma vez à igreja dos tessalonicenses (1:1-2).
Dando graças pelo crescimento deles (1:3-5). Na primeira carta Paulo e seus companheiros oraram pelo crescimento da fé e do amor dos tessalonicenses (1 Tessalonicenses 3:11-13). Portanto, ao começar a segunda carta, agradecem a Deus pela maneira que ele já estava respondendo a estas orações nas vidas dos irmãos (1:3). Mesmo em meio a muita perseguição e tribulação, a fé e o amor deles continuava crescendo de tal forma que Paulo podia usar estes irmãos como exemplos perante as outras igrejas que ele visitava (1:4; veja 1 Tessalonicenses 1:6-10; 2 Coríntios 8:1-5). Paulo disse que tanto as provações quanto a confiança destes irmãos eram provas de que Deus é justo e que os estava preparando para o seu reino (1:5). De fato, enquanto muitos evitam a todo custo o passar por tribulações, a Bíblia ensina que elas são úteis, e que fazem parte do crescimento espiritual (veja Tiago 1:2-4). Não que o cristão deva procurar ou provocar tribulação na sua vida ou na dos outros (veja Romanos 12:17-18), mas a própria vida de piedade traz perseguição para pessoas convertidas que ainda habitam um mundo dominado pelo mal (veja João 17:15-16; 2 Timóteo 3:10-13; 1 João 3:13).
Dando graças pelo reto juízo de Deus (1:6-10). Muitos se desesperam ao ver pessoas que não buscam a Deus se dando bem nesta vida enquanto as que o buscam em verdade sofrem (veja Salmo 73:2-13). Porém, Deus a tudo vê e a justiça dele é verdadeira (veja Hebreus 4:12-13). Paulo consola os irmãos com a lembrança de que a justiça de Deus trará alívio para eles e tribulações para aqueles que agora os perseguem "quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder", ou seja, no dia de julgamento (1:6-7). Neste dia Deus há de tomar "vingança contra os que não conhecem a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho do nosso Senhor Jesus" (1:8). Ele é justo em assim fazer, porque todos foram criados para buscá-lo, e porque ele enviou seu Filho para os chamar por meio do evangelho (veja Atos 17:24-31; 2 Tessalonicenses 2:13-14). No julgamento Deus fará clara distinção entre os justos e os injustos, expulsando os rebeldes da sua presença eternamente e sendo glorificado na obediência e na fé dos santos (1:9-10).
Oração que glorifiquem e que sejam glorificados (1:11-12). Em vista da justiça eminente de Deus, Paulo e os outros continuam orando ferverosamente a favor dos irmãos, para que, ao passar por tudo, sejam cada vez mais preparados (1:11). Assim, quando Cristo vier para julgar, ele será mostrado justo - glorificado pela obediência destes irmãos que se mantiveram fiéis apesar das tribulações, e glorificando-os com o alívio eterno da graça da sua presença (1:12; veja 1:6,9).
Perguntas para mais estudo:
  • Passar por tribulações é prova de que uma pessoa não é fiel a Deus? (1:3-5)
  • É pecado não conhecer a Deus e não obedecer o evangelho? (1:6-8)
  • Qual o castigo de Deus contra todos os que lhe desobedecem? (1:9-10)

2 Tessalonicenses 2:1-12
Não Sejam Facilmente Movidos
Depois de orar pela glorificação futura destes irmãos junto com Cristo (veja 1:11-12), Paulo corrige uns erros acerca da vinda de Jesus que estavam perturbando os irmãos.
Primeiras coisas primeiro (2:1-6). Alguns dos tessalonicenses ouviram um ensinamento errado de que talvez o Senhor já tivesse voltado (2:2; veja também 2 Timóteo 2:16-19). É claro que isto perturbaria estas pessoas esforçadas em fazer a vontade de Cristo. Poderiam imaginar que haviam sido esquecidas no julgamento, já que não estavam com Jesus conforme a promessa. Paulo os consola, lembrando-os que, de fato, haverá uma "reunião" dos irmãos com o Senhor. Explicou que os ensinamentos errados que ouviram não vieram por meio dos apóstolos e profetas de Jesus (2:1-2; veja Efésios 3:3-5).
Portanto, os irmãos não deveriam se abalar ou se deixar enganar. Em vez disso, deveriam lembrar-se de tudo que Paulo já havia lhes ensinado (2:3-4). Muitos continuam até hoje perturbados desnecessariamente acerca da volta do Senhor porque dão ouvidos a fábulas e histórias fantásticas quando deveriam estudar e praticar o que foi revelado pelos apóstolos. Paulo estava confiante que tudo que os irmãos precisavam saber ele já havia revelado (2:5-6).
A operação do erro (2:7-12). Paulo os lembra de que as forças do mal continuarão operando ocultamente no mundo ("o mistério da iniqüidade") até mesmo a volta do Senhor. Então tudo será exposto ("revelado") e o Senhor destruirá com facilidade os que praticam o erro (2:7-8; veja 1:6-10; Mateus 7:21-23).
Mesmo que o Senhor seja capaz de destruir com seu sopro as forças de Satanás, não devemos imaginar que sejam fracas e facilmente vencidas por nós. Paulo disse que o erro que opera no mundo é "segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de injustiça..." (2:9-10). A Bíblia ensina que Satanás é um mentiroso que se aproveita de qualquer astúcia para enganar os fiéis. Cientes disso, cristãos precisam de muito cuidado para não caírem no engano. De fato, Deus sempre deu ao seu povo avisos sobre falsos sinais e profecias (veja Deuteronômio 13:1-5; 2 Pedro 2:1; 1 João 4:1). Paulo mostra claramente que os que se perdem são aqueles que "não acolheram o amor da verdade para serem salvos" (2:10). Portanto, para não cair no engano do poder de Satanás é preciso muito mais de que apenas conhecer a verdade na palavra de Deus - é necessário amar a verdade, praticando-a completamente!
A palavra de Deus é suficientemente simples para convencer a todos os que querem acreditar na verdade (veja João 7:17). O problema do pecado não vem pela falta de inteligência, e sim pela falta de vontade de agir de acordo com a verdade. Para pessoas que não querem aceitar a verdade, Deus permite que a mentira seja bem convincente (2:10). De fato, os que rejeitam a verdade de Deus perdem o discernimento, e acreditam nas mentiras absurdas que Satanás cria no mundo (veja Romanos 1:18-32). Todos nós seremos julgados pelo que fazemos com a verdade (2:11; veja João 12:47-48).
Perguntas para mais estudo:
  • Como Paulo consolou os irmãos que estavam perturbados? (2:1-6)
  • Sinais e prodígios são sempre sinal da presença do Espírito Santo? (2:9-10)
  • Por quê pessoas acreditam em mentiras absurdas? (2:11-12)

2 Tessalonicenses 2:13-17
Deus Vos Escolheu
Enquanto o mundo jaz na operação do erro por haver desprezado a palavra da verdade (veja 2:9-12), Paulo dá graças a Deus pelo que o Senhor fez com os tessalonicenses desde que estes aceitaram e obedeceram a palavra (veja 1 Tessalonicenses 1:8-10; 2:13).
Deus os escolheu (2:13-14). Paulo chama os irmãos de "amados pelo Senhor" (2:13). De fato, Deus ama a todos e deseja a salvação de cada um (veja João 3:16 e 1 Timóteo 2:3-4), mas Paulo se refere aqui ao amor especial que Deus tem pelos que se tornam verdadeiramente seus filhos pela obediência ao evangelho (veja João 1:12; 1 João 3:1). Estes amados foram escolhidos por Deus "desde o princípio para a salvação". O Senhor fez o plano para salvar os homens obedientes, como estes, mesmo antes de ele formar o mundo (veja Efésios 1:3-5).
A salvação que Deus planejou vem "pela santificação do Espírito e fé na verdade" (2:13). Deus é santo e exige que os que se aproximam dele também sejam santos (a palavra santo quer dizer "separado"; veja 1 Pedro 1:14-16). Quem ama a verdade não anda como o mundo, pois o mundo age pelo erro e pela mentira. Assim, Deus santifica quem pratica a verdade (veja João 17:17).
Portanto, é necessário conhecer a verdade para poder praticá-la. O Senhor revelou toda a verdade por meio do evangelho, e por ele chama todos à obediência (2:14; veja Romanos 1:16-17; 1 Pedro 1:22-25; etc.). Quem obedece ao evangelho será ressuscitado e glorificado com Jesus, para estar eternamente na presença de Deus (veja Romanos 6:3-9, 8:18-23; 2 Coríntios 4:16-18; etc.).
O dever dos escolhidos (2:15). Como temos visto, o mero conhecimento da verdade não é o suficiente para a salvação, pois Deus santifica quem pratica a verdade. Assim, Paulo enfatiza para os irmãos tessalonicenses a necessidade de continuar com toda firmeza nas "tradições que vos foram ensinadas" (2:15). Devemos entender que as tradições religiosas dos homens são fortemente condenadas por Jesus (veja Mateus 15:1-20). Aqui, porém, Paulo usa a palavra para descrever tudo que ele pessoalmente ensinava. Quando Paulo ensinava em cada lugar, e escrevia as cartas mais tarde, ele falava a verdade de Deus em Cristo Jesus (veja 1 Coríntios 2:1-2 e 12-13, 14:37). Como ele ensinava a mesma coisa em todas as igrejas (veja 1 Coríntios 7:17, 16:1; Gálatas 1:1-2; Colossenses 4:16; etc.) e os irmãos praticavam o que Paulo os ensinava, a verdade de Cristo se tornou a "tradição" na prática dos santos.
A oração pela firmeza dos escolhidos (2:16-17). Deus provou seu amor pelos santos lhes entregando, pela sua graça, a palavra que dá "eterna consolação e boa esperança" (2:16). Sendo que os irmãos têm se mostrado fiéis à palavra, Paulo ora para que Deus possa consolar os seus corações, mesmo em meio as tribulações, e os manter firmes na verdade em tudo o que fizerem e disserem (2:17; veja Colossenses 3:16-17).
Perguntas para mais estudo:
  • Qual a vontade de Deus para os que praticam a verdade? (2:13-14)
  • É possível conhecer toda a verdade? Como? (2:13-14)
  • Devemos seguir todas as "tradições" que são ensinadas? (2:15)

2 Tessalonicenses 3:1-18
Exortações Finais
Havendo falado muito sobre o reto juízo de Deus contra os rebeldes (veja 1:6-10; 2:7-12), Paulo agora mostra como os irmãos podem ajudá-los antes que seja tarde demais.
Ajuda pela oração (3:1-5). Para escapar do juízo, é necessário conhecer a Deus e obedecer ao evangelho (veja 1:8). Consciente disso, Paulo pede que os tessalonicenses orem a favor de seu trabalho. Antes ele elogiou o exemplo deles em propagar a palavra (veja 1 Tessalonicenses 1:6-10). Agora pede as suas orações para que possa pregar com a mesma coragem e fé (3:1). Antes ele ensinou que Deus julgará os que perturbam os servos fiéis (veja 1:6). Agora pede orações para que os "homens perversos e maus" que rejeitam a fé não impeçam que ele pregue livremente (3:2; veja Atos 17:1-5, 10-13).
Mesmo que alguns desprezem o evangelho, o Senhor se mantém fiel. Assim, os que aceitam e continuam na palavra serão espiritualmente confirmados e protegidos contra o diabo, a fim de conseguirem maior amor e firmeza no Senhor (3:3-5; veja Filipenses 4:4-9).
Ajuda pela correção (3:6-18). Enquanto alguns são rebeldes contra Deus por ainda não haverem ouvido e reconhecido a palavra da verdade, há outros que se rebelam mesmo depois de se converter ao Senhor. No caso destes, é preciso mais do que apenas oração. Paulo ensina que é necessário se separar de "todo irmão que ande desordenadamente" (3:6). A palavra "desordenadamente" é uma palavra militar que descreve um soldado que não segue as instruções do seu comandante, ou que marcha fora da ordem dos outros da sua companhia. As instruções que dão ordem são "a tradição que de nós recebestes", ou seja, a palavra do evangelho que Paulo pregou, junto com o próprio exemplo dele (3:6-9; veja 2:15).
Na sua primeira carta, Paulo falou da necessidade de "admoestar os insubmissos" (veja 1 Tessalonicenses 5:14), algo que ele mesmo fez enquanto estava junto deles (3:10). Na segunda carta o assunto em questão é de irmãos que, em vez de trabalhar para o seu sustento e para ajudar outros, "andam desordenadamente" e "se intrometem na vida alheia" (3:10-13; veja Efésios 4:28). Paulo diz que qualquer irmão que "não preste obediência à nossa palavra" deve ser "notado", que a associação com o grupo deve ser cortada, e que os irmãos devem adverti-lo (3:14-15). O ensino de Paulo de se apartar destes insubmissos talvez pareça radical, mas visa a correção e a salvação deles. Notando-os publicamente e afastando-os do grupo fará com que sintam vergonha dos seus pecados. Assim, com as advertências contínuas dos irmãos em amor, a esperança é que eles se arrependam e voltem a servir a Cristo (veja 1 Coríntios 5:1-5,9-11; 2 Coríntios 2:5-7).
Confiante que os tessalonicenses continuarão servindo a Deus de acordo com a palavra, Paulo deseja paz e a presença do Senhor com eles (3:16-18). Se nós desejarmos estas coisas, temos que aplicar plenamente o ensino do evangelho em nossas vidas.
Perguntas para mais estudo:
  • Para quê Paulo pedia orações? (3:1-2)
  • Quem são os desordenados? (3:6,14)

  • Como se deve tratá-los? (3:6,14-15)

Uma Visita ao Sepulcro (11º e ultimo sermão especial de Páscoa, de C.H.Spurgeon)

“Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia.”(Mateus 28:6)
As santas mulheres, Maria Madalena e a outra Maria, foram ao sepulcro, esperando encontrar lá o corpo de seu Senhor com o propósito de embalsamá-lo. Suas intenções eram boas; sua vontade foi aceita diante de Deus; mas, apesar de tudo isso, o desejo delas não foi concedido pela simples razão de que era contrário ao desígnio de Deus: inclusive diferia com aquilo que Cristo lhes tinha predito e declarado claramente: “Não está aqui, pois ressuscitou, como disse.” Eu deduzo disso que, como crentes, poderíamos abrigar alguns bons desejos em nossos corações e tratar sinceramente de colocá-los em prática, e contudo, não alcançar jamais o êxito nesse esforço, devido que graças, a nossa ignorância, não entendemos, ou graças a nosso esquecimento, temos deixado de prestar atenção a certas palavras de Cristo que se interpõem em nosso caminho.
Soube que isso nos aconteceu com a oração. Temos orado, e não temos recebido porque não tínhamos um sustento na Palavra de Deus para pedir o que solicitávamos. Existia alguma proibição na Escritura que deveria ter-nos refreado de elevar essa petição. Pesamos em nossa vida diária, em meio das ocupações do trabalho, que se pudéssemos alcançar tal e tal posição, então honraríamos a Deus; no entanto, ainda que temos buscado vigorosamente, e oramos insistentemente a respeito, jamais conseguimos nosso alvo. Deus nunca teve o propósito de que o conseguíssemos; e, se tivéssemos tido êxito em alcançar nosso projeto, possivelmente poderia ter sido mais danoso que vantajoso, um legado de problemas em vez de uma herança de alegria. Estávamos buscando grandes coisas para nós, mas esquecemos aquela recriminação do Senhor: “E tu buscas para ti grandezas? Não as busques.” Portanto, não esperem realizar aqueles desejos que considerem puros e apropriados. Poderia ser que haja uma palavra do Senhor que não permita que os vejam realizados.
Essas boas mulheres descobriram que tinham perdido a presença Daquele que era o maior deleite delas. O “não está aqui,” deve ter-lhes soado como um dobrar de sinos pelos defuntos. Elas esperavam encontrá-lo, porem Ele já tinha partido. Mas a aflição desapareceu de seus corações quando o anjo agregou: “Porque já ressuscitou.” Eu deduzo disso que se Deus me tira qualquer coisa boa, certamente se justificará por tê-lo feito, e que, frequentemente, magnificará Sua graça, concedendo-me algo infinitamente melhor.
Maria pensou que seria algo bom encontrar o cadáver de seu Senhor? Talvez lhe tivesse proporcionado algum tipo de satisfação nostálgica. Assim pensava segundo seu próprio juízo. O Senhor tirou esse consolo dela. Porem, Cristo tinha ressuscitado, e ter notícias Suas, e posteriormente, vê-Lo, porventura não foi algo infinitamente melhor?
Você ultimamente perdeu algo em torno do qual seu coração tinha entrelaçado todos seus tentáculos? Descobrirá que existe uma boa razão para essa privação. O Senhor nos tira sempre alguma benção de prata, com a intenção de dar-nos um benefício de ouro. Podem estar certos de que Ele lhes dará ferro em vez de madeira, e substituirá o ferro com bronze, e em vez de bronze, prata, e em lugar de prata, lhes proporcionará ouro. Tudo o que o Senhor tira não é senão algo preliminar para uma dádiva maior. Você perdeu seu filho? Que isso importaria se descobre que seu Senhor é mais amoroso que nunca? Um sorriso de seu Senhor será melhor para você que todas as alegres brincadeiras de seu filho. Não é melhor Ele para você que dez filhos? Ou, perdeu seu familiar e companheiro que o alegrava ao longo do vale da vida? Graças a essa perda, você será agora conduzido a estar mais próximo de seu Salvador. Suas promessas serão mais doces para você, e o Bendito Espírito lhe revelará Sua verdade com maior claridade. Por fim sairá ganhando com sua perda.
É o caso de muitíssimas plantas que foram protegidas por alguma grande árvore cujas ramas frondosas as cobriam da chuva acoitadora e do granizo destruidor. Subitamente a árvore foi cortada pelo marchado cruel do lenhador. Quando a árvore cai, a plantinha estava a ponto de gritar de medo. A partir desse momento permanecerá desprotegida. Mas não lhe acontece nada: esses tristes prognósticos se desvanecem prontamente, pois agora o sol banha a débil planta como jamais fez antes. E o orvalho cai em maior abundância, e a chuva penetra até suas raízes; e a terna plantinha cresce até alcançar uma estatura que jamais conhecido de outra forma, já que o consolo do que desfrutava lhe impedia o crescimento. Você se dará conta que muitos dos consolos que lhe foram retirados eram obstáculos para seu apropriado cultivo e, na ausência desses consolos, obterá uma abundante compensação, uma benção dez vezes maior.
Não está aqui” é muito triste. Porem, “ á ressuscitou” é muito alegre. A Cristo, o que morreu, As Marias não podem ver. Não podem embalsamar esse bendito corpo. Mas você vera a Cristo, o que vive, e poderá prostrar-se a Seus pés, e ouvirás de Seus lábios as jubilosas palavras: “Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dentre os mortos.” (Mateus 28:7) Vale a pena que lembrem dessa lição. Se Deus a aplica a sua alma, poderia produzir-lhe um reconfortante consolo. Se o Senhor retira alguma alegria, lhe dará outra melhor. “Porque não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens” (Lamentações 3:33). Estou certo de que vocês jamais negam a seus filhos nenhuma complacência, sem ter em mente algum bem real. Quando pedem a seus filhos algum pequeno sacrifício, quantos de vocês não têm uma maneira de compensar-lhes para que não saiam perdendo pela experiência em questão. E seu Pai celestial tratará assim dessa forma terna e delicada com vocês, que são Seus filhos.
Com esses dois comentários preliminares, procederemos a considerar o texto em si. E seria conveniente dizer que alguns de nós assistimos essa tarde ao funeral de um querido amigo e diácono dessa igreja; e, por tal motivo, os pensamentos que se agitam em nosso peito, e as palavras que brotarão de nossos lábios essa noite, seriam mais apropriados se o sepulcro aberto estivesse a nossa frente. Coloquemos-nos lá em nossa imaginação, e concebamos que aquele sino – ainda que frequentemente obstaculiza nossas devoções a ponto de que me pergunto por que a pessoa cristão precisa fatigar a outros cristãos com um sino – produz um repique de mortos para nós. Essa badalada deve nos ajudar a sermos conduzidos à tumba sobre as asas do som, para que adotemos a melhor posição em que essas meditações sejam congruentes para a ocasião.
O texto contém, em primeiro lugar, uma certeza; e, em segundo lugar, um convite. Primeiro, a certeza: “Não está aqui, pois há ressuscitado”; e em segundo lugar, um convite “Vinde, vê o lugar onde o Senhor foi posto.”
I. A certeza: “Não está aqui, pois há ressuscitado”.    

Jesus Cristo realmente RESSUSCITOU DENTRE OS MORTOS. O que importa que os falsos eruditos e os sabichões tenham tentado demonstrar que esse fato, tão bem comprovado, não é senão um mito fabuloso? Não existe uma só doutrina das Santas Escrituras que não se tenha desejado exterminar. A princípio, negavam descaradamente que tais coisas tivessem sucedido, e diziam que era pura invenção. Mas depois, quando se proporcionou abundante evidência para demonstrar a ressurreição, essa vil incredulidade deu lugar a um ceticismo mais refinado. No entanto, pode se demonstrar mais além de toda dúvida, que há tanta evidência da ressurreição de Cristo como de qualquer outro feito comprovado da história. Provavelmente não haja nenhum outro feito da história que esteja tão plenamente demonstrado e corroborado, como o fato de que Jesus de Nazaré, que foi cravado na cruz, que morreu, e foi sepultado, ressuscitou verdadeiramente.
Tal como cremos nas histórias de Julio César – tal como aceitamos as declarações de Tácito – sobre essa mesma base de documentos históricos, estamos obrigados a aceitar o testemunho de Mateus, Marcos, Lucas e João, do mesmo modo que os testemunhos daquelas pessoas que foram testemunhas oculares de Sua morte, e que lhe viram depois que ressuscitou dos mortos.
Que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos não é uma alegoria nem um símbolo, mas sim uma realidade de fato. Ali Ele permaneceu morto, para que esse fato fosse corroborado tanto pelos amigos como pelos inimigos; era um cadáver que devia ser depositado na tumba. Toquem-no e vejam-lhe. É o mesmo Cristo que vocês conheceram em vida. É exatamente o mesmo. Houve alguma vez tais olhos em qualquer outra forma humana? Contemple-o! Vocês podem ver a impressão de aflição em Seu rosto. Houve alguma vez semblante tão desfigurado como o seu, alguma aflição tão real em seus efeitos? Esse é o Imperador do Abatimento, o Príncipe de Todos os Dolorosos, o Rei da Aflição! Ali jaz, sendo inconfundivelmente, ele mesmo. Agora, observem os sinais dos cravos. Vejam, ali o ferro traspassou essas benditas mãos; e ali foram Seus pés foram perfurados; e lá esta a incisão que chegou ao pericárdio, e dividiu o coração, e fez brotar sangue e água maravilhosas de Seu lado. É Ele, o mesmo Cristo! E as santas mulheres levantam cada um dos membros do Seu corpo e o envolveram em linho, e colocam especiarias em Seu redor, que tinham trago em sua pressa, e lhe colocaram nesse lugar, nesse sepulcro novo.
Agora, deve ser conhecido e entendido que nossa fé é que esses mesmos membros que permaneciam inertes e frios na morte se tornaram tíbios com vida outra vez; esse mesmo corpo, com seus ossos e carne, que jaziam ali, se tornaram animados com vida novamente e regressaram à uma gloriosa existência. Essas mãos romperam o pedaço de pão e o pescado na presença dos discípulos; e esses lábios os comeram; e Ele mostrou essas ferida e disse: “Poe aqui teu dedo, e mete-lhe no lugar dos cravos” e desnudou Seu lado, o mesmo lado perfurado, e disse: “Aproxima sua mão, e coloque ela em meu lado; não sejas incrédulos, mas crente.” Não era um fantasma nem um espectro. Como Ele mesmo disse: “Um espírito não tem carne nem ossos, como vêem que eu tenho.” Ele era um homem real, tão real depois da ressurreição como o tinha sido antes; e Ele é um homem real na glória agora, tal como foi quando estava aqui abaixo. Ele ascendeu ao alto: a nuvem o cobriu de nossa vista. O mesmo Cristo que perguntou a Pedro: “me amas?”, o mesmo Jesus que disse a todos Seus discípulos: “Vinde, come” um homem real ressuscitou de uma morte real a uma vida real. Agora, sempre precisamos que essa doutrina nos seja declarada muito claramente, pois ainda que cremos nela, nem sempre temos plena consciência dela; e ainda se a compreendemos, é bom ouvi-la de novo, para que nossas mentes sejam confirmadas quanto a ela. A ressurreição é um fato tão literal como qualquer outro feito registrado na história, e assim temos de crer nela. “Não está aqui, pois já ressuscitou.”
Sigam a narração, amados, e verão que quando nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou naquela ocasião, sendo revivido dos sonhos da morte, não somente foi verdade que realmente se levantou do sepulcro, mas sim que ressuscitou para ser levantado em Sua ascensão à glória que agora possui a destra do Pai. Quando as cadeias de ferro da tumba foram rompidas, os discípulos receberam esse consolo: que agora Ele está mais além do alcance de Seus inimigos. Durante os escassos dias que nosso Senhor permaneceu na terra, nenhum de Seus inimigos tentou fazer-lhe dano. Nem sequer os cães se atreviam em mover a língua contra Ele. Dificilmente poderíamos dizer a razão, mas assim foi. Parecia que havia uma notável conformidade nas mentes de todos Seus inimigos durante o tempo que residiu em meio de Seu povo aqui embaixo. Ele estava fora do alcance de Seus inimigos. Não lhe podiam fazer já nenhum dano. E é o mesmo agora. Ele não está aqui, em outro sentido; e agora está fora do alcance de todos Seus malignos adversários.
Isso não o alegra? A mim sim. Nenhum Judas pode trair agora o Mestre para que seja aprisionado pelos soldados romanos. Nenhum Pilatos pode tomar-lhe agora e corromper a justiça e entregar-lhe a crucificação sabendo que é inocente. Nenhum Herodes pode agora zombar Dele na companhia de homens de guerra: nenhuma tropa pode agora cuspir em Sua amada face. Ninguém pode esbofeteá-lo agora, ou vendar Seus olhos, nem dizer-lhe: “Profetiza, quem é que te golpeou?” A cabeça, a amada cabeça majestosa de Jesus, não pode jamais ser coroada de espinhos outra vez, e os incansáveis pés que caminhavam em missões de misericórdia, não podem ser mais ser perfurados pelos cravos. Os homens não o deixarão nu mais, nem ficarão exultando em Suas agonias. Ele se acha mais além de seu alcance. Agora podem falar mal Dele, e podem buscar depreciá-lo através de Seu povo, que são os membros de Seu corpo. Agora podem se enraivarem, mas Deus colocou Cristo a Sua própria destra, e é inacessível a sua malícia. Consola-me, tal como penso que consolaria o soldado no dia da batalha quando via que a batalha se tornava muito difícil, comprovar que o comandante a quem amava estava fora do alcance das balas. “Vamos,” –diria – “vocês podem nos ferir como queiram. As balas poderiam chover uma morte vermelha sobre nossas filas, mas nosso comandante em chefe, de quem depende todo o conflito, está à salvo.”
Oh, essas palavras são benditas, e bendita foi a pluma que as escreveu e bendito é o Espírito que as ditou: “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:9-11)  Não importa, amados irmãos, o que nos possa acontecer a nós, pobres soldados comuns. Sentimos que se fossemos caluniados, desonrados, perseguidos, ou se fossemos condenados a morte, seria algo sem importância à luz dos temas transcendentais: sim, a cabeça que uma vez foi coroada de espinhos está agora coroada com glória, e quem esteve no tribunal de Pilatos para ser condenado, se senta agora no trono de Seu Pai, em espera de vir julgar aos príncipes e reis da terra.
Em relação a que nosso Senhor não está aqui, mas que ressuscitou, deveria nos consolar pensar que agora está mais além de toda dor, assim como também mais além de todo ataque pessoal. Eu me consolei refletindo dessa forma enquanto a nosso amigo falecido recentemente. Ele foi atacado subitamente pela paralisia, como muitos de vocês sabem, e esteve em cama seis semanas. Se tivesse agradado a Deus, teria podido estar em cama seis ou dezesseis anos, e teria sido algo muito doloroso ver-lhe com sua vida ainda no corpo, mas com uma mente densamente entenebrecida. Estamos agradecidos – eu me sinto pessoalmente agradecido por Deus – já que nosso amigo ficou dormindo e escapou das misérias da presente vida malvada. Porem, quanto mais agradecidos deveríamos estar em relação a nosso amado Senhor a Quem nossa alma ama! Oh, podem suportar pensar Nele, que não tinha onde repousar Sua cabeça? Quem entre nós não teria renunciado a sua cama para dar-lhe descanso de uma noite? Ai, e renunciar à cama para sempre, se tivéssemos podido dar-lhe um brando repouso. Nós teríamos ido para a encosta do monte e teríamos passado lá a noite toda, até que nossa cabeça tivesse estado empapada de orvalho, se pudéssemos tido oportunidade de dar-lhe um descanso? Ele vale mais que dez mil de nós; e, não pareceria como se era para Ele demasiado ter que sofrer o estar sem lar nem teto? Tinha fome, irmãos; estava sedento; estava cansado, estava desfalecido. Ele sofreu nossas enfermidades: é-nos informado que as carregou. Frequente lhe doía coração. Ele sabia o que “os frios montes e o ar da meia noite” podiam fazer para esfriar o corpo; e Ele sabia o que a assoladora atmosfera e a amarga privação podiam fazer para congelar a alma. Ele experimentou inumeráveis aflições e dores. Desde o primeiro derramamento de sangue em Seu nascimento, até o último derramar de sangue em Sua morte, parecia como se a aflição o tivera marcado como seu filho peculiar. Sempre era hostilizado, tentado, contrariado, assediado, atacado e molestado, por Satanás, pelos homens malvados, e pelos males que estão no lado de fora! Agora já não há nada disso para Ele; e nos alegra que não esteja aqui por essa razão. Agora não é nenhum filho da pobreza; agora não há uma oficina de carpinteiro para Ele, nem a veste do campesino, tecida de cima abaixo: não há agora ladeiras de montes nem brejos para Seu lugar de descanso; não existem agora turbas escarnecedoras em torno Dele; não há agora quem recolha pedras para apedrejar-lhe; já não se senta junto ao poço, cansado e dizendo: “Dá-me de beber”; não precisa que se lhe dêem alimento quando está faminto. Agora já não pode mais ter açoites e flagelos. Não dará mais “Seu corpo aos agressores, nem Suas faces aos que lhe puxavam a barba.” Ninguém perfurará Suas mãos e Seus pés, não sentirá uma sede ardente no sangrento madeiro; não clamará “Eloi Eloi, Lama Sabactani?” As ondas e as olas de Deus passaram sobre Ele, porem já não podem assediá-lo mais. Ele foi levado ao pó da morte, e Sua alma esteve muito triste uma vez. Ele está mais além de tudo isso. O mar ficou para trás, e chegou a Bons Portos, onde nenhuma tormenta pode açoitar-lhe. Ele alcançou Seu gozo; Ele entrou em Seu repouso e recebeu Sua recompensa.
Irmãos e irmãs, devemos nos alegrar por esse motivo. Entremos no repouso de nosso Senhor. Alegremo-nos porque Ele está alegre; sejamos felizes porque Ele está feliz. Oh, que pudéssemos sentir que nossos corações saltam dentro de nós, ainda que por um breve tempo mais nos vejamos no campo de batalha, porque Ele se foi daí, e agora é reconhecido e adorado como Rei dos reis e Senhor dos senhores.
O fato de que nosso Senhor ressuscitou contêm, não somente esses consoladores elementos em referência a Ele, mas sim que temos de recordar que é uma garantia de nossa própria ressurreição, para cada um dos que cremos Nele. Na primeira epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo faz que todo o argumento a favor da ressurreição do corpo esteja baseado nessa única pergunta: Cristo ressuscitou dos mortos? Se ressuscitou, então todo Seu povo há de ressuscitar com Ele. Ele era um representante, e como Senhor Salvador ressuscitou, todos Seus seguidores haverão de fazê-lo. Se resolvem a pergunta de se Cristo ressuscitou, terão resolvido a pergunta de se todos que estão Nele, e foram conformados a Sua imagem, também devem ressuscitar.
Quanto a nós, é verdade que os que somos crentes em Jesus, se morremos e somos depositados na tumba, seremos comidos pelos vermes: regressaremos à mãe terra e nos converteremos em pó. Por minha pare, eu jamais envolveria o corpo em chumbo, nem faria nada que impedisse que se desfizesse rapidamente no pó do qual veio. Parece que é sumamente apropriado e santo deixar que se desfaça e volte a ser o pó original. Mas aqui está o tema designado. Não importa o que aconteça com esse pó, nem através de quais transições ele passe. É verdade que as raízes das árvores poderiam sugar dessa mistura; é verdade que se pode converter em pasto e em flores para alimentar aos animais: os ventos poderiam transportá-los a milhares de kilômetros de distância, separando assim todos seus átomos: um osso poderia ser separado dos demais; mas, tão certo como o Senhor ressuscitou, nós ressuscitaremos também. Não dizemos que cada partícula real dessa carne ressuscitará: não é necessário para a identidade do corpo que deva ser assim; mas o corpo será idêntico, e o mesmíssimo corpo que é semeado na terra ressuscitará novamente da terra, e com uma beleza e glória da que pouco sabemos todavia, podem estar seguros disso.
O corpo do amado filho de Deus, que despediste faz alguns anos, ressuscitará outra vez. Esses olhos que você fechou – esses mesmíssimos olhos – verão ao Rei em Sua formosura na terra distante. Esses ouvidos que não podiam lhe ouvir quando sussurrava as últimas carinhosas palavras, esses ouvidos ouvirão as eternas melodias. Esse coração que ficou tão frio e inerte como a pedra, quando a morte colocou sua gelada mão sobre ele, baterá de novo com novidade de vida, e saltará de alegria em meio das festividades da entrada ao lar, quando Cristo, o Esposo, se despoje com sua Igreja, a esposa. Esse mesmíssimo corpo! Não era o templo do Espírito Santo? Não foi redimido com sangue? Certamente ressuscitará quando as trombetas do arcanjo e a voz de Deus soem! Pode estar certo disso; pode estar seguro disso, quanto a seu amigo e a você mesmo. E não tenha medo à morte. Que é a morte? A tumba não é mais que um banho no que nosso corpo, como Ester, se imerge em especiarias para ficar doce e fresco para o abraço do glorioso Rei na imortalidade. Não é senão o armário onde guardou seu vestido durante um tempo. Sairá limpo e purificado, com muitas lantejoulas de ouro nele, que não estavam ali antes. Era um vestido de trabalho quando nos desvestimos; será um vestido de domingo quando o coloquemos, e será apropriado para vesti-lo no domingo. Inclusive poderíamos anelar a noite para nos trocarmos, e assim poder despertar para vestir essas roupas na presença do Rei.
Ademais – para não demorarmos muito em um só pensamento – devemos lembrar que o fato de que nosso Senhor não está aqui, mas que ressuscitou, contêm um pensamento consolador: que se foi para onde pode proteger melhor a nossos interesses. Ele é nosso advogado. Onde haveria de estar o advogado senão na corte do Rei? Ele está preparando-nos um lugar. Onde deveria estar Aquele que nos prepara um lugar, senão lá: preparando-lhe? Nós temos um adversário muito ativo, que está ocupado em nos acusar. Não é bom que contemos com Alguém que pode enfrentar-lhe cara a cara, e silenciar o acusador dos irmãos? Sou do parecer que se Cristo estivesse aqui, nesse preciso momento, em pessoa, estaríamos inclinados e dizer-lhe: “Bom Senhor, tu pode servir-nos bem aqui. Tuas andanças para sarar aos enfermos e ensinar aos ignorantes, são muito benditas; e nos encanta vê-lo; a visão de Teu rosto converte a terra em céu; no entanto, nossos grandes interesses demandam Tua ausência; pois, bom Senhor, nossas orações requerem de alguém as apresente diante o trono. Conforme uma por uma de nossas orações se elevam ao céu, não queríamos que estivesse aqui enquanto as enviamos a um lugar no que não estás. Ademais, quiséramos que estes ali onde o inimigo se apresenta para nos acusar, para que nos defendas; e como nossa melhor herança está no alto, necessitamos de um tutor que a preserve para nós. Bom Senhor, é conveniente que Tu te vás”.
Não temos que dizer-lhe isso, pois se foi; e se alguma vez o Cristo foi de duplo valor, se alguma vez a vantagem de Sua posição acrescentou o valor de Seus serviços, é agora em que está no céu. Ele seria precioso aqui, mas é mais precioso lá. Está fazendo mais por nós no céu, do que lhe seria possível fazer por nós aqui abaixo, até onde nossa inteligência finita pode julgar, e tão certamente como Sua infinita sabedoria pronuncia. Enquanto tanto Sua ausência é bem compensada pela presença de Seu próprio Espírito; e Sua presença lá está bem consagrada por Sua administração pessoal do serviço sagrado em nosso favor. Tudo está bem no céu, pois Jesus está lá. A coroa está assegurada, e a harpa também, e a herança bendita de cada tribo de Israel está toda assegurada, pois Cristo está guardando tudo. Ele é, para glória de Deus, o representante e preservador de Seus santos.
E, por acaso essa verdade: que Cristo não está aqui, mas sim que se foi, não cai em nossos ouvidos como uma doce força na medida que nos constrange a sentir que essa é a razão de por que nosso coração não deve estar aqui? “Não está aqui”: então nosso coração não deve estar aqui. Quando o texto “não está aqui” foi dito pela primeira vez, queria dizer que não estava no sepulcro. Ele estava então em algum lugar da terra. Porem, agora não está aqui de todo.
Suponha que você é muito rico, e que Satanás lhe sussurra: “Esses são jardins deleitáveis; essa é uma nobre mansão; desfruta-lhes”: responda a ele: “Porem Ele não está aqui; Ele não está aqui, ressuscitou, portanto, não me atrevo por meu coração onde meu Senhor não está.”
Ou suponha que sua família o faz muito feliz, e quando seus pequeninos se aglomeram a seu redor, e se sentam em torno de sua lareira, seu coração está muito feliz; e ainda que não possui muitos bens desse mundo, no entanto, tem o suficiente, e sua mente está satisfeita. Bem, se Satanás lhe dissesse: “Deves estar muito satisfeito, e encontrar seu repouso aqui,” diga ao Demônio: “Não, Ele não está aqui; e não posso sentir que esse seja o lugar de minha habitação. Meu Espírito pode descansar unicamente ali onde Jesus está.”
E, você está apenas começando sua vida? Acaba de passar o dia de seu casamento? Está começando apenas agora os jubilosos dias da juventude, o doce encanto do mais puro gozo dessa vida? Bem, deleite-se nisso, mas ainda assim se recorde que Ele não está aqui, portanto, você não tem o direito de dizer “Alma, repouse!” Cristo não está em nenhum lado da terra, portanto, nosso coração não pode construir um ninho em nenhum lado da terra. Não está em nenhuma parte, não, nem nos lugares altos, nem nos tranquilos lugares de repouso; não está no jardim das nogueiras, nem nas eiras das especiarias, não está nas tendas de Cedar, nem entre as cortinas de Salomão; nem sequer em Sua mesa sacramental, nem entre os meios de graça, está Cristo corporalmente, realmente presente. Assim que tomaremos a doçura de tudo, e o bem espiritual que poderia ter em todos os meios externos; porem, ainda assim, todos nos sinalizarão até o alto, todos eles nos afastarão. Assim como o sol evapora o orvalho, e o atrai para acima, até o céu, assim Cristo nos atrairá e trará nossos corações e nossos pensamentos até o alto, e nossos desejos, e todos nossos espíritos, até cima, até Ele mesmo! “Não está mais aqui”; então, por que eu deveria estar aqui? Oh, eleve-se, alma minha; eleve-se, e que todo o doce incenso se eleve até Aquele que “Não está aqui, pois ressuscitou”!
II. Devo abandonar esse ponto, e passar a falar em poucas palavras sobre o segundo ponto, que consiste em UM CONVITE. “Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia.”
Amados, não se trata de que irei levar-lhes ao sepulcro de José de Arimatéia. Não falarei muito sobre isso. Penso que bastará qualquer tumba para identificar o mesmo ensino sagrado. Essa tarde, quando estava junto ao sepulcro aberto no cemitério de Norwood[1], senti como se tivesse ouvido uma voz: “Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia”. Não nos deve importar muito qual é o lugar preciso. Ele jazia no sepulcro: esse é um feito proeminente que nos prega um sermão cheio de substância. Qualquer tumba pode servir a nosso propósito.
No pequeno povoado de Campodolcino[2], me dei conta da tumba de Cristo da maneira mais vívida, em um sítio que tinha sido construído para peregrinos católicos. Eu estava no alto de um monte, e vi escritas sobre uma parede essas palavras: “Havia um jardim”. Estavam escritas em Latim, Abri a porta desse jardim. Era como qualquer jardim; mas no momento de entrar vi uma mão, que tinha escritas essas palavras: “e num jardim um sepulcro novo.” Logo vi uma tumba que estava recém pintada, e quando me aproximei ela, li essa inscrição: “Um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido colocado.” Então cheguei para olhar dentro do sepulcro, e li outra inscrição escrita em latim: “Baixando-se a olhar, viu… mas não entrou.” E essas palavras estavam escritas: “Vinde, vede o lugar onde jazia o Senhor.” Entrei e vi, esculpido sobre a pedra, o sudário e os lenços colocados ali. Estava completamente só, e li as palavras: “Não está aqui, pois já ressuscitou,” esculpidas no fundo do sepulcro. Ainda que temia qualquer coisas cênica, dramática e papal, no entanto, certamente, percebi em grande medida da realidade da cena, e essa tarde a vivi de novo, quando estava diante do sepulcro aberto. Eu senti que Jesus Cristo foi realmente enterrado, que foi realmente depositado na terra, e que saiu realmente dali, e que é bom que nós vamos e vejamos o lugar no que Jesus foi posto.
Por quer deveríamos vê-lo? Bem, primeiro, para que possamos ver que condescendente Ele foi para jazer numa tumba. Ele, que fez os céus e a terra, jazia em uma tumba. Ele, que deu a luz aos olhos dos anjos, esteve jazendo nas trevas durante três dias. Ali Ele dormiu na escuridão. Ele, sem quem nada do que se fez foi feito, foi entregue à morte, e foi uma vítima da morte. Oh, portento de portentos! Maravilha de maravilhas! Ele, que tinha a imortalidade, e a vida dentro de si mesmo, se entrega ao lugar da morte!
Vinde, vede ao lugar onde o Senhor foi posto”, continuando, para ver como devemos chorar pelo pecado que o colocou lá. Eu quem fui o causador de que o Salvador jazesse no sepulcro? Era necessário que antes que meu pecado pudesse ser quitado, meu doce Príncipe, cuja formosura encanta todo o céu, deveria estar frio e gélido na morte, e realmente ser depositado em um sepulcro? Devia ser assim? Oh, vocês, pecados assassinos! Pecados assassinos! Malditos e cruéis pecados! Vocês mataram ao Salvador? Prenderam esse terno coração? É possível que jamais estivessem contentes até o conduzi-lo a Sua morte, e colocar-lhe no sepulcro? Oh, venham e chorem, ao ver o lugar onde colocaram o Senhor.
Vinde, vede o lugar onde o Senhor foi posto,” para que vejam onde vocês terão que ser postos, a menos que o Senhor venha repentinamente. Vocês podem tomar as medidas dessa tumba, pois ali é onde terão que repousar. Faria-nos bem recordar – se contamos com grandes propriedades – que dois metros de terra são tudo o que será nosso feudo permanente. Teremos que ir para ele, esse montículo solitário, com a longitude de duas passadas de terreno aplanado –
“Príncipes, essa argila há de ser seu leito,
Apesar de todas suas torres;
A enaltecida e sábia cabeça reverente
Deve jazer tão baixo como a nossa.”
Não há licença nessa guerra. Nós devemos retornar ao pó. Então, “vinde, vede ao lugar onde o Senhor jazia”, para que veja que boa companhia terá ali. Lá é onde Jesus esteve: isso não o consola? –
“Por que haveria de o cristão temer o dia
Que o enterra na tumba?
Ali jazeu o amado corpo de Jesus,
E deixou um perfume duradouro.”

Que habitação poderia ser mais apropriada para que o filho de um príncipe vá dormi, que a própria tumba do príncipe? Ali Emanuel dormiu. Ali, meu corpo estará muito satisfeito de dormir também! Que leito mais real poderia desejar que o seio dessa mesma mãe terra, em que o Salvador foi colocado para descansar por um tempo?
Pensa, amado irmão, em dez mil santos que foram dessa maneira ao céu. Quem haveria de temer ir por onde todo o rebanho foi? Você, uma pobre ovelha tímida, se só você tivera que atravessar esse escuro vale, tudo bem se estivera com medo; mas, oh, em adição a seu Pastor, que marcha à frente de todo o rebanho, escuta as pisadas das inumeráveis ovelhas que lhe seguiram. E algumas dessas ovelhas foram muito queridas para você, e se alimentaram nos mesmos pastos que você. Acaso teme ir por onde elas foram? Não, olhe o lugar onde colocaram Jesus, para ver que boa companhia haverá de ter, ainda que pareceria estar em uma câmara escura.
“Vinde, vede o lugar onde o Senhor foi posto”, para ver que você não pode estar ali por muito tempo. Não é o lugar onde Jesus está. Ele se foi, e você estará com Ele onde está agora. Vem e olhe a tumba. Não tem nenhuma porta. Teve uma porta; era uma imensa rocha, uma pedra monstruosa, e ninguém podia movê-la. Estava selada. Não vê como o Sinédrio colocou o selo, e o selo da lei, para assegurá-la, e que ninguém a moveria? Mas agora, se quer ir ao lugar onde colocaram Jesus, o selo está rompido, os guardas fugiram e a pedra já não está no lugar. Assim será sua tumba, irmão. É verdade que o cobrirão, e jazerá em meio de palmos de terra gramada. Se você for sábio, preferiria essas coisas às pesadas lousas de pedra que colocam algumas vezes sobre os mortos. Esse doce montão, com alguma margarida aqui e ali por cima, é como o olho da terra olhando o céu e pedindo misericórdia, ou sorrindo com o gozo da expectativa: ali, ali dormirá; porem, tal como na manhã, tão logo como abre seus olhos e abre as cortinas, e sai para cumprir seu trabalho do dia, e ninguém se coloca entre seu caminho, assim, quando soe a trombeta da ressurreição, se levantará de seu leito em perfeita liberdade, sem que ninguém o impeça, para ver a luz do dia que não acabará jamais. Não tem ninguém que te prenda. Não há cadeias nem barras: não há guardas nem vigilantes; não há pedras nem selos. “Vinde, vede o lugar onde Jesus foi posto.” Eu não gostaria de ir para cama em uma prisão, onde houvesse um carcereiro com sua chave de ferro para prender-me. Porem, não tenho medo de dormir em uma habitação da que posso sair ao chamado matutino como um homem perfeitamente livre! E o mesmo sucede contigo, amado, se é um crente. Você vem a ficar num lugar que está aberto e livre; um lugar apropriado para que os homens livres do Senhor cochilem.
Vinde, vede o lugar onde Jesus foi posto.” Para celebrar o triunfo sobre a morte. Se Miriã cantou no Mar Vermelho, nós também podemos cantar na tumba de Jesus. Se ela disse: “Cantai ao SENHOR, porque em extremo se engrandeceu,” nós não diremos o mesmo? Se todos os exércitos de Israel se uniram a ela no cântico, as mulheres com danças e os homens valentes com suas vozes, assim, que todo Israel saia nesses dias e bendiga e louve ao Senhor, dizendo: “Onde está, oh morte, teu aguilhão? Onde está, ó sepulcro, tua vitória?”.  O lugar o onde Jesus foi colocado nos disse isso –
“Vá é a vigilância, a pedra, o selo!
Cristo despedaçou as portas do inferno.”
Agora, cantemos-lhe e demos-lhe toda a glória.
Estava pensando dizer-lhes, amados, que vamos e vejamos o lugar onde Jesus foi posto, para que ali choremos por nossos pecados; vamos e vejamos o lugar onde Jesus esteve, para ai morrer por nossos pecados: vamos e vejamos onde colocam Jesus, para ser enterrado com Ele; vamos e vejamos o lugar onde colocar Jesus, para ressuscitar desse lugar para uma nova vida, e achar nosso caminho através da vida de ressurreição, à vida de ascensão, na que nos sentamos nos lugares celestiais, e olharemos abaixo, às coisas da terra, com jubiloso desprezo, sabendo que Ele nos levantou muito por acima de tudo isso, e que nos fez participantes de uma bem aventurança mais resplandecente da que essa terra pode conhecer alguma vez. Mas me absterei de fazê-lo.
Terminei. Queira Deus que todos os aqui presentes tiveram uma parte nisso. Todos vocês tem uma participação na morte. Existe uma árvore que está crescendo, da que farão seu caixão; ou, talvez, já foi cortada e está sendo trabalhada para protegê-la do clima, e se converterá em um caixão de maneira: o último caixão que precisarão. Existe um ponto na terra que há de ser escavado para que vocês sejam colocados ali, para encher o espaço vazio.  E sua alma viverá; sua alma jamais haverá de morrer. Não creiam em nenhum momento aos que lhes falam da aniquilação. A alma deve existir. Pergunte-se se será com o verme que nunca morre e o fogo que nunca haverá de se apagar, ou com Cristo, que vive em Sua glória, e quem virá uma segunda vez para dar glória a Seu povo e ressuscitar seus corpos de igual maneira que o Seu.
Oh, tudo dependerá disso: “você crê em Jesus?” Se crê Nele, pode dar-lhe boas vindas à vida e dar boas vindas à morte, e dar as boas vindas à ressurreição, e dar boas vindas à imortalidade. Mas se não crê, então um turbilhão de assolou, e para você é terrível morrer. É terrível inclusive viver, mas é mais terrível morrer; será terrível ressuscitar de novo, será terrível ser condenado, ser condenado para sempre! Que Deus o livre disso, por Cristo nosso Senhor! Amém.

Sermão nº 1081— A VISIT TO THE TOMB-  do volume 18 do The Metropolitan Tabernacle Pulpit,
Tradução e revisão: Armando Marcos Pinto

[1] West Norwood Cemetery é um cemitério em West Norwood em Londres , Inglaterra . Foi também conhecido como o Metropolitan South Cemitery. Notáveis estão enterrados ai, como Paul Julius Baron von Reuter, fundador da agência Reuters de noticias, bem como o próprio Spurgeon.
[2] Campodolcino é uma comunidade italiana da região da Lombardia, província de Sondrio, próxima a Suíca; com cerca de 1.078 habitantes. Estende-se por uma área de 48 km²