sábado, 18 de junho de 2016

Não deixem seus filhos irados


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E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” – Efésios 6.4

O filosofo Luiz Felipe Pondé disse que, provavelmente, daqui a mil anos a nossa geração será lembrada como a era do ressentimento. Parafraseando Nietzsche, que afirmou sobre essa “era do ressentimento”, Pondé justifica: nós sonhamos com um sol que se preocupe com o que a gente sente. No entanto, diz ele que, quando descobrimos que o sol não está nem aí pra nósque as estrelas não brilham pra nós, nós caímos no desespero do ressentimento.[1] Esse ressentimento é achar que todos deveriam nos amar mais do que amam e achar que todos deveriam nos reconhecer por grandes valores que não temos.

Não obstante, esse ressentimento piorou muito nos últimos tempos. Você não pode falar nada que todos se ofendem. Se fizermos uma crítica, muitos tomam como algo pessoal e se comportam como pessoas mimadas. Infelizmente isso está sendo aplicado sobre os nossos filhos também. Eles estão sendo criados como crianças mimadas. Por exemplo, após a Suécia proibir que os pais corrijissem seus filhos com palmadas, hoje eles – de modo geral – estão sofrendo muito com seus filhos, pois fizeram das crianças pequenos tiranos, deixando sérias consequências futuras.

A disciplina antiga

Quando Paulo escreveu a carta aos Efésios, ele focou a mensagem às igrejas da Ásia, mostrando sobre a nova sociedade em Cristo. Essa nova sociedade era composta por crentes que vieram de um sistema contrário às Escrituras, inclusive na questão da criação de filhos.

Segundo a lei Patria Potestes (O poder dos pais), os pais romanos tinham total autoridade sobre a família, chegando ao ponto de vendê-las, se necessário. Mas, dependendo do caso, até a pena de morte os pais poderiam aplicar. Não somente isso, quando uma criança nascia ela era colocada aos pés dos pais. Se o pai se inclinasse para a frente em direção da criança, ela seria aceita por ele. No entanto, se o pai virasse as costas e fosse embora a criança tinha que ser jogada fora.

A disciplina moderna

A questão anterior parece não ter nenhuma ligação conosco atualmente. Mas essa rejeição dos pais pela criança, hoje, pode ser retratada na questão do aborto, da mesma forma em que os pais daquela época livravam-se de certas crianças pelo simples desejo, sem motivo, ou até por questões físicas. Porém, existe um outro lado. Há pais que não apoiam o aborto, mas criam seus filhos de forma mimada achando que alguma correção física poderá trazer danos futuros à criança. O que vemos, na verdade, é uma geração de jovens e adolescentes indecisos em certos temas centrais da vida, porque não foram inseridos no mundo como deveriam ser.

Por exemplo, eu trabalho em um lugar que é tido como o “redil evangélico”. E todos os dias jovens transitam por lá para comprar livros, cds e dvds. Há jovens que se comportam corretamente. No entanto, infelizmente, há alguns jovens, principalmente homens, que não se comportam e nem se vestem como homens. Entenda, não estou dizendo que a causa deste comportamento é a falta de uma boa surra, mas faz parte da intromissão do Estado na família ditando o que devemos ou não ensinar aos nossos filhos e a omissão dos pais que aceitam isso com bom grado.

Isso faz parte desta mentalidade moderna, na qual não podemos induzir nossos filhos a serem aquilo que eles são geneticamente, pois, segundo tal conceito, o fato de uma pessoa nascer com o órgão feminino não quer dizer que ela deva se comportar como uma mulher, e vice e versa.

A falta de disciplina e orientação correta pode ser vista na defesa de menores infratores. Se olharmos para 90% das defesas feitas à esses menores criminosos os argumentos giram em torno da pessoa em si, jogando a culpa na sociedade. Ou seja, por que tal adolescente se tornou um criminoso? Porque, primeiro, a autoestima dele está baixa; e, segundo, isso é culpa da sociedade. Ou seja, como resolver o problema da criminalidade, segundo eles? Basta levantar a autoestima deste menor para que ele melhore. No entanto, essa não é a visão bíblica.

A disciplina bíblica

A disciplina bíblica parte do pressuposto de que somos pecadores e como qualquer pecador, precisamos de disciplina. Mas para entender isso temos que voltar ao Gênesis. Deus, ao criar o primeiro casal, deu a eles certas atribuições as quais chamamos de Mandato Espiritual, Social e Cultural. Após a rebelião praticada por Adão e Eva, o Homem continua a desenvolver esses Mandatos, mas agora manchados pelo pecado.

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios, mostra como é a nova sociedade em Cristo, a qual deve desenvolver esses Mandatos ordenados no Éden, mostrando que uma pessoa cheia do Espírito Santo (5.18) – tendo em vista um relacionamento com  Deus já restaurado (cap 4) – é aquela pessoa que anda dignamente em família, abrangendo o relacionamento entre o casal (5.21-33), mostrando que os filhos devem honrar a Deus por meio da obediência aos pais (6.1-3), que os pais devem cumprir com sua tarefa na criação, com disciplina e admoestação no Senhor (6.4), os empregados devem obedecer aos seus patrões (6.5-8) e que os patrões devem desenvolver seu oficio com dignidade (6.9). 

E aqui eu quero destacar um ponto interessante. Paulo, em Efésios 6, repete a palavra “pais” (no plural mesmo) duas vezes, nos versículos 1 e 4. No verso 1, quando diz que os filhos devem obedecer aos pais, ele usa a palavra grega γονευσιν, que se refere ao casal. Porém, no verso 4 ele usa πατερες, referindo-se especificamente aos homens. Pode ser que haja dois motivos para que o apóstolo se dirija somente aos homens; a) porque o homem é o cabeça do lar e a responsabilidade de ensino da família é dele, pois ele é como se fosse o sacerdote do lar, tal como Jó intercedia por seus filhos (Jó 1.5); b) talvez porque, em certos casos, os homens precisem de uma admoestação especial, mais que as mulheres. 

Como os pais podem irritar seus filhos? Qualquer forma de disciplina, quer seja física ou moral, pode fazer com que os filhos se irritem. Por exemplo, é só pedir a eles para lavar louça ou limpar o quintal que a ira é ascendida. Mas nós também erramos, porque somos pecadores e achamos que as nossas decisões erradas serão corretas para os nossos filhos. Podemos fazer com que eles fiquem irados quando agimos com excesso de proteção, igual à Dona Florinda, do seriado Chaves, quando diz ao Kiko que ele pode entrar na piscina, mas que não poderá se molhar. Irritamos os nossos filhos quando agimos com favoritismo, da mesma forma que Isaque tinha com o “queridinho do papai” Esaú e com o “queridinho da mamãe” que era Jacó (Gn 25.28). Por desestímulo, por exemplo, achamos que todo curso que nossos filhos devem fazer tem que ser rentável financeiramente para ele enriquecer, da mesma forma, quando o jovem diz aos pais que quer ir para o seminário teológico, pois entende que tem chamado pastoral. Neste caso, na grande maioria das vezes, os pais questionam sobre se o filho terá como sobreviver financeiramente, de uma forma confortável. Podemos agir também por negligência, como Davi fez com Absalão e Amnom após o estupro de Tamar (2Sm 13.20-22). Podemos irritar nossos filhos por agir asperamente ou com crueldade física, para mostrar superioridade e força superior, se esquecendo que a disciplina bíblica tem que ser feita com moderação, nunca motivada por paixões pecaminosas, mas com fim proveitoso. 

E, por fim, podemos irritar os nossos filhos por questões pecaminosas. Paulo em Efésios não mostra claramente, mas podemos entender isso pelo contexto. No capítulo 4:26,27 ele já havia tratado sobre a ira, mostrando que ela não pode perdurar até o outro dia e que, quando não tratada, pode dar lugar ao Diabo. Contudo, em Colossenses 3.21 o apóstolo repete a mesma advertência mostrando que não devemos irritar os nossos filhos para que eles não fiquem desanimados.

Como devemos agir? 

Não com ira, mas de acordo como a Bíblia nos manda. Hebreus 12 faz o contraste entre as disciplinas dos pais na carne e a disciplina que Deus aplica: Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então viveremos? Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplinava para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento, não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, frutos da justiça. Por isso, restabelecei as mãos decaídas e os joelhos trôpegos” (9-12).

Infelizmente agimos por impulso, sem nenhum proveito em nossas disciplinas, mas Deus nos deixa o exemplo claro em Sua Palavra mostrando que a disciplina deve ter um foco proveitoso que, mesmo produzindo tristeza, no fim saberemos que foi para o nosso bem. E assim, devemos agir com nossos filhos para a glória de Deus Pai.

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Nota:
[1] A era do ressentimento, Luiz Felipe Pondé. Editora LeYa.

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Autor: Denis Monteiro
Fonte: Bereianos

IPB: Evangelização Confessional x Pragmatismo das Comunidades


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É com profunda dor e decepção que escrevo esta breve introdução desta série de postagens, especialmente com alguns que caíram pelos caminhos da dura pressão de resultados, que acabaram cedendo ao que é a pior ameaça contra a herança litúrgica e reformada histórica que a Igreja Presbiteriana do Brasil tem sofrido na última década. Creio que isso é pior que a pressão pentecostal sofrida na década de 90. Sem dúvida alguma, a IPB deixa de ser IPB onde uma Comunidade Presbiteriana é plantada. Esse é um câncer, um sistema corrosivo, destruidor para as igrejas presbiterianas.

Para acalmar alguns, a determinação de não usar o nome comunidade foi desferido pelo Supremo Concílio da IPB. Devo, porém, dizer três coisas: 1. Foi apenas isso, o que de fato não mudou nada na prática. As Comunidades continuam com suas mesmas características litúrgicas e eclesiológicas, quando não, humanistas; 2. Algumas demonstram que não estão nem um pouco submissas a essa decisão, continuam com o nome “comunidade”; 3. Muitos pastores de renome no Brasil não querem ‘mexer’ nisso, pois já estão envolvidos com os congressos promovidos pelas Comunidades.

Daqui a dez anos, talvez, não existirá mais IPBs em muitos lugares - sociedades internas, cultos solenes, hinos, símbolos de fé, farão parte da história de uma igreja morta, morta por um parasita que se tornou um monstro. A única coisa que se respeita da CI [Constituição Interna] da IPB são as garantias de salários para os pastores. Se até lá o Senhor não voltar, estaremos cheirando o vômito do Senhor Jesus.

Apesar de dizer assim, Ele pode causar uma mudança (Mt 16.16-18).

I. QUAL É O GRANDE PROBLEMA?

As Comunidades perderam, na prática, a compreensão da doutrina bíblica da depravação total (Rm 3.9-18) e passaram a buscar um estilo de igreja que agrade as pessoas. Isso causa um prejuízo incalculável na proclamação do evangelho. A advertência de Paul Washer é sábia:
“[..] àqueles que estão constantemente buscando formas inovadoras de comunicar o evangelho para um nova plateia [seeker-sencitive], faria bem começar e terminar uma pesquisa nas Escrituras. Os que enviam milhares de questionários perguntando aos não convertidos o que mais desejam em um culto devem perceber que dez mil opiniões de homens carnais não carregam a autoridade de um “i” ou “til” da palavra de Deus. Devemos entender que há um grande abismo de diferenças irreconciliáveis entre o que Deus ordenou nas Escrituras e o que a atual cultura carnal deseja.” (O Poder do Evangelho e Sua Mensagem, p. 20).

Van Til, apesar de focar a questão da lógica, comenta algo bem interessante:
“O Deus do cristianismo é para ele [para o homem caído] logicamente irrelevante para a experiência humana.” (Apologética Cristã, p.138).

Em um resumo bem simples, mas real e verdadeiro, as Comunidades não estão erradas em querer plantar igrejas, mas o tipo de igreja que querem plantar, não é uma que agrada a Deus em primeiro lugar, mas que agrada a cultura e os gostos dos filhos da ira (Ef 2.1,2).

Em certo sentido, enquanto as igrejas neopentecostais procuram agradar o misticismo brasileiro, usando elementos abolidos do Antigo Testamento, eles pelo menos estão buscando na Bíblia, com péssima exegese, a formatação de seus métodos, enquanto as Comunidades Presbiterianas estão indo direto à cultura popular caída (Veja aqui). Ambos os seguimentos são iguais.

II. QUAL É O SEGUNDO GRANDE PROBLEMA?

Não posso deixar de dizer algo de máxima importância. Muitos dos presbiterianos conservadores estão apáticos e não estão envolvidos na evangelização árdua em suas igrejas. Não evangelizar é o mesmo de evangelizar errado. Ser inativo é ser tão reprovável quanto ser pragmático. Criticar eles por fazerem errado, e não FAZER o certo é também cair em erro. Recentemente, um conhecido reformado em uma palestra sobre evangelização disse:
“Vou falar de evangelização urbana, mas eu mesmo não evangelizo.

O nosso doutor, foi “sinceramente hipócrita”. Ele não deveria dar a tal palestra nessa igreja. Aqui é onde estamos perdendo espaço para as Comunidades, que apesar de estarem erradas, não estão erradas na disposição.

Bom lembrarmos que não existe uma forma de evangelização, ela deve ser feita sempre e de diversas maneiras. Na pregação no culto solene, na visitação, no discipulado, nas reuniões, nas ruas, isso deve estar impregnado na vida do ministro, dos obreiros, dos líderes locais e de todos os crentes. Joel Beeke mostra que os puritanos eram evangelizadores por excelência, ao estilo da época (Espiritualidade Reformada, cap. 7º). A visitação de Richard Baxter demonstra um pastor evangelista (Manual Pastoral do Discipulado, Editora Cultura Cristã). O conteúdo, sabemos, nunca foi formatado aos ditames do mundo caído.

A Bíblia adverte que temos essa obrigação e promessa (Mt 28.18-20; I Pe 2.9,10). E temos dois documentos na IPB que deixam em relevo que nossa missão envolve a evangelização, juntamente com outras ações nobres da Igreja:
Catecismo Maior de Westminster - 159. Como a Palavra de Deus deve ser pregada por aqueles que para isto são chamados? Aqueles que são chamados a trabalhar no ministério da Palavra devem pregar a sã doutrina, diligentemente, em tempo e fora de tempo, claramente, não em palavras persuasivas de humana sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder; fielmente, tornando conhecido todo o conselho de Deus; sabiamente, adaptando-se às necessidades e às capacidades dos ouvintes; zelosamente, com amor fervoroso para com Deus e para com as almas de seu povo; sinceramente, tendo por alvo a glória de Deus e procurando converter, edificar e salvar as almas. Jr 23:28; Lc 12:42; Jo 7:18; At 18:25;20:27;26:16-18; I Tm 4:16; II Tm 2:10,15;4:2,5; I Co 2:4,17;3:2;4:1,2;9:19-22;14:9;II Co 4:2;5:13,14;12:15,19; Cl 1:28; Ef 4:12; I Ts 2:4-7;3:12; Fp 1:15-17; Tt 2:1,7,8; Hb 5:12-14.”
Constituição da IPB - Art. 2º. A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e verdade, pregar o Evangelho, batizar os conversos, seus filhos e menores sob sua guarda e "ensinar os fiéis a guardar a doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Art. 14. São deveres dos membros da igreja, conforme o ensino e o Espírito de nosso Senhor Jesus Cristo: a) viver de acordo com a doutrina e prática da Escritura Sagrada; b) honrar e propagar o Evangelho pela vida e pela palavra; c) sustentar a igreja e as suas instituições, moral e financeiramente; d) obedecer às autoridades da igreja, enquanto estas permanecerem fiéis às Sagradas Escrituras; e) participar dos trabalhos e reuniões da sua igreja, inclusive assembleias.”

Se é assim que se estabelece a Igreja Presbiteriana do Brasil, me parece que muitos estão se escondendo na crítica ao pragmatismo, o que de fato deve ser feito, mas estão parados. Outros nem na crítica a esse movimento cancerígeno, estão na Torre de Marfim, intocáveis, desde que sua fama e títulos sejam honrados.

O QUE FAZER NA PRÁTICA?

Para uma evangelização confessional, isto é, bíblica, você precisa acima de tudo ter duas atitudes em relação aos símbolos de fé presbiterianos - Primeiro conhecê-los de forma abrangente. Ler constantemente, na só a Confissão de Fé de Westminster, mas especialmente seus Catecismos. Segundo, ter fervor, convicção, entusiasmo, a respeito de suas posições bíblicas confessionais. O mundo tem convicção de seu relativismo, os neopentecostais de suas heresias, judeus foram trucidados e muçulmanos morrem e matam pela fé. Porém, muitos Reformados, parecem adotar uma atitude ‘complacente’ e apática em relação á sua fé, que não dá para entender por que são, muitos desses, pastores, presbiterianos. Não há fervor na alma. Se achar que não há fervor na vida Confessional, então duas coisas você não sabe mesmo: A vida dos puritanos, e duas perguntas e repostas do Catecismo Maior – a 104 e 105.

Jamais você verá os frutos de ser fiel aos símbolos de fé presbiterianos se você não conhecer e não ter paixão ardente por eles. Quando me deparo com alguns comentários negativos a respeito dos Símbolos da IPB, não raro identifico isso. O que está decepcionado em usar, não tem nenhum conhecimento a mais, nenhuma experiência de vida a respeito, nenhum plano devocional. Parece que o período no Seminário ou no Instituto esgotou sua paciência com os símbolos de fé, e algum afastamento parece ser um alivio. Outros não negam publicamente, mas negam na prática.

Ainda há os que talvez possuam os dois passos acima, estudam e tem fervor, mas não pensaram muito em usá-los no processo de evangelização e discipulado. Nessa postagem pretendo dar alguns apontamentos a respeito.

I. USANDO OS SÍMBOLOS COMO MATERIAL EVANGELÍSTICO

Talvez o que muitos nunca fizeram, é usar os Símbolos de fé já no processo de evangelização. Como fazer?

Quando produzir folhetos de evangelismo em sua igreja ou congregação, inclua algum trecho dos Símbolos de Fé. Uma parte da CFW ou dos catecismos que seja pertinente ao tema que você está abordando. Eu já inclui em um folheto a definição incomparável que a CFW dá de quem é Deus (presente também nos catecismos). Você talvez use aqueles folhetos das sociedades bíblicas, que são estreitos, com mensagens curtas. Então, faça-os apenas com duas perguntas, ou partes da CFW. Não tenha receio disso!! Imagine um folheto com a pergunta “Quem é Deus?” E antes de entregar para a pessoa, pergunte a ela qual seria a resposta dela. Você notará que as respostas são sempre aquelas, vazias e sem objetividade. É uma grande oportunidade de mostrar a resposta simples, bíblica e irrefutável do Catecismo Maior.

Recentemente escrevi um folheto que tem por tema “Qual o objetivo de sua vida?” Ao passo que a evangelização pragmática buscaria as respostas aos anseios do homem caído no homem, o Catecismo mostra que o foco está para cima, não em nós. A maior parte o folheto se desdobrou em torno do que é dito na primeira pergunta do CMW:
“1. Qual é o fim supremo e principal do homem? Resposta. O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegar-se nele para sempre.  Rom. 11:36; 1 Cor. 10:31; Sal. 73:24-26; João 17:22-24.”

O impacto disso é surpreendente, pois está honrando a Deus, dando testemunho não diluído de Sua Palavra. Faça o teste... ‘lance seu pão sobre as águas’. Quem sabe algumas pessoas saberão o sentido da “voz de grande estrondo” de Ez 3.12 por encontrar o objetivo da vida delas!

II. USANDO OS SÍMBOLOS DE FÉ COMO MANUAL DE DISCIPULADO

Eu costumo dizer que a evangelização bíblica envolve três momentos, ou passos. O primeiro é o anúncio/proclamação: quando você comunica o evangelho a uma pessoa. Depois vem o discipulado/ensino: quando você ensina o evangelho a uma pessoa. Por último, vem a integração/inclusão: quando você a inclui na comunidade do evangelho, na igreja. A Evangelização é plena.

No segundo passo, onde temos adotado o termo, ‘discipulado’, não é incomum um curso, alguns materiais de ensino do chamado “ABC” do evangelho. Isso é muito bom mesmo, e muitos materiais têm suprido essa necessidade e tem sido benção de Deus para a vida da igreja. Porém, você pode fazer um material de discipulado mesmo usando os Símbolos de Fé!

Eu organizei um, que expandi recentemente com artigos da Constituição da Igreja Presbiteriana, para ao mesmo tempo servir na classe de catecúmenos. Pensei em fazer assim, pois às vezes em trabalhos nascentes o discipulado já serviria para a recepção de membros. Como se fosse uma classe de catecúmeno pessoal, na casa do novo crente.

Como organizei esse material? Em cinco assuntos principais:

1. Bíblia - 2. Deus - 3. Salvação - 4. Vida Cristã e 5. Igreja

Selecionei o que especialmente o Catecismo Maior de Westminster diz a respeito desses temas e inclui alguns pontos da Confissão. Você pode fazer isso em seu discipulado [de uma certa forma, chamo-o de "Catecismo Médio"]

Se preferir, use o Breve Catecismo de Westminster no discipulado, não tenha medo, nem imagine que é profundo demais para as pessoas. Essa é nossa missão, ensinar todo o desígnio de Deus (At 20.27). Elas aprenderão, esteja certo disso. Jamais deixamos de entregar a Bíblia para alguém, pois nela tem o livro de Levítico, as profecias de Daniel, as visões de Ezequiel ou mesmo o difícil livro simbólico de Apocalipse. Esses são livros inspirados, superiores aos documentos de fé que neles estão baseados. Não fique preocupado se os Símbolos de Westminster podem causar confusão ou dificuldades. Eles causarão em todos que não estão de acordo com eles!!! Aí entra o papel do mestre, do discipulador, de ensinar com esmero (Rm 12.7).

III. TODOS OS MEMBROS DE SUA IGREJA TEM OS SÍMBOLOS DE FÉ?

Infelizmente, a maioria dos presbiterianos no Brasil não possuem os Símbolos doutrinários de sua fé. Isso tem contribuído para a formação de Igrejas Presbiterianas que são mais comunidades evangélicas do que Igrejas Reformadas. Precisamos trabalhar contra isso, com todo ardor e força que temos. Isso virou uma questão de sobrevivência. Aos reformados que estão preocupados com o crescimento das comunidades presbiterianas, eu tenho essa certeza. Já que nossos medalhões reformados estão calados diante das comunidades presbiterianas, só resta-nos a luta pela pulverização dos símbolos nas igrejas e congregações, em uma nova geração de crentes.

Mas se você quer ser um presbiteriano autêntico, se você quer ser um ministro honrado, de palavra, ou um obreiro que seja de confiança, comece a estimular a aquisição dos símbolos de fé por parte de todos os membros de sua igreja ou congregação. Se puder, que a igreja compre e distribua a todos os membros. Se não puder, que pelo menos aos que não tem muitas condições. MAS QUE TODOS TENHAM. Crianças e adultos. [Obs: A Editora Cultura Cristã tem feito promoções significativas para os símbolos de fé e, diga-se de passagem, os livros que contém os Símbolos já possuem os textos bíblicos transcritos. Eu sempre defendi a idéia que deveriam ser impressos em formatos de revista de escola dominical, com letras legíveis, e que fossem vendidos a preço de custo. Mas já que não é possível, fico grato a Deus pelas promoções realizadas pela editora, mostrando essa sensibilidade].

Como isso pode contribuir na evangelização? A medida que a pessoa for sendo integrada na igreja local, ela notará que tais documentos de fé são levados a sério. Que a importância deles é indispensável. Irá concluir a evangelização dele à medida que ele notar a cultura doutrinária no contexto de sua nova família da fé. Os crentes começarão a crescer em conhecimento doutrinário, sendo também capazes de dar orientação bíblica aos novos. Isso tudo é o processo de evangelização, até o momento em que ele for batizado e começar gerar para Cristo outros membros. E com essa impressão doutrinária prosseguirá em conduzir outros aos caminhos do Senhor.

Creio nessas coisas, e tenho praticado.

Deus nos fortaleça, em Cristo!

***
Autor: Luciano Sena
Fonte: MCA - Ministério Cristão Apologético

O QUE É O REINO DE DEUS?


Resumindo, o reino de Deus é o resultado da missão de Deus para resgatar e renovar sua criação arruinada pelo pecado. O reino de Deus é sobre Jesus o nosso rei estabelecendo seu governo e reinado sobre toda a criação, derrotando os poderes humanos e angélicos do mal, trazendo ordem a tudo, decretando a justiça e sendo adorado como Senhor. Tragicamente, há muitas ideias errôneas sobre o reino que deturpam as glórias do reino eterno de Deus. O reino não é como as bobagens cartunistas que mostram o céu como uma nuvem branca sobre a qual nos sentaremos vestindo fraldas e tocando harpas, com asas pequenas demais para nos levar a algum lugar divertido. O reino não é o sonho ingênuo do liberalismo, no qual, com o aumento da educação e o passar do tempo, o pecado e seus efeitos serão tão erradicados da terra que a utopia alvorecerá. O reino não é o sonho enganador da espiritualidade sem Cristo, onde todos aprendem a nutrir a centelha da divindade dentro de si e a manter o seu verdadeiro “eu bom” em harmonia. O reino não é o sonho político de que se nós simplesmente colocarmos os líderes da direita no poder e derrotar todos os bandidos, a boa vontade governará a terra. O reino é tanto uma viagem como um destino, tanto uma operação de resgate neste mundo quebrado como um resultado perfeito na nova terra por vir; ambos já iniciados e ainda não finalizados.

Por: Mark Driscoll  Fonte: Extraído do capítulo 13 (Kingdom: God Reigns) do Doctrine – pg. 411.Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / março de 2011. Via: Monergismo.com; adaptação para o blog: Rev.Ronaldo P Mendes

10 armadilhas em que o apologeta tolo pode cair


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Um embaixador de Cristo deseja ser discreto, persuasivo, sensível e atencioso. Ser um bom apologeta e ser capaz de dar boas razões para a verdade do Cristianismo exige oração, paciência, estudo e persistência. Para aqueles que decidiram ter como meta se tornar bons defensores da fé, há certas disciplinas positivas e traços de caráter que seria bom que desenvolvessem.

Mas, por outro lado, há certas armadilhas que podem aparecer que, quando não são controladas, podem se tornar traços de caráter de um apologeta tolo. Aqui listamos 10 delas:

1 – O apologeta tolo fala antes de ouvir

O apologista tolo fala antes de ouvir. Provérbios 18:13 diz: “O que responde antes de ouvir comete estultícia que é para vergonha sua.” Não só ele passa a mensagem aos outros de que ele não se importa sobre o que eles têm a dizer, como ele também se torna incapaz de dar uma boa resposta. O apologeta sábio é paciente, procura compreender, e evita monólogos.

2 – O apologeta tolo exagera no seu argumento

O apologeta tolo não tem “boas razões”. Em vez disso, ele tem “provas”. Ele pode mostrar algo sem nenhuma sombra de dúvida! Seus argumentos são apresentados com toda confiança (e é claro que ele não pode estar errado). Mesmo quando ele utiliza bons argumentos, ele exagera o que eles realmente mostram. Sem modéstia, e as pessoas o rejeitam. O apologeta sábio argumenta com confiança, mas com modéstia.

3 – O apologeta tolo quer ganhar todos os pontos

Quando a conversa fica complexa, ele precisa corrigir todos os erros que ele vê na opinião da outra pessoa. Não importa se a pessoa do outro lado da conversa esteja ficando ofendida por sua “cautelosa atenção aos detalhes.” Se ele comete um erro, pedalam para trás, sem haver qualquer admissão de que estava errado. O apologeta sábio pode discernir o que realmente importa em uma conversa.

4 – O apologeta tolo persegue pistas falsas

Se o assunto é a ressurreição, ele fala de evolução. A conversa segue em todas as direções. Ele não pode fazer qualquer progresso em um argumento, porque ele não pode detectar pistas falsas e distrações. Na verdade, ele pode muitas vezes desfrutar destes desvios de foco no diálogo, porque ele tem orgulho de sua sabedoria nessas áreas. O apologeta sábio sabe como se ater a um ponto.

5 – O apologeta insensato é orgulhoso de si mesmo

Ele gosta do fato de que ele conhece termos que fazem os “novatos” em torno dele ficarem constrangidos. Ele secretamente elogia a si mesmo por ler mais livros em um mês do que a maioria das pessoas faz em um ano. Ele gosta do som de sua própria voz, e acha que ele faz um bom trabalho em um fórum na Internet. A apologética é, na verdade, a sua ferramenta para mostrar ao mundo que ele pode malhar seu músculo intelectual. Ele recebeu sua recompensa. O apologeta sábio se humilha diante de Deus, e olha para si mesmo com o julgamento sóbrio.

6 – O apologeta tolo busca popularidade

Ele desfruta ser elogiado pelos outros, desfruta falar com muitas pessoas, gosta de ser um cara famoso. Ele joga seu nome nas telas e nos fóruns como uma maneira de mostrar aos outros o quão conectado ele é ao que está acontecendo. Ele não escolhe o lugar de humildade. O apologeta sábio floresce onde ele foi plantado, e onde Deus designou que ele estivesse.

7 – O apologeta tolo despreza a disciplina espiritual

Ele acha a filosofia mais interessante do que a leitura da Bíblia. A oração é rara e quando acontece é apressada. Na verdade, oração, meditação, estudo bíblico, adoração e comunhão estão em segundo lugar na lista de prioridades. Ele prefere bolar seus próprios argumentos antes de se conectar a Deus. O apologeta tolo engana a si mesmo, crendo que é espiritual. O apologeta sábio senta-se aos pés de Jesus.

8 – O apologeta tolo não tem amor

Ele pode falar a línguas dos filósofos e dos teólogos, mas ele não ama. Ele tem o dom da inteligência e conhece todos os mistérios e toda a ciência; seus argumentos podem mover montanhas, mas ele não ama – ele não é nada. Ele dá todo o seu tempo e energia para estudar, e rende suas finanças a diplomas universitários, mas não tem amor – e não tem nada. O apologeta sábio é motivado pelo amor a Deus e amor ao próximo.

9 – O apologeta tolo se isola dos outros

Ele não aprecia a correção. Ele tem seus próprios planos, a sua própria agenda, e seu próprio ministério pessoal. Ele se recusa a deixar que o ferro afie o ferro. Quando ele cai, ele não tem ninguém para ajudá-lo. Ele é responsável perante si mesmo. O apologeta sábio envolve-se com os conselheiros piedosos e companheiros de trabalho.

10 – O apologeta tolo não faz apologética

Ele se torna um viciado em apologética; um consumidor ao invés de um soldado alistado. Ele fala mais sobre defender a fé do que, de fato, defende a fé. Debates são um esporte para ele. Ele se esquece que almas estão em jogo e nem sequer pensa em pregar o Evangelho. O apologeta sábio quer que outros venham a Cristo mais que tudo – e ele usa a apologética como uma ferramenta para auxiliar nesta tarefa.

Deparou-se com qualquer uma dessas armadilhas em sua própria vida? Esta lista pode servir como um lembrete útil ou até mesmo servir como uma lista de pontos para pedidos de oração, tendo em vista o seu próprio desenvolvimento, para ser tornar um melhor embaixador de Cristo.

***
Autor: Brian Auten
Fonte: Apologetics 315 
Tradução: Erving Ximendes

Sem Deus não há direitos humanos


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A existência de Deus é uma precondição para a afirmação da dignidade humana.

No Brasil há um órgão chamado de Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Onde uma de suas atribuições constitucionais e regimentais são receber, avaliar e investigar denúncias de violações de direitos humanos. O principal objetivo da CDH é contribuir para a afirmação dos direitos humanos, partindo do princípio de que toda a pessoa humana possui direitos básicos e inalienáveis que devem ser protegidos.[1]

Todas as variantes de teoria moral humanista falham na tentativa de fornecer a base filosófica para o direitos universais do homem. Se os direitos não procedem de uma autoridade mais alta que o Estado, a liberdade das pessoas e o valor da vida humana dependem dos caprichos dos governantes civis. Somente quando Deus outorga direitos é que uma pessoa é proibida de tirá-los. Se os direitos surgem com o homem podem ser tirados pelo homem. Isso significa dizer que todas as pessoas que lutam contra princípios morais objetivos e absolutos estão atentando contra a base dos direitos universais do homem. Isso inclui toda corja de deputados imorais que compõe a Comissão dos Direitos Humanos do Brasil.

Eduardo R. Rabenhorst[2] escreveu que “o que se convencionou chamar 'direitos humanos' são exatamente os direitos correspondentes à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos não porque o Estado assim decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos, por intermédio de nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonástico que isso possa parecer, são direitos que possuímos pelo simples fato de que somos humanos.”

O filósofo prussiano Immanuel Kant, escreveu em sua obra chamada Fundamentação da Metafísica dos Costumes que: No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade.”[3] Kant reconheceu que a dignidade estava acima de qualquer preço; e sendo consensual que a dignidade humana é a base para a afirmação de direitos universais do homem, então os direitos humanos estão acima de qualquer negociação.

Na ética humanista, não encontramos mínima sustentação para desenvolver um conceito de dignidade humana ou moralidade absoluta. Se não há um Legislador acima dos homens, então toda norma moral é reduzida a preferências pessoais, tais como gosto particular por algumas cores ou qualquer outra coisa fútil. Todos os eventos no mundo, goste uma pessoa deles ou não, não são bons nem maus. Eles são simplesmente resultado de interações entre matéria e energia. Se algo é bom porque uma pessoa considera que é boa, então a crueldade de uma pessoa pode ser tão boa quanto à generosidade de outra. As consequências do relativismo moral são absurdas! A existência de Deus é uma precondição para o conhecimento do bem e do mal.

Em termos de metafísica, que é o estudo sobre a natureza da realidade, se a origem do homem é impessoal, seja a massa, energia, movimento ou qualquer outra coisa do tipo, pois sendo impessoal, não há diferença fundamental alguma por onde começamos, então isso nos trará grandes problemas para afirmamos algum nível de dignidade humana. O grande problema em se começar pelo impessoal é encontrar coisas que diferem o ser humano de uma formiga, por exemplo.

Por outro lado, se o homem tem a sua origem pessoal em um Deus que o criou a sua imagem, então a sua dignidade que o difere de outros seres vivos é mantida intacta através dos tempos. Quando um Criador infinito pessoal é excluído, o homem é reduzido meramente a algo impessoal acrescido de complexidade. Não há base moral alguma que lhe garanta algum tipo de dignidade. Portanto, a existência de Deus é uma precondição para a afirmação da dignidade humana.

Antes que algum cético desprovido de noções de crenças religiosas pergunte, somente o teísmo cristão pode afirmar as coisas ditas acima. No deísmo, Deus não revelou sua vontade aos homens; e no panteísmo, não há diferenças entre bem ou mal. No politeísmo a existência de vários deuses nos coloca novamente na moralidade relativa. O cristianismo ensina que a lei moral está arraigada no próprio caráter e natureza de Deus.

Algo não é bom porque Deus arbitrariamente decretou que seja bom. Também, Deus não determinou que algo fosse bom porque existe um padrão superior ao qual ele deve se conformar. Deus é bom, e uma vez que o homem foi criado a sua imagem, o seu caráter deve refletir o caráter do seu Criador. E os direitos do homem foram conferidos por Deus não porque os homens tem algum direito a parte de Deus, mas porque o próprio Deus o concedeu o criando a sua imagem.

É nessa crença que nos temos uma motivação consistente para lutarmos contra o mal e a injustiça social. Poderíamos dizer que sequer existe algum problema na maldade e injustiça social se não houver um padrão absoluto que determine o que é mal e injusto. Mas será que a maldade sempre existiu inerente ao ser humano ou não?

Não! Pois o homem foi criado bom por Deus, e isso o torna como um ser indo contra a sua natureza quando faz algo que é mal. Sem Deus, não há qualquer fundamento ético ou metafísico para julgarmos a maldade (e nem a distinção de maldade e bondade) como uma conduta anormal do ser humano. Na Bíblia encontramos a ideia de que o homem está em um estado corrompido e anormal, e não original. Deus criou o homem com uma perfeição moral, mas ele se desviou. Apesar disso, Deus providenciou um redentor para restaurar a criação em seu estado original. Se não acreditarmos nisso, nenhuma luta contra o mal e a injustiça social fará sentido. Pois o mal estará sempre no homem e não há nada que se possa fazer pra mudar isso.

O filósofo político Noberto Bobbio, referindo-se à Declaração dos direitos do homem e do cidadão de 1789, faz uma crítica aos mandamentos divinos dizendo: Os códigos morais e jurídicos foram, ao longo dos séculos, desde os Dez Mandamentos até as Doze Tábuas, conjuntos de regras imperativas que estabelecem obrigações para os indivíduos, não direitos.”[4] Bobbio demonstra dificuldades cruciais em reconhecer que códigos morais ou mandamentos pressupõem direitos. “Não matarás”, por exemplo, pressupõe que o outro tem direito a vida. “Não furtarás” pressupõe o direito de propriedade privada. “Não dirás falso testemunho” o direito a verdade. Entre outros que poderíamos citar e que consta no decálogo.

O fato é que os resultados do homem pós-moderno em querer excluir Deus da sociedade são desastrosas. Eles precisam pressupor Deus para manter a ideia de direitos universais do homem. Eles lutam contra algo que necessitam para se manterem consistentes no que afirmam! Não que eles não afirmem a distinção de bem e mal ou os direitos humanos universais, mas que eles só podem afirmar porque a cosmovisão deles é falsa e eles vivem no mundo de Deus e foi criado a imagem de Deus, independente de sua confissão nEle.

No advento do iluminismo, o homem substituiu os preceitos divinos por um contrato social com a finalidade de promover a autonomia social. Isso refletia a visão que Aristóteles tinha do homem como um animal político, cuja necessidade era viver em termos de leis políticas civis feitas mediante acordo. A vontade de Deus foi substituída por uma nova infabilidade, a vontade geral das pessoas. Para a Escritura, Deus é o bem maior; para Aristóteles, o estado é o seu deus. Em consequência disso o homem não vive mais como uma criatura feita à Imagem de Deus tendo seus direitos conferidos por Ele, mas o Estado é servido. Deus como legislador foi substituído pelo homem; e o resultado que podemos esperar disso é caos moral e social.

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Notas:
[1] http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/conheca-a-comissao
[2] Doutor em Filosofia pela Universite de Strasbourg I (1996), Diretor do Centro de Ciências Jurídicas e Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas – área de concentração em Direitos Humanos na Universidade Federal da Paraíba. Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/01_rabenhorst_oqs_dh.pdf
[3] KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. Trad. Leopoldo Holzbach. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 65
[4] Noberto Bobbio em “A Revolução Francesa e os direitos do homem”, pg. 46-7

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Autor: Gabriel Reis
Fonte: Gospel Prime

A Igreja e sua Confessionalidade


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Introdução


Muitos entendem que a ideia de confessionalidade, pelo menos de uma confessionalidade estável, está na contramão do desenvolvimento da igreja, impedindo-a de ser dinâmica e atualizada. Uma confessionalidade “engessada”, para usar o adjetivo da moda, não estaria seguindo o espírito da Reforma que, supostamente, estimula constantes mudanças. É como interpretam a máxima Ecclesia reformata semper reformanda est (igreja reformada sempre se reformando – ou sempre sendo reformada).

Numa época de relativismos de toda natureza, inclusive teológica, não é de se estranhar que a ideia de confessionalidade não seja tão bem-vista. Esta, todavia, não é uma crítica nova. Sempre houve na história da igreja aqueles que não se conformaram com o fato de ser ela identificada e regulada por credos e confissões. O historiador Philip Schaff lembra que a autoridade e o uso desses símbolos doutrinários têm sido questionados por socinianos, quacres, unitarianos e racionalistas, ao longo dos anos. A alegação é de que esses símbolos impedem a livre interpretação da Bíblia e o progresso da teologia; interferem na liberdade de consciência e no direito de juízo individual; geram hipocrisia, intolerância e fanatismo; produzem divisões e transtornos; perpetuam a animosidade religiosa e o sectarismo, além de causarem outros males. 

Ao mesmo tempo em que lembra que essas objeções foram respondidas por estudiosos como William Dunlop, em seu prefácio à Coleção das Confissões Escocesas, e em outras obras posteriores, Schaff salienta que isso acontece quando os credos ou confissões são postos acima das Escrituras e não subordinados a elas. Salienta ainda que, se fossem válidas essas críticas, tais credos não seriam mais responsáveis por esses abusos do que as próprias Escrituras, das quais eles devem ser vistos como meros sumários ou exposição.

Diz ainda que a experiência tem demonstrado que essas seitas que rejeitam todo e qualquer credo se mostram tão sujeitas à autoridade de um sistema tradicional, ou de alguns autores favoritos, e tão expostas a controvérsias, divisões e mudanças como estão as igrejas que possuem confissões e credos formais.

Conclui que nem a presença dos credos e nem a ausência deles pode oferecer proteção absoluta à pureza da fé e prática cristãs. As melhores igrejas, diz ele, têm entrado em declínio e degeneração, assim como igrejas corrompidas podem ser reavivadas e regeneradas pelo Espírito e pela Palavra de Deus, que permanece para sempre.[1]

Em vista desses fatos, é necessário que o assunto seja considerado, ainda que apenas nos seus elementos básicos, para que se verifique se a confessionalidade é ou não parte essencial da identidade de uma igreja verdadeira. Não é nossa pretensão esgotar esse tema, não só pela exiguidade de espaço neste artigo como pela própria complexidade do assunto. Nosso objetivo é apresentar, primeiro, o que entendemos ser o conceito bíblico de confessionalidade, examinando a ideia de fé como a aceitação de um conjunto de verdades bíblicas; em seguida, propor uma forma de entender o lema “Igreja reformada sempre se reformando” e, finalmente, discutir o uso e os limites da confessionalidade para a igreja em todos os tempos.

1 - O conceito bíblico de confessionalidade 

Toda ideia de fé carrega um conteúdo proposicional. Toda fé exige um objeto e a identificação desse objeto materializa-se no conteúdo proposicional do que se crê. Não só “creio”, mas “creio em” é a exigência categórica de toda e qualquer declaração de fé. Todos creem (ou deixam de crer) em alguma coisa. Não é diferente no que respeita à fé cristã. Esta, com mais propriedade, sempre se apresenta com um conteúdo definido e a aceitação desse conteúdo equivale a uma “confissão de fé”. O verbo grego homologeo, do qual deriva o nosso “confessar”, significa literalmente “falar a mesma linguagem” e, portanto, “concordar com”. Por extensão de sentido, “admitir”, “reconhecer” ou “confessar”. Uma confissão é uma declaração de concordância. Portanto, uma confissão de fé, no sentido bíblico, é uma declaração de concordância com o conteúdo do que nos é afirmado nas Escrituras sobre Deus, sobre nós mesmos e sobre o mundo.

Porém, mais do que isso, o conceito bíblico de confissão vai além e inclui também uma ação que demonstra essa concordância. É a ação que, em várias passagens das Escrituras, é chamada de “confissão”. Ela é a demonstração prática e pública daquilo que se crê, de tal forma que a confissão se confunde com a própria fé, pelo menos em termos práticos. Jesus certamente estava se referindo a este sentido quando disse: “...portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32-33). A fé não é a própria confissão verbal diante dos homens, embora esta seja uma parte importante do processo, mas aquilo que é produzido no coração pelo Espírito de Deus. 

Mas é esta fé no coração que leva o indivíduo a confessar o que crê e a agir de acordo com o que confessa. É o processo que Paulo chama de “crer com o coração” e “confessar com a boca”, em Romanos 10.9-10. Pode-se alegar que esta fé da qual Jesus e Paulo tratam é a fé salvadora e não a fé doutrinária ou proposicional, mas a relação entre ambas pode ser feita. A fé salvadora leva necessariamente à fé confessional, de caráter prático. Os termos usados para ambas são os mesmos.[2] É também com o mesmo termo “confissão” (homologia) que Paulo se refere em 2Coríntios 9.13 à prática da generosidade dos coríntios, com respeito à assistência aos santos, como sendo uma glorificação a Deus em virtude da obediência da “confissão do evangelho de Cristo”.[3] Neste conceito estão presentes não só o elemento teórico da confessionalidade do evangelho (seu conteúdo) como também a sua prática, a obediência. Esta confissão (homologia) é a que Timóteo também fez perante muitas testemunhas e que Paulo qualifica como “boa”, por ter como objeto o evangelho da fé (1Tm 6.12). É possível que Paulo estivesse se referindo a um momento da vida de Timóteo em que ele confessara a sua fé de forma pública, mas parece mais provável que estivesse apenas fazendo menção à maneira como ele, Timóteo, exercitava de forma prática a fé que havia abraçado e na qual Paulo o exortava a perseverar. É este o sentido que Calvino dá ao termo nesta passagem: “Entendo confissão, aqui, no sentido não de algo expresso verbalmente, mas de algo realizado de forma concreta, e não numa única ocasião, mas ao longo de todo o seu ministério”.[4] A aceitação do evangelho e, no caso de Timóteo, da sua chamada para pregá-lo e batalhar por ele, implica não só a crença no seu conteúdo, mas o compromisso de viver conforme esse conteúdo. É o que Paulo chama de “boa confissão”.

Este aspecto prático da “boa confissão” é, nesta mesma passagem de 1Timóteo 6.12-13, ilustrado com o exemplo do próprio Senhor Jesus que, diante de Pilatos, “deu o testemunho da boa confissão” (v. 13). Foi com a sua vida e especialmente com a sua morte que Jesus fez essa “boa confissão” (kalh.n o`mologi,an - kalen homologian). O conteúdo do evangelho fez-se evidente na morte do Senhor Jesus e a isso Paulo chama de “confissão”. Como disse Calvino, Cristo ratificou a sua doutrina, a qual Timóteo professava, não com palavras, mas com a sua morte.[5] 

O autor da epístola aos Hebreus exorta os seus leitores a conservarem firme a sua confissão (homologia), lembrando que Jesus é dela o Apóstolo e Sumo Sacerdote (4.14; 10.23; 3.1). Por confissão ele não está, ao que tudo indica, se referindo ao ato público de uma profissão de fé, mas à convicção que Jesus havia formado em seus corações a respeito de quem ele era. Ao dizer que Jesus é o “Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão” (3.1) o autor usa, no grego, um genitivo de objeto (th/j o`mologi,aj h`mw/n) para assinalar que Jesus é o objeto dessa confissão.[6] É nele que o autor e seus leitores haviam crido e era ele a pessoa que confessavam como apóstolo e sumo sacerdote. A confissão equivalia à fé que tinham depositado nele. 

Esses textos servem para mostrar o verdadeiro caráter de uma confissão e, por conseguinte, da confessionalidade. Quando o conteúdo da fé é passado para um registro escrito na forma de um credo ou confissão, corre-se o risco de tal registro ser visto apenas como uma formulação teórica e não como uma confissão no sentido bíblico, que é algo que tem a ver não só com a crença ou sua mera profissão, mas com o modo de agir em relação a ela. Quando isto acontece, perde-se o sentido primário e essencial da confessionalidade em benefício apenas do seu aspecto formal ou ideológico. Por esta razão, infelizmente, a confessionalidade pode ser vista apenas como uma fórmula teórica a que alguém deve dar seu consentimento, mas com a qual não precisa se comprometer em termos de conduta cristã ou mesmo de coerência teológica. 

Ao tratar desse assunto, portanto, é necessário que se estabeleça, de início, o princípio de que não pode existir confissão verdadeira sem fé verdadeira. Essa confissão não precisa necessariamente ser verbalizada em palavras ou fórmulas escritas, mas precisa se externar em formas de pensamento e conduta que a manifestem, como vimos nos textos bíblicos acima considerados. 

Por outro lado, a verbalização é quase que uma decorrência natural e inevitável da fé. É através dela que o conteúdo da fé se materializa e pode ser conhecido. “Cri, por isso falei” é o texto que Paulo cita do Salmo 116.10 (conforme a Septuaginta) em 2Coríntios 4.13 para também verbalizar a sua fé no cuidado providencial de Deus pelos seus, quando repete o salmista: “Também nós cremos; por isso, também falamos”. Na Bíblia, quase sempre crer é também falar. Os cânticos de personagens bíblicos, como os de Moisés (Ex 15.1-19), Davi (2 Sm 22), Maria (Lc 1.46-51), Zacarias (Lc 1.68-79) etc., assim como grande número dos salmos, podem ser considerados como verdadeiros credos ou confissões de fé ou a fala incontida que demonstra a fé que estava naqueles corações. A ideia de confessionalidade, portanto, está intimamente ligada à da proclamação daquilo que se crê.

No que diz respeito aos credos e confissões, que são também proclamações de fé, seria de se esperar que tais proclamações fossem sempre unívocas, pois só há um ensino correto das Escrituras e cabe aos seus intérpretes defini-lo e expressá-lo com precisão. Todavia, esta é uma tarefa quase impossível, não só devido aos diferentes pressupostos e métodos de interpretação bíblica usados para obtê-lo, mas até mesmo pela falta de elementos suficientes em alguns dos pontos da revelação para se chegar a uma conclusão inequívoca sobre eles. Isto explica as pequenas divergências existentes entre algumas das expressões confessionais protestantes, mesmo entre as que podem ser legitimamente chamadas de reformadas, ainda que tais divergências, obviamente, não digam respeito às doutrinas essenciais da fé cristã. É a razão porque não temos uma confissão única que atenda igualmente ao modo de pensar de todos os ramos do cristianismo.

2. O conceito bíblico de fé como um conjunto de verdades que equivale ao que chamamos hoje de confessionalidade

Nas Escrituras o termo “fé” é usado também para exprimir aquele conjunto de ensinos ou doutrinas (didake ou didaskalia) encontrados tanto nas Escrituras do Antigo Testamento como nas do Novo, nas instruções que os apóstolos (ou os que estavam sob sua autoridade) outorgaram à igreja, autorizados por Jesus e por ele instruídos através do Espírito. É o que em Atos 2.42 é denominado “doutrina dos apóstolos”. Paulo se refere a ela como “meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo” (Rm 16.25); “a fé evangélica” (Fp 1.27); “a doutrina” (1Tm 4.16; 6.1; 2Tm 3.10 e Tt 1.9 e 2.10); “a sã doutrina” (1Tm 1.10 e Tt 2.1) ou ainda “as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo” e “ensino segundo a piedade” (1Tm 6.3). Ensino e doutrina são para Paulo palavras sinônimas. Em Romanos 12.7, 1Timóteo 4.13 e Tito 2.7 ele usa o termo didaskalia para o ato de ensinar, enquanto em outras passagens usa o mesmo termo para denotar o conteúdo do ensino, como nos textos acima mencionados. João também usa o termo doutrina (didaskalia) para denotar todo o conjunto dos ensinos de Cristo (2Jo 1.9).

Esse ensino ou doutrina (didaskalia), no sentido do seu conteúdo, é apresentado por Paulo como sendo a medida ou o padrão pelo qual as Escrituras deviam ser interpretadas no exercício do “dom da profecia”, método que em Romanos 12.6 ele chama “analogia da fé” (th.n avnalogi,an th/j pi,stewj). Deve-se notar, todavia, que mesmo nos dias apostólicos já houve a necessidade de se acrescentar, em alguns casos, um adjetivo para distinguir a fé verdadeira da falsa, ou seja, a doutrina sã da contaminada ou distorcida (1Tm 1.10; 4.3,6; Tt 2.1). Sempre houve necessidade de uma definição mais clara do que está compreendido no conteúdo da fé cristã e de como esta se distingue de outros modos de crer. Foi por essa razão e com esse propósito que surgiram os credos e, mais tarde, as confissões na igreja cristã.

Já nos dias apostólicos encontramos breves expressões confessionais, especialmente com relação a Jesus Cristo, tais como as de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16); “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6.68-69); de Natanael: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel” (Jo 1.49); de Tomé: “Senhor meu e Deus meu” (Jo 20.28); do carcereiro de Filipos: “Eu creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” (At 8.36-37) e de Paulo: “...e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.11) Tais expressões confessionais podem ser encontradas, em formas mais curtas, mesmo no Antigo Testamento, em passagens como Deuteronômio 6.4 e 1 Reis 6.18, em que Iavé é apresentado não só como Deus, mas como o único Deus. Proclamações de fé um pouco mais longas podem ser encontradas nas epístolas de Paulo, como em 1Coríntios 8.6; 12.3; 15.3-7 e 1Timóteo 3.16. João condiciona o conhecimento de que algo procede de Deus à confissão de que Jesus Cristo veio em carne (1Jo 4.2). Portanto, os credos e as confissões sempre estiveram presentes na experiência dos crentes, em todo o tempo, como expressão de sua fé.

3. Em matéria de confessionalidade, a reforma diz respeito à igreja, não à fé

Uma importante questão a ser considerada quando se discute o tema da confessionalidade é se a fé precisa ser reformada. Na verdade, a pergunta é: Pode-se reformar a fé? Vê-se, de início, que a própria designação “fé reformada” pode não ser a mais adequada para denominar o modo de se entender as doutrinas bíblicas ensinadas e enfatizadas pelos reformadores e pelos que os seguiram. O próprio Calvino não parece ter usado essa designação.[7]

Há um sentido em que todos os grupos que aderiram à Reforma do século 16, formando os diferentes ramos dela oriundos, podem ser chamados de “reformados”. 

São, em maior ou menor medida, herdeiros do grande movimento que produziu a ruptura com a igreja medieval (católica). Eles ficaram caracterizados pela crença e defesa dos cinco “Sola”: Sola Scriptura (Somente a Escritura), Solus Christus (Somente Cristo), Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria(Somente a Deus a glória). Estas são, sem dúvida, marcas da fé reformada desde os seus primórdios. O termo, porém, mais tarde, passou a ser usado de modo específico para designar os grupos ou igrejas que não apenas romperam com crenças e práticas não bíblicas da igreja medieval, como outros fizeram, mas também salientaram algumas doutrinas específicas como a soberania de Deus, a eficácia e invencibilidade da graça redentora, a relação entre a lei e o evangelho, uma eclesiologia que não distingue entre Israel e Igreja como objetos de uma mesma aliança (totalmente baseada na graça divina) e, dentre outras, a ênfase em uma soteriologia inteiramente teocêntrica e monergística (que começa e termina com Deus), enunciada nos chamados Cinco Pontos do Calvinismo. Estas não eram doutrinas novas, descobertas ou desenvolvidas no século 16, mas antigas doutrinas das Escrituras já ensinadas e enfatizadas desde o tempo dos apóstolos.

Mas voltemos à nossa pergunta: A fé precisa ou, mesmo, pode ser reformada? Era a fé ou a igreja que precisava de reforma? Quando designamos a fé como “reformada” não estamos dizendo que ela passou por uma reforma ou mudança. Não foram as doutrinas do cristianismo (esse depósito sagrado que chamamos de “fé”) que mudaram. Foi a igreja que mudou para voltar a afirmá-las. O qualificativo “reformada”, hoje acrescentado à palavra “fé”, apenas quer dizer que a igreja voltou a afirmar e subscrever as antigas doutrinas do evangelho. Nada mais do que isso. A reforma não se deu no campo da fé, mas na esfera da igreja.

Infelizmente, esse conceito histórico tem perdido o seu significado. Ele se tornou amplo e vago. Pássaros de diferentes plumagens podem confortavelmente se abrigar sob a proteção dessa árvore frondosa e acolhedora, hoje chamada de “fé reformada”. E, ao que tudo indica, isto se deve ao entendimento tão difundido em nossos dias de que a natureza da fé deve ser volátil, sujeita a mutações ao sabor das tendências e variações teológicas de cada época.

Associa-se a esse conceito o lema sempre citado como provindo da Reforma: Ecclesia reformata semper reformanda est

Não se sabe ao certo a origem desse moto. Ele é geralmente atribuído ao teólogo holandês Gisbertus Voetius (1589-1676), calvinista de considerável expressão no século 17 e que participou do Sínodo de Dort (1618-1619) por ocasião da controvérsia arminiana, quando foram definidos os cinco pontos do calvinismo em resposta aos cinco pontos postulados pelos seguidores de Tiago Armínio (também conhecidos como os cinco pontos do arminianismo). Se Voetius foi o originador do moto, então a ideia que ele quis passar não era a de que a igreja deveria estar sempre aberta a mudanças em seu sistema doutrinário, ou buscando promovê-las, pois ele não seguiu o partido que queria mudanças na posição soteriológica das igrejas reformadas da época (arminianismo), mesmo tendo sido, ele próprio, aluno de Armínio. Pelo contrário, opôs-se a elas veementemente como se opunha a qualquer movimento filosófico ou teológico que, porventura, pudesse influenciar negativamente a ortodoxia, como fez com o catolicismo, o anabatismo, o judaísmo, o cartesianismo, o jansenismo e até mesmo com o seu companheiro de fé calvinista Johannes Coccejus, do qual discordava em alguns pontos teológicos.8 Voetius ficou conhecido como um calvinista rígido e intransigente e inimigo feroz do arminianismo, contra o qual já lutava mesmo antes do Sínodo de Dort (1618-1619).9 Ainda que a expressão tenha se iniciado com Voetius, é difícil imaginar que ele pudesse defender a ideia de uma fé mutante, sempre aberta a atualizações. Além disso, o ponto principal é que a expressão não se refere a uma mudança na fé, mas na igreja. O lema é Ecclesia reformata semper reformanda est e não Fides reformata semper reformanda est.

Os reformadores não pretenderam reformar a fé, entendida esta como a expressão das doutrinas exaradas nas Escrituras, mas trazer a igreja de volta a ela. Reformar é trazer à forma antiga, restaurar à situação original. Portanto, se a expressão for tomada no sentido de inovação, de adoção de uma nova teologia contrária ou diferente da fé bíblica, ela não se coaduna com o conceito dos primeiros reformadores e dos que os seguiram. Basta ler os escritos de Calvino para se ter plena certeza de qual era o espírito da Reforma. Na sua defesa da “Necessidade de Reforma da Igreja”, dirigida ao imperador Carlos V, aos príncipes e a outras autoridades reunidas na 4ª Dieta de Spira, em 1544, Calvino escreve:
Desejo, no entanto, que todo o proveito que a Igreja tenha recebido de nossos labores não tenha qualquer efeito para amenizar nossa culpa se, em qualquer ponto, lhe tivermos causado algum dano. Portanto, que seja examinada toda a nossa doutrina, nossa forma de administrar os sacramentos e nosso método de governar a igreja; e em nenhuma destas três coisas se achará qualquer mudança que tenhamos feito, em relação à forma antiga, que não tenha sido para restaurá-la ao padrão exato da Palavra de Deus.[10]

Na apresentação desse documento, que Calvino chamou de “uma humilde exortação”, ele deixa claro que o seu propósito ao escrevê-lo era pedir, “em nome de todos os que desejam que Cristo reine” que fosse “empreendida seriamente a tarefa de restaurar a igreja”. A reforma, no entendimento de Calvino (e o mesmo poderia ser dito com respeito aos demais reformadores) era a tarefa de restaurar a igreja ao que era antes, não a de atualizá-la. Na época dos reformadores era a igreja que precisava de reforma, não a fé. Esta é irreformável,

pois é a norma pétrea na qual a igreja se firma. Judas diz que a fé foi entregue “de uma vez por todas aos santos” (Jd 3). A sã doutrina precisava apenas ser redescoberta, pois estava sepultada debaixo de uma nuvem de escuridão, como se expressou Calvino naquele mesmo documento.[11]

A própria máxima acima referida tem mais de uma versão, qualquer que seja a sua fonte original. A versão mais completa é: Ecclesia reformata semper reformanda est secundum verbum dei (“A igreja reformada está sempre se reformando – ou sendo reformada – conforme a Palavra de Deus”). Essa nos parece a versão mais adequada ao espírito da Reforma do século 16. Mesmo a reforma da igreja, quando necessária, precisa ser feita segundo a Palavra de Deus. É ela o padrão pelo qual toda declaração de fé precisa ser averiguada e conferida. Uma mudança na fé não seria reforma, mas extravio ou deturpação.


Ela só pode ter lugar quando tal fé for falsa e não expressar o ensino correto da Escritura. É como Paulo afirmou:
Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema (Gl 1.8-9).

Também era deste modo que Calvino se referia às Escrituras:

Como, porém, não se outorguem oráculos dos céus quotidianamente, e só subsistem as Escrituras, na qual aprouve ao Senhor consagrar sua verdade e perpétua lembrança, elas granjeiam entre os fiéis plena autoridade, não por outro direito senão aquele que emana do céu onde foram promulgadas, e, como sendo vivas, nelas se ouvem as próprias palavras de Deus.[12] 

As mudanças que os reformadores defenderam foram as que serviram para trazer a igreja de volta à simplicidade do evangelho. 


4. Os usos da confessionalidade

Nas palavras de Philip Schaff,
... as confissões, devidamente subordinadas à Bíblia, são de grande valor e uso. São sumários das doutrinas da Bíblia, auxílio para a sua sã compreensão, vínculo de união entre os seus mestres e padrões e salvaguardas públicos contra a falsa doutrina e a prática errônea.[13]

Ainda, segundo ele, o primeiro objetivo dos credos foi distinguir a igreja do mundo, dos judeus e dos pagãos; depois, distinguir a ortodoxia da heresia e, finalmente, distinguir as denominações entre si. Esses símbolos doutrinais servem para a igreja como as constituições e regulamentos servem para qualquer sociedade bem organizada.[14] Dentre esses usos, podemos destacar pelo menos quatro: a confirmação ou proclamação, a identificação, a instrução e a correção. 


4.1 Confissão e proclamação da fé

A confissão é ao mesmo tempo uma afirmação de fé e de compromisso. Confessar é reconhecer, é admitir, é concordar. Ao confessarmos a nossa fé estamos afirmando a nossa concordância com o que confessamos e isso traz implicações. Como já foi dito aqui, declarar concordância com uma confissão de fé não é apenas uma formalidade a ser preenchida para algum efeito eclesiástico, como a admissão ao rol de membros de uma igreja ou ao seu governo. 

É um ato de adoração ou que, pelo menos, o pressupõe como resultado. Um bom exemplo disso encontramos em João 9. 35-36, na resposta do cego de nascença que foi curado por Jesus. Quando Jesus lhe perguntou “crês tu no Filho do Homem?”, ele quis saber quem era este para que nele cresse. Ao identificar-se Jesus como o próprio, a resposta afirmativa veio acompanhada de uma ação. João narra que esse homem disse “creio, Senhor”, e acrescenta um importante detalhe: “e o adorou”. A mesma coisa pode ser vista em textos como Mateus 14.23; 28.9 e 17, em que confissão e adoração vão juntas. Também em Apocalipse 5.9-14 encontramos o mesmo fato: o cântico dos quatro seres viventes e dos vinte e quatro anciãos é ao mesmo tempo confissão e adoração.

4.2 Identificação e distinção

A confessionalidade serve também para identificar e unir os que creem nas mesmas doutrinas, assim como para distingui-los dos que assim não o fazem. Como vimos nas palavras de Schaff, já citadas, desde os primórdios da igreja neotestamentária os credos e as confissões desempenharam um papel importante, tanto na identificação dos que têm a mesma crença como na dos que não a têm. Eles serviram tanto para unir como para separar. Talvez seja esse um dos motivos porque nem sempre são bem vistos e aceitos. São acusados de instrumentos de divisão e sectarismo. Naturalmente que a crítica pode ser verdadeira se a autoridade dos credos for colocada acima da autoridade das Escrituras e, principalmente, se aqueles não estiverem em concordância com estas. É possível que divisões denominacionalistas ocorram por mero espírito sectarista e não por convicções doutrinárias. Porém, mais uma vez, é preciso lembrar que toda sociedade bem organizada precisa de princípios e parâmetros  pelos quais possa se conduzir, e a igreja não foge à regra. Há um sentido, então, em que o denominacionalismo não é necessariamente um mal em todos os seus aspectos. Como destacou Schaff, no início os credos serviram para distinguir a igreja do mundo pagão e dos judeus; depois, para distinguir a ortodoxia da heresia e, finalmente, para fazer distinção entre as próprias denominações entre si. Esse fenômeno passou a acontecer após a Reforma, com a multiplicação dos ramos protestantes oriundos desse movimento. As confissões, então, passaram a servir não só para afirmar a ortodoxia, mas também para dar expressão e reunir, em diferentes denominações, pessoas que diferiam de outras no seu modo de entender certas doutrinas secundárias sobre as quais a Escritura não é totalmente clara.

4.3 Instrução

Os credos, catecismos e confissões servem também para instruir os crentes nas doutrinas das Escrituras. O verbo grego katecheo (kathce,w), do qual vem o termo “catecismo”, significa “ensinar de forma audível” ou “sistemática” e, no uso comum, instruir ou ensinar, como encontramos em Atos 18.25 e Gálatas 6.6. A Reforma se serviu desse recurso com grande proveito para instruir o povo, especialmente as crianças, nas doutrinas das Escrituras.

4.4 Correção

Um último uso das confissões pode ser o da correção. Foi através dos credos, em especial, que nos séculos 4º e 5º desvios históricos a respeito da doutrina bíblica, especialmente com relação à cristologia, foram corrigidos e heresias foram denunciadas. No século 16 os desvios do catolicismo foram expostos e denunciados por meio das confissões, com suas formulações doutrinárias sobre doutrinas básicas como as da autoridade e suficiência das Escrituras, da justificação exclusivamente pela fé, do lugar das boas obras na salvação, da necessidade da santificação, da natureza e governo da igreja, do número e natureza dos sacramentos, etc. Da mesma forma, ainda hoje é através das suas confissões que as igrejas podem exigir de seus membros a lealdade aos princípios doutrinários que entendem ser bíblicos e convincentes, inclusive usando-os como padrão para a disciplina eclesiástica, no que diz respeito à ortodoxia.

5. Os limites da confessionalidade

Uma última palavra deve ser dita com respeito aos limites da confessionalidade. Até onde vai a autoridade da igreja para exigir de seus membros obediência ou lealdade aos seus símbolos confessionais? 

Como já foi dito, é preciso reconhecer que as confissões não possuem a mesma autoridade intrínseca das Escrituras. Há uma diferença de natureza entre a revelação bíblica e a sua interpretação ou exposição encontrada nos credos e nas confissões. A primeira é revestida da autoridade divina outorgada pelo Espírito Santo no processo da inspiração. Em outras palavras, é inspirada, normativa e, por isso, infalível e inerrante na forma original em que foi dada (autógrafos). Este é um dos pressupostos da fé reformada. Já os credos e as confissões obviamente não têm esse caráter. São fruto do esforço sério e cuidadoso de pessoas que se dedicaram ao trabalho de interpretar e expor as doutrinas encontradas na revelação, mas sem a garantia da infalibilidade que foi dada pelo Espírito quando moveu ou “carregou” os homens que produziram as Escrituras. Aqueles foram homens que, como diz Pedro, “falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (1Pe 1.21). Esse processo naturalmente não ocorreu na produção dos credos e das confissões. Mas nem por isso deixam de ser importantes, úteis e necessários como afirmação, exposição e padronização do que a igreja tem entendido, ao longo dos anos, ser o ensino bíblico que ela deve aceitar e praticar. Os autores bíblicos foram os portadores da profecia (1Pe 1.21). Os autores dos credos e confissões foram os seus intérpretes, pessoas a quem o Espírito concedeu o “dom da profecia” para explicá-la e interpretá-la segundo a “analogia da fé”15 (Rm 12.6).

Outro ponto que precisa ser observado é que, nas confissões, nem todas as formulações apresentadas tratam de assuntos claramente definidos nas Escrituras. É neste particular que entram as diferenças de entendimento e interpretação e, por conseguinte, as divergências entre elas, mesmo entre as reformadas. Todavia, essas divergências não dizem respeito aos temas fundamentais da fé cristã, mas a pontos secundários. A própria Confissão de Westminster reconhece que “na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos”.[16]

Devido a esse fato, há lugar para interpretações diferentes sobre vários assuntos (tais como governo da igreja, modo de batismo, modo do culto, escatologia especial, etc.) e estes são alguns dos pontos secundários que, juntamente com outros fatores de natureza circunstancial ou histórica, têm dividido os reformados em vários grupos denominacionais, o que apenas serve para testemunhar que há liberdade de pensamento e de consciência na sua confessionalidade. Ninguém é obrigado a subscrever doutrina ou pensamento que não esteja de acordo com a sua consciência ou modo de entender as Escrituras. Mas, também por questão de consciência, ninguém deve criar embaraços àqueles que assim pensam e creem, ao se associar a uma igreja com cujos princípios e crenças não concorda.

Conclusão

Concluindo, os seguintes pontos podem ser destacados como um sumário do que temos discutido neste artigo e que entendemos ser elementos essenciais do conceito de confessionalidade da igreja de Cristo: 

1. A confessionalidade faz parte da própria natureza da fé e, por extensão, da igreja que professa a fé.

2. A confessionalidade implica compromissos. Não é possível crer sem se comprometer com aquilo em que se crê.

3. O conteúdo da fé tem sido demonstrado através de credos, confissões e declarações ao longo da história da igreja.

4. Esses credos e confissões da vertente reformada se caracterizam não só pela aceitação das doutrinas que são comuns aos demais ramos protestantes, mas por outras específicas, geralmente conhecidas como as doutrinas da graça, devido à forte ênfase na soberania de Deus em todos os aspectos de seu trato com a criação e especialmente com o homem.

5. Não é a fé que precisa ser reformada, mas a igreja, quando se desvia dela, ou seja, quando se afasta daquele depósito sagrado que nos foi legado pelos escritores bíblicos.

6. A confessionalidade serve para proclamar a crença de um determinado grupo denominacional, identificá-lo e caracterizá-lo em relação a outros grupos, instruir os seus membros e corrigir afastamentos e distorções, dentre outras funções.

7. A confessionalidade tem seus limites. Ela nunca deve ser colocada em pé de igualdade com as Sagradas Escrituras, pelas quais deve ser julgada e aferida. Se for necessário, ela deve ser revista para se ajustar ao ensino claro e insubstituível das Escrituras. É como se deve entender a expressão Ecclesia reformata semper reformanda est secundum verbum dei (“A igreja reformada está sempre se reformando segundo a Palavra de Deus”).

8. Devido ao fato de as Escrituras não serem claras em todos os pontos de que deve se ocupar a confessionalidade de uma igreja ou grupo denominacional, existem divergências em assuntos secundários entre alguns desses grupos, o que não prejudica a comunhão da fraternidade cristã.

9. Este fato, porém, não significa que a confessionalidade de uma igreja ou grupo denominacional deva ou possa ser mudada ao sabor das tendências teológicas de cada época. Na medida em que ela for uma exposição ou interpretação fiel das Escrituras, não precisa e não pode ser alterada. E é assim que as confissões protestantes, de uma forma geral e, em especial, as reformadas, têm atravessado os séculos sem sofrer mudanças fundamentais.

10. A confessionalidade tem sido uma salvaguarda para a fidelidade doutrinária da igreja de Cristo, na medida em que esta se submete à autoridade suprema das Escrituras Sagradas, que são a própria Palavra de Deus.

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Notas:
** Este artigo é uma condensação e adaptação do texto “O caráter confessional da fé reformada”, do mesmo autor, que figura como o capítulo 2 do livro A Glória da Graça de Deus, editado por Franklin Ferreira (Editora Fiel, 2010). A condensação e publicação nesta revista foram autorizadas pela editora.
[1] Ver Schaff, Philip. The Creeds of Christendom. Grand Rapids: Baker, 1990, vol. 1, p. 9.
[2] Homologeo para o verbo “confessar” e homologia para o substantivo “confissão”.
[3] A preposição evpi,, usada com o genitivo em sentido figurado, tem o propósito de mostrar a base ou a evidência de alguma coisa, podendo ser traduzida como “por causa de”, “em razão de”, ou “devido a”. Neste texto de 2Coríntios 9.13, no contexto em que ela é usada (evpi. th/| u`potagh/| th/j o`mologi,aj u`mw/n eivj to. euvagge,lion tou/ Cristou), traz a ideia de que a ministração daquela generosidade era feita em razão ou como prova da obediência (ou submissão) daqueles crentes à confissão do evangelho que haviam feito.
[4] Calvino , João. As Pastorais. São Paulo: Edições Paracletos, 1998, p. 173.
[5] Ver Calvino , 1998, p. 174-175.
[6] O mesmo uso desse genitivo é encontrado em Hebreus 10.23, onde o autor se refere à “confissão da esperança”, ou seja, à “esperança que confessamos”, como traduz a NVI, e em 2Coríntios 9.13, onde Paulo fala sobre a “obediência da vossa confissão”, ou seja, a obediência que acompanhava a confissão que aqueles crentes faziam (ver nota 4). A NVI traduz essa expressão de Hebreus 3.1 como “...Jesus, apóstolo e sumo sacerdote que confessamos”.
[7] O uso dessa expressão, ao que tudo indica, não se encontra nos escritos dos reformadores.
Embora ela ocorra na tradução inglesa da biografia de João Calvino, escrita por Teodoro Beza, onde se diz que Calvino passou a devotar-se ao estudo da Escritura e a aborrecer todo tipo de superstição, depois que se familiarizou com a “fé reformada”, por meio do seu parente Pierre Robert Olivet (ver “Life of John Calvin”, in: TORRANCE, T. F., ed. John Calvin´s Tracts and Treatises. Grand Rapids: Eerdmans, vol. I, p. lx), essa não é a expressão usada no original em francês, o qual, em vez de “fé reformada” tem “religião pura” (ver: “L’histoire de la vie et mort de feu M. Jean Calvin”. Disponível aqui. Acesso em: 28 maio 2010.
[9] Ver “Gijsbert Voetius: Defender of Orthodoxy”, in http://www.vbru.net/src/theologiens/voetius.htm, e “Gisbertus Voetius”, in http://www.reformedfellowship.net/articles/vandam_gisbertus_voetius_mar06_v56_n03.htm.
Acesso em: 14 abr. 2010.
[10] Calvin , John. The Necessity of Reforming the Church. Dallas: Protestant Heritage Press, 1995, p. 40-41. Minha tradução.
[11] Cf. CALVIN, 1995, p. 38-39.
[12] Calvino , João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, vol. 1, p. 73 (I, 7, 1).
[13] Schaff, 1990, p. 8.
[14] SCHAFF, 1990, p. 8-9.
[15] Essa é a maneira como Calvino entende a expressão grega avnalogi,an th/j pi,stewj / de interpretar as Escrituras e aplicá-las à igreja”. Essa interpretação é a que faz mais justiça ao sentido do termo “analogia”, que significa proporção, não no sentido de medida ou extensão, mas de igualdade, congruência ou conformidade. Assim, a proporção da fé é a coerência que um texto das Escrituras mantém com os demais e deve nortear a sua interpretação. Fé aqui, então, deve ser entendida como o conjunto da revelação bíblica, que é o seu objeto ou conteúdo. Ver nota do editor da versão em inglês do comentário de Romanos de Calvino, em Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Romans. Grand Rapids: Baker, p. 461, nota 1.
[16] A Confissão de Fé. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991, I.9.

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Sobre o autor: Rev. João Alves dos Santos é mestre em Divindade e em Teologia do Antigo Testamento pelo Faith Theological Seminary e em Teologia do Novo Testamento pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. É professor assistente de Novo Testamento e coordenador da Educação a Distância (EAD) do CPAJ. É também professor do Seminário JMC e ministro da Igreja Presbiteriana Conservadora do Brasil.
Fonte: Fides Reformata, XIX