quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012



Arrependimento é Deixar o Pecado
por
Dwight Lyman Moody
Eu não me dirijo somente ao não convertido, porque sou daqueles que crêem que a igreja precisa se arrepender muito antes que muita coisa de valor possa ser feita no mundo. Acredito firmemente que o baixo padrão de vida cristã está mantendo muita gente no mundo e nos seus pecados. Se o incrédulo vê que o povo cristão não se arrepende, não se pode esperar que ele se arrependa e se converta de seu pecado. Eu tenho me arrependido dez mil vezes mais depois que conheci a Cristo, do que em qualquer época anterior, e penso que a maioria dos cristãos precisa se arrepender de alguma coisa.
Assim, quero pregar tanto para os cristãos como para os não-convertidos, tanto para mim mesmo quanto para aquele que nunca conheceu a Cristo como seu Salvador.


Há cinco coisas que fluem do verdadeiro arrependimento:
1. Convicção.
2. Contrição.
3. Confissão de pecado.
4. Conversão.
5. Confissão de Cristo diante do mundo.

Convicção
Quando um homem não está profundamente convicto de seus pecados, é um sinal bem certo de que ainda não se arrependeu de verdade. A experiência tem me ensinado que as pessoas que têm uma convicção muito superficial de seus pecados, cedo ou tarde recaem em suas velhas vidas. Nos últimos anos tenho estado bem mais ansioso por uma profunda e verdadeira obra de Deus entre os já convertidos do que em alcançar grandes números. Se um homem confessa ser convertido sem reconhecer a atrocidade de seus pecados, provavelmente se transformará num ouvinte endurecido que não irá muito longe. No primeiro sopro de oposição, na primeira onda de perseguição ou ridículo, eles serão carregados de volta para o mundo.


Creio que é um erro lamentável conduzirmos tantas pessoas à igreja que nunca experimentaram a verdadeira convicção de pecados. O pecado no coração do homem é tão negro hoje quanto o foi em qualquer outra época. Às vezes penso que está mais negro. Porque quanto maior a luz que uma pessoa tiver, maior sua responsabilidade, e por conseguinte maior a sua necessidade de profunda convicção.
Até que a convicção de pecados nos faça cair de joelhos, até que estejamos completamente humilhados, até que tenhamos perdido toda esperança em nós mesmos, não podemos encontrar o Salvador.
Há três coisas que nos levam à convicção: (1) A Consciência; (2) A Palavra de Deus; (3) O Espírito Santo. Todos os três sao usados por Deus.


Muito antes de existir a Palavra escrita, Deus tratava com o homem através da consciência. Foi por isto que Adão e Eva se esconderam da presença do Senhor Deus entre as árvores do Jardim do Éden. Foi isto que convenceu os irmãos de José quando disseram: "Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmão, pois lhe vimos a angústia da alma, quando nos rogava, e não lhe acudimos. Por isso", disseram eles (e lembre-se, mais de vinte anos haviam se passado depois que eles o venderam como cativo), " por isso nos vem essa ansiedade".
É a consciência que devemos usar com nossos filhos antes de atingiram uma idade onde podem entender a Palavra e o Espírito de Deus. E é a consciência que acusa ou inocenta o ímpio.
A consciência é "uma faculdade divinamente implantada no homem, que o pede a fazer o que é certo". Alguém disse que ela nasceu quando Adão e Eva comeram do fruto proibido, quando seus olhos foram abertos e "conheceram o bem e o mal". Ela julga, mesmo contra nossa vontade, os nossos pensamentos, palavras, e ações, aprovando ou condenando-os de acordo com a sua avaliação de certo ou errado. Uma pessoa não pode violar sua consciência sem sentir a sua condenação.


Mas a consciência não é um guia seguro, porque freqüentemente ela só dirá que uma coisa é errada depois de você a praticar. Ela precisa ser iluminada por Deus porque faz parte de nossa natureza caída. Muitas pessoas fazem o que é errado sem serem condenadas pela consciência. Paulo disse: "Na verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno" (At 26:9). A própria consciência precisa ser educada.
Outra vez, a consciência freqüentemente é como um relógio despertador, que a princípio desperta e acorda, mas com o tempo a pessoa se acostuma com ele, e então perde o seu efeito. A consciência pode ser asfixiada. Creio que cometemos um erro em não dirigirmos as pregações mais para a consciência.
Portanto, no devido tempo a consciência foi suplantada pela Lei de Deus, que no seu tempo foi cumprida em Cristo.


Neste país cristão, onde as pessoas têm Bíblias, a Palavra de Deus é o meio que Deus usa para produzir convicção. A Bíblia nos diz o que é certo e o que é errado antes de você cometer o pecado, e assim o que você precisa é aprender e apropriar-se de seus ensinos, sob a direçao do Espírito Santo. A consciência comparada à Bíblia é como uma vela comparada ao sol lá no céu.
Veja como a verdade convenceu aqueles judeus no dia de Pentecostes. Pedro, cheio do Espírito Santo, pregou que "este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo". "Ouvindo eles estas cousas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?" (At 2: 36, 37).


Em terceiro lugar, enfim, o Espírito Santo convence. Algumas das mais poderosas reuniões de que já participei foram aquelas em que houve uma espécie de quietude sobre o povo e parecia que um poder invisível se apoderava das consciências. Lembro-me de um homem que veio à reunião e no momento em que entrou, sentiu que Deus estava lá. Um senso de reverência veio sobre ele, e naquela mesma hora sentiu convicção e se converteu.

Contrição
A próxima coisa é a contrição, o profundo sentimento de tristeza segundo Deus e humillhação de coração por causa do pecado. Se não houver verdadeira contrição, o homem voltará direto para o seu velho pecado. Esse é o problema com muitos cristãos.
Um homem pode sentir raiva e se não houver muita contrição, no dia seguinte sentirá raiva outra vez. A filha pode dizer coisas indignas, ofensivas à sua mae, e porque sua consciência lhe perturba ela diz: "Mãe, sinto muito. Perdoe-me".
Mas logo há um outro impulso genioso, porque a contrição não foi profunda nem verdadeira. Um marido diz palavras agressivas à sua esposa, e então para aliviar sua consciência, compra um buquê de flores para ela. Ele não quer enfrentar a situação como um homem e dizer que errou.


O que Deus quer é contrição, e se não houver contrição, não há arrependimento completo. "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido." "Coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus." Muitos pecadores lamentam por seus pecados, lamentam por não poderem continuar pecando; mas se arrependem apenas com corações que não estão quebrantados. Não creio que saibamos como nos arrepender atualmente. Precisamos de um João Batista, que ande pelo país, gritando: "Arrependam-se! Arrependam-se!"

Confissão de pecado
Se tivermos verdadeira contrição, ela nos levará a confessarmos nossos pecados. Creio que nove décimos dos problemas em nossa vida cristã são resultado de não fazermos isso. Tentamos esconder e cobrir nossos pecados. Há muito pouca confissão deles. Alguém disse: "Pecados não confessados na alma são como uma bala no corpo".
Se você não tiver poder, talvez seja porque há algum pecado que precisa ser confessado, alguma coisa em sua vida que necessita ser removida. Não importa quantos salmos você cante, ou a quantas reuniões você compareça, ou o quanto você ore e leia a sua Bíblia, nada disso encobrirá esse tipo de problema. O pecado deve ser confessado, e se o meu orgulho me impede de confessar, não devo esperar misericórdia de Deus nem respostas às minhas oraçoes.


A Bíblia diz: "O que encobre as suas transgressões, jamais prosperará" (Pv 28:13). Pode ser um homem no púlpito, um sacerdote por trás do altar, um rei no trono _ não me importo quem ele seja. O homem está tentando fazer isso há seis mil anos. Adão o tentou e falhou. Moisés o tentou quando enterrou o egípcio que matou, mas falhou.
"Sabei que o vosso pecado vos há de achar." Por mais que você tente enterrar o seu pecado, este tornará a aparecer mais cedo ou mais tarde, se não for apagado pelo Filho de Deus. Se o homem nunca conseguiu fazer isso em seis mil anos, é melhor você e eu desistirmos de tentar.
Há três maneiras de se confessar pecados. Todo pecado é contra Deus, e a Ele deve ser confessado. Há pecados que eu não preciso confessar a pessoa alguma no mundo. Se o pecado foi entre mim e Deus, devo confessá-lo sozinho no meu quarto. Não preciso cochichá-lo no ouvido de nenhum mortal. "Pai, pequei contra o céu e diante de Ti." "Pequei contra Ti, contra Ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos."


Mas se fiz algo errado a alguma pessoa, e ela sabe que a prejudiquei, devo confessar o pecado não somente a Deus mas também a esta pessoa. Se o meu orgulho me impede de confessar meu pecado, não preciso ir a Deus. Posso orar, posso chorar, mas isso não adiantará. Primeiro confesse àquela pessoa, e depois a Deus, e veja com que rapidez Ele lhe ouvirá e lhe enviará a paz. "Se pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta." (Mt 5: 23, 24). Esse é o caminho bíblico.
Há outra classe de pecados que devem ser confessados publicamente. Suponha que fui conhecido como um blasfemador, um alcoólatra ou um depravado. Se me arrependo de meus pecados, devo ao público uma confissão. A confissão deve ser tão pública quanto foi a trangressão. Muitas vezes uma pessoa dirá algo maldoso a respeito de outra na presença de terceiros, e então tentará apaziguar isso indo somente à pessoa prejudicada. A confissão deve ser feita de forma que todos os que ouviram a transgressão possam ouvir a confissão.


Somos bons em confessar o pecado de outras pessoas, mas se experimentarmos um verdadeiro arrependimento, ficaremos mais que ocupados cuidando dos nossos próprios pecados. Quando alguém dá uma boa olhada no espelho de Deus, não encontrará ali faltas dos outros; tem coisas demais a ver em si mesmo.
"Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" ( 1 Jo 1:9 ). Obrigado Senhor pelo Evangelho! Crente, se há algum pecado em sua vida, resolva confessá-lo, e seja perdoado. Não deixe nenhuma nuvem entre você e Deus. Garanta o seu título para a mansão que Cristo foi preparar para você .

Conversão
A confissão leva à verdadeira conversão, e não pode haver uma verdadeira conversão, até que se tenha dado esses três passos.
Agora a palavra conversão significa duas coisas. Dizemos que uma pessoa é "convertida" quando nasce de novo. Mas conversão também tem um significado diferente na Bíblia. Pedro disse: "Arrependei-vos...e convertei-vos" (At 3:19). Existe uma versão que traduz assim: "Arrependei-vos e voltai-vos". Paulo disse que não foi desobediente à visao celestial, mas começou a pregar a judeus e gentios para que se arrependessem e se voltassem para Deus. Um certo teológo de outra época disse: "Todos nós nascemos de costas para Deus. O arrependimento é uma mudança de trajetória. É uma volta de cento e oitenta graus."


Pecado é afastar-se de Deus. Como alguém disse, é aversão a Deus e conversão para o mundo; enquanto que o verdadeiro arrependimento significa conversão a Deus e aversão ao mundo. Quando há verdadeira contrição, o coração está entristecido por causa do pecado; quando há verdadeira conversão, o coração fica liberto do pecado. Deixamos a velha vida, somos transportados do reino das trevas para o reino da luz. Maravilhoso, não é ?
A não ser que nosso arrependimento inclua essa conversão, não vale muito. Se alguém continua em pecado, é a prova de uma profissão inútil. E como bombear água para fora do navio, sem tampar os vazamentos. Salomão disse: "Se o povo orar... e confessar teu nome, e se converter dos seus pecados..." (2 Cr 6:26).


Oração e confissão não seriam de proveito nenhum enquanto o povo continuasse em pecado. Vamos prestar atenção à chamada de Deus. Vamos abandonar o velho caminho perverso. Voltemos ao Senhor, e Ele terá misericórdia de nós, e ao nosso Deus, porque Ele perdoará abundantemente.

Confissão de Cristo
Se você é convertido, o próximo passo é confessar isso abertamente. Ouça: "Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação" ( Rm 10:9, 10 ).
A confissão de Cristo é o clímax da obra de verdadeiro arrependimento. Devemos isso ao mundo, aos nossos semelhantes cristãos e a nós mesmos. Ele morreu para nos redimir, e podemos estar envergonhados ou com medo de confessá-Lo? A religião como uma abstraçao, como uma doutrina, tem pouco interesse para o mundo, mas aquilo que as pessoas podem testemunhar da experiência pessoal sempre tem peso.


Ah, amigos, estou tão cansado de cristianismo medíocre. Vamos nos entregar cem por cento por Cristo. Não vamos dar um som inseguro. Se o mundo quer nos chamar de tolos, que o faça. É apenas por um pouco. O dia da coroação está chegando. Graças a Deus pelo privilégio que temos de confessar a Cristo!
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A SOLIDÃO DE DEUS - A. W. Pink - 2 de 2

A Solidão de Deus - A. W. Pink - 1 de 2

Não Fabricamos um Deus - João Calvino (1509-1564)

Escravidão da Vontade - João Calvino (1509 - 1564)

John Bunyan - A Graça do Sofrimento - (1628-1688)

A Natureza enganosa do Pecado - Jonathan Edwards (1703-1758)

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado - Jonathan Edwards - Sermão Completo

Arrependimento! - George Whitefield (1714 1770) - Sermão Completo

Leia a Bíblia contra você! - Jonathan Edwards (1703 1758)

A Oração mais breve de Pedro - C. H. Spurgeon - Sermão

O Primeiro Clamor da Cruz - C. H. Spurgeon (Sermão nº 897)

Se há Eleitos, Houve Eleição! - C. H. Spurgeon

UMA VIDA CHEIA DO ESPÍRITO Por
CHARLES G. FINNEY
Capitulo 1
Poder do Alto

Peço vênia para, através desta coluna, corrigir a impressão errônea recebida por alguns dos participantes do recente Concílio em Oberlin, do breve comentário que lhes fiz na manhã do sábado e, depois, no domingo. Na primeira dessas ocasiões, chamei a atenção dos presentes para a missão da Igreja, de fazer discípulos de todas as nações, de acordo com o registro de Mateus e de Lucas. Afirmei que essa incumbência foi dada por Cristo a toda a Igreja, da qual cada membro está na obrigação de fazer da conversão do mundo o trabalho a que dedique a sua vida. Levantei então duas questões: 1) de que necessitamos, para conseguir sucesso nessa obra imensa? 2) Como podemos obtê-lo?

Resposta -- 1. Precisamos ser revestidos de poder do alto. Cristo anteriormente informara aos discípulos que, sem ele, nada podiam fazer. Quando os encarregou da conversão do mundo, acrescentou: "Permanecei, porém, na cidade (Jerusalém), até que do alto sejais revestidos de poder. Sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias. Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai". Esse batismo do Espírito Santo, a promessa do Pai, esse revestimento do poder do alto, Cristo informou-nos expressamente ser a condição indispensável para a realização da obra de que ele nos incumbiu.

2. Como havemos de obtê-lo? Cristo prometeu-o expressamente, a toda a Igreja e a cada pessoa cujo dever é trabalhar para conversão do mundo. Ele admoestou os primeiros discípulos a que não pusessem mãos à obra enquanto não recebessem esse revestimento de poder do alto. Tanto a promessa como a admoestação têm igual aplicação a todos os cristãos de todos os tempos e povos. Ninguém, em tempo algum, tem o direito de esperar bom êxito, se não obtiver primeiro o poder do alto. O exemplo dos primeiros discípulos ensina-nos como obter esse revestimento. Primeiramente consagraram-se a esse trabalho, continuando em oração e súplicas até que, no dia de Pentecoste, o Espírito Santo veio sobre eles e receberam o prometido revestimento do poder do alto. Eis, portanto, a maneira de obtê-lo.

O Concílio pediu-me que dissesse mais sobre o assunto, razão pela qual, no domingo, tomei por texto a declaração de Cristo, de que o Pai está mais pronto a dar o Espírito Santo àqueles que lho pedirem, do que nós a darmos boas dádivas a nossos filhos. Disse a eles:
1. Este texto informa-nos que é sumamente fácil obter-se o Espírito Santo, ou seja, esse revestimento de poder da parte do Pai.
2. Isso se torna assunto constante de oração: todos o pedem, em todas as ocasiões; entretanto, à vista de tanta intercessão, é relativamente pequeno o número daqueles que, efetivamente, são revestidos desse Espírito do poder do alto! A lacuna não é preenchida: a falta de poder é assunto de constante reclamação. Cristo diz: "Todo o que pede recebe", porém não há negar que existe um "grande abismo" entre o pedir e o receber, o que representa pedra de tropeço para muitos. Como, então, se explica essa discrepância?
Tratei de mostrar por que muitas vezes não se recebe o revestimento.

Eu disse a eles: 1) De modo geral, não estamos dispostos a ter aquilo que desejamos e pedimos: 2) Deus nos informa expressamente que, se contemplarmos a iniqüidade no coração, ele não nos ouvirá. Muitas vezes, porém, quem pede é complacente consigo mesmo; isso é iniqüidade, e Deus não o ouve; 3) é descaridoso; 4) é severo em seus julgamentos; 5) é autodependente; 6) repele a convicção de pecado; 7) recusa-se a fazer confissão a todas partes envolvidas; 8) recusa-se a fazer restituição às partes prejudicadas; 9) é cheio de preconceitos insinceros; 10) é ressentido; 11) tem espírito de vingança; 12) tem ambição mundana; 13) comprometeu-se em algum ponto e não quer dar o braço a torcer, ignora e rejeita maiores esclarecimentos; 14) defende indevidamente os interesses de sua denominação;

15) defende indevidamente os interesses da sua própria congregação; 16) resiste aos ensinos do Espírito Santo; 17) entristece o Espírito Santo com dissenção; 18) extingue o Espírito pela persistência em justificar o mal; 19) entristece-o pela falta de vigilância; 20) resiste-lhe dando largas ao mau gênio; 21) é incorreto nos negócios; 22) é impaciente para esperar no Senhor; 23) é egoísta de muitas formas; 24) é negligente na vida material, no estudo, na oração; 25) envolve-se demasiadamente com a vida material, e os estudos, faltando-lhe por isso tempo para oração; 26) não se consagra integralmente, e --27) o último e maior motivo, é a incredulidade: pede o revestimento, sem real esperança de recebê-lo. "Quem em Deus não crê, mentiroso o faz." Esse, então, é o maior pecado de todos. Que insulto, que blasfêmia, acusar a Deus de mentir!

Fui obrigado a concluir que, nesses e noutros pecados é que se encontra a razão de se receber tão pouco quando tanto se pede. Falei que não havia tempo para apresentar o outro lado da questão. Alguns dos irmãos perguntaram depois: "Qual é o outro lado?" O outro lado apresenta a certeza de que receberemos o prometido revestimento de poder do alto e seremos bem-sucedidos em ganhar almas, desde que peçamos e cumpramos as condições, claramente reveladas. da oração vitoriosa. Observe-se que o que eu disse no domingo versava sobre o mesmo assunto do dia anterior e era um aditamento a ele.
O mal-entendido a que fiz alusão foi o seguinte: se primeiro nos desfizermos de todos esses pecados que nos impedem de receber o revestimento, não estaremos já de posse da bênção? De que mais precisamos?

Resposta: há grande diferença entre a paz e o poder do Espírito Santo na alma. Os Discípulos eram cristãos antes do dia de Pentecoste e, como tais, possuíam certa medida do Espírito Santo. Forçosamente, tinham a paz resultante do perdão dos pecados e do estado de justificação, porém ainda não tinham o revestimento de poder necessário para desempenharem a obra que lhes fora atribuída. Tinham a paz que Cristo lhes dera, mas não o poder que lhes prometera. Isso pode se dar com todos os cristãos, e, a meu ver, está exatamente aí o grande erro da Igreja e do ministério: descansam na conversão e não buscam até obter esse revestimento de poder do alto.

Resulta que tantos que professam a fé não têm poder nem com Deus nem com o homem. Não sáo vitoriosos, nem com um nem com o outro. Agarram-se a uma esperança em Cristo, chegando mesmo a ingressar no ministério, mas deixam de parte a admoestação a que esperem até que sejam revestidos do poder do alto. Mas, traga alguém todos os dízimos e todas as ofertas ao tesouro de Deus; deponha tudo sobre o altar, nisso prove a Deus, e verificará que Deus "abrirá as janelas do céu e derramará uma bênção tal que dela lhe advenha a maior abastança".

Acidentes, Não Castigos ( Sermão de C.H.Spurgeon )


Sermão pregado Domingo, 8 de setembro de 1861
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.

“E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Lucas 13:1-5

O ano de 1861 será notório entre seus companheiros por ser um ano marcado por calamidades. Justo na época quando o homem sai a receber o fruto de seus labores, quando a colheita da terra está madura, e os celeiros começam a encher-se, cheios de trigo novo, a Morte também, essa poderosa segadora, saiu para cortar sua própria colheita – feixes completos foram recolhidos em seu celeiro: a tumba. Terríveis foram os lamentos que formam o hino de colheita da morte.

Ao ler os jornais essas ultimas semanas, ainda as pessoas mais impassíveis experimentaram sentimentos muito dolorosos. Não só ocorreram calamidades tão alarmantes que só de lembrar gelam o sangue, mas também as colunas dos periódicos foram dedicadas a certas calamidades de um menor nível de horror, mas que, somadas todas, são suficientes para encher a mente de terror, pela tremenda quantidade de mortes inesperadas que recentemente corresponderam aos filhos dos homens.

Não somente temos tido acidentes a cada dia da semana, mas sim até dois ou três – não fomos simplesmente aturdidos pelo alarmante ruído de um terrível estrondo, mas antes com outro, outro, outro e outro, que seguiram suas pisadas, como os amigos de Jó, até que tenhamos tido necessidade da paciência e da resignação de Jó para escutar a terrível narrativa dessas calamidades. Agora, homens e irmãos, coisas como essas ocorreram sempre em todas as épocas do mundo. Não pensem que isso é algo novo – não considerem, como alguns fazem, que isso é o produto de uma civilização excessiva, ou o resultado dessa descoberta moderna tão maravilhosa como é o vapor. Se jamais se tivesse conhecido a máquina a vapor, e se nunca se tivesse construído uma ferroviária, de todas as formas teriam ocorrido mortes inesperadas e acidentes terríveis.

Ao revisar os velhos arquivos nos quais nossos antepassados registraram os acidentes e as calamidades, encontramos que a antiga diligência ofereceu à morte uma presa tão custosa como o trem que roda ferozmente o faz; tinham então tantas portas para o Hades como as que existem hoje – caminhos tão empinados e íngremes que conduziam para a morte, que eram transitados por uma multidão tão vasta como em nossa época; Por acaso duvidam disso?
Peço-lhes que nos dirijamos ao capítulo treze de Lucas. Lembrem-se desses dezoito sobre os quais a torre de Siloé caiu. Que tal se nenhuma colisão os tivesse esmagado?[1] Ou que se não tivessem sido destruídos pelo ingovernável cavalo de ferro que os arrastou a água desde um aterro?[2] No entanto, alguma torre mal construída, ou alguma parede golpeada pela tempestade poderia ter caído sobre dezoito de uma vez, e teriam perecido.

Ou pior que isso, um governante déspota, levando as vidas dos homens penduradas em seu cinto como se fossem as chaves de seu palácio, poderia ter caído subitamente sobre os que estavam adorando no próprio templo, e poderia ter misturado o sangue deles com o sangue dos bezerros que nesse momento estavam sendo sacrificados ao Deus do céu. Não pensem, então, que essa é uma época na que Deus está tratando mais duramente com nós do que antes. Não pensem que a providência de Deus se tem voltado mais dura do que antes: sempre ocorreram mortes inesperadas, e sempre as haverá – sempre tem ocorrido estações nas que os lobos da morte tem caçado em manadas famintas, e provavelmente, até o fim dessa dispensação, o último inimigo terá seu festival periódico e satisfará aos vermes com carne humana.

Portanto, não estejam abatidos pelas mortes inesperadas, nem tampouco estejam perturbados com essas calamidades. Continuem com suas atividades normais, e se seus chamados os levam a cruzar o campo da própria morte, o façam, e façam corajosamente. Deus não soltou as rédeas do mundo, não tirou Sua mão do timão do grande barco, todavia:
“Ele em todas as partes possui império,
e todas as coisas servem a seu propósito;
Cada ato seu é pura benção,
Seu caminho é luz sem mancha.”
Só aprendam a confiar Nele, e não terão nenhum temor à morte inesperada; “A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra.” (Salmo 25:13)

O tema particular dessa manhã, no entanto, é esse: o uso que devemos encontrar para esses terríveis textos que Deus está escrevendo com letras maiúsculas na história do mundo. Deus falou uma vez, sim, duas vezes – que não se diga que o homem não prestou atenção. Temos visto um vislumbre do poder de Deus, contemplamos alguma coisa da rapidez com a que Ele pode destruir nossos concidadãos. “Presta atenção ao castigo e a quem o estabelece;” e ao prestar atenção, façamos duas coisas.

Primeiro, não sejamos tão insensatos para tirar a conclusão a que chegam as pessoas supersticiosas e ignorantes; essa conclusão que está sugerida no texto, quer dizer, que os que são destruídos por meio de acidentes, são pecadores que estão acima de todos os pecadores que habitam o lugar. E, em segundo lugar, cheguemos à conclusão apropriada e correta; façamos um uso prático de todos esses eventos para nossa própria melhoria pessoal: escutemos a voz do Salvador que diz: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

I. Primeiro, então, TENHAMOS MUITO CUIDADO DE NÃO CONCLUIR APRESSADAMENTE E IRREFLETIDAMENTE SOBRE ESSES TERRIVEIS ACIDENTES: QUE OS QUE OS SOFREM, OS SOFREM POR CULPA DE SEUS PECADOS.
É dito de maneira mais absurda que os que viajam no primeiro dia da semana, e sofrem um acidente, devem considerar esse acidente como um juízo de Deus sobre eles, devido a estarem violando o dia de adoração cristão. Tem se dito, ainda por parte de ministros piedosos, que essa ultima colisão deplorável dos trens deve-se considerar uma notável visitação e sumariamente maravilhosa da ira de Deus contra esses infelizes que por casualidade encontravam-se no túnel Clayton.

Porem, eu apresento meu protesto mais enérgico contra uma conclusão assim, não só em meu nome, mas também em nome Daquele que é o Senhor do cristão e Mestre do cristão. Eu pergunto acerca dessas pessoas que foram esmagadas nesse túnel, pensam vocês que eles era maiores pecadores do que todos os pecadores? “Não, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”, ou os que morreram na segunda feira passada, pesam vocês que eles eram maiores pecadores que todos os pecadores que estavam em Londres?[3] “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

Agora, fixem-se bem, eu não negaria que existiram ocasiões em que houve juízos de Deus sobre pessoas particulares devido a seu pecado; algumas vezes, e eu penso que muito raramente, tais coisas ocorreram. Alguns de nós ouvimos, em nossa própria experiência, que certos homens blasfemam a Deus e o desafiaram a que os destruísse, e morreram repentinamente – e em tais casos, o castigo seguiu tão rapidamente á blasfêmia que era impossível não ver a mão de Deus nisso. O homem havia perdido perversamente o juízo de Deus, e sua oração foi ouvida, e veio o juízo.

E alem de toda dúvida, existe o que se pode descobrir como juízos naturais. Vocês vêm a um homem vestindo farrapos, pobre, sem casa – foi um libertino, um bêbado, perdeu seu caráter, e não é senão o justo juízo de Deus sobre esse homem que esteja morrendo de fome, e que seja um proscrito dos homens. Vocês podem ver nos hospitais a repugnantes exemplares de homens e mulheres que estão terrivelmente enfermos – Deus não queira que em tais casos, nós neguemos que existe um juízo de Deus sobre essas concupiscências ímpias e licenciosas.
E o mesmo pode se disser de muitos casos onde existe um vínculo tão claro entre o pecado e o castigo que até os homens mais cegos podem discernir que Deus converteu a Miséria na filha do Pecado. Porem, em casos de acidente, tal como esse a que me refiro, e em casos de morte repentina e instantânea, repito, eu apresento meu mais sincero protesto contra essa insensata e ridícula ideia que os que perecem assim, são mais pecadores que todos os pecadores que sobrevivem sem sofrer dano algum.

Simplesmente permitam-me raciocinar esse assunto com o povo cristão – pois há alguns cristãos sem maior iluminação que se sentirão horrorizados pelo que eu disse. E, os que tendem a ser perversos podem sonhar inclusive que eu estou fazendo uma apologia para o quebrantamento do dia de adoração. Porem, eu não faço tal coisa. Eu não diminuo a gravidade do pecado; eu só testifico e declaro que os acidentes não devem ser vistos como castigos, pois o castigo não pertence a esse mundo, mas sim ao futuro. A todos aqueles que se apressam em considerar cada calamidade como um juízo, eu quero lhes falar na esperança sincera de corrigir-lhes.
Então, permitam-me começar perguntando, meus amados irmãos, por acaso não enxergam que o que dizem não é certo? E essa é a melhor das razões do porque não devem dizê-lo. Suas próprias experiências e observações não lhes ensinam que um evento ocorre tanto ao justo como ao malvado? É certo que o homem malvado às vezes cai morto na rua – mas o ministro também não caiu também morto no púlpito, por acaso? É certo que um iate de prazer, no qual os homens buscavam sua própria felicidade em um dia de domingo, afundou precipitadamente – mas por acaso não é igualmente certo que um barco que levava somente homens piedosos, cujo destino era um giro para pregar o Evangelho, não afundou também?

A providência de Deus não tem respeito as pessoas: e uma tormenta pode abater-se sobre o barco missionário “John Williams” [4], da mesma forma que pode abater-se sobre outro iate repleto de pecadores desenfreados. Que! Acaso não percebem que a providência de Deus foi de fato, e seus tratos externos, mais dura com os bons do que com os maus? Paulo não disse ao contemplar as misérias dos justos em seus dias: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

O caminho da justiça frequentemente conduziu aos homens ao cavalo selvagem do tormento, da prisão, do patíbulo e à fogueira – enquanto que o caminho do pecado, muitas vezes os levou ao império, ao domingo e à alta estima de seus companheiros. Não é certo que nesse mundo Deus castigue aos homens por seu pecado, e os premie por suas boas obras. Não disse Davi: “Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal? (Salmos 37:35)” E, isso deixava o Salmista perplexo durante um tempo, até que foi ao santuário de Deus, e enfim então entendeu o fim deles?

Ainda que sua fé lhe assegure que o resultado final da providência trabalhará unicamente o bem para o povo de Deus, no entanto, sua vida, ainda que seja somente uma breve parte do drama divino da história, deve ter-lhe ensinado que a providência não discrimina externamente entre o justo e o ímpio – que o justo perece inesperadamente igual que o ímpio – que a peste não conhece diferenças entre o pecador e o santo – e que a mesma espada da guerra é impiedosa com os filhos de Deus da mesma maneira que é com os filhos de Belial.

Quando Deus envia o flagelo, esse mata inesperadamente ao inocente da mesma forma que ao perverso e ao insolente. Agora, meus irmãos, se a ideia de vocês de uma providência que castiga e que premia não é certa, por que falam como se fosse? E, por que, se não é correta como regra geral, vocês supõem que seja verdadeira nessa instância particular? Demovam essa ideia de suas cabeças, pois o Evangelho de Deus jamais requer que vocês creriam em algo que não é certo.

Porem, em segundo lugar, existe outra razão. A ideia de que, sempre que ocorre um acidente, devemos considerá-lo como um juízo de Deus, faria que a providência fosse, em vez de um grande abismo, uma poça d’água bem rasa. Pois, qualquer criança pode entender a providência de Deus, se é certo que quando há um acidente ferroviário, é porque as pessoas viajavam em um domingo. Eu posso escolher qualquer menininho da classe mais elementar da escola dominical, e ele me dirá: “sim, eu vejo isso.” Mas então, se a providência é uma coisa assim, se é uma providência que pode ser compreendida, evidentemente não é a ideia de providência da Escritura, pois na Escritura nos é sempre ensinado que a providência de Deus é “um grande abismo”, e mesmo Ezequiel, que possuía a asa do querubim e podia voar muito alto, quando viu as rodas que eram o grande quadro da providência de Deus, só podia dizer que os aros das rodas eram tão altos que eram espantosos, e cheios de olhos, de tal forma que lhes era gritado, “roda!”

Repito isso para que fique muito claro: se em todos os casos uma calamidade fosse o resultado de algum pecado, então a providência seria algo tão simples como que dois mais dois são quatro – seria uma das primeiras lições que uma criancinha poderia aprender. Porem, as Escrituras nos ensinam que a providência é um grande abismo no qual o intelecto humano pode nadar e mergulhar, mas não pode encontrar nem o fundo nem a orla; e se você e eu pretendemos poder encontrar as razões da providência, e torcer as dispensações de Deus com nossos dedos, só demonstramos nossa insensatez, porem não estamos evidenciando que temos começado a entender os caminhos de Deus.

Pois, olhem, senhores – suponham por um momento que está acontecendo uma grandiosa representação de uma obra teatral, e que vocês se intrometem na obra e vêm a um ator no cenário por um instante, e dizem: “Sim, eu entendo a obra”, que tontos seriam! Acaso não sabem que as grandes transações da providência começaram aproximadamente uns seis mil anos? E vocês vieram a esse mundo faz uns trinta, quarenta anos, e tem visto um ator em cena, e vocês dizem que já entendem a obra. Oras! Não a entendem – apenas começaram a conhecer. Unicamente Ele conhece o fim desde o principio, somente Ele entende quais são os grandes resultados, e qual é a grandiosa razão pela que o mundo foi feito, e pela qual Ele permite que ocorra tanto o bem como o mal. Não pensem que vocês conhecem os caminhos de Deus; equivale a degradar a providência, e baixar Deus ao nível dos homens, quando pretendem poder entender essas calamidades e descobrir os desígnios secretos da sabedoria.

Porem, continuando, não percebem que uma ideia assim alentaria ao farisaísmo? Essas pessoas que morreram esmagadas, ou queimadas até as cinzas, ou destruídas debaixo das rodas dos vagões do trem, eram piores pecadores que nós. Muito bem, então nós devemos ser umas excelentes pessoas – que excelentes exemplos de virtude! Não fazemos as coisas que eles fazem, e, portanto Deus nos facilita todas as coisas. Na medida em que viajamos, alguns de nós a cada dia da semana, e jamais fomos despedaçados, sobre essa suposição, podemos nos catalogar como os favoritos da Deidade.

Então, não enxergam irmãos, que nossa segurança seria um argumento para nos fazer cristãos? Que tenhamos viajado em um trem com segurança seria um argumento de que somos regenerados, porem eu jamais li nas Escrituras, “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, por que viajamos de Londres a Brigton sem nenhum problema duas vezes ao dia.” Jamais encontrei nenhum versículo que se pareça com isso – e, no entanto, se fosse certo que os piores pecadores sofrem os acidentes, se derivaria como um contraponto natural a essa proposição que os que não sofrem acidentes devem ser pessoas muito boas, e que noções farisaicas geramos e nutrimos dessa maneira.
Porem, eu não posso tolerar essa insensatez nem por um instante. 
Quando contemplo por um momento os pobres corpos mutilados dos que foram sacrificados tão inesperadamente, meus olhos se enchem de lágrimas, mas meu coração não se vangloria, nem meus lábios acusam – longe de mim tal expressão cheia de orgulho: “Deus, lhe dou graças porque não sou como os outros homens.” Não, não, não, esse não é o espírito de Cristo, nem o espírito do cristianismo. Ainda que possamos agradecer a Deus porque somos preservados, no entanto, podemos dizer: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos” (Lamentações 3:22), e devemos atribuir tal fato a Sua graça e unicamente a Sua graça. Porem, não podemos crer que havia algo melhor em nós, porque fomos preservados vivos estando a morte tão perto. 

É somente porque Ele teve misericórdia, sendo muito paciente para conosco, não querendo que pereçamos, mas sim que nos arrependamos, que nos preservou dessa maneira para que não desçamos á tumba, e nos manteve a vida preservando-nos da morte.
Logo, permitam-me comentar que a suposição contra a qual estou contendendo é muito cruel e dura. Pois se esse fosse o caso, que todas as pessoas que assim se encontram com a morte de uma maneira extraordinária e terrível são maiores pecadoras que as demais, isso não seria um duro golpe para os afligidos sobreviventes? E não é pouco generoso de nossa parte consentir nessa ideia, a menos que sejamos forçados a aceitá-la como uma terrível verdade, por razões que não podem ser respondidas?

Agora, eu os desafio a sussurrar ao ouvido da viúva. Vão a sua casa e digam-lhe: “seu esposo era pior pecador que o resto dos homens, por isso morreu.” Não possuem a suficiente brutalidade para isso. Um pequeno bebê inconsciente, que jamais havia pecado, ainda que, sem dúvida, um herdeiro da queda de Adão, é encontrado esmagado em meio dos escombros do acidente. Agora, pensem por um momento, qual seria a infame consequência da suposição que os que pereceram era piores que os outros. Teriam que supor que essa inconsciente criança era pior pecadora que muitos que habitam as guaridas da infâmia e cujas vidas são ainda respeitadas. Não percebem que a coisa é radicalmente falsa? E talvez eu pudesse mostra-lhes melhor a injustiça disso, lembrando-lhes que um dia poderia suceder com vocês.

Suponham que lhes toque encontrarem-se com uma inesperada morte desse tipo, estão anuentes a que se lhes corresponda a condenação sobre essa base? Um incidente assim pode ocorrer na casa de Deus. Permitam-me recordar o que ocorreu uma vez em que estávamos congregados – posso afirmar de coração puro que não nos reunimos com nenhum outro objetivo se não o de servir a Deus, e esse ministro não tinha nenhuma meta ao ir a esse lugar, exceto o de congregar a muitos que de outra maneira não teriam tido a oportunidade de escutar sua voz. E, no entanto houve funerais como resultado desse esforço santo (pois ainda declaramos que foi um esforço santo, e a benção de Deus o demonstrou). Houve mortes e mortes entre o povo de Deus – estive a ponto de dizer que estou contente que foi entre o povo de Deus mais que em noutros povos. Um tremendo terror apoderou-se da congregação, e o povo fugiu, e não enxergam que se os acidentes devem ser considerados como juízos, então é uma sã conclusão que nós estávamos pecando ao estar lá. Essa é uma insinuação que nossas consciências categoricamente repudiam.[5]

No entanto, se essa lógica fosse verdadeira, é tão certa contra nós como o é contra outros, e na medida em que vocês repeliriam com indignação a acusação que alguns foram feridos ou golpeados devido ao pecado, estando ali no Music Hall para adorar a Deus, o que rejeitam para vocês o rejeitem para outros, e não querem ser parte da acusação que é apresentada em contra os que foram destruídos durante as ultimas duas semanas, que pereceram por causa de qualquer grande pecado.

Aqui antecipo o clamor de pessoas prudentes e zelosas que temem pela arca de Deus, e a querem tocar com a mão e Uzá. “Bem,” dirá algum, “porem, nós não devemos falar assim, pois é uma superstição muito útil, pois haveria muitas pessoas que já não viajariam aos domingos devido ao acidente, e, portanto, devemos dizer-lhes, que os que pereceram, pereceram devido a que viajaram no domingo.”
Irmãos, eu não diria uma mentira para salvar uma alma, e isso seria dizer mentiras, pois não é verdade. Eu faria qualquer coisa para interromper o trabalho aos domingos e o pecado, mas não forjaria uma falsidade, ainda mesmo para conseguir isso. Essas pessoas poderiam ter falecido na segunda-feira igual como no domingo. Deus não dá uma imunidade especial a algum dia da semana, e os acidentes podem ocorrer em qualquer momento, e é somente uma fraude piedosa quando buscamos jogar assim com a superstição dos homens por causa de Cristo.

O sacerdote da Igreja Católica pode consistentemente usar um argumento assim, porem, um cristão honesto que crê que a religião de Cristo pode cuidar-se a si mesma sem necessidade de falar falsidades, desdenha fazer isso. Esses homens não pereceram porque viajaram num domingo. Que sirva de testemunha o fato de que outros pereceram em uma segunda-feira quando andavam, em missão de misericórdia.

Eu não sei por que razão ou por que motivo Deus enviou o acidente. Deus não queira que ofereçamos nossas próprias razões quando Ele não deu Sua razão, mas não nos é permitido converter a superstição dos homens em um instrumento para avançar a glória de Deus. Vocês sabem que entre os protestantes existem muitos fanatismos papais. Conheço pessoas que aprovam o batismo infantil argumentando: “Bem, não faz dano nenhum, e existem muitas boas intenções nele, e pode fazer muito bem, e ainda a confirmação pode resultar de benção para algumas pessoas, portanto não falemos contra isso.”

A mim não corresponde se esse tema faz dano ou não, tudo o que me importa é se é correto, se é Escriturístico, se é verdadeiro, e se a verdade é prejudicada, que é uma suposição que não podemos aceitar de nenhuma maneira, esse prejuízo não estará em nossa porta. Não temos outro dever que dizer a verdade, ainda que os céus caiam. Repito, qualquer avanço do Evangelho que se deva à superstição dos homens, é um avanço falso, e logo se voltará contra as pessoas que usam dessa arma não consagrada.

Nos possuímos uma religião que apela ao juízo do homem e ao sentido comum, e quando não podemos avançar com isso, eu não aceito que devamos prosseguir utilizando outros métodos - e irmãos, se existe alguma pessoa que queira endurecer seu coração e dizer: “pois bem, eu estou tão certo em um dia como em qualquer outro dia,” o que é muito certo, eu devo responder-lhe: “o pecado de que faça tal uso como o que faz de uma verdade deve jazer a sua porta, não na minha – porem, se eu pudesse evitar que viole o dia do descanso cristão, colocando-lhe frente a uma supersticiosa hipótese, não o faria, pois parece-me que ainda que o consiga manter afastado desse pecado por um pouco de tempo, muito pronto se converteria demasiado inteligente parta ser enganado por mim, e logo me chegaria a considerar como um sacerdote que julgou seus temores em vez de apelar a seu juízo.”

Oh, já é tempo que saibamos que nosso cristianismo não é uma coisa débil e temerosa, que apela aos pequenos temores supersticiosos de mentes ignorantes. É a algo valente, que ama a luz, e que não precisa de fraudes santas para sua defesa. Sim, crítico! Foca sua lanterna até nós, e que brilhe em nossos próprios olhos; nós não temos medo, a verdade é poderosa e pode prevalecer, e se não pode prevalecer à luz do dia, e não temos nenhum desejo de que o sol se ponha para dar a verdade uma oportunidade.

Eu creio que brotou muita infidelidade do desejo muito natural de alguns cristãos de aproveitar-se de erros comuns. “Oh”, disseram, “esse erro popular é muito bom, mantém o povo na posição correta – vamos o perpetuar esse erro, pois evidentemente faz muito bem.” E logo, quando o erro foi descoberto, os infiéis disseram: “Oh, agora vejam que esses cristãos foram descobertos em seus estratagemas.” Não tenhamos nenhum truque, irmãos – não falemos aos homens como se fossem crianças que podem ser amendrotados por histórias de fantasmas e de bruxas. O fato é que esse não é o tempo de retribuição, e é pior que inútil que nós ensinemos que o é.

E agora, por último (e já irei passar a outro ponto), por acaso vocês não percebem que essa suposição, que não é cristã nem Escriturística, que quando os homens se encontram inesperadamente com a morte, é resultado do pecado, rouba ao cristão um de seus argumentos mais nobres para a imortalidade da alma? Irmãos, nós afirmamos diariamente, com a Escritura como nossa garantia, que Deus é justo, e na medida em que Ele é justo, deve castigar o pecado, e premiar ao justo. Manifestamente Ele não o faz nesse mundo, e um mesmo evento ocorre a ambos: o homem justo é pobre igual que o mal, e morre repentinamente igual que o maior répobro. Muito bem, a conclusão é natural e clara, que deve existir um mundo contínuo no que essas coisas serão endireitadas.

Se há um Deus, Ele deve ser justo – e se Ele é justo, Ele deve castigar o pecado – e já que não o faz nesse mundo, deve existir outro estado em que os homens receberão a recompensa de suas obras – e os que semearem para a carne, da carne colherão corrupção, enquanto os que semearem para o Espírito, do Espírito colherão vida eterna. Se fizerem desse mundo o lugar de colher, lhe terão tirado o aguilhão ao pecado.
“Oh,” diz o pecador, “se as aflições que o homem suporta aqui é todo o castigo que terão, vamos pecar com voracidade.” Você responde-lhes, “não - esse não é o mundo do castigo, mas sim o mundo de prova – não é a corte da justiça, mas sim a terra de misericórdia; não é a prisão de terror, mas a casa de paciência;” e lhes terá aberto diante de seus olhos as portas do futuro; ter´s posto o trono do juízo diante de seus olhos; recordou-lhes: “Vinde, benditos,” e “Apartai-vos de mim, malditos;” assim, possui um fundamento mais a razoável e consequentemente mais Bíblico para apelar às suas consciências e corações.

Falei com a intenção de sufocar, na medida do possível, a ideia que está muito propagada entre os ímpios, que nós como cristãos sustentamos que cada calamidade é um juízo. Não é assim; nós não pensamos que aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé eram mais culpados que todos os homens que habitavam em Jerusalém.

II. Agora passamos a nosso segundo ponto. QUE USO, ENTÃO, DEVEMOS FAZER DESSA VOZ DE DEUS QUE É OUVIDA EM MEIO DOS AGUDOS GRITOS E GEMIDOS DOS MORIBUNDOS? Dois usos; primeiro, perguntas, e segundo, uma advertência.
A primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte: “Por que não pode acontecer a mim que muito prontamente e inesperadamente seja eu cortado? Tenho eu um contrato de aluguel de minha vida? Tenho algum amparo especial que me garante que não atravessarei inesperadamente os portais da sepultura? Recebi um título de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma armadura tal que sou invulnerável às flechas da morte? Por que não irei morrer?”

A segunda pergunta que deve sugerir é essa: “Não sou um grande pecador como esses que morreram? Não há em mim, sim, em mim mesmo, pecados contra o Senhor meu Deus? Se em pecados visíveis outros me superaram, acaso os pensamentos de meu coração não são malvados? Porventura a mesma lei que os amaldiçoa não amaldiçoa a mim também? Não perseverei em todas as coisas escritas no livro da Lei para que se cumprissem. É tão impossível que eu seja salvo por minhas obras como que eles o sejam. Não estou debaixo da lei, por natureza como eles o estão, e pela mesma não estou eu também debaixo de maldição, como eles o estão? Essa pergunta deve ser feita. 

Em vez de pensar em seus pecados, o quem me converteria um orgulhoso, devo pensar em meus próprios pecados, o que me converterá humilde. Em lugar de especular sua culpa, que é assunto que não é de minha responsabilidade, devo voltar meus olhos até meu interior, e considerar minha própria transgressão, pela qual devo responder pessoalmente diante do Deus Altíssimo.”

Logo, a seguinte pergunta é, “me arrependi de meu pecado? Eu não preciso ficar investigando se eles se arrependeram ou não: eu me arrependi? Posto que eu esteja exposto à mesma calamidade, estou preparado para enfrentá-la? senti, por meio do poder de convencimento do Espírito Santo, a negridão e a depravação de meu coração? Tenho sido guiado a confessar diante de Deus que eu mereço a Sua ira, e que Seu desagrado, se ele pousa sobre mim, será um justo pago? Odeio o pecado: Aprendi a aborrecê-lo? Apartei-me do pecado, por meio do Espírito Santo, como de um veneno mortal, e busco agora honrar a Cristo meu Senhor: Fui lavado em seu sangue: Reflito sua semelhança? Mostro seu caráter? Busco viver para Seu louvor?

 Pois, se não é assim, estou em grave perigo como eles estavam, e posso ser cortado tão depressa e repentinamente, e logo, onde estou? Eu não irei perguntar onde eles estão? E logo, de novo, em vez de estar espiando no futuro destino desses infelizes homens e mulheres, quando melhor seria nos perguntar sobre nosso destino e de nossa própria situação! –
“O que eu sou? minha alma, desperta
E faz uma analise imparcial.”
Estou preparado para morrer? Se as portas do inferno abrem-se agora, eu entraria ali? Se debaixo de mim se abrirem as bocas da morte, estou preparado com confiança para atravessá-las, não temendo o mal, porque Deus está comigo?” Esse é o uso correto que podemos fazer desses acidentes; essa é a maneira mais sábia de aplicar os juízos de Deus a nós mesmos e a nossa própria condição.

Oh senhores, Deus tem falado a cada homem em Londres durante as últimas duas semanas; Ele falou a mim, Ele falou a vocês, homens, mulheres e crianças. A voz de Deus há soado desde o escuro túnel Clayton: falou desde o poente do sol e a deslumbrante fogueira em redor do qual jazem os cadáveres de homens e mulheres, e Ele lhes disse, “Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. (Lucas 12:40)” Isso está tão dirigido a vocês, que eu espero que os levem a perguntarem-se: “Estou preparado, estou pronto? Estou disposto a enfrentar a meu Juiz e escutar a sentença pronunciada sobre minha alma?”

Quando tenhamos usado a voz de Deus para nos perguntar dessa maneira, permitam-me lembrar-lhes que devemos usá-la também como uma advertência. “Todos de igualmente perecereis.” “Não,” dirá alguém, “não igualmente. Não todos seremos esmagados; muitos de nós morreremos em nossas camas. Não todos morreremos queimados; muito de nós fecharemos tranquilamente nossos olhos.” Ai! Porem, o texto diz “todos de igual modo perecereis.” E deixem-me lembrar-lhes que alguns de vocês podem perecer de uma maneira idêntica. Não possuem nenhuma razão para crer que vocês não podem ser cortados inesperadamente, enquanto caminhem pelas ruas. Podem cair mortos enquanto comem; quantos não têm perecido com o cajado da vida em suas mãos! Estarão em sua cama, e sua cama subitamente se converterá em sua tumba. Vocês poderão ser fortes, sãos, robustos e quer seja por acidente, ou porque a circulação do sangue se detém, serão rapidamente levados diante de seu Deus. Oh! Que a morte inesperada seja para vocês glória súbita!

Porem pode ocorrer a algum de nós que, da mesma maneira surpreendente em que outros morrerem, morreremos assim também. Faz só um pouco de tempo, nos Estados Unidos, um irmão, enquanto pregava a Palavra, entregou seu corpo e seu cargo simultâneamente. Vocês lembram da morte do Dr. Beaumont, quem, enquanto proclamava o Evangelho de Cristo, fechou seus olhos ao mundo. E eu recordo a morte de um ministro nesse pais, que acabava de pronunciar esse verso –
“Pai, eu anelo, eu anseio ver
O lugar de Tua habitação;
Eu quero deixar teus átrios terrenos e fugir
Até Tua casa, meu Deus”

- E então agradou a Deus conceder-lhe o desejo de seu coração, e apareceu diante do Rei em Sua beleza. Não poderia uma morte imprevista como essa suceder a vocês e a mim mesmo?
Porem, é muito certo que, venha a morte de maneira que venha, há alguns quantos aspectos na que virá aos justos da mesma maneira como veio aos que sofreram esses acidentes. Em primeiro lugar, virá, com toda certeza. Eles não teriam tido possibilidade de escapar do perseguidor, não importa qual rápido viajassem. Eles não teriam tido a chance de escapar da seta, não importando a que lugar houvessem ido, escondendo-se de casa em casa, quando seu tempo lhes chegou. E nós pereceremos assim.

Com a mesma certeza, tão certo como a morte colocou seu selo sobre os cadáveres que agora estão cobertos de terra, com a mesma certeza porá seu selo sobre nós (a menos que o Senhor venha antes), pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27)” Não existe exoneração nesse caminho; não existe escape por nenhum atalho para nenhum individuo; não existe nenhuma ponte sobre o rio; não há nenhuma nave na que possamos passar esse Jordão sem molharmos nossos pés.

Para suas geladas profundidades, oh rio, cada um de nós deve descer – em sua fria corrente nosso sangue deve congelar-se – e debaixo de suas espumosas ondas nossa cabeça deve submergir! Nós também devemos morrer com certeza. “Trilhado” você diz, “e cheio de lugares comuns;” e a morte é um lugar comum, mas que só nos ocorre uma vez. Que Deus nos conceda que essa única vez que morreremos possa estar perpétuamente em nossas mentes, até que morramos diariamente, e assim não nos resulte ser um trabalho difícil morrer ao final.

Bem, então, como a morte chega a eles e a nós com certeza, assim virá tanto a eles como a nós poderosa e irresistivelmente. Quando a morte os surpreendeu que ajuda tiveram então? Um casebre de papelão de uma criança não poderia ser tão facilmente esmagado que esses pesados vagões? O que podiam fazer para ajudarem uns aos outros? Eles iam sentados uns juntos a outros, conversando. Escutou-se um grito, e antes que houvessem gritado segunda vez, foram esmagados e destroçados. O esposo trata de resgatar dos escombros sua esposa, porem as pesadas tábuas de madeira cobriram seu corpo; ao fim só pode encontra sua pobre cabeça, e ela está morta, e ele senta-se junto a ela embargado pela tristeza, e coloca sua mão em seu rosto, até que se torna frio como uma pedra; e ainda que tenha visto a um e outro que tenha sido resgatado com os ossos quebrados ao meio da massa de escombros, ele têm que deixar o corpo de sua esposa ali.

Ai! Seus filhos ficaram sem mãe, e ele perdeu a companheira de seu coração. Eles não puderam resistir; eles poderiam fazer o que quisessem, porem, tão logo chegou o momento, seguiram adiante, e o resultado foi a morte e ossos quebrados. O mesmo sucederá com vocês e comigo – podem subornar o médico com os honorários mais altos, porem, ele não poderia colocar sangue fresco em suas veias[6] – podem pagar-lhe grandes quantidades de ouro, mas ele não poderia conseguir que o pulso desse outro bramido. Oh, Morte, irresistível conquistadora de homens, não há ninguém que possa prevalecer contra ti; sua palavra é lei, sua vontade é destino! Assim virá a nós como chegou a eles; virá com poder, e nenhum de nós poderá resistir a ela.

Quando a morte chegou-lhes, veio instantaneamente, sem aceitar demoras. Assim virá a nós. Poderíamos ter um aviso mais antecipado do que eles, porem quando chegue a hora, não haverá forma de adiá-la. Encolhe seus pés na cama, oh, patriarca, pois deve morrer e não vai viver! Dá o último beijo em sua esposa, veterano soldado da cruz; coloca suas mãos sobre a cabeça de seus filhos, e dá-lhes a benção do moribundo, pois todas suas orações não podem alargar sua vida, e todas as lágrimas não podem agregar nem uma só gota ao poço seco de seu ser.

Você deve ir, o Senhor manda por você, e Ele não suporta atrasos. Não, ainda que sua família esteja disposta a sacrificar suas vidas para lhe comprar uma hora de trégua, isso não pode ser. Ainda que uma nação seja holocausto, um sacrifício voluntário, para dar a seu soberano outra semana adicional a seu reino, não se pode conseguir tal coisa. Ainda que a congregação inteira consinta voluntariamente em recorrer as escuras abóbadas da tumba para salvar a vida de seu pastor, por mais outro ano, não se pode alcançar esse intento. A morte não aceita atraso – e o tempo chegou, e o relógio soou, a areia da ampulheta consumiu-se, e tão certamente como eles morreram quando chegou-lhes seu tempo, no campo inesperadamente, assim certamente nós devemos morrer.

Logo, novamente, recordemos que a morte chegará a nos como chegou a eles, com terrores. Não com o estrondo de madeiras quebradas, talvez, nem com a escuridão de um túnel, não com o vapor e a fumaça, não com os gritos das mulheres e os gemidos dos moribundos, mas, no entanto, com terrores. Pois se encontrar com a morte onde quer que seja, se não estamos em Cristo, e se a vara o cajado do pasto não nos infundem alento, deve ser uma coisa terrível e tremenda.

Sim, oh, pecador, com suaves almofadas debaixo de sua cabeça, e o terno braço de sua esposa para te sustentar, e uma doce mão para limpar seu frio suor, em seu corpo encontrará que é um terrível trabalho enfrentar o monstro e sentir seu aguilhão, e entrar em seus espantosos domínios. É um terrível trabalho em qualquer instante, mesmo sob as melhores e mais propícias circunstâncias, que um homem morra sem preparação.

E agora quisera eu enviar-lhes de volta para casa com um pensamento que fique gravado em sua memória: nós somos criaturas moribundas, não criaturas viventes, e logo nos teremos ido. Talvez, estando eu de pé aqui, e falando rudemente dessas coisas misteriosas, pronto se estendera essa mão e cerrará minha boca que balbucia com tão gaguejante esforço; o poder supremo, oh Rei eterno, venha quando querias, oh! Porem, nunca venha em uma hora desperdiçada – que me encontres em elevada meditação, cantando hinos a meu grandioso Criador: fazendo obras de misericórdia os pobres e aos necessitados, ou carregando em meus braços aos pobres e necessitados do rebanho; ou consolando o desconsolado, ou tocando o sonido da trombeta do Evangelho aos ouvidos das almas surdas que estão perecendo.

Então, vem quando Tu querias; se Tu estás comigo em vida, não temeria encontra a Ti na morte: mas, oh, que minha alma esteja preparada com seu vestido de bodas, com sua lâmpada preparada e sua luz acesa, pronta para ver a seu Senhor e entra no gozo de seu Deus!

Almas, vocês conhecem o caminho de salvação; o escutaram frequentemente, porem, ouçam de novo: “O que crê no Senhor Jesus, têm a vida eterna.” “O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado.” “Crê em teu coração e confessa com sua boca.” Que o Espírito Santo lhes dê graça para fazer ambas as coisas, e tendo feito, possam dizer –
“Vêm, morte, com uma congregação celeste,
Para levar a minha alma.”

NOTA: Davi Livingstone, o famoso explorador e missionário, levou em seu bolso uma cópia desse sermão, em suas viagens por toda a África. Ele tinha escrito na margem superior da impressão desse sermão o comentário: “Muito bom. D.L” Quando da morte do missionário, essa mesma copia foi entregue ao próprio Spurgeon, que a guardou durante toda sua vida como um tesouro. Hoje em dia, essa copia pode ser vista exposta no Spurgeon’s College, em Londres.

NOTAS EXPLICATIVAS
[1] Referência ao acidente do Túnel Clayton, que ocorreu, 25 de agosto de 1861, cinco milhas a partir de Brighton, na costa sul da Inglaterra, e foi o pior acidente do sistema ferroviário britânico da época. Um trem de passeio bateu em outro que estava parado no túnel, no domingo, matando 23 e ferindo 176 passageiros
[2] Segundo Eric Hayden, pastor do Tabernáculo Metropolitano na década de 60 em “Feitos Notáveis”, é ”uma referência a um acidente ocorrido em Setembro ocorreu outro desastre ferroviário quando um grupo de passageiros viajava à costa sul”
[3] Provável referência ao acidente  da estação de Kentish Town ,ocorrido em 02 de setembro de 1861, em Londres ,onde  16 pessoas foram mortas e 317 feridas, quando um trem de passeio operado pela Ferrovia Norte de Londres colidiu com um trem de carga operado pela London e North Western Railway (WIKIPÉDIA)
[4] O navio “John Williams” era um navio missionário sob o comando do capitão Robert Clark Morgan (1798-1864) e de propriedade da Sociedade Missionária de Londres. Foi nomeado em homenagem ao missionário John Williams (1796-1839), que trabalhou ativamente no Pacífico sul. (FONTE: Wikipédia)
[5] A referência do incidente é sobre o que ocorreu no Surrey Garden Musci Hall em 1856, quando o salão foi alugado para congregar as multidões que iam ouvir Spurgeon nos serviços dominicais, e devido a reformas em New Park Street e a impossibilidade de se alugar o Exerter Hall, se levou adiante o arrendamento temporário do Salão com capacidade para 10.000 pessoas. Na primeira noite de serviços, um tumulto provocado por bardeneiros com falsos avisos de incêndio provocaram uma correria tal que levou a 23 feridos e 7 mortos. (N.d.T)
[6] Não deve se levar em conta aqui as modernas transfusões de sangue (N.d.T)
FONTE:
Traduzido do espanhol Accidentes, No Castigos, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon , de http://www.spurgeon.com.mx/
Orem diariamente pelos irmãos Allan Roman e Thomas Montgomery, da Cidade do México para o sucesso dessa obra em espanhol
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 408—Volume 7 do Metropolitan Tabernacle Pulpit
ORIGINAL: Accidents, Not Punishments

Tradução: Armando Marcos Pinto
Como Ressuscitar os Mortos
por
Charles Haddon Spurgeon


UMA PALESTRA
DADA AOS PROFESSORES DE ESCOLA DOMINICAL

NA SUA REUNIÃO ANUAL DE ORAÇÃO,
Realizada no Tabernáculo Metropolitano,
na Manhã de Segunda-feira, 28 de Janeiro de 1867.



Folegas de serviço na vinha do Senhor, permitam-me chamar a sua atenção para um milagre dos mais instrutivos realizado pelo profeta Eliseu, conforme vem registrado no capítulo quatro do segundo livro de Reis. A hospitalidade da sunanita fora recompensada com a dádiva de um filho. Entretanto, todas as bênçãos terrenais são de possessão incerta; depois de alguns dias o menino caiu enfermo e morreu.
A mãe angustiada, mas confiante, apressou-se a recorrer ao homem de Deus. Por meio dele Deus lhe fizera uma promessa que atendeu aos anelos do seu coração, e assim ela resolveu pleitear sua causa com ele para que a depusesse diante do seu Mestre e obtivesse para ela uma resposta de paz. A ação de Eliseu está registrada nos seguintes versículos:
“Disse o profeta a Geazi: Cinge os lombos, toma o meu bordão contigo e vai. Se encontrares alguém, não o saúdes, e, se alguém te saudar, não lhe respondas; põe o meu bordão sobre o rosto do menino. Porém disse a mãe do menino: Tão certo como vive o SENHOR e vive a tua alma, não te deixarei. Então, ele se levantou e a seguiu. Geazi passou adiante deles e pôs o bordão sobre o rosto do menino; porém não houve nele voz nem sinal de vida; então, voltou a encontrar-se com Eliseu, e lhe deu aviso, e disse: O menino não despertou. Tendo o profeta chegado à casa, eis que o menino estava morto sobre a cama. Então, entrou, fechou a porta sobre eles ambos e orou ao SENHOR. Subiu à cama, deitou-se sobre o menino e, pondo a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre ele; e a carne do menino aqueceu. Então, se levantou, e andou no quarto uma vez de lá para cá, e tornou a subir, e se estendeu sobre o menino; este espirrou sete vezes e abriu os olhos. Então, chamou a Geazi e disse: Chama a sunamita. Ele a chamou, e, apresentando-se ela ao profeta, este lhe disse: Toma o teu filho. Ela entrou, lançou-se aos pés dele e prostrou-se em terra; tomou o seu filho e saiu” (2 Reis 4:29-37 .
A posição de Eliseu neste caso é exatamente a sua, irmãos, quanto ao seu trabalho por Cristo. Eliseu teve que lidar com um menino morto. É certo que no caso em foco tratava-se de morte natural. Mas a morte com a qual vocês terão que relacionar-se não é menos verdadeira por ser espiritual. Os rapazes e moças das suas classes, bem como os adultos, estão “mortos em delitos e pecados”. Queira Deus que nenhum de vocês deixe de compreender inteiramente o estado natural dos seres humanos! Se não tiverem claro senso da completa ruína e da morte espiritual dos seus meninos, não poderão ser uma bênção para eles. Aproximem-se deles não como se estivessem apenas dormindo, e como se por sua própria capacidade os pudessem despertar; mas sim como de cadáveres espirituais que só podem ser vivificados pelo poder divino. O grande objetivo de Eliseu não era purificar o corpo do defunto, ou embalsamá-lo com especiarias, ou envolvê-lo em linho fino, ou colocá-lo em postura própria, e depois deixá-lo, cadáver ainda. Visava a nada menos que a devolução da vida ao menino. Caros mestres, oxalá jamais se satisfaçam com propósitos que se restrinjam a oferecer apenas benefícios secundários, nem mesmo com a sua concretização. Lutem pela maior finalidade de todas: a salvação de almas imortais! Sua ocupação não e consiste simplesmente em ensinar as crianças a lerem a Bíblia, nem tampouco em inculcar-lhes os deveres morais, nem ainda em instruí-las na simples letra do evangelho. A sublime vocação de vocês é a de serem os meios, nas mãos de Deus, para trazer do céu a vida espiritual às almas mortas.
O ensino que ministram no dia do Senhor será um fracasso se os alunos continuarem mortos no pecado. No caso do professor secular, o bom aproveitamento demonstrado pela criança quanto aos conhecimentos prova que o professor não se esforçou em vão. Mas quanto a vocês, ainda que aqueles que estão a seu cargo venham a ser respeitáveis membros da sociedade, ainda que se tornem participantes assíduos dos meios da graça, vocês não acharão que as suas súplicas ao céu foram atendidas, nem que se cumpriram os seus desejos, nem que atingiram os seus altos objetivos, a não ser que algo mais tenha sido feito isto é, a não ser que se possa dizer dos seus jovens: “O Senhor os vivificou juntamente com Cristo”.
Portanto, o nosso objetivo é a ressurreição! Ressuscitar os mortos é a nossa missão! Somos como Pedro em Jope ou como Paulo em Troas; temos ali uma Dorcas, aqui um Êutico para trazer à vida. Como é possível realizar obra tão singular? Se nos rendermos à incredulidade, ficaremos atônitos pelo fato evidente de que a obra para a qual o Senhor nos chamou está completamente além da nossa capacidade pessoal. Não podemos ressuscitar os mortos. Se nos pedissem para fazer isso, cada um de nós poderia dizer, como o rei de Israel: “Sou eu Deus, para matar e para vivificar?”. Contudo, o nosso poder não é menor do que o de Eliseu, pois ele não pôde devolver a vida ao filho da sunamita. É certo que não somos capazes de fazer palpitar de vida espiritual os corações mortos dos nossos alunos, mas um Paulo ou um Apolo seria igualmente incapaz. Precisaríamos ficar desanimados por causa disso? Não servirá, antes, para levar-nos a desprezar o nosso suposto poder pessoal, e conduzir-nos à fonte do nosso verdadeiro poder? Espero que todos nós já estejamos cientes de que o homem que vive na região da fé, habita no reino dos milagres. A fé negocia maravilhas, e sua mercadoria consiste de prodígios.
“A fé a promessa vê,
e só a contemplará;
do impossível se ri,
e brada: Assim será!”
Eliseu não era um homem comum, agora que o Espírito de Deus estava sobre ele, chamando-o para a obra de Deus, e ajudando-o nessa obra. Você também, mestre ansioso, devotado, dedicado à oração, não é mais um homem comum; de modo especial veio a ser o templo do Espírito Santo. Deus habita em seu ser e, pela fé, você ingressou numa carreira de operador de prodígios. Foi enviado ao mundo, não para fazer o que está ao alcance dos homens, mas para fazer aquelas coisas impossíveis que Deus executa por Seu Espírito, empregando como instrumentos os Seus filhos crentes. Você tem de operar milagres, de fazer maravilhas.
Portanto, ao recordar quem é que opera por intermédio da tua pobre instrumentalidade, não considere a restituição da vida a esses meninos mortos como coisa improvável ou difícil, pois para realizá-la em nome de Deus você foi chamado. "Pois quê? Julga-se coisa incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos?”. Ao notar a maldosa frivolidade e a obstinação que se manifestam logo cedo nas suas crianças, a incredulidade vai-lhe sussurrar: “Poderão viver estes ossos?”. Mas a sua resposta deverá ser: “Senhor Jeová, tu o sabes”. Confiando todos os casos às mãos onipotentes, seu dever será profetizar sobre os ossos secos e sobre o vento celeste, e dentro em pouco você também verá no vale da sua visão pessoal a memorável vitória da vida sobre a morte. Assumamos desde já a nossa verdadeira posição, e tratemos de compreendê-la bem. Temos diante de nós meninos mortos, e nossas almas suspiram por trazê-los de volta à vida. Confessamos que toda vivificação há de ser realizada unicamente pelo Senhor, e nossa humilde petição é que, se Ele nos vai usar com relação aos milagres da Sua graça, mostre-nos o que deseja que façamos.
Tudo teria corrido bem se Eliseu tivesse lembrado que fora outrora servo de Elias, e se tivesse observado o exemplo do seu amo a fim de imitá-lo. Tivesse feito isso, não teria enviado Geazi com um bordão, mas teria feito logo o que por fim foi constrangido a fazer. No primeiro livro de Reis, capítulo dezessete, acha-se a história de Elias ressuscitando um menino, e se vê aí que Elias, o amo, tinha deixado exemplo completo ao seu servo. E foi só depois de Eliseu o seguir em todos os seus aspectos, que o poder miraculoso se manifestou. Eliseu teria sido sábio, volto a dizer, se desde o início tivesse imitado o exemplo do seu senhor, cujo manto estava usando. Com muito maior ênfase posso dizer-lhes meus conservos, que será bom que nós, como mestres, imitemos ao nosso Senhor estudando os modos e métodos do nosso Senhor glorificado, e aprendendo aos Seus pés a arte de conquistar almas. Exatamente como Ele, cheio da mais profunda compaixão, entrou em íntimo contato com a nossa desventurada natureza humana, e condescendeu em rebaixar-Se à nossa triste condição, assim devemos aproximar-nos das almas com as quais temos de lidar, compadecer-nos delas com a compaixão de Cristo, e chorar por elas, derramando as Suas lágrimas, se é que desejamos vê-las ressurretas do seu estado de pecado. Somente imitando o espírito e a maneira de ser e de agir do Senhor Jesus ficaremos sabiamente habilitados para ganhar almas para Ele.
Todavia, esquecendo isto, Eliseu quis traçar um curso por si próprio, que exibiria com maior evidencia a sua dignidade profética. Entregou seu bordão a Geazi e mandou que o pusesse sobre a criança, pois achava que o poder divino era tão abundante em sua pessoa que funcionaria de qualquer maneira. Conseqüentemente, a sua presença e os seus esforços pessoais poderiam ser dispensados. O Senhor não pensava assim. Receio que muitas vezes a verdade que transmitimos do púlpito e sem dúvida se pode dizer o mesmo do que dizemos em nossas classes é algo alheio a nós, algo que está fora de nós. Como um bordão que levamos na mão, mas que não faz parte de nós. Tomamos a verdade doutrinária ou prática, como Geazi fez com o bordão, e a colocamos sobre o rosto da criança, mas não nos angustiamos por sua alma. Experimentamos esta doutrina e aquela verdade, esta anedota e aquela ilustração, este modo de ensinar uma lição e aquela maneira de entregar uma mensagem mas a partir do momento em que a verdade que apresentamos seja uma questão alheia a nós mesmos, sem ligação com a parte mais íntima do nosso ser, não terá sobre uma alma morta maior efeito do que o bordão de Eliseu teve no cadáver da criança. Lastimo dizer que muitas vezes preguei o evangelho neste lugar, seguro de que se tratava do evangelho do meu Senhor, o verdadeiro bordão profético e, todavia, sem resultado por não ter pregado com a veemência, com o zelo, com o amor com que devia ter pregado! E não farão vocês a mesma confissão, de que algumas vezes ensinaram a verdade sim, a verdade, vocês sabem que o era a pura verdade que encontraram na Bíblia, por vezes tão enriquecedora para as suas próprias almas, sem que, todavia, se seguisse algum bom resultado dela? E isso porque, conquanto tenham pregado a verdade, não experimentaram como tal em seus corações, nem foram compassivos para com o “menino” a quem a verdade era dirigida, mas agiram à moda de Geazi, colocando com mão indiferente o bordão profético sobre o rosto da criança. Não admira que tenham que dizer com Geazi: “Não despertou o menino”, pois o verdadeiro poder capaz de despertar não achou meio apropriado no seu mortiço modo de ensinar.
Não temos a certeza de que Geazi estivesse convicto de que a criança estava realmente morta. Falou como se ela estivesse apenas dormindo, e precisando ser despertada. Deus não abençoará aqueles mestres que não captam no coração o estado verdadeiramente decaído das crianças às quais ensinam. Se vocês pensam que a criança não é realmente depravada, se vocês favorecem tolas noções sobre a inocência da infância e sobre a dignidade da natureza humana, não deverão ficar surpresos se permanecerem áridos e infrutíferos. Como pode Deus abençoá-los no sentido de realizar uma ressurreição, desde que se fizesse isso por intermédio de vocês, seriam incapazes de perceber a gloriosa natureza desse ato? Se o rapaz tivesse acordado, isso não teria surpreendido a Geazi; pensaria que ele apenas se sobressaltara depois de um sono muito profundo. Se Deus abençoasse com a conversão dos pecadores o testemunho daqueles que não acreditam na depravação total do homem, eles simplesmente diriam: “O evangelho é grande força moralizadora, e exerce a mais benéfica influência”, mas nunca bendiriam e engrandeceriam a graça regeneradora pela qual Aquele que está assentado no trono faz novas todas as coisas.

Observem detidamente o que fez Eliseu quando fracassou em seu primeiro esforço. Quando falhamos numa tentativa, nem por isso devemos abandonar a nossa obra. Irmão ou irmã, se você não tem tido sucesso até agora, não é preciso deduzir que não foi chamado para a obra, como tampouco Eliseu podia ter concluído que não seria possível trazer o menino de volta à vida. A lição advinda do seu insucesso não é: cesse a obra, mas sim, mude o método. O que está fora de lugar não é a pessoa; o plano é que não é sábio. Se você não tem sido capaz de realizar o que pretendia, lembre-se da canção escolar:
“Se falha a primeira vez,
tente outra e repita”.
Entretanto, não repita, usando o mesmo método, a menos que esteja certo de que é o melhor. Se o seu primeiro método não obteve bom êxito, terá que aperfeiçoá-lo. Examine-o até encontrar o ponto em que falhou, e então, mudando o seu modo de agir, ou o seu espírito, o Senhor pode prepará-lo para um grau de utilidade que ultrapassará todas as expectativas. Em vez de perder o ânimo quando viu que o menino despertava, Eliseu cingiu seus lombos e se lançou com maior vigor ao trabalho que o esperava.
Irmãos, notem onde estava colocado o menino morto: “E, chegando Eliseu àquela casa, eis que o menino jazia morto sobre a sua cama”. Esta era a cama que a hospitalidade da sunamita preparara para Eliseu, a famosa cama que, com a mesa, a cadeira e o candeeiro, jamais será esquecida na igreja de Deus. Aquela cama seria usada para uma finalidade em que a boa mulher nem podia pensar quando, por amor ao profeta de Deus, preparou-a para seu repouso. Gosto de imaginar o menino deitado nessa cama, porque ela simboliza o lugar onde hão de jazer os nossos filhinhos não convertidos, se queremos vê-los salvos.
Se havemos de ser uma bênção para eles, devem jazer em nossos corações, devem ser nossa carga dia e noite. Devemos levar conosco os casos deles ao silêncio do nosso leito. Temos que pensar neles nas vigílias da noite, e quando não pudermos dormir por causa da nossa preocupação, é preciso que eles compartilhem nossas ansiedades nas horas tardias. Nossa cama deverá testemunhar nosso clamor: “Oxalá viva Ismael diante de ti! Oxalá os queridos meninos e meninas da minha classe venham a ser filhos do Deus vivente!”. Elias e Eliseu nos ensinam que não devemos colocar o menino longe de nós, fora de casa, ou numa caverna subterrânea de fria negligência, pelo contrário, se queremos devolver-lhe a vida, devemos colocá-lo na mais calorosa compaixão dos nossos corações.
Continuando a leitura, vemos: “Então entrou ele, e fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao Senhor”. Agora o profeta se lança de coração ao trabalho, e temos uma excelente oportunidade para aprender dele o segredo da obra de ressuscitar meninos dentre os mortos. Se voltarem à narrativa de Elias, verão que Eliseu adotou o método ortodoxo, o método do seu senhor Elias. Lerão ali: “E ele lhe disse: Dá-me o teu filho. E ele o tomou do seu regaço, e o levou para cima, ao quarto, onde ele mesmo habitava, e o deitou em sua cama. E clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, também até a esta viúva, com quem eu moro, afligiste matando-lhe seu filho? Então se mediu sobre o menino três vezes, e clamou ao Senhor, e disse: Ó Senhor meu Deus, rogo-te que torne a alma deste menino a entrar nele. E o Senhor ouviu a voz de Elias, e a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu”.
O magnífico segredo se encontra, em grande medida, na súplica vigorosa: Eliseu “fechou a porta sobre eles ambos, e orou ao Senhor”. Diz o velho provérbio: “Todo púlpito fiel tem sua base no céu”, significando que o verdadeiro pregador tem muito contato com Deus. Se não rogamos a bênção de Deus, se o alicerce do púlpito não estiver firmado na oração particular, o nosso ministério em público não terá sucesso. Assim se dá com vocês. O poder de todo verdadeiro mestre deve provir do alto. Se não estiverem habituados a entrar em seu quarto, fechando a porta; se não rogarem junto ao trono da misericórdia pela criança que está aos seus cuidados, como poderão esperar que Deus lhes honre com a conversão dela?
Creio que um método excelente é levar as crianças em pessoa, uma por uma, para o gabinete pastoral, e orar com elas. Vê-las-ão convertidas quando Deus lhes capacite a individualizar a situação delas, a agonizar por elas, e a levá-las uma e uma para orar por elas e com elas. Influi muito mais a oração elevada a Deus em particular e só com um menino do que a oração pública pronunciada na sala de aulas. Naturalmente, a influência não é maior com relação a Deus, mas sim com relação à criança. Tal oração muitas vezes se torna na própria resposta desejada, pois Deus, enquanto vocês vão derramando a alma, pode fazer com que a sua oração seja um martelo capaz de quebrantar o coração que meras preleções jamais conseguem tocar. Orem com as crianças separadamente, e isso será instrumento de grande bênção. E se não for possível fazer isso, de qualquer modo é preciso haver oração muita oração, oração constante, veemente, oração que não aceita resposta negativa, como a de Lutero, a qual ele chamava de bombardeio do céu. Isso equivale a colocar um canhão apontado para as portas do céu para abri-las a tiros, pois assim triunfam na oração os homens fervorosos. Não saiam de diante do propiciatório enquanto não possam bradar com Lutero: “Vici”, ou seja, “Venci, conquistei a bênção pela qual me empenhei”. “...o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” Mateus 11:12. Elevemos a Deus orações assim, ousadas, que constranjam a Deus e prevaleçam sobre os céus, e o Senhor não permitirá que busquemos Sua face em vão.
Depois de orar, Eliseu adotou os meios apropriados. A oração e os meios devem andar juntos. Meios sem oração presunção! Oração sem meios hipocrisia! Ali estava o menino, e diante dele o venerável homem de Deus! Observem o seu singular modo de agir. Inclina-se sobre o cadáver, e põe a boca sobre a do menino. A boca morta e fria da criança recebe o toque dos lábios cheios de calor e vida do profeta, e uma corrente vital de saudável e cálida respiração é enviada através das frígidas e pétreas vias bucais sem vida, percorrendo a garganta e os pulmões. Em seguida, o santo homem, com o amoroso ardor da esperança, coloca os olhos sobre os da criança, e as mãos sobre as dela. As mãos cálidas do ancião cobrem as gélidas mãos da criança morta.
Depois se estende sobre o cadáver e o cobre inteiramente como querendo transmitir sua própria vida ao corpo inanimado, para morrer com ele ou fazê-lo reviver. Ouvi falar de um caçador de camurça que serviu de guia a um medroso viajante. Quando se aproximavam de uma parte perigosa da estrada, o guia se amarrou firmemente ao viajante, e disse: “Ou ambos, ou nenhum de nós”. Isto é: “Ou viveremos os dois, ou nenhum de nós; somos um”. Foi deste modo que o profeta firmou misteriosa união entre si e o menino, e decidiu que, ou ficaria enregelado com a morte do menino, ou o aqueceria com a sua vida. Que nos ensina isto?
As lições são muitas e óbvias. Vemos aqui, como num quadro, que se quisermos dar vida espiritual a um menino, precisamos compreender o mais claramente possível a sua condição. Está morto, completamente morto. Deus lhes fará entender que a criança está morta em delitos e pecados como outrora vocês o estavam. Prouvera Deus, caros mestres, fazer-lhes entrar em contato com essa morte numa penosa, esmagadora, humilde e compassiva empatia. Digo-lhes que, na conquista de almas, devemos observar como o nosso Mestre agia. Pois bem, como agia? Quando quis levantar-nos da morte, que Lhe foi necessário fazer? Teve de morre. Não havia outro caminho.
Assim se dá com vocês. Se é que pretendem ressuscitar o tal menino, terão que sentir em si mesmos o frio e o horror da morte que há nele. É preciso um homem em agonia para dar vida a homens agonizantes. Não creio que possam tirar um tição da chamas sem chegar a mão bastante perto para sentir o calor do fogo. Devem ter, quanto possível, um definido senso da terrível ira de Deus e dos terrores do juízo vindouro, caso contrário, o seu trabalho carecerá de energia faltando-lhes assim um dos elementos indispensáveis para o bom êxito. É minha convicção que o pregador não poderá falar sobre tais assuntos enquanto não os sentir pesar sobre ele como uma carga pessoal imposta pelo Senhor. “Preguei em cadeias”, dizia John Bunyan, “a homens em cadeias”. Estejam certos de que, quando estiverem alarmados, deprimidos e esmagados por causa da morte que há nos seus meninos, é então que Deus está prestes a abençoar-lhes.
Portanto, compreendendo o estado do menino, e havendo posto a boca sobre a dele, e as mãos sobre as dele, deverão em seguida esforçar-se para adaptar-se quanto possível à natureza, aos hábitos e ao temperamento do menino. Sua boca deve detectar as palavras próprias do menino, de modo que saiba o que lhe querem dizer. Deverão ver as coisas com os olhos dele, e o seu coração deve ter os sentimentos que ele teria, para que sejam seus companheiros e amigos. Devem estudar os pecados próprios da adolescência e compreender compassivamente as tentações juvenis. Deverão, na medida do possível, penetrar as dores e as alegrias da infância. Não devem impacientar-se face às dificuldades deste trabalho, nem achá-lo humilhante, pois se acham que alguma coisa é privação ou condescendência, então não têm direito de estar vivo na escola dominical. Se lhes for exigido algo difícil, terão que fazê-lo sem achá-lo excessivo. Deus não quererá ressuscitar nenhum menino por intermédio de vocês, se não se dispuserem a ser tudo para ele, para de algum modo poderem ganhar sua alma para Cristo.
Está escrito que o profeta “se estendeu sobre” o menino. Poder-se-ia pensar que devia estar escrito que ele “se encolheu”. Eliseu era adulto, e o outro era menino. Não se deveria dizer que “se encolheu”? Não; “estendeu-se”. E notem bem, coisa difícil é um homem estender-se sobre uma criança. Não é tola a pessoa capaz de falar a crianças. O tolo estará muito enganado se pensar que suas tolices podem interessar aos meninos e às meninas. Ensinar aos pequeninos exige nossos melhores talentos, nossos estudos mais diligentes, nossos pensamentos mais rigorosos, e nossas faculdades mais amadurecidas. Por estranho que pareça, vocês não conseguirão dar vida ao menino enquanto não se estenderem. O homem mais sábio precisará pôr em ação todos os seus talentos para ter sucesso como professor de jovens.
Vemos, pois, em Eliseu a percepção da morte do menino e sua adaptação à tarefa que lhe cabia; mas, acima de tudo, vemos compassiva empatia. Enquanto o profeta sentia a frieza do cadáver, o seu calor pessoal ia penetrando no corpo morto. Isto, por si só, não ressuscitou o menino, mas Deus agiu por esse meio. O calor do corpo do ancião passou para o menino e foi o meio para dar-lhe vida. Todo professor deve ponderar estas palavras de Paulo: “Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos”. O genuíno conquistador de almas sabe o que isto significa. De minha parte, quando o Senhor me ajuda a pregar, uma vez apresentado o tema todo, e depois de haver disparado a ponto de deixar a arma como brasa viva, muitas vezes muni a arma com meu próprio ser e disparei o meu coração nos ouvintes; e esse disparo é que, pela graça de Deus, conseguiu a vitória.
Deus abençoará por Seu Espírito Santo a nossa ardente afinidade com a Sua verdade, e fará que esta realize o que a verdade sozinha, pregada friamente, não poderia fazer. Aqui, pois, está o segredo. Caro mestre, você deve comunicar a sua própria alma ao jovem. Deve sentir como se a ruína desse menino fosse a sua própria ruína. Deve sentir que, se o menino permanecer sob a ira de Deus, isto lhe causa tanto sofrimento como se você mesmo estivesse sob a ira divina. Deve confessar os pecados dele a Deus como se fossem teus, e pôr-se na presença de Deus como sacerdote a rogar por ele. A criança foi coberta pelo corpo de Eliseu, e você deve cobrir sua classe com compaixão, estendendo-se agonicamente diante do Senhor, procurando o bem estar dos seus alunos. Observem neste milagre o processo usado para ressuscitar o morto: o Espírito Santo continua misterioso quanto as suas operações, mas a forma dos meios externos é-nos revelada claramente aqui.
Apareceu logo o resultado da obra do profeta: “a carne do menino se aqueceu”. Quão satisfeito deve ter-se sentido Eliseu. Mas não creio que seu prazer e satisfação o tenham levado a afrouxar os seus esforços. Diletos amigos, nunca se dêem por satisfeitos ao ver os seus meninos numa condição ligeiramente esperançosa. Porventura uma jovem se aproximou de você e lhe pediu: “Professor, ore por mim, professor”? Alegre-se, pois é um belo sinal. Busque mais que isso, porém. Notou lágrimas nos olhos de um rapaz quando lhe falava do amor de Cristo? Dê graças por isso, porque o corpo está ganhando calor, mas não pare aí. Irá afrouxar agora o seu empenho? Lembre-se de que não atingiu a meta ainda. O que você quer é vida, não apenas calor. O que você quer, caro mestre, do seu querido aluno, não é apenas convicção, mas conversão. O seu desejo não é só de impressão, e sim de regeneração ou seja, vida, vida de Deus, a vida de Jesus. E disto que necessitam os seus alunos, e você não deve satisfazer-se com menos.
De novo lhes rogo que observem Eliseu. Houve uma pequena pausa. “Depois voltou, e passeou naquela casa duma parte para a outra”. Observem a inquietação do homem de Deus: não pode ficar sossegado. O menino se aquece (bendito seja Deus por isso), mas não está vivo ainda. Assim, em lugar de sentar-se em sua cadeira, à mesa, o profeta anda de um lado para outro com andar impaciente, intranqüilo, gemendo, suspirando, anelante e inquieto. Não poderia suportar o olhar da desconsolada mãe, ou ouvi-la perguntar: “Está restabelecido o menino?”. Continuou, pois, a andar pela casa como se seu corpo não pudesse repousar por não estar satisfeita sua alma.
Imitem esta sagrada inquietação. Quando virem que um rapaz está um tanto impressionado, não vão sentar-se e dizer:“O menino dá muita esperança, graças a Deus: estamos plenamente satisfeitos”. Jamais ganharão a pérola de grande preço desse jeito. Se hão de tornar-se pais espirituais na igreja, é preciso que fiquem tristes, inquietos, perturbados. A expressão de Paulo não é para ser explicada com palavras, mas vocês precisam conhecer o seu significado em seus corações: “de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós”. Oxalá o Espírito lhes dê essas dores internas, esse desassossego, essa inquietação, e essa sagrada intranqüilidade, até que vejam salvadoramente convertidos os seus esperançosos alunos!
Depois de um breve período andando de cá para lá, o profeta “tornou a subir, e se estendeu sobre o menino”. O que é bom uma vez, é bom outra vez. O que é bom duas vezes, é bom sete. Tem que haver perseverança e paciência. Domingo passado vocês foram muito zelosos; não sejam indolentes no domingo que vem. Como é fácil pôr abaixo num dia o que edificamos no dia anterior! Se pelo trabalho de um domingo Deus me capacita a convencer uma criança de que eu estava agindo com seriedade, devo tomar cuidado de não a convencer, no domingo seguinte, de que não estou com aquele zelo sério. Se o meu calor passado aqueceu o menino, não permita Deus que a minha frieza futura torne a esfriar-lhe o coração! Assim como o calor de Eliseu passou a criança, o frio de vocês passará para os seus alunos, se não estiverem com a alma cheia de ardor.

Eliseu estendeu-se de novo sobre o leito com muita oração, ansioso e cheio de fé, e por fim obteve o que queria: “o menino espirrou sete vezes, e abriu os olhos”. Qualquer movimento seria sinal de vida e alegraria o profeta. Alguns dizem que o menino “espirrou”, porque morrera de uma doença da cabeça, pois havia dito ao pai: “Ai, a minha cabeça! ai, a minha cabeça!”, e os espirros serviram para limpar os condutos vitais que tinham ficado bloqueados. Não sabemos. O ar fresco, ao entrar de novo nos
pulmões, bem poderia ter causado os espirros. O som não foi nem bem articulado nem musical, mas foi bom sinal de vida. Isso é tudo que deveríamos esperar dos jovens quando Deus lhes dá vida espiritual. Alguns membros da igreja esperam muitíssimo mais, porém eu, de minha parte, fico satisfeito se as crianças espirram se dão algum sinal verdadeiro da graça, por fraco ou vago que seja. Se o caro menino reconhece o seu estado de perdição, e põe a sua confiança na obra perfeita de Jesus, ainda que notemos isso apenas por alguma expressão muito vaga, não como a que receberíamos de um doutor em teologia ou esperaríamos de uma pessoa adulta não havemos de dar graças a Deis e receber o pequenino e cuidar dele para o Senhor?
Se Geazi estivesse ali, talvez não desse grande importância aos espirros, porque não se havia estendido sobre o menino nenhuma vez; mas isso contentou a Eliseu. Da mesma maneira, se vocês e eu temos de fato agonizado em oração pelas almas, teremos olhar bastante aguçado para captar o primeiro sinal da graça, e seremos agradecidos a Deus, mesmo que o indício não passe de um espirro.
Em seguida o menino abriu os olhos, e nos aventuramos a dizer que Eliseu achou que jamais tinha visto olhos tão formosos. Não sei de que tipo eram esses olhos, se eram castanhos ou azuis, mas sei que quaisquer olhos que Deus vos ajude a abrir serão belíssimos para vocês. Outro dia ouvi um professor falar de um “excelente rapaz” que fora salvo em sua classe, e outro fez referência a uma “querida jovem” de sua classe que amava Senhor. Não duvido. Seria de estranhar que não parecessem “excelente” e “querida" aos olhos daqueles que os levaram a Jesus, pois para Jesus Cristo os salvos são ainda mais excelentes e queridos. Diletos amigos, queira Deus que com freqüência fitem olhos abertos, olhos que, se a graça divina não se tivesse apropriado do ensino ministrado por vocês, teriam permanecido nas trevas, sob o véu da morte espiritual! Então vocês poderão considerar-se deveras favorecidos.
Uma palavra de advertência. Há nesta reunião algum Geazi? Se no meio deste grande grupo de professores da escola dominical há alguém que não pode fazer mais que levar o bordão, dá-me pena! Ah! meu amigo, que Deus, em Sua misericórdia, lhe dê vida pois, de que outra forma pode esperar ser o meio para ressuscitar a outros? Se Eliseu fosse também um cadáver, seria inútil esperar que a vida fosse comunicada colocando um corpo sobre outro. Em vão esta ou aquela pequena classe de almas mortas se reunirá em torno doutra alma morta, como você. A mãe morta, queimada pela geada e enregelada, não pode dar alento ao seu filhinho. Que calor e que ânimo podem receber os que ficam a tiritar junto a uma lareira apagada? Assim é você. Oxalá opere a graça em sua alma primeiro, e depois o bendito e eterno Espírito de Deus que, só Ele, pode vivificar as almas, faça de você um instrumento para a vivificação de muitos, para a glória da Sua graça!
Caros amigos, aceitem minhas saudações fraternais, e creiam que minhas fervorosas orações estão com vocês, para que Deus lhes abençoe e lhes faça uma bênção.


Fonte: Capítulo 7 do livro “O Conquistador de Almas”. Editora PES.