Sobre o Sermão
do Monte
John Wesley
Não
julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes,
vós sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a
vós. E por que tu reparas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês
a trave que está no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e
então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão. Hipócrita, tira
primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do
teu irmão. Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas
pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem.
Pedi, e
dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele
que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate abrir-se-lhe-á. E
qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma
pedra? - E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus,
sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus,
dará bens aos que lhe pedirem? Portanto, tudo o que vós quereis que os homens
vos façam, fazei-lo também vós, porque esta é a lei e os profetas. (Mateus 7:1-12)
1. Nosso abençoado Senhor, tendo agora terminado seu
principal objetivo; primeiro, entregando a soma da religião verdadeira,
cuidadosamente guardando-se contra aqueles comentários de homens, por meio dos
quais, eles tornariam a Palavra de Deus sem efeito; em seguida, colocando as
regras no tocante à correta intenção que temos de preservar, em todas as nossas
ações exteriores, agora prossegue, apontando os principais entraves dessa
religião, e concluindo com toda a aplicação adequada.
2. No quinto capítulo, nosso grande Professor tem
descrito completamente a religião interior em suas várias ramificações. Lá, Ele
colocou diante de nós, aquelas disposições de alma que constituem o
Cristianismo real; os temperamentos contidos nesta 'santidade, sem a qual
nenhum homem verá ao Senhor'; as afeições que, quando fluem de sua fonte
própria, da fé viva em Deus, através de Jesus Cristo, são intrínseca e
essencialmente boas, e aceitáveis para Deus. No sexto, Ele mostrou como todas
as nossas ações igualmente, mesmo aquelas que são indiferentes, em sua própria
natureza, podem se tornar santas, boas e aceitáveis para Deus, através de uma
intenção pura e santa. O que quer que seja feito, sem isto, Ele declara sem
valor algum para Deus: considerando que, quaisquer que sejam as obras
exteriores, assim consagradas a Deus, são a seus olhos, de grande valor.
3. Na primeira parte desse capítulo, ele indica os
mais comuns e fatais obstáculos a essa santidade: No último, Ele nos exorta
através de motivos diversos, a abrir caminho por entre eles, e assegurar o
prêmio de nosso alto chamado.
4. O primeiro obstáculo do
qual Ele nos previne é o julgamento. 'Não julgueis, para que não
sejais julgados'. Não julgarmos os outros, para que não sejamos julgados
pelo Senhor, para que não tragamos a vingança sobre nossas próprias cabeças.
'Porque com o juízo com que julgardes, vós sereis julgados; e com a medida com
que tiverdes medido vos hão de medir a vós': -- Uma regra clara e
eqüitativa, por meio da qual, Deus permite que determinemos para nós mesmos, de
que maneira Ele deverá proceder conosco no julgamento do grande dia.
5. Não existe situação da vida,
em qualquer período de tempo, do momento de nosso primeiro arrependimento e
crença no Evangelho, até que estejamos perfeitos no amor, onde essa advertência
não seja necessária para cada filho de Deus. Porque oportunidades de julgamento
nunca faltarão. E as tentações a ele são inumeráveis: muitas, tão ardilosamente
disfarçadas, que nós caímos no pecado, antes mesmo de suspeitarmos de algum
perigo. E inexplicáveis são os enganos produzidos, daí em diante, -- sempre
àquele que julga o outro, assim prejudicando sua própria alma, e expondo a si
mesmo ao julgamento justo de Deus; -- e freqüentemente àqueles que são
julgados, que se tornam impotentes; enfraquecidos e obstruídos em seu curso, se
não, totalmente fora dele, fazendo com que retornem mesmo à perdição. Sim; quão
freqüentemente, 'muitos se corrompem', quando essa 'raiz da amargura
brota'; já que, por meio disto, o próprio caminho da verdade é mal falado,
e aquele nome honrado, pelo qual somos chamados, é caluniado!
6. Ainda assim, não parece que nosso Senhor designou
essa advertência apenas, ou principalmente para os filhos de Deus; mas,
preferivelmente, para os filhos do mundo – para os homens que não conhecem a
Deus. Esses não podem deixar de ouvir desses que não são do mundo; que seguem
em busca da religião acima descrita; que se esforçam para serem humildes,
sérios, gentis, misericordiosos, e puros de coração; que sinceramente desejam
tais medidas daqueles temperamentos santos, quando eles não obtiveram, e
esperam por eles, fazendo todo o bem a todos os homens, pacientemente
suportando o mal. Quem quer que vá, assim tão longe, não pode ser oculto – não
mais do que 'uma cidade encima de uma colina'. E por que não aqueles que
'vêem' suas 'boas obras glorificarem seu Pai que está no céu?'.
Que desculpa, eles têm para não trilharem seus passos? — para não imitarem o
exemplo deles, e serem seus seguidores, como eles também são seguidores de
Cristo? Por que, com o objetivo de providenciarem uma desculpa para si mesmos,
eles condenam aqueles a quem eles deveriam imitar? Eles passam seu tempo, em se
certificarem das faltas de seu próximo, em vez de emendarem as suas próprias.
Eles estão tão ocupados a respeito dos outros saírem de seus caminhos, que eles
mesmos nunca entraram nele, afinal; pelo menos, nunca avançaram; nunca seguiram
além da pobre forma morta de santidade sem poder.
7. É, mais especialmente, para esses, que nosso Senhor
diz: 'E por que tu reparas no argueiro que está no olho do teu irmão',
-- as enfermidades, os enganos, a imprudência, a fraqueza dos filhos de Deus;
-- 'e não vês a trave que está no teu olho?'. Tu não ponderaste a
condenável obstinação no erro; o orgulho satânico; a execrável vontade própria;
o amor idólatra ao mundo, que estão em ti mesmo, e que fazem com que toda a sua
vida seja uma abominação para o Senhor. Acima de tudo, com que indolente
negligência e indiferença tu estás dançando sobre a boca do inferno! E 'como,
então', com que graça, com que decência e modéstia, 'tu irás dizer ao
teu irmão, deixa-me tirar o argueiro de teu olho'; -- o excesso de zelo; a
abnegação extrema; o imenso desembaraço das preocupações e empreendimentos
mundanos; o desejo de estar, dia e noite, em oração; ou ouvir as palavras da
vida eterna? –
'Observa a trave que está em teu próprio olho!'. Não um cisco, como um desses. 'Tu,
hipócrita!', que pretendes cuidar dos outros, e não tens cuidado com tua
própria alma; que mostras um zelo pela causa de Deus, quando, na verdade, tu
nem amas, nem temes a Ele! 'Primeiro, tira a trave de teu próprio olho':
Joga fora a trave da impenitência! Conhece a ti mesmo! Vê e sente que tu mesmo
és um pecador! Sente que teu interior é muito perverso; tu és completamente
corrupto e abominável; e que a ira de Deus habita sobre ti! Atira fora a trave
do orgulho; abomina a ti mesmo; afunde como na poeira e cinzas; sejas cada vez
menor, e insignificante, e comum, e vil aos teus próprios olhos! Tira a trave
da vontade própria! Aprende o que significa, 'se algum homem quiser me
seguir, que ele renuncie a si mesmo'. Nega a ti mesmo, e tome tua cruz
diária. Deixa que toda tua alma clame: 'Eu vim do céu', -- porque assim
tu vieste; teu espírito imortal, se tu o conheces ou não, -- 'não para fazer
minha própria vontade, mas a vontade Dele que me enviou'.
Atira fora a trave do amor ao mundo! Não ama o
mundo, nem as coisas do mundo. Sê tu crucificado para o mundo, e o mundo
crucificado para ti. Usa o mundo apenas para agradar a Deus. Busca toda tua
felicidade Nele! Acima de tudo, atira fora a maior trave: o descuido e a
indiferença, indolentes! Considera profundamente, que 'uma coisa é
necessária'; a única coisa que tu tens dificilmente pensado a respeito:
Sabe e sente que tu és um miserável ser humano pobre vil e culpado, tremendo
sobre o grande abismo! O que tu és? Um pecador nascido para morrer; uma folha
levada pelo vento; um vapor pronto a desaparecer; apenas surgindo, e, então,
movimentando-se depressa no ar, para não mais ser visto! Vê isto! E, assim,
tu deverás ver claramente, para lançar fora o cisco do olho de teu irmão'.
Então, se tiveres tempo livre das preocupações de tua própria alma, tu saberás
como corrigir teu irmão também.
8. Mas qual é propriamente o
significado dessas palavras: 'Não julgueis?'. Qual o julgamento que está
aqui proibido? Não é o mesmo que a maledicência, embora esteja freqüentemente
unida a ela. A maledicência é o relatar alguma coisa que seja má, com respeito
a uma pessoa ausente; considerando que o julgamento pode indiferentemente se
referir tanto ao ausente, quanto ao presente. Nem necessariamente implica em
falar mal, afinal, mas apenas o pensar mal de outro. Não que toda espécie de
pensamento mau de outros seja aquele julgamento que o Senhor condena. Se eu
vejo alguém cometendo roubo ou assassinato; ou o ouço blasfemar o nome de Deus,
eu não posso refrear-me de pensar mal do ladrão ou assassino. Ainda assim, não
se trata de pensar mal. Não existe pecado nisso, nem alguma coisa contrária a
exprimir sentimento.
9. O pensar a respeito do outro,
de uma maneira que seja contrária ao amor, é aquele julgamento que está aqui
condenado; e isto pode ser de várias espécies. Primeiro, nós podemos pensar que
alguém é culpado, quando ele não é. Nós podemos colocar sob sua
responsabilidade (pelo menos em nossa própria mente), as coisas das quais ele
não é culpado; as palavras que ele nunca disse, ou as ações que ele nunca
realizou. Ou podemos pensar que sua maneira de agir seja errada, embora, na
realidade, não seja. E mesmo onde nada pode justamente ser acusado, tanto nas
próprias coisas, quanto na maneira de executá-las, nós podemos supor que sua
intenção não foi boa, e, assim condená-lo por este motivo, ao mesmo tempo em
que Ele, que conhece o coração vê sua simplicidade e sinceridade santa.
10. Mas nós não podemos apenas cair no pecado de
julgamento, por condenarmos o inocente; mas também, em Segundo Lugar, por
condenarmos o culpado, além do que ele merece. Esta forma de julgamento é
igualmente uma ofensa contra a justiça, assim como a misericórdia; e ainda, tal
ofensa, quando nada mais pode, nos assegura, a não ser da mais forte e terna
afeição. Sem isto, nós rapidamente suporíamos que alguém, reconhecidamente em
falta, seja mais culpado do que ele realmente é. Nós subestimaríamos qualquer
bem que fosse encontrado nele. Mais ainda, nós não seríamos facilmente
induzidos a acreditar que alguma coisa boa pode permanecer nele, em quem nós
teríamos encontrado nada que fosse mal.
11. Tudo isso mostra a manifesta
necessidade daquele amor que não pensa mal; que nunca esboça uma conclusão injusta
ou indelicada, quaisquer que sejam as premissas. O amor nunca irá inferir da
queda de alguém, uma vez encontrado numa atitude de pecado declarado, o qual
está acostumado a praticar, que ele já é culpado: E se ele foi culpado uma vez,
o amor não conclui que ele ainda seja, muito menos, que se ele é agora culpado
disso, por conseguinte, deve ser culpado de outros pecados também. Essas
conclusões maldosas pertencem àquele julgamento pecaminoso, do qual nosso
Senhor nos alerta contra; e do qual nós estamos altamente preocupados a evitar,
se nós amamos a Deus ou nossas próprias almas.
12. Mas, supondo que nós não condenamos o inocente, nem
o culpado, mais além do que ele merece; ainda assim, nós não podemos estar
completamente fora da armadilha: Porque existe, em Terceiro Lugar, uma forma de
pecado de julgamento, que é o condenar alguma pessoa, onde não existe evidência
suficiente, afinal. E mesmo que os fatos que supomos sejam verdadeiros; ainda
assim, isto não nos absolve. Porque eles não deveriam ter sido supostos, mas
provados; e ainda que fossem nós não deveríamos ter formado julgamento; -- eu
digo, ainda que fossem; nós não poderíamos ser desculpados; mesmo que os fatos
admitissem sempre provas tão forte; a menos que aquelas provas tivessem sido
produzidas, antes que executássemos a sentença, e comparadas com a evidência de
outro lado. Nem poderíamos ser desculpados, se alguma vez, nós executamos a
sentença completa, antes que o acusado tenha falado por si mesmo. Mesmo um
judeu poderia nos ensinar isto, como uma mera lição de justiça abstraída do
amor misericordioso e fraternal. 'Não julgue', diz Nicodemos, 'porventura
condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que
faz?' (João 7:51). Sim, um pagão poderia responder, quando o chefe
da nação judaica desejou julgar seu prisioneiro: 'Não é a maneira dos
romanos' julgar 'homem algum, antes que o acusado esteja face a face com
seus acusadores, e tenha permissão de responder por si mesmo, concernente ao
crime que lhe é imputado'.
13. De fato, nós não cairíamos facilmente no pecado de
julgamento, se nós apenas observássemos aquela regra, que outro [Sêneca]
daqueles ateus romanos afirmou ter sido a medida de sua própria prática. 'Eu
estou tão distante', diz ele, 'de levemente acreditar em todo homem, ou
em alguma evidência dos homens contra outro, que eu não facilmente ou
imediatamente acredito na evidência de um homem contra si mesmo. Eu sempre
permito a ele uma segunda opinião, e muitas vezes o aconselho também'.
Assim sendo, tu que és chamado de cristão faças o mesmo, a fim de que o pagão
não se levante e condene a ti naquele dia!
14. Mas quão raramente nós
poderíamos condenar ou julgar outro, pelo menos, quão logo poderia aquele mal
ser remediado, se nós caminhássemos através daquela regra clara e expressa que
o próprio nosso Senhor nos ensinou! – 'Se teu irmão cometer falta contra
ti', ou, se tu ouvires, ou acreditares que ele o fez, 'vai e dize a ele
da sua falta, entre ele e ti somente'. Este é o primeiro passo que deves
tomar. 'Mas se ele não ouvir, toma contigo um ou dois mais, para que na boca
de duas ou três testemunhas, toda palavra possa ser estabelecida'. Este é o
segundo passo. 'Se ele negligenciar ouvi-los, diga-o à igreja', tanto ao
inspetor nela, ou à congregação toda. Tu terás, então, feito a tua parte. Assim
sendo, não te preocupes mais, mas recomenda tudo a Deus.
15. Mas supondo que tu tenhas
pela graça de Deus, 'tirado a trave de teu próprio olho', e agora 'podes
ver claramente o cisco ou a trave que está no olho de teu irmão', cuida de
não causares dano a ti mesmo, por esforçar-te para ajudá-lo. Ainda assim, 'não
dá o que é santo aos cães'. Não tenha a mais leve preocupação que alguém
possa ser dessa forma; mas, se evidentemente parecer que ele mereça o título,
então, 'não atira pérolas aos porcos'. Toma cuidado quanto aquele zelo
que não está de acordo com o conhecimento. Porque este é outro grande obstáculo
no caminho daqueles que poderiam 'ser perfeitos, como o Pai celestial é
perfeito'. Eles que desejam isto, não podem deixar de desejar que toda
humanidade possa fazer parte da bênção comum. E, quando nós mesmos, primeiro
participarmos do dom celestial, da 'evidência divina das coisas que não são
vistas', nós nos admiraremos que toda a humanidade não veja as coisas que
nós vemos tão claramente; e não teremos dúvida, afinal, de que devemos abrir os
olhos de todos aqueles com os quais temos intercurso.
Conseqüentemente, nos dedicaremos, sem demora,
inteiramente ao trabalho, com todos aqueles que encontrarmos, e os
constrangeremos a ver, quer eles vejam ou não. E, pelo sucesso desfavorável
desse zelo excessivo, nós freqüentemente afligimos nossas próprias almas. Para
prevenir esse gasto de nossa energia em vão, nosso Senhor acrescenta essa precaução
necessária (necessária a todos, mas, mais especificamente, àqueles que estão
agora aquecidos no seu primeiro amor) 'Não deis aos cães as coisas santas,
nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés
e, voltando-se, vos despedacem' (Mateus 7:6).
16. 'Não dêem o que é santo aos cães'.
Acautelem-se para não pensarem que alguém mereça essa apelação, até que haja
prova completa e incontestável, tal como vocês não poderão resistir muito
tempo. Mas, quando for provado, claramente e indiscutivelmente, que eles são
homens impuros e pecaminosos, não apenas estranhos, mas inimigos de Deus, e de
toda retidão e santidade verdadeira; 'não dêem o que é santo', -- 'as coisas
santas' – enfaticamente, assim chamadas – a esses. As doutrinas santas e
peculiares do Evangelho – tais que estiveram 'ocultas nas épocas e gerações'
dos antigos, e agora se tornaram conhecidas a nós, através da revelação de
Jesus Cristo, e a inspiração de seu Espírito Santo. Não que os embaixadores de
Cristo possam refrear de declará-las na grande congregação, onde alguns desses
provavelmente estejam; nós devemos falar, quer os homens vão ouvir, ou quer
eles reprimam; mas este não é o caso com os cristãos privados. Eles não
suportam esse terrível caráter; nem estão debaixo da obrigação de forçar essas
grandes e gloriosas verdades neles, que as contradizem e blasfemam; que tem a
inimizade enraizada contra elas. Mais ainda, eles não devem proceder assim, mas
preferivelmente conduzi-los, na medida em que eles sejam capazes de suportar.
Não comecem um discurso sobre remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo;
mas falem com eles da maneira própria deles, e de acordo com seus próprios
princípios. Com o racional, honorável, e injusto epicurista, a razão 'da
retidão, temperança e julgamento a vir'. Este é o caminho mais provável de
fazerem Felix tremer. Reservem os seus assuntos mais importantes para homens de
grande entendimento.
17. 'Nem atirem pérolas aos porcos'. Mas relutem muito em fazer esse
julgamento a algum homem. Porém, se de fato for claro e inegável; claro, além
de toda controvérsia; se os "suínos" não se esforçarem, para
dissimularem a si mesmos, antes, glorificam-se em suas vergonhas, não tendo
pretensão de purificar tanto o coração quanto a vida, mas executam toda sujeira
com ganância; então, 'não atirem' suas pérolas diante deles. Não falem
sobre os mistérios do reino; sobre as coisas que os olhos não vêem; nem os
ouvidos ouvem; o que, em conseqüência de eles não terem outros meios de
conhecimento, nenhum dos sentidos espirituais, não pode entrar em seus corações
conceberem. Não digam a eles 'das promessas excessivamente grandes e
preciosas', que Deus nos tem dado, no Filho de seu amor.
Que concepção, aqueles que nem mesmo desejam
escapar da corrupção que está no mundo, através da luxúria, podem ter de serem
feitos parceiros da natureza divina? Tanto quanto o conhecimento que os suínos
têm das pérolas; tanto quanto o prazer que têm por elas; assim eles serão
quanto às coisas profundas de Deus; ao que conhecem dos mistérios do Evangelho;
imersos que estão na mira desse mundo; nos prazeres, desejos e cuidados
terrenos. Ó, não atirem pérolas diante desses, 'para que não as pisem!' –
a fim de que eles não desprezem extremamente o que eles não podem entender, e
falem mal das coisas que eles não conhecem. Mais ainda, é provável que esta não
seja a única inconveniência que poderia se seguir. Não seria estranho se eles,
de acordo com a sua natureza, 'se virassem contra vocês, e os
despedaçassem'; se eles retribuíssem o bem com o mal; praguejando e
blasfemando; e a boa vontade com o ódio. Tal é a inimizade da mente carnal
contra Deus e todas as coisas de Deus. Tal é o tratamento que vocês devem
esperar desses, se vocês oferecerem a eles uma imperdoável afronta de esforço
para salvar suas almas da morte; para tirá-los, como se fossem carvões, do
fogo.
18. E ainda assim, vocês não
precisam se desanimar extremamente; mesmos por causa destes, que, para o
presente, 'viram-se contra vocês e os despedaçam'. Porque se todos os
seus argumentos e persuasões falharem, existe ainda outro remédio restante; um
que é freqüentemente considerado efetivo, quando nenhum outro método tem
eficácia: a oração. Por conseguinte, quer vocês desejem ou necessitem, tanto
para outras, como para suas próprias almas, 'peçam, e lhes será dado;
busquem, e encontrarão; batam e abrir-se-lhes-ão'. O negligenciar isto é o
Terceiro grande obstáculo da santidade. Se ainda 'não tivemos, é porque não
pedimos'. Ó quão mansos e gentis; quão humildes de coração, quão cheios de
amor a Deus e aos homens, vocês poderiam ter sido, até então, se vocês tivessem
apenas pedido; --se vocês tivessem continuado em oração constante!
Por conseguinte, agora, pelo menos, 'peçam, e
lhes será dado'. Peçam que vocês poderão experimentar completamente, e
perfeitamente, a prática de toda aquela religião que nosso Senhor tem aqui tão
maravilhosamente descrito. E vocês deverão ser santos, como Ele é santo, no
coração, e em tudo que falarem. Busquem, no caminho que ele ordenou; estudando
as Escrituras; ouvindo Sua Palavra; meditando nela; jejuando; partilhando da
Ceia do Senhor, e, certamente, encontrarão: Vocês encontrarão está pérola de
grande valor; aquela fé que supera o mundo; aquela paz que o mundo não pode
dar; aquele amor que é a garantia da herança de vocês. Batam; continuem em
oração, e em todo o outro caminho do Senhor: Não sejam enfadonhos e fracos em
suas mentes. Prossigam até a marca do verdadeiro cristão: não rejeitem: não
deixem que Ele se vá, antes que Ele os abençoe. E as portas da misericórdia, da
santidade, dos céus possam estar abertas a vocês.
19. É pela misericórdia à dureza de nossos corações,
tão hesitantes em acreditarem na santidade de Deus; que nosso Senhor se agradou
de se estender sobre esse assunto, repetindo e confirmando o que Ele falou. 'Porque
todo aquele', diz o Senhor, 'que pedir, receberá'; de modo que
ninguém precisa ser insuficiente de bênçãos; 'e todo aquele que buscar',
mesmo qualquer um que buscar 'encontrará' o amor e a imagem de Deus; 'e
para ele que bater', para todo aquele que bater o portão da retidão lhe
será aberto. De maneira que aqui não existe motivo para alguém ser
desencorajado, ainda que eles perguntassem ou batessem em vão. Apenas
lembrem-se sempre de orarem, buscarem, baterem, e não esmorecerem. E, então, a
promessa permanece certa. Ela será firme, como os pilares dos céus; -- sim,
muito mais firmes; porque os céus e terra irão passar, mas Suas palavras não
passarão.
20. Para eliminar toda pretensão
à descrença, nosso abençoado Senhor ilustra, nos seguintes versos, ainda mais
além do que Ele disse, através de um apelo quanto ao que se passa em nossos
próprios sentimentos. 'Que homem', diz ele, 'existe entre vocês, que,
se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra?'. Será que mesmo a afeição
natural irá permitir que vocês recusem um pedido razoável de alguém que vocês
amam? 'Ou se ele pedir um peixe lhe dará uma serpente?'. Vocês irão dar
a ele algo nocivo, em vez de proveitoso? De modo que, mesmo daquilo que vocês
sentem e vocês mesmos fazem, vocês possam receber a mais completa segurança, de
que, por um lado, nenhum mau propósito pode possivelmente atender seu pedido;
e, por outro, que ele será atendido com aquele bom propósito; um completo
suprimento de todas as suas necessidades. Porque 'se vocês que são maus,
sabem dar o que é bom para seus filhos, quanto mais seu Pai que está no céu',
que é puro, e essencialmente bom, 'dará boas coisas àqueles que pedirem a
Ele!'. Ou, (como Ele expressa isto em outra ocasião), 'dar o Espírito
Santo àqueles que pedem a Ele?'. Nele estão incluídas todas as boas coisas;
toda a sabedoria, paz, alegria, amor; todos os tesouros da santidade e
felicidade; tudo que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
21. Mas para que sua oração
possa ter seu valor completo para com Deus, veja que vocês sejam
misericordiosos com todos os homens; porque, do contrário, será mais igualmente
como trazer uma maldição, do que uma bênção sobre suas cabeças; nem vocês poderão
esperar receber alguma bênção de Deus, enquanto vocês não tiverem misericórdia
em direção ao seu próximo. Portanto, permitam que esse obstáculo seja removido
sem demora. Confirmem seu amor para com o outro, e para com todos os homens. E
os amem, não apenas na palavra, mas na ação e na verdade. 'Por conseguinte,
em todas as coisas, o que quer que vocês queiram que os homens façam a vocês,
façam o mesmo a eles; porque esta é a lei e os profetas'.
22. Esta é aquela lei real, a regra de ouro da misericórdia,
assim como da justiça, que, mesmo o Imperador pagão fez com que fosse escrita
sobre os portões de seu palácio; uma regra que muitos acreditam estar
naturalmente gravada na mente de cada um que vem para o mundo. E, sendo assim,
é certo que ela ordena a si mesma a toda consciência e entendimento do homem,
tão logo seja ouvida; considerando que nenhum homem pode sabidamente
desobedecê-la, sem carregar sua condenação em seu próprio peito.
23. 'Esta é a lei e os profetas'. O que quer
que esteja escrito naquela lei que Deus dos antigos revelou para a humanidade,
e quaisquer que sejam os preceitos que Deus tem dado, através de seus santos
profetas, desde que o mundo começou, está tudo resumido nessas poucas palavras;
está contido nessa direção resumida. E isto, corretamente entendido, condensa a
totalidade daquela religião que nosso Senhor veio estabelecer sobre a terra.
24. Ela pode ser entendida, tanto em um sentido
positivo quanto negativo. Se entendida em um sentido negativo, o significado é:
'o que quer que vocês não queiram que os homens façam a vocês, não façam a
eles também'. Aqui está uma regra clara; sempre pronta à mão; sempre fácil
de ser aplicada. Em todas as circunstâncias, relacionadas ao seu próximo, façam
das circunstâncias dele as suas próprias circunstâncias. Supondo-se que as
circunstâncias devam ser mudadas, e vocês mesmos devam ser justos como ele é
agora. Então, cuidem para que vocês não favoreçam algum temperamento ou
pensamento; para que nenhuma palavra saia de seus lábios; para que vocês não
dêem um passo que possa condená-los, diante de tais mudanças de circunstâncias.
Se entendido, em um sentido direto e positivo, o significado claro é: 'o que
quer que vocês possam razoavelmente desejar dele, supondo-se que vocês mesmos
estejam nessas circunstâncias, que façam ao extremo de seu poder, a todos os
filhos do homem'.
25. Para aplicar isto, em um ou dois exemplos
óbvios: Está claro à consciência de todos os homens que nós não gostaríamos que
os outros nos julgassem; que pudessem, injusta ou levianamente, pensar mal de
nós; muito menos gostaríamos que alguém pudesse falar mal de nós - pudesse
espalhar nossas faltas ou enfermidades reais. Apliquem isto em si mesmos: Não
façam ao outro, o que não gostariam que fosse feito a vocês; e nunca mais irão
julgar seu próximo; nunca, injustamente ou levianamente, pensarão mal de
alguém; muito menos falarão mal; vocês nunca irão mencionar até mesmo a falta
real de uma pessoa ausente, a menos que vocês estejam assim convencidos de que
seja necessário para o bem de outras almas.
26. Novamente: Nós gostaríamos que todos os homens
pudessem nos amar e nos estimar; e se comportassem em direção a nós, de acordo
com a justiça, misericórdia e verdade. E nós podemos razoavelmente desejar que
eles possam fazer a nós todo o bem que eles puderem sem afligirem a si mesmos.
Agora, então, que possamos caminhar pela mesma regra: que façamos a todos como
gostaríamos que eles nos fizessem. Que amemos e honremos todos os homens. Que a
justiça, misericórdia, e verdade governem nossas mentes e ações.
27. Esta é a moralidade pura e genuína. Façam isto, e
viverão. 'E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia
sobre eles', porque eles são 'o Israel de Deus'. (Gálatas
6:16). Que seja observado que ninguém pode caminhar por esta regra (nem
mesmo, desde a criação do mundo); ninguém pode amar seu próximo como a si
mesmo, a menos que primeiro ame a Deus; e ninguém pode amar a Deus, a menos que
acredite em Cristo; a menos que tenha redenção através de seu sangue, e o
Espírito de Deus testemunhe com seu espírito que ele é filho de Deus. Fé,
portanto, é a raiz de tudo; da salvação presente, assim como da futura. Ainda
nós podemos dizer a todos os pecadores: 'Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo'. Tu poderás ser salvo agora, para
que possas ser salvo para sempre; salvo na terra; para que possas ser salvo no
céu. Crê nele, e tua fé será operada pelo amor. Tu irás amar o Senhor
teu Deus, porque ele amou a ti: Tu irás amar teu próximo como a ti mesmo: E,
então, será tua glória e alegria, manifestar e aumentar esse amor; não
meramente por abster-te do que é contrário a isto, de todo pensamento
indelicado, palavra e ação, mas por mostrares toda esta delicadeza, para com
todos os homens, da mesma forma que tu gostarias que eles pudessem mostrar para
contigo.
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