terça-feira, 1 de março de 2016

Um estilo para a vida eterna

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Quando tratamos de estilos vemos uma diversidade deles em nossa sociedade. Esses estilos, no entanto, não são vagos, eles querem transmitir alguma mensagem ou ideal. Não obstante, isso não foge à regra do cristianismo. Não estou dizendo que o crente deve vestir isso ou aquilo, mas que o seu estilo de vida, o qual vai além de vestimentas, deve transmitir quem você é realmente, mostrando que a ética do cristianismo não se reduz a coisas passageiras que mudam com o tempo.


E é isso que o apóstolo Paulo vai tratar em Gálatas 5.19-23, onde lemos sobre as obras da carne (19-21) e o fruto do Espírito (22-23). As obras da carne nós podemos dividi-las em quatro áreas ou em quatro direcionamentos: para com o sexo, para com o culto, para com os relacionamentos e para com a alimentação.

Sexo

A palavra prostituição pode ser traduzida como fornicação ou imoralidade sexual, o que dá a entender que se trata de relações sexuais fora do casamento ou entre pessoas não casadas. A palavra impureza expressa um comportamento anormal e a palavra lascívia entende-se por uma vida de imoralidade e libertinagem. Essas três palavras expressam claramente os pecados proibidos no Sétimo Mandamento (Êx 20.14), como nos mostra a Pergunta 139 do Catecismo Maior de Westminster:
Os pecados proibidos no sétimo mandamento, além da negligência dos deveres exigidos, são: adultério, fornicação, rapto, incesto, sodomia e todas as concupiscências desnaturais; todas as imaginações, pensamentos, propósitos e afetos impuros; todas as comunicações corruptas ou torpes, ou o ouvir as mesmas; os olhares lascivos, o comportamento impudente ou leviano; o vestuário imoderado; a proibição de casamentos lícitos e a permissão de casamentos ilícitos; o permitir, tolerar ou ter bordéis e a frequentação deles; os votos embaraçadores de celibato; a demora indevida de casamento; o ter mais que uma mulher ou mais que um marido ao mesmo tempo; o divórcio ou o abandono injusto; a ociosidade, a glutonaria, a bebedice, a sociedade impura; cânticos, livros, gravuras, danças, espetáculos lascivos e todas as demais provocações à impureza, ou atos de impureza, quer em nós mesmos, quer nos outros.

Culto


A palavra idolatria não expressa, somente, adoração de imagens. Mas idolatria é tudo aquilo que substitui a Deus. Algo que nos faz mais feliz ou aquilo que não conseguimos viver sem, se não for centrado em Deus, sendo algo criado, é idolatria. No entanto, o contexto que Paulo trata de idolatria incluía práticas pecaminosas e religiosas que envolvia carnes sacrificadas a ídolos e praticas sexuais, como os bacanais. A palavra feitiçaria pode ser entendida como bruxaria e isso também envolviaidolatria, como mostra Hendriksen:

Quando a fé na magia substitui a confiança em Deus, ela é desmascarada como outra forma de idolatria[1].

Portanto, idolatria e feitiçaria são pecados contra o primeiro mandamento - Não terás outros deuses (Êx 20.3) – apresentados como os pecados proibidos:


105. Quais são os pecados proibidos no primeiro mandamento?
Os pecados proibidos no primeiro mandamento são [...] a idolatria, ter ou adorar mais do que um Deus, ou qualquer outro juntamente com o verdadeiro Deus ou em lugar dÊle; [...] o orar ou prestar qualquer culto religioso a santos, anjos ou qualquer outra criatura; todos os pactos com o diabo; o consultar com ele e dar ouvidos às suas sugestões; (CMW, ênfase acrescentada).

Relacionamentos


A terceira área abordada pelo apóstolo é a mais longa, a qual se tratada uma a uma seria longo demais. No entanto, podemos ver a ordem lógica e relacional uma com a outra como causa e efeito. Assim como as outras áreas das obras da carne são quebras dos Mandamentos, essa área também não foge à regra. Ela é uma expressão clara da quebra do Quinto Mandamento, do Sexto, do Novo e do Décimo. E, mais uma vez, o Catecismo Maior de Westminster nos ajuda a entender melhor.

O Quinto Mandamento:
126. Qual é o alcance geral do quinto mandamento?
O alcance geral do quinto mandamento é o cumprimento dos deveres que mutuamente temos uns para com os outros em nossas diversas relações como inferiores, superiores ou iguais.
O Sexto Mandamento:
136. Quais são os pecados proibidos no sexto mandamento?
Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém (Ênfase acrescentada).       
O Nono Mandamento
145. Quais são os pecados proibidos no nono mandamento?
Os pecados proibidos no nono mandamento são: [..] invejar ou sentir tristeza pelo crédito merecido de alguém; esforçar-se ou desejar o prejuízo de alguém; regozijar-se na desgraça ou na infâmia de alguém; a inveja ou tristeza pelo crédito merecido de outros; prejudicar; o desprezo escarnecedor; [...] (ênfase acrescentada).
O Décimo Mandamento
148. Quais são os pecados proibidos no décimo mandamento?
Os pecados proibidos no décimo mandamento são: o descontentamento com o nosso estado; a inveja e a tristeza pelo bem de nosso próximo, juntamente com todos os desejos e afetos desordenados para com qualquer coisa que lhe pertença.

Alimentação


Em todos os pecados que lutamos contra, quantas vezes lutamos e oramos a Deus pedindo que nos converta dos pecados praticados na área da alimentação? Se ao comermos e bebermos não cometemos pecados, Paulo não nos exortaria em mostrar que bebedices e glutonarias são pecados. Se olharmos para a Santa Ceia descrita em 1º Coríntios 11 vemos que esses pecados eram praticados em meio à celebração. E é por isso que Paulo diz em 1Co 10.31 “quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”.

Essa recomendação não se aplica somente a área da alimentação, mas em todas as áreas em que os pecados são manifestos. Se todas as nossas ações, tanto na área religiosa ou da alimentação, se for feita para a glória de Deus, creio que os pecados serão evitados ou teremos pura consciência de lutarmos contra. 

Se o estilo daquele que vive em pecado são as práticas das obras da carne, o apóstolo mostra que o estilo verdadeiro e que agrada a Deus são o Fruto do Espirito, onde que, quando praticados, podemos vê-los em três áreas ou em três direcionamentos: Deus, o próximo e um testemunho público.

Deus

amor, alegria e paz podem ser entendidos como relacionadas a Deus por aquilo que toda a Escritura mostra. Nós devemos, como resultado de nossa salvação, amar a Deus sobre todas as coisas e esse amor a Deus faz com que tenhamos alegria n'Ele, mesmo quando tudo vá mau (Fp 4.10-20). E, por fim, como resultado dessa salvação trazido por Jesus Cristo, temos paz com Deus (Cl 1.20), pois Cristo sofreu em nosso lugar a condenação que era para nós. Sendo assim, como resultado visível dessa obra de salvação, o amor, a alegria e a paz deve ser mostrado em comunidade, pois ter um relacionamento em discórdia com os irmãos é abominável diante de Deus (Pv 6.16-19).

O próximo

Ao contrário de ira, Paulo mostra que devemos ser longânimos. Ao invés de ter uma explosão de ira contra aqueles que nos afrontam, devemos trata-los não somente com paz, mas com benignidade e bondade. Jerry Brides define benignidade e bondade como:
Um desejo sincero de felicidade para outros; bondade é a atividade calculada para antecipar essa felicidade[2].

Ou seja, não devemos somente nos esquivar das afrontas, mas desejar que aquele que nos afronta seja feliz e, da nossa parte prática, fazer o bem a ele.


Testemunho

E, por fim, terminando a lista do fruto, Paulo mostra que devemos dar um bom testemunho público. Parece entranho dizer isso nessa parte, sendo que, no tópico anterior tratamos dos nossos relacionamentos e alguém poderá perguntar: “Isso já não faz parte do nosso testemunho?”. Sim, faz! Mas podemos ver naquela parte, como também na primeira, como algo pessoal e, digamos, secreto. Por isso, creio eu, que essa parte seja uma expressão pública.

A palavra fidelidade pode ser traduzida por , mas também pode ser traduzida por lealdade. Baseando-se nisso podemos ver que Paulo instrui os gálatas a serem fieis, uma vez que eles foram infiéis (4.16). Mansidão e domínio próprio andam de mãos dadas e expressam a reação nossa perante as situações que nos constrangem, evitando a nossa reação com ira.

Todas essas características descritas pelo apóstolo apontam para Cristo, mostrando que aqueles que foram crucificados com Cristo, crucificaram a carne, suas paixões e concupiscência (5.24).

Portanto, a “moda” que Deus exige de nós não é andar como A ou B, parecido com aquele ou aquela. Mas é viver no Espirito e andar no Espirito (v.25).

Isto é ser verdadeiramente espiritual e viver dignamente na moda.

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Notas:
[1] HENDRIKSEN, William. Comentário do NT – Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.263
[2] BRIDGES, Jerry. A vida frutífera. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 95

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Autor: Denis Monteiro
Fonte: Bereianos


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