domingo, 9 de junho de 2013

Ensinando senso histórico à igreja

Por Carl Trueman

…e à uma discernente e sofisticada dama (de 7 anos)

Semana passada me perguntaram o porquê de alguns evangélicos se converterem à Ortodoxia Oriental ou ao Catolicismo Romano. As razões variam, estou certo disso, mas eu respondi comentando que um tema que tenho notado ao longo dos anos é o fato de que o evangelicalismo não possui raízes históricas. Isso não é dizer que não há história; é dizer que uma consciência dessa história não faz parte do pacote. Adoração rockband, pessoas belas, jovens e bem arrumadas (pessoas de meia idade um pouco infelizes de jeito nenhum) fazem parte, mas não se vê história em canto algum, a não ser em alguma referência durante o sermão a algum dos primeiros álbuns do Coldplay. Nesse sentido, consigo entender porque pessoas que procuram algo sério, algo com seriedade teológica e histórica, simplesmente desistem do evangelicalismo e começam a procurar em outro lugar. Alguns adultos querem uma fé que é similarmente adulta, afinal de contas. A pessoa que me fez essa pergunta prosseguiu e me pediu para sugerir o que as igrejas poderiam fazer para inculcar esse tipo de sensibilidade histórica. Boa pergunta. Aqui estão algumas ideias:

1. Se possível, trabalhe para assegurar que o padrão doutrinário da sua igreja é um dos credos e confissões históricos. Nós vivemos em uma era em que, seja lá qual for a retórica, o evangelicalismo tem sua agenda definida por igrejas individuais e grupos para-eclesiásticos que redigem suas próprias bases doutrinárias. Isso não é teologicamente questionável em si mesmo: muitas dessas bases são bastante ortodoxas, mesmo que bem diminutas. Mas é notavelmente um tanto quanto estranho: é difícil imaginar a indústria automobilística sendo gerenciada por grupos que continuam redesenhando a roda e afirmando que isso é uma inovação sem precedentes. E, é claro, isso não contribui em nada com o florescimento de respeito pela tradição bíblica histórica confessional e eclesiástica. Então, se houver essa opção, tente definir sua igreja em termos de algo histórico, não de um documento mais ou menos decente elaborado semana passada por um grupo de homens de sucesso em alguma sala de conferências de algum hotel.

2. Deliberadamente busque a tradição histórica da salmodia e dos hinos para adoração. Não que qualquer coisa escrita por alguém ainda vivo deve ser excluído. Longe disso. Mas tente se assegurar que as músicas da adoração refletem a abrangência cronológica da vida da igreja, do Livro de Salmos em diante. Conscientize as pessoas de que louvor e adoração não é algo que começou apenas seis meses atrás.

3. Aprenda com os padrões históricos de adoração. Há uma razão pela qual todo Domingo, na igreja onde eu prego, nós temos uma leitura bíblica seguida de uma oração de confissão seguida por um presbítero lendo palavras de perdão da Escritura. Isso dramatiza a dinâmica da salvação; e conecta o culto de Domingo da minha igreja com padrões de séculos de adoração.

4. Tempere seus sermões com referências históricas. Isso não significa que você precisa mencionar Calvino ou “o bom Doutor” com uma voz cavernosa toda vez que você expõe a Palavra. Muitas vezes esse tipo de referência serve apenas para confundir. Mas ajude as pessoas a verem como o que você está dizendo é importante e está ligado ao que a igreja tem crido ao longo de muitas eras.

5. Faça a congregação recitar um credo ou parte de uma confissão histórica durante o culto. Não necessariamente todo Domingo, mas com alguma regularidade. E explique o poder ecumênico e histórico disso: ao fazê-lo, você está se identificando publicamente com cristãos de todo o mundo e de todas as épocas.

6. Distribua livros gratuitamente como parte de seu ministério e certifique-se de incluir livros sobre história da igreja. Além disso, assegure-se que essa distribuição abrange tanto as crianças quanto os adultos. Na igreja que pastoreio, fazemos uma para os adultos e uma para as crianças todo mês. É bom começar enquanto eles são novos e introduzi-los à história da igreja. E há alguns excelentes livros de autores de livros infantis contemporâneos que escrevem sobre história da igreja: por exemplo, Simonetta Carr, Irene Howat e Linda Finlayson.

Apenas como um adendo, minha experiência indica que algumas crianças adoram esse tipo de coisa. Semana passada, durante o café após o culto da manhã, uma dama (de 7 anos de idade) de minha igreja se aproximou para me lembrar (com o que eu detectei se um certo tom gentil – e apropriado – de exortação em sua voz) que era hora de dar mais alguns livros de história para as crianças e que eu deveria lembrar que “meninas gostam de ler histórias sobre meninas e meninos gostam de histórias sobre meninos”. Assim, ontem eu dei dois livros de Simonetta sobre Joana Grey e dois sobreAgostinho.

Tudo que as crianças precisam fazer por mim é fazer um desenho de algum acontecimento do livro, para que eu possa pendurar sobre a minha mesa, no escritório da igreja. Significa muito para eles, pelo que tenho visto. Mais importante, eles começam a pensar historicamente mesmo antes de entenderem que o estão fazendo. Precisamos começar a pensar agora sobre como preparar as coisas para a próxima geração, e não simplesmente teologicamente, mas historicamente também.

Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com | Original aqui
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