Avançamos para o Capítulo 2 da Carta aos Efésios. Se o Capítulo 1 nos revelou o Plano Eterno de Hashem para a redenção, o Capítulo 2 nos mostra a Execução desse plano, transformando o nosso estado de morte espiritual em vida e unindo dois povos em um só corpo no Messias.
Efésios 2: Da Morte à Unidade no Messias
Versículos 1-10: Da Morte Espiritual à Vida pela Graça (Chesed)
Efésios 2:1: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,”
Analisando: O apóstolo Paulo (Sha'ul) começa contrastando drasticamente a condição anterior dos crentes (em sua maioria gentios, mas o princípio se aplica a todos) com a nova realidade. O estado anterior não era de apenas estar "doente" ou "fraco", mas sim de estar “mortos” (metos). Esta morte é espiritual, causada pelas “ofensas” (paraptōma - desvio, queda, transgressão) e “pecados” (hamartia - errar o alvo, falhar em cumprir a vontade de D’us).
Conexão (Torá): Este versículo ecoa Gênesis 2:17, onde a desobediência a Hashem resulta em morte (Môt tāmût - "certamente morrerás"). A morte espiritual é a separação de D’us causada pela quebra da Sua Torá.
"A maior tragédia humana não é a morte do corpo, mas a morte da alma. Antes de Yeshua, você estava 'morto', e um morto não precisa de muletas, precisa de ressurreição!"
Efésios 2:2: “em que noutro tempo andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência;”
Analisando: Esta "caminhada" na morte tinha três influências:
* O Curso deste Mundo: O sistema de valores e a mentalidade (Olam Hazé) que se opõe a Hashem.
* O Príncipe das Potestades do Ar: A influência demoníaca (ha-Satan e seus emissários) que comanda o ambiente espiritual caído.
* Filhos da Desobediência: Aqueles cuja natureza é marcada pela rebeldia contra a vontade de D'us, sob a operação desse espírito.
Efésios 2:3: “entre os quais todos nós também, antes, andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.”
Analisando: Paulo inclui todos (nós também), ou seja, ele inclui os crentes judeus, mostrando que a morte espiritual não fazia distinção de etnia. Todos seguiam os desejos da carne (yetzer hará - a má inclinação, o instinto egoísta) e, por causa disso, eram “filhos da ira”. Isto não é a ira de um temperamento humano, mas o justo julgamento de D'us (Hilel enfatizava a necessidade de santidade para evitar o juízo, um princípio central na Torá Rashi, que sublinha as consequências da desobediência).
Efésios 2:4: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,”
Analisando: O contraste dramático é introduzido pelo “Mas Deus”. A nossa condição era de morte, mas a Sua natureza é de "riquíssimo em misericórdia" (rachamim - compaixão profunda, como a de um pai por seu filho) e "muito amor" (Ahavá). A salvação não vem de nós, mas da essência de D'us.
"O amor de Deus não é uma resposta à sua bondade; é a causa da sua salvação. Deus não te amou porque você era bom, mas porque Ele é bom!"
Efésios 2:5: “estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),”
Analisando: A vivificação (dar vida) ocorreu “juntamente com o Messias”. A nossa união com Yeshua é tão profunda que a Sua ressurreição é a nossa ressurreição. A vida Dele é a nossa vida. Paulo insere aqui a famosa e crucial cláusula: “pela graça sois salvos”. A salvação é o resultado do Chesed (bondade imerecida) de D'us.
Efésios 2:6: “e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;”
Analisando: Assim como vimos no Cap. 1:3, nossa união com o Messias nos deu uma nova posição. Não apenas fomos vivificados (v. 5), mas ressuscitados e assentados (Kathizō - uma ação concluída) nos “lugares celestiais”. Isso significa que, embora fisicamente na terra, nossa identidade, posição legal e autoridade espiritual estão com Yeshua acima de todo poder.
Efésios 2:7: “para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.”
Analisando: O propósito dessa vivificação e exaltação é didático e eterno: D'us usará nossas vidas para demonstrar, em todas as eras futuras (Olam Habá), a “abundante riqueza” e o esplendor da Sua graça e benignidade. A nossa salvação é uma eterna exposição da Chesed de Hashem.
Efésios 2:8: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus.”
Analisando: Repetindo para dar a ênfase máxima: “pela graça sois salvos”. O meio para receber a graça é a “fé” (Emuná - confiança, fidelidade). O ponto crucial é que a salvação, desde a sua fonte (graça) até o seu meio (fé), “não vem de vós, é dom de Deus”. Não há mérito humano na redenção.
(Frase adaptada de Billy Graham): "A fé não é o que você faz para ser salvo; é o que você aceita porque já foi salvo. Salvação é um dom, não uma conquista, e o preço foi pago integralmente pelo Messias."
Efésios 2:9: “Não vem das obras, para que ninguém se glorie;”
Analisando: A salvação é categoricamente separada das “obras” (mitzvot - comandos/ações). Se a salvação fosse por esforço, haveria espaço para gloria (kavod - vanglória, orgulho) humana. A redenção é sola gratia (somente pela graça) para que Hashem receba todo o louvor.
Efésios 2:10: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.”
Analisando: Embora não sejamos salvos pelas obras (v. 9), somos salvos para as obras. Somos a “feitura Sua” (Poiēma - obra-prima, poema), uma nova criação (B'ri'ah Chadashah). As boas obras são o resultado natural, a evidência da nova vida, e não a sua causa. D'us antes preparou nosso caminho, demonstrando novamente Sua soberania e plano eterno.
Aplicando na vida: Se você é uma obra-prima de D'us, sua vida deve expressar a arte do Criador através de uma conduta santa e amorosa.
Versículos 11-22: Da Separação à Unidade (Echad)
Efésios 2:11-12: “Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne e chamados incircuncisão pelos que, na carne, se chamam circuncisão por mão de homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo.”
Analisando: Paulo lembra os crentes gentios de sua condição anterior:
* Gentios na carne (Incircuncisos): Distinção física e cultural.
* Sem Cristo (Yeshua): Sem o Messias.
* Separados da Comunidade de Israel: Fora da Kehilá (Assembleia), o povo eleito da Aliança.
* Estranhos aos Concertos da Promessa: Sem acesso às B’rit (Alianças) feitas por Hashem com Avraham, Moshé, e David.
* Sem Esperança e sem Deus no Mundo: Uma vida sem Emuná e sem o Elohim (Deus) verdadeiro.
Conexão (Torá): A circuncisão (Brit Milá) era o sinal da Aliança Abraâmica (Gênesis 17:10). Estar incircunciso significava estar fora da Aliança, separado de Israel, o portador das promessas.
Efésios 2:13: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.”
Analisando: O segundo “Mas, agora” transforma a realidade. Os gentios, que estavam “longe” (em termos espirituais, fora do Povo da Aliança), foram trazidos para “perto”. O meio é, novamente, o “sangue de Cristo”, o preço do Kapará (expiação).
Efésios 2:14: “Porque ele é a nossa paz; o qual de ambos os povos fez um, e, derrubando a parede de separação que estava no meio,”
Analisando: O Messias (Yeshua) é o nosso “Shalom” (Paz). Ele não apenas nos deu a paz com Hashem, mas a paz entre “ambos os povos” (judeus e gentios crentes). A “parede de separação” (sye - literalmente uma cerca) refere-se à barreira legal e cultural, talvez uma alusão à barreira física no Templo de Jerusalém que proibia gentios de avançarem sob pena de morte.
Efésios 2:15: “abolindo, na sua carne, a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz,”
Analisando: O que foi abolido? A “inimizade”, que era baseada nas “ordenanças” (decretos, os aspectos da Torá mal interpretados ou usados para gerar separação e orgulho, e não santidade). O Messias não aboliu a Torá em seu sentido moral e eterno, mas o uso da Lei como barreira divisória ou como caminho para a justificação. O resultado é a criação de “um novo homem” (Adam Chadash), não um novo gentio e nem um novo judeu, mas uma nova humanidade unida no Messias.
Efésios 2:16: “e reconciliar ambos com Deus em um corpo, por meio da cruz, aniquilando por ela a inimizade.”
Analisando: O propósito da cruz foi reconciliar (katallassō - mudar a relação de inimizade para amizade) judeus e gentios “em um corpo” (a Kehilá) e, principalmente, nos reconciliar “com Deus”.
Efésios 2:17-18: “E, vindo, evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.”
Analisando: Yeshua trouxe a mensagem de Shalom tanto aos “que estavam longe” (gentios) quanto aos “que estavam perto” (judeus). Agora, ambos os grupos têm “acesso ao Pai” (o que, no judaísmo, era privilégio do Sumo Sacerdote no Yom Kippur), e este acesso é mediado por “um mesmo Espírito” (Ruach HaKodesh).
Efésios 2:19: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus;”
Analisando: O crente gentio (e todo crente) não é mais um ger (estrangeiro) ou um toshav (forasteiro), mas um “concidadão” (synpolitēs - cidadão junto) dos santos (o povo da aliança) e “membro da família de Deus”.
Efésios 2:20: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;”
Analisando: A Kehilá é um edifício, um Templo Espiritual. Seu fundamento é o ensino dos apóstolos (mensageiros) e profetas (porta-vozes), cuja autoridade é universalmente reconhecida. A “principal pedra da esquina” (Rosh Piná) é Yeshua HaMashiach, a pedra angular que une as duas paredes (judeus e gentios) e sustenta toda a estrutura.
Efésios 2:21: “no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor,”
Analisando: O edifício está em crescimento. A Kehilá se torna um “Templo Santo” (Mikdash Kadosh), o lugar de habitação da Presença de Hashem na Terra.
Efésios 2:22: “no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito.”
Analisando: A consumação do plano: o povo de D'us, unido no Messias, torna-se a “morada de Deus” (Mishkan - tabernáculo, habitação) pelo Ruach HaKodesh. D’us não habita mais em um templo de pedras, mas no Seu Povo.
"Você é um tijolo vivo em uma sinagoga espiritual. A Glória de Deus não está em um prédio; está em você, por meio do Messias Yeshua!"
Concluindo:
O Capítulo 2 de Efésios tem duas seções inseparáveis:
* Sua Salvação é Chesed (Graça): Da morte para a vida (v. 1-10).
* Sua Posição é Echad (Unidade): Da separação para a comunhão (v. 11-22).
Aplicação Prática:
Se Hashem nos tirou da morte pelo Seu imerecido amor, e nos uniu a Ele e aos nossos irmãos (judeus e gentios) no Messias, a principal mitzvá (mandamento) que se segue é viver em amor e unidade, reconhecendo o valor que cada "tijolo" tem no Templo de Hashem.
Baruch HaMashiach (Bendito o Messias).
Nenhum comentário:
Postar um comentário