Sermão pregado Domingo, 8 de setembro de 1861
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.
“E, Naquele mesmo tempo, estavam
presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos
misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes:
Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os
galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não
vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito,
sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais
culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos
digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”
Lucas 13:1-5
O ano de 1861 será notório entre seus
companheiros por ser um ano marcado por calamidades. Justo na época
quando o homem sai a receber o fruto de seus labores, quando a colheita
da terra está madura, e os celeiros começam a encher-se, cheios de trigo
novo, a Morte também, essa poderosa segadora, saiu para cortar sua
própria colheita – feixes completos foram recolhidos em seu celeiro: a
tumba. Terríveis foram os lamentos que formam o hino de colheita da
morte.
Ao ler os jornais essas ultimas semanas,
ainda as pessoas mais impassíveis experimentaram sentimentos muito
dolorosos. Não só ocorreram calamidades tão alarmantes que só de lembrar
gelam o sangue, mas também as colunas dos periódicos foram dedicadas a
certas calamidades de um menor nível de horror, mas que, somadas todas,
são suficientes para encher a mente de terror, pela tremenda quantidade
de mortes inesperadas que recentemente corresponderam aos filhos dos
homens.
Não somente temos tido acidentes a cada
dia da semana, mas sim até dois ou três – não fomos simplesmente
aturdidos pelo alarmante ruído de um terrível estrondo, mas antes com
outro, outro, outro e outro, que seguiram suas pisadas, como os amigos
de Jó, até que tenhamos tido necessidade da paciência e da resignação de
Jó para escutar a terrível narrativa dessas calamidades. Agora, homens e
irmãos, coisas como essas ocorreram sempre em todas as épocas do mundo.
Não pensem que isso é algo novo – não considerem, como alguns fazem,
que isso é o produto de uma civilização excessiva, ou o resultado dessa
descoberta moderna tão maravilhosa como é o vapor. Se jamais se tivesse
conhecido a máquina a vapor, e se nunca se tivesse construído uma
ferroviária, de todas as formas teriam ocorrido mortes inesperadas e
acidentes terríveis.
Ao revisar os velhos arquivos nos quais
nossos antepassados registraram os acidentes e as calamidades,
encontramos que a antiga diligência ofereceu à morte uma presa tão
custosa como o trem que roda ferozmente o faz; tinham então tantas
portas para o Hades como as que existem hoje – caminhos tão empinados e
íngremes que conduziam para a morte, que eram transitados por uma
multidão tão vasta como em nossa época; Por acaso duvidam disso?
Peço-lhes que nos dirijamos ao capítulo
treze de Lucas. Lembrem-se desses dezoito sobre os quais a torre de
Siloé caiu. Que tal se nenhuma colisão os tivesse esmagado?[1] Ou que se
não tivessem sido destruídos pelo ingovernável cavalo de ferro que os
arrastou a água desde um aterro?[2] No entanto, alguma torre mal
construída, ou alguma parede golpeada pela tempestade poderia ter caído
sobre dezoito de uma vez, e teriam perecido.
Ou pior que isso, um governante déspota,
levando as vidas dos homens penduradas em seu cinto como se fossem as
chaves de seu palácio, poderia ter caído subitamente sobre os que
estavam adorando no próprio templo, e poderia ter misturado o sangue
deles com o sangue dos bezerros que nesse momento estavam sendo
sacrificados ao Deus do céu. Não pensem, então, que essa é uma época na
que Deus está tratando mais duramente com nós do que antes. Não pensem
que a providência de Deus se tem voltado mais dura do que antes: sempre
ocorreram mortes inesperadas, e sempre as haverá – sempre tem ocorrido
estações nas que os lobos da morte tem caçado em manadas famintas, e
provavelmente, até o fim dessa dispensação, o último inimigo terá seu
festival periódico e satisfará aos vermes com carne humana.
Portanto, não estejam abatidos pelas
mortes inesperadas, nem tampouco estejam perturbados com essas
calamidades. Continuem com suas atividades normais, e se seus chamados
os levam a cruzar o campo da própria morte, o façam, e façam
corajosamente. Deus não soltou as rédeas do mundo, não tirou Sua mão do
timão do grande barco, todavia:
“Ele em todas as partes possui império,
e todas as coisas servem a seu propósito;
Cada ato seu é pura benção,
Seu caminho é luz sem mancha.”
Só aprendam a confiar Nele, e não terão
nenhum temor à morte inesperada; “A sua alma pousará no bem, e a sua
semente herdará a terra.” (Salmo 25:13)
O tema particular dessa manhã, no
entanto, é esse: o uso que devemos encontrar para esses terríveis textos
que Deus está escrevendo com letras maiúsculas na história do mundo.
Deus falou uma vez, sim, duas vezes – que não se diga que o homem não
prestou atenção. Temos visto um vislumbre do poder de Deus, contemplamos
alguma coisa da rapidez com a que Ele pode destruir nossos concidadãos.
“Presta atenção ao castigo e a quem o estabelece;” e ao prestar
atenção, façamos duas coisas.
Primeiro, não sejamos tão insensatos
para tirar a conclusão a que chegam as pessoas supersticiosas e
ignorantes; essa conclusão que está sugerida no texto, quer dizer, que
os que são destruídos por meio de acidentes, são pecadores que estão
acima de todos os pecadores que habitam o lugar. E, em segundo lugar,
cheguemos à conclusão apropriada e correta; façamos um uso prático de
todos esses eventos para nossa própria melhoria pessoal: escutemos a voz
do Salvador que diz: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo
perecereis.”
I. Primeiro, então, TENHAMOS MUITO
CUIDADO DE NÃO CONCLUIR APRESSADAMENTE E IRREFLETIDAMENTE SOBRE ESSES
TERRIVEIS ACIDENTES: QUE OS QUE OS SOFREM, OS SOFREM POR CULPA DE SEUS
PECADOS.
É dito de maneira mais absurda que os
que viajam no primeiro dia da semana, e sofrem um acidente, devem
considerar esse acidente como um juízo de Deus sobre eles, devido a
estarem violando o dia de adoração cristão. Tem se dito, ainda por parte
de ministros piedosos, que essa ultima colisão deplorável dos trens
deve-se considerar uma notável visitação e sumariamente maravilhosa da
ira de Deus contra esses infelizes que por casualidade encontravam-se no
túnel Clayton.
Porem, eu apresento meu protesto mais
enérgico contra uma conclusão assim, não só em meu nome, mas também em
nome Daquele que é o Senhor do cristão e Mestre do cristão. Eu pergunto
acerca dessas pessoas que foram esmagadas nesse túnel, pensam vocês que
eles era maiores pecadores do que todos os pecadores? “Não, se não vos
arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”, ou os que morreram na
segunda feira passada, pesam vocês que eles eram maiores pecadores que
todos os pecadores que estavam em Londres?[3] “Se não vos arrependerdes,
todos de igual modo perecereis.”
Agora, fixem-se bem, eu não negaria que
existiram ocasiões em que houve juízos de Deus sobre pessoas
particulares devido a seu pecado; algumas vezes, e eu penso que muito
raramente, tais coisas ocorreram. Alguns de nós ouvimos, em nossa
própria experiência, que certos homens blasfemam a Deus e o desafiaram a
que os destruísse, e morreram repentinamente – e em tais casos, o
castigo seguiu tão rapidamente á blasfêmia que era impossível não ver a
mão de Deus nisso. O homem havia perdido perversamente o juízo de Deus, e
sua oração foi ouvida, e veio o juízo.
E alem de toda dúvida, existe o que se
pode descobrir como juízos naturais. Vocês vêm a um homem vestindo
farrapos, pobre, sem casa – foi um libertino, um bêbado, perdeu seu
caráter, e não é senão o justo juízo de Deus sobre esse homem que esteja
morrendo de fome, e que seja um proscrito dos homens. Vocês podem ver
nos hospitais a repugnantes exemplares de homens e mulheres que estão
terrivelmente enfermos – Deus não queira que em tais casos, nós neguemos
que existe um juízo de Deus sobre essas concupiscências ímpias e
licenciosas.
E o mesmo pode se disser de muitos casos
onde existe um vínculo tão claro entre o pecado e o castigo que até os
homens mais cegos podem discernir que Deus converteu a Miséria na filha
do Pecado. Porem, em casos de acidente, tal como esse a que me refiro, e
em casos de morte repentina e instantânea, repito, eu apresento meu
mais sincero protesto contra essa insensata e ridícula ideia que os que
perecem assim, são mais pecadores que todos os pecadores que sobrevivem
sem sofrer dano algum.
Simplesmente permitam-me raciocinar esse
assunto com o povo cristão – pois há alguns cristãos sem maior
iluminação que se sentirão horrorizados pelo que eu disse. E, os que
tendem a ser perversos podem sonhar inclusive que eu estou fazendo uma
apologia para o quebrantamento do dia de adoração. Porem, eu não faço
tal coisa. Eu não diminuo a gravidade do pecado; eu só testifico e
declaro que os acidentes não devem ser vistos como castigos, pois o
castigo não pertence a esse mundo, mas sim ao futuro. A todos aqueles
que se apressam em considerar cada calamidade como um juízo, eu quero
lhes falar na esperança sincera de corrigir-lhes.
Então, permitam-me começar perguntando,
meus amados irmãos, por acaso não enxergam que o que dizem não é certo? E
essa é a melhor das razões do porque não devem dizê-lo. Suas próprias
experiências e observações não lhes ensinam que um evento ocorre tanto
ao justo como ao malvado? É certo que o homem malvado às vezes cai morto
na rua – mas o ministro também não caiu também morto no púlpito, por
acaso? É certo que um iate de prazer, no qual os homens buscavam sua
própria felicidade em um dia de domingo, afundou precipitadamente – mas
por acaso não é igualmente certo que um barco que levava somente homens
piedosos, cujo destino era um giro para pregar o Evangelho, não afundou
também?
A providência de Deus não tem respeito
as pessoas: e uma tormenta pode abater-se sobre o barco missionário
“John Williams” [4], da mesma forma que pode abater-se sobre outro iate
repleto de pecadores desenfreados. Que! Acaso não percebem que a
providência de Deus foi de fato, e seus tratos externos, mais dura com
os bons do que com os maus? Paulo não disse ao contemplar as misérias
dos justos em seus dias: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os
mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)
O caminho da justiça frequentemente
conduziu aos homens ao cavalo selvagem do tormento, da prisão, do
patíbulo e à fogueira – enquanto que o caminho do pecado, muitas vezes
os levou ao império, ao domingo e à alta estima de seus companheiros.
Não é certo que nesse mundo Deus castigue aos homens por seu pecado, e
os premie por suas boas obras. Não disse Davi: “Vi o ímpio com grande
poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal? (Salmos 37:35)” E,
isso deixava o Salmista perplexo durante um tempo, até que foi ao
santuário de Deus, e enfim então entendeu o fim deles?
Ainda que sua fé lhe assegure que o
resultado final da providência trabalhará unicamente o bem para o povo
de Deus, no entanto, sua vida, ainda que seja somente uma breve parte do
drama divino da história, deve ter-lhe ensinado que a providência não
discrimina externamente entre o justo e o ímpio – que o justo perece
inesperadamente igual que o ímpio – que a peste não conhece diferenças
entre o pecador e o santo – e que a mesma espada da guerra é impiedosa
com os filhos de Deus da mesma maneira que é com os filhos de Belial.
Quando Deus envia o flagelo, esse mata
inesperadamente ao inocente da mesma forma que ao perverso e ao
insolente. Agora, meus irmãos, se a ideia de vocês de uma providência
que castiga e que premia não é certa, por que falam como se fosse? E,
por que, se não é correta como regra geral, vocês supõem que seja
verdadeira nessa instância particular? Demovam essa ideia de suas
cabeças, pois o Evangelho de Deus jamais requer que vocês creriam em
algo que não é certo.
Porem, em segundo lugar, existe outra
razão. A ideia de que, sempre que ocorre um acidente, devemos
considerá-lo como um juízo de Deus, faria que a providência fosse, em
vez de um grande abismo, uma poça d’água bem rasa. Pois, qualquer
criança pode entender a providência de Deus, se é certo que quando há um
acidente ferroviário, é porque as pessoas viajavam em um domingo. Eu
posso escolher qualquer menininho da classe mais elementar da escola
dominical, e ele me dirá: “sim, eu vejo isso.” Mas então, se a
providência é uma coisa assim, se é uma providência que pode ser
compreendida, evidentemente não é a ideia de providência da Escritura,
pois na Escritura nos é sempre ensinado que a providência de Deus é “um
grande abismo”, e mesmo Ezequiel, que possuía a asa do querubim e podia
voar muito alto, quando viu as rodas que eram o grande quadro da
providência de Deus, só podia dizer que os aros das rodas eram tão altos
que eram espantosos, e cheios de olhos, de tal forma que lhes era
gritado, “roda!”
Repito isso para que fique muito claro:
se em todos os casos uma calamidade fosse o resultado de algum pecado,
então a providência seria algo tão simples como que dois mais dois são
quatro – seria uma das primeiras lições que uma criancinha poderia
aprender. Porem, as Escrituras nos ensinam que a providência é um grande
abismo no qual o intelecto humano pode nadar e mergulhar, mas não pode
encontrar nem o fundo nem a orla; e se você e eu pretendemos poder
encontrar as razões da providência, e torcer as dispensações de Deus com
nossos dedos, só demonstramos nossa insensatez, porem não estamos
evidenciando que temos começado a entender os caminhos de Deus.
Pois, olhem, senhores – suponham por um
momento que está acontecendo uma grandiosa representação de uma obra
teatral, e que vocês se intrometem na obra e vêm a um ator no cenário
por um instante, e dizem: “Sim, eu entendo a obra”, que tontos seriam!
Acaso não sabem que as grandes transações da providência começaram
aproximadamente uns seis mil anos? E vocês vieram a esse mundo faz uns
trinta, quarenta anos, e tem visto um ator em cena, e vocês dizem que já
entendem a obra. Oras! Não a entendem – apenas começaram a conhecer.
Unicamente Ele conhece o fim desde o principio, somente Ele entende
quais são os grandes resultados, e qual é a grandiosa razão pela que o
mundo foi feito, e pela qual Ele permite que ocorra tanto o bem como o
mal. Não pensem que vocês conhecem os caminhos de Deus; equivale a
degradar a providência, e baixar Deus ao nível dos homens, quando
pretendem poder entender essas calamidades e descobrir os desígnios
secretos da sabedoria.
Porem, continuando, não percebem que uma
ideia assim alentaria ao farisaísmo? Essas pessoas que morreram
esmagadas, ou queimadas até as cinzas, ou destruídas debaixo das rodas
dos vagões do trem, eram piores pecadores que nós. Muito bem, então nós
devemos ser umas excelentes pessoas – que excelentes exemplos de
virtude! Não fazemos as coisas que eles fazem, e, portanto Deus nos
facilita todas as coisas. Na medida em que viajamos, alguns de nós a
cada dia da semana, e jamais fomos despedaçados, sobre essa suposição,
podemos nos catalogar como os favoritos da Deidade.
Então, não enxergam irmãos, que nossa
segurança seria um argumento para nos fazer cristãos? Que tenhamos
viajado em um trem com segurança seria um argumento de que somos
regenerados, porem eu jamais li nas Escrituras, “Nós sabemos que
passamos da morte para a vida, por que viajamos de Londres a Brigton sem
nenhum problema duas vezes ao dia.” Jamais encontrei nenhum versículo
que se pareça com isso – e, no entanto, se fosse certo que os piores
pecadores sofrem os acidentes, se derivaria como um contraponto natural a
essa proposição que os que não sofrem acidentes devem ser pessoas muito
boas, e que noções farisaicas geramos e nutrimos dessa maneira.
Porem, eu não posso tolerar essa
insensatez nem por um instante.
Quando contemplo por um momento os
pobres corpos mutilados dos que foram sacrificados tão inesperadamente,
meus olhos se enchem de lágrimas, mas meu coração não se vangloria, nem
meus lábios acusam – longe de mim tal expressão cheia de orgulho: “Deus,
lhe dou graças porque não sou como os outros homens.” Não, não, não,
esse não é o espírito de Cristo, nem o espírito do cristianismo. Ainda
que possamos agradecer a Deus porque somos preservados, no entanto,
podemos dizer: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos
consumidos” (Lamentações 3:22), e devemos atribuir tal fato a Sua graça e
unicamente a Sua graça. Porem, não podemos crer que havia algo melhor
em nós, porque fomos preservados vivos estando a morte tão perto.
É
somente porque Ele teve misericórdia, sendo muito paciente para conosco,
não querendo que pereçamos, mas sim que nos arrependamos, que nos
preservou dessa maneira para que não desçamos á tumba, e nos manteve a
vida preservando-nos da morte.
Logo, permitam-me comentar que a
suposição contra a qual estou contendendo é muito cruel e dura. Pois se
esse fosse o caso, que todas as pessoas que assim se encontram com a
morte de uma maneira extraordinária e terrível são maiores pecadoras que
as demais, isso não seria um duro golpe para os afligidos
sobreviventes? E não é pouco generoso de nossa parte consentir nessa
ideia, a menos que sejamos forçados a aceitá-la como uma terrível
verdade, por razões que não podem ser respondidas?
Agora, eu os desafio a sussurrar ao
ouvido da viúva. Vão a sua casa e digam-lhe: “seu esposo era pior
pecador que o resto dos homens, por isso morreu.” Não possuem a
suficiente brutalidade para isso. Um pequeno bebê inconsciente, que
jamais havia pecado, ainda que, sem dúvida, um herdeiro da queda de
Adão, é encontrado esmagado em meio dos escombros do acidente. Agora,
pensem por um momento, qual seria a infame consequência da suposição que
os que pereceram era piores que os outros. Teriam que supor que essa
inconsciente criança era pior pecadora que muitos que habitam as
guaridas da infâmia e cujas vidas são ainda respeitadas. Não percebem
que a coisa é radicalmente falsa? E talvez eu pudesse mostra-lhes melhor
a injustiça disso, lembrando-lhes que um dia poderia suceder com vocês.
Suponham que lhes toque encontrarem-se
com uma inesperada morte desse tipo, estão anuentes a que se lhes
corresponda a condenação sobre essa base? Um incidente assim pode
ocorrer na casa de Deus. Permitam-me recordar o que ocorreu uma vez em
que estávamos congregados – posso afirmar de coração puro que não nos
reunimos com nenhum outro objetivo se não o de servir a Deus, e esse
ministro não tinha nenhuma meta ao ir a esse lugar, exceto o de
congregar a muitos que de outra maneira não teriam tido a oportunidade
de escutar sua voz. E, no entanto houve funerais como resultado desse
esforço santo (pois ainda declaramos que foi um esforço santo, e a
benção de Deus o demonstrou). Houve mortes e mortes entre o povo de Deus
– estive a ponto de dizer que estou contente que foi entre o povo de
Deus mais que em noutros povos. Um tremendo terror apoderou-se da
congregação, e o povo fugiu, e não enxergam que se os acidentes devem
ser considerados como juízos, então é uma sã conclusão que nós estávamos
pecando ao estar lá. Essa é uma insinuação que nossas consciências
categoricamente repudiam.[5]
No entanto, se essa lógica fosse
verdadeira, é tão certa contra nós como o é contra outros, e na medida
em que vocês repeliriam com indignação a acusação que alguns foram
feridos ou golpeados devido ao pecado, estando ali no Music Hall para
adorar a Deus, o que rejeitam para vocês o rejeitem para outros, e não
querem ser parte da acusação que é apresentada em contra os que foram
destruídos durante as ultimas duas semanas, que pereceram por causa de
qualquer grande pecado.
Aqui antecipo o clamor de pessoas
prudentes e zelosas que temem pela arca de Deus, e a querem tocar com a
mão e Uzá. “Bem,” dirá algum, “porem, nós não devemos falar assim, pois é
uma superstição muito útil, pois haveria muitas pessoas que já não
viajariam aos domingos devido ao acidente, e, portanto, devemos
dizer-lhes, que os que pereceram, pereceram devido a que viajaram no
domingo.”
Irmãos, eu não diria uma mentira para
salvar uma alma, e isso seria dizer mentiras, pois não é verdade. Eu
faria qualquer coisa para interromper o trabalho aos domingos e o
pecado, mas não forjaria uma falsidade, ainda mesmo para conseguir isso.
Essas pessoas poderiam ter falecido na segunda-feira igual como no
domingo. Deus não dá uma imunidade especial a algum dia da semana, e os
acidentes podem ocorrer em qualquer momento, e é somente uma fraude
piedosa quando buscamos jogar assim com a superstição dos homens por
causa de Cristo.
O sacerdote da Igreja Católica pode
consistentemente usar um argumento assim, porem, um cristão honesto que
crê que a religião de Cristo pode cuidar-se a si mesma sem necessidade
de falar falsidades, desdenha fazer isso. Esses homens não pereceram
porque viajaram num domingo. Que sirva de testemunha o fato de que
outros pereceram em uma segunda-feira quando andavam, em missão de
misericórdia.
Eu não sei por que razão ou por que
motivo Deus enviou o acidente. Deus não queira que ofereçamos nossas
próprias razões quando Ele não deu Sua razão, mas não nos é permitido
converter a superstição dos homens em um instrumento para avançar a
glória de Deus. Vocês sabem que entre os protestantes existem muitos
fanatismos papais. Conheço pessoas que aprovam o batismo infantil
argumentando: “Bem, não faz dano nenhum, e existem muitas boas intenções
nele, e pode fazer muito bem, e ainda a confirmação pode resultar de
benção para algumas pessoas, portanto não falemos contra isso.”
A mim não corresponde se esse tema faz
dano ou não, tudo o que me importa é se é correto, se é Escriturístico,
se é verdadeiro, e se a verdade é prejudicada, que é uma suposição que
não podemos aceitar de nenhuma maneira, esse prejuízo não estará em
nossa porta. Não temos outro dever que dizer a verdade, ainda que os
céus caiam. Repito, qualquer avanço do Evangelho que se deva à
superstição dos homens, é um avanço falso, e logo se voltará contra as
pessoas que usam dessa arma não consagrada.
Nos possuímos uma religião que apela ao
juízo do homem e ao sentido comum, e quando não podemos avançar com
isso, eu não aceito que devamos prosseguir utilizando outros métodos - e
irmãos, se existe alguma pessoa que queira endurecer seu coração e
dizer: “pois bem, eu estou tão certo em um dia como em qualquer outro
dia,” o que é muito certo, eu devo responder-lhe: “o pecado de que faça
tal uso como o que faz de uma verdade deve jazer a sua porta, não na
minha – porem, se eu pudesse evitar que viole o dia do descanso cristão,
colocando-lhe frente a uma supersticiosa hipótese, não o faria, pois
parece-me que ainda que o consiga manter afastado desse pecado por um
pouco de tempo, muito pronto se converteria demasiado inteligente parta
ser enganado por mim, e logo me chegaria a considerar como um sacerdote
que julgou seus temores em vez de apelar a seu juízo.”
Oh, já é tempo que saibamos que nosso
cristianismo não é uma coisa débil e temerosa, que apela aos pequenos
temores supersticiosos de mentes ignorantes. É a algo valente, que ama a
luz, e que não precisa de fraudes santas para sua defesa. Sim, crítico!
Foca sua lanterna até nós, e que brilhe em nossos próprios olhos; nós
não temos medo, a verdade é poderosa e pode prevalecer, e se não pode
prevalecer à luz do dia, e não temos nenhum desejo de que o sol se ponha
para dar a verdade uma oportunidade.
Eu creio que brotou muita infidelidade
do desejo muito natural de alguns cristãos de aproveitar-se de erros
comuns. “Oh”, disseram, “esse erro popular é muito bom, mantém o povo na
posição correta – vamos o perpetuar esse erro, pois evidentemente faz
muito bem.” E logo, quando o erro foi descoberto, os infiéis disseram:
“Oh, agora vejam que esses cristãos foram descobertos em seus
estratagemas.” Não tenhamos nenhum truque, irmãos – não falemos aos
homens como se fossem crianças que podem ser amendrotados por histórias
de fantasmas e de bruxas. O fato é que esse não é o tempo de
retribuição, e é pior que inútil que nós ensinemos que o é.
E agora, por último (e já irei passar a
outro ponto), por acaso vocês não percebem que essa suposição, que não é
cristã nem Escriturística, que quando os homens se encontram
inesperadamente com a morte, é resultado do pecado, rouba ao cristão um
de seus argumentos mais nobres para a imortalidade da alma? Irmãos, nós
afirmamos diariamente, com a Escritura como nossa garantia, que Deus é
justo, e na medida em que Ele é justo, deve castigar o pecado, e premiar
ao justo. Manifestamente Ele não o faz nesse mundo, e um mesmo evento
ocorre a ambos: o homem justo é pobre igual que o mal, e morre
repentinamente igual que o maior répobro. Muito bem, a conclusão é
natural e clara, que deve existir um mundo contínuo no que essas coisas
serão endireitadas.
Se há um Deus, Ele deve ser justo – e se
Ele é justo, Ele deve castigar o pecado – e já que não o faz nesse
mundo, deve existir outro estado em que os homens receberão a recompensa
de suas obras – e os que semearem para a carne, da carne colherão
corrupção, enquanto os que semearem para o Espírito, do Espírito
colherão vida eterna. Se fizerem desse mundo o lugar de colher, lhe
terão tirado o aguilhão ao pecado.
“Oh,” diz o pecador, “se as aflições que
o homem suporta aqui é todo o castigo que terão, vamos pecar com
voracidade.” Você responde-lhes, “não - esse não é o mundo do castigo,
mas sim o mundo de prova – não é a corte da justiça, mas sim a terra de
misericórdia; não é a prisão de terror, mas a casa de paciência;” e lhes
terá aberto diante de seus olhos as portas do futuro; ter´s posto o
trono do juízo diante de seus olhos; recordou-lhes: “Vinde, benditos,” e
“Apartai-vos de mim, malditos;” assim, possui um fundamento mais a
razoável e consequentemente mais Bíblico para apelar às suas
consciências e corações.
Falei com a intenção de sufocar, na
medida do possível, a ideia que está muito propagada entre os ímpios,
que nós como cristãos sustentamos que cada calamidade é um juízo. Não é
assim; nós não pensamos que aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre
de Siloé eram mais culpados que todos os homens que habitavam em
Jerusalém.
II. Agora passamos a nosso segundo
ponto. QUE USO, ENTÃO, DEVEMOS FAZER DESSA VOZ DE DEUS QUE É OUVIDA EM
MEIO DOS AGUDOS GRITOS E GEMIDOS DOS MORIBUNDOS? Dois usos; primeiro,
perguntas, e segundo, uma advertência.
A primeira pergunta que devemos fazer é a
seguinte: “Por que não pode acontecer a mim que muito prontamente e
inesperadamente seja eu cortado? Tenho eu um contrato de aluguel de
minha vida? Tenho algum amparo especial que me garante que não
atravessarei inesperadamente os portais da sepultura? Recebi um título
de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma armadura tal que sou
invulnerável às flechas da morte? Por que não irei morrer?”
A segunda pergunta que deve sugerir é
essa: “Não sou um grande pecador como esses que morreram? Não há em mim,
sim, em mim mesmo, pecados contra o Senhor meu Deus? Se em pecados
visíveis outros me superaram, acaso os pensamentos de meu coração não
são malvados? Porventura a mesma lei que os amaldiçoa não amaldiçoa a
mim também? Não perseverei em todas as coisas escritas no livro da Lei
para que se cumprissem. É tão impossível que eu seja salvo por minhas
obras como que eles o sejam. Não estou debaixo da lei, por natureza como
eles o estão, e pela mesma não estou eu também debaixo de maldição,
como eles o estão? Essa pergunta deve ser feita.
Em vez de pensar em
seus pecados, o quem me converteria um orgulhoso, devo pensar em meus
próprios pecados, o que me converterá humilde. Em lugar de especular sua
culpa, que é assunto que não é de minha responsabilidade, devo voltar
meus olhos até meu interior, e considerar minha própria transgressão,
pela qual devo responder pessoalmente diante do Deus Altíssimo.”
Logo, a seguinte pergunta é, “me
arrependi de meu pecado? Eu não preciso ficar investigando se eles se
arrependeram ou não: eu me arrependi? Posto que eu esteja exposto à
mesma calamidade, estou preparado para enfrentá-la? senti, por meio do
poder de convencimento do Espírito Santo, a negridão e a depravação de
meu coração? Tenho sido guiado a confessar diante de Deus que eu mereço a
Sua ira, e que Seu desagrado, se ele pousa sobre mim, será um justo
pago? Odeio o pecado: Aprendi a aborrecê-lo? Apartei-me do pecado, por
meio do Espírito Santo, como de um veneno mortal, e busco agora honrar a
Cristo meu Senhor: Fui lavado em seu sangue: Reflito sua semelhança?
Mostro seu caráter? Busco viver para Seu louvor?
Pois, se não é assim,
estou em grave perigo como eles estavam, e posso ser cortado tão
depressa e repentinamente, e logo, onde estou? Eu não irei perguntar
onde eles estão? E logo, de novo, em vez de estar espiando no futuro
destino desses infelizes homens e mulheres, quando melhor seria nos
perguntar sobre nosso destino e de nossa própria situação! –
“O que eu sou? minha alma, desperta
E faz uma analise imparcial.”
Estou preparado para morrer? Se as
portas do inferno abrem-se agora, eu entraria ali? Se debaixo de mim se
abrirem as bocas da morte, estou preparado com confiança para
atravessá-las, não temendo o mal, porque Deus está comigo?” Esse é o uso
correto que podemos fazer desses acidentes; essa é a maneira mais sábia
de aplicar os juízos de Deus a nós mesmos e a nossa própria condição.
Oh senhores, Deus tem falado a cada
homem em Londres durante as últimas duas semanas; Ele falou a mim, Ele
falou a vocês, homens, mulheres e crianças. A voz de Deus há soado desde
o escuro túnel Clayton: falou desde o poente do sol e a deslumbrante
fogueira em redor do qual jazem os cadáveres de homens e mulheres, e Ele
lhes disse, “Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o
Filho do homem à hora que não imaginais. (Lucas 12:40)” Isso está tão
dirigido a vocês, que eu espero que os levem a perguntarem-se: “Estou
preparado, estou pronto? Estou disposto a enfrentar a meu Juiz e escutar
a sentença pronunciada sobre minha alma?”
Quando tenhamos usado a voz de Deus para
nos perguntar dessa maneira, permitam-me lembrar-lhes que devemos
usá-la também como uma advertência. “Todos de igualmente perecereis.”
“Não,” dirá alguém, “não igualmente. Não todos seremos esmagados; muitos
de nós morreremos em nossas camas. Não todos morreremos queimados;
muito de nós fecharemos tranquilamente nossos olhos.” Ai! Porem, o texto
diz “todos de igual modo perecereis.” E deixem-me lembrar-lhes que
alguns de vocês podem perecer de uma maneira idêntica. Não possuem
nenhuma razão para crer que vocês não podem ser cortados
inesperadamente, enquanto caminhem pelas ruas. Podem cair mortos
enquanto comem; quantos não têm perecido com o cajado da vida em suas
mãos! Estarão em sua cama, e sua cama subitamente se converterá em sua
tumba. Vocês poderão ser fortes, sãos, robustos e quer seja por
acidente, ou porque a circulação do sangue se detém, serão rapidamente
levados diante de seu Deus. Oh! Que a morte inesperada seja para vocês
glória súbita!
Porem pode ocorrer a algum de nós que,
da mesma maneira surpreendente em que outros morrerem, morreremos assim
também. Faz só um pouco de tempo, nos Estados Unidos, um irmão, enquanto
pregava a Palavra, entregou seu corpo e seu cargo simultâneamente.
Vocês lembram da morte do Dr. Beaumont, quem, enquanto proclamava o
Evangelho de Cristo, fechou seus olhos ao mundo. E eu recordo a morte de
um ministro nesse pais, que acabava de pronunciar esse verso –
“Pai, eu anelo, eu anseio ver
O lugar de Tua habitação;
Eu quero deixar teus átrios terrenos e fugir
Até Tua casa, meu Deus”
- E então agradou a Deus conceder-lhe o
desejo de seu coração, e apareceu diante do Rei em Sua beleza. Não
poderia uma morte imprevista como essa suceder a vocês e a mim mesmo?
Porem, é muito certo que, venha a morte
de maneira que venha, há alguns quantos aspectos na que virá aos justos
da mesma maneira como veio aos que sofreram esses acidentes. Em primeiro
lugar, virá, com toda certeza. Eles não teriam tido possibilidade de
escapar do perseguidor, não importa qual rápido viajassem. Eles não
teriam tido a chance de escapar da seta, não importando a que lugar
houvessem ido, escondendo-se de casa em casa, quando seu tempo lhes
chegou. E nós pereceremos assim.
Com a mesma certeza, tão certo como a
morte colocou seu selo sobre os cadáveres que agora estão cobertos de
terra, com a mesma certeza porá seu selo sobre nós (a menos que o Senhor
venha antes), pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo
depois disso o juízo (Hebreus 9:27)” Não existe exoneração nesse
caminho; não existe escape por nenhum atalho para nenhum individuo; não
existe nenhuma ponte sobre o rio; não há nenhuma nave na que possamos
passar esse Jordão sem molharmos nossos pés.
Para suas geladas profundidades, oh rio,
cada um de nós deve descer – em sua fria corrente nosso sangue deve
congelar-se – e debaixo de suas espumosas ondas nossa cabeça deve
submergir! Nós também devemos morrer com certeza. “Trilhado” você diz,
“e cheio de lugares comuns;” e a morte é um lugar comum, mas que só nos
ocorre uma vez. Que Deus nos conceda que essa única vez que morreremos
possa estar perpétuamente em nossas mentes, até que morramos
diariamente, e assim não nos resulte ser um trabalho difícil morrer ao
final.
Bem, então, como a morte chega a eles e a
nós com certeza, assim virá tanto a eles como a nós poderosa e
irresistivelmente. Quando a morte os surpreendeu que ajuda tiveram
então? Um casebre de papelão de uma criança não poderia ser tão
facilmente esmagado que esses pesados vagões? O que podiam fazer para
ajudarem uns aos outros? Eles iam sentados uns juntos a outros,
conversando. Escutou-se um grito, e antes que houvessem gritado segunda
vez, foram esmagados e destroçados. O esposo trata de resgatar dos
escombros sua esposa, porem as pesadas tábuas de madeira cobriram seu
corpo; ao fim só pode encontra sua pobre cabeça, e ela está morta, e ele
senta-se junto a ela embargado pela tristeza, e coloca sua mão em seu
rosto, até que se torna frio como uma pedra; e ainda que tenha visto a
um e outro que tenha sido resgatado com os ossos quebrados ao meio da
massa de escombros, ele têm que deixar o corpo de sua esposa ali.
Ai! Seus filhos ficaram sem mãe, e ele
perdeu a companheira de seu coração. Eles não puderam resistir; eles
poderiam fazer o que quisessem, porem, tão logo chegou o momento,
seguiram adiante, e o resultado foi a morte e ossos quebrados. O mesmo
sucederá com vocês e comigo – podem subornar o médico com os honorários
mais altos, porem, ele não poderia colocar sangue fresco em suas
veias[6] – podem pagar-lhe grandes quantidades de ouro, mas ele não
poderia conseguir que o pulso desse outro bramido. Oh, Morte,
irresistível conquistadora de homens, não há ninguém que possa
prevalecer contra ti; sua palavra é lei, sua vontade é destino! Assim
virá a nós como chegou a eles; virá com poder, e nenhum de nós poderá
resistir a ela.
Quando a morte chegou-lhes, veio
instantaneamente, sem aceitar demoras. Assim virá a nós. Poderíamos ter
um aviso mais antecipado do que eles, porem quando chegue a hora, não
haverá forma de adiá-la. Encolhe seus pés na cama, oh, patriarca, pois
deve morrer e não vai viver! Dá o último beijo em sua esposa, veterano
soldado da cruz; coloca suas mãos sobre a cabeça de seus filhos, e
dá-lhes a benção do moribundo, pois todas suas orações não podem alargar
sua vida, e todas as lágrimas não podem agregar nem uma só gota ao poço
seco de seu ser.
Você deve ir, o Senhor manda por você, e
Ele não suporta atrasos. Não, ainda que sua família esteja disposta a
sacrificar suas vidas para lhe comprar uma hora de trégua, isso não pode
ser. Ainda que uma nação seja holocausto, um sacrifício voluntário,
para dar a seu soberano outra semana adicional a seu reino, não se pode
conseguir tal coisa. Ainda que a congregação inteira consinta
voluntariamente em recorrer as escuras abóbadas da tumba para salvar a
vida de seu pastor, por mais outro ano, não se pode alcançar esse
intento. A morte não aceita atraso – e o tempo chegou, e o relógio soou,
a areia da ampulheta consumiu-se, e tão certamente como eles morreram
quando chegou-lhes seu tempo, no campo inesperadamente, assim certamente
nós devemos morrer.
Logo, novamente, recordemos que a morte
chegará a nos como chegou a eles, com terrores. Não com o estrondo de
madeiras quebradas, talvez, nem com a escuridão de um túnel, não com o
vapor e a fumaça, não com os gritos das mulheres e os gemidos dos
moribundos, mas, no entanto, com terrores. Pois se encontrar com a morte
onde quer que seja, se não estamos em Cristo, e se a vara o cajado do
pasto não nos infundem alento, deve ser uma coisa terrível e tremenda.
Sim, oh, pecador, com suaves almofadas
debaixo de sua cabeça, e o terno braço de sua esposa para te sustentar, e
uma doce mão para limpar seu frio suor, em seu corpo encontrará que é
um terrível trabalho enfrentar o monstro e sentir seu aguilhão, e entrar
em seus espantosos domínios. É um terrível trabalho em qualquer
instante, mesmo sob as melhores e mais propícias circunstâncias, que um
homem morra sem preparação.
E agora quisera eu enviar-lhes de volta
para casa com um pensamento que fique gravado em sua memória: nós somos
criaturas moribundas, não criaturas viventes, e logo nos teremos ido.
Talvez, estando eu de pé aqui, e falando rudemente dessas coisas
misteriosas, pronto se estendera essa mão e cerrará minha boca que
balbucia com tão gaguejante esforço; o poder supremo, oh Rei eterno,
venha quando querias, oh! Porem, nunca venha em uma hora desperdiçada –
que me encontres em elevada meditação, cantando hinos a meu grandioso
Criador: fazendo obras de misericórdia os pobres e aos necessitados, ou
carregando em meus braços aos pobres e necessitados do rebanho; ou
consolando o desconsolado, ou tocando o sonido da trombeta do Evangelho
aos ouvidos das almas surdas que estão perecendo.
Então, vem quando Tu querias; se Tu
estás comigo em vida, não temeria encontra a Ti na morte: mas, oh, que
minha alma esteja preparada com seu vestido de bodas, com sua lâmpada
preparada e sua luz acesa, pronta para ver a seu Senhor e entra no gozo
de seu Deus!
Almas, vocês conhecem o caminho de
salvação; o escutaram frequentemente, porem, ouçam de novo: “O que crê
no Senhor Jesus, têm a vida eterna.” “O que crer e for batizado, será
salvo; mas o que não crer, será condenado.” “Crê em teu coração e
confessa com sua boca.” Que o Espírito Santo lhes dê graça para fazer
ambas as coisas, e tendo feito, possam dizer –
“Vêm, morte, com uma congregação celeste,
Para levar a minha alma.”
NOTA: Davi Livingstone, o famoso
explorador e missionário, levou em seu bolso uma cópia desse sermão, em
suas viagens por toda a África. Ele tinha escrito na margem superior da
impressão desse sermão o comentário: “Muito bom. D.L” Quando da morte do
missionário, essa mesma copia foi entregue ao próprio Spurgeon, que a
guardou durante toda sua vida como um tesouro. Hoje em dia, essa copia
pode ser vista exposta no Spurgeon’s College, em Londres.
NOTAS EXPLICATIVAS
[1] Referência ao acidente do Túnel
Clayton, que ocorreu, 25 de agosto de 1861, cinco milhas a partir de
Brighton, na costa sul da Inglaterra, e foi o pior acidente do sistema
ferroviário britânico da época. Um trem de passeio bateu em outro que
estava parado no túnel, no domingo, matando 23 e ferindo 176 passageiros
[2] Segundo Eric Hayden, pastor do
Tabernáculo Metropolitano na década de 60 em “Feitos Notáveis”, é ”uma
referência a um acidente ocorrido em Setembro ocorreu outro desastre
ferroviário quando um grupo de passageiros viajava à costa sul”
[3] Provável referência ao acidente
da estação de Kentish Town ,ocorrido em 02 de setembro de 1861, em
Londres ,onde 16 pessoas foram mortas e 317 feridas, quando um trem de
passeio operado pela Ferrovia Norte de Londres colidiu com um trem de
carga operado pela London e North Western Railway (WIKIPÉDIA)
[4] O navio “John Williams” era um
navio missionário sob o comando do capitão Robert Clark Morgan
(1798-1864) e de propriedade da Sociedade Missionária de Londres. Foi
nomeado em homenagem ao missionário John Williams (1796-1839), que
trabalhou ativamente no Pacífico sul. (FONTE: Wikipédia)
[5] A referência do incidente é
sobre o que ocorreu no Surrey Garden Musci Hall em 1856, quando o salão
foi alugado para congregar as multidões que iam ouvir Spurgeon nos
serviços dominicais, e devido a reformas em New Park Street e a
impossibilidade de se alugar o Exerter Hall, se levou adiante o
arrendamento temporário do Salão com capacidade para 10.000 pessoas. Na
primeira noite de serviços, um tumulto provocado por bardeneiros com
falsos avisos de incêndio provocaram uma correria tal que levou a 23
feridos e 7 mortos. (N.d.T)
[6] Não deve se levar em conta aqui as modernas transfusões de sangue (N.d.T)
FONTE:
Traduzido do espanhol Accidentes, No
Castigos, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste
para o português para o Projeto Spurgeon , de
http://www.spurgeon.com.mx/
Orem diariamente pelos irmãos Allan Roman e Thomas Montgomery, da Cidade do México para o sucesso dessa obra em espanhol
Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 408—Volume 7 do Metropolitan Tabernacle Pulpit
ORIGINAL: Accidents, Not Punishments
Tradução: Armando Marcos Pinto