O Propósito da Morte de Cristo segundo as Escrituras
Por "propósito da morte de Cristo", entendemos duas coisas: primeiro, a intenção de Deus Pai e de Cristo em relação a essa morte; e segundo, o que efetivamente foi cumprido e realizado por meio dela.
Vamos analisar brevemente as expressões usadas pelo Espírito Santo sobre esse assunto.
I. A Intenção da Vinda de Cristo ao Mundo
Para compreender o propósito e a intenção de Cristo ao vir ao mundo, podemos recorrer às suas próprias palavras. Cristo, conhecendo perfeitamente a vontade do Pai, afirmou: "O Filho do homem veio salvar o que estava perdido" (Mateus 18:11).
Essa declaração revela que seu objetivo era recuperar e salvar pecadores perdidos. Esta intenção é reiterada em Lucas 19:10.
10 Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
Cristo veio ao mundo com o claro desígnio de salvar os perdidos, conforme a vontade de seu Pai. Refletindo sobre as passagens bíblicas, entendemos que a missão de Jesus foi trazer redenção e salvação aos que estavam afastados de Deus.
Os apóstolos, conhecendo a mente de Cristo, também afirmaram isso. Paulo declara em 1 Timóteo 1:15: "Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação:
Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores."
Se perguntarmos a quem Cristo veio salvar, ele mesmo nos responde em Mateus 20:28: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos."
Esses "muitos" são os crentes, distintos do mundo. Em Gálatas 1:4, Paulo reforça: "Ele se entregou pelos nossos pecados, para nos livrar deste presente mundo mau, segundo a vontade de Deus e nosso Pai."
A intenção de Deus era que Cristo se entregasse por nós para que pudéssemos ser salvos e separados do mundo. Estes são sua igreja, como descrito em Efésios 5:25-27: "Cristo amou a igreja e se entregou por ela, para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável."
Essas palavras expressam o objetivo de Cristo em se dar por nós: para que sejamos aptos para Deus e trazidos para perto dele. Tito 2:14 afirma de forma semelhante: "Ele deu a si mesmo por nós para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras."
Portanto, o propósito da morte de Cristo foi duplo: cumprir a vontade de Deus Pai ao proporcionar redenção aos pecadores e santificar a igreja, preparando-a para uma íntima comunhão com Deus.
Assim, é evidente e aparente a intenção e o desígnio de Cristo e de seu Pai nesta grande obra: nos salvar, nos livrar do mundo mau, nos purificar, nos lavar, nos tornar santos e zelosos, fecundos em boas obras, nos tornar aceitáveis e nos levar a Deus.
Por meio dele "temos acesso à graça na qual agora estamos firmes" (Romanos 5:2).
II. O efeito e o resultado real da obra de Cristo, ou seja, o que foi realizado e cumprido por meio da sua morte, derramamento de sangue e oblação, são igualmente claros e muitas vezes expressos de forma ainda mais distinta.
Primeiramente, a reconciliação com Deus, que envolve a remoção e a destruição da inimizade entre Ele e nós.
Pois, "quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" (Romanos 5:10).
"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões" (2 Coríntios 5:19); e Ele "nos reconciliou consigo mesmo por meio de Jesus Cristo" (2 Coríntios 5:18).
Se você deseja saber como essa reconciliação foi efetuada, o apóstolo Paulo explica que Cristo "aboliu, em sua carne, a inimizade, a lei dos mandamentos expressa em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e reconciliar ambos com Deus em um corpo, por meio da cruz, destruindo a inimizade por meio dela" (Efésios 2:15-16). Assim, Ele "é a nossa paz" (Efésios 2:14).
Justificação através da Obra de Cristo
Em segundo lugar, temos a justificação, que envolve a remoção da culpa dos nossos pecados, a obtenção da remissão e do perdão, e a libertação do poder do pecado, da maldição e da ira que nos eram devidos.
"Com seu próprio sangue, ele entrou no Lugar Santíssimo, tendo obtido eterna redenção" (Hebreus 9:12). "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós" (Gálatas 3:13), e "ele mesmo levou nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24).
Todos nós pecamos e estamos destituídos da glória de Deus, mas somos "justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.
Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça" (Romanos 3:23-25). "Nele temos a redenção, pelo seu sangue, o perdão dos pecados" (Colossenses 1:14).
Por meio da obra redentora de Cristo, somos libertos da condenação do pecado e recebemos a justificação pela fé em seu sacrifício, permitindo-nos uma nova vida em comunhão com Deus.
O Propósito e os Efeitos da Morte de Cristo
1. Santificação
Em terceiro lugar, a santificação envolve a purificação da impureza e contaminação dos nossos pecados, a renovação da imagem de Deus em nós e o suprimento das graças do Espírito de santidade.
"O sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a Deus, purifica as nossas consciências das obras mortas para que possamos servir ao Deus vivo" (Hebreus 9:14).
"O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado"
(1 João 1:7).
Ele sofreu fora da porta "para santificar o povo com seu próprio sangue" (Hebreus 13:12). Cristo "se entregou pela igreja para santificá-la, purificando-a, para que fosse santa e sem mancha" (Efésios 5:25-27).
Entre as graças do Espírito, nos é concedido "por amor de Cristo, crer nele" (Filipenses 1:29). Deus "nos abençoa em Cristo com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais" (Efésios 1:3).
2. Adoção
Em quarto lugar, temos a adoção, pela qual os efeitos da morte de Cristo nos transformam e nos conduzem até que estejamos estabelecidos no céu, na glória e na imortalidade para sempre.
Nossa herança é uma "propriedade adquirida" (Efésios 1:14). "Por isso ele é o mediador de um novo pacto, para que, por meio da morte para a redenção das transgressões cometidas sob o primeiro pacto, os que são chamados recebam a promessa da herança eterna" (Hebreus 9:15).
Resumo
A morte e o derramamento de sangue de Jesus Cristo realizam e garantem, para todos os que estão envolvidos nela, uma redenção eterna, que consiste na graça presente e na glória futura.
III. A Clareza das Escrituras sobre a Morte de Cristo
As Escrituras são completas, claras e evidentes sobre os fins e efeitos da morte de Cristo.
Um homem pensaria que todos poderiam ler e entender isso facilmente.
No entanto, na religião cristã, poucos temas são mais questionados do que este, apesar de parecer ser um dos princípios mais fundamentais.
Existe uma crença generalizada de que Cristo pagou um resgate geral por todos, morrendo para redimir cada indivíduo, e não apenas muitos, sua igreja ou os eleitos de Deus.
Os defensores dessa opinião entendem claramente que, se o fim da morte de Cristo fosse o que as Escrituras afirmam, e se os frutos e produtos imediatos dela fossem como descritos anteriormente, duas conclusões se seguiriam inevitavelmente:
Deus e Cristo falharam em seu propósito:
Se a morte de Cristo não alcançasse seu objetivo, isso implicaria que Deus e Cristo não conseguiram cumprir o que pretendiam.
Isso sugeriria que a morte de Cristo não foi um meio adequadamente proporcionado para atingir o fim desejado.
Afirmar isso seria blasfemamente injurioso para a sabedoria, poder e perfeição de Deus, além de depreciar o valor e a eficácia da morte de Cristo.
Salvação universal:
Todos os homens, toda a posteridade de Adão, devem ser salvos, purificados, santificados e glorificados.
No entanto, as Escrituras e a experiência lamentável de milhões de pessoas não sustentam essa ideia.
Portanto, para justificar sua persuasão, esses defensores são forçados a negar que Deus ou seu Filho teve qualquer intenção específica de salvar apenas os eleitos.
Eles argumentam que a intenção de Cristo era redimir todos e cada um, mesmo que os efeitos de sua morte não sejam universalmente aplicados.
A Efetividade da Morte de Cristo
Alguns argumentam que Deus não teve uma intenção específica, nem que algo foi imediatamente adquirido e comprado por Cristo, conforme relatamos antes.
Eles alegam que nenhum benefício surge para qualquer pessoa imediatamente por sua morte, exceto o que é comum a todas as almas, inclusive as incrédulas e eternamente condenadas.
Segundo eles, até que um ato de fé, não adquirido por Cristo, os distingue dos outros. Isso implicaria que a fé, e não a obra de Cristo, seria o fator diferenciador entre os salvos e os perdidos.
Essa perspectiva parece enfraquecer a virtude, o valor, os frutos e os efeitos da satisfação e morte de Cristo.
Além disso, serve como base para uma perigosa e errônea persuasão.
Peço ao Senhor que, por seu Espírito, nos conduza a toda a verdade, nos dando entendimento em todas as coisas. E se alguém tiver outra opinião, que o Senhor também revele isso a ele.
Que possamos, com a orientação do Espírito, compreender plenamente a intenção e os efeitos da morte de Cristo, reconhecendo seu valor e poder inigualáveis na redenção e salvação dos eleitos de Deus.
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