domingo, 11 de setembro de 2011

As duas alianças

Quem primeiro cantou e se alegrou foi Agar, ao conceber de Abraão ( Gn 16:4 ). A afronta da serva Agar é semelhante à afronta que os cristãos estavam sofrendo dos judaizantes. Sara já era desprezada diante da sociedade à época por não dar a luz um filho, porém, chegou ao fundo do poço quando sua serva, que teve um filho, a desprezou. 

Após demonstrar que os cristãos eram filhos de Deus ( Gl 4:6 ), o apóstolo Paulo retrocede no tempo, e aponta que, antes de terem um encontro com Cristo, os cristãos não ‘conheciam’ a Deus.
“Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que por natureza não o são” ( Gl 4:8 )
Esta realidade também foi demonstrada aos cristãos em Éfeso: “E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” ( Ef 2:1 -3).
Após terem recebido a adoção de filhos ( Gl 4:5 ), os cristãos passaram a conhecer a Deus, a palavra conhecer neste verso possui um sentido diverso daquele que a nossa sociedade se acostumou. O ‘conhecer’ bíblico refere-se à união íntima, união semelhante a do homem quando se une a sua esposa, ou seja, os cristãos passaram ter comunhão íntima com Deus.
Sobre este ‘conhecimento’, diz o apóstolo Paulo, é um grande mistério: “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” ( Ef 5:32 ). O mistério não está no fato de Deus ter determinado que o homem deva deixar pai e mãe, e unir-se (conhecer) a sua mulher, tornando-se ambos uma só carne.
O mistério desta ordem refere-se à igreja, porque ao tornarem-se filhos de Deus, cada cristão é membro do corpo de Cristo, ou seja, da sua carne e dos seus ossos “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne” ( Ef 5:30 -31).

9 Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
O apóstolo Paulo demonstra estar inconformado com a situação atual dos cristãos da Galácia.
Após terem ‘conhecido’ a Deus, como podiam submeter-se novamente aos preceitos da lei? Como poderia alguém idôneo querer voltar a ser tutelado? Como uma pessoa idônea poderia aceitar a estar novamente sob os cuidados de outrem?
Era de se estranhar que os cristãos quisessem voltar a estar debaixo dos rudimentos fracos e pobres da lei após ‘conhecerem’ a Deus, ou antes, serem ‘conhecidos’ por Ele.
Eles já haviam ‘abandonado’ pai e mãe ao unirem-se com Cristo. Eram ‘conhecidos’ por Deus porque se tornaram membros do corpo, da carne e dos ossos de Cristo, o verdadeiro Deus e a vida eterna ( Mt 10:37 ; Mt 19:29 ), mas estavam se prendendo a rudimentos facos e pobres.

10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.
Os rudimentos fracos e pobres são o mesmo que guardar dias, meses, tempos e anos. O povo de Israel sempre guardou tais rudimentos, mas não era agradável a Deus, ou seja, nunca O conheceram ( Is 29:13 ).
O que estava levando os cristãos da Galácia a rejeitarem a Cristo, que perante eles foi apresentado crucificado?

11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.
O apóstolo Paulo demonstra estar preocupado com a maneira que os cristãos estavam se portando com relação ao evangelho de Cristo, mas nutria esperança de não ter evangelizado (trabalhado) em vão.

12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes.
O apóstolo Paulo invoca um sentimento de fraternidade. Embora muitos cristãos estivessem propensos a seguirem um pseudo-evangelho, o apóstolo dos gentios não estava rancoroso, pois a atitude deles não era uma afronta a pessoa do apóstolo, nem lhe haviam feito mal.
A atitude deles, de afastarem-se evangelho, faria mal a eles, e não ao apóstolo.

Conhecimento Comum a Todos
13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne; 14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo.
O apóstolo Paulo faz referência a algum tipo de enfermidade que havia acometido o seu corpo, mas não podemos precisar qual foi. Como uma carta possui um público alvo restrito, é personalíssima, e somente os cristãos à época do apóstolo Paulo souberam dos seus problemas de saúde.
Especular sobre qual era a 'fraqueza da carne' que acometeu o apóstolo Paulo não esclarece de qual enfermidade ele sofria, e mesmo que descobríssemos qual era a enfermidade do apóstolo dos gentios, em nada contribuiria com relação ao evangelho.
Por estar enfermo, os cristãos da Galácia poderiam ter rejeitado (desprezo, desgosto) o apóstolo Paulo, uma vez que, segundo os rudimentos pobres e fracos, poderiam considerar que haveriam de ser contaminados se tivessem contato com o apóstolo, o que era uma tentação.
Mesmo após observarem a enfermidade do apóstolo Paulo, eles o receberam como se fosse um mensageiro (anjo) de Deus, como se fosse o próprio Cristo. Ora, se os cristãos convertidos tiveram a maturidade de receberem o apóstolo, mesmo vendo que ele estava enfermo, por que estavam retrocedendo aos rudimentos fracos e pobres?

15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.
A pergunta é especifica: “Qual é a vossa bem-aventurança?”. Ou seja, qual é a vossa alegria? A alegria deles não era o Senhor Jesus? Eles eram bem-aventurados por crerem em Cristo somente ( Gn 12:3 ).
Prova disto, é que, após receberem a alegria da salvação, se possível fora, eles teriam arrancado os olhos e dado ao apóstolo. O que tivessem de mais precioso, teriam doado ao apóstolo dos gentios.

16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?
O apóstolo Paulo utiliza um argumento bem convincente: aquele que diz a verdade, em verdade é um amigo, e não inimigo. Ao anunciar o evangelho (verdade), demonstrando a invalidade dos rudimentos fracos e pobres, o apóstolo estava se revelando como amigo, um irmão.

17 Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.
Os judaizantes demonstravam zelo pelos cristãos, mas não conforme o que estipula o evangelho. Parece que os judaizantes queriam tirar os cristãos do evangelho genuíno com o intuito de serem eles o objeto de zelo dos cristãos.
O apóstolo Paulo alerta que o papel desempenhado pelos judaizantes haveria de ser invertido: agora estava parecendo que os judaizantes eram zelosos dos cristãos, porém, haveriam de exigir dos cristãos que aceitassem os rudimentos da lei que fossem zelosos deles.

18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.
O apóstolo Paulo demonstra que ser zeloso é recomendável, porém, o zelo não pode ser apregoado como prática para se conquistar a salvação.
O zelo deveria ser pelo evangelho, preservando-o tal qual foi anunciado pelo apóstolo, deveria ser constante, e não somente quando o apóstolo Paulo estivesse presente.

19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;
O apóstolo Paulo paternalmente chama os cristãos de 'meus filhinhos'!
Ao ver que os cristãos estavam sendo inquietados, e que alguns estavam aderindo ao rudimentos da lei, o apóstolo Paulo novamente estava sofrendo, como se estivesse de parto, até que Cristo fosse formado neles.

20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.
O apóstolo Paulo não queria estar escrevendo repreensões. Era desejo do apóstolo estar com os cristãos das regiões da Galácia, e com um outro o tom de conversa.
Ele estava perplexo pela decisão daqueles que queriam novamente estar debaixo da lei.

21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
O público alvo da carta torna-se mais restrito. Deixou de abarcar todos os cristãos, para tratar somente com os simpatizantes do judaísmo. Eles são convidados a responder as questões do apóstolo Paulo.
Aqueles que desejavam voltar a estar debaixo da lei pareciam nunca ter ouvido o que a lei transmite. Quem estava se desviando do evangelho nunca entendeu qual era a proposta da lei.

22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
A carta aos Gálatas contrapõe:
  • Lei X evangelho;
  • Carne X Espírito;
  • Sara X Agar;
  • Isaque X Ismael;
  • Escrava X livre, etc.
Aqueles que queriam justificar-se através da lei não compreenderam a passagem da Escritura que aponta a origem dos dois filhos que Abraão tivera: um da escrava, e o outro da livre.

23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
O apóstolo Paulo convoca os que queriam viver segundo a lei a observarem e entenderem o que a Escritura ensina.
Apesar de Abraão ter alcançado dois filhos, todavia um foi gerado e nasceu segundo a carne, e outro, o filho da livre, por promessa.
O que os judaizantes teriam a dizer acerca destes dois filhos de Abraão? Será que eles teriam ouvido e compreendido o que diz a lei?
Através deste comparativo, o apóstolo Paulo buscou demonstrar que Isaque nasceu segundo a promessa, o que envolve a fidelidade e o poder de Deus. Isto só é possível através da união (conhecer) com o Descendente.
Os cristãos também foram gerados segundo a promessa feita a Abraão, que diz: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:3 ) pois Deus é fiel e ao conceder a sua palavra, que é poder para todos quantos crêem, serão feitos filhos de Deus ( Jo 1:12 ; Rm 1:16 ).

As Duas Alianças em Alegorias

24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
O apóstolo Paulo demonstra que Sara e Agar serve de ilustração, alegoria, para representar tudo que ocorre ao longo dos tempos na história de Israel.
Sara e Agar representam as duas alianças: A lei e a graça. Embora o filho da Sara tenha nascido por último, a graça é anterior a lei, pois foi prometido bem antes da lei que “... em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:3 )
Agar, uma das servas de Sara, representa o monte Sinai, e gera filhos para a servidão. Agar representa o povo de Israel e a aliança que foi estabelecida no monte Sinai.

25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
O apóstolo Paulo demonstra que a escrava Agar representa o monte Sinai, que corresponde a Jerusalém que todos conheciam, ou seja, a que agora existe. Agar e seu filho eram escravos, o que demonstra que Jerusalém continua sob o julgo da escravidão juntamente com todos os seus filhos, pois todos eles eram descendentes da carne de Abraão, Isaque e Jacó.
Ou seja, os descendentes da carne são escravos, uma vez que permanecem sob a servidão do pecado por serem descendentes do primeiro pai da humanidade, que é Adão ( Is 43:27 ).

26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
O apóstolo Paulo apresenta a Jerusalém celestial, que ainda não se vê, em contraste com a que agora se vê. Esta Jerusalém do alto é livre juntamente com os seus filhos.
A Jerusalém celestial é mãe de todos aqueles que confiam em Deus, pela fé em Cristo. Ou seja, para ser filho da Jerusalém de cima é necessário ter a mesma fé que o crente Abraão, o que é diferente de ser filho da carne de Abraão.
Da carne são gerados escravos, e da fé que teve Abraão são gerados livres ( Rm 9:8 ).

27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
O apóstolo Paulo cita um verso do Livro do profeta Isaias para demonstrar as diferenças entre as duas alianças: "Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta de prazer com alegre canto, e exclama, tu que nunca tiveste dores de parto, porque mais são os filhos da desolada, do que os da casada, diz o Senhor" ( Is 54:1 ).
Este verso de Isaias é citado como resposta ao verso 26. A Jerusalém que é de cima é livre, e é mãe de todos os cristãos, isto porque ela é segundo a promessa de Deus. Os cristãos da Galácia deveriam considerar o que Deus prometeu por intermédio de Isaias.
Quem primeiro cantou e se alegrou foi Agar, ao conceber de Abraão ( Gn 16:4 ). A afronta da serva Agar é semelhante à afronta que os cristãos estavam sofrendo dos judaizantes. Sara já era desprezada diante da sociedade à época por não dar a luz um filho, porém, chegou ao fundo do poço quando sua serva, que teve um filho, a desprezou.
O profeta Isaias ao falar da igreja fez referência ao evento de Sara e Agar. Sara, a estéril, que nunca deu a luz, deveria cantar e exultar de prazer e com alegre canto. Sara nunca sentiu as dores de parto, mas deveria cantar.
Por que deveria a desprezada entoar cânticos? Por causa da promessa do Senhor que diz: "... mais são os filhos da desolada, do que os da casada, diz o Senhor" ( Is 54:1 ).
A desolada, ou desprezada, por não poder conceber e ter filhos precisou ter confiança naquele que prometeu que os números dos seus filhos não seriam inferiores aos filhos da que concebera (teve marido). O apóstolo Paulo demonstra que a profecia de Isaias diz dos filhos da promessa, que por Cristo, o Descendente, são em maior número do que os filhos da escrava.

 28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
O apóstolo Paulo destaca que os cristãos são filhos da promessa, conforme foi Isaque. Por meio de Cristo, o Descendente, todos  que crêem alcançam a bem-aventurança prometida a Abraão, ou seja, alcançam a filiação divina.

29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
A bíblia demonstra que o filho de Abraão gerado segundo a carne perseguia o filho gerado segundo a promessa: Ismael versus Isaque. O apóstolo Paulo reitera que a perseguição que estava ocorrendo no seio da igreja decorria deste confronto histórico: Ismael versus Isaque, o mesmo que carne versus Espírito.
O conflito que é descrito pelo apóstolo Paulo e que a Escritura apresenta não ocorreu no interior de Isaque. A luta da carne vesus Espírito se dá fora do homem. A luta entre o que era gerado segundo a carne e o que foi gerado segundo a promessa de Deus é descrita como perseguição.
A 'carne' refere-se à natureza pecaminosa herdada em Adão (velho homem), e 'Espírito' refere-se ao Espírito de Deus que é concedido aos que crêem (nova criatura)( Gl 4:6 ).

30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
A pergunta: "Mas que diz a Escritura?" é feita aos que queriam estar debaixo da lei ( Gl 4:21 ).
Este verso envolve conceitos próprios a antiguidade, pois um filho bastardo jamais herdaria o que é de direito do filho legítimo. Portanto, para não herdar o filho da escrava, ambos deveriam ser mandados embora: a escrava e o filho.
Não há como os filhos das escravas herdarem com o filho da livre, isto é, qualquer um que volte a estar debaixo da lei (menino), não herdará com a igreja de Cristo “... de modo algum...” ( v. 30).

31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
Conclui-se o pensamento do apóstolo Paulo: somos filhos da livre. O cristão é filho da promessa por meio de Cristo Jesus. Qual promessa? "E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra" ( Gn 28:14 ); "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti" ( Gl 3:8 ).
Não é possível considerar como verdade bíblica a idéia de que o cristão possui duas naturezas, isto porque o novo homem em Cristo Jesus é filho da livre, e não da escrava. Como ter duas naturezas se o novo homem em Cristo não pode ser filho de ambas: da escrava e da livre? Ou se é filho da escrava ou se é filho da livre.
Os cristãos são filhos da livre e os gálatas deviam ter o cuidado de não voltarem a  ser filhos da escrava.
Os filhos da escrava, por meio da promessa que há no evangelho, se crerem no Descendente, recebem poder de Deus para serem feitos seus filhos ( Jo 1:12 ).

Alegoria
Sobre a alegoria apresentada pelo apóstolo Paulo aos cristãos nas regiões da Galácia, ela é focada em Sara e Agar.
Deus prometeu a Abraão que faria dele uma nação numerosa, e que nele todas as famílias da terra seriam benditas. De Abraão a Escritura diz que ele teve dois filhos: Ismael e Isaque.
Os judeus consideravam serem descendentes de Abraão segundo a linhagem de Isaque. Por Isaque ter nascido conforme Deus prometeu a Abraão, os judeus acreditavam serem filhos de Deus, por serem filhos de Abraão e de Isaque.
O apóstolo Paulo, porém, trouxe a lume o grande mistério acerca do nascimento de Isaque, e que os judaizantes não atinavam: foi Abraão que teve filhos, e não Deus ( Gl 4:22 ).
Ismael, um dos filhos de Abraão, foi gerado segundo a carne, segundo a vontade de Sara e Abraão. Com relação ao sangue, Ismael era filho de uma escrava, Agar, que somente podia gerar filhos para escravidão. Diferente de Ismael, Isaque foi gerado segundo a promessa de Deus ( Gl 4:23 ).
É necessário observar que, tanto Ismael como Isaque foram filhos de Abraão. O filho decorrente da promessa nada mais foi que filho da carne do pai Abraão, ou seja, filho nascido da vontade da carne, do sangue e da vontade de Abraão, porém, segundo a promessa de Deus.
Por que é preciso fazer esta distinção? Porque somente a mulher de Abraão, Sara, estava impossibilitada de gerar por causa da avançada idade. Observe que mesmo após a morte de Sara, Abraão teve concubinas e filhos ( Gn 25:1 -4).
Os filhos de Abraão foram gerados segundo a carne, e após crerem, foram justificados por causa da promessa do Descendente (fé). Somente o Descendente, que é Cristo, nasceu segundo a vontade de Deus e através do Espírito de Deus. Até mesmo Isaque, nascido segundo a promessa, através da operação do poder de Deus, era filho segundo a carne, segundo a vontade e do sangue de Abraão.
Isaque era descendente de Abraão (filho da carne), porém, para se tornar filho de Abraão (filho de Deus), precisou ter a mesma fé que teve o seu pai na carne (Abraão), pois somente por meio da fé o homem alcança a filiação divina.
A promessa de Deus a Abraão repousa sobre o Descendente, que é Cristo, o filho Unigênito de Deus, e os seus filhos segundo a carne (descendentes) não são filhos de Deus ( Gl 3:16 ).
O apóstolo Paulo apresenta as duas mulheres, Sara e Agar como sendo alegoria das duas alianças de Deus: a lei e a graça.
Deus prometeu uma nação numerosa e que todas as famílias da terra seriam benditas em Abraão. Mas, a alegoria não se fixa na promessa feita a Abraão, e sim, nas pessoas de Sara e Agar.
A promessa feita a Sara, e que o apóstolo Paulo evidência como base para a alegoria diz: "EU a abençoarei, e dela te darei um filho" ( Gn 17:16 e Gn 18:10; "O Senhor visitou a Sara, como tinha dito, e lhe fez como havia prometido" ( Gn 21:1 ). Na alegoria apresentada pelo apóstolo Paulo, o que deve ser destacado é a promessa de Deus à Sara, que é diferente da promessa feita a Abraão.
Da promessa feita à Sara não surgiram filhos a Deus, como os judaizantes acreditavam, antes Deus disse a Abraão: "... em Isaque será chamada a tua descendência" ( Gn 21:12 ), que é Cristo.
A filiação divina decorre da promessa feita a Abraão segundo o Descendente, e não de Isaque. A promessa de Deus a Sara destaca-se pelo fato de ter sido concedido a ela poder para conceber um filho, embora avançada em idade "Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder de conceber um filho, mesmo fora da idade, porque teve por fiel aquele que lhe havia feito a promessa" ( Hb 11:11 ), e a promessa feita a Abraão diz de bens eternos.
Só através do Descendente, que é Cristo, torna-se possível gerar filhos para Deus. Filhos nascidos, não da carne, nem do sangue, e nem da vontade do varão, mas da vontade de Deus ( Jo 1:12 ). Para que os filhos de Deus sejam gerados, há a necessidade de nascerem da palavra e do Espírito de Deus. Nascer de Deus só é possível por meio da pregação do evangelho que é semente incorruptível e poder de Deus pela fé em Cristo.
A alegoria demonstra que Agar vincula-se ao monte Sinai, que corresponde à cidade de Jerusalém atual, visto que ela e Ismael habitaram antes de todos os israelitas no deserto de Parã ( Gn 21:21 ).
Como os judaizantes se gloriavam da lei, e da cidade de Jerusalém, o apóstolo Paulo demonstra que o único que teve possessão desde os pais, foi Ismael, o filho de Abraão com a escrava, pois habitaram o deserto e Parã. Abraão, por sua vez, estavam em busca de uma pátria melhor ( Hb 11:9 -10).
Da mesma forma que Ismael é alegoria para os que vivem sob a lei e estavam reduzidos à servidão, Isaque também é alegoria para o cristão, pois são livres ( Gl 4:28 ).
Os cristãos são filhos da promessa como Isaque pelos seguintes motivos:
  • Ambos nasceram por promessa - Isaque pela promessa feita a Abraão e Sara, e o Cristão pela promessa feita a Abraão, que se cumpriu no Descendente;
  • Isaque não teve, e os cristãos não têm possessão permanente neste mundo, uma vez que Isaque morreu aguardando a promessa, e os cristãos aguardam a cidade que tem fundamentos, tendo Deus como arquiteto e edificador.
  • Isaque confessou, e os cristãos confessam que são peregrinos e estrangeiros na terra;
  • Tanto Isaque quanto os cristão desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial ( Hb 11:13 -16).
Sara e Agar é alegoria das duas alianças: graça e lei, respectivamente. Agar e seu filho alcançaram possessão no deserto de Parã, que fica na região do monte Sinai. Especificamente refere-se a um monte da Arábia, que é a Jerusalém atual.
Todos os que estão debaixo da lei são escravos, pois são nascidos segundo a carne, e procuram uma possessão terrena. Já os que nascem da promessa, são filhos de Abraão pela fé em Cristo, e desejam uma possessão melhor, a Jerusalém que é livre, e é de cima ( Gl 4:26 ).
Os judaizantes se esquecem da palavra de Sara, que protesta contra os filhos da escrava Agar: "... o filho desta escrava não herdará com o meu filho Isaque" ( Gn 21:10 ).
Os judeus acreditavam que eram filhos de Deus por entenderem que Isaque era filho da promessa que estipula a bem-aventurança. Porém, não observaram que Isaque era filho da promessa que foi feita à Sara, que não guarda relação direta com a bem-aventurança prometida a Abraão e a todas as famílias da terra. A promessa de filiação divina somente é possível pela fé em Deus, que prometeu o seu Filho, o Descendente.
Não pode haver confusão com relação a comparação estabelecida: "Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque" (v. 28). Isaque nasceu da promessa feita à Sara, e o Cristão por meio da promessa feita a Abraão.
Desta forma os cristãos são filhos da promessa como Isaque, o que se entende alegoricamente. Por quê? Porque Isaque nasceu segundo a promessa, fidelidade e poder de Deus, e os cristãos através da união com o Descendente (em Cristo). Nascem também segundo a promessa feita a Abraão, pois Deus é fiel e concede a sua palavra, que é poder de Deus para todos quantos crêem, para serem feitos filhos de Deus ( Jo 1:12 ; Rm 1:16 ).
Os cristãos são filhos da promessa como Isaque, e não em Isaque.

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