sexta-feira, 6 de abril de 2012


O grito de abandono – John Stott (1921-2011)

Abr06

 E houve trevas sobre toda a terra, do meio-dia às três horas da tarde.
Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz:
"...Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?".

Mateus 27.45-46


Oe as três primeiras palavras da cruz retratam Jesus como nosso exemplo, a quarta e, mais adiante, a quinta o retratam como aquele que carrega o nosso pecado. A crucificação ocorreu às 9 da manhã ("a hora terceira"), e as três primeiras palavras da cruz parecem ter sido pronunciadas perto do início desse período. Então houve silêncio. Por volta do meio-dia ("a hora sexta"), quando o sol estava em seu meridiano, uma escuridão inexplicável se instalou sorrateiramente na região rural.


Não pode ter sido um eclipse natural do sol, porque a festa da Páscoa era comemorada na lua cheia. Foi um fenômeno sobrenatural, talvez planejado por Deus para simbolizar o horror da profunda escuridão na qual a alma de Jesus estava sendo lançada. A escuridão durou três horas, tempo em que nenhuma palavra saiu da boca do Salvador sofredor. Ele carregou nossos pecados em silêncio.

Então de repente, por volta das 3 da tarde ("a hora nona"), Jesus rompeu o silêncio e pronunciou as quatro palavras restantes da cruz em uma rápida sucessão, começando com "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?". Esse grito terrível é registrado por Mateus e Marcos apenas, e no original aramaico está escrito: "Eloí, Eloí, lama sabactâni?". Os espectadores que estavam ali disseram: "Ele está chamando Elias" (v. 47). E quase certo que estavam caçoando dele, pois nenhum judeu poderia desconhecer tanto o aramaico a ponto de dizer tamanho disparate.


Todos concordam que Jesus estava citando o Salmo 22.1. Mas porque ele o citou e declarou-se abandonado? Há duas explicações possíveis: ou Jesus estava enganado e não fora abandonado, ou estava dizendo a verdade. Eu, de minha parte, rejeito a primeira explicação. Para mim é inconcebível que Jesus, no momento de sua maior entrega, pudesse ter se enganado e que ser abandonado por Deus fosse imaginação dele.

A explicação alternativa é simples e direta. Jesus não estava enganado. A situação da cruz era a de Deus abandonado por Deus — e a separação deveu-se aos nossos pecados e sua justa recompensa. Jesus expressou essa terrível experiência de sentir-se abandonado por Deus citando o único texto da Escritura que faz essa profecia e que ele cumpriu de modo perfeito.


Para saber mais: Gálatas 3.6-14

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