segunda-feira, 7 de abril de 2014

A favela da alma


Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:18

Sociólogos, economistas, políticos e cientistas sociais têm se preocupado com a trágica realidade das favelas urbanas. Na verdade, elas são o retrato de uma sociedade desigual e excludente.

As favelas urbanas são também a vergonha explícita da nossa iniqüidade social. Tirar o homem da favela é o grande desafio urbano/humanístico.

É deplorável ver o homem na favela, também é lamentável constatar o crescimento de uma "favela" no coração do homem. Tirar a favela de dentro do homem é um grande desafio para os terapeutas, teólogos, conselheiros, educadores, em fim, para todos que tem um compromisso com a existência e dignidade humana.

A "favela interior" é o resultado do crescimento de um tipo diferente de pobreza, marcada pela ausência de sentimentos, valores e atitudes nobres, cada vez mais escassos em nossa sociedade materializada. Esta pobreza interior é denunciadora também de um "lixo interior" que o ser humano permite que vá se acumulando pelas esquinas da alma, ao longo da vida.

Pelo menos, três diferentes tipos de pobreza interior denunciam a existência de uma "favela" dentro de nós. 

Primeiro, é a pobreza de espírito, não tomada aqui como uma virtude ressaltada por Jesus Cristo, no Sermão do Monte mas, como um espírito pobre, cuja pobreza se dá pelo excesso de egoísmo, maldade, mesquinhez, avareza, arrogância e outros sentimentos desta natureza.

Alguém pode ter muito dinheiro, bens ou propriedades, todavia, se possuir um espírito pobre, vive numa grande miséria. São pessoas desprovidas da verdadeira riqueza, que é a riqueza do "ser", onde os sentimentos, valores e atitudes nobres constituem o maior patrimônio.

Uma segunda pobreza interior que denuncia a "favela" que habita em nós, é apobreza espiritual. É o coração humano vazio de fé, esperança, enfim, vazio de Deus. A ausência de Deus no ser humano empobrece a sua vida.

A fé é de um valor imensurável e enriquece a existência na medida em que liberta a vida dos limites da matéria, abrindo as cortinas do infinito e do sobrenatural. "Tudo é possível ao que crer".

Por fim, a "favela" que existe dentro do homem é fruto também da pobreza afetivaprovocada pela ausência do amor. Quem não ama vive mergulhado numa verdadeira miséria existencial, desprovido de tudo que dignifica e enobrece a vida.

Até a religião sem amor se transforma em fanatismo e radicalismo. O amor produz a compaixão, o perdão e a solidariedade. O amor enriquece a vida!

Esforçar-se para tirar o homem da favela e tirar do seu caminho o lixo que a sociedade produz é uma tarefa tão nobre quanto urgente.

Todavia, é também urgente e igualmente nobre, o esforço para retirar a "favela" de dentro do homem, e limpar a sua alma do lixo produzido pelos sentimentos mesquinhos e pela ausência de Deus.

A verdadeira riqueza é a presença de Deus em nós.

Estêvam Fernandes Oliveira

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