sexta-feira, 24 de julho de 2015

Nao devo ser pobre nem rico?


A oração de Agur no capítulo 30 de Provérbios busca um caminho do meio entre pobreza e riqueza, dando suas razões para isso: Se for muito pobre poderá roubar, se for muito rico poderá se esquecer de Deus. O desejo de Agur é correto, mas não seria correto transformar isso em uma doutrina para a vida do cristão. Devemos sempre entender que o livro de Provérbios ensina a sabedoria e o bom senso para esta vida e para qualquer ser humano, seja ele convertido ou não.


Quando lemos a Bíblia devemos saber "manejar" ou "repartir" a "palavra da verdade" (2 Tm 2:15), isto é, entender a quem cada porção dela foi dirigida, e com que propósito. Aliado a isto, devemos entender que a revelação de Deus só ficou completa com o Novo Testamento, em especial com as epístolas dos apóstolos que trouxeram à tona mistérios desconhecidos até mesmo dos autores do Antigo Testamento.

Apenas a Paulo foram revelados ao menos nove mistérios que eram completamente desconhecidos antes: O mistério do evangelho da graça de Deus (Rm 16:25-26); o mistério do endurecimento de Israel por um tempo (Rm 11:25-27); o mistério do arrebatamento e da ressurreição do corpo de Cristo (1 Co 15:51-53); o mistério do um só corpo, a Igreja (Ef 3:1-9); o mistério da cidadania ou vocação celestial do crente no corpo de Cristo (Ef 1:3; Fp 3:20-21); o mistério do propósito de Deus de reunir todas as coisas em Cristo na dispensação da plenitude dos tempos (Ef 1:9-10); o mistério da graça de Deus (Rm 6:14); o mistério da identificação do crente com Cristo (1 Co 15:1-4); o mistério da iniquidade (2 Ts 2:6-12).

Por isso devemos entender que existem diferentes patamares de conhecimento na Palavra de Deus, e quando encontramos uma verdade no Antigo Testamento devemos buscar no Novo se ocorreu, por assim dizer, um upgrade, como nas partes em que Jesus diz: "ouvistes o que vos foi dito... eu porém vos digo". Talvez uma figura que ajude a lidar com isto seria imaginar o Velho Testamento como a terra onde nossos pés ainda estão e o Novo Testamento como o céu onde nossa mente já está. Nós aprendemos no Velho princípios para o nosso andar aqui, mas é do Novo que vem o entendimento desse andar.

Portanto não se esqueça de que Provérbios é um livro de sabedoria para o homem natural vivendo na terra, ou seja, ali aprendemos a viver aqui no mundo de modo a evitar problemas, o que serve tanto para o crente quanto para o incrédulo. A ênfase demonstrada na repetição da frase "filho meu" também demonstra termos ali princípios bastante apropriados para o homem na sua juventude, quando ainda não atingiu a idade adulta, ainda que isto não seja uma regra do texto.

Quando vamos para as epístolas temos um patamar mais elevado, pois a sabedoria ali é para o novo homem, que já não pede mais um meio termo entre riqueza ou pobreza, porém fica satisfeito com o que Deus determinar, inclusive com os extremos. O cristão já não avalia a si mesmo ou ao seu irmão com base no que tem ou não tem, pois Deus pode querer que uns tenham e outros não. O cristão vive no contentamento de ser suprido de acordo com a vontade de Deus, o que pode incluir apenas as suas necessidades, mas pode ser também de uma abundância que inclua as necessidades também de seus seus irmãos.

Quando vejo alguns cristãos defenderem que devem ser pobres eu me lembro do caso de José de Arimateia em Marcos 15:43: "Chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus." José era um homem rico e influente, e é dele, e também de Nicodemos, que fala a profecia de Isaías 53:9, que diz: "E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte". Foi no túmulo desse homem rico e influente que o corpo de Jesus foi sepultado, depois de preparado, às custas de Nicodemos, com 34 quilos de uma mistura de mirra e aloés? A passagem em João 19 não revela o custo dessa mistura, mas podemos imaginar que fosse de milhares de dólares em dinheiro de hoje. O frasco de alabastro que a mulher em Marcos 14 quebrou para derramar seu unguento e ungir a Jesus foi avaliado em 300 denários pelos discípulos, o equivalente ao salário de um ano de um trabalhador. Imagine o quanto Nicodemos gastou com 34 quilos de unguento.

A pergunta é: Será que Pilatos teria recebido algum dos pescadores discípulos de Jesus? Provavelmente não. Mas um"senador honrado" tinha acesso ao governador, e Deus proveu um discípulo assim para aquela hora e também para doar o túmulo e o lençol para o corpo de Jesus, além de Nicodemos para pagar por todo aquele unguento aromático. Por sua soberana vontade Deus possui diferentes pessoas em diferentes postos na sociedade, e a responsabilidade destes é aprenderem a se contentar com o que possuem, seja a riqueza, a pobreza, ou um meio termo, como desejava Agur no capítulo 30 de Provérbios. Mas se ficarmos apenas com os pés no chão, como Agur, buscando só a sabedoria para a vida aqui conforme é apresentada em Provérbios, perderemos de vista o patamar mais elevado ao qual o apóstolo Paulo nos conduz em sua epístola aos Filipenses:

Fp 4:11-13 "Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece."

O apóstolo Paulo mostra uma experiência que vai além da experiência de Provérbios, colocando-se numa condição na qual ele já não pede nem riqueza, nem pobreza, nem um meio termo, mas deixa tudo nas mãos do Senhor. Por isso ele diz que sabe estar contente em todas as situações. Se em Provérbios encontramos Agur, dizendo de si mesmo ser bruto e ignorante, dependendo da sabedoria de Deus para esta terra e esta vida, na epístola vemos Paulo se colocando em um patamar superior ao homem na terra, porque ele mostra de onde vem o poder para estar contente em qualquer situação.

Hoje muitos cristãos assumem para si as promessas de prosperidade feitas a Israel no Antigo Testamento, caindo no erro da cobiça e ganância. Querem ser ricos a todo custo e ainda buscam no Antigo Testamento versículos para tentar amparar suas concupiscências carnais. No outro extremo temos os que pregam a pobreza extrema, como algumas ordens monásticas do catolicismo. Não se engane: a carne gananciosa é tão ruim quanto a carne religiosa. Conheci um grupo que se reunia sobre a premissa de que todo cristão devia ser pobre, e cada um ali se esforçava para parecer humilde. Perguntei ao líder deles o que faria se Deus quisesse que ele fosse rico, e ele respondeu que nunca seria, mesmo que Deus quisesse! O grupo se desfez depois que esse mesmo líder abandonou esposa e filha para se juntar a uma colega do trabalho.

A passagem de Provérbios 30 pode servir de antídoto à inclinação da carne, da qual fala a continuação do texto ao citar a sanguessuga que é insaciável. O homem sempre irá naturalmente querer poder e riquezas. Mas, por outro lado, o homem é também naturalmente religioso e existem aqueles que querem ser pobres para serem vistos como mais piedosos do que os que tem alguma riqueza. Todavia, seja na abundância, seja na necessidade, o cristão que tem sua mente nos céus pode dizer: "Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece".

por Mario Persona 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Homens casados: seu hábito da pornografia é um hábito de adultério




Eu conheço um cara que trai sua esposa. Ele a trai todos os dias. Ele trai múltiplas vezes por dia. Ele é um marido, um pai e um adúltero serial.

Eu não deveria saber deste fato sobre ele, mas ele me contou em uma conversa há alguns dias. Estávamos falando sobre o índice de divórcio; ambos demos nossas teorias a respeito de porque as estatísticas são tão altas. Eu mencionei em meu diagnóstico de alguns estudos que mostram que a pornografia é a causa em mais de 50 por cento dos divórcios por ano.

Ele riu. "As pessoas não se divorciam por causa de pornografia". Ele passou a explicar que a pornografia não é um "grande problema" para a maioria das pessoas. Não é "como se estivesse traindo ou algo assim". Ele me disse que vê várias vezes por dia. Sua esposa, insistiu ele, ficaria irritada se soubesse a total extensão de seu hábito, mas só porque as mulheres reagem de forma exagerada sobre "esse tipo de coisa."

Que tipo de coisa? Que seus maridos passam os dias obsessivamente mergulhados nas regiões mais obscuras da internet em busca de imagens sexuais explícitas de estupro, abuso, perversão, exploração e outras formas de depravação imunda até então desconhecida para a humanidade?

É. Esse tipo de coisa. Não há razão por que qualquer mulher fique muito chateada com isso, aparentemente.

Pornografia = Adultério

Ouçam homens, eu sei que esta é uma conversa desconfortável. Mas está na hora de ser homem e cair na real sobre a pornografia. Suas prioridades: se você é casado e assiste pornografia, você está enganando e ponto final.

De uma perspectiva cristã, isso não gera dúvida alguma. Cristo colocou-o de forma muito clara: "se você olhar para outra mulher para cobiçá-la, já em seu coração cometeu adultério." (Mt 5:28)

Quando assistimos pornografia estamos escolhendo sucumbir a esse desejo; estamos nos entregando a ele, fertilizando-o, dando-lhe espaço em nossas mentes. Estamos mergulhando nele e o absorvendo como uma esponja. Estamos diminuindo a nós mesmos, traindo nossas esposas e participando da exploração violenta de mulheres (e meninas).

Nossas mentes e corpos pertencem ao Senhor e as nossas esposas; por isso a pornografia se torna uma invasão em domínios que não pertencem à ela. Se buscamos a pornografia, somos adúlteros. E o somos da pior forma.

Não precisamos sequer nos referir às Escrituras para descobrir a equação simples que a pornografia é igual a adultério.

Por que não seria?

Porque você não está fisicamente em contato com outra mulher?

E daí? Isso é apenas uma questão de semântica e circunstância. A ausência de contato físico não automaticamente o livrará da culpa - se fosse assim, sexo virtual com outras mulheres seria um jogo inocente, eu suponho.

Como você se sentiria se olhasse o celular de sua esposa e descobrisse mensagens de texto picantes, sexualmente explícitas enviadas a um homem em seu escritório? Estaria tudo bem, contanto que ela pudesse provar que nunca teve qualquer contato físico com ele? Ou isso é totalmente diferente, porque ela conhece aquele homem, ao passo que a pornografia é anônima e impessoal? Vemo-nos construindo muitas linhas arbitrárias de distinção quando estamos determinados a racionalizar o comportamento que instintivamente sabemos ser imoral e errado.

Mas, tudo bem, e se ela não conhecesse o sujeito? E se ela estava apenas envolvida em "fantasias" com homens que ela nunca conheceu? Imagine que, em suas viagens virtuais, você tropeça em um site pornô com fotos e vídeos de uma jovem particularmente atraente: sua esposa. Como seria isso para você? Sua esposa vendendo sexo digital por toda a internet – O que você pensaria disso? Pode causar um pouco de briga no casamento você não acha?

Veneno irreversível

Se você não gostaria de ver sua esposa sendo uma fornecedora de pornografia, você pode entender por que ela não quer que você seja um consumidor de pornografia. Se você não gostaria que ela convidasse e incentivasse outros homens a violentá-la em suas mentes, você deve entender por que ela não iria querer que você aceitasse o convite para violar outras mulheres na sua mente.

Não quero me concentrar apenas em homens casados. A pornografia é um veneno para todos, casados ou não.

E eu não estou aqui para acusá-lo, se você tropeçou. Vivemos em uma sociedade que oprime as fraquezas de um homem, esfregando sensualidade em seu rosto a uma hiper velocidade todos os dias, o dia todo, o tempo todo. Isso não é uma desculpa; apenas uma tentativa de colocar as coisas em contexto.

Eu não vou insistir com alguém que luta contra um vício da pornografia mais do que eu insistiria com quem luta contra um vício de crack. Mas pelo menos o viciado em crack provavelmente não vai encontrar muitas pessoas (além do seu traficante) que vão dizer-lhe que é realmente saudável fumar crack. Se ele se aventurar para fora do barraco abandonado onde ele inala seu narcótico, ele provavelmente não vai encontrar nenhuma pessoa respeitável que diga, "Ei, o crack não é um grande problema - é totalmente natural fumar crack, homem!" Nessa forma, o fumante de crack tem uma vantagem sobre o viciado em pornografia. O viciado em pornografia, pelo contrário, tem que lutar tanto contra a própria compulsão e a miríade de sugestões subjetivas que tentarão convencê-lo de que tudo não passa de um pouco de diversão inocente.

Isso é uma mentira, é claro. Não é inocente. Não é divertido.

Decisão definitiva em prol da sanidade e da família

Eu poderia citar para você um monte de pesquisas psiquiátricas provando os efeitos negativos da pornografia no cérebro. Mas você pode fazer a pesquisa por si mesmo.

Eu poderia falar-lhe sobre a escravidão sexual, tráfico de seres humanos, abuso de drogas e abuso sexual infantil, e eu poderia explicar como a indústria pornô não existiria sem estes ingredientes necessários. Mas essas são conclusões que você pode encontrar em si mesmo, se alguma vez você ainda dispuser de um momento para pensar sobre isso.

Eu poderia lembrar que essas mulheres que você encontra em sites pornográficos podem não ser mulheres ainda – talvez sejam adolescentes, meninas - e não há nenhuma maneira de você saber com certeza. Eu poderia, então, salientar que qualquer cliente pornô ávido tem provavelmente, em algum momento, sido um cliente de pornografia infantil, quer ele saiba ou não. Mas esta é, de fato, uma realidade óbvia e inevitável.

Eu poderia dizer-lhe que muitas crianças têm contato com a pornografia antes dos 12 anos. E eu poderia dizer que nós ainda nem começamos a colher os frutos atrozes que virão de toda uma geração criada sob o efeito das perversões hediondas da pornografia na internet. Mas é provavelmente tarde demais para esses avisos.

Então o que resta? Talvez nada, realmente. Pornografia é um mal, vazio, funesto, sujo - isso é algo que todos sabemos. É por isso que, a menos que você seja psicótico ou totalmente desprezível, você não gostaria que sua filha entrasse para o ramo da pornografia. É por isso que a maioria das pessoas esconde seus hábitos pornográficos. É por isso que ainda não é considerado aceitável procurar sites "adultos" no computador do seu trabalho ou em uma mesa de cafeterias (embora as pessoas ainda o façam, em ambos os cenários). É por isso que você só encontra lojas de pornografia e clubes de strip tease nas partes mais degradadas e perigosas da cidade.

Não importa o quão hedonista e mente aberta nos tornamos, ainda reconhecemos a pornografia como algo que deve ser guardado nos embolorados cantos escuros de nossas vidas. Esta é a Lei Natural, e não podemos fugir dela. Nós temos uma compreensão inata do certo e errado, quer queiramos ou não.

Homens casados: Penso que deveríamos gastar nosso tempo livre com a família, ou a leitura de livros interessantes para que possamos aperfeiçoar nossas mentes, ou construir coisas, ou fazer exercícios, ou fazer qualquer outra coisa que nos torne melhores homens. Pornografia não fará de você um homem melhor. Ela o faz menor. Ela faz de você um mentiroso. Ela pode matar esse instinto dentro de você que o chama a proteger e honrar as mulheres. Ela vai transformá-lo em algo que você nunca quis ser. Em um pervertido rastejante e vergonhoso.

Ela vai transformá-lo em um adúltero.
***
Autor: Matt Walsh
Fonte: The Matt Walsh Blog
Tradução: Stael Pedrosa Metzger

Seria o cristao individualmente igreja?


Na tentativa de justificar a igreja como uma instituição, ou as denominações como instituições, você acabou tecendo um raciocínio ímpar, afirmando que o cristão seria individualmente igreja e a igreja seria coletivamente um "pregador".



Quando respondi mostrando que a igreja é o corpo de Cristo e o cristão, individualmente, é apenas um membro desse corpo, e que o papel da igreja não é evangelizar, mas dedicar-se à comunhão dos santos, à doutrina dos apóstolos, ao partir do pão e às orações (Atos 2:42), ficando a evangelização como responsabilidade individual do cristão, você rebateu: "Se a igreja é todo o cristão que crê, sua proposição de que o papel da igreja não é pregar o evangelho está na contra-mão."

Não, igreja não é "todo o cristão que crê" porque igreja não é algo pessoal e individual. Um cristão não é igreja, a menos que você quisesse dizer que "igreja é formada por todos os cristãos que creem", o que então estaria correto. O cristão individualmente é membro do corpo de Cristo. A igreja é um corpo coletivo formado por muitos membros. O cristão individualmente é apenas membro do corpo, ele não é o conjunto. A igreja (o conjunto) não prega o evangelho e nem ensina. Os membros desse corpo, cada cristão individualmente, pregam e ensinam. Cristo deu dons (indivíduos) à igreja para a edificação do corpo de Cristo. Ele não deu o corpo de Cristo, a igreja, para edificação de si mesma.

Ef 4:11-12 "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo"

Ainda assim você voltou a escrever insistindo que, se o conjunto é igreja, então o individual seria igreja também, e foi além afirmando que você é individualmente noiva de Cristo! Vamos ver se de uma vez por todas eu consigo explicar esse equívoco seu. Em Mateus 18 você tem cada coisa em seu lugar. Lá existe um irmão tratando com outro individualmente e depois ele sendo exortado a levar a questão à igreja, demonstrando assim que o cristão individualmente não é igreja. Ele ainda é exortado a levar um ou dois outros irmãos como testemunhas para resolver a questão, mas ainda assim esses dois ou três não são considerados igreja, nem cada um individualmente, nem o fato de formarem um coletivo. Se fossem, o Senhor não diria que o assunto devia ser levado à igreja, o que indica que esta, na sua forma na terra, é algo distinto de um cristão individual, ou até de dois ou três agindo em individualidade. 

A igreja nunca é uma pessoa, mas o corpo de Cristo representado por dois ou três (não um apenas) congregados ao seu nome e reconhecendo sua autoridade em seu meio. Repare que não são dois ou três que se reúnem, mas que são reunidos ou congregados, o que se deduz que exista um elemento reunidor, no caso o Espírito Santo. Dois ou três quese reúnem formam aqueles que acompanham o ofendido na tentativa da reconciliação do versículo abaixo, mas eles ainda assim não são igreja. 

Mt 18:15-20 "Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra [como igreja, e não individualmente ou em conjunto com outros indivíduos] será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu... Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." 

Tudo é muito claro na palavra de Deus, e em um outro versículo Paulo explica o lugar de cada um, mostrando o que é igreja e o que é membro do corpo. Em 1 Coríntios 12:27 ele diz: "Ora, vós [plural] sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular." Percebe a distinção que o apóstolo faz? O conjunto é igreja, o particular é membro. Se você achar que o crente é individualmente "igreja", então ele será também individualmente a noiva de Cristo, o que irá gerar uma confusão ainda maior. Aí as bodas seriam com cada cristão individualmente, mas o que vemos em Apocalipse é que a igreja (o corpo formado por todos os salvos) que desce ataviada para o noivo. 

Já vi muitos cristãos fazerem afirmações do tipo "eu sou igreja""você é igreja", mas isso biblicamente não é correto e conduz também a outros erros. Se cada cristão individualmente fosse a igreja, então poderia ser dito que a igreja não só prega o evangelho como também ensina doutrina. Mas então teríamos uma contradição, pois a igreja é mulher (Noiva) e a mulher é proibida de ensinar em 1 Timóteo 2:12. O catolicismo romano é que acredita que "a igreja ensina", mas o Senhor condena de forma veemente isto em Apocalipse 2:20: "Tenho contra ti que toleras Jezabel,mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos"

por Mario Persona 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

AS 4 ESTAÇÕES DO CASAMENTO

AS 4 ESTAÇÕES DO CASAMENTO | Esboço de Sermão - Pregações e Estudos Biblicos
AS 4 ESTAÇÕES DO CASAMENTO | Esboço de Sermão – Pregações e Estudos Biblicos
AS 4 ESTAÇÕES DO CASAMENTO.
Ct 2.11-13
Introdução: Nesta linda poesia de amor, autor dos Cânticos dos Cânticos cita a primavera, o verão, o outono e o inverno. O noivo anuncia para sua amada que chegou a primavera e o inverno já se foi. As quatro estações do ano têm as suas peculiaridades e podem ser um exemplo para a vida conjugal.
1ª- Estação – PRIMAVERA: v.12 “aparecem as flores na terra, chegou o tempo de cantarem as aves”
A primavera é marcada pela beleza das flores e do canto dos pássaros.
Alguns cuidados tomados na primavera são a exposição ao sol, pois os dias são mais longos e alergias devido ao intenso cheiro de pólen das flores.
Praticamente todos os relacionamentos começam com uma primavera romântica. Tudo parece belo e formoso. Desde o cheiro no ar ao som do canto de pássaros são agradáveis e contribuem para o bem estar do casal. Todo casal precisa aproveitar a primavera do seu relacionamento e guardar sua beleza o máximo possível.
Ainda há flores e perfumes em seu casamento?.
Anuncie a chegada da primavera para seu cônjuge!
2ª- Estação – VERÃO: v.11 “cessou a chuva e se foi”
O verão é marcado pelo calor e muita chuva. As férias e passeios agradáveis também fazem parte deste tempo.
Neste período é necessário tomar cuidado para se proteger dos temporais que podem surgir a qualquer momento.
Quando o verão chega ao casamento, a relação se torna mais quente. Contudo alguns temporais tendem a perturbar a paz do casal. O casal deve aproveitar ao máximo as oportunidades de lazer, sem esquecer que as férias passam rapidamente e logo recomeçarão sua rotina de vida. Se vier uma tempestade é só aguardar que ela passa e logo o sol volta a brilhar.
Seu casamento ainda está quente?
Proteja-se dos temporais!
3ª- Estação – OUTONO: v.13 “a figueira começou a dar seus figos, e as vides em flor exalam o seu aroma”
O outono é o tempo das frutas. As frutas trazem as vitaminas necessárias para a saúde, bem como o prazer de saboreá-las.
Durante o outono o ar se torna mais árido, então é preciso tomar cuidado para hidratar o corpo e se proteger de doenças respiratórias.
Quando um casal começa a colher frutos de seu relacionamento, então é sinal de que o outono já chegou. Os filhos, a conquista de bens e a realização de sonhos podem ser considerados frutos do outono do casamento. Contemplar os frutos traz prazer ao relacionamento do casal.
Você tem frutos em seu casamento?
Nunca se esqueça das bênçãos recebidas!

4ª- Estação – INVERNO: v. 11“porque eis que passou o inverno”
O inverno é um período frio e de noites mais longas. Este é um tempo de comer e dormir mais.
É preciso agasalhar para proteger-se do inverno. As comidas quentes são uma boa forma de se aquecer e alimentar-se.
Quando o inverno chega ao casamento não podemos deixar o amor dormir nem esfriar. É preciso tomar atitudes calorosas para reacender o amor. A indiferença é a pior forma de frieza que um relacionamento pode enfrentar. Quando as noites parecem ser longas e frias é bom aproveitar para se resguardar e ficar juntos, pois “se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará” (Eclesiastes 4.11).
Sua vida conjugal está esfriando?
Aqueça seu casamento com amor!
CONCLUSÃO: Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.. Ec 3.1. Precisamos sempre lembrar que tudo passa e depois do inverno sempre vem a primavera novamente.
Se enfrentarmos os momentos como se fossem durar para sempre não temos condições de vencer os momentos difíceis.
Saber que tanto as alegrias como as tristezas são passageiras nos dão sabedoria para saber esperar.
Em qual estação está o seu casamento?. Aproveite cada período com amor!
Pr.Israel Gonçalves.

Deuses falsos – a idolatria não está longe




O coração é uma fábrica de ídolos
. - 
João Calvino

O homem se afasta daquele que o fez quando acima dele coloca o que ele próprio fez. - Agostinho

Geralmente, quando tratamos de idolatria, associamos de forma quase imediata o culto prestado as imagens feitas por homens, associamos tais cultos a religiões pagãs ou a um cristianismo corrompido, como o do Catolicismo Romano. Na verdade, têm importância a frase de Friedrich Nietzsche: “Há mais ídolos que realidades no mundo”.[i]

Como dizia Calvino, nosso coração é uma fábrica de ídolos. Na verdade, nosso comprometimento com o pecado é um ato de idolatria, ainda que não estejamos diante de um poste ídolo como nos tempos antigos, estamos prestando culto e obediência a um ídolo ou ídolos do nosso coração. A idolatria, sem sombra de dúvida, é o pecado mais presente em nossa vida, nos diz Timothy Keller:

Nossa sociedade atual não é fundamentalmente diferente dessas antigas culturas. Cada uma delas é dominada por seu próprio conjunto de ídolos. Cada uma tem o seu “sacerdócio”, seus totens e rituais. Cada uma delas tem seus templos – sejam eles torres empresariais, spas, academias, estúdios ou estádios – onde os sacrifícios têm de ser feitos para que as bênçãos da boa vida sejam obtidas e os desastres sejam evitados. Quais são os deuses da beleza, do poder, do dinheiro, e do sucesso, se não os assumiram proporções míticas em nossa vida individual e em nossa sociedade? Podemos não ajoelhar fisicamente diante de uma estátua de Afrodite, mas muitas jovens de hoje são levadas a depressão e disfunções alimentares por uma preocupação obsessiva com a imagem. Podemos não queimar incenso a Ártemis, mas, quando o dinheiro e a carreira são elevadas a proporções cósmicas, realizamos algo como um verdadeiro sacrifício de criança, negligenciando a família e a comunidade para conquistar um lugar mais elevado no mundo empresarial e angariar mais riqueza e prestigio.[ii]

Ao sondarmos nosso coração com as lentes das Sagradas Escrituras, é fato concluirmos que toda idolatria do coração é promovida por autocomiseração, hedonismo e egoísmo. Quando não realizamos algo para glória de Deus isso é um ato idolátrico, porque tem um propósito último que não é Deus. Quando o homem firma um compromisso consigo mesmo que exclui Deus de seu bem, satisfação e felicidade, ele está contido nas amarras da idolatria, seus ídolos são seus sonhos, seus prazeres, seus bens, seu dinheiro, seu sexo, sua beleza, seu ego, sua vaidade. Todo aquele que não vive para a glória de Deus é um idolatra.

            
Diante disso, precisamos identificar as causas e o que nos levam a idolatria, como isso se desenvolve em nosso coração e como combater os ídolos do nosso coração. Na verdade qualquer coisa em nossa vida pode se tornar fonte de idolatria, até mesmo bênçãos que Deus nos deu podem ser tornar um ídolo. O desejo de Deus é que nosso coração esteja nele e não nas coisas. O desejo de Deus é que desfrutemos de suas bênçãos com santo temor. Quando digo temor não digo que devemos ser restritos em nos alegrarmos com o que Deus nos dá, não é isso, mas, digo que devemos sondar as motivações dos nossos corações.
            
Ao lidarmos com isso é necessário que entendamos que, por motivos legítimos, podem-se gerar atitudes idolátricas, exemplo: o desejo sexual é um motivo legítimo para se fazer sexo, mas, como prescreve a Bíblia, apenas dentro do casamento. Sexo fora do casamento, seja ele adultério ou fornicação, e ainda, pornografia e masturbação, são distorções do plano de Deus para a sexualidade humana como fato legítimo. É um ato idolátrico. Onde o prazer exalta-se em detrimento da vontade de Deus prescrita nas Escrituras. Outro exemplo, alguém pode desejar um bom emprego e ganhar um bom salário, mas, qual o fim supremo desse desejo? Será ser uma pessoa reconhecida e famosa, ou venerada e prestigiada por sua boa condição financeira? Ou cuidar bem da família, ajudar os mais necessitados, usar seus talentos para abençoar outras pessoas? O motivo pode ser legítimo, mas qual o fim último do desejo? Se não é a glória de Deus, é pecado, é idolatria.

A idolatria, um ato cultual
            
Ao palmilharmos no Antigo Testamento veremos que muitas vezes o povo de Deus cometeu atos absurdos de idolatria, tais como; o bezerro de ouro (Êx 32.4) que foi feito quando Moisés subiu ao monte e os bezerros feitos por Jeroboão (2 Rs 10.29). Algo interessante mencionarmos com relação aos cultos, tanto de Israel, quanto dos povos que o circundavam, são alguns fatores relacionados a sua estrutura:

       a) Um lugar sagrado
       b) Preceitos e mandamentos
       c) O sacerdócio
       d) Os sacrifícios

De forma íntima todas essas questões também estão ligadas a idolatria do nosso coração. O lugar sagrado é o ambiente que eleva o ídolo, que o exalta, que o adora. Os preceitos nos dizem claramente que, ao sucumbirmos a idolatria, estamos seguindo algum tipo de preceituação que não é a Palavra de Deus, estamos seguindo falsos deuses, falsos ensinos. O sacerdócio nos fala daquele que conduz o culto, comumente somos nós mesmos, quando pecamos deliberadamente contra Deus, quando violamos seus mandamentos e como rebeldes insubordinados, dizemos com nossa atitude pecaminosa que Deus não nos é suficiente. Os sacrifícios são nossos atos, nossa oferta ao ídolo, nossa fidelidade ao pecado. Existem mais alguns fatores que precisamos listar.

A exigência de todo ídolo – amor, confiança e obediência

Todo ídolo requer do homem três coisas: Amor, confiança e obediência. Em muitas passagens a Bíblia usa de forma metafórica os modelos de comportamentos para com os ídolos, nós os amamos, confiamos e obedecemos. Um exemplo bíblico que podemos usar aqui em relação ao amor é a história descrita no livro do profeta Oseias, sua mulher dada à prostituição ilustra Israel que adulterou o relacionamento de aliança com YHWH. Os ídolos nos cativam em amor, um amor platônico, cego, vazio, enganoso, amor que não satisfaz e é aí que muitas vezes desabrocha o vício, seja ele nas drogas, sexo, pornografia, dinheiro, poder. O segundo fator é a confiança, exercemos “fé” ou algum tipo de segurança no ídolo, uma falsa certeza. O ídolo é enganoso. Mentiroso! Falso! O terceiro ponto é a obediência que está ligada ao que falamos acima, sobre preceitos e mandamentos que vão de encontro a vontade revelada de Deus nas Escrituras, essa obediência ao ídolo nos torna incrédulos para com Deus, não cremos na providência divina, mas, na força do braço, do homem, do sistema, isso é idolatria.

As amarras da idolatria – sexo, poder e dinheiro

Temos aqui os três ídolos modernos que ocupam os templos dos corações pós-modernos – Sexo, dinheiro e Poder. Como podemos ver, tais ídolos são presentes em nossa época de forma evidente, não preciso exemplificar muito aqui para que você saiba do que estou falando. Com base em que recursos as grandes indústrias investem em propaganda e marketing? Sexo, dinheiro e poder. Quais as chamadas de comerciais das cervejarias? Mulheres seminuas, saradas, sugestionando-se aos homens que assistem o comercial. O que alimenta a jogatina no nosso país? O desejo por dinheiro! O que alimenta o tráfico de drogas em nosso país? O Dinheiro! O que leva jovens universitárias virarem prostitutas de luxo? Dinheiro! Como disse o Apóstolo Paulo, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Veja bem, não é o dinheiro em si, mas o amor a ele. O motivo de buscar dinheiro é legítimo, precisamos de dinheiro, mas, os meios usados de forma apaixonada são manifestações idolátricas. 

Por último fica o poder. O desejo de sobressair-se, de ser notório, poderoso, acima dos demais, concentrador de forças controladoras. Isso se manifesta em várias instâncias; no casamento, no namoro, na igreja, no trabalho, na convivência social. A questão aqui não é ter o poder, você pode ser um chefe na sua empresa, ou conseguir um doutorado, ou passar num concurso muito concorrido. A questão é o comportamento não condizente com o evangelho, que nos ensina a sermos humildes, pobres de espírito, reconhecendo que tudo que temos e somos é pela graça de Deus e não por simples mérito nosso, se conseguimos algo foi porque Deus nos dotou de capacidade. Ao nos portarmos de forma orgulhosa e soberba estamos cometendo idolatria, porque a soberba destrona a Deus e nos coloca no lugar que só cabe a ele.

O motivo da nossa existência 

A primeira pergunta do Catecismo Menor de Westminster diz:
Qual é o fim principal do homem?
Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre.

Para lutarmos contra os ídolos do nosso coração devemos seguir alguns conselhos das Escrituras.


Sonde o seu coração – "Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice." 1 Coríntios 11.28

Peça a Deus que esquadrinhe suas intensões – "E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno." Salmos 139.24

Onde está o seu maior prazer? – "Tenho desejado a tua salvação, ó Senhor; a tua lei é todo o meu prazer." Salmos 119.174

Quem são os seus conselheiros? – "Também os teus testemunhos são o meu prazer e os meus conselheiros." Salmos 119.24

A quem você está servindo? – "Ao Senhor teu Deus temerás; a ele servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome jurarás." Deuteronômio 10.20

Conclusão

A vida cristã de fidelidade ao Senhor requer de nós uma adoração permanente, como dizia Spurgeon “Se somos fracos na nossa comunhão com Deus, somos fracos em tudo”. A idolatria é uma ameaça permanente ao povo da aliança, contanto nos vale a advertência bíblica.

"E serviram aos seus ídolos, que vieram a ser-lhes um laço"Salmos 106.36

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Notas:

[1] Crepúsculo dos Ídolos, Friedrich Nietzsche. 
[2] Deuses Falsos, Timothy Keller, ed. Thomas Nelson

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Imagem: “Adoração ao bezerro de ouro”, óleo sobre tela do século XVII, do pintor italiano Andrea di Lione. Arte: Blog Bereianos.
Divulgação: Bereianos

Dois caminhos e dois destinos




Texto base: Salmo 1.1-6


INTRODUÇÃO

O salmo 1, de autor desconhecido, é uma introdução de todo o livro. Este salmo, juntamente com o salmo 2, não é especificamente uma oração como os demais salmos, mas uma afirmação peremptória. A primeira oração no livro dos salmos começa a partir do salmo 3. Não obstante o Salmo 1 é um salmo de sabedoria, e, portanto, é mais do que uma introdução, ele contém ensinamentos preciosos para nós. Neste salmo, vemos às pessoas inseridas em dois modos de vida e o destino final de ambas.  

O esboço analítico do salmo 1 pode ser dividido em três seções. Na primeira e na segunda seção, o salmista descreve um profícuo contraste entre duas classes de pessoas em suas respectivas categorias morais e espirituais – o justo e o ímpio (1.1-5). E, na terceira seção, o salmista conclui a sua declaração, mostrando o destino final dos justos e dos ímpios (1.6). 
EXPLANAÇÃO

1. O RETRATO DO JUSTO (1.1-3)

a) A sua condição (vs.1a)

O termo bem aventurado אשך (esher), no hebraico, é o nome de um dos filhos de Jacó – “Aser” (Gn 30.12-13). A estrutura dessa palavra, no masculino, é um plural [“alegrias”], e significa que o homem aqui descrito é “feliz, abençoado”. Na cosmovisão grega, a ideia de bem-aventurança μακάριος (makarios) era geralmente ligada a algum tipo de benção terrena, tal como saúde, prosperidade financeira, estabilidade, casamento, filhos etc., podendo, também, ainda que não exclusivamente, referir-se as coisas espirituais, como o conhecimento e a paz interior.  

No Antigo Testamento, especialmente nos salmos, podemos observar que a bem aventurança ou a verdadeira felicidade está intrinsecamente relacionada à confiança em Deus (Sl 40.4; 84.12); a estar debaixo da proteção de Deus (Sl 2.12; 34.8); em ser disciplinado e educado por Deus (Sl 94.12); a seguir a lei do Senhor (Sl 119.1-2); ter Deus por auxílio, esperança e senhor (Sl 146.5); ser escolhido de Deus para a salvação em Cristo Jesus (Sl 65.4); ter os pecados perdoados (Sl 32.1) e, por fim, temer a Deus e andar em seus caminhos (Sl 128.1).  

APLICAÇÃO PRÁTICA

A condição do homem justo é de plena felicidade! Todavia, esta felicidade não reside ou, tampouco, é proporcionada pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo status social, por amigos, pelo namoro, pelo casamento, entre outras coisas. Equivocam-se àqueles que pensam que a felicidade está nas bênçãos, e não no Deus das bênçãos! Antes, quão feliz e abençoado é o homem que está em Cristo (2Cor 5.17), que foi comprado e resgatado da escravidão do pecado, da lei e salvo da morte eterna (1Tm 2.6). A posição de felicidade que o homem bem aventurado e justo se encontra é espiritual! Quem não está em Cristo, não pode experimentar esta felicidade interna produzida pelo Espírito Santo.

b) O caráter do justo (vs.1)

O salmista descreve o justo em sua posição de feliz no aspecto passivo/negativo, isto é, “o que ele não faz”, enfatizando, assim, três classes de pecadores: ímpios, pecadores e escarnecedores; três manifestações de pecado: andar, deter e assentar; e três caminhos de pecado: conselho, caminho e roda.

Essa sinopse de pecados está disponível para o justo, entretanto, não é praticado por ele, ou seja, o justo não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e não se assenta na roda dos escarnecedores. Portanto, vejamos, então, as três atitudes “passivo-negativas” do justo – o que ele não faz.  
    
i. Não anda no conselho dos ímpios (vs.1b)

Os ímpios são pessoas deliberada e persistentemente perversas.[1] O justo, por outro lado, é conhecido por aquilo que ele evita; nas coisas que ele não faz; no que ele nega. Todavia, o progresso no pecado começa pelo andar no conselho equivocado, o qual, influenciando a pessoa, culmina na prática moral deste conselho, ainda que não explicitamente. Não andar no conselho dos ímpios, então, implica que a conduta do justo não é adaptada pelos padrões éticos do mundo. A mentalidade do ímpio, por sua vez, é contrária aos padrões de ética estabelecidos por Deus nas Escrituras. O cristão, portanto, não geri a sua vida pautando-se no conselho dos ímpios; antes, ele é passivo, evita agir de forma negativa a estes padrões.

Jó. 21-16 – ... longe de mim o conselho dos perversos.

O Antigo Testamento fornece alguns exemplos de pessoas que ruíram por seguirem os conselhos dos ímpios. Amnon, um dos filhos de Davi, seguiu o mau conselho de seu amigo Jonadabe e estrupou a sua meia irmã, Tamar (2Sm 13.1- 20). Este pecado, todavia, levou à desintegração da família de Davi, onde Absalão, indignado com o ato sórdido de seu irmão para com a sua irmã, decidiu matá-lo por vingança (para mais detalhes, veja 2Sm 13.23-36). Roboão, sucessor de Salomão, recusou dar ouvidos ao conselho dos anciãos sábios e optou por seguir a recomendação de seus jovens amigos. Como resultado, a nação de Israel se dividiu em dois reinos que nunca mais se reuniram (1Rs 12-1- 20).

 APLICAÇÃO PRÁTICA

O pecado começa com andar, que indica seguir os conselhos pecaminosos na prática, mas não ainda inelutavelmente, onde o homem, de tal modo envolvido, já não possui mais forças para libertar-se da prática do pecado e sair da condição decadente de fraqueza espiritual em que se encontra. Quando andamos no conselho dos ímpios, pecamos contra o Senhor e desprezamos seu conselho descrito nas Escrituras. Antes de tomarmos qualquer decisão, seja ela qual for, devemos aconselhar-nos primeiramente observando o conselho de Deus na sua Palavra (Pv 19.21), e, em seguida, com pessoas experientes, sábias e de confiança.

Provérbios 15-22 – Os planos fracassam por falta de conselho, mas são bem sucedidos quando há muitos conselheiros. (NVI)

ii. Não se detém no caminho dos pecadores (vs.1c)

Conforme vimos, o justo não anda no conselho dos ímpios. Agora, vemos que ele também é passivo nas coisas manifestas, preferindo não se deter. O justo se não vive da maneira que os pecadores vivem, isto é, numa vida baseada no pecado deliberado. “Os pecadores, contudo, são aqueles que erram os alvos determinados por Deus, mas não se importam com isso”.[2]  

APLICAÇÃO PRÁTICA

Não se deter no caminho dos pecadores é não fazer associação, aliança com eles. Em contrapartida, isso também não significa que o cristão terá de insular-se dos ímpios e não se relacionar com eles de forma alguma. O salmista não tinha isso em mente. Antes, não é bom que o cristão tenha amizade profunda, se relacione amorosamente nem, tampouco, se case com quem não professe a fé no Deus das Escrituras. Todavia, podemos e devemos nos relacionar com os ímpios, porém em um nível restrito. Devemos evitar um relacionamento profundo com eles, com exceção do marido, esposa e filhos. Nosso maior objetivo para com os ímpios é evangeliza-los, a fim de que, se for da vontade de Deus, alguns deles venham a ser alcançados e salvos por Cristo Jesus. 
  
iii. Não se assenta na roda dos escarnecedores (vs.1d)

Se o justo não anda no conselho dos ímpios, e não se detém no caminho dos pecadores, ele, dessa vez, é passivo e não busca se assentar na roda dos escarnecedores. O assentar é o último e o mais torpe estágio de uma vida arraigada no pecado. No hebraico, a palavra escarnecedores לךץ (lûs), traz a ideia de uma pessoa que “faz caretas, que zomba das coisas divinas; um imitador sarcástico que ridiculariza pessoas, coisas e, especialmente Deus, demonstrando, assim, um profundo desprezo por esses”. Warren Wiersbe diz que os escarnecedores são aqueles que fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado.[3] O homem neste estado é peremptoriamente obstinado pelo hábito de uma vida pecaminosa.
      
Hermisten Maia sintetiza que esse homem familiarizou-se com os conselhos dos ímpios; daí, ele passa, então, a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho dos pecadores e, por fim, se assenta na roda dos escarnecedores. Aqui há um agravamento de sua situação pecaminosa; ele passa a zombar das coisas santas.[4] Derek Kidner afirma que as três frases mostram três aspectos, e, realmente, três graus de separação de Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes e a adoção da sua atitude mais fatal.[5]
     
APLICAÇÃO PRÁTICA

John Stott ressalta com propriedade que o justo não modela sua conduta pelo conselho de pessoas más. E mais, os justos não se demoram na companhia de ímpios persistentes; muito menos ficam “permanentemente” [ainda que estejam sujeitos temporariamente – minha ênfase] entre os cínicos que zombam de Deus abertamente.[6] Calvino, por sua vez, complementa, observando que, mesmo que uma pessoa, em especial, o cristão, não tenha todo o aviltamento provido dos maus exemplos, no entanto é possível que se assemelhe aos escarnecedores perversos, ao imitar espontaneamente seus hábitos corruptos.[7] 

c) As virtudes do justo (vs.2)

Depois de esboçar o aspecto passivo/negativo do justo, destacando aquilo que ele não faz, o salmista, agora, mostra o justo em sua posição de felicidade no aspecto “ativo/positivo” (vs.2-3), ou seja, aquilo que ele faz. Sendo assim, vejamos, então, as três atitudes “ativo/positivas” do justo – a saber, o que o justo faz.  

i. Tem prazer na lei do Senhor (vs.2a)

Em vez de andar no conselho dos ímpios, se deter no caminho dos pecadores, e se assentar na roda dos escarnecedores, o homem feliz é caracterizado pelo prazer que tem na lei de Deus. O substantivo prazer ץפע (hephes), no hebraico, acentua “um desejo por algo valioso”. Basicamente traz a ideia de “inclinar-se para algo com interesse nesse algo”. A expressãolei do Senhor refere-se não apenas à lei de Moisés [o pentateuco], mas a Escritura num todo.

APLICAÇÃO PRÁTICA

É preciso que cultivemos o hábito de ler a Palavra e descobrir dentro de um processo de aprendizado, o prazer em cumpri-la. O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e corações para ela. Ao invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a orientação em nossas decisões. Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus, passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos.[8] 

Salmo 119.24 – Teus testemunhos são meu prazer e meus conselheiros.(Almeida Século 21)  
      
Salmo 112.1 – Bem aventurado o homem que teme ao Senhor e tem grande satisfação em seus mandamentos. (Almeida Século 21) 
       
Salmo 40.8 – ... agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei

ii. Medita na lei do Senhor de dia e de noite... (vs.2b)

Do prazer pelas Escrituras e pela sua observância na vida prática, nasce o desejo de meditar nela diligentemente, de dia e de noite. No hebraico, o termo medita הנה (haghah), significa “refletir; contemplar algo; pensar detidamente; proferir palavras com voz baixa e suave”. Este verbo representa algo tranquilo diferente do sentido de meditação enquanto exercício mental. No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores. Dessa tradição vem um tipo especial de oração judaica chamada reza, ou seja, recitação de textos, oração intensa ou estar absorto em comunhão com Deus, curvando-se ou balançando-se para frente e para trás. Essa forma dinâmica de meditação remonta evidentemente ao tempo de Davi.[9] 
  
APLICAÇÃO PRÁTICA

O verbo meditar, em sua origem latina, significa, entre outras coisas, “preparar para a ação”. A meditação nas Escrituras, portanto, não é um fim em si mesmo; antes, o seu propósito é conduzir-nos a viver na prática aquilo que meditamos. J.I. Packer corrobora que a meditação é o ato de trazer à mente as várias coisas conhecidas sobre os procedimentos, as peculiaridades, os propósitos e as promessas de Deus; pensar, deter-se nelas e aplicá-las à própria vida.[10] O meditar na Palavra e nos feitos de Deus, salienta Hermisten Maia, é uma prática abençoadora pelo fato de ocupar nossas mentes e corações com o que realmente importa; estimula a nossa gratidão e perseverança em meio às angustias.[11]

É lamentável como grande parte dos cristãos de hoje não têm o prazer de meditar na lei do Senhor de dia e de noite. Que venhamos a estar continuamente meditando nas Escrituras, pois é desse ato que procede o crescimento na santificação (Jo 17.17). Charles Hodge assevera que não podemos fazer progresso na santidade a menos que empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre ela; pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.[12] Sendo assim, o homem bem aventurado e justo é aquele que ama meditar e obedecer a lei do Senhor.   
Josué 1.8 – ... antes, medite nele [no livro da lei] de dia e de noite, para que tenha cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem sucedido.       

c) A posição do justo (vs.3)

Além de ter sublinhado o estado de bem aventurança e o caráter do homem justo (vs.1-2), o salmista, dessa vez, lista três aspectos de sua posição na graça de Deus. Então, quais são as virtudes do justo?   

i. Estável na vida cristã (vs.3a)

Fazendo uso de uma metáfora, o salmista diz que o justo é como árvore plantada à beira de águas correntes. (NVI) Por causa do solo essencialmente árido em Israel no Antigo Testamento, uma árvore frondosa servia como um símbolo apropriado de benção. A palavra plantada indica que o justo não tem raízes acidentalmente e nem tem iniciativa própria de plantar-se. Árvores não são plantadas sozinhas e nem pecadores se transportam sozinhos pela vontade própria para o reino de Deus. O pecador é morto espiritualmente e incapaz de se voltar para Deus em arrependimento e fé (Ef 2.1-3; Rm 3.10-11).     

Contudo, o justo foi enraizado junto a correntes de águas (ARA), que simboliza a graça maravilhosa de Deus que o vivificou e salvou da morte eterna. “Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta; precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual”.[13] Logo, o propósito de Deus em plantar o homem no solo fértil de sua graça divina por meio de Cristo Jesus é viver uma vida que o glorifica, o que veremos mais detidamente a seguir, como outra virtude do justo. 
   
ii. Produz frutos (vs.3b)

O propósito de Deus plantar o homem no solo fértil da sua graça é a produção de frutos de justiça que glorifiquem o seu nome (Jo 15.16). O homem não é salvo pelas obras, mas para as boas obras; em outras palavras, não pelos bons frutos, mas para os bons frutos (Ef 2.10). Note que a árvore não dá o seu fruto logo após ser plantada, mas, sim, na estação própria, no tempo certo, no tempo de Deus.

APLICAÇÃO PRÁTICA

Os frutos aqui são variados, e podem se referir a uma vida piedosa, o serviço diligente na obra do Senhor, contribuir financeiramente, evangelizar, presença frequente nos cultos, entre outras coisas. Desse modo, percebemos, aqui, um incentivo à perseverança na fidelidade a Deus, pois a obediência aos seus preceitos produz frutos, porém não imediatos, mas no tempo certo; e em alegria iremos colhê-los. Nem sempre vamos colher todos os frutos nesta vida como resultado da nossa dedicação a Deus. Mas, na eternidade, quando estivermos na terra restaurada, iremos colher todos os frutos, como resultado do nosso serviço e obediência ao Senhor prestados nessa terra.           

William McDonald escreve:  

O homem que está separado do pecado e separado para as Escrituras tem todas as qualidades de uma árvore forte, saudável e frutífera plantada junto a ribeiros de águas – ele tem suprimento de alimento e refrigério que nunca falha. Isso faz com que seus frutos aparecem na estação apropriada. Ele mostra a graça do Espírito, e suas palavras e ações são sempre oportunas. Suas folhas também não murcharão – sua vida espiritual não está sujeita a mudanças cíclicas, mas é caracterizada pela renovação contínua interior.[14] 

As intempéries que sobrevêm na vida do homem bem aventurado não tem o poder de fazer murchar “suas folhas verdes”, tirando a sua alegria de servir a Deus em fidelidade e permanecer firme em seus caminhos. O homem bem aventurado, sobretudo, é uma árvore plantada; suas raízes estão arraigadas no solo da graça divina, onde ele tem todos os nutrientes para permanecer firme e crescer com vigor espiritual. As árvores plantadas pelo Senhor podem até se secar durante um tempo, que implica um período de fraqueza espiritual e pecado que o cristão está passível a cair. No entanto, a árvore plantada no solo da graça não pode morrer, ou, em outras palavras, não pode apostatar-se da fé, rejeitando o Senhor Jesus. A árvore que morre nunca foi plantada por Deus! 

Jeremias 17.7-8 – Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto.

João 6.39 – E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum de todos os que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia.(Almeida Século 21)

João 10.28 – Dou-lhes [as minhas ovelhas] a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrancará da minha mão. (Almeida Século 21)

Hermisten Maia afirma que, assim como as árvores se alimentam e se solidificam por meio de suas raízes, o fiel se nutre espiritualmente, fortalecendo a sua fé em Deus por meio da meditação sincera e constante na Sua Palavra.[15]

iii. É bem sucedido por Deus (vs.3c)

A vida bem sucedida que o salmista e as Escrituras enfatizam não é financeira, necessariamente [embora seja possível, se Deus quiser], mas está associada, especificamente, à vida espiritual e a observância da lei do Senhor (vs.2). A verdadeira prosperidade é uma abundância da graça divina em nossa vida, que nos é proporcionada como o resultado de uma vida frutífera para a glória de Deus. A nossa prosperidade, sobretudo, é Cristo ardendo em nós; é o Espírito de Deus que transforma a nossa vida. 
   
2. O RETRATO DO ÍMPIO (1.4-6)

a) O estado do ímpio (vs.4a)

Existe aqui um contraste rigidamente definido. O salmista pinta a superficialidade dos ímpios com um duplo negativo – não e assim, tanto em sua conduta como no seu estado de aparente “felicidade”. O dinheiro e a vida bem sucedida que muitos ímpios desfrutam não são e não podem trazer a verdadeira felicidade. Ao contrário dos justos, os ímpios não são descritos como árvores, uma vez que estão mortos em seus pecados e não possuem raízes.

b) O caráter do ímpio (vs.4b)

Se a vida do perverso não pode sequer ser comparada a uma árvore plantada aos ribeiros de águas, tampouco pode ser comparada a uma árvore seca. Antes, o ímpio é comparado pelo salmista como a palha que o vento dispersa.
     
A palha é uma imagem comum no AT. Extraída das épocas de colheita de trigo, essa figura também foi usada por João Batista em sua mensagem, onde conclamava o povo de Israel ao arrependimento (Mt 3.7-12). O trigo era debulhado numa superfície dura e plana, sobre um monte, e exposto ao vento. O trigo era erguido por pás e jogado para cima. Os grãos preciosos, então, caíam e eram recolhidos, enquanto que as palhas leves eram espalhadas pelo vento. 
     
A palha é composta de cascas de grãos vazias, não tem peso substancial para estabilizar-se e é facilmente levada pelos ventos da adversidade. Pelo modo de peneiração do oriente contra o vento, a palha era totalmente espalhada. Assim é o ímpio – que vive superficialmente e não tem raízes na graça de Deus, pois é morto espiritualmente. Os ímpios não estão plantados junto a corrente de águas, isto é, na palavra de Deus e, portanto, não são salvos. Não possuem valor algum, são facilmente levados pelo vento porque são leves, estéreis e vazios da presença de Deus em amor.[16]

c) A condenação dupla dos ímpios (vs.5)

i. O destino final dos perversos (vs.5a)

A conjunção por isso introduz a indubitável conclusão de que os perversos, no último dia, serão reprovados por Jesus Cristo no julgamento. Henry Law escreve:

O julgamento está próximo. O juiz está às portas. O grande trono branco em breve será estabelecido. Os mortos serão julgados pelas coisas escritas nos livros, de acordo com suas obras. Eles não podem fugir desse tribunal terrível. Nenhuma máscara pode ocultar a culpa deles. Seus pecados estão todos registrados. Nenhum sangue apagou as manchas. Eles não buscaram o mérito do salvador. Não tiveram interesse na cruz salvadora. Eles não podem permanecer.[17]  

Mateus 25.46 – E irão estes para o castigo eterno... 

ii. A separação dos pecadores da congregação dos justos (vs.5b)

A expressão congregação dos justos se refere a um grupo de pessoas e nações sobre os quais Deus preside como governante (veja, como exemplo, o Sl 7.7-8). Essa expressão também tem conotação escatológica, e denota que os ímpios não farão parte da comunidade dos justos na eternidade, na terra restaurada.  

Matthew Henry chama a atenção para o fato de que o joio pode estar no meio do trigo por um tempo [na igreja – minha ênfase], porém, vem aquele que tem em sua mão a foice afiada e que limpará o seu solo completamente. Os que por seus próprios pecados e atitudes néscias são como o joio, encontrar-se-ão diante do redemoinho e do fogo da ira divina.[18] Warren Wiersbe completa, dizendo que, quando o dia do julgamento chegar, o senhor, o justo juiz, separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum incrédulo poderá reunir-se com os justos.[19]

3. DUAS VIDAS E DOIS DESTINOS DIFERENTES (1.6)

A base que determinará o julgamento de Deus sobre essas duas classes de pessoas é o conhecimento que ele possui de ambos. “O conhecimento refere-se a todo o curso de vida, incluindo o que a motiva, o que ela produz e onde termina”.[20] Este conhecimento de Deus é denominado de onisciência, que é o conhecimento que ele tem de todas as possibilidades (veja, como exemplo, Mt 11.20-21) e eventos concretos preordenados pela sua soberania que ocorrem no tempo. Vejamos, então, o conhecimento que Deus tem do justo e do ímpio.   
   
a) O caminho do justo (vs.6a)

O verbo conhecer, aqui, assinala que Deus não apenas conhece a vida do justo; antes, o conhecimento que Deus possui do justo significa que, desde a eternidade, antes da criação, ele o conheceu, o predestinou, o chamou, o justificou e o glorificou para a sua glória (Rm 8.29-30). Portanto, o justo nunca há de perecer, uma vez que é guardado por Deus para a consumação da salvação, a qual se dará no último dia (1Pe 1.5).   

b) O caminho dos ímpios (vs.6b)

O mesmo conhecimento que Deus possui da vida do justo se aplica ao conhecimento que ele também possui da vida do ímpio. Entretanto, o conhecimento que Deus tem do ímpio é uma antítese do conhecimento que ele tem do justo no que se refere à salvação eterna. O ímpio, de coração obdurado, que permanece na incredulidade até o fim de sua vida, demonstra que não foi escolhido por Deus. Eles são “entregues” por Deus aos seus desejos pecaminosos como resultado do decreto de Deus, onde os quais não serão, mas “já estão” condenados à justa punição eterna no lago de fogo. 

João 3.18 – Quem nele não crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.  

CONCLUSÃO

Os dois modos de vida apresentados no salmo 1 determina o destino final dos que o seguem. O justo, que é ó homem bem aventurado, obedece aos preceitos de Deus e tem prazer em esmerar-se nas Escrituras para o crescimento espiritual. O ímpio, por sua vez, não é assim; pelo contrário, ele não obedece aos mandamentos de Deus, não tem prazer, não deseja e ignora as Escrituras. O salmo 1 termina com uma solene advertência acerca da importância de vivermos uma vida cristã diligente e frutífera para a glória Deus com vista no julgamento final. Assim, por amor a Deus ficará provado quem é justo e verdadeiro cristão, e quem é ímpio e falso cristão. Jesus disse que aquele que o amar verdadeiramente obedecerá aos seus mandamentos (Jo 14.15). O cumprimento dos preceitos de Deus é uma das maiores evidências do verdadeiro cristão.

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NOTAS:
1 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
2 Ibid.
3 Ibid.
4 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em:http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
5 Derek Kidner. Salmos 1-72. Introdução e Comentário, pág 63.
6 Calvino. Comentário de Salmos – Vol 1, pág 45. 
7 John Stott. Salmos Favoritos, selecionados e comentados – Abba Press, 1997, pág 8.  
8 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em:http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
Dicionário Hebraico do Antigo Testamento James Strong, pág 1601.
10 J.I. Packer. O Conhecimento de Deus, pág 17.  
11 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em:http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
12 Charles Hodge. O Caminho da Vida, New York: Sociedade Americana de Tratados, pág. 294.
13 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
14 William McDonald. Believers Commentary
15 Hermisten Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em:http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf 
16 John Stott. A Bíblia toda, o ano todo, pág 94.
17 Henry Law. Psalms.
18 Matthew Henry. Comentário Bíblico transcrito e adaptado, pág 398.
19 Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 89.
20 Thomas L. Constable. Nots on Psalms.  

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Autor: Leonardo Dâmaso
Fonte: Bereianos
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