segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A fe' crista e' limitada e excludente?


Você escreveu: “Não acho que a sua seja uma visão ruim ou inferior, somente é limitada...” Acontece que toda fé ou crença, por mais inclusiva, abrangente e politicamente correta que possa parecer, é exclusiva, limitada e excludente. Se eu digo a você que o cristianismo é a única religião verdadeira, obviamente excluo todos os que pensam diferente. Se você diz que todas as religiões são verdadeiras, está excluindo aqueles que pensam como eu. Não há como escapar disso. Ao adotar uma visão ou opinião, qualquer que seja, você exclui todas as outras, mesmo que você deseje ter a mais inclusiva de todas as opiniões. Ela vai excluir os exclusivistas, portanto ela também será uma opinião exclusiva.

Você escreveu: “Essa visão da Bíblia cristã é a mesma que há dois mil anos permite que as igrejas cristãs mantenham sua hegemonia e poder opressor...” O que os homens fizeram com o cristianismo não invalida seu valor original. São séculos de atrocidades e luta pelo poder usando o cristianismo como desculpa. Qualquer leitor sincero do Novo Testamento irá perceber logo que isso que vemos na história ou ao nosso redor não tem nada de cristianismo. Enquadra-se perfeitamente no que Jesus disse, dos muitos que o chamariam de “Senhor, Senhor” e que fariam milagres e pregariam em seu nome (Mt 7:21). Aliás, o simples fato de ser a religião mais falsificada do mundo já deveria chamar a atenção. Ninguém falsifica o que é falso, só o que é verdadeiro e tem valor.

Você escreveu: “Você coloca Deus longe do homem, que é pecador, sujo, etc..” Sim, você sintetizou a mensagem básica da Bíblia e da natureza do homem, e a história (e o que acabo de escrever acima) demonstra claramente esse fato. O homem é pecador sim, mas eu inverteria suas palavras. Não é Deus quem está longe dos homens, é o homem quem está longe de Deus. Porque não existe proximidade maior do que Deus tomar a forma humana e Jesus morrer por suas criaturas. Mais empatia e proximidade do que isso é impossível, Deus encarnado.

“Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 3:5-11).

Se o homem continua longe de Deus é por sua própria escolha. “Vós, que naquele tempo estáveis sem Cristo... não tendo esperança, e sem Deus no mundo... agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto”. (Ef 2).

Você escreveu: “A salvação requer esforço sim, pois caso contrário que explicação teria alguém que nasce escravo ou com severas limitações físicas e mentais, por exemplo?” Se isso for enxergado além dos limites do tempo e espaço, tem explicação sim. A explicação pode não estar ao alcance dos olhos (como acontece nos capítulos 1 e 2 de Jó e no capítulo 10 de Daniel), mas nos bastidores de Deus. A princípio todas as limitações são causa do pecado, consequência da queda do homem. Quer você creia em uma ou outra explicação para elas, o fato é que elas existem e Deus permite que nos aflijam.

Não é por algo ter uma explicação lógica que essa explicação é verdade. E não é por algo não ter uma explicação que isso signifique que uma explicação não exista em algum lugar e dada por alguém com maior conhecimento do assunto. Quando os discípulos perguntaram por que o homem nasceu cego, Jesus explicou que ele tinha nascido para que a glória de Deus fosse manifestada. Em seguida ele curou o homem.

Você escreveu: “A visão reencarnacionista em nada ‘briga’ com a Bíblia ou com o Evangelho”.
É óbvio que “briga”. Você não pode conciliar uma ideia de evolução espiritual com a afirmação bíblica da salvação instantânea proporcionada pela obra de Cristo na cruz. A ideia da reencarnação se baseia em um processo; o evangelho se baseia em um ato divino, em um decreto: Quem crer TEM a vida eterna.

“Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus.” (1 Jo 5:10-12).

Você escreveu: “A visão reencarnacionista é apenas uma ferramenta que nos mostra formas bem mais sofisticadas de entender o sofrimento humano e os caminhos para dele sair. Estude...”.
A ideia é essa, justamente livrar-se do “estude”, “formas bem mais sofisticadas”, “ferramentas”, etc. Percebe que tudo isso aponta para o esforço humano e que um inútil como eu é incapaz de qualquer coisa para chegar a Deus? É este o princípio básico do Evangelho, a inutilidade e nulidade do ser humano e sua dependência total de Deus para sair dessa condição. Em meus tempos de espiritualismo ouvia muito sobre negar-se a si mesmo, livrar-se do eu, desligar-me do corpo físico, atingir o vácuo mental e coisas do tipo.

Foi só no cristianismo que pude entender o que é isso realmente, porque é a única fé possível de ver acontecer na prática. Se eu precisar fazer qualquer coisa para negar, desligar, anular o eu, etc., já sou eu fazendo, o que implica em esforço desse mesmo eu. Ao me render, reconhecendo minha nulidade e incapacidade até de esvaziar-me a mim mesmo ou de fazer qualquer outro exercício espiritual, é Deus quem entra em cena para fazer absolutamente tudo. A fé cristã olha para fora, olha para Cristo. Todas as outras crenças olham para dentro, para si, o que não passa de ocupação com o próprio ego, por mais bonitos que sejam os termos usados para isso.

Em Romanos 7 Paulo diz: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum”. Como tirar alguma coisa que preste desta carne (estava se referindo ao homem em seu estado natural)? Não é por aí. Por isso Deus oferece a graça, e graça é o favor imerecido. Ele pode fazer isso porque tudo o que precisava ser feito para a salvação do homem foi consumado na cruz. Jesus morreu para pagar os nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. O evangelho é isso. Qualquer outra coisa é exaltação do homem, não de Deus.

por Mario Persona 

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