O mundo está mesmo uma coisa, parece o campo de recreação do diabo, se é que ele é capaz de se divertir com algum evento. No fundo, ele é apenas um fracassado, mesmo conseguindo uma vitória ali, outra acolá, é um malogrado, uma desgraça!
Hoje, pela manhã, recebi a ligação de uma funcionária, em prantos, comunicando-me o assassinato do seu filho, ontem à noite. Ele havia saído da penitenciária, onde cumpria pena por tráfico, e estava em condicional. Quase certo ser um caso de “acerto de contas” entre bandidos. Porém, não pude deixar de me apiedar do sofrimento daquela mãe com a perda do filho. Seja bandido ou o que for, ele é filho, e não dá para aquilatar a dor pela perda. Orei com ela, pedindo ao Senhor para fortalecê-la e confortá-la, assim como a sua família.
Por certo, ele encontrou o que procurou durante a sua vida, um fim trágico para uma vida desperdiçada, na qual o caminho da bandidagem parece ser uma via fácil, porém curta.
Há tempos, ouvi uma entrevista de um garoto de nove anos, mula do tráfico na favela onde morava, no Rio, dizendo que pouco importava o que lhe acontecia, morrer, matar, não fazia diferença. Para alguém que sequer começara a viver, uma afirmativa dessas reflete o quão expostas as crianças estão ao mundo adulto, onde a morte ou o assassinato (assim como o sexo inconsequente) parece ser uma opção como escolher o sabor de um sorvete.
Logo depois, outra funcionária relatou um tiroteio onde morava, noite passada, quando chegou em casa; tempo suficiente para se esconder atrás do fogão junto com a filha, enquanto a netinha e o marido refugiavam-se atrás do sofá, ao som do espocar das balas, algo que, segundo ela, durou cerca de cinco minutos. Descreveu, com uma naturalidade assombrosa, o incidente, entremeado por sorrisos que pareciam ignorar a gravidade da situação. Disse que a netinha ficou em estado de choque, e custou a dormir em meio a pesadelos e acessos de pânico, mesmo tomando um chá de maracujá com açúcar.
Tudo isso parece muito comum e natural na sociedade, uma sociedade em que os valores morais foram se perdendo à medida em que ela se afastou proposital e (in)conscientemente de Deus e sua Lei.
Alguém pode dizer que estou a tratar a questão com cinismo ou insensibilidade, mas descrevo apenas a causa pelo estado atual de degradação, apatia, e contemporização com o mal ao qual nos aliamos silenciosamente, e que o mundo, de forma geral, ignora e não quer ver, por teimosia, autossuficiência, ignorância ou insensatez. A destruição de valores caros ao ocidente, os fundamentos a estabelecerem a sociedade (a tradição judaico/cristã), não se daria impunemente, sem consequências dramáticas e nefastas para o cidadão comum, muito distante das reuniões regadas a "comes e bebes" onde o mal é maquinado e lançado sobre as pessoas com o falso argumento de serem para o seu próprio bem. Não há bem que se torne em mal, se antes não for o mal travestido de bem. Deus transformou o mal na vida de José em bem (Gn 50.20), mas nunca o contrário pode ser reivindicado, demonstrando a insensatez, o descalabro e a malignidade dos proponentes de “um bem utópico”, impossível, cujos resultados são a desgraça, a morte e a destruição.
Penso não haver muito mais a se acreditar neste mundo, pois ele caminha célere para o abismo mais profundo e tenebroso; podemos sim, pelo poder do Evangelho, como servos inúteis de Cristo, resgatar um ou outro, ou mesmo alguns, desse redemoinho sinistro, funesto, no qual a humanidade se envolveu e do qual não pode sair por suas próprias forças, a despeito da ilusão propagandeada de ser uma questão de tempo para tudo chegar ao seu devido lugar.
A queda vertiginosa dos fundamentos do ocidente, a família, a lei, o Cristianismo, a educação, principalmente, e não nesta ordem, têm tornado o mundo em um local caótico e desenfreado, onde o certo é tido como errado, e o errado é posto como certo, num caminho capaz de ser revertido se o homem voltar-se para o Senhor, em busca da verdadeira sabedoria, da verdadeira paz e espiritualidade, do conforto seguro em estar em suas mãos santas.
O profeta já alertava, há milênios:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos, e prudentes diante de si mesmos! Ai dos que são poderosos para beber vinho, e homens de poder para misturar bebida forte; Dos que justificam ao ímpio por suborno, e aos justos negam a justiça! Por isso, como a língua de fogo consome a palha, e o restolho se desfaz pela chama, assim será a sua raiz como podridão, e a sua flor se esvaecerá como pó; porquanto rejeitaram a lei do Senhor dos Exércitos, e desprezaram a palavra do Santo de Israel” (Isaías 5.20-24).
A resposta está naquele que, sendo Deus, humilhou-se e assumiu a forma de homem, fazendo-se um de nós, e, por nós, padeceu, morreu e ressuscitou, a fim de ajuntar para si mesmo um povo que, independente do mundo e daqueles que o governam, esperam firmes na sua volta, quando estaremos para sempre com ele, o Pai e o Espírito, em comunhão perene, trinitariana, em adoração constante, sem as distrações e a superficialidade desta vida, na qual o pecado é a sua força motriz. É a garantia dada por ele mesmo, Jesus Cristo:
“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11.27-30).
E, deixo ao final uma questão: por que você não reconhece a verdade, Cristo, e contenta-se com a mentira mais vergonhosa e insana alardeada pelos agentes do Inferno?
Com você a resposta, para hoje e sempre.
Autor: Jorge Fernandes Isah
Fonte: Kálamos
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