segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O DÍZIMO E AS OFERTAS NA BÍBLIA

A igreja tem corrido o sério risco de deixar de desfrutar das bênçãos de Deus, às vezes pelo fato de temer ser confundida com as seitas que fazem um uso equivocado de determinado ensino bíblico. Devido o fato da exploração religiosa no Brasil, de pessoas que fazem da Bíblia uma fonte de lucro (cf 2Co 2.17; 2Pe 2.3), nós às vezes caímos no erro de não falarmos de dízimos e ofertas em nossas igrejas. Parece que ficamos com medo de sermos confundidos com os que, de má fé, exploram os fiéis nos dízimos e ofertas.
O que podemos aprender sobre dízimos e ofertas? As ofertas são voluntárias ou há um mandamento para elas? A igreja do Novo Testamento dizimava?
O que significa o Dízimo? O Dízimo baseia-se no fato de Deus ser o proprietário da terra e o originador de todas as bênçãos (Lv.25.23; Sl 24.1). Ao entregar o dízimo o israelita reconhecia que Deus era o dono da terra e dos seus frutos (1Cr. 29.11,14), e o melhor deveria ser dado a Deus (1Sm 2.29).
A não entrega do dízimo considerava-se como roubar a Deus (Ml 3.8,10), ou seja, roubar-lhe o devido reconhecimento de que tudo pertence a ele (Sl 50.1-23). Os dízimos serviam para o sustento dos levitas e o socorro aos necessitados em Israel; por isso deveria ser olhado prazerosamente como uma oportunidade que Deus concedia de participar de sua obra. Entregar o dízimo traria bênçãos divinas (Dt. 14.28-29); retê-lo, traria maldição (Ml. 3.8-10).
O DÍZIMO NO ANTIGO TESTAMENTO
Com os patriarcas (Gn. 14.18-20; 28.18-22)
Abraão 
Dar dez por cento das posses, ou seja, o dizimo, era uma prática religiosa abraçada pelas pessoas tementes a Deus.  Abraão dizimou dos despojos da guerra entregando-os a Melquisedeque (v.20). Interessante é que não havia nenhuma lei que obrigasse Abraão a dar o dizimo (pois não havia a lei cerimonial e judicial do povo judeu). No entanto, a evidência é que essa prática fazia parte da vida religiosa de Abraão.
Jacó
Jacó se dispõe a dar a “décima parte”. A sua atitude foi espontânea como resultado de sua experiência com Deus em Betel (Gn 28.18-22).
Na lei de Moisés 
Aqui o dízimo passa a ter um papel de grande relevância. Observaremos alguns pontos importantes:
O povo deveria dar os dízimos de todos os produtos da terra e dos rebanhos (Lv. 27.30). Vemos também o ensino em Deuteronômio: “Certamente, darás os dízimos de todo o fruto das tuas sementes, que ano após ano se recolher do campo. E, perante o SENHOR, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu cereal, do teu vinho, do teu azeite e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer o SENHOR, teu Deus, todos os dias.” (Dt. 14.22, 23).
Os dízimos pertencem ao Senhor (Lv. 27.30). Contudo o seu propósito imediato era o sustento dos levitas – que não teriam outra herança entre os filhos de Israel – em troca dos serviços prestados a congregação. Por sua vez os levitas davam os dízimos dos dízimos aos sacerdotes (ler Nm 18.21-32).
Outro propósito dos dízimos era o auxilio aos necessitados – o estrangeiro, o órfão e viúva – que assim não ficariam desamparados na terra de Israel (Dt. 14.28,29).
Ainda outro propósito dos dízimos era a celebração de uma refeição cultual pelas famílias do povo de Deus, juntamente com os levitas de suas respectivas cidades (Dt. 12.7,12). Certamente, nessa refeição era consumida apenas uma parte dos dízimos.                       
Período posterior ao Pentateuco
O povo constantemente quebrava a lei; Deus então disciplinava e levantava homens para promover a reforma em Israel. A infidelidade na prática do dizimo sempre estava ligada ao desmoronamento espiritual de Israel. Vejamos os fatos:
A reforma de Ezequias teve como um dos elementos característicos o  restabelecimento dos dízimos e ofertas, tendo o povo de Israel e Judá superado as expectativas (2Cr. 31.4-12).
Ao voltar do exílio babilônico o povo renova a sua aliança com Deus, prometendo entregar seus dízimos e ofertas (Ne 10.37-38).
Após o Cativeiro o povo voltou e reconstituiu a sua vida, mas com o passar do tempo, o povo esqueceu da angústia do cativeiro. Malaquias reflete um tempo posterior (440 a.C) quando o povo já esquecera da aliança e a fidelidade a Deus. Os lideres do povo – Esdras e Neemias - tinham morrido e parecia que  nada de novo acontecia. Nesse contexto religioso o descaso era visível, ofereciam a Deus pão imundo (ler Ml 1.7); animal cego, coxo, enfermo, dilacerado (Ml 1.8,13). A fé do povo havia esfriado. Eles tinham perdido a noção da presença de Deus. E é nesse contexto que nos deparamos com as profecias de Malaquias. Aqui Deus mostra como esse abandono tem reflexo na vida familiar.
DÍZIMOS E OFERTAS NO NOVO TESTAMENTO                 
No Novo Testamento não encontramos nenhuma instrução direta a igreja no que diz respeito ao dízimo. Todavia a prática é mencionada e incentivada aos moldes da lei. Devemos atentar, todavia, que a instituição fazia parte da vida cotidiana do judeu, não sendo uma instituição nova ou caduca; o que precisava ser feito e foi, era insistir quanto ao espírito que deveria acompanhar essa prática.
Destacaremos abaixo, dois pontos que nos levam a deduzir a contribuição do dízimo:
Contribuir planejadamente (2Co. 9.7)
“Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria.”
Frequentemente, nos concentramos apenas no entendimento superficial do versículo e interpretamos que ele fala simplesmente de voluntariedade da contribuição. Mas o fato de que ele nos ensina que a nossa contribuição deve ser alvo deprévia meditação e entendimento nos indica, com muita força, que ela deve ser uma contribuição planejada, não aleatória, não dependendo da emoção do momento (todos esses elementos são válidos, mas não são os únicos e  principais determinantes).
De acordo com o verso 5, a contribuição deveria ser“preparada de antemão”, ou seja, deveria ser planejada: “Portanto, julguei conveniente recomendar aos irmãos que me precedessem entre vós e preparassem de antemão a vossa dádiva já anunciada, para que esteja pronta como expressão de generosidade e não de avareza.”(v.5). A pergunta que fica é:Como seria esse planejamento? A resposta é simples, o dízimo representa a essência da contribuição planejada e sistemática. Consequentemente será que não deveríamos propor em nosso coração dar o dízimo? 
A ideia do verso é que se  proponha no coração, sistematize sem constrangimento. Abraão e Jacó fizeram isso. 
Contribuir proporcionalmente (1Co 16.2,3)
No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for. E, quando tiver chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes.”
Aqui percebemos que Paulo espera uma contribuição sistemática, pois ele diz que ela deveria ser realizada aos domingos (primeiro dia da semana), que era quando os crentes se reuniam. A contribuição, de acordo com o texto, é conforme os  ganhos, ou seja de acordo com o que o Senhor permite que ganhassem.
Mas então, qual o percentual de contribuição? Poderíamos inventar qualquer um. Porém temos a Bíblia e ela tem o porcentual estabelecido por Deus: Dez por cento dos nossos ganhos.      
Ofertas no Novo Testamento (Rm. 12.8)
“… o que contribui, com liberalidade…”
As ofertas visam sanar as necessidades maiores da igreja. Muitas vezes Paulo via-se em necessidade, mas as ofertas levantadas pelas igrejas o ajudavam muito (cf Fl. 4.10-20). Vemos também que as ofertas levantadas pelas igrejas ajudavam alguns irmãos carentes e com muitas necessidades (cf Rm 15.25-26).  
Essa contribuição, segundo o apóstolo Paulo, deveria ser com simplicidade (Rm. 12.8); isto é, sem ostentação  (ler 2Co 9.11-13) é simplesmente por causa da necessidade da igreja. 
Na segunda carta aos coríntios, o apóstolo expõe a forma de ofertar que nos remete ao ensino da viúva pobre: “Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem.” (2Co. 8.12, cf Mc 12.41-44). O cristão contribui com ofertas tendo como modelo a generosidade de Cristo (ler 2Co 9.7).
Em resumo, as ofertas levantadas na igreja primitiva visavam a necessidade material da igreja com os ministros e os irmãos em dificuldades.          
Com base em Malaquias 3.8, vemos que a pessoa que não entregava as ofertas na Casa do Senhor também esta roubando. Quando um homem vê a necessidade da igreja e não oferta, tendo capacidade para isso, ele está roubando de Deus, pois até a oferta é do Senhor.
CONCLUSÃO
Algumas razões para a nossa fidelidade a Deus:
Tudo foi criado por Deus e a ele pertence
Deus criou tudo (Gn.1.1, Sl 19.1-2). A ele pertence a terra (Sl 241,2); o gado (Sl 50.10); a prata e o ouro (Ag 2.8); os filhos que temos (Sl 127.3) e nós próprios (1Co 6.19,20).
Deus permite que fiquemos com 90% daquilo que é dele, essa é uma prova de sua generosidade. O homem é apenas um administrador de Deus (Gn.1.28-30) e teremos que prestar contas a ele (Rm 14.10-12).
Deus deve ser Glorificado com os nossos bens (Pv.3.9)
O dízimo é o mínimo: a viúva pobre depositou no gazofilácio tudo o que ela tinha (Mc 12.41-44). Jesus nessa passagem não se deteve em observar a quantidade, mas sim o significado da oferta para cada um.
Dízimo é um ato de culto
O dízimo não é um ato frio, mecânico distante do culto, antes ele é uma forma de culto e não devemos esquecer disso (Dt. 26.10,11). Ele fortalece o espírito comunitário (At 4.32-37).
A igreja cresce (At. 2.41-44)
Há amadurecimento espiritual do dizimista pela sua experiência com Deus (Sl 37.23-35). A entrega do dízimo torna a nossa consciência mais sensível à nossa dependência de Deus, porque sem ele nada teríamos nem mesmo a vida.
O dízimo é uma expressão de fé (Ml 3.10; Sl 23.1) e uma expressão de gratidão a Deus pelas bênçãos dispensadas (Dt. 16.17).
Em suma, não esqueçamos que:
Dizimar: É prova de fidelidade a Deus.
Ofertar: Também é prova de fidelidade, mas nos mostra visão missionária e cuidado com a obra de Deus.
“… e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos,…”(Ml 3.10)
“Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia.” (Sl 34.8)


Por Rev. Ronaldo P Mendes

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