sexta-feira, 6 de junho de 2025

Bereshit (בְּרֵאשִׁית) - No Princípio

 A Gênese da Criação e da Humanidade


Introdução: Bereshit - No Princípio

Gênesis, em hebraico Bereshit (בְּרֵאשִׁית), significa "No princípio". Mais do que um mero livro de história, é um poema cósmico, uma declaração teológica profunda sobre a origem de todas as coisas e o relacionamento entre o Criador e Sua criação. 


Não se trata apenas de "como" o mundo foi feito, mas "quem" o fez e "para quê".


Gênesis 1: A Ordem Divina e a Manifestação do Poder de D'us


primeiro capítulo de Bereshit nos apresenta a majestade de D'us (Elohim) como o Criador transcendente. A frase "Bereshit Bara Elohim" (No princípio criou D'us) é a declaração de soberania absoluta.


"Bara" (בָּרָא): Criar do Nada (Ex Nihilo)


Sábios, como Rashi (Rabbi Shlomo Yitzchaki), enfatizam que "bara" se refere a uma criação que não depende de matéria preexistente. Diferente de "yatzar" (formar) ou "asah" (fazer), "bara" denota uma criação totalmente nova. 


Para o Rabi Shim'on bar Yochai, autor do Zohar, essa criação do "nada" é uma manifestação do Ain Sof (o Infinito).


Conexão Messiânica: O Rabino Yossef Baruch, em seus ensinamentos, frequentemente ressalta que essa capacidade de criar do nada aponta para o poder ilimitado do D'us de Israel, o mesmo poder que opera a redenção e a nova criação em Yeshua (Jesus), que é a Palavra (Davar) através da qual todas as coisas foram feitas (João 1:1-3). 

Ele é o agente da criação.


O Ruach Elohim (Espírito de D'us) Pairando (Gen 1:2)


A imagem do "Ruach Elohim" (רוּחַ אֱלֹהִים - Espírito de D'us) pairando sobre as águas é um tema de profunda meditação rabínica. 

Alguns interpretam como um vento poderoso, outros como o Espírito Divino trazendo vida e organização ao caos. 


O Targum Onkelos, uma das primeiras traduções aramaicas da Torá, traduz "Ruach Elohim" como "Espírito da Misericórdia de D'us".


Rabi Nachman de Breslov falava da importância do "vazio" e do "caos" como o prelúdio para a criação e a revelação divina. É no potencial do Ruach que a ordem é estabelecida.


Conexão Messiânica: Para os rabinos messiânicos, o Ruach Elohim é o mesmo Espírito Santo que age na nova criação do indivíduo (João 3:5-8) e que virá sobre o Messias para capacitá-Lo (Isaías 11:2). 


O Canal Beit Shalom frequentemente aborda o Ruach como a força ativa de D'us no mundo, preparando o cenário para a redenção.


"Va'yomer Elohim: Yehi Or!" (E D'us disse: Haja Luz!) - 

A Criação Pela Palavra


A repetição da frase "Va'yomer Elohim" (וַיֹּאמֶר אֱלֹהִים - E D'us disse) ao longo de Gênesis 1 enfatiza o poder criativo da Davar (דָּבָר - Palavra) de D'us. 


A luz é a primeira criação, antes mesmo dos luminares celestes, sugerindo uma luz metafísica, a luz da própria existência e da revelação divina. O Zohar descreve essa luz primordial como a "luz oculta" ou "luz original", a fonte de toda a sabedoria e entendimento.


Conexão Messiânica: Aqui temos uma das mais poderosas conexões com a B'rit Chadashá. João 1:1-5 declara que Yeshua é o Logos/Davar que estava no princípio com D'us, e que "Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens". 


O Messias é a própria Palavra através da qual a criação veio a existir e, portanto, a luz verdadeira que ilumina todo homem que vem ao mundo. A Sinagoga Emunah Sh'lemah enfatiza a centralidade da Palavra como o Messias em todas as eras.


A Criação do Homem: A Coroa da Criação (Gen 1:26-27)


"Na'aseh Adam B'Tzalmenu K'Dmutenu" (Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança). 

A pluralidade em "Façamos" tem gerado muitas discussões. 


Os sábios, como Onkelos, interpretam como D'us falando aos anjos ou à Sua corte celestial, demonstrando a importância e a dignidade da criação do homem. 

Outros, como o Ramchal (Rabino Moshe Chaim Luzzatto), veem isso como uma alusão às múltiplas facetas do próprio D'us.


Rashi sugere que é uma lição de humildade, mostrando que mesmo o maior deve consultar os menores.

"Tzelem" (צֶלֶם - imagem) e "D'mut" (דְּמוּת - semelhança): "Tzelem" refere-se à capacidade inerente do homem de ser racional, moral, e ter livre arbítrio, refletindo as qualidades divinas. "D'mut" é a capacidade de expressar essa imagem em ação e caráter, de se assemelhar a D'us moral e espiritualmente.


Conexão Messiânica: A imagem de D'us no homem, embora danificada pelo pecado, é restaurada em Yeshua. Ele é a "imagem expressa" de D'us (Hebreus 1:3), o perfeito Adão, que nos permite, através da fé Nele, sermos restaurados à verdadeira imagem e semelhança do Criador (Colossenses 3:10). 


O Rabino Yossef Baruch destaca que o propósito final da criação do homem é que ele reflita a glória do Messias.


Gênesis 2: O Jardim, a Intimidade e as Alianças Primordiais


Gênesis 2 não é uma repetição de Gênesis 1, mas um foco mais detalhado na criação do homem, seu ambiente e seu propósito, com um tom mais íntimo, usando o nome Adonai Elohim (Senhor D'us).


Adonai Elohim e o Jardim do Éden (Gen 2:4-8)


O uso de Adonai Elohim (יְהוָה אֱלֹהִים) reflete a relação pactual e pessoal de D'us com o homem. Enquanto Elohim é o D'us transcendente, YHVH (Adonai) é o D'us imanente, que se relaciona, faz alianças e interage com Sua criação.


O Gan Éden (גַן עֵדֶן - Jardim do Éden) é retratado não apenas como um paraíso físico, mas como um lugar de comunhão perfeita com D'us. Para os sábios, é um lugar de profunda revelação e Shekinah (Presença Divina).


Conexão Messiânica: O Jardim do Éden é o protótipo do Reino de D'us, onde D'us e o homem habitam em harmonia. A esperança messiânica é o restabelecimento desse Jardim, onde D'us habitará novamente com Seu povo (Apocalipse 21:3). Yeshua nos oferece o acesso de volta ao "Paraíso de D'us" (Apocalipse 2:7).


O Homem e o Propósito: Cultivar e Guardar (Gen 2:15)


"L'ovdah ul'shomrah" (לְעָבְדָהּ וּלְשָׁמְרָהּ - para a cultivar e a guardar). Essa instrução não é apenas sobre jardinagem. "L'ovdah" (servir/trabalhar) refere-se ao propósito do homem de ser um agente ativo na criação, de cuidar dela e desenvolvê-la. 


"Ul'shomrah" (guardar/proteger) implica responsabilidade, proteger o que D'us criou e também, segundo alguns rabinos, guardar os mandamentos de D'us. 

O Midrash conecta isso com o estudo da Torá.


Conexão Messiânica: O Rabino Yossef Baruch enfatiza que o trabalho é uma vocação divina. O homem é chamado a ser um mordomo da criação. Yeshua, como o "segundo Adão", cumpre perfeitamente essa vocação, tanto em Sua vida terrena de serviço quanto em Sua obra de redenção, que restaura a criação e a humanidade ao seu propósito original.


A Mulher: Uma Companheira Complementar (Gen 2:18-24)


"Lo tov heyot ha'adam levado" (לֹא טוֹב הֱיוֹת הָאָדָם לְבַדּוֹ - Não é bom que o homem esteja só). Essa é a primeira vez que D'us declara algo "não bom" na criação, sublinhando a necessidade de comunhão e parceria.


"Ezer K'negdo" (עֵזֶר כְּנֶגְדּוֹ - auxiliadora idônea/correspondente a ele). "Ezer" significa ajuda, força, auxílio. "K'negdo" significa "diante dele", "em frente a ele", ou "correspondente a ele". 

Não é inferioridade, mas complementaridade. 

Os sábios ensinam que ela é uma contraparte perfeita, que preenche o que falta ao homem, e vice-versa.


Conexão Messiânica: O conceito de unidade na diversidade reflete a relação do Messias com Sua Kehilah (Comunidade/Igreja). 

A Kehilah é a "noiva" de Yeshua, a companheira que o complementa na realização de Seu propósito redentor. 


A união de marido e mulher é um "sod" (segredo) que aponta para a união de Cristo e da Kehilah (Efésios 5:32).


Gênesis 3: A Queda, a Consequência e a Promessa da Redenção


O terceiro capítulo é um divisor de águas na história da humanidade, descrevendo a desobediência que trouxe o pecado e suas consequências ao mundo, mas também a primeira promessa messiânica.


A Tentação da Serpente: O Yetzer Ha'Ra (Gen 3:1-5)


A serpente (Nachash - נָחָשׁ) é uma figura complexa na literatura rabínica. Alguns a veem como a personificação do Yetzer Ha'Ra (יֵצֶר הָרָע - a inclinação para o mal), uma força inerente no homem, mas também uma entidade maligna externa. 


O Zohar identifica a serpente com o "Anjo da Morte" ou Satanás. O Rabino Yossef Baruch frequentemente aborda a sutileza do Yetzer Ha'Ra, que distorce a Palavra de D'us e planta a dúvida.


A estratégia da serpente é sempre a mesma: duvidar da Palavra de D'us ("É assim que D'us disse?") e prometer um poder ilimitado ("Sereis como D'us").


Conexão Messiânica: A serpente é identificada no Novo Testamento como Satanás (Apocalipse 12:9). 

Yeshua é o Messias que veio para desfazer as obras do Diabo (1 João 3:8), para esmagar a cabeça da serpente.


A Desobediência e Suas Consequências (Gen 3:6-19)


O pecado não é apenas comer o fruto, mas a quebra da confiança e a desobediência à Palavra de D'us. 

O desejo de ser "como D'us, conhecendo o bem e o mal" (Gen 3:5) é uma tentativa de usurpar a soberania divina, de definir a moralidade por si mesmo.


As consequências são multifacetadas:


Consciência da Nudez: Perda da inocência e da Shekinah, que os cobria. 

A nudez física é um reflexo da nudez espiritual e da vergonha.


Vergonha e Medo: Esconder-se de D'us. O relacionamento perfeito é quebrado.


Culpa e Transferência de Culpa: Adão culpa Eva, Eva culpa a serpente.


Consequências na Criação: A terra é amaldiçoada (Gen 3:17-19). O trabalho se torna árduo.


Consequências para a Mulher: Dores de parto e domínio do marido (Gen 3:16).

Consequências para o Homem: Trabalho árduo e retorno ao pó (Gen 3:17-19).


Expulsão do Jardim: Perda do acesso direto à Árvore da Vida e à presença perfeita de D'us (Gen 3:22-24).


Conexão Messiânica: Romanos 5:12-21 explica que a morte entrou no mundo por um só homem, Adão. 

Mas a graça e a vida vieram por um só homem, Yeshua, o "último Adão". 


A expulsão do Éden aponta para a necessidade de um restaurador, alguém que abriria o caminho de volta para a Árvore da Vida.


O Proto-Evangelho: A Primeira Promessa Messiânica (Gen 3:15)


"V'eivah ashit beyncha u'veyn ha'isha, u'veyn zar'acha u'veyn zar'ah; hu yeshufcha rosh v'atah teshufenu akev." (וְאֵיבָה אָשִׁית בֵּינְךָ וּבֵין הָאִשָּׁה וּבֵין זַרְעֲךָ וּבֵין זַרְעָהּ הוּא יְשׁוּפְךָ רֹאשׁ וְאַתָּה תְּשׁוּפֶנּוּ עָקֵב).

"Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a descendência dela; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar."


Este versículo, conhecido como "Proto-Evangelho" (a primeira boa notícia), é central para a interpretação judaico-messiânica.


"Zar'ah" (זרעה - descendência dela): 

Os rabinos antigos e messiânicos entendem isso como uma descendência única e especial, não apenas a humanidade em geral. 


Para a Sinagoga Emunah Sh'lemah, essa "descendência da mulher" aponta para uma concepção miraculosa, sem a semente do homem, prefigurando o nascimento virginal de Yeshua.


"Hu Yeshufcha Rosh" (ele te ferirá a cabeça): 

O golpe fatal, a derrota definitiva.

"V'atah Teshufenu Akev" (e tu lhe ferirás o calcanhar): 

Uma ferida dolorosa, mas não fatal.


Conexão Messiânica Profunda: Aqui está a promessa do Messias! Ele, nascido da mulher, esmagaria a cabeça da serpente, destruindo seu poder sobre o pecado e a morte. 


A ferida no calcanhar aponta para o sofrimento e a morte de Yeshua na cruz, que, embora dolorosa, não o deteve, mas resultou em vitória. 

A ressurreição é a prova de que a ferida no calcanhar não foi fatal. Essa é a esperança de Israel e das nações!


As Vestes de Peles: A Graça de D'us e o Sacrifício Vicário (Gen 3:21)


"Va'ya'as Adonai Elohim l'Adam u'l'ishto kotnot or va'yalbishem." (E Adonai Elohim fez para Adão e para sua mulher vestes de peles, e os vestiu).


Este é um momento crucial. Para cobrir a vergonha do homem, D'us mesmo providencia as vestes. As "vestes de peles" implicam um sacrifício de sangue (um animal teve que morrer). 


É a primeira vez que vemos o princípio do sacrifício como expiação e cobertura para o pecado.


Conexão Messiânica: Os rabinos messiânicos, como os do Canal Beit Shalom, veem isso como uma prefiguração clara do sacrifício do Messias. 


D'us mesmo providencia a cobertura para o pecado do homem. As vestes de pele são um "talit" (manto de oração) espiritual que aponta para a justiça de Yeshua que nos cobre. 


Ele é o Cordeiro de D'us que tira o pecado do mundo, e através de Seu sangue, somos verdadeiramente vestidos e feitos justos diante de D'us (Romanos 3:21-26).


Concluindo: 

A Grande Narrativa de Redenção

Gênesis 1 a 3 é o microcosmo da história da redenção. Ele nos revela:


A Soberania e o Poder de D'us como Criador.

A Dignidade e o Propósito do Homem, criado à imagem de D'us.


A Realidade do Pecado e suas Consequências.

A Fidelidade de D'us e Sua Promessa Inabalável de 

Redenção, centrada na "descendência da mulher".


O Princípio do Sacrifício Vicário como o meio de cobertura e restauração.


Este estudo nos permite ver que a Torá não é apenas a base da fé judaica, mas também a raiz profunda da fé messiânica. 


Cada detalhe, cada palavra em hebraico, revela a sabedoria e o plano eterno de D'us. 

A mente dos sábios nos dá uma riqueza de perspectivas, e os rabinos messiânicos nos ajudam a ver a glória de Yeshua revelada desde o princípio.


Que este estudo o inspire a mergulhar ainda mais nas riquezas da Palavra de D'us e a enxergar Yeshua, o Messias de Israel, em cada página da Torá!

Nenhum comentário:

Postar um comentário