quarta-feira, 4 de junho de 2025

Fui crucificado com o Messias

 Gálatas 2:20:


"Fui crucificado com o Messias: já não sou eu quem vive, mas o Messias vive em mim. E a vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fidelidade do Filho de Elohim, que me amou e se entregou por mim."


Este é um dos versículos mais centrais e poderosos das Cartas Paulinas, pois resume a essência da nova vida em Yeshua HaMashiach. Vamos quebrá-lo em partes para uma compreensão mais profunda.


1. "Fui crucificado com o Messias: já não sou eu quem vive..."

Aqui, Sha'ul (Paulo) não está falando de uma crucificação física, mas de uma crucificação espiritual e existencial. É uma morte para o "eu" antigo, para a velha natureza controlada pelo pecado (o yetzer hará - a má inclinação, conforme a tradição judaica).


Conexão com a Torá: Na Torá, sacrifícios eram feitos para expiação e purificação. O sangue do sacrifício simbolizava a vida que era entregue para cobrir o pecado. Em Yeshua, somos convidados a participar de um "sacrifício" muito mais profundo: a entrega de nós mesmos, nossa vontade, nossos desejos egocêntricos. É a morte para o domínio do pecado que nos afastava da vontade de Hashem (Deuteronômio 30:6 - a circuncisão do coração).


Significado Espiritual: Morrer com o Messias significa romper com o poder do pecado e da Lei (no sentido de um sistema de obras para salvação), que condenava o homem. É uma declaração de que a antiga identidade, aquela que estava debaixo da condenação do pecado, foi sepultada com Yeshua na sua morte. Não há mais "eu" dominando, ditando as regras.


2. "...mas o Messias vive em mim."

Esta é a virada de chave! A morte do "eu" não leva ao vazio, mas à plenitude da vida do Messias em nós. É uma união mística e profunda com o Filho de Elohim.


Conexão com a Torá: A presença de Hashem habitando entre Seu povo é um tema central na Torá, desde o Tabernáculo (Mishkan) até o Templo. O desejo de Hashem sempre foi habitar com Seu povo (Êxodo 25:8). Yeshua é a manifestação perfeita dessa Shekiná (presença divina) habitando em nós pelo Ruach HaKodesh (Espírito Santo).


Significado Espiritual: Quando o Messias vive em nós, Ele não apenas nos dá uma nova vida, mas Ele se torna nossa vida. Isso significa que Seus pensamentos, Seus desejos, Seu caráter e Sua vontade começam a moldar os nossos. Não é um esforço humano para imitar Yeshua, mas a própria vida de Yeshua fluindo através de nós. É o cumprimento da promessa de um novo coração e um novo espírito (Ezequiel 36:26-27).


3. "E a vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fidelidade do Filho de Elohim..."

Esta parte é crucial para entender como essa nova vida se manifesta no cotidiano. Não é por nossa própria força ou mérito que vivemos essa nova vida, mas pela "fidelidade" (ou "fé") do Filho de Elohim. A palavra grega aqui é pistis, que pode significar tanto "fé" quanto "fidelidade". Muitos estudiosos judeus messiânicos preferem "fidelidade" neste contexto, destacando a constância e a lealdade de Yeshua.


Conexão com a Torá: A fidelidade (em hebraico, emunah) é um atributo divino e uma expectativa para o povo de Hashem. Abraão foi justificado por sua emunah (fé/fidelidade) em Hashem (Gênesis 15:6). Yeshua é o cumprimento perfeito da emunah de Hashem em relação à Sua aliança, e a nossa vida é vivida em resposta à Sua fidelidade e por meio da nossa confiança nEle.


Significado Espiritual: Vivemos a vida presente, em nosso corpo físico, não mais baseados em nossa própria capacidade de cumprir a Lei ou de sermos "bons", mas fundamentados na fidelidade imutável de Yeshua. É Ele quem sustenta e capacita essa nova vida. Nossas ações, pensamentos e palavras são o resultado da Sua vida em nós, operada pela Sua fidelidade e por nossa fé em Sua obra redentora.


4. "...que me amou e se entregou por mim."

Esta última frase revela a motivação e o fundamento de tudo: o amor sacrificial de Yeshua.


Conexão com a Torá: O tema do amor de Hashem por Seu povo é proeminente na Torá (Deuteronômio 7:7-8). Ele escolheu Israel por amor e fez uma aliança de amor com eles. O maior mandamento da Torá é amar a Hashem com todo o coração, alma e força (Deuteronômio 6:5). O sacrifício de Yeshua é a expressão máxima desse amor de Hashem pela humanidade, demonstrando o que Ele fez para nos reconciliar consigo mesmo.


Significado Espiritual: O sacrifício de Yeshua na cruz é a prova cabal do Seu amor incondicional. Ele se entregou voluntariamente para nos resgatar do domínio do pecado e da morte. Essa entrega por amor é o que torna possível a morte do "eu" e a vida do Messias em nós. É a base da nossa redenção e o combustível da nossa gratidão e obediência.


Resumo e Aplicação Prática:

Gálatas 2:20 nos convida a uma transformação radical:


Morte do "Eu": Reconhecer que a nossa velha natureza egocêntrica não tem lugar no plano de Hashem para a nossa vida. É uma rendição contínua.

Vida do Messias em Nós: Permitir que Yeshua seja o centro e a fonte de nossa existência, manifestando Seu caráter através de nós.

Fidelidade Dele, Nossa Confiança: Viver não pela nossa própria justiça, mas pela justiça e fidelidade de Yeshua, confiando plenamente em Sua obra consumada.

Amor Sacrificial: Lembrar que tudo isso é resultado do amor supremo de Yeshua, que se entregou por nós. Isso nos impulsiona a amar a Ele e ao próximo.

Em essência, Gálatas 2:20 é um convite a viver uma vida que já não é mais sobre nós, mas sobre Ele. É a verdade de que fomos incorporados à Sua morte e ressurreição, e agora nossa vida está oculta com o Messias em Hashem (Colossenses 3:3).


Para aprofundar e enriquecer este estudo, sugiro pesquisar os seguintes temas nos canais recomendados (Beit Shalom, Rabino Yossef Baruch, Sinagoga Emunah Sh’lemah):


A "Morte do Ego" no Judaísmo e a Crucificação Espiritual: Como a tradição judaica aborda o domínio da má inclinação (yetzer hará) e a necessidade de submissão à vontade divina.

A Habitação da Shekiná: A presença de Hashem no Tabernáculo e no Templo, e como Yeshua e o Ruach HaKodesh cumprem essa promessa de habitação.

Emunah (Fé/Fidelidade): O significado profundo dessa palavra no hebraico e como ela se aplica à nossa relação com Hashem e com Yeshua.

O Amor de Hashem e o Sacrifício do Messias: A conexão entre o amor de Hashem revelado na Torá e o ato de amor de Yeshua na cruz.

Que este estudo o inspire a viver cada dia mais crucificado com o Messias e a permitir que Ele viva plenamente em você! Shalom! Paz!

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