sexta-feira, 14 de setembro de 2018

A HIPÓTESE* CESSACIONISTA – R.T. Kendall


Resultado de imagem para hipótese


Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e para sempre. — HEBREUS 13.8

Há muitos fluxos, jatos de purificação – a começar pelo sangue de Jesus Cristo! Quero estudar e experimentar todos eles, à medida que Deus trabalha entre nós para libertar, curar e amadurecer o Seu povo. — JACK HAYFORD

Quando o meu amigo Charles Carrin era pastor de uma igreja (antes de se tornar um ministro itinerante), ele recebeu um telefonema de um desconhecido:

“A sua igreja crê na Bíblia?”
“Sim.”
“Você acredita na infalibilidade das Escrituras?”
“Sim, e também cremos na infalibilidade de 1 Coríntios 12 e 14. Cremos que essas passagens são tão infalíveis quanto todo o restante do Novo Testamento.”
“Você está se referindo ao dom de falar em línguas?”
“Nós cremos que todos os dons do Espírito, incluindo línguas, estão dentro da infalibilidade das Escrituras e que devemos acreditar neles.”
“Bom, eu não acredito.”

A conversa citada foi retirada do livreto de Charles Carrin, On Whose Authority? The Removal of Unwanted Scriptures1 (Com que autoridade? A Eliminação de Versículos não Desejados). Charles, que havia sido um ardente cessacionista, calvinista convicto e obcecado pelos cinco pontos por muitos anos, era pastor de uma Igreja Batista Primitiva, Atlanta, Geórgia. Um dia, porém, ele fez uma oração mais ou menos assim: “Senhor, eu quero ser cheio do Teu Espírito Santo, mas tenho três condições: eu não quero gritar, não quero chamar atenção e não quero falar em línguas. Agora, com isso em mente, Tu podes prosseguir”. Nada aconteceu. Porém, ocorre que ele era, também, capelão na prisão federal de Atlanta, Geórgia. Foi-lhe encaminhado um homem que havia se convertido e sido cheio do Espírito Santo logo após ser preso.

Embora Charles fosse ministrar para aquele homem semanalmente, foi ele quem começou a ministrar para Charles. Aquela foi uma das inversões de papel mais incríveis que eu já conheci. Aos poucos, Charles começou a ter cada vez mais sede de Deus de uma maneira fresca. A sua história já é conhecida. Em resumo: depois de muito tempo, Charles pediu que aquele preso impusesse suas mãos sobre ele — e os carcereiros assistiram a tudo. Ele convidou o Espírito a descer sobre ele sem impor nenhuma condição. Charles foi cheio do Espírito Santo naquele dia e nunca mais foi o mesmo. Finalmente o obrigaram a renunciar a sua igreja.

Eu não tenho certeza exatamente de quando ouvi a palavra cessacionista pela primeira vez. Com certeza foi depois de conhecer alguns ministros reformados, em 1956. Eis o que era curioso. Todos eles me receberam calorosamente como um nazareno que agora recebia a graça soberana de Deus. Eles achavam aquilo incrível! Mas eu também era um enigma para eles. Devido à forma sobrenatural como eu havia recebido, eles lutavam para entender. A minha experiência ia contra as próprias suposições deles acerca de que Deus pudesse fazer coisas sobrenaturais na atualidade.

Eles eram cessacionistas; consideravam que o que eu cria era uma perspectiva não bíblica — ou seja: que há muito tempo, por Sua própria vontade, Deus havia “cessado” de tratar com o Seu povo de uma maneira direta e sobrenatural. Acabaram as curas sobrenaturais, as visões, as revelações diretas. Todos os dons do Espírito Santo deixaram de operar. Acabaram. Quando Deus reteve o Seu poder pela primeira vez? Alguns dizem que foi por volta do ano 70 depois de Cristo (dC). Isso significa que o Espírito Santo só teria trabalhado, atuado poderosamente apenas na primeira geração da Igreja. Outros, porém, pensam que o Seu poder diminuiu perto do ano 100 (com a morte do apóstolo João). Alguns estendem o período de poder sobrenatural até à era de Constantino (ano 337). De qualquer forma, com a definição do cânon das Escrituras liderado por Atanásio (296–373), finalmente todos entraram em acordo. Segundo os cessacionistas, não havia mais necessidade de nenhum poder sobrenatural e que esse tipo de poder foi uma plataforma de lançamento para a Igreja mais primitiva, dando credibilidade à fé cristã e encorajamento. Porém, em algum momento, os dons do Espírito, incluindo o falar em línguas, curas, profecias e receber revelação direta do Espírito Santo, finalmente cessaram.

Havia um bom número de ministros reformados que iam aos nossos cultos na Westminster Chapel, os quais eram cessacionistas. Alguns deles se tornaram meus amigos. Mas eu poderia perdoá-lo se você pensar que pode haver uma forte semelhança entre o cessacionismo e o ensino do deísmo. O deísmo é uma crença em Deus que parece inofensiva, e até respeitável a princípio. Muitos dos Pais Fundadores da Constituição Americana eram deístas. Eles, no entanto, negam a revelação sobrenatural. Alguns deístas se referem ao Deus deísta como um “relojoeiro ausente”. Ele criou o mundo, mas em seguida o deixou funcionando por sua própria conta. Os deístas acreditam na existência de um Deus, mas não podem aceitar o sobrenatural. Os cessacionistas creem no sobrenatural que está presente nas Escrituras, mas não têm expectativa que Deus intervenha sobrenaturalmente hoje, exceto, talvez, através da providência. Mas a ideia dos dons do Espírito em operação hoje, como em 1 Coríntios 12.7–11, está fora de questão.

A ORIGEM DO CESSACIONISMO
Da mesma maneira que vale a pena compreendermos cada cristão, também vale a pena compreendermos quase todos os movimentos da História da Igreja cristã. Os movimentos, às vezes, são reações aos extremos. Concordemos ou não, Rolfe Barnard — que não era carismático — costumava dizer: “Se nós, batistas, tivéssemos sido o que deveríamos, não teria existido um Exército da Salvação e nem um movimento pentecostal.” O Dr. Michael Eaton, sugere que há duas considerações que vale a pena destacar acerca da origem do cessacionismo.

O intelectualismo dos reformados

Não há dúvida de que esta é parte da explicação. Até onde sei, o cessacionismo brotou no século XVI, liderado pelos Luteros e Calvinos deste mundo. A última coisa que estaria em suas mentes, no entanto, era fazer com que brotasse uma doutrina que espalhasse algo que pudesse ser prejudicial ao cristianismo. No imortal hino de Martinho Lutero, “Castelo Forte é o nosso Deus” (A Mighty Fortress Is Our God), na versão em inglês, há uma linha que diz: “the Spirit and the gifts are Yours”2 (o Espírito e os dons são Teus”). Mas não pense apressadamente que ele acreditava que nós deveríamos esperar receber os dons do Espírito. É claro que há exceções, porém os intelectuais sempre suspeitam de qualquer coisa que seja muito emocional. Os intelectuais cristãos, às vezes, tendem a temer qualquer ênfase em experimentar Deus diretamente. A doutrina de Calvino, do testemunho interno do Espírito, não era o que se referia o Dr. Martyn Lloyd-Jones ao falar do testemunho direto e imediato do Espírito. Para Calvino, o testemunho interno do Espírito significava a “analogia da fé”, baseado em Romanos 12.6: profetizar, isto é, pregar, deveria ser feito segundo a “proporção” (no grego, analogia) da fé de cada um.

Isso significa comparar Escritura com Escritura. Poucos, se é que houve algum, que tenham superado Calvino na habilidade de expor as Sagradas Escrituras (e ainda assim, o próprio Calvino, nas suas Institutas, referindo-se à unção com óleo para cura, descrita, em Tiago 5.14), disseram que isso se refere “a poderes milagrosos que o Senhor se agradou em dar durante um determinado período”.3 Afirmaram que essa prática foi relevante somente para os apóstolos e “não pertence a nós, a quem tais poderes não foram concedidos”.4

Os carismáticos do século XVI

Eles também são chamados de místicos. Lutero tentou encontrar ajuda deles e a recebeu durante um tempo. Eles, no entanto, o decepcionaram profundamente. A maneira de eles lerem as Escrituras era alegórica, e não era provável que convencessem a alguém como Calvino, que estava treinado na leitura de textos dentro de seu contexto histórico e com precisão linguística. Os carismáticos e místicos do século XVI eram famosos por sua instabilidade e excentricidade. Assim, pode-se dizer que a tradição reformada herdou certo medo dos cristãos carismáticos.

B. B. Warfield (1851–1921) era um grande adversário do misticismo. Ele não gostava da tendência em seus dias, de se afastar da apologética e confiar mais no testemunho do Espírito. Há cristãos que são, sem dúvida, demasiadamente, intelectuais; e, há, também, aqueles que são anti-intelectuais. Há os que são demasiadamente emocionais, que hoje poderiam ser chamados de “cabeça de vento”; e há, também, os que são antiemocionais. O Dr. Martyn Lloyd-Jones diria que o homem é composto de coração, mente e vontade. A mente nos foi dada para pensar, o coração para sentir, e por meio da vontade, podemos agir. Nem sempre é fácil manter o equilíbrio, mas nós devemos tentar.

Nunca deveríamos subestimar o amor de nossos amigos cessacionistas por Deus, pelas Escrituras, pela sã doutrina e pela vida santa. Eles são o sal da terra. Alguns deles estão entre as maiores vanguardas da ortodoxia cristã. Repito: eles certamente aceitam o milagroso na Bíblia. Contudo, eles simplesmente não creem que Deus se revele a Si mesmo, de maneira direta e imediata, através da revelação hoje. É claro que Ele poderia fazêlo, dizem. Porém Ele decidiu soberanamente não demonstrar o Seu poder como fazia nos tempos da Igreja primitiva. A ausência de poder, portanto, não se deve à nossa incredulidade, falta de fé, ou expectativa. Deus mesmo decidiu que aquele tipo de poder era para a Igreja primitiva. Nenhuma quantidade de oração, jejum, intercessão e espera em Deus, fará com que Ele manifeste o Seu poder, como na Igreja primitiva. Segundo os cessacionistas, nós não podemos torcer o braço de Deus para que Ele faça o que já decretou que não irá acontecer.

Mesmo que tenha sido realmente isso o que aconteceu comigo, não penso que os nazarenos do meu tempo tivessem uma ideia do que é o cessacionismo. Estou contente por não saber o que era, caso contrário, talvez, eu nunca tivesse clamado a Deus por ajuda naquela manhã de segunda-feira. O cessacionismo é, em grande parte, um ponto de vista reformado. Descobri mais tarde o quanto aquela experiência do dia trinta e um de outubro de 1955 irritou a muitos calvinistas extremistas, e o quanto ia contra a teologia reformada desses homens, cuja teologia recebi! Agora, dou-me conta do quanto foi ingênuo, de minha parte, perguntar durante um tempo, nos dias seguintes à minha experiência, se eu havia descoberto algo novo, ou se seria eu o primeiro, desde Paulo, a ver aquelas coisas. Certamente não se tratava de uma revelação nova — exceto que as coisas que eu vi eram novas para mim. Quase nenhum dos meus antigos amigos nazarenos entendeu verdadeiramente o que havia acontecido comigo, nem a teologia que eu estava começando a abraçar. Muitos ministros reformados me aceitaram carinhosamente, mas ficavam perplexos como eu podia ver o ensino quanto à predestinação, a eleição e a segurança eterna do crente sem ter lido João Calvino ou os seus seguidores. Eles haviam mastigado os “cinco pontos do calvinismo” (que são conhecidos mundialmente pela palavra tulip, um acróstico popular da língua inglesa: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos). Sabiam que eu não havia recebido isso dos nazarenos. Quando eu contava a eles sobre a minha experiência mencionada anteriormente — incluindo a visão que tive de Jesus — eles me respondiam com um educado silêncio.

SEJA JUSTO COM OS CESSACIONISTAS

Eu posso, sinceramente, simpatizar-me com os cessacionistas. As pessoas que aderem ao cessacionismo, mudariam sua postura, em linhas gerais, se vissem uma clara evidência de milagres incontestáveis nos dias de hoje. Os cessacionistas não querem dar a impressão de presunçosos ou inacessíveis, eles simplesmente não creem nas afirmações dos carismáticos e pentecostais que relatam terem visto milagres. Eles não estão questionando a nossa honestidade; eles acham que somos otimistas demais, talvez ingênuos ou, até mesmo, que estamos sendo enganados. Além disso, os cessacionistas, compreensivelmente, afastam-se ainda mais quando veem alguns evangelistas chamativos, que fazem suas extravagantes afirmações ou aquelas pessoas que dizem que caem no Espírito, e se caem de costas, também são supostamente curadas. Certamente essa é a impressão que se dá. Quando, porém, céticos honestos, que querem ir ao fundo diante de tais afirmações, retornam a essas mesmas pessoas para entrevistá-las, os resultados geralmente dão muito que pensar. Frequentemente ocorre que poucas pessoas, ou nenhuma, foram realmente curadas. Essa situação tem se repetido por vezes. É um pouco semelhante à afirmação que fiz anteriormente, quando pessoas dizem: “O Espírito Santo desceu sobre nós”, somente para depois descobrir que não era a presença da Pomba, mas rola da religião; fogo estranho, portanto. Também me é inquietante quando famosos evangelistas de cura proíbem totalmente que pessoas em cadeiras de rodas sejam levadas para a frente do auditório antes do início do culto. Os auxiliares dos cultos recebem instruções expressas de não permitir que as pessoas em cadeiras de rodas sejam colocadas perto da plataforma; a atenção se centraliza nelas, especialmente quando as pessoas que têm dificuldades de mobilidade não são chamadas para orar por elas. Porém, entre os anos de 1949 a 1951, isso era muito diferente. Tenho bons motivos para acreditar que as curas de pessoas paralíticas realmente ocorreram. As pessoas em cadeiras de rodas eram bem-vindas — e quase sempre curadas. Elas, muitas vezes, carregavam de volta suas próprias cadeiras de rodas retornando aos seus carros; e permaneciam curadas. Vou contar por que acredito nisso. Falei pessoalmente com três homens (e outras pessoas que os conheciam bem), muito conhecidos no ministério de curas, na década de 1950. Eles me mostraram fotos, cartas e testemunhos de pessoas que lhes escreveram. Eu estava suficientemente próximo desses homens para saber que eles não estavam inventando nada. O que me convenceu ainda mais foi quando eles também admitiram que as curas, às vezes, paravam de acontecer. Eles se colocaram em uma posição vulnerável o suficiente para me confessar isso, o que me fez sentir que as fotos e cartas eram genuínas. Porém, por alguma razão, as curas milagrosas diminuíram nos anos 1950, ainda que alguns dos evangelistas pusessem todo o seu empenho em prosseguir orando pelas pessoas, como haviam feito antes — mas com menos resultados.

MINHA HIPÓTESE PESSOAL

Cessacionismo é uma hipótese. Não se trata de uma doutrina fundamentada nas Escrituras — como o nascimento virginal, a divindade de Cristo, a ressurreição de Jesus e a salvação pelo sangue do Filho de Deus. Os cessacionistas escolheram crer que Deus não Se revela a Si mesmo de maneira direta e imediata nos dias de hoje. Eu também penso que muitos cessacionistas sinceramente dariam as boas-vindas à cura sobrenatural se eles realmente vissem uma pessoa ser curada, ou se eles mesmos fossem curados (se estivessem dispostos a que orassem por eles), e permanecessem curados. A maioria dos cessacionistas se emocionaria diante de um milagre — se este fosse indubitavelmente genuíno e tivessem os fatos incontestes do antes e do depois da cura. Às vezes, isso ocorre; então, um cessacionista é convencido de um milagre e muda sua maneira de pensar. Mas isso não é frequente. Por quê? Eu não posso ter certeza.

Porém, tenho a minha própria hipótese: é para provar a fé daqueles que realmente veem o miraculoso, mas precisam desfrutá-lo em uma relativa solidão, sem que seus amigos sejam convencidos. Solidão que, em certo sentido, pode se tornar muito dolorosa — quando a sua integridade é questionada e ao mesmo tempo eles sabem, sem sombra de dúvida, do que Deus fez. É como aconteceu com a Igreja primitiva, quando se convenceu da ressurreição de Jesus —, seja porque viram o Cristo ressurreto, ou pelo testemunho direto e imediato do Espírito Santo —, tão real para eles, mas tão estranho para outros. Retornarei à minha hipótese em breve.

Sei que alguns cessacionistas, compreensivelmente, abrem-se para o miraculoso quando algum de seus entes queridos adoece gravemente. Deus, às vezes usa uma enfermidade crítica para chamar a nossa atenção. Não pretendo ser injusto, mas não há nada que mude a mentalidade de um cessacionista como a própria doença séria ou fatal, ou a enfermidade grave de um ente querido. Isso geralmente faz com que eles se abram de uma maneira que nunca fizeram antes. O general Douglas McArthur costumava dizer: “Não há ateu nas trincheiras.” Assim que, o desespero também é algo que Deus pode usar para chamar nossa atenção.

A causa de alguns cessacionistas se agarrarem às suas ideias não é apenas a falta de evidência clara e sólida, mas também as alegações de milagres de curas muitas vezes rodeadas de dotes teatrais ao estilo de Holywood e ensinos de conteúdo mais do que questionável. Muitos evangelistas de televisão, às vezes, parecem estrelas de cinema que amam ser o centro de atenção. Isso me parece extremamente diferente da humildade demonstrada pelos primeiros apóstolos.

No entanto, o que também me preocuparia é o seguinte: se os cessacionistas se decepcionariam, ficariam desapontados, se surgissem evidências irrefutáveis de curas genuínas. Com certeza, não seria nada bom se eles transformassem a hipótese do cessacionismo em um dogma — e, então, ficassem ressentidos se uma pessoa fosse curada milagrosamente. Se ao menos essas pessoas considerassem o cessacionismo como um plano B, no caso em que Deus pudesse intervir e mostrar o Seu poder incontestável.

Voltemos, agora, à minha hipótese pessoal. O que ocorreria se Deus, em alguns casos, impedisse que certos céticos vissem o milagroso, mesmo quando eles realmente ocorressem? E se os milagres forem principalmente para aqueles crentes na família de Deus que aceitaram o estigma de estarem “fora do acampamento” (Hb 13.13)? Afinal, por que o Cristo ressuscitado não apareceu para todos no domingo da ressurreição? Alguém poderia decidir argumentar que esse teria sido o caso, se Deus verdadeiramente quisesse que todos cressem em Seu Filho. Sendo assim, Ele teria aparecido para todas as pessoas. Por que, então, Jesus Se revelou somente para poucos? Por que Ele não bateu à porta de Pilatos na manhã da ressurreição, e disse: “Surpresa!”? Por que Jesus não foi direto da tumba vazia para o palácio de Herodes e disse: “Aposto que não esperava Me ver aqui!”? Ele apareceu somente para uns poucos — àqueles que eram seus fiéis seguidores.

Também suspeito que Deus, às vezes, permite que haja um pouquinho de dúvida quando se trata da prova objetiva do milagre. Isso nos mantém humildes. E sóbrios. O pastor Colin Dye do London Kensington Temple, de Londres, expressou-se da seguinte maneira:

Os milagres sempre deixam um espaço para dúvidas, já que eles não foram destinados para substituir a fé, apenas para revelar o coração. Além disso, o fato de algumas pessoas não terem acreditado nos milagres de Jesus na Galileia mostra que até os maiores desses milagres não foram provas suficientes para as pessoas que são incrédulas e de coração duro; e, rejeitar o seu testemunho é trazer um maior juízo sobre os que os testemunharam e ainda assim rejeitaram. Talvez seja pela Sua própria misericórdia que Deus, Se agrade, às vezes, de retê-los, pelo menos até que seja o tempo oportuno para trazer à luz o verdadeiro estado do coração das pessoas — para fazer entrar os eleitos e revelar os apóstatas.5

Talvez você e eu necessitemos de paciência enquanto nossos amigos ou familiares que estão totalmente convencidos de que “não existe nada” quando se trata do miraculoso. Afinal, como Pedro poderia provar que Jesus ascendeu à destra do Pai no Dia de Pentecostes? Ele não poderia. Mas ele creu. E tudo o que os outros poderiam fazer era crer em sua palavra — ou rejeitá-la.

Jesus foi “justificado no Espírito” (1 Tm 3.16) nos dias do Seu ministério terreno. Isso significou que Ele recebeu a aprovação através do Espírito Santo, somente do Pai — não a aprovação das pessoas. Isso também se refere aos Seus seguidores que eram atraídos a Ele em fé, através do Espírito Santo. A fé é um dom de Deus (At 13.48; Ef 2.8–9). Isso significa que aqueles que creram em Jesus foram atraídos a Ele pelo Espírito Santo (Jo 6.44). A justificação de Jesus pelo Espírito Santo continua até hoje. Embora Ele esteja à destra de Deus e sumamente exaltado no céu, os únicos que creem nisso são aqueles cujos corações foram atraídos a Ele pelo Espírito Santo.

A minha hipótese, então, é de que o princípio da justificação através do Espírito está em jogo quando se trata do miraculoso. A justificação pelo Espírito é uma justificação interna. O Espírito Santo testifica em nosso coração. Além disso, aqueles que são crentes fiéis no poder de Jesus hoje, têm mais probabilidades de ver e experimentar Seus milagres de cura do que aqueles que dizem: “Só acredito vendo.” Em outras palavras, assim como Jesus apareceu àqueles que anteriormente foram atraídos a Ele, pode ser que Deus mostre o Seu poder manifesto àqueles que creram, previamente, que Ele está disposto a mostrar a Sua glória.

Então, poderia ser que Deus retenha a falta de clara evidência para as pessoas por nossa causa? Se for assim, isso se torna um grande teste para nós. Eis a questão: você e eu continuaremos sendo fiéis, mesmo se nossos amigos cessacionistas continuam sem ver o poder manifesto de Deus por si mesmos? Muitos de nós amaríamos ser justificados abertamente, mostrando a todos que estávamos certos. Mas, e se Deus estiver por trás da retenção do Seu poder manifesto em relação aos nossos críticos, para que recebamos nosso reconhecimento, não através da aprovação das pessoas, mas somente através da aprovação do próprio Pai? Isso significaria que também estamos sendo justificados pelo Espírito — Seu testemunho interno — e não pelas provas externas, visíveis e tangíveis do Seu poder.

Deus poderia mostrar o Seu poder de cura em qualquer momento. Alguns anos atrás, eu recebi uma carta muito cortante de um amigo muito próximo. Ele me admoestou, amorosamente, pela minha associação com cristãos pentecostais e carismáticos. No entanto, depois de me mandar aquela carta, a sua própria filha ficou muito doente e esteve à beira da morte. Os próprios carismáticos aos quais ele normalmente não recorreria, oraram por sua filha querida. Ela foi gloriosamente curada. E permaneceu curada desde então. O meu amigo deu um giro de cento e oitenta graus. Anunciou a todos os seus amigos: “Eu sou um batista carismático”

Mas, “por que Deus não faz isso todo o tempo?”, dirá você. Eu não sei.

Meu ponto é simplesmente este: não vivamos para a justificação de nossas perspectivas teológicas. Deus quer que recebamos o reconhecimento, nesses casos, que vem somente d’Ele (Jo 5.44). Se fôssemos justificados abertamente em nossa postura de que Deus manifesta Seu poder e Sua glória hoje, através dos dons do Espírito, poderíamos sucumbir ao louvor, aos aplausos das pessoas. Isso pode facilmente acontecer. Todos nós temos egos muito frágeis. Que Deus não permita que isto aconteça conosco — pois começaríamos a dizer aos demais: “Eu avisei”.

Os intelectuais cristãos, às vezes, tendem a temer qualquer ênfase em experimentar Deus diretamente. Sei que alguns cessacionistas, compreensivelmente, abrem-se para o miraculoso quando algum de seus entes queridos adoece gravemente. Talvez você e eu necessitemos de paciência enquanto nossos amigos ou familiares que estão totalmente convencidos de que “não existe nada” quando se trata do miraculoso. Meu ponto é simplesmente este: não vivamos para a justificação de nossas perspectivas teológicas. Deus quer que recebamos o reconhecimento, nesses casos, que vem somente d’Ele (Jo 5.44).

Notas:

1. Charles Carrin, On Whose Authority? (Boyton Beach, FL: Charles Carrin Ministries, n.d.). Copies available through Charles Carrin Ministries at: www.CharlesCarrinMinistries.com.
2. “A Mighty Fortress Is Our God” by Martin Luther. Public domain.
3. John Calvin, Institutes of Christian Religion (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, Inc., 2008), 958. Viewed online at Google Books. (As Institutas ou Tratado da Religião Cristã [4 volumes], CEP – Casa Editora Presbiteriana – São Paulo – SP).
4. Ibid. 
5. These remarks from Colin Dye were included in a personal letter to the author.
*1. proposição que se admite, independentemente do fato de ser verdadeira ou falsa, como um princípio a partir do qual se pode deduzir um determinado conjunto de consequências; suposição, conjectura.

  1. 2.
    possibilidade de (alguma coisa que independe de intenção humana ou causa observável) acontecer; chance, opção.

Fonte: Fogo Santo

Nenhum comentário:

Postar um comentário