sábado, 1 de dezembro de 2018

O BATISMO COM O ESPÍRITO E A REGENERAÇÃO - Parte 2 - Por D.M. Lloyd Jones


Imagem relacionada


Mas temos uma declaração muito específica em Romanos 8. 9, que coloca este assunto de forma bastante sucinta, de uma vez por todas. Paulo diz: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. De modo que, claramente, qualquer homem que é cristão é um homem em quem o Espírito Santo de Deus habita.

Eu entendo que isto é, portanto, abundantemente evidente – você não pode ser um cristão sem ter o Espírito Santo em você. Mas – e aqui está o ponto – eu estou afirmando, ao mesmo tempo, que você pode ser um crente, que você pode ter o Espírito Santo habitando em você, e ainda não ser batizado com o Espírito Santo. Agora esta é a questão crucial. Por que eu digo isso? Deixe-me apresentar minhas razões.

Tudo que tenho descrito é a obra do Espírito Santo em nós, o trabalho de convencer, o trabalho de esclarecer, o trabalho de regenerar e assim por diante. É isso que o Espírito Santo faz em nós. Mas como você percebe no ensino do primeiro capítulo do Evangelho de João, e que vemos tão claramente na pregação de João Batista, o batismo do Espírito Santo é algo que é feito pelo Senhor Jesus Cristo, não pelo próprio Espírito Santo. “De fato te batizo com água (…) ele vos batizará com o Espírito Santo”. Isto não é primariamente uma obra do Espírito Santo, é um ato do Senhor Jesus Cristo. É a sua ação – algo que ele faz a nós através do Espírito, ou da sua doação a nós do Espírito, deste modo particular.

Agora, aqui, parece-me que há algo claro e simples na própria superfície de todo este assunto, e a respeito do qual as pessoas se con- fundem e citam 1Coríntios 12.13 – “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados”. Claro que fomos. Ser batizado no corpo de Cristo é a obra do Espírito, como a regeneração; mas isso é algo completamente diferente; isso é Cristo batizando-nos com o Espírito Santo. Eu estou sugerindo que isso é algo que é, portanto, obviamente distinto e sepa- rado de se tornar um cristão, sendo regenerado, tendo o Espírito Santo habitando dentro de você. Eu estou colocando assim – você pode ser um filho de Deus e ainda assim não ser batizado com o Espírito Santo. Deixe-me dar uma prova disso. Eu começo com os santos do Antigo Testamento. Eles eram tanto filhos de Deus como você e eu somos. Abraão é “o pai dos fiéis”, um filho de Deus. Eu poderia lhe dar infinitas referências bíblicas para provar isso. Nosso Senhor mesmo diz: “Tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus. E, no entanto, alguns desses judeus vão estar do lado de fora, embora continuem se gabando de Abraão ser seu pai”. Mas é isso que significa estar no reino de Deus, estar com Abraão, Isaque e Jacó.

Paulo, em Gálatas 3, mostra delongadamente que todos os filhos da fé são filhos de Abraão; ele é o pai dos fiéis. De fato, o apóstolo Paulo, como o apóstolo dos gentios, se esforça para enfatizar este grande fato: que quando os gentios se tornaram cristãos, o que aconteceu a eles foi que se tornaram “concidadãos com os santos”, isto é, os santos do Antigo Testamento – “e coerdeiros com eles”.

Você se lembra também daquele grande contraste em Efésios 2.11 e seguintes: “Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”. É onde eles estavam. “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo (…). Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus”. Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi todos estes homens do Antigo Testamento – todos eles pertencem à família de Deus. E quando nos tornamos cristãos, como gentios, nos tornamos “concidadãos” com eles e membros da “família de Deus”.

E então, para deixar isso bem claro, o apóstolo repete em Efésios

3. Ele diz que foi lhe dado a conhecer a revelação do mistério. O que é isso? Bem, aqui está: “o qual, em outras gerações, não foi dado a co- nhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, membros do mesmo corpo e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus”. Se você acha que os santos do Antigo Testamento não eram filhos de Deus você está negando toda a Escritura. Eles eram filhos de Deus, mas eles não foram batizados com o Espírito Santo.

Abraão cria em Cristo. Nosso Senhor diz: “Abraão viu meu dia” – ele viu de longe – “e ele se alegrou”. Estes homens não o compreenderam plenamente, mas o que os tornou filhos de Deus e homens de fé, foi isto – eles creram no testemunho de Deus a respeito do “que estava por vir”. Nenhum homem pode ser salvo, exceto em Cristo. Existe apenas um caminho de salvação, no Antigo e no Novo Testamento. Ele está sempre em Cristo, e por Cristo crucificado.

Mas e o próprio João Batista? Nosso Senhor deixa isso bem claro ao dizer: “Entre os nascidos de mulher não surgiu maior que João Batista”. João Batista é um filho de Deus, ele é filho de Deus e, no entanto, João não foi batizado com o Espírito Santo.

“Não obstante”, diz o nosso Senhor, “aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11). Essa é uma referência ao reino dos céus tomando a forma da igreja. Apesar de João Batista ser o último dos profetas, ser um filho de Deus, um servo singular, e ser tão salvo quanto qualquer outro cristão, ele não está desfrutando dos benefícios que aqueles que receberam o batismo do Espírito Santo, dado por Cristo, são capazes de desfrutar.

E então você se lembra daquela declaração tão importante em João 7.37-39: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, por- que Jesus não havia sido ainda glorificado” – como dizem com razão outras versões: “pois não havia ainda Espírito” (Bíblia de Jerusalém), “ainda não havia chegado desta forma”.

O Espírito Santo sempre esteve presente, é claro; você leu sobre ele no Antigo Testamento. Mas ele não fora dado dessa maneira “ainda”. Ele foi dado assim no Dia de Pentecostes – “pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado”. Aqui está novamente uma das declarações cruciais.

Avancemos adicionando mais coisas. Tudo isso parece-me muito mais claro quando chegamos diretamente no livro de Atos e olhamos para o caso dos próprios apóstolos. Certamente é bastante óbvio que eles eram regenerados e eram filhos de Deus antes do Dia de Pentecostes. Nosso Senhor já havia dito, “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). Na solene Oração Sacerdotal em João 17 Jesus continua definindo uma distinção entre os apóstolos e o mundo. “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”. Ao longo de todo este capítulo, a ênfase de Jesus é que essas pessoas já são regeneradas, nosso Senhor continua dizendo isso. Ele afirma: “porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste”. Nada poderia ser mais claro.

E então nos é dito que após a ressurreição nosso Senhor se reuniu com eles em um cenáculo e “soprou sobre eles” o Espírito Santo. Você se lembra daquele episódio, está registrado em João 20. “Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”. Esses homens não são apenas crentes, são homens regenerados, o Espírito Santo foi soprado sobre eles, mas eles não foram batizados com o Espírito Santo.

Atos 1.4-8 deixa isso bem claro: “E, comendo com eles, deter- minou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. E estes mesmos homens – já crentes e regenerados, que em um sentido já tinham recebido o Espírito Santo – foram “batizados” com o Espírito Santo. Esta é minha maneira de comprovar que um homem pode ser um verdadeiro crente no Senhor Jesus Cristo e um filho de Deus, e ainda assim não ser batizado com o Espírito Santo.

Trecho do livro O BATISMO E OS DONS DO ESPÍRITO, próximo lançamento da Editora Carisma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário