O PODER POR MEIO DA FRAQUEZA II – JOHN STOTT
O Chamado para líderes cristãos
É necessário
entender o contexto cultural de Corinto, especialmente no que diz
respeito à retórica. “A retórica era uma disciplina acadêmica sistemática
ensinada e praticada em todo o mundo greco-romano”. ”Na verdade, no século 1º
d.C, a retórica tinha se tornado a principal disciplina na educação superior
romana.” Nos debates públicos, nas cortes de justiça e nos funerais “a retórica
de apresentação e ornamentação” era tremendamente popular como “uma forma de
entretenimento público”.
Gradualmente a retórica “tornou-se um fim em
si mesma, uma mera ornamentação, com o desejo de agradar a multidão… mas sem
conteúdo ou intenção sérios”. Um “sofista” era um orador que “enfatizava o
estilo em vez da substância”, a forma, no lugar do conteúdo. O objetivo era o aplauso,
a vaidade e a verdade casual. (…) Essa era a situação em Corinto.
26. Porque, vede irmãos, a
vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os
poderosos, nem muitos os nobres que são chamados. 27. Mas Deus escolheu as
coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas
fracas deste mundo para confundir as fortes; 28. E Deus escolheu as coisas
vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são; 29.
Para que nenhuma carne se glorie perante ele. 30. Mas vós sois dele, em
Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção; 31. Para que, como está escrito: Aquele que se
gloria glorie-se no Senhor.
I
aos Coríntios cap. 1.26-31
Os coríntios amavam
a ambos (a retórica e o sofismo), mas Paulo os rejeitava. Em vez de filosofia
humana ele decidiu nada saber, enquanto estivesse com eles, senão a Jesus Cristo e este crucificado (2.2). No
lugar da retórica humana, ele foi a eles em fraqueza, temor e grande tremor (2.3), ou seja, “nervoso e bastante
trêmulo”. Conseqüentemente ele confiava numa
demonstração do Espírito e de poder (2.4).
Temo
que essas palavras não seriam uma descrição precisa de muitos evangelistas
contemporâneos. Fraqueza não é a característica mais evidente neles. Não. Nos
seminários, as aulas de homilética visam incutir autoconfiança nos estudantes
inseguros.
(…)
Embora, é claro, eu não seja um Spurgeon, talvez possa compartilhar com vocês
uma história sobre minha própria experiência. Em 1958, tive o privilégio de
liderar uma missão de oito dias na Universidade de Sidney, Austrália. Na última
noite, um encontro deveria acontecer no imponente salão de conferências da universidade.
Mas contraí o que os australianos chamam de ”wog” (um
micróbio), o qual me deixou afônico. Pouco antes da reunião, alguns líderes
estudantis me rodearam e um deles leu as palavras de Jesus a Paulo: “A minha
graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade,
pois,” prosseguiu Paulo, “mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo… Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”
(II Co 12.9,10). Então, os estudantes oraram para que essas palavras pudessem
se cumprir em mim naquela noite.
O
auditório estava lotado. Mas eu apenas pude sussurrar minha fala ao microfone,
sempre no mesmo tom, sem capacidade de imprimir personalidade ou de algum modo
modular minha voz. Quando chegou o momento do apelo, entretanto, houve uma
resposta ávida e imediata. Eu voltei à Austrália dez vezes desde então e, a
cada vez, alguém se aproximou de mim, perguntando, “Você se lembra daquele
encontro no salão de conferências da universidade de Sidney, quando você estava
afônico? Eu me converti a Cristo naquela noite”.
(…)
é, “o poder por meio da fraqueza”.
Do
livro: O Chamado para Líderes Cristãos/John R. W. Stott;
[Marisa K. Alvarenga de S. Lopes]. – S. Paulo: Cultura Cristã, 2005. pp
42-45
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