A CARIDADE É MAIS EXCELENTE QUE OS DONS EXTRAORDINÁRIOS DO ESPÍRITO
Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine.2 Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria.
- 1 Coríntios 13:1,2
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endo no último sermão mostrado que toda a virtude nos santos que os distingue e salva pode ser resumida no amor cristão, considero agora as coisas com as quais ele é comparado no texto, e a quem é dada a preferência.
As coisas comparadas no texto são de dois tipos: por um lado, os dons extraordinários e miraculosos do Espírito, tais como o dom de línguas, profecias, etc., que eram frequentes naquela época, e, em particular, na igreja de Corinto. Por outro lado, o efeito das influências ordinárias do mesmo Espírito nos cristãos verdadeiros, isto é, a caridade ou amor divino.
Aquele foi um tempo de milagres. Não acontecia então como outrora entre os judeus, quando dois ou três ou, no máximo, poucos em toda a nação tinham o dom de profecia. Parecia, ao contrário, que o desejo de Moisés, registrado em Números 11:29, houvesse em grande medida se cumprido: “Tomara que todo o povo do SENHOR fosse profeta”.
Não apenas certas pessoas de grande eminência eram agraciadas com esses dons, mas eram comuns a tipos diversos, velhos e jovens, homens e mulheres, de acordo com a profecia de Joel, que, pregando acerca desses dias, previu de antemão este grande evento: “Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos jovens terão visões.”
A igreja de Corinto, em especial, era muito reconhecida por esses dons. Lá havia toda sorte de dons miraculosos, como transparece nesta epístola, concedidos àquela igreja; e o número dos que os desfrutavam não era pequeno.
“A um”, diz o apóstolo, “o Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas, a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz.”
Assim, alguns tinham um dom, outros, outro. “Mas,” diz o apóstolo, “aspirai aos dons mais altos. Aliás, passo a indicar-vos um caminho que ultrapassa a todos.” Ou seja, algo mais excelente que todos esses dons considerados juntos, sim, algo de tamanha importância, sem o qual todos eles se reduzem a nada.
Pois, “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens,” como ocorreu no dia de Pentecostes, e, em adição, “as dos anjos”, e “se eu não tivesse a caridade, seria” algo vazio e inútil, “como um bronze que soa ou como um címbalo que tine. Ainda que eu tivesse” não apenas isso, mas todos os dons extraordinários do Espírito, e pudesse não apenas falar em línguas, mas “tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência,” para perscrutar todas as coisas profundas de Deus por inspiração imediata; “ainda que tivesse toda a fé” para realizar todo tipo de milagres, sim, mesmo “a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, eu nada seria.”
A caridade, então, que é o fruto da influência santificadora ordinária do Espírito Santo, é preferida como mais excelente que quaisquer, e até mesmo, todos os dons extraordinários do Espírito. Esse é o mesmo amor cristão que, como foi demonstrado, é a soma de toda graça salvífica. Sim, é tão mais preferida que, todos eles sem ela, nada são e não possuem valor algum.
Portanto, a doutrina ensinada é:
A INFLUÊNCIA ORDINÁRIA DO ESPÍRITO DE DEUS, OPERANDO A GRAÇA DA CARIDADE NO CORAÇAO, É MAIS EXCELENTE BENÇÃO QUE QUAISQUER DOS DONS EXTRAORDINÁRIOS DO ESPÍRITO.
Aqui me esforçarei em mostrar, primeiro, o que se quer dizer por dons ordinários e extraordinários do Espírito; segundo, que esses dons são, de fato, grandes privilégios; e ainda, terceiro, que a influência ordinária do Espírito, operando a graça da caridade, ou amor, no coração, é uma benção mais excelente.
I. Explicarei brevemente o que se quer dizer por dons ordinários e extraordinários do Espírito, pois os teólogos distinguem os dons e operações do Espírito de Deus em comuns e salvíficos, e em ordinários eextraordinários.
1. Os dons e operações do Espírito de Deus são distinguidos entre os que são comuns e os que sãosalvíficos.
Por dons comuns do Espírito denominam-se aqueles que são comuns tanto aos crentes quanto aos ímpios. Há certas maneiras em que o Espírito influencia a mente dos homens naturais da mesma forma que a dos justos. Assim, há convicções comuns de pecado, ou seja, convicções que os ímpios têm tanto quanto os justos. Também há iluminações ou esclarecimentos, isto é, de tipos que são comuns a ambos. Também há afeições religiosas – gratidão comum – aflição comum, e coisas semelhantes.
Mas há outros dons do Espírito que são peculiares aos santos, tais como a fé e o amor salvíficos, e todos as outras graças salvíficas do Espírito.
2. Ordinários e extraordinários.
Os dons extraordinários do Espírito, tais como os dons de línguas, profecias, milagres, etc., são chamados extraordinários porque são dos tipos que não são concedidos no curso ordinário da providência de Deus. Não são concedidos na maneira ordinária de Deus se relacionar providencialmente com seus filhos, mas apenas em ocasiões especiais, como foram concedidos aos profetas e apóstolos para capacitá-los a revelar o propósito e vontade de Deus antes que o cânon da Escritura estivesse completo, e também na igreja primitiva, a fim de fundá-la e estabelecê-la no mundo. Mas desde que o cânon está completo, e a igreja cristã plenamente fundada e estabelecida, esses dons extraordinários cessaram.
Mas os dons ordinários do Espírito são dos tipos que continuam na Igreja de Deus por todas as eras; tais dons são obtidos na convicção e conversão, e também pertencem à edificação dos santos na santidade e conforto.
Pode-se observar, então, que a distinção entre os dons do Espírito em ordinários e extraordinários é muito diferente da outra distinção em comuns e salvíficos. Pois alguns dos dons ordinários, como a fé, esperança, caridade, não são dons comuns. São do tipo que Deus ordinariamente concede a sua Igreja em todas as eras, mas não são comuns aos justos e aos ímpios: são peculiares aos justos.
Já os dons extraordinários, são comuns. O dom de línguas, milagres, profecias, etc., embora não sejam ordinariamente dispensados à Igreja cristã, mas apenas em circunstâncias extraordinárias, não são, contudo, peculiares aos santos, pois muitos ímpios possuíram tais dons: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres? Então eu lhes declararei: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mt 7:22,23)
Tendo explicado estes termos, prossigo agora para mostrar:
II. Que os dons extraordinários do Espírito de Deus, de fato, são grandes privilégios.
Quando Deus agracia alguém com um espírito de profecia; favorece-o com inspiração imediata; ou dá-lhe o poder de realizar milagres, curar doentes, expelir demônios, e coisas semelhantes, grande é o privilégio. Sim, este é um dos maiores tipos de privilégios que Deus pode conceder aos homens, ao lado da graça salvífica.
É um grande privilégio viver no gozo dos meios exteriores de graça, e pertencer à igreja visível; mas ser um profeta e operador de milagres na Igreja é privilégio ainda maior. É grande privilégio ouvir a Palavra que foi dita pelos profetas e pelos homens inspirados, mas é privilégio maior ainda ser um profeta, pregar a Palavra, ser inspirado por Deus para fazer conhecidos a outros seu propósito e vontade.
Foi um grande privilégio que Deus concedeu a Moisés, quando o chamou para ser profeta, e o empregou como instrumento para revelar a Lei aos filhos de Israel, e entregar à igreja grande parte da Palavra escrita de Deus (palavra essa que foi a primeira revelação entregue) e quando o usou como instrumento para a realização de tantas maravilhas no Egito, às margens do Mar Vermelho, e no deserto.
Grande foi o privilégio concedido a Davi por Deus, ao inspirá-lo, e torná-lo escritor de porção tão grandiosa e excelente de sua Palavra, para o uso da Igreja em todos os tempos.
Grande foi o privilégio que Deus concedeu àqueles dois profetas, Elias e Eliseu, ao capacitá-los para operar obras tão miraculosas e maravilhosas.
E foi muito grande o privilégio concedido a Daniel, quando Deus lhe deu tantos dos extraordinários dons do Espírito, em particular o entendimento das visões de Deus. Isso lhe assegurou grande honra entre os pagãos, e até mesmo na corte do rei da Babilônia.
Nabucodonosor, aquele grande e poderoso monarca, admirou tanto Daniel por esses dons, que certa vez quase o adorou como a um deus. Prostrou sua face diante dele, e ordenou que uma oblação e sacrifício de aroma suave lhe fosse oferecido (Dan 2:46). E Daniel foi levado a ter maior honra que todos os sábios, magos, astrólogos e adivinhos da Babilônia, em consequência destes dons extraordinários que Deus lhe concedera. Ouçam como a rainha fala acerca dele para Belsazar (Dan 5:11, 12): “Há um homem, no teu reino, no qual habita o espírito dos deuses santos. Nos dias de teu pai, nele encontrou-se luz, inteligência e sabedoria igual à sabedoria dos deuses. O rei Nabucodonosor, teu pai, nomeou-o chefe dos magos, adivinhos, caldeus e astrólogos. Portanto, uma vez que nesse Daniel, que o rei cognominou Baltassar, constatou-se um espírito extraordinário, conhecimento, inteligência e arte de interpretar os sonhos, de resolver os enigmas e de desfazer os nós, manda comparecer Daniel e ele te dará a conhecer a interpretação.”
Também foi esse privilégio que deu a Daniel grande proeminência na corte persa: “Aprouve a Dario estabelecer sobre o seu reino cento e vinte Sátrapas, os quais se distribuiriam por todo o reino e estariam submetidos a três ministros — um dos quais era Daniel — a quem os sátrapas deveriam prestar contas. Isso, a fim de que o rei não fosse defraudado. Ora, Daniel distinguia-se tanto entre os ministros e os sátrapas, porque nele havia um espírito extraordinário, que o rei se propôs colocá-lo à frente de todo o reino.” (Dn 6:1-3) Por esse espírito excelente pretendia-se dizer, sem dúvida, entre outras coisas, o espírito de profecia e a inspiração divina, pelos quais ele havia sido tão honrado pelos príncipes da Babilônia.
Foi grande o privilégio concedido por Cristo aos apóstolos, ao enchê-los com os dons extraordinários do Espírito Santo, inspirando-os a ensinar a todas as nações, e ao torná-los, por assim dizer, íntimos dele, e ser as doze pedras preciosas que são consideradas os doze fundamentos da Igreja: “E o muro da cidade tinha doze fundamentos e, neles, os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Ap 21:14) “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina.” (Ef 2:20)
E como foi altamente favorecido o apóstolo João, quando estava “em Espírito, no Dia do Senhor” e teve visões tão extraordinárias, representando os grandes eventos da providência de Deus em relação à igreja, em todas as suas eras, até o fim do mundo.
Esses dons extraordinários do Espírito são mencionados nas Escrituras como grandes privilégios. Assim foi o privilégio que Deus concedeu a Moisés ao falar-lhe por meio de revelação miraculosa extraordinária, por assim dizer, “face a face”. E aquele derramamento do Espírito, com seus dons extraordinários, no dia de Pentecostes, foi previsto e anunciado pelo profeta Joel como um grande privilégio, nas supracitadas palavras de Jl 2:28,29. E Cristo fala dos dons de milagres e de línguas como grandes privilégios que seriam concedidos àqueles que cressem nele (Mc 16. 17,18).
Esses dons extraordinários do Espírito têm sido vistos como uma grande honra. Moisés e Arão foram invejados no acampamento por causa da honra peculiar que Deus lhes concedera (Sl 106:16). E assim Josué prontamente invejou Eldade e Meldade porque profetizaram no arraial (Nm 11:27). E quando os próprios anjos foram enviados a fazer o ofício dos profetas, revelando coisas futuras, [isso] os colocou em muito honroso ponto de luz.
Até mesmo o apóstolo João, tomado por grande surpresa, foi, de imediato, se prostrar e adorar aquele anjo que foi enviado por Cristo para lhe revelar os futuros eventos da igreja. Mas o anjo o proíbe, reconhecendo que o privilégio do espírito de profecia que estava sobre ele não procedia de si, mas que o havia recebido de Jesus Cristo (Ap 19:10 e 22:8,9).
Os pagãos da cidade de Listra ficaram tão impressionados com o poder que Paulo e Barnabé tinham para realizar milagres que estavam prestes a lhes oferecer sacrifícios como a deuses (At 14:11-13). E Simão, o mago, teve grande desejo pelo dom que os apóstolos possuíam de conferir o Espírito Santo pela imposição das mãos, e ofereceu-lhes dinheiro por ele.
Esses dons extraordinários do Espírito são grandes privilégios, pois há neles grande conformidade com Cristo no seu ofício profético. E também se evidencia a grandeza do privilégio pelo fato de que embora, às vezes, fossem concedidos a homens naturais, era, contudo, muito raramente. Comumente os agraciados com eles foram os santos, os mais eminentes deles.
Assim foi no dia de Pentecostes, bem como nas eras mais primitivas: “Homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pe 1.21) Esses dons foram comumente concedidos como relíquias do extraordinário favor e amor de Deus, como no caso de Daniel. Ele foi um homem muito amado, e, portanto, foi admitido com esse grande privilégio de receber essas revelações (Dn 9. 23; 10.11-19). O apóstolo João, na condição de discípulo a quem Jesus amava, foi escolhido acima dos outros apóstolos para ser o homem a quem aqueles grandes eventos foram revelados, cujos registros estão no livro de Apocalipse.
Prossigo agora para mostrar que,
III. Embora esses sejam grandes privilégios, porém, a influência ordinária do Espírito de Deus, operando a graça da caridade no coração, é, de longe, privilégio mais excelente que quaisquer deles.
Essa é uma benção maior que o espírito de profecia, ou dom de línguas, ou de milagres, mesmo que seja a remoção de montanhas; uma benção maior que todos os dons miraculosos que foram concedidos a Moisés, Elias, Davi e aos doze apóstolos. Isso será evidente, se considerarmos:
1. Esta benção da graça salvadora de Deus é uma qualidade inerente na natureza daquele que lhe é objeto.
Este dom do Espírito de Deus, construindo uma índole verdadeiramente cristã na alma, e incitando exercícios graciosos nela, confere uma bênção que tem seu centro no coração, uma bênção que torna o coração, ou natureza do homem, excelente. De fato, na realidade, a própria excelência da natureza consiste nisso.
Porém, isso não ocorre com relação àqueles dons extraordinários do Espírito. Eles são coisas excelentes, mas não são propriamente a excelência da natureza de um homem, pois não são inerentes nela. Por exemplo, se um homem for agraciado com o dom de realizar milagres, esse poder não é inerente em sua natureza. Não é propriamente uma qualidade do coração ou da natureza do homem, como são a verdadeira graça e santidade.
Embora comumente os que possuem estes dons extraordinários de profecia, línguas, e realização de milagres tenham sido pessoas santas, contudo, sua santidade não consistia em possuírem esses dons. Eles não são algo propriamente inerente no homem. São coisas excepcionais. São excelentes, mas não excelências na natureza do sujeito. São como uma bela vestimenta, que não altera a natureza de quem a veste. São como joias preciosas, com as quais o corpo pode ser adornado; mas a graça verdadeira é aquilo pelo qual a própria alma se torna à semelhança de uma joia preciosa.
2. O Espírito de Deus comunica a si mesmo muito mais ao conceder a graça salvadora do que ao conceder esses dons extraordinários.
O Espírito Santo, é verdade, produz efeitos, nos homens e pelos homens, com a concessão dos dons extraordinários do Espírito. Porém, não a ponto de propriamente comunicar aos homens a si mesmo, em sua própria natureza.
Um homem pode ter um estímulo extraordinário na sua mente pelo Espírito de Deus, em que algum evento futuro pode lhe ser revelado, ou pode lhe ser dada uma visão extraordinária, representando algum evento futuro. Nisso tudo, porém, é possível que o Espírito não se comunique de forma alguma, em sua santa natureza. O Espírito de Deus pode produzir efeito em coisas em que não comunica a si mesmo a nós. Assim Ele se movia sobre a face das águas, mas não a ponto de comunicar-se à agua.
Mas quando o Espírito, pela sua influência ordinária, concede a graça salvadora, nisso comunica a si mesmo à alma, em sua própria natureza santa – aquela sua natureza, por cuja causa é chamado com tanta frequência na Escritura de Espírito Santo. Por produzir esse efeito, o Espírito se torna princípio vital interior na alma, e o sujeito se torna espiritual, sendo denominado assim por causa do Espírito de Deus que nele habita, e de cuja natureza é participante. A graça é, por assim dizer, a natureza santa do Espírito comunicada à alma.
Mas os dons extraordinários do Espírito, tais como o conhecimento das coisas futuras, ou o poder de realizar milagres, não implicam nessa natureza santa. É certo que Deus, ao conceder os dons extraordinários do Espírito, comumente costuma conceder as influências santificadoras do Espírito com eles; mas um não implica o outro. E se Deus der apenas os dons extraordinários do Espírito, tais como o dom de profecias, de milagres etc., estes sozinhos jamais tornarão seus receptores participantes do Espírito, a ponto de serem espirituais em si mesmo, isto é, em sua própria natureza.
3. Essa graça ou santidade, que é o efeito da influência ordinária do Espírito de Deus nos corações dos santos, é em que consiste a imagem espiritual de Deus; e não nesses dons extraordinários do Espírito.
A imagem espiritual de Deus não consiste em ter poder para realizar milagres, ou prever eventos futuros, mas em ser santo, como Deus é santo; em ter no coração uma fonte divina e santa, nos influenciando a ter vidas santas e celestiais. De fato, há uma semelhança com Cristo quando se tem poder para realizar milagres, pois Cristo teve tal poder, e realizou uma multidão de milagres: “Aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas.” (João 14.12) Mas a imagem moral e semelhança de Cristo consistem muito mais em ter em nós mesmos a mesma mente de Cristo; em ter o mesmo Espírito que ele teve; em ser manso e humilde de coração; em ter um espírito de amor cristão, e andar como Cristo andou. Isso torna um homem muito mais semelhante a Cristo do que se pudesse realizar sempre muitos milagres.
4. Essa graça, ao contrário dos dons extraordinários do Espírito de Deus, é um privilégio que Deus concede apenas a seus eleitos e filhos.
Foi observado antes que, embora Deus muito comumente escolhesse santos, e santos eminentes, para conceder os dons extraordinários do Espírito, contudo, nem sempre foi assim, mas esses dons são, às vezes, concedidos a outros. Eles têm sido comuns a justos e ímpios.
Balaão é estigmatizado na Escritura como ímpio (2 Pe 2.15; Jd 11; Ap 2.14), contudo, possuiu, por um tempo, os dons extraordinários do Espírito de Deus. Saul era ímpio, mas lemos que, ocasionalmente, esteveentre os profetas. Judas foi um dos que Jesus enviou para pregar e realizar milagres; ele é um dos doze discípulos de quem é dito em Mateus 10.1: “E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem e para curarem toda enfermidade e todo mal.” Nos próximos versículos, vemos quem são eles; seus nomes todos são apresentados, e “Judas Iscariotes, aquele que o traiu,” estava entre os demais. No versículo 8, Cristo lhes diz: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios.”
A graça de Deus no coração é um dom do Espírito Santo peculiar aos santos; é uma benção que Deus reserva apenas àqueles que são objetos de seu amor especial e peculiar. Mas os dons extraordinários do Espírito são do tipo que Deus, às vezes, concede àqueles a quem não ama, mas odeia, o que é sinal seguro de que aquela graça é infinitamente mais preciosa do que estes dons. Esse é o dom mais precioso, que é grande evidência do amor de Deus. Mas os dons extraordinários do Espírito não foram, nos dias da inspiração e dos milagres, sinais certos do amor de Deus. Os profetas não costumavam se deixar persuadir do favor e amor de Deus pelo fato de serem profetas, e terem revelações, mas por serem santos sinceros. O mesmo acontecia com Davi (veja Sl 15.1-5; 17.1-3; 119); e, de fato, todo o livro dos Salmos presta testemunho disso. Também o apóstolo Paulo, embora fosse tão grandemente privilegiado com os dons extraordinários do Espírito, estava, não obstante, tão longe de torná-los em evidência de seu bom estado, que declara expressamente que sem o amor eles nada são.
E assim podemos argumentar:
5. A partir do fruto e consequência dessas duas coisas diferentes, que uma é infinitamente mais excelente que a outra.
A vida eterna está, pelas promessas do evangelho, constantemente conectada com uma, e jamais com a outra. A salvação é prometida aos que tem a graça do Espírito, mas não àqueles que meramente têm os dons extraordinários. Muitos podem ter tido esses últimos, e ainda assim, foram para o inferno. Judas Iscariotes os possuiu, e foi para o inferno. E Cristo nos diz que muitos que os tiveram irão, no último dia, ser ordenados a se apartar, por serem obreiros da iniquidade (Mt 7. 22,23). Assim, quando prometeu aos discípulos esses dons extraordinários, pediu-lhes que se regozijassem não porque os demônios lhes eram sujeitos, mas porque seus nomes estavam escritos nos céus; dando a entender com isso que um poderia existir sem o outro (Lucas 10. 17-20, etc.).
Isso mostra que um é uma benção infinitamente maior que o outro, uma vez que carrega consigo a vida eterna. Pois a vida eterna é algo de infinita dignidade e valor, e aquilo que está infalivelmente conectado a ela deve ser uma bênção excelente, e infinitamente mais digna que qualquer privilégio que alguém possa possuir, e no final das contas ir para o inferno.
6. A felicidade em si consiste muito mais imediata e essencialmente na graça cristã, moldada pela influência ordinária do Espírito, do que nesses dons extraordinários.
A mais alta felicidade humana consiste na santidade, pois é por ela que a criatura racional é unida a Deus, a fonte de todo bem. A felicidade consiste de tal maneira em conhecer, amar e servir a Deus, e ter a índole santa e divina da alma, e os vívidos exercícios dela, que essas coisas farão um homem feliz sem necessidade de nada mais; entretanto, nenhuma outra alegria ou privilégio de qualquer tipo fará um homem feliz sem isso.
7. Esta índole divina da alma, que é o fruto das influências santificadoras ordinárias do Espírito, é o objetivo de todos os dons extraordinários do Espírito Santo.
Deus deu o dom de profecias, milagres, línguas etc., para este fim: promover a propagação e estabelecimento do evangelho no mundo. E o fim do evangelho é converter os homens das trevas para a luz, e do poder do pecado e de Satanás para servir ao Deus vivo, isto é, santificar os homens.
O propósito de todos os dons extraordinários é a conversão dos pecadores, e a edificação dos santos nessa santidade que é fruto das influências ordinárias do Espírito Santo. Por isso, o Espírito Santo foi derramado sobre os apóstolos após a ascensão de Cristo, e foram capacitados a falar em línguas, realizar milagres etc. Por isso, a muitos outros, naquele período, foram concedidos esses dons extraordinários do Espírito Santo: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.” (Ef. 4. 11) Aqui, os dons extraordinários do Espírito são mencionados e, o fim deles é expresso nas próximas palavras: “Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.” E que tipo de edificação do corpo de Cristo é essa, aprendemos no versículo 16: “A que faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” No amor, ou seja, na caridade, o mesmo que é dito no nosso texto, pois a palavra no original é a mesma, e o sentido também. E assim também ocorre em 1 Co 8.1: “o amor edifica.”
Mas o fim é sempre mais excelente que os meios; essa é uma máxima universalmente aceita. Pois os meios não têm valor em si de outra forma a não ser quando estão subordinados ao fim. O fim, portanto, deve ser considerado como superior em excelência aos meios.
8. Os dons extraordinários do Espírito estão tão longe de gerar benefícios sem aquela graça que é fruto das influências ordinárias do Espírito; mas irão, ao contrário, agravar a condenação daqueles que os possuem.
Sem dúvida, a condenação de Judas foi muito agravada por ter sido ele um dos que tiveram esses privilégios. E alguns que tiveram esses dons extraordinários cometeram o pecado contra o Espírito Santo, e seus privilégios foram a coisa principal que tornou seu pecado em pecado imperdoável; isso transparece em Hb 6. 4-6: “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõem ao vitupério.”
Os que caíram eram pessoas que apostataram do cristianismo após terem feito uma profissão publica dele, e receberem os dons extraordinários do Espírito Santo, como a maior parte dos cristãos daquela época recebia. Foram instruídos no cristianismo e, através das influências comuns do Espírito, receberam a Palavra com alegria, como os de Mateus 13.20, e, juntamente, receberam os dons extraordinários do Espírito: “se fizeram participantes do Espírito Santo,” falaram em línguas, profetizaram no nome de Cristo, e em seu nome expeliram demônios.
Ainda assim, depois de tudo, abertamente renunciaram ao cristianismo, juntaram-se aos que chamavam Cristo de impostor, como fizerem seus assassinos, e assim “de novo crucificaram o Filho de Deus e o expuseram ao vitupério.” É desses que o apóstolo fala: “é impossível que sejam outra vez renovados para arrependimento.”
Esses apóstatas, ao renunciar ao cristianismo, devem atribuir os poderes miraculosos que eles mesmos possuíram ao diabo. Assim, sua situação tornou-se desesperadora, e sua condenação deve ser grandemente agravada. E disto se evidencia que a graça salvífica é infinitamente mais digna e valiosa que os dons extraordinários do Espírito.
E, por fim,
9. Outra coisa que mostra a preferência dessa graça salvífica, que é fruto das influências ordinárias do Espírito Santo, sobre os dons extraordinários, é que um falhará e a outra não.
O apóstolo faz uso desse argumento, no contexto, para mostrar que o amor divino é preferível aos dons extraordinários do Espírito: “A caridade nunca falha; mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá.” (v. 8) O amor divino permanecerá por toda a eternidade, mas os dons extraordinários do Espírito falharão no tempo. Eles são apenas meios, e quando o fim for obtido, cessarão. Mas o amor divino permanecerá para sempre.
APLICAÇÃO
Na aplicação desse assunto, destaco:
1. Se a graça salvífica é uma benção maior do que os dons extraordinários do Espírito, sem dúvida, portanto, podemos argumentar que ela é o maior privilégio e bênção que Deus concede a qualquer pessoa neste mundo.
Pois esses dons extraordinários do Espírito Santo, tais como o dom de línguas, milagres, profecias, etc. são os mais altos privilégios que Deus jamais concede aos homens naturais, e privilégios que, com exceção da era apostólica, raramente lhes foram concedidos.
Se o que foi dito for bem considerado, parecerá evidente, além de toda dúvida, que a graça salvífica de Deus no coração, operando uma índole santa e divina na alma, é a maior bênção que um homem pode receber neste mundo. É maior que quaisquer dons naturais, maior até do que as maiores habilidades naturais, maior do que quaisquer dotes mentais adquiridos, maior do que o conhecimento mais profundo, maior do que qualquer riqueza e honra temporais, maior do que ser um rei ou imperador, maior do que ser tirado do curral, como foi Davi, e ser entronizado sobre Israel. Todas as riquezas, honrarias e magnificências de Salomão, em toda a sua glória, quando comparadas a ela, nada são.
Foi grande o privilégio que Deus concedeu à bendita virgem Maria, ao conceder que dela nascesse o Filho de Deus. O fato de uma pessoa que era infinitamente mais digna do que os anjos; que, de fato, era o Criador e Rei da terra e do céu, o grande Soberano do mundo, fosse concebido em seu útero, nascesse dela, e amamentasse de seus seios, para ela foi maior privilégio do que ser mãe do filho do maior príncipe terreno que já existiu. Contudo, ainda isso não foi maior privilégio do que ter a graça de Deus no coração; ter Cristo, por assim dizer, nascido na alma, como ele próprio expressamente nos ensina: “E aconteceu que, dizendo ele essas coisas, uma mulher dentre a multidão, levantando a voz, lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que mamaste! Mas ele disse: Antes, bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam.”
Uma vez, quando alguns lhe disseram que sua mãe e irmãos permaneciam do lado de fora, desejando falar-lhe, ele aí teve ocasião para fazê-los saber que havia um modo mais bendito de ser aparentado dele do que aquele que consistia em ser sua mãe e irmão, de acordo com a carne: “Ele, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe.”
2. Daí que esses dois tipos de privilégios não devem ser confundidos, ao tomar coisas que têm alguma aparência de dom extraordinário e miraculoso do Espírito como sinais certos da graça.
Se as pessoas, a qualquer tempo, tiverem alguma impressão extraordinária feita sobre suas mentes, que pensarem seja de Deus, revelando-lhes algo que virá a acontecer no futuro, isso, se fosse real, seria evidência positiva de um dom extraordinário do Espírito Santo, isto é, o dom de profecia.
Mas, pelo que foi dito, é evidente que isso não seria sinal certo da graça, ou de alguma coisa salvífica. Mesmo se fosse real, digo, pois de fato não temos razão para encarar tais coisas, quando pretextadas, nestes dias, de outra maneira senão como ilusão [delusion]. E o fato de que tais impressões são causadas por textos da Escritura vindo repentinamente à mente, em nada altera a situação; pois um texto da Escritura vindo à mente, prova tanto que [aquelas impressões] são verdadeiras quanto a leitura dela o prova. Se a leitura de qualquer texto da Escritura, a qualquer tempo, e em todos os tempos, como está na Bíblia, não prova tal coisa, então a sua vinda súbita à mente tampouco o prova. Pois a mesma coisa que a Escritura fala naquela circunstância, fala nessa.
As palavras têm o mesmo sentido quando são lidas em uma sequência, e quando são subitamente trazidas à mente. E se alguém argumenta mais a partir disso, ele procede sem garantia [warrant]. Pois a vinda imediata [das palavras] à mente não dá a elas um novo sentido, que antes não possuíam.
Portanto, se alguém pensa estar em uma boa situação, porque tal texto da Escritura lhe vem subitamente à mente, se o texto não provar isso, como se encontra na Bíblia, e se não o tivesse provado, se tão-somente tivesse lido, enquanto lia determinada sequência, então, pelo fato de esse texto ter vindo à mente, ele não tem evidência de que esteja em um bom estado.
Portanto, se algo aparecer às pessoas, embora tenham tido uma visão de alguma forma visível, e ouvido alguma voz, essas coisas não devem ser tomadas como sinais da graça, pois se forem verdadeiras, e de Deus, não são a graça, pois a influência extraordinária do Espírito, produzindo visões e sonhos, como os profetas de outrora tiveram, não são sinais garantidos da graça. Todos os frutos do Espirito, sobre os quais devemos por o peso de ser evidência de graça, estão sumarizados na caridade, ou amor cristão, porque ela é a suma de toda graça. E o único modo, portanto, que alguém pode saber sua boa situação, é discernindo os exercícios dessa caridade divina em seus corações, pois sem a caridade, tenham os homens quaisquer dons que lhes agradem, eles nada são.
3. Se a graça salvífica é mais excelente do que os dons extraordinários do Espírito, então não podemos concluir do que a Escritura fala sobre a glória dos últimos dias da igreja, que os dons extraordinários do Espírito serão concedidos aos homens naqueles tempos.
Muitos estiveram prontos a pensar que, naqueles tempos gloriosos da igreja, que ocorrerão após o chamado dos judeus e da destruição do Anticristo, haverá muitas pessoas que serão inspiradas, e dotadas com um poder de realizar milagres.
Mas o que a Escritura diz com relação à glória daqueles dias não prova isso, nem o torna provável. Pois foi mostrado que o derramamento do Espírito de Deus, nas suas operações ordinárias e salvadoras, para encher os corações dos homens com uma índole cristã e santa, e conduzi-los aos exercícios da vida divina, é o mais glorioso dos meios de derramamento do Espírito que pode acontecer. É mais glorioso, muito mais glorioso, do que o derramamento dos dons miraculosos do Espírito.
Portanto, a glória daqueles tempos da igreja não requer nada semelhante a esses dons extraordinários. Aqueles tempos podem ser de longe os mais gloriosos da igreja, em todas as suas épocas, sem esses dons. O fato de não terem o dom de profecia, línguas, curas etc., como tiveram na era apostólica, não impedirá que sejam, de longe, os mais gloriosos tempos que já existiram, se o Espírito for derramado em grande medida em suas influências santificadoras; pois esse, como afirma expressamente o Apóstolo, é um caminho mais excelente (1 Co 12:31).
Esta glória é a maior glória da igreja de Cristo; e a maior glória que a igreja de Cristo desfrutará em qualquer período. Isso é o que tornará a igreja mais semelhante à igreja no céu, onde a caridade, ou amor, tem um reino mais perfeito do que qualquer número ou grau dos dons extraordinários do Espírito possam ter. De modo que não temos razão alguma para, por esse motivo, e talvez por qualquer outro, esperar que os dons extraordinários do Espírito sejam derramados naqueles tempos gloriosos que ainda estão por vir. Pois naqueles tempos não haverá uma nova dispensação a ser apresentada, e nem uma nova Bíblia a ser dada.
Nem temos qualquer razão para esperar que nossas presentes Escrituras devam ser adicionadas e aumentadas; ao contrário, no final dos escritos sagrados que agora temos, parece ser intimado que nenhuma adição deve ser feita até que Cristo venha. Veja Ap. 22:18-21.
4. Aqueles que receberam tal privilégio, como é implicado na influência do Espírito Santo operando a graça salvadora no coração, têm um motivo enorme de bendizer a Deus!
Se tão-somente considerarmos seriamente o estado dos piedosos, daqueles que foram objetos dessa benção indizível, podemos apenas ficar espantados com a maravilhosa graça concedida a eles. E, quanto mais a consideramos, mais maravilhosa e inefável parecerá.
Quando lemos nas Escrituras do grande privilégio concedido à Virgem Maria, e ao apóstolo Paulo, quando foi arrebatado ao terceiro céu, estamos prontos a admirar esses privilégios como muito grandes. Porém, apesar de tudo, eles nada são quando comparados ao privilégio de ser semelhante a Cristo, e ter o seu amor no coração.
Portanto, que aqueles que esperam ter esta última bênção, considerem muito mais do que têm considerado como foi grande o favor que Deus lhes concedeu, e como é grande sua obrigação de glorificá-lo pela obra que realizou neles, e glorificar a Cristo que lhes adquiriu essas bênçãos com seu próprio sangue, e glorificar o Espírito Santo que o selou em suas almas. Que gênero de pessoas deveriam ser essas em toda santa conversação e piedade!
Considerem, vocês que esperam na misericórdia de Deus, como ele os promoveu e exaltou tão altamente; vocês não serão diligentes em viver para ele? Desonrarão a Cristo a ponto de tê-lo em baixa conta, não lhe dando todo o seu coração, mas seguindo após o mundo, negligenciando-o, e ao seu serviço e à sua glória? Não serão vigilantes contra si mesmos, contra uma disposição corrupta, mundana e orgulhosa, que pode levá-los para longe do Deus que lhes tem sido tão bondoso, e do Salvador que lhes adquiriu essas bênçãos, ao custo de sua própria agonia e morte? Não irão a cada dia fazer suas esta investigação urgente: “O que darei ao Senhor em troca dos seus benefícios para comigo?”
O que mais o Senhor poderia ter feito por vocês que não tenha feito? Que privilégios lhes poderia ter concedido, melhores em si, ou mais digno, para que engajasse seus corações em ações de graças? E considerem como têm vivido – como têm feito pouco por ele – o quanto fazem por si – quão pouco esse amor divino tem operado em seus corações para incliná-los a viver para Deus e Cristo, e para a expansão de seu reino? Oh! Como pessoas como vocês deveriam mostrar seu senso dos altos privilégios que possuem, pelos exercícios do amor; amor esse que é manifestado em relação a Deus em obediência, submissão, reverência, prazer, alegria e esperança; e em relação ao próximo em mansidão, simpatia, humildade, caridade, e na prática do bem a todos que tiverem oportunidade.
Finalmente,
5. O assunto exorta a todas as pessoas não regeneradas, aquelas que são estranhas a essa graça, a buscar essa bênção mais excelente para si mesmas.
Considere como são miseráveis agora vocês, que estão totalmente destituídos desse amor, distantes da justiça, amando as vaidades do mundo, e cheios de inimizade contra Deus. Como vocês suportarão quando ele tratar com vocês de acordo com o que são, apresentando-se em ira, como seu inimigo, e executando contra vocês a ira impetuosa.
Considerem também, que são capazes desse amor; e Cristo é capaz e está disposto a conceder-lhes; multidões já o obtiveram e foram abençoadas nele. Deus está buscando seu amor, e vocês estão sob a obrigação indizível de responder-lhe. O Espírito de Deus tem sido derramado maravilhosamente aqui. Multidões foram convertidas. Quase nenhuma família foi preterida. Em quase todas as casas alguns foram feitos nobres, reis e sacerdotes para Deus, filhos e filhas do Senhor Altíssimo!
Que tipo de pessoas, portanto, devemos ser nós todos; santas, sérias, justas, humildes, caridosas, devotadas no serviço de Deus, e fiéis para com nossos semelhantes! Como indivíduos e como povo, Deus nos abençoou muito ricamente, e tanto como indivíduos quanto povo, é apropriado que sejamos uma nação santa, sacerdócio real, um povo peculiar, compete a nós conceder os louvores àquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz: “Ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que vos não faça em pedaços, sem haver quem vos livre. Aquele que oferece sacrifício de louvor me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus.” (Sl 50.23-23)
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