domingo, 14 de abril de 2013

A necessidade da oração.


Por Rev. Hermisten Maia


A questão que surge é: Se Deus sabe todas as coisas, por que então orar? Calvino responde:

"...os que argumentam desse modo não vêem a que fim o Senhor instituiu a oração para os Seus. Porque não a estabeleceu por Sua causa, mas em atenção a nós. Porque, embora Ele esteja sempre em vigilância e faça constantemente a ronda para nos preservar, mesmo quando somos tão tolos e obtusos que não percebemos os males que nos rodeiam, e embora por vezes Ele nos dê socorro antes de ser invocado, todavia nos é necessário suplicá-lo constantemente." [1]

Portanto, devemos orar:

1 - "A fim de que o nosso coração seja inflamado de um veemente e ardente desejo de buscar, amar e honrar sempre a Deus, o que nos fará habituar-nos a ter nele o nosso refúgio em todas as necessidades, como o único porto de salvação". [2] Assim que as tentações nos assaltarem, que oremos sempre para que Deus faça a luz de sua verdade resplandecer sobre nós, a fim de que, recorrendo a invenções pecaminosas, não nos desviemos e perambulemos por desvios e caminhos proibidos." [3]

2 - "A fim de que o nosso coração seja tocado de algum desejo, que nem sempre Lhe ousamos confessar de imediato, como quando expomos diante dos Seus olhos todo o nosso afeto e, por assim dizer, desenrolamos e abrimos todo o nosso coração perante Ele." [4]

3 - "A fim de que sejamos habilitados a receber Suas bênçãos com verdadeiro reconhecimento e ação de graças, visto que pela oração somos advertidos de que elas nos vêm da Sua mão." [5]

4 - Além desses motivos, este: "A fim de que, tendo obtido o que pedimos, tenhamos em consideração o fato de que Ele nos atendeu e, por isso, sejamos incitados a meditar mais ardorosamente em Sua benignidade. E também tenhamos mais prazer em gozar os benefícios que Ele nos faz, tendo em mente que os obtivemos por meio das nossas orações. Finalmente,  fim de que a Sua providência seja confirmada e aprovada em nosso coração, na medida da nossa pequena capacidade, sendo que nós vemos que Ele não somente promete jamais abandonar-nos, mas também nos dá acesso para buscá-lo e Lhe fazer súplicas quando há necessidade." [6]

De forma figurada, Calvino diz que "o coração de Deus é um 'Santo dos Santos', inacessível a todos os homens", e é o Espírito quem nos conduz a ele. Ele entendia que "com a oração encontramos e desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem à nossa fé pelo Evangelho" [7], e que "a oração é um dever compulsório de todos os dias e de todos os momentos de nossa vida". [8] Mais: "Os crentes genuínos, quando confiam em Deus, não se tornam por essa conta negligentes à oração". [9] "A oração tem primazia na adoração e no serviço a Deus". [10] Daí o conselho: "A não ser que estabeleçamos horas definidas para a oração, facilmente negligenciaremos a prática". [11] No entanto, devemos ter sempre presente que é o Espírito "Quem deve prescrever a forma de nossas orações." [12] "Agora, quando é necessário, e de quantas maneiras o exercício da oração é útil para nós, não se pode explicar satisfatoriamente com palavras." [13]

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Notas:

[1] - As Institutas (1541), III .9.
[2] - Idem
[3] - O Livro dos Salmos, vol. 1, p. 542.
[4] - As Institutas (1541), III.9.
[5] -  Idem
[6] - Idem
[7] - As Institutas (1541), III.20.2.
[8] - O Livro dos Salmos, vol.2, p. 410.
[9] - Idem, vol. 1, p. 633. Cf. tb. As Institutas, III.20.1.
[10] - O Profeta Daniel: 1-6, vol. 1, p. 371.
[11] - Idem, p. 375.
[12] - Exposição de Romanos, p. 291.
[13] - As Institutas (1541), III.9.

Fonte: Rev. Hermisten Maia - Fundamentos da Teologia Reformada, Editora Mundo Cristão, pags. 124-126. 
Divulgação: Bereianos

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