sábado, 31 de agosto de 2013

Pais que amam a Deus



Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor...E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor
Efésios 6.1-4

Uma das grande preocupações dos nossos dias na Igreja do Senhor Jesus é o fato de estar havendo um grande desinteresse pela vida espiritual, da parte de muitos jovens, e de desleixo da parte dos pais em criá-los para o Senhor levando-os à Igreja a fim de conduzi-los aos pés de Cristo. 

Estes estão muito preocupados em dar-lhes uma formação intelectual de excelência, como acontece nos países da Ásia, Europa, América, e no Brasil também, o que é muito bom. 

No entanto, há o descuido em levá-los para o templo, afim de que tenham comunhão com o Senhor e com o Seu povo. 

Se o filho ou a filha não deseja ir à igreja, não há a menor preocupação dos pais se fica em casa à frente do computador ou da televisão, ou na casa dos amigos e parentes. 

Na realidade, muitos estão querendo mesmo é se ver livres da carga da paternidade. Diante disso estão preparando seus filhos para a eternidade, não na presença do Senhor, mas para um outro destino eterno, e incomensuravelmente pior. 

Vejamos como alguns pais bíblicos prepararam seus filhos para a eternidade.

1 – NOÉ – FOI UM PAI QUE ENTROU NA ARCA COM SEUS FILHOS
“Disse o SENHOR a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração.” (Gênesis 7.1). 
Durante cem anos este homem trabalhou arduamente construindo uma arca. No tempo da nossa existência quando nossos filhos são ainda tenros, infantes, devemos estar preparando-os para que entrem na arca, que é Jesus que os salvará. 

Deus já nos deu todos os recursos para que entremos nesta Arca com segurança para que quando o Dia do Juízo divino se abater neste mundo não venha destruir, eternamente a nossa prole. 

Deus ordenou a Noé que entrasse ele e sua família. Entende-se aqui, perfeitamente, a Aliança que Deus faz conosco e com a nossa geração em Cristo. 

Tem você, pai, preparado seus filhos a fim de que entrem com você na Arca?

2 – ABRAÃO – FOI UM PAI QUE LEVOU E ENSINOU SEU FILHO A ADORAR A DEUS

“Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos.” - Gênesis 22.6 

O lugar da adoração fora estabelecido por Deus e Abraão deveria caminhar até lá com o seu filho Isaque. 

Este é um episódio emocionante quando o patriarca leva seu filho para adorar a Deus e para oferecê-lo ao Senhor em holocausto. 

É certo, como bem sabemos, que Deus não queria a vida de Isaque e, sim, a obediência de ambos. 
Jesus, naquele momento, se interpôs entre Abraão e Isaque, entre a ira de Deus e nós, oferecendo-se em sacrifício como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo numa grandiosa e gloriosa substituição. 

Bem-aventurados, portanto, os pais que levam seus filhos ao santuário de Deus e ali os consagram para o Senhor. Tem você, pai, procurado envidar todo esforço ensinando seus filhos adorarem com você o Deus vivo e verdadeiro?

3 – JÓ – FOI UM PAI QUE INTERCEDEU PELOS FILHOS

“Decorrido o turno de dias de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em seu coração.” (Jó 1.5) 
Que bênção para os filhos que têm este tipo de pai. Jó apesar de todos os seus compromissos, como homem rico que era, levantava-se, de madrugada, a fim de não deixar esfriar a situação que, porventura, tivessem seus filhos criado perante Deus, e, como um grande sacerdote intercedia, clamava, suplicava por eles. 

É o que Jesus e o Espírito Santo fazem por nós intercedendo. Tem você, pai, intercedido e chegado às mais profundas lágrimas pela redenção de seus filhos?

Ciência e Fé Cristã podem conversar?


Por Filipe Fontes


"A glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinha-las." (Provérbios 25.2)

Hoje alguém me perguntou ressabiado se é possível fazer a fé cristã e ciência conversarem. Nada estranho! Afinal, de modo geral, para o nosso tempo, fé em Deus é fé em Deus, e ciência é ciência. Aliás, talvez a maioria das pessoas em nossos dias, contraponha o pensamento cientifico não apenas ao conhecimento de Deus, mas à fé, em geral, como se houvesse uma contradição necessária entre ambos, e uma conversa entre eles fosse algo impossível. Se a pergunta fosse quanto a contradição entre ciência e fé, a resposta voltaria imediatamente em forma de outra pergunta: E quando foi que elas deixaram de se falar? Mas como a pergunta qualificou a fé, o diálogo continua.

Apesar deste status quo contemporâneo, à luz de uma cosmovisão cristã não existe uma contradição necessária entre o conhecimento científico e o conhecimento de Deus, isto é, elas não são necessariamente inimigas. Pelo contrário, de acordo com a revelação bíblica, o mundo foi trazido à existência por Deus, e, portanto, está repleto de traços autorais dele. Nas palavras de Davi: "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos" (Salmo 19.1). E, nas palavras do Apóstolo Paulo: "os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas" (Romanos 1.20). Isto significa que, o verdadeiro conhecimento científico, ao invés de nos afastar de Deus, deveria nos aproximar dEle. Na perspectiva bíblica, ciência e fé cristã deveriam conversar sempre. Aliás, a ciência moderna nasceu em solo cristão. Schaeffer afirma que os primeiros cientistas modernos alimentavam a convicção, em primeiro lugar, de que Deus proporcionou o conhecimento ao homem através da Bíblia – conhecimentos acerca do próprio Criador e também acerca do universo e da história. A afirmação de Schaeffer se confirma, por exemplo, na declaração deCopérnico, de que estava tentando descobrir o mecanismo do universo, feito para nós por um criador supremamente bom e ordeiro. Os primeiros cientistas tinham a percepção de que as regularidades presentes na realidade apontam para um “projeto inteligente”, e criam ser Deus a origem do mesmo. Eles sabiam exatamente da glória de Deus e da glória dos reis.

Então, pergunto: por que tem sido disseminada a ideia de uma contradição necessária entre ciência e fé cristã? Não há espaço nessa pequena reflexão para apontar com a devida abrangência e profundidade todas essas razões; talvez técnicamente até haja, mas poucos leriam até o final. Mas, poderíamos resumir afirmando que isto é uma questão de princípio (cosmovisão). Embora a ciência moderna, cujos princípios estão, de modo geral, ainda vigentes, tenha nascido em solo cristão, ao longo do tempo ela conversou e tornou-se amiga demais de uma cosmovisão materialista, ou naturalista, cuja premissa básica (de fé, diga-se de passagem) é que o mundo material é tudo o que existe, e que qualquer explicação digna do status de “científica” precisa manter-se nos limites da materialidade. Consequentemente, ela passou a excluir qualquer possibilidade de que seja válida uma explicação que considere um ponto de transcendência, isto é, que explique o mundo material, levando em conta algo ou alguém que esteja fora dele. Assim, nasceu a dissociação entre fé cristã e ciência. E, a partir de então, embasada nesta suposta dissociação, e relegando o conhecimento de Deus ao nível de um conhecimento inferior, esta cosmovisão materialista, tem estendido suas asas sobre o conhecimento científico de modo total e abrangente. Em resumo, a irreconciliável inimizade entre ciência e fé cristã não passa de estratégia de batalha, que afasta o inimigo e facilita o domínio territorial.

Eis, portanto, minha resposta: não existe uma contradição necessária entre a ciência e o conhecimento de Deus – existe uma contradição necessária entre a ciência materialista e tal conhecimento. No entanto, substituídos os fundamentos, haverá uma eterna conversa entre ciência e fé cristã, pois será possível redescobrir a verdade de que a glória de Deus é encobrir as coisas, mas a glória dos reis é esquadrinha-las.

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- Sobre o autor: Filipe Fontes é ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição – validação pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção; Mestre em Teologia Filosófica pelo CPAJ (Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper); Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Fonte: Monergismo

Sobre jugos desiguais


Por Milton Jr. 

Jugo, ou cangalha, como se diz aqui no Espírito Santo, é o nome dado àquela peça de madeira que é colocada sobre dois animais para que possam puxar a carroça, o arado, etc.

Quando se colocam animais para puxar uma carga, deve-se ter o cuidado para que não sejam de tamanho ou força “desigual” a fim de que um deles não fique sobrecarregado, ou seja, para que não seja um “jugo desigual”.

A Bíblia fala sobre jugos desiguais e é bastante clara ao afirmar que os crentes não devem se prender a jugo desigual com os incrédulos. Na segunda epístola aos Coríntios Paulo escreveu: “Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo?” (2Co 6.14-15).

O ensino diz respeito a qualquer associação entre um crente e um incrédulo, apesar de ser mais comumente usado para se referir ao chamado “casamento misto”.

A razão para essa ordenança, creio ser bem simples de se compreender. Tendo princípios e motivações diferentes, sempre haverá uma carga mais pesada para uma parte que para a outra e, geralmente, pesando para o lado do crente. Ouvi certa vez, de alguém que não via problemas no casamento misto, que a ordem de Paulo se referia apenas a sociedades civis, mas pense na implicação dessa posição: você pode casar com um incrédulo e dividir com ele a grande responsabilidade de educar os filhos, mas não pode abrir um negócio com o cônjuge. Isso chega a soar de forma ridícula.

Um cristão comprometido com o Senhor deve ponderar muito bem sobre essa questão, pois as dificuldades certamente virão e, ainda que fosse possível garantir que elas não fossem surgir, a desobediência continua existindo. Eu sei que existem, e conheço alguns, casamentos assim, em que os cônjuges vivem bem e outros em que a parte incrédula acabou se convertendo, mas isso é pura graça e misericórdia do Senhor, e constituem-se exceções. A regra continua sendo o ensino de Paulo, que simplesmente ecoa o que outras passagens das Escrituras ensinam (Gn 6.1-3; Ex 34.12-17; Ne 13.23-27; 1Co 7.39).

São várias as razões que levam um crente a buscar relacionamento com um incrédulo e por trás de todas elas, indubitavelmente, está a vontade de satisfazer os próprios sentimentos em vez de obedecer ao Senhor e esperar nele. Por vezes, a ansiedade de conseguir um cônjuge torna-se um peso tão grande que a paciência em “esperar” alguém com a mesma fé dá lugar ao afoito desejo de fazer as coisas do seu próprio jeito e, assim, estabelece-se o jugo desigual, tão claramente desautorizado pela Palavra.

Mas, se por um lado a Escritura proíbe o jugo desigual com os incrédulos, por outro lado, ela nos ordena entrar numa relação que também é de jugo desigual, porém com o Senhor Jesus. Foi ele mesmo quem disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

No relacionamento com Cristo Jesus ele assume todo o peso, em nosso favor.

A Bíblia nos mostra que, além do peso do pecado, o homem tem sobre si outro grande fardo, pois para que ele seja salvo Deus requer dele o cumprimento da Lei. O problema é que, por ser pecador, o homem não tem condições de guardá-la de forma plena e tem sobre si o peso da condenação do Senhor.

Jesus guardou a Lei de forma perfeita, tomou sobre ele os nossos pecados e recebeu sobre si o peso da nossa condenação. Descrevendo o sofrimento do Servo do Senhor, Isaías afirmou que “certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si [...] ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4-5).

O apóstolo Pedro, citando o texto de Isaías, nos ensina como deve ser a nossa vida, após sermos aliviados pelo Senhor, do peso da condenação: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados” (1Pe 2.24).

Por carregar o peso por nós, Jesus pode então ordenar e afirmar: “Tomai sobre vós o meu jugo [...] porque o meu jugo é suave.” Sem o peso da condenação o crente pode cumprir os mandamentos, não para auto-justificação, mas para honrar aquele que o justificou, entendendo que “os seus mandamentos não são penosos” (1Jo 5.3).

O cristão pode ainda lançar todo o peso causado pelas ansiedades (incluindo a busca pelo cônjuge) sobre aquele que o carrega por nós, como exortou Pedro: “Lançando sobre ele a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).

Não insista em buscar um jugo que o Senhor afirma ser sobremodo pesado, antes, tome sobre você o jugo suave daquele que suporta o peso por nós, honrando-o em todo tempo no cumprimento dos seus mandamentos.

Consulta sobre o livre-arbítrio


Por Rev. Alan Rennê


Um amigo e irmão em Cristo me enviou o seguinte questionamento:

“Vou ser direto, mas você pode ser longo, se tiver tempo. Sabendo que apenas Adão e Eva tiveram LIVRE-ARBÍTRIO (capacidade de escolher, por si mesmo, entre fazer o bem ou o mal) e, devido ao pecado, temos hoje o que chamamos de LIVRE-AGÊNCIA (capacidade de decisão que não influi em nossa salvação). Teremos na GLÓRIA o LIVRE-ARBÍTRIO novamente? Por favor, mande uma resposta com referências bíblicas”.

Abordarei a questão a partir do seguinte esquema: 1) Definições; 2) O Livre-Arbítrio no Éden; e 3) Livre-Arbítrio na consumação.

I - Definições

Este é um assunto extremamente delicado. Isso se dá, principalmente, pelos usos distintos que arminianos e calvinistas fazem do termo “livre-arbítrio”. É necessário compreender que, “a expressão ‘livre-arbítrio’ não se encontra na Bíblia, e o conceito popular que se tem dele também não”.[1] Nesse termo, os conceitos de liberdade e vontade estão envolvidos. No caso, é a afirmação de que a vontade é livre. Quando os arminianos usam o termo “liberdade”, eles estão dizendo que a vontade é livre e independente de uma causa determinadora prévia. Os calvinistas falam em liberdade, mas não querem dizer que os atos da vontade sejam desprovidos de uma causa determinadora ou que sejam frutos do acaso. O mesmo se dá com o termo “vontade” ou “arbítrio”. Charles Hodge pontua que, “a palavra vontade em si é um daqueles termos ambíguos”.[2] Quando os arminianos falam em vontade, eles se referem a um poder independente e autônomo pelo qual podemos realizar escolhas. Já os calvinistas, ao falarem da vontade, referem-se simplesmente à função de escolher ou desejar algo, “não um poder independente da anatomia da alma humana”.[3]

Gostaria de fazer duas observações: Primeira, a definição de livre-arbítrio apresentada não está incorreta, ou seja, trata-se “do poder inerente de escolha com a mesma facilidade entre alternativas”[4], no caso, entre o bem e o mal. NossaConfissão de Fé de Westminster assim se expressa a respeito do livre-arbítrio: “O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder”.[5] Porém, ela ainda deixa algumas verdades pontuais descobertas. Por exemplo, ela acaba pressupondo um estado de neutralidade moral por parte do ente que realiza a escolha. E nós sabemos que não havia no homem neutralidade moral por ocasião da sua criação: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1.31a). Note, que aqui a criação do ser humano à imagem e semelhança de Deus já tinha sido realizada. Assim sendo, a natureza humana era boa, santa e etc. Conclui-se, portanto, que Adão não estava imbuído de neutralidade moral. Com isso em mente, a melhor definição de livre-arbítrio que encontro é a seguinte: É a capacidade de realizar escolhas contrárias à inclinação moral do indivíduo. No caso de Adão, que possuía uma natureza santa e uma inclinação para o bem, o livre-arbítrio consistiria na capacidade dele escolher aquilo que era diametralmente oposto à sua natureza santa e boa: o mal.

A segunda observação diz respeito ao conceito de livre-agência. Esse conceito aponta para o homem enquanto um agente livre e responsável por suas ações e escolhas. O Dr. Héber Carlos de Campos define “livre-agência” como segue:“a capacidade que todos os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles”.[6] Em outras palavras, a livre-agência é a capacidade que os seres racionais possuem de agirem de acordo com as inclinações dominantes das almas deles. No caso de Adão e Eva e de todos os seres humanos após a Queda, está correto em se afirmar que possuem livre-agência. A natureza humana se tornou corrompida, totalmente depravada, completamente inclinada para o mal: “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis 6.5). A livre-agência abrange o querer, o gostar e a predileção dos seres racionais, sempre de acordo com as inclinações dominantes da alma humana pós-queda. Isso significa que o querer do homem é mau, seu gosto é por aquilo que é mau, sua predileção está na corrupção, em virtude de ser continuamente má toda a inclinação da sua alma.

E quanto ao convertido? Teria ele o livre-arbítrio restaurado, uma vez que ele foi salvo e capacitado a desejar o bem? Não, de forma nenhuma! O convertido possui apenas livre-agência. Ele possui duas naturezas. A nova foi implantada pela ação do Espírito Santo ao aplicar nele os benefícios do sacrifício redentivo de Jesus. “O convertido não tem livre-arbítrio porque age segundo a sua natureza. Quando faz o bem, age segundo o Espírito que está nele; quando faz o mal, age segundo a carne”.[7] Paulo afirma em Gálatas 5.16: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”.

II – O livre-arbítrio dos nossos primeiros pais

A grande questão, para mim, está na pressuposição de que Adão e Eva possuíam o livre-arbítrio, como “a capacidade de fazer coisas contrárias à sua inclinação moral”.[8] Tal tem sido a posição da maioria dos teólogos reformados. Alguns questionamentos surgem, como por exemplo: Por mais que Adão e Eva possuíssem essa capacidade, o que os levaria a escolherem o mal, se a inclinação dominante de suas almas era para o bem? Como alguém santo, desconhecedor do mal, escolheria o mal, se dentro de si sua inclinação era santa? Quando colocada sob a óptica da absoluta soberania de Deus, tenho dificuldades em admitir que nossos primeiros pais possuíam livre-arbítrio. Concordo plenamente com Vincent Cheung, quando ele afirma o seguinte:

A liberdade é relativa – você é livre de algo. Dizemos que o homem não possui livre-arbítrio porque ao discutir a soberania divina e a responsabilidade humana, lidamos com a relação metafísica entre Deus e o homem. De forma mais específica, a questão é de que modo e qual a extensão do controle divino exercido sobre os pensamentos e as ações dos homens. Dessa forma, nesse contexto, quando perguntamos se o homem dispõe de livre-arbítrio, perguntamos se o homem é livre de Deus ou do controle de Deus em qualquer sentido. pelo fato de o ensino bíblico ser que Deus exerce controle constante e absoluto sobre todos os pensamentos e ações dos homens, a conclusão necessária é que o ser humano não possui livre-arbítrio. Sua liberdade é zero em relação a Deus.[9]

É inadmissível a ideia de que Adão desfrutasse de algum grau de liberdade em relação a Deus. De fato, as faculdades de sua alma agiram para que ele pecasse contra Deus. Sendo santo, ele escolheu tomar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. No entanto, essa liberdade não foi exercida de forma autônoma, livre de Deus ou do seu controle. Concordo com a bombástica declaração de Cheung:

Também, os calvinistas frequentemente afirmam que Adão foi livre antes da Queda. Mas novamente, eu sempre falo de liberdade com relação à Deus, e dessa perspectiva, eu diria que Adão não teve nenhuma liberdade, seja qual for, nem mesmo antes da Queda. Ser “livre” para pecar é irrelevante. A questão é se Adão era livre de Deus para escolher permanecer no pecado – ele não era. Em adição, eu não diria que Deus permitiu Adão cair, mas que Deus causou essa queda. Muitos calvinistas também discordariam comigo nisso.[10]

É interessante observar que, nem mesmo Deus possui livre-arbítrio, visto que é impossível que Ele escolha fazer algo contrário à sua inclinação moral. Pergunto: Por que Adão teria? Se afirmarmos que Adão possuía livre-arbítrio, que seja entendido como liberdade em relação a outros seres e coisas que não Deus. Em Efésios 1.11, o apóstolo Paulo, falando sobre a predestinação, afirma que Deus “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. Registre-se que o verbo traduzido como “faz” é o verbo energeo, de onde vêm as palavras “energizar” e “energia”, que por sua vez é uma propriedade positiva. O ponto, é que Deus energiza todos os acontecimentos do cosmos criado, incluindo o episódio edênico. Em Atos dos Apóstolos encontramos o mesmo conceito, quando Paulo, fazendo uso da letra de uma canção do grego Arato em homenagem a Zeus, assevera acerca do verdadeiro Deus: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (17.28). Não existe nenhum movimento à parte de Deus. Nem mesmo Adão possuiu tal prerrogativa. Afirmar o contrário seria ser incoerente com a doutrina da absoluta soberania de Deus! A forma como Mc Gregor Wright coloca a questão é interessante:

Como pode uma vontade puramente espontânea (“automovida”) começar uma ação? Se a vontade é “neutra” e não predeterminada para agir de um modo ou de outro, o que faz com que ela aja? Se ela parte do neutro, como ela pode sair desse centro morto? Se é dito que a vontade é “induzida” ou “levada” ou “influenciada” para agir, devemos insistir que essas são meramente palavras para diferentes tipos de causação.[11]

O filósofo reformado e pressuposicionalista Gordon Clark cita alguns exemplos de passagens bíblicas que mostram, de maneira inequívoca, que Deus exerce controle sobre a vontade dos seres humanos e predestina suas escolhas[12]: Êxodo 34.24; 2 Samuel 17.14; 2 Crônicas 10.15 e Filipenses 2.12,13.

Muitos teólogos se sentem desconfortáveis com isso, pois veem como algo incompatível com a sua natureza santa, o fato de Deus decretar a escolha de Adão e Eva. Nesse ponto, apenas confessamos a doutrina da Incompreensiblidade de Deus. Não compreendemos as razões últimas dos decretos divinos. Não obstante, não podemos negar sua onipotência e soberania sobre todos os eventos do cosmos. Negar a soberania divina é abraçar a ideia de Platão, que negava que Deus[13] era a causa primeira de todas as coisas. Eis suas palavras:

Deus, uma vez que é bom, não poderia ser a causa de tudo, como diz a maioria das pessoas, mas causa apenas de um pequeno número das coisas que acontecem aos homens, e sem culpa do maior número delas. Com efeito, os nossos bens são menos do que os males, e, se a causa dos bens a ninguém mais se deve atribuir, dos males têm de se procurar outros motivos, mas não o deus.[14]

Temos aqui uma negação clara de Deus como a causa primeira de todas as coisas! Deus é soberano! Como coloca Gordon Clark, “o que quer que Ele faça é justo, por essa mesma razão, porque Ele o fez”.[15]

Para encerrar minhas considerações a respeito do suposto livre-arbítrio de Adão e Eva, gostaria de enfatizar que em nenhum lugar a Bíblia o afirma. Ele apenas é pressuposto, mas não é provado. Isso se dá a partir de Gênesis 2.16,17, quando Deus ordena ao homem: “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Afirma-se que, se Deus deu essa ordem, é porque Adão tinha a capacidade de fazer o contrário. Acontece, que não existe na passagem nenhum indicativo de que Adão estivesse imbuído de tal capacidade. O propósito da ordem dada pelo Senhor a Adão era torná-lo responsável pela escolha decretada na eternidade. O fato de Deus dar essa ordem não implica dizer que Adão era capaz de contrariá-la. Implica dizer que, ele era responsável diante de Deus. Tal entendimento não se coaduna com a teoria do livre-arbítrio de Adão, pois “a teoria do livre-arbítrio destrói a responsabilidade mais do que a apoia”[16], ou, como observa Ronald Nash:“Comportamento errático, impulsivo e ao acaso não é livre nem responsável”.[17]

III – Livre arbítrio na glória?

O questionamento acerca da “restauração” do Livre-Arbítrio na glória está permeado pela pressuposição de que ele existiu no Éden. Nesse ponto, não divirjo dos demais estudiosos reformados. Todos são unânimes em afirmar que por ocasião da consumação de todas as coisas, quando Jesus retornar, o homem será plenamente glorificado, ou seja, todo traço de pecado e de imperfeição será eliminado tanto da sua vida quanto da criação.

Todas as faculdades constituintes do ser humano (intelecto, vontade, afeições) serão glorificadas. Por causa do pecado, todo o ser do homem “está contaminado pelo pecado, inclusive sua vontade, que agora é escrava deste maldito vício”.[18] Na vida por vir a nossa liberdade será plenamente aperfeiçoada. O Pai da Igreja, Aurélio Agostinho, bispo de Hipona, afirmou que estaremos no estado non posse peccare, que significa “não posso pecar”. Em razão da nossa glorificação final, nossa vontade não se inclinará para aquilo que é mau e corrupto. Ela se inclinará inteira e absolutamente para aquilo que é bom, puro, santo e reto. O apóstolo Paulo expressou sua esperança, quando delclarou: “Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8.20,21). As afirmações do apóstolo João, em Apocalipse reforçam esse pensamento: “Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro” (21.27); “Nunca mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro. Os seus servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre ele, e reinarão pelos séculos dos séculos” (22.3-5). Observe outras passagens, como: Efésios 4.13; Judas 24; 1 João 3.2.

Com isso em mente, afirmo que, na glória, “seremos enfim totalmente livres”[19], mas continuaremos a possuir apenas a livre-agência. Agiremos consoante nossa inclinação dominante. E, uma vez que nossa inclinação será completa e totalmente para o bem, faremos apenas o bem. Esse é o ensinamento da afirmação da Confissão de Fé de Westminster:“É no estado de glória que a vontade do homem se torna perfeita e imutavelmente livre para o bem só”.[20] Concluo com a essência do comentário de Archibald Alexander Hodge sobre esse trecho da Confissão:

4. Quanto ao estado dos homens glorificados no céu, nossa Confissão ensina que continuam, como antes, agentes livres; contudo, os restos de suas velhas tendências morais corruptas, sendo extirpadas para sempre, e as graciosas disposições implantadas na regeneração, sendo aperfeiçoadas, e o homem todo, sendo conduzido à medida da estatura do varão perfeito, à semelhança da humanidade glorificada de Cristo, permanecem para sempre perfeitamente livres e imutavelmente dispostos à perfeita santidade. Adão era santo e instável. Os homens não regenerados são impuros e estáveis; isto é, são permanentes na impureza. Os homens regenerados possuem duas tendências morais opostas, digladiando-se pelo domínio em seus corações. São lançados entre elas, contudo a tendência graciosamente implantada gradualmente por fim prevalece perfeitamente. Os homens glorificados são santos e estáveis. São todos livres e, portanto, responsáveis.[21]

A Deus seja a glória pelos séculos dos séculos!

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Notas:
[1] Leandro Antonio de Lima, Razão da Esperança: Teologia para hoje, (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), 97.
[2] Charles Hodge, Teologia Sistemática, (São Paulo: Hagnos, 2001), 699.
[3] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, (São Paulo: Cultura Cristã, 1998), 48.
[4] Ibid, 47.
[5] A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, IX, 2, (São Paulo: Cultura Cristã, 2003), 87.
[6] Héber Carlos de Campos, Curso de Antropologia Bíblica, 22. Material não publicado. Apostila da disciplina de Antropologia Bíblica do Curso de Teologia, Validação, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
[7] Leandro Antonio de Lima, Razão da Esperança: Teologia para hoje, 99.
[8] Héber Carlos de Campos, Anotações das aulas da disciplina de Antropologia Bíblica.
[9] Vincent Cheung, Ofertas Voluntárias e Livre-Arbítrio, 2. Artigo extraído do site: http://www.monergismo.com.
[10] Vincent Cheung, O Autor do Pecado, (2005), 17,18. Extraído do site: http://www.monergismo.com.
[11] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, 53.
[12] Gordon H. Clark, What Do Presbyterians Believe?, (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing, 1981), 108.
[13] Deve ser notado que na discussão atribuída por Platão a Sócrates e Glauco, o termo “Deus” faz referência a Zeus. Apesar disso, a ideia elencada aqui demonstra o pensamento de muitos a respeito da soberania de Deus.
[14] Platão, A República, Livro II, (São Paulo: Martin Claret, 2009), 68.
[15] Gordon H. Clark, Determinismo e Responsabilidade, 9. Artigo extraído do site: http://www.monergismo.com.
[16] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, 52.
[17] Ronald Nash, Questões Últimas: uma introdução à Filosofia, (São Paulo: Cultura Cristã, 2008), 363.
[18] Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia Sistemática, (São Paulo: Vida Nova, 2007), 459.
[19] Anthony Hoekema, Criados à imagem de Deus, (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), 268.
[20] A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, IX, 2, 91.
[21] A. A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge, (São Paulo: Os Puritanos, 1999), 227.

Sobre o autor: Alan Rennê é Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico do Nordeste, em Teresina (2005); Bacharel em Teologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009); Mestrando em Teologia (Sacrae Theologiae Magister) com concentração em Estudos Históricos e Teológicos e linha de pesquisa em Teologia Sistemática no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper; pastor presbiteriano, atualmente sirvo como pastor-auxiliar na Igreja Presbiteriana de Tucuruí-PA, servo de Cristo Jesus e comprometido com a boa e saudável teologia reformada. Com isso quero dizer que sou partidário dos princípios teológicos, litúrgicos e práticos da teologia puritana. Além de ser Amilenista, Pressuposicionalista e defensor do Princípio Regulador do Culto.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A expressão da ira

A expressão da ira
“Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Efésios 4:26
O ser humano possui uma capacidade infinda de se expressar. A diversidade de nuances e perspectivas produz manifestações tão amplas e surpreendentes de alguns indivíduos que comumente chegam a chocar e romper com determinados paradigmas comportamentais.
De fato, na arte, na cultura, em filosofias de vida, em pensamentos políticos e religiosos considerados revolucionários para um tempo, algumas pessoas chegaram a ser severamente estancadas, reprimidas em nome da manutenção de sociedades uniformizadoras e suas regras tradicionalistas.
Isso acontece em todos os setores sociais e vem ocorrendo com freqüência por toda a história da religião cristã.
Esse tipo de pensamento limitador que vicia as pessoas pode ser notado em questões como a da sexualidade, tratada com ignorância e preconceito, estando quase sempre relacionada a atos pecaminosos e profanos.
Note que tudo o que soa diferente aos ouvidos da sociedade do formol, torna-se tabu, ou seja, uma convenção, normalmente tradicionalista, indeferiu o ato, ou a expressão, fazendo surgir os anormais, os defeituosos, os feios, os esquisitos, os bizarros, os sinistros.
No versículo que citei lá em cima, o apóstolo Paulo parece estar parafraseando o Salmo 4:4, que diz: “Perturbai-vos, e não pequeis…”.
Uma vez eu confessei em meu blog que estava perturbado e fui, naturalmente, considerado endemoninhado. Da mesma forma, quando digo que estou irado, minha casa religiosa é simplesmente incendiada por bíblias molotov, arremessadas por cristãos fundamentalistas, pois estar irado é algo simplesmente descabido para um crente.
Não é o que a Bíblia diz! Ela diz que você pode estar irado, que você pode estar perturbado, que você pode estar sendo tomado de sentimentos passionais – coisas da carne, diriam – sejam eles do ardor do amor ou da raiva.
Vão me falar em domínio próprio, mas acredito que essa virtude esteja presente aqui e é justamente ela que mantém a pessoa dentro dos limites da ira, sem permitir que adentre ao campo do ódio, atravessando fronteiras que corrompam a santidade de seus sentidos.
Mas me parece óbvio que, numa religião que preza tanto pela aparência, para a qual gasta-se enorme esforço, utilizando doses de cinismo, falsidade e mentira (os photoshops da alma), permitir-se irar, permitir-se apaixonar e/ou quaisquer expressões que sejam os reflexos naturais da alma humana, pode ser fatal para a aceitação de alguém perante as convenções.
Eu estou apaixonado! No momento, me permito inclusive a ser incendiado pela ira, dado aos altos níveis de zelo que têm tomado minha psique. Ri muito e me identifiquei demais com um antigo vídeo de uma entrevista do Caetano Veloso, no final dos anos setenta, em que ele responde à provocação de um entrevistador chamando-o de burro. Ele fica repetindo: “como você é burro, nossa que burrice…”.
Honestamente, falta-me coragem, na maioria das vezes, para agir dessa forma. Não é educação, tampouco domínio próprio que me impedem de dizer muito do que sinto, é pura covardia mesmo, medo de transparecer as expressões mais punks que povoam meu interior.
Estou em guerra, contudo, não me vejo menos santo, nem menos pecador do que em outros momentos de minha vida em que declarava a paz aos amados.
Acho que são sentimentos como estes que nos movem em momentos de reformas. Paixão e ira acesas em nosso interior podem ser os temperos fundamentais pra romper com o fleumatismo tirano da alma de alguns acomodados, levando-os ao grito da revolução que cala no interior de todos os que nasceram de novo e contêm a chama do Evangelho acesas dentro de si.

Proponho agora um poema simples
(perdoem a falta de talento, mas é de coração).

Você me viu com a faca na mão e pensou que eu vinha pra te ferir.
Você me ouviu gritar bem alto e achou que não era de bom tom.
Você sentiu o peso da minha mão e se magoou por eu ser assim tão rude.
Você procurou em mim a beleza dos artistas, mas percebeu que eu não era um.

Você tentou achar em mim a riqueza dos felizes e dos prósperos,
mas descobriu que eu era só mais um pobre na multidão.
Você esperou que minhas palavras produzissem resultados,
mas se chocou ao ver que eu não tinha a magia.

Mas com a minha faca eu tentava abrir em seu pescoço
um buraco por onde pudesse respirar.
Quando eu gritava, procurava te fazer voltar à razão.
Quando dei um soco no seu peito, queria fazer seu coração voltar a bater.
Tentando te mostrar que a beleza era algo efêmero,
que dinheiro não é sinônimo de felicidade e
que a verdade é um poder ligado às coisas Eternas e não às passageiras.

A suficiência da Escritura Para a Vida e Piedade - Milton Jr.


Os cristãos, geralmente, não têm problema em afirmar a suficiência da Bíblia para a salvação. Porém,
no que diz respeito às emoções, pensamentos, atitudes e comportamento, não são poucos os que negam a suficiência da Palavra. Prova disso é que a literatura de autoajuda é abundantemente consumida, inclusive entre crentes.

Isso é um claro contrassenso. Se a Escritura é suficiente para “nos tornar sábios para a salvação em Cristo Jesus” (2Tm 3.15) ela tem de ser também suficiente para tratar das nossas emoções e atitudes.


Conceitos e explicações seculares têm tomado cada dia mais espaço dentro da igreja e teorias têm ganhado o “status” de verdades absolutas. Tem sido ensinado de muitos púlpitos, por exemplo, que a maioria dos problemas dos crentes é causada pela falta de amor-próprio, o que é uma ideia totalmente antibíblica. A Escritura nunca ensinou que devemos nos amar, mas, sim, que devemos amar o próximo como já nos amamos (Mt 22.39; Ef 5.29).

Mais ainda, ansiedade virou doença, orgulho, egoísmo e soberba receberam o pomposo nome de “transtorno de personalidade narcisista”, e a cada ano surgem novas síndromes e transtornos que tentam “patologizar” o que a Bíblia chama de pecado. Terapeutas têm tentado ajudar seus pacientes a “viver melhor” ao fazê-los crer que eles não são culpados pelos seus atos, antes, a culpa está na forma como foram criados ou no meio em que vivem.

Cada vez menos os crentes recorrem às Escrituras e aos gabinetes pastorais para aconselhamento bíblico a fim de entender seus sentimentos e comportamento, pois, em seu entendimento, isso não é trabalho pastoral, requer ajuda de um profissional qualificado. David Powlison mostra em um artigo que não é à toa que a igreja tenha sido criticada por dois psicólogos seculares, O. Hobart Mower e Karl Manninger. “Mower perguntou: ‘Será que a religião evangélica vendeu seu direito de primogenitura pela panela de cozido da psicologia?’ Menninger escreveu um livro cujo título soa provocador: Whatever Hapenned of Sin? (O que aconteceu com o pecado?)”[1].

Um caminho melhor

Na contramão de tudo isso, o apóstolo Pedro afirma categoricamente que pelo divino poder de Deus “nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3). Para Pedro, se o homem conhece ao Senhor, ele tem tudo aquilo de que necessita para a vida e piedade. Observe bem, Pedro não diz algumas coisas, mas tudo o que é necessário.

A igreja deve urgentemente voltar os olhos para a Palavra de Deus, que é a maneira que temos de guardar puro o nosso caminho (Sl 119.9). Precisamos crer no que Paulo escreveu à Timóteo, que a Palavra de Deus “é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e educação na justiça a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17). Uma possível tradução para a palavra perfeito é “completo”, ou seja, a Palavra é útil para que o homem seja completo.

O escritor da epístola aos Hebreus demonstra a eficácia da Palavra de Deus ao ensinar: “Porque a Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). Perceba que o escritor afirma que a Palavra sonda o mais profundo do nosso ser e revela as intenções do nosso coração.

A Bíblia ensina que o coração é o centro de controle do homem. É em virtude disso que o livro de Provérbios ensina que devemos guardar, sobretudo, o coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23). É por isso também que o Senhor Jesus, confrontando os fariseus, afirmou que a boca fala do que está cheio o coração (Mt 12.34) e ensinando os discípulos disse que do coração é que procedem os maus desígnios (Mt15.19).

O rei Davi, no Salmo 139, faz um pedido que deve nos servir de exemplo: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.24). Ele faz o pedido certo para a pessoa certa. Só Deus pode esquadrinhar o coração (Jr 17.10); e, como vimos, ele o faz por meio da Palavra (Hb 4.12).

Sendo o coração o que controla o homem e sabendo que é a Palavra de Deus que penetra o coração, devemos recorrer a ela, encher o coração dela, ser santificados por meio dela (Jo 17.17). Ela é suficiente para nossa vida e piedade.

Usando a Bíblia corretamente

Quando falamos da suficiência das Escrituras para a vida e piedade é necessário deixar claro que isso implica uma fiel exposição da Palavra.

Ao recorrer à Bíblia para buscar orientação não devemos procurar simplesmente versículos isolados que validem ou invalidem uma determinada prática, mas estudar com seriedade, buscando um entendimento correto do texto dentro de seus contextos. Fazendo assim, teremos mandamentos e princípios que orientarão com precisão a nossa vida.

A falta de um entendimento correto da Palavra de Deus tem levado muitos a duvidar de que ela é capaz de orientar o homem quanto às suas emoções e comportamento, porém, como afirma Mark Dever: “A Palavra de Deus sempre foi o instrumento que Ele escolheu para criar, convencer, converter e conformar o seu povo. desde o primeiro anúncio do evangelho em Gênesis 3.15 até à promessa inicial feita à Abraão, em Gênesis 12.13, bem como até à regulação dessa promessa, por meio de sua Palavra, nos Dez Mandamentos (Êxodo 20), Deus outorgou vida, saúde e santidade ao seu povo por intermédio de sua Palavra.”[2]

Isso torna indispensável ao crente o debruçar-se sobre a Palavra e a busca da iluminação do Espírito a fim de ter um conhecimento correto da Escritura e aplicá-la em todas as áreas da vida.

Conscientes de que vivemos numa sociedade que busca explicar o comportamento humano usando princípios antibíblicos, tenhamos, de fato, a Bíblia como nossa regra de fé e prática e que ao invés de recorrer à sabedoria deste mundo, busquemos o conhecimento da Palavra de Deus enchendo o coração dela.

Certamente o Senhor se agradará e derramará sobre nós suas bênçãos.
Fonte: Mente Cativa