quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Oração sem nome


"Escuta Deus: jamais falei contigo. Bom dia! Como vais? Sabes, disseram que tu não existes e eu, tolo, acreditei que era verdade. Nunca havia reparado na tua obra. Ontem à noite, na trincheira rasgada por granadas, vi teu céu estrelado e compreendi então que me enganaram. Não sei se apertarás a minha mão.  
Vou te explicar e hás de compreender. É engraçado, neste inferno achei a luz para enxergar teu rosto. Dito isto não tenho mais muito a te contar: só que... que... tenho muito prazer em te conhecer.  
Faremos um ataque à meia noite. Não sinto medo, pois sei que tu velas... ah, é o clarim... bom, Deus, devo ir-me embora. Gostei de ti. Vou ter saudade... quero dizer que a luta será cruenta, bem o sabes, e esta noite pode ser que eu vá bater-te à porta! 
Muito amigos não fomos, é verdade, mas... sim, estou chorando. Vês Deus, penso que já não são tão mau assim. Bem Deus, tenho que ir, Sorte é coisa bem rara. Juro, porém, já não tenho receio da morte".

O autor deste poema em forma de oração, ninguém sabe. O poema foi encontrado em pleno campo de batalha, no bolso de um soldado americano desconhecido. O corpo do rapaz, estraçalhado por uma granada, restava apenas, intacta, esta folha de papel (transcrito).

Pena que esse moço tenha deixado para pensar em Deus no final de sua vida, quando a morte rondava os campos de batalha. Quanto tempo ele perdeu de conviver com esse Deus que livra até nas batalhas! O homem não deve crer em Deus por informação dos outros. Esse moço pensava que Deus não existia porque outras pessoas disseram isso a ele.

Fé em Deus, confiança em sua presença no mundo e na vida, a gente não adquire por informação, mas por experiência ao longo da vida. Foi bom para aquele moço, encontrar-se com Deus enquanto ainda estava vivo, mas seria muito melhor se ele tivesse encontrado esse mesmo Deus nos tempos de paz. Se é bom contar com a presença de Deus nos momentos de perigo, muito melhor é sentir essa presença nos tempos de paz, quando não há perigo!

Quanto a pensar em Deus e buscar a sua presença, há quatro classes de pessoas:

1 - Há os que só se lembram de Deus nos momentos de perigo, como o rapaz da história. 
Mas fica a pergunta: será que passada a guerra ele continuaria a pensar em Deus? Esse grupo é muito grande. Quando a coisa aperta corre para Deus pedindo ajuda. Passado o perigo corre de Deus, não querendo comprometer-se.

2 - Há os que só pensam em Deus e O buscam em tempos de paz. 
Quando sobrevêm a tempestade, esquecem-se de Deus e alguns chegam até a culpar Deus pelos dissabores da vida, muitas vezes causados pelo próprio homem! Esses também são muitos. É comum ouvirmos a expressão condenatória "Não sei por que Deus fez isso comigo". Mas nem sempre é Deus quem faz "isso". Com a gente. A gente colhe o que semeia. Deus apenas permite que a gente sofra as consequências da má administração da vida.

3 - Há os que nunca pensam em Deus. 
Na paz ou na guerra só existe a sorte cega ou o destino inexorável a determinar os acontecimentos. É o grupo dos ateus assumidos. Esse grupo é pequeno, pois ateu, ateu mesmo, não existe. A um desses "ateus" perguntaram se ele de fato não acreditava em Deus e ele respondeu todo enfatuado: "eu, graças a Deus, não acredito nessas bobeiras".

4 - Há os que pensam em Deus e O buscam sempre. 
Na paz para agradecer a paz. Na guerra para pedir auxílio. 
Alguém disse que quase não ora porque não tem falta de nada, então não tem nada a pedir a Deus. Se tem tudo que Deus lhe deu, tem tudo a agradecer, pois orar não é só pedir. Orar é se por em comunhão com Deus e isso é bom e necessário. 

Esse grupo também é pequeno, mas é o grupo que determina o progresso da humanidade; de quem depende a paz e a compreensão entre os homens. Vale a pena atentar para o conselho do profeta Isaias:"Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto".


Samuel Barbosa é pastor jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil

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