“7Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. 8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo 9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; 10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; 11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. 12 Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. 13 Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, 14 prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. 15 Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se, porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. 16 Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.” (Filipenses 3.7-16)
O apóstolo Paulo escreveu a Carta aos Filipenses com dois propósitos em mente: a) Para agradecer à igreja de Filipos sua generosidade demonstrando alegria para com aqueles irmãos. Essa é uma carta de gratidão à igreja pelo seu envolvimento com o apóstolo em suas necessidades (4.15). b) Para alertar a igreja sobre os perigos que estava enfrentando. A igreja de Filipos enfrentava dois sérios problemas: um interno e outro externo (2.3,4, 14; 3.2). Após exortar a igreja quanto à unidade (1.27 – 2.18), Paulo orienta essa igreja contra os falsos mestres (cf cp 3). Estes pregavam a religiosidade acima de uma vida cristã (cf 3.1-6), mas o apóstolo diz que os crentes têm alvos sólidos e verdadeiros: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”(v.14).
O sucesso de qualquer iniciativa na vida depende em grande parte dos alvos que estabelecemos. Os alvos servem para definir os propósitos, orientar as decisões e nos desafiar.
Paulo nos desafia a estabelecer alvos que nos fazem crescer espiritualmente para a glória de Deus! Através de seu exemplo, o apóstolo nos mostra o primeiro alvo que é:
Conhecer mais do Senhor Jesus (v.7-8)
O que significa conhecer a Cristo? – Na carta aos Filipenses e em outros textos da Bíblia a palavra “conhecer” não é meramente uma questão intelectual, mas sim experimental (mente e coração). Jesus diz que este conhecimento é vida eterna: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.”(Jo 17.3 também Gl 4.9). Não podemos descartar o conhecimento intelectual, mas a ênfase aqui é “mente e coração”. É participar com Cristo de certa experiência. Podemos dizer que esse conhecimento é uma “intimidade” com Cristo. E isso não se consegue com uma mera religiosidade: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci…”(Mt 7.22-23).
Esse conhecimento é maior do que qualquer outra coisa (v.7) – O apóstolo Paulo era um homem zeloso pela religião que servia (v.4-6). No entanto, isso não era suficiente para ter uma vida de conhecimento de Jesus. Tudo o que viveu ele considerou como perda. Não que as coisas que viveu eram más em si mesmas. Fazer parte do povo da aliança e conhecer a lei não eram coisas ruins. Mas quando essas coisas passam a ser base para a vida cristã, como entrada no céu, aí está o problema. Paulo viu como perda porque em Cristo: “… superabundou a graça”(cf Rm 5.20). E nada é mais importante do que o conhecimento desse Jesus maravilhoso!
Conhecer mais de Cristo é abandonar o mundo (v.8) – Paulo considerava as coisas alcançadas como “refugo”. Esta palavra grega pode ser traduzida por “estrume”, “lixo”. Assim isso não tem valor algum para o conhecimento de Cristo. Ele sabia que não se pode “ganhar o mundo inteiro e perder sua alma”(cf Mt 16.26). Não podemos conhecer Jesus Cristo se nossa mente está voltada para as coisas do mundo que nos afastam de Deus. O amor do Pai não pode estar em nós se amarmos esse mundo (cf 1Jo 2.15-16).
Jesus disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim”(Jo 10.14). É característica cristã conhecer o Senhor Jesus! Precisamos entender que há Alvos na vida cristã que edificam a igreja e o primeiro, destacado pelo apóstolo é Conhecer mais de Cristo (v.7-8). Mas esse conhecimento não é meramente intelectual e sim uma vida com Cristo, de intimidade com ele. E para alcançar devemos abrir mão da falsa religiosidade e do mundanismo que nos cerca! . O que implica conhecer Cristo? 1º Experimentar o poder de sua ressurreição (v.10a); 2º Participar dos seus sofrimentos (cf Fp 1.29)!
Ainda, através do exemplo de Paulo, podemos ver o segundo alvo que é:
Depender somente do Senhor Jesus (v.9-11)
Abrir mão da justiça própria (v.9) – O ser humano tem a tendência de pensar que seu esforço em produzir uma vida “santa” produz justiça de Deus, mas não é isso que a Bíblia diz: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.”(Rm 1.17). E esta fé deve estar na obra de Cristo que foi realizada na cruz para remição dos pecados! O homem tem por salário do pecado a morte (cf Rm 6.23). Somente Deus pode justificar o ímpio. Cristo morreu por ele (Rm 4. 5; 5.6). Paulo estava dizendo que ninguém alcança a justiça de Deus cumprindo a lei do AT. E essa justiça é pela fé. Essa justiça “procede de Deus” (Fp 3.9b). O homem é responsável por exercer a fé, porém a obra toda é do Senhor (cf Rm 3.23; Ef 2.8).
A justiça de Deus nos leva à perfeição espiritual (v.10-11) – O apóstolo diz “para conhecê-lo”. Aqui ele resume o pensamento do verso 8 e une suas palavras à idéia anterior de justiça que é de Deus baseada na fé. Uma pessoa que foi tirada das trevas e levada para a luz de Cristo, quer a cada dia mais do amor, da mansidão, ensino, enfim tudo de Cristo! A justiça de Deus em nós (justificação em Cristo) causa um ardente desejo em conhecer a Jesus. Somos totalmente ligados a Cristo. Somos dependentes de seu amor e graça.
Tudo depende da obra de Cristo – A nossa entrada na presença de Deus depende de Cristo: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.”(Hb 10.19-22). Não podemos ser aceitos na presença de Deus sem Cristo, ele é nosso mediador (cf 1Tm 2.5). Só através dele podemos nos achegar ao Trono de Deus. Por isso nossa oração é em “Nome de Cristo”. Para produzirmos frutos na igreja precisamos de Cristo, assim o Senhor deixou claro aos discípulos: “… porque sem mim nada podeis fazer.”(Jo 15.5). Até mesmo a criação depende do Senhor Jesus: “Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora.”(Rm 8.20-22). Assim podemos dizer como o salmista disse do Senhor que de Cristo “… dependem a minha salvação e a minha glória; estão em Deus a minha forte rocha e o meu refúgio.”(Sl 62.7).
Irmãos somos dependentes de Cristo somente dele! A nossa justiça própria não agrada a Deus! Nossa religiosidade sem vida com Jesus Cristo é abominação para Deus. Se quisermos agradar a Deus precisamos entender que nossa vida é totalmente dependente do Senhor Jesus. Sem ele nada podemos fazer. Nele: “… vivemos, e nos movemos, e existimos…”(At 17.28). Precisamos de Cristo para salvação, para tomar decisões, para santificação, para termos orações respondidas. Assim precisamos “andar em Cristo” (cf Cl 2.6).
E finalmente, através do exemplo de Paulo, podemos ver o terceiro e último alvo que é:
Perseverar na fé no Senhor Jesus (v.12-16)
Perseverar é uma constante corrida (v.12-13) – O apóstolo Paulo faz referência nestes versos a imagem das competições desportivas (cf Fp 2.16; 1Co 9.24-7). A vida cristã é uma corrida para a perfeição. Ela, primeiramente, depende do ânimo do corredor! Paulo diz: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição…”(v.12a) – A vida cristã exige perseverança! Paulo era um grande defensor da teologia da predestinação (cf Ef 1.4), e tinha, como vemos em suas cartas, plena certeza da salvação. Porém ele nunca defendeu uma eleição sem responsabilidade humana, numa salvação sem esforço humano. Sabendo que era salvo ele tinha certeza que não tinha alcançado completamente e ressurreição espiritual. Por isso ele perseverava. Alguns ensinavam a igreja que tinham alcançado a perfeição com os ritos judaizantes, mas Paulo diz não (v.13).
Perseverar é empenhar (v.13b) – “... porém uma coisa faço…” - Uma coisa ocupa a mente do apóstolo “correr a corrida”! E ele não fica com medo das adversidades e nem preso a algo que o impeça! Ele está decidido a manter-se firme na corrida Cristã! Ele almejava ganhar a Cristo e a perfeição nele. Aquele que empenha na corrida Cristã não olha para traz: “… esquecendo-me das coisas que para trás ficam...”(v.13b). O bom corredor não olha para traz. Se olhar ele perde a velocidade e a direção. Como disse o Senhor “Lembrai-vos da mulher de Ló.”(cf Lc 17.32). O que Paulo deixou para traz? A vida de méritos que viveu, de justiça própria e independência de Deus. Avança para o alvo: “… avançando para as que diante de mim estão”(v.13c). O verbo grego nos dá idéia de alguém exercitando todos os seus músculos para correr, correndo com todas as suas forças para o alvo com as mãos estendidas como se quisesse agarrá-lo.
Qual o alvo no qual devemos perseverar (v.14-16)? - A perfeição que está em Cristo. Paulo desejava de todo o seu coração ser libertado do pecado. Assim ele empenhava sua vida buscando a essa perfeição. Ele queria o “prêmio” (galardão). Um corredor jamais esquece do prêmio: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.”(1Co 9.24). No final das corridas, na Grécia antiga, o vencedor era convidado para chegar diante do juiz e receber o prêmio. Esse prêmio era uma coroa de louros: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.”(1Co 9.25). Que prêmio Paulo esperava receber? A perfeição em Cristo! Ele diz: “... Todos, pois, que somos perfeitos...”(v.15) – A palavra grega usada para “perfeitos” pode ser traduzida por “maduros”, é uma referência para crentes que alcançaram maturidade em Cristo (cf 1Co 2.6). Mesmo assim, precisamos perseverar na fé!
O nosso alvo é: Perseverar na fé em Cristo (v.12-16)– Quantos desistiram da corrida e estão pelo caminho? Nossa corrida só termina quando morrermos ou quando Cristo voltar. E perseverar é empenhar nossa vida! Nosso alvo não são as riquezas deste mundo ou os prazeres oferecidos, mas Cristo Jesus o nosso Senhor! Como devemos andar? “Todavia, andemos de acordo com o que já alcançamos.”(v.16) – Andemos baseados naquilo que Deus tem nos ensinado, em linha reta. E usemos as ferramentas necessárias para viver uma vida santa diante do Senhor.
Alvos na vida cristã que edificam a igreja - Através do exemplo de Paulo, podemos ver que nosso alvo é Conhecer mais do Senhor Jesus (v.7-8) e para esse conhecimento, devemos abandonar o mundo. Nosso alvo também, conforme o apóstolo é: Depender somente do Senhor Jesus (v.9-11) – Devemos abrir mão de nossa justiça e depender da obra de Cristo na cruz. E por fim Paulo nos mostra que temos um outro alvo: Perseverar na fé no Senhor Jesus (v.12-16) – Muitos desistem na metade do caminho e não alcançam o alvo. Devemos nos empenhar para termos uma vida que agrade a Deus. E jamais desistir! Que Deus nos ajude nesta corrida e nos dê forças!
Por Rev. Ronaldo P Mendes
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