terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A televisão e nossa família



Por Rev. J. Lewis


Nos idos de 1930 David Saronoff, o presidente da RCA, teve a perspicácia empresarial de investir dinheiro num projeto louco e extravagante chamado televisão. Para dirigir este empenho, a RCA contratou um cientista natural da Rússia chamado Vladimir Kosma Zrvorykin e investiu 50 milhões de dólares de modo que em 1939 a RCA pode televisionar a abertura da feira mundial de Nova York. Mais tarde naquele ano, a RCA adquiriu a licença para patentear a televisão e começou a vendendo aparelhos de televisão aos que eram muito ricos. Antes de 1947 o número de lares com TV poderia ser medido em milhares.

Por volta do final do século XX, 98% dos lares dos Estados Unidos tinham, pelo menos, um aparelho da televisão (Gordman, p. 2). A televisão está aqui para ficar. Qual então deveria ser e reação dos cristãos à televisão? Ela é inerentemente má? É um pecado assistir até mesmo os noticiários da TV? Quanto tempo deve um cristão gastar assistindo televisão? Estas são algumas das perguntas que deveriam levantar-se na mente de qualquer cristão consciencioso e piedoso. Meu ponto de vista não é que a TV está completamente errada, como também o rádio e a internet. Contudo, parece-me que estar no mundo, mas não ser do mundo, perdeu sua distinção em muitos lares cristãos de hoje por relaxar a oposição com o mundo (1 Jo. 2:15). “Não ameis o mundo, nem as coisas que estão no mundo. Se algum homem ama o mundo, a amor do Pai não está nele”. 

Portão – Olho, Portão – Ouvido

No livro–alegórico, Guerra Santa, de Bunyan, somos ensinados que a cidade da alma do Homem (que simboliza o coração do homem) ficou mais vulnerável pelas entradas do Portão-Olho e Portão-Ouvido (sentidos da vista e do som) (p.10). A alma do homem foi eventualmente penetrada pelo diabo e seus comparsas através destes dois portões. Assim é conosco. Para salientar isto não é necessário olhar mais longe do que as indústrias de bilhões de dólares de Hollywood e MTV, onde tudo é de uma certa qualidade visual nos acenando para “vir e comprar”. Mas o que eles estão vendendo? É moralidade e castidade e os frutos do Espírito? Ou são as mercadorias deste mundo?

Isto, então, presenteia o Cristão com um dilema interessante à medida em que ele vive na cultura vigente. Quando a TV é muito? Não acho que exista um número sagrado ou uma resposta precisa que não viole a liberdade do Cristão. Contudo, Jacques Ellul aponta corretamente que “televisão age menos pela criação de noções claras e opiniões precisas e mais por nos envolver em uma neblina” (pg. 336). David F. Wells diz com respeito aos perigos da televisão que “A televisão abre para nós o mundo inteiro, legando-nos uma onisciência virtual” (pg. 230). Através da mídia da televisão nós somos encorajados a ter uma espécie de colonização de experiência onde os pecados e virtudes dos outros são incorporadas dentro de nós. Por meio dos nossos olhos e ouvidos somos incitados a partilhar do pecado dos outros, uma vez removido nosso senso de realidade. O que nós próprios jamais faríamos, prontamente vemos com os nossos olhos e ouvimos com os nossos ouvidos.

A. W. Tozer disse certa vez com relação ao Cristão e à cultura mundial:

Por séculos a Igreja permaneceu solidamente contra toda forma de entretenimento mundano, reconhecendo-o pelo que ele era — um artifício para gastar o tempo, um refúgio contra a perturbadora voz da consciência, um esquema para desviar a atenção da responsabilidade moral. Por isto ela tornou-se redondamente insultada pelos filhos deste mundo. Mas, ultimamente, ela tornou-se cansada do abuso e desistiu do esforço. Ela parece ter decidido que se não pode conquistar o grande deus Diversão, ela pode igualmente juntar forças com ele e fazer dele o uso que puder dos seus poderes (pg. 84).

É bem possível que tenhamos nos tornado acostumados a pecar vicariamente através daquelas coisas que vemos e ouvimos. Porque o homem é corrupto por natureza, nós naturalmente queremos ver quão perto podemos chegar do pecado sem realmente tomar parte nele. Dr. Joel Beeke colocou desta maneira: “Por natureza nossa pergunta é: ‘Até onde eu posso ir sem pecar?’ ao invés de ‘Até onde eu posso fugir do pecado e evitar a própria presença do mal?’. No nosso coração mesmo e no centro do nosso espírito de passatempo, fica a TELEVISÃO. Este é um fato óbvio. Os aparelhos de televisão estão nos lares de 97% dos Americanos hoje e 91% de todo o tempo de televisão é dedicado unicamente ao propósito de entretenimento”.

Enquanto o mundo acena ao Cristão para juntar-se ao mal, e Escritura nos diz para “Abstermo-nos de toda aparência do mal” (1 Ts. 5:22). Dr. Joel Beeke dá algumas estatísticas surpreendentes.

Dr. Beeke diz:

“Um estudo chegou à conclusão que durante o tempo transcorrido até uma criança chegar aos 14 anos, pelo menos 18.000 assaltos e assassinatos violentos acontecem diante dos seus olhos. Um outro estudo confirmou que a criança média entre cinco e treze anos de idade embebedam-se em 1.300 assassinatos cada ano, de modo que violência, assaltos e assassinatos não mais falam a mensagem do pecado ou as suas consequências. Assassinatos, ódios, ações e palavras violentas assumem o papel de comportamento normal. A média dos programas para crianças contem trinta e oito atos de violência por hora (programa para adultos: vinte)”.

Ele continua a dizer:

“Nos lares americanos 35% dos horários da refeição são gastos na frente do aparelho de TV. Cada noite, centenas de pais percebem que os programas que surgem são desmoralizantes e prejudiciais para seus filhos, contudo eles mesmos estão tão famintos para deleitar-se no pecado que estes programas contêm que frequentemente deixam seus filhos assisti-los também, não tendo qualquer poder de controle”.

Desta forma a TV é um mal e deve ser evitado.


Um Bom Uso da TV

Muitos têm feito objeção ao conteúdo dos programas de televisão (muita violência, sexo, etc) mas, e a própria tecnologia? Foi Marshall McLuhan quem disse com referência a TV: “o meio é a mensagem” (p. 7-21). Não é isto em parte verdade? A televisão acentua as imagens que se movem em contraste com a linguagem escrita e falada (o resultado mais tangível da nossa era pós-moderna). Como uma mídia fundamentada na imagem, a TV não deixa a imaginação da pessoa pintar qualquer quadro na tela de sua mente mas, ao invés, é a TV que pinta a imagem para você (Myers, p. 117). 

Na realidade, nos está sendo ditado, de um modo bem atormentador e subversivo, o que pensar sobre qualquer tipo de problema moral. Além disso, criatividade, pensamento independente e ingenuidade são todos descartados, para se criar uma enorme coleção de dados armazenados num sistema de computador, de tal modo que pode ser facilmente localizado pelo usuário (assistiu à TV à noite passada? Aquilo não foi um grande show!?). Os únicos visionários num show de TV são os produtores e diretores que decidem para a audiência o que lhes será ou não processado. Não pense nem por um momento que eles não estão enviando uma mensagem por meio do que produzem. 

Além disso, o pensamento paralelo é raramente usado pelo telespectador porque o período de tempo que alguém deseja para analisar o que está sendo exibido num modo lógico/racional, e o programa logo passa para sua próxima sequência de acontecimentos visuais. Kenneth Myers diz com relação a isto: “Uma cultura que é enraizada mais em imagens do que em palavras achará cada vez mais difícil sustentar qualquer compromisso com alguma verdade, desde que verdade é uma abstração que requer linguagem” (p. 164).

Isto ajuda a facilitar com que homens, mulheres e crianças sentem em frente da TV como um escape da realidade. O tempo de lazer da TV devora rapidamente o tempo de adoração da família, o tempo de leitura piedosa, o tempo de brincar com os seus filhos e um tempo pessoal de quietude. Alguém pode dizer: “Mas eu posso controlar a minha TV e o meu tempo”. A réplica do Dr. Beeke é: “As pessoas que dizem que podem controlar a TV estão usualmente falando idealisticamente, não realisticamente” (Beeke).

Cristo é Contra a Cultura?

Assim então, o nosso Salvador e Senhor é contra a tecnologia e a cultura? Absolutamente não! Leia Dr. Leland Ryken “Worldly Saints”[1] e veja como mesmo os puritanos foram proponentes de libertar a cultura. Mas quando a mídia pela qual a cultura vem, nos torna culpados dos pecados de outras pessoas, quando ela rouba tempo valiosos de outras coisas importantes e desafia os padrões bíblicos do certo e do errado, talvez deveríamos dar um passo atrás e examinar o valor atual da própria mídia. As palavras de Paulo poderiam vir à tona aqui. “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convém; todas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co. 10:23).

Richard Sibbes o diz assim, “Tudo o que exterioriza as boas coisas que temos, deveríamos usar de uma maneira reverente, sabendo que a liberdade que temos para usufruí-las é comprada com o sangue de Cristo. Como Davi que quando teve sede das águas de Bethlehem e disse que não as beberia, porque significava o sangue dos três valentes, assim também, embora tenhamos o livre uso das coisas criadas, contudo devemos ser cuidadosos para usá-las com moderação e reverência e tudo para a Glória de Deus.

Conclusão

Finalmente, irmãos, tudo o que é verdade, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é da boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp. 4:8). Dr. Martin Lloyd-Jones comenta este verso e diz:

O problema que é proposto a nós por este particular texto é todo o problema de relacionamento entre o cristianismo e a cultura. Agora eu tenho certeza que muitos, senão a maioria do povo cristão, está interessada nessa questão, porque ela é de real significado e importância... Em vista de tudo isto, eu sugeriria a você, o que Paulo estava dizendo aos filipenses: Todo o seu pensamento e todas as suas ações devem ser controlados pelo evangelho... Todo pensamento deve ser trazido em sujeição a ele. Que toda a nossa vida seja um tributo e um testemunho ao louvor do nosso Redentor (págs. 181-189).

Isto seria nossa motivação em cada área da cultura. O Senhor está nos dizendo que nós somos os guarda-portões das nossas próprias almas. Existe então alguma vantagem em assistir TV? Talvez exista. Programas informativos, documentários e alguns (embora poucos) programas de passatempo podem ser de benefício e uti-lizados para o avanço do reino (muitos como a internet). Mas, o tempo é curto. Como cristãos reformados estamos obedecendo ao Senhor e remindo o tempo (Ef.5:16)?

As palavras de Samuel Rutherford são boas para concluir, quando ele diz: “Quando a corrida terminar e o jogo estiver ganho ou perdido e você estiver na última volta e no limite do tempo, e colocar seu pé dentro da marca da eternidade, todas as boas coisas do seu curto sonho noturno lhe parecerão como cinzas de uma fogueira de espinhos e palha” (L. D. E. Thomas).

Remindo o tempo porque os dias são maus”. Ef. 5:16.

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Nota:
[1] - Santos no Mundo, Editora Fiel, 1992
Bibliografia: 
• Beeke. Joel. “Fair Dinkum.” Free Australians Magazine. issue 52. File retrieved on Friday June 12. 20m from www.thedinkum.comliss.htm.
• Bunyan. John. The Holv War. Choteau: Old Paths Gospel Press. 1999.
• Jacques Ellul. The Technological Bluff Grand Rapids: Eerdmans, 1990.
• Grodman. Tom. Television: Glorious Past, Uncertain Future. Analytical Paper Series. 1996. PDF file retrieved on Friday June 12. 203 from www.statcan.caJcgi-bin/downpub/listpub.cgi?catno=63FD002XIB1995006.
• Marshall McL.uhan, Understanding Media: The Extensions of Man. Cambridge: MIT Press, reprint 1994.
• Myers, Kenneth. AI! God’s Children and Blue Suede Shoes. Christians and Popular Cu1ture. Westchester: Crossway, 1989.
• Thomas. I.D.E. A Puritan Golden Treasury. Banner of Truth. 1989.
• Tozer. AW The Root of the Righteous. Harrisburg. PA: Christian Publications, 1955.
• Sibbes, Richard. Works of Richard Sibbes. Banner of Truth, 1990.
• 10. Wells. David F. The Present Evangelical Crisis. Wheaton: Crossway Books, 1998

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Fonte: Os Puritanos
Via: Reforma Hoje
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