domingo, 14 de dezembro de 2014

UM DEUS, TRÊS PESSOAS

“Mas ele, [Estêvão,] estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus” (Atos 7:55-56).

Deus se revela em Sua Santa Palavra como sendo único. E não só isso: proíbe seu povo de seguir outro deus que não seja Ele mesmo (Êxodo 20,3). Entretanto, a mesma Revelação nos apresenta três Pessoas com atributos divinos: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

O fato de crermos em um Deus que subsiste em três Pessoas Divinas tem gerado controvérsias, ceticismo, debates infindáveis e até mesmo inquisição ao longo da história.Entretanto, é um assunto importantíssimo e que todo cristão precisa tê-lo muito bem definido, afinal, precisamos defender nossa fé de modo racional e lúcido.

A palavra “Trindade” (em latim, trinitas) aparece pela primeira vez no século III em um escrito de Tertuliano onde este se referia à Divindade revelada nas Escrituras em resposta às doutrinas unicistas da época. Mas fica evidente tanto nos relatos históricos quanto no registro bíblico que os primeiros cristãos já estavam resolvidos quanto à natureza triuna de Deus quando lemos as muitas passagens que afirmam a divindade do Pai, que é Deus (Efésios 4,6; Filipenses 2,11), distinto de Jesus, que também é Deus, Filho de Deus, distinto do Pai (João 20,28; 2 Pedro 1,1; Mateus 16,16; João 20,17; 2 Coríntios 1,2), e do igualmente Divino Espírito Santo, que procede do Pai (Salmos 51,11; João 15:26; 2 Timóteo 1:14 ).

A promessa de que a Trindade estaria presente na Igreja de Deus é clara quando Jesus afirma que “se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (João 14:23) e no mesmo Evangelho afirma: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30).

Mas talvez a dificuldade de entender isso se deva por dois fatores: primeiro porque meditar na natureza divina exige um alto grau de abstração; segundo por que costumamos confundir o conceito de Deus com o conceito de Pessoa. Deus criou o homem à Sua imagem e Semelhança, mas creio que isso se refira ao sermos “pessoas”, não refere à deidade. Não somos deuses.

O Conceito de “Deus” é algo que vai além de qualquer coisa que possamos imaginar, já que não temos um histórico em nossas experiências pessoais, científicas ou filosóficas com algo semelhante a Deus. Ele é Único, não há outro semelhante na Criação (Deus não criou nada com natureza semelhante à dEle) e tudo o que nos foi revelado sobre a Divindade certamente não representa a totalidade do que Ele realmente “É”; o conceito de pessoa, por outro lado, pode ser encontrado mais profundamente em termos filosóficos.

John Locke nos ajuda a compreendê-lo distinguindo “pessoa” de “homem”. “Homem” se refere a uma espécie do reino animal; “pessoa” se refere ao indivíduo, é o termo que dá a distinção entre homem e homem. A pessoa é o ser que tem consciência de si e de seus atributos, que se manifesta moralmente e se distingue socialmente. Isso nos distingue dos animais, pois eles não são pessoas.

Um homem um dia foi uma criança e futuramente será um idoso e neste passar dos anos seu corpo sofre mudanças. Mas, embora as mudanças biológicas no corpo, a mesma pessoa permanece durante a vida. Essa distinção entre homem e pessoa ajuda a resolver o problema da ressurreição dos mortos. Conforme 1 Coríntios 15, 35-50, na ressurreição dos mortos, teremos um corpo espiritual, incorruptível e glorificado, a partir do corpo corruptível que ora ostentamos, semelhantemente ao processo ocorrido com o Senhor no terceiro dia após a Crucificação. Mesmo assim, embora em um novo corpo, teremos conservada nossa identidade, porque a pessoa ressurreta será a mesma pessoa eleita que um dia creu em Jesus e foi Salvo pela Sua Graça.

Este mesmo raciocínio que distingue “homem” de “pessoa” ajuda a distinguir “pessoa” de “Deus”. O Pai, o Filho e o Espírito se auto-afirmam, têm consciência de Si, se distinguem um do outro e são sujeitos Divinos ativos na Eternidade. São Pessoas, portanto. Cada um deles é Deus e a união dos três “É” Deus (ver Êxodo 3,14). Eles não se distinguem como Divindade, apenas como pessoas.

E como vimos acima, o conceito de “Deus” extrapola o conceito de “Pessoa”, da mesma forma que o conceito de “Pessoa” extrapola o conceito de “Homem”. Por isso podemos falar em três Pessoas, mas nunca em três deuses. O Pai, o Filho e o Espírito estão eternamente inseparáveis operando a Soberana Vontade Divina.

“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém” (2 Coríntios 13,14)

“Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” (Judas 1,25).

Fabrício Mateus de Mello

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