quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Os 67 artigos de Ulrico Zuínglio (1523)


Por Rev. Alderi Souza de Matos


Este artigo inicia uma nova série que irá abordar os principais documentos confessionais da fé reformada. Confessar significa declarar a fé, algo que os cristãos têm feito desde o início. A Reforma Suíça caracterizou-se pela grande quantidade de declarações doutrinárias que produziu, com objetivos confessionais, apologéticos e didáticos. Num contexto de intensas controvérsias, os reformados entenderam que era necessário expor de modo claro e incisivo as suas convicções, com base nas Escrituras. As confissões reformadas são uma das principais expressões e fontes da teologia desse ramo protestante. Algumas de suas ênfases são comuns ao protestantismo em geral e outras, específicas da tradição reformada. Quanto à autoria, houve uma grande variedade de situações: alguns documentos foram elaborados por indivíduos, outros por grupos e ainda outros por grandes assembleias de teólogos. Esses textos em geral assumiram duas formas: confissões de fé (divididas em capítulos e seções) e catecismos (perguntas e respostas).

Os 67 Artigos de Zuínglio são considerados não somente a primeira confissão reformada, mas a primeira confissão protestante. Ao contrário das 95 Teses de Lutero, eles não só abordaram um vasto conjunto de doutrinas e práticas, mas deram considerável atenção a alguns princípios basilares do novo movimento protestante. Seu autor, Ulrico Zuínglio (1484-1531), o fundador da tradição reformada, começou a ser impactado pela Bíblia a partir de 1516, quando pároco em Einsiedeln. Ao tornar-se o sacerdote da principal igreja de Zurique, em 1519, seus sermões e preleções alicerçados no Novo Testamento assumiram um crescente tom reformista. O contexto dos 67 Artigos foi a Primeira Disputa de Zurique, em 29 de janeiro de 1523, convocada pelo conselho municipal para resolver a controvérsia religiosa que havia surgido na cidade. O conselho aprovou as proposições de Zuínglio e determinou que os ministros daquele cantão pregassem somente o que tinha apoio nas Escrituras. Esse foi o marco inicial da Reforma Suíça.

Os artigos ou Schlussreden (“conclusões”), que tiveram 26 edições em dois anos,  dão ênfase à supremacia das Escrituras, principalmente no parágrafo introdutório: “Eu, Ulrico Zuínglio, confesso que tenho pregado na nobre cidade de Zurique estes sessenta e sete artigos ou opiniões com base na Escritura, que é chamada theopneustos (isto é, inspirada por Deus). Proponho-me a defender e vindicar esses artigos com a Escritura. Mas se não tiver entendido a Escritura corretamente, estou pronto a ser corrigido, mas somente a partir da mesma Escritura”. Outros destaques são: Cristo é o único Salvador da humanidade; a igreja é definida em categorias espirituais, não institucionais; as obras são boas só na medida em que são de Cristo, não nossas; as tradições humanas, ou seja, missa, proibição de alimentos, festivais, peregrinações, vestes especiais, ordens religiosas e celibato clerical, são inúteis para a salvação; em sua esfera, a autoridade do Estado é superior à da igreja; somente Deus absolve os pecados humanos; a Escritura não ensina o purgatório e um sacerdócio separado; a pregação está no centro do ministério da igreja.

Talvez a maior vitória de Zuínglio nesse debate tenha sido o endosso formal do princípio de sola Scriptura: a Escritura, com Cristo no seu centro, é a única autoridade capaz de dirimir todas as questões religiosas. Com esse notável documento, Zuínglio lançou os fundamentos da fé evangélica e reformada.

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