Por Renato César
Comecei abordando o tema da felicidade no artigo “Afinal, qual o sentido da vida?”, mas decidi dividi-lo em duas partes devido à grande extensão que teria em um único texto, embora minha intenção limite-se muito mais a chamar o leitor a uma reflexão do que estabelecer uma doutrina sobre o assunto, pois nem que o quisesse teria competência para tal.
O ponto que considero relevante para o cristão não se limita à mera distinção entre o entendimento bíblico de felicidade e o que está presente no mundo permeando a sociedade. O âmago dessa questão para nossas vidas, creio eu, pode ser encontrado nas palavras de Jesus em Mt 6:24-34. Essa passagem pode nos trazer uma boa base para compreensão do assunto além do dualismo entre ansiedade e confiança em Deus nela expressos. Embora a mensagem de que devemos colocar o Reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar seja o cerne da mensagem de Jesus nesses versos, suas implicações em nossas vidas vão mais além.
Jesus nos deu boas pistas para uma vida saudável em suas palavras. Primeiramente, ele antepôs Deus a Mamom, deixando claro que um cristão não pode ter sua vida orientada para/pelo o dinheiro. Em seguida, trouxe à baila o tema “ansiedade”, colocando em nítida oposição o comportamento do homem ansioso ao das aves e lírios do campo, ensinando com isso que as preocupações com coisas materiais são desnecessárias. A conclusão final apenas explicita o que já estava implícito na mensagem: se colocarmos o Reino de Deus e sua justiça em primeiro lugar, não seremos ansiosos, pois saberemos que as demais coisas nos serão acrescentadas.
Jesus apresentou um percurso difícil de ser percorrido, que é colocar Deus, seu Reino e sua justiça, em primeiro lugar. O homem, em sua busca pela felicidade, tenta cortar caminho, pegando um atalho que em vez de levar à felicidade conduz à ansiedade. Em seu coração, diz o insensato: “Se eu chegar naquele ponto, serei feliz; se eu conseguir aquilo que tanto almejo, serei um homem realizado e satisfeito”. Mas nada pode ser tão frustrante para alguém que tem um sonho errado quanto alcançar esse sonho. E pior do que isso é não se dar conta de que sua infindável busca pela felicidade jamais acabará, de que seus objetivos estão errados e de que sua sede jamais será saciada com a água que o mundo tem a oferecer. Não à toa se diz que "a medida do ter nunca enche".
Assim, ao buscarmos primeiramente nossa autorrealização, tornamo-nos ansiosos, e, por conseguinte, a ansiedade que nos sobrevêm nos leva a querer ainda mais satisfazer nossos próprios anseios. É como um círculo vicioso! Vivemos ansiosos porque procuramos realizar não a vontade de Deus, mas a nossa.
O mais impressionante nessa história toda não é nossa imaturidade espiritual para efetivamente perceber a obviedade da mensagem de Jesus ao nos dar a chave para uma vida realmente abundante e bem aventurada, livre das preocupações e ansiedades que por tão pouco nos assolam. O que mais impressiona é como um ensino tão claro pode ser ao mesmo tempo tão radicalmente desvirtuado, ou simplesmente posto de lado para dar lugar à Teologia (seria mais correto chamar Diabologia) da Prosperidade.
De fato, Satanás não mudou nada desde o Édem, mas parece estar ainda mais afiado quando se trata de distorcer a Palavra de Deus. Enquanto isso, nós cristãos nos comportamos como os apóstolos de Jesus, que, enquanto conviveram diariamente com o Mestre, em poucas ocasiões compreenderam realmente sua mensagem. A grande diferença é que nós já sabemos razoavelmente bem a teoria. Só falta aplicá-la!
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