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Introdução por Denis Monteiro
O Dr. Roger E. Olson é um dos arminianos mais em alta ultimamente, se assim pode-se dizer. Há tempos ele escreveu um artigo intitulado “O amor de Deus está limitado aos Eleitos?”.
Neste artigo Olson faz uma exposição da doutrina Calvinista com ênfase no terceiro ponto do calvinismo: Expiação Limitada. Para ele a Expiação Limitada é o calcanhar de Aquiles da teologia reformada, pois atingindo esse ponto todo o resto cai.
Logo após a sua exposição ao terceiro ponto do calvinismo, Olson mostra os versos utilizados na defesa da expiação limitada e a seguir faz uma referência aos versos que, possivelmente, apoiam a expiação ilimitada. Os que ele utiliza são esses: João 3.16,17; Romanos 14.15; 2 Coríntios 5.18,19; Colossenses 1.19,20; 1 Timóteo 2.5,6; 1 João 2.2, 4.7. Segundo Roger Olson esses versos “contradizem a expiação limitada”.
Então, analisaremos cada passagem mencionada pelo Olson e mostraremos que tais passagens não defendem a expiação ilimitada e nem que um verso é mais “poderoso” que outro para que seja anulado, e assim, mostraremos/ atingiremos o “calcanhar de Aquiles” do Olson.
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“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” - João 3.16,17
Por Francisco Alison Silva Aquino - Blog Pelo Calvinismo
Sem dúvida, um dos principais textos-base que, aparentemente, dão suporte ao sistema arminiano é João 3.16. O versículo diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Arminianos usam esse texto como fundamento para a visão de que o amor de Deus é universal (Deus amou o mundo) e que o homem pode crer livremente (para que todo aquele que nele crê).
Entretanto, seria isso mesmo que João está afirmando aqui na passagem citada? Se sim, como isso se harmoniza com outros textos que parecem contradizer essa ideia? Se não, então como podemos interpretá-lo? Analisemos, portanto a questão.
Embora eu saiba de antemão que os arminianos irão me criticar pela minha análise do texto o qual para eles parece bastante óbvio, isso não me impede de mostrar como o interpreto.
Vejamos primeiramente a segunda parte do versículo. O texto diz: “para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Isso significa que todo e qualquer homem pode crer livremente? Creio que não. O verso não diz que os incrédulos têm a habilidade por seu próprio livre arbítrio de receber a Cristo. Visto que Deus é o único que nos garante a fé sendo ele o autor e consumador desta (Fp 1.29; Hb 12.2) “todo aquele” se refere àquele a quem Deus garante o ato de crer.
Mas antevendo a réplica, sabemos que o arminiano crê que a fé é um presente que Deus concede a todos e cabe à pessoa receber ou não, como afirma o próprio Arminius:
“Um homem rico dá esmolas a um pobre e faminto mendigo, com as quais ele poderá ser capaz de manter a si mesmo e à sua família. Isso deixa de ser um presente puro porque o mendigo estendeu sua mão para recebê-la? Pode-se dizer com propriedade que a “esmola dependia parcialmente da liberdade do doador e parcialmente da liberdade do recebedor”, embora o último poderia não ter possuído a esmola a não ser que estendesse a sua mão? Pode se dizer corretamente que porque o mendigo está sempre preparado para receber, “ele pode receber ou não a esmola, como lhe agradar”? Se essas afirmações sobre o mendigo que recebe a esmola não puderem verdadeiramente ser feitas, muito menos podem ser feitas com relação ao dom da fé, cujo recebimento requer muito mais atos da graça divina”
Na comparação de Armínio é muito difícil imaginar um mendigo não consentindo com um presente tão gracioso. Mas o fato que permanece é que, para receber a esmola, o mendigo, enquanto ainda necessitado, deve estender a sua mão. Ao mesmo tempo, ele estende a sua mão porque ele quer fazer assim. Na comparação de Armínio, o mendigo poderia de modo concebível, ser tão rebelde a ponto de rejeitar a esmola oferecida. Para Armínio, o mendigo possui o poder natural de estender sua mão.
Tudo Isto se harmoniza com atos 13.48 que diz: “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e CRERAM todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” Os arminianos afirmam que aqui nesta passagem, a palavra destinados (ou ordenados) simplesmente significa colocados em ordem ou como Grimm afirma, colocar em uma certa ordem. Ainda que fosse, isso não afetaria a nossa interpretação de que o ato de crer vem após essa ordenação, sendo assim a fé um efeito e não a causa desta. A Bíblia também diz: “Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (João 10.26) e não: “Vós não sois das minhas ovelhas porque não credes”. Há uma grande diferença, o que prova que a fé é uma consequência da eleição.
A partir disso, podemos ir agora para a primeira parte do versículo que diz: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito”. A questão é: qual significado de mundo na passagem em questão? O arminiano rápida, convencida e categoricamente afirma que o “mundo” significa claramente todo e qualquer indivíduo da terra. Mas vejamos algumas passagens em que a palavra kosmos (mundo) aparece:
Atos 17:24 – “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra”. "Kosmos" é usado para definir o Universo como um todo. Também em João 13.1, Ef 1.4 o termo se refere à terra.
João 12:3: “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será expulso o príncipe deste mundo”. A palavra aqui se refere ao sistema mundial (Veja Mateus 4.8).
Romanos 3.19: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”. Aqui, “kosmos” se refere a toda à raça humana.
João 15:18: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim”. Isso significa a humanidade menos os crentes, já que os crentes não odeiam a Cristo.
Romanos 11:12: “E, se a sua (Israel) queda é a riqueza do mundo, e a sua (Israel) diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude (de Israel)”. Nesta passagem, “mundo” não se refere a toda humanidade, uma vez que exclui Israel.
João 1:29: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” “Mundo”, aqui, define apenas os crentes, visto que nem todos têm o seu pecado perdoado.
Seria o mundo de João 3.16 toda a humanidade incluindo cada pessoa que existe? Vejamos alguns textos: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas SOBRE ELE PERMANECE A IRA DE DEUS.” (Jo 3.36); “Os arrogantes não subsistirão diante dos teus olhos; DETESTAS a todos os que praticam a maldade. Destróis aqueles que proferem a mentira; ao sanguinário e ao fraudulento o SENHOR ABOMINA.” (Sl 5.5,6); “Sobre os ímpios FARÁ CHOVER BRASAS de FOGO E ENXOFRE; um vento abrasador será a porção do seu copo.” (Sl 11.6); “E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua IRA, e dar a conhecer o seu poder, SUPORTOU COM MUITA PACIÊNCIA OS VASOS DA IRA, preparados para a perdição” (Rm 9.22).
Em contraste com a ira de Deus sobre os ímpios, o Senhor revela o seu amor aos eleitos, aos que creem: “Mas Deus prova o seu amor para CONOSCO em que, quando éramos ainda pecadores, CRISTO MORREU POR NÓS.” – os santos (Rm 5:8); “Porque o Senhor corrige O QUE AMA” – todo filho (Hebreus 12:6). “Nós o amamos porque ele NOS amou primeiro” – os crentes, I João 4:19; Deus “o entregou (Cristo) por todos NÓS” – os crentes (v. 32). João 15:13: "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida PELOS SEUS AMIGOS.”
Diante das passagens expostas, por que João 3.16 tem que, necessariamente, significar toda a humanidade, isto é, todo e qualquer ser humano que existe na terra? Será porque soa mais agradável?
Nesse sentido, creio que a melhor interpretação para João 3.16 é a de que o “mundo” não se refere a cada indivíduo, mas aos eleitos em toda parte do mundo (mais especificamente os gentios crentes espalhados pelo mundo), já que sobre muitos permanece a ira de Deus e nem todos creem. Logo, Deus amou todas essas pessoas A FIM DE que elas creiam nele (com garantia de que isso acontecesse), perseverem e tenham a vida eterna. João escreve confirmando isso: “porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus HOMENS DE TODA TRIBO, E LÍNGUA, E POVO E NAÇÃO”. (Apocalipse 5.9). Jeremias escreveu: “Há muito que o SENHOR me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno TE AMEI, POR ISSO com benignidade TE ATRAÍ.” Fica claro aqui, que Deus ama, a fim de nos atrair (pressupondo algo irresistível como um ímã que naturalmente atrai). Deus não nos ama porque previu que nós creríamos em Cristo, mas ele primeiro nos amou e como consequência, aqueles por quem ele morreu inevitavelmente crerão e o amarão também.
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“Pois, se pela tua comida se entristece teu irmão, já não andas segundo o amor. Não faças perecer por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu.” - Romanos 14.15
Por Thomas Magnum - Blog Cristianismo Simples / Electus
Não só Olson, mas, outros arminianos utilizam-se desse texto de Paulo aos Romanos para afirmarem que seu pensamento sinergista está correto. O interessante é notar que tais afirmativas não condizem com o texto sagrado. Quando nos prostramos ao contexto da passagem e a harmonia e unidade do ensino na Epístola, podemos assegurar que Paulo não estava defendendo a perca da salvação. O debate aqui gira em torno da palavra grega apóllymi que quer dizer perecer ou destruir, o uso mais comum da palavra no Novo testamento tem o sentido de estar perdido ou destruído, na realidade a aplicação vale-se do sentido ativo de destruir. [1]
Devemos primeiro compreender que o alvo da advertência de Paulo aqui, não são os irmãos fracos, mas, os fortes que por causa da sua liberdade de consciência violam a liberdade do mais fraco. O texto se refere a tropeços no caminho dos fracos, semelhante advertência encontramos em I Co 8:11. O imperativo "não destruas" implica em graves consequências para os crentes fracos, quando esses são encorajados pelas atitudes dos fortes a transgredir sua própria consciência. A ênfase recai sobre os crentes fortes, por causa do detrimento sofrido aos fracos [2]. Um outro sentido usual da palavra apóllymi é sofrer derrota ou perda [3]. No entanto, a ordem aqui "não destruas" é aos crentes fortes e não aos fracos. O termo aqui não se refere a perca da salvação. A segurança da salvação defendida pelos arminianos depende do indivíduo ou de outra pessoa? Se a salvação ou condenação depende da influência humana temos então outros mediadores, e sei que os arminianos não defendem isso, esse é um fato que deve ser compreendido nessa passagem. A expressão aqui refere-se ao dano espiritual causado a um irmão fraco.
Ao discorrermos sobre uso de palavras por Paulo em Romanos e em outras epístolas, vemos que Paulo usa a mesma palavra de forma diferente, um exemplo disso é a utilização da palavra "Lei" e "Carne" em Romanos. Alguém que tenha seriedade no estudo exegético da Escritura não negará isso. Outro fato que devemos atentar aqui é que o texto diz que Cristo morreu pelo irmão fraco.
No capítulo 8 da Epístola aos Romanos lemos: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” - Romanos 8:35. Nas palavras de Jesus também lemos: “Eu lhes dou a vida eterna, e nunca jamais hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.” - João 10:28. Aqui temos duas passagem muito importantes para esse assunto, na primeira vemos que nenhuma circunstância pode nos separar de Cristo, e na segunda lemos que ninguém pode separar o eleito de seu Senhor. Prontamente vemos na doutrina da perseverança dos santos a segurança eterna e o Senhorio de Cristo.
O termo perecer ou destruir não se refere em Romanos 14:15 a apostasia ou perdição eterna, porque no fim do versículo lemos que Cristo morreu pelo crente fraco. Falar aqui da perdição de um crente é violar a palavra do Apóstolo em toda a carta aos Romanos. A leitura da Epístola principalmente nos capítulos de 8 a 11 mostrará a soberana graça de Deus sustentando seus filhos. Vejamos o que diz 2 Coríntios 5:14,15: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” Veja que o texto diz que por quem Cristo morreu: pelos eleitos. Eles morreram para o pecado e vivem para Deus. Portanto, esse contexto de Romanos, refere-se a um sério impedimento do crescimento espiritual de uma pessoa.
“E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus. Mas, qualquer que escandalizar um destes pequeninos, que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma mó de azenha, e se submergisse na profundeza do mar. Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca.” - Mateus 18.3,6,14. A segurança da salvação é evidenciada abundantemente nas Escrituras Sagradas.
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Notas:
[1] Dicionário de Teologia do Novo Testamento - Gerhard Kittel, Gerhard Friedrich, Geoffrey W. Bromiley, ed. Cultura Cristã.
[2] Comentário de Romanos- John Murray, ed. Fiel.
[3] Dicionário de Teologia do Novo Testamento - Gerhard Kittel, Gerhard Friedrich, Geoffrey W. Bromiley, ed. Cultura Cristã.
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“Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação.” - 2 Corintios 5.18,19
Para os arminianos, o versículo 19 está dizendo que Cristo reconciliou “consigo o mundo” e que este mundo, segundo a interpretação deles, é literalmente o universo e tudo quanto nele há. Mas será que mais uma vez eles estão corretos segundo as Escrituras Sagradas? Veremos.
Paulo, no versículo 14 e 15, diz: “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”, ou seja, Paulo está dizendo que Cristo morreu por todos e por estes que Cristo morreu não viverão mais para si mesmos, mas para Cristo. E continuando, o apóstolo diz no vs.17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” Seguindo a ordem da descrição do apóstolo, no vs.15 Paulo diz que a morte de Cristo por “todos” fez que estes “todos” não “vivam mais para si” mas vivam para Cristo, o qual morreu e ressuscitou por eles. E estes que por quem Cristo morreu, eles estão agora em Cristo, porque Cristo morreu por eles, e assim, vivem para Cristo e estes são uma “nova criatura”. Agora quem são estes que por quem Cristo morreu, por que se Cristo morreu por toda a humanidade, como explicam os arminianos, logo toda a humanidade não vive mais para si mesmo mas vivem para Cristo e são também uma nova criatura?
Então, se os arminianos dizem ser este “mundo” descrito em 2Co 5.19 a humanidade inteira, então toda a humanidade não vive mais para si mesmo e sim vive para Cristo e nisto os adeptos da doutrina do universalismo estão certos, que todos no fim serão salvos. Mas o interessante é que o vs.18 faz referência a uma pequena palavra, “nos”, que significa no gramático pronome pessoal da 1.ª pessoa do plural do pronome do caso obliquo, onde se classifica direto. E no verso seguinte Paulo faz referência a um pronome demonstrativo “isto é”, demonstrando que este mundo somos nós, igreja. Veja a comparação: “que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo” / “Isto é, Deus”. Então, conclui-se que este “mundo” descrito em 2Co 5.19 somos nós, os quais Cristo reconciliou desde a fundação do mundo, os quais não irão adorar a besta e nem o falso profeta como descrito em Apocalipse: “Todos os habitantes da terra a adorarão, aqueles cujos nomes desde o princípio do mundo não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto.” Apocalipse 13.8, porque os que irão adorar e se perder eternamente são aqueles que por quem Cristo não morreu e nem estavam escritos no livro da vida desde a fundação do mundo. Porque é na morte de Cristo que somos reconciliados, logo os que adorarão a besta são justamente aqueles por quem Cristo não morreu; “A besta que viste era, e já não é, e ela há de subir do abismo e vai-se para a perdição. Os habitantes da terra, cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde o princípio do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e que já não é e que virá.” - Apocalipse 17:8
Mais uma vez, a interpretação arminiana não se enquadra com a Escritura Sagrada.
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“porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” - Colossenses 1.19-20
Por Leonardo Dâmaso - Bereianos / Matérias de Teologia
Paulo ensina em Colossenses 1.19-20 a expiação universal?
Colossenses 1.19-20 é um dentre os vários textos da Escritura, especialmente do Novo Testamento, que os arminianos utilizam como base para ratificar a expiação universal ou a redenção ilimitada; ou seja, que Jesus não morreu na cruz e ressuscitou para salvar apenas algumas pessoas, mas para possibilitar a salvação de “todos” que creem em Cristo Jesus como Senhor e salvador.
Roger Olson, um dos maiores proponentes do arminianismo hoje, declarou em seu artigo intitulado – O amor de Deus está limitado aos Eleitos? – que, de acordo com Colossenses 1.19-20, é “impossível interpretar todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão no céu (vs.20) como se referindo apenas aos eleitos”. Ele afirma veemente que “esta passagem refuta a expiação limitada”.
Sendo assim, vamos analisar, de forma breve e objetiva, se realmente Colossenses 1.19-20 atesta se a obra redentora de Jesus foi por todas ou somente por algumas pessoas.
Para que tenhamos uma logre compreensão do tema em pauta, é necessário retornarmos ao contexto imediato – anterior e posterior e trazer à baila alguns pontos importantes.
Explanação
No capítulo 1 da carta aos Colossenses, podemos observar que Paulo destaca a relação de Jesus com:
(1) A divindade (vs.15)
(2) A criação (vs.16)
(3) A salvação (vs.20-23)
(4) A igreja (vs.18-19)
Desse modo, os versículos 18-19 fazem alusão ao relacionamento de Jesus com a sua igreja. Não obstante, no versículo 19, Paulo explica os versículos 17-18. Em outras palavras, o versículo 19 é a resposta dos versículos 17-18. Paulo esboça que Cristo foi o primeiro a ressuscitar dos mortos, ficando implícita a obra vicária, onde, através disso, os cristãos possam ter seus corpos glorificados e terem a vida eterna. Esta obra singular de Cristo denota que ele tem a proeminência sobre tudo. Ele é soberano sobre toda a sua criação (vs.17-18).
Em suma, Paulo, contudo, realça Cristo como o cabeça (governante) da igreja (vs.18); como a origem da igreja (vs.18b); como aquele que venceu a morte (vs.18c); como aquele que tem o poder supremo sobre todo o universo (vs.18d); como aquele em que reside toda a plenitude (vs.19). No versículo 20 o apóstolo enfatiza a origem da reconciliação, mostrando a necessidade da mesma entre Deus e o homem em virtude do pecado.
Foi Deus quem tomou a iniciativa da reconciliação, e não o homem. Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo Jesus (2Cor 5.18). A cruz não moveu o coração de Deus para a reconciliação; antes, a cruz foi o resultado da reconciliação de Deus com os homens pelo seu amor incondicional por eles. O sangue de Jesus não possui fluído ou propriedades salvadoras em si, mas, aqui, remonta a totalidade do sacrifício vicário de Jesus por amor, que é a fonte que emana essa maravilhosa reconciliação. A cruz retrata tanto o amor quanto à justiça de Deus em punir os pecados dos crentes em Jesus, o substituto deles (2Cor 5.21).
No versículo 20, Paulo descreve a extensão da reconciliação em Cristo Jesus, mostrando que a obra a redenção alcança todo o universo. A expressão todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus, se refere à criação em geral (vs.16). O pecado não atingiu apenas os homens, mas também o universo inteiro (Rm 8.20-22). Jesus, portanto, veio para trazer a redenção dos homens e também da terra. Em breve, na segunda vinda de Cristo, a criação será redimida de sua escravidão (Ef 1.10). Desse modo, todas as coisas abarcam a criação composta tanto de homens, animais e outros seres.
Porém, é importante distinguir que reconciliação universal não é a mesma coisa que redenção universal. Roger Olson não compreendeu esta distinção em seu artigo ao citar este trecho de Colossenses. Paulo não está dizendo aqui que Jesus morreu por todos os homens e, tampouco, ensinando o universalismo. Indubitavelmente ele queria mostrar que nenhuma parte do universo está fora do propósito e da consequência da obra da redenção. Paulo denota que não há nada, nem sequer os demônios podem destruir a igreja. Esta posição tem um paralelo distinto com Romanos 8.38-39 e se harmoniza com o capítulo 2.15 de Colossenses, 2 Pedro 2.4 e Judas 6. Peter T. O'Brien escreve que:
Céus e terra foram restaurados à ordem definida por Deus. O universo está sob o domínio do seu Senhor e a paz cósmica foi restaurada. Reconciliar e “fazer a paz” (que envolve a ideia de trazer a paz; ou seja. vencer o mal) são expressões usadas como sinônimos para descrever a obra poderosa que Cristo realizou na história por meio de sua morte na cruz.
Acerca dos principados e potestades, Peter T. O' Brien diz que eles
... continuam a existir e se opõem a homens e mulheres (veja Rm 8.38,39), mas no fim das contas não podem prejudicar alguém que esteja em Cristo. Sua queda é certa (1Co 15.24-28). Além disso, não se pode deduzir a partir desse versículo que todos os homens e mulheres ímpios aceitaram livremente a paz alcançada pela a morte de Cristo. Mesmo que no final todo joelho se dobre diante de Jesus e o reconheça como Senhor (Fp 2.10,11), não devemos supor que todos ficarão felizes com isso. Sugerir que o v.20 aponta para uma reconciliação universal, na qual todas as pessoas acabarão por desfrutar as bênçãos da salvação, não tem nenhum fundamento.[1]
John macArthur corrobora que uma forma intensificada de reconciliar é usada neste versículo para se referir à total e completa reconciliação dos cristãos e, em última análise, de todas as coisas no universo criado (Rm 8.21; 2Pe 3.10-13; Ap 21.1). Essa passagem não ensina que, como resultado, todos crerão; pelo contrário, ela ensina que, no fim, todos se submeterão.[2]
Nessa mesma linha de pensamento, William Hendriksen resume:
O pecado arruinou o universo. Ele destruiu a harmonia entre as criaturas e também entre todas elas e seu Deus. No entanto, por meio do sangue da cruz (Ef 2.11-18), o pecado, em princípio, foi vencido. A Demanda da lei foi cumprida, sua maldição destruída (Rm 3.25; Gl 3.13).
Assim também a harmonia foi restaurada. A paz foi estabelecida. Por meio de Cristo e sua cruz o universo é reconduzido ou restaurado ao seu correto relacionamento com Deus no sentido de justa recompensa por sua obediência. Cristo foi exaltado à destra do Pai, e, desta posição de autoridade e poder, governa todo o universo para o bem da Igreja e para a glória de Deus.[3]
Conclusão
Paulo não ensina uma redenção ilimitada ou universal em Colossenses 1.19-20 conforme Roger Olson declarou em seu artigo. Esta reconciliação remonta a insofismável verdade descrita nos versículos 13-14, que diz: Ele nos libertou do império das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Ou seja, os eleitos de Deus foram reconciliados pela morte de Cristo que os libertou da escravidão do pecado e de Satanás (veja 2.13).
Assim, o relacionamento entre Deus e o homem foi restaurado (2Co 5.17-21); o homem tem agora paz com Deus e a paz de Deus (Rm 5.1); a glorificação dos eleitos em Cristo Jesus espalhados por todo o mundo (Ap 5.9) está assegurada (Rm 8.18-21) e, finalmente, a restauração da criação, que se dará na segunda vinda de Cristo.
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Notas:
[1] Comentário Bíblico Vida Nova. D.A Carson, R.T France, J.A. Motyer, G.J. Wenham. Vida Nova, pág 1904-1905.
[2] Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1628.
[3] William Hendriksen. 1, 2 Tessalonicenses; Colossenses e Filemon. Cultura Cristã, pág 343-344.
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“Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual se deu a si mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo” - 1Timóteo 2.5,6
Alguns teólogos arminianos, como o Roger E. Olson, tem citado essa passagem com o intuito de refutar a bíblica doutrina da expiação limitada (indico a leitura de “Por Quem Cristo Morreu?” do puritano John Owen, disponível na internet em PDF). Outro expoente seguidor de Armínio, Vernon Grounds, disse que é necessário uma “ingenuidade exegética, beirando o sofisma” para que se negue a universalidade presente nesse texto de Paulo à Timóteo. No entanto, veremos que um exame diligente (e não ingênuo) das Escrituras não nos deixam nenhuma dúvida de que o apóstolo Paulo nem aqui e nem em nenhum outro lugar na Bíblia está defendendo a expiação universal.
Observando o princípio hermenêutico de que as Escrituras se interpretam entre si, vamos analisar não apenas 1 Timóteo 2, mas também outros escritos paulinos. Basta compreendermos que o temo “todos” aqui empregado não se reporta a indivíduos, e que esta palavra está dentro do contexto de que o presbítero de Éfeso deveria no culto público interceder em favor de todas as classes de homens, incluindo os reis e os que estão em eminência (v.2). Calvino, em seu comentário, nos lembra de que os magistrados nessa época eram os mais severos inimigos de Cristo. Mesmo assim a ordem apostólica é de que devemos orar também por estes perseguidores da igreja. Quando Paulo diz que o desejo de Deus é “que todos os homens se salvem” fica evidente que ele se refere a classe e não a totalidade de indivíduos na Terra.
Ao afirmar que Deus deseja que homens de cada posição social, nacionalidade ou gênero sejam salvos está corroborando com a ideia de que há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, a saber: Jesus Cristo (v.5). A ideia de Jesus como mediador de uma nova aliança quebra as barreiras nacionalistas do judeu e também esmaga o elitismo da cosmovisão grega. O termo “todos” é uma referência óbvia aos gentios, objeto do ministério paulino (v.7). Quanto a isso, Paulo interpreta a si mesmo em outras cartas (Rm 3:29,1 Co 12: 13, Cl 3:28).
O universalismo da expiação não compreende a cada indivíduo. Afirmar isso apenas porque a expressão “todos” existe no texto é a verdadeira ingenuidade. Seria como dizer que uma reunião só começaria quando cada habitante do planeta chegasse, pois o chefe teria dito que só começaria quando “todos” estivessem presentes. Paulo está falando da abolição de classes que a mediação única de Cristo “dando a Si mesmo como preço da redenção” (v.6) produziu. Não existem vários mediadores e deuses competindo pela adoração da humanidade. Se antes, os demais povos estavam longe, separados da comunidade de Israel, com a mediação de Cristo Jesus fomos unidos aos membros da aliança:
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz. E pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto; Porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.” - Efésios 2:14-18
Apoiando a teologia Paulina, temos Pedro que escreve a sua epístola aos “aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia”, dirigindo-se a todas as regiões gentílicas onde o Evangelho havia sido difundido e onde os eleitos de todos os povos poderiam ser encontrados. Estes são as “pedras vivas na edificação de uma casa espiritual” por meio (ou seja, mediação) de Jesus Cristo (1Pe 2: 5), fazendo povo de Deus aqueles que nem sequer eram povo e nem sequer haviam recebido misericórdia (1Pe 2:10). De igual modo, o apóstolo João, ao receber a revelação daquele que poderia abrir o livro da vida, relata que o canto que ecoava no céu era o seguinte:
“Tu és digno de receber o livro e de abrir os seus selos, pois foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação”. Apocalipse 5:9
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Referências Bibliográficas:
1. BARCLEY, William. Comentário do Novo Testamento.E-Book.
2. CALVINO, João. Pastorais. Ed Fiel.
3. HENDRIKSEN , William. Comentário do Novo Testamento. Ed. Cultura Cristã.
4. KELLY, J.N.D. 1 e 2 Timóteo e Tito: Introdução e Comentário. Ed. Vida Nova.
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“E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” - 1 João 2.2
Por Manoel Pacheco
Com muita frequência ouvimos da parte daqueles que defendem a expiação ilimitada, mas precisamente os arminianos, que essa doutrina é claramente ensinada em 1 Jo 2.2. Mas será que eles estão certos? 1 Jo 2.2 defende mesmo a expiação ilimitada? Meu propósito neste breve artigo é demonstrar que os arminianos estão equivocados e que antes de corroborar uma expiação ilimitada, 1 Jo 2.2 ensina que Cristo de fato efetuou propiciação pelos pecados dos Filhos de Deus espalhados por todas as nações do mundo.
O que significa propiciação? No hebraico do Antigo Testamento seu sentido é expresso pela palavra “cobrir”. Ligada a essa cobertura há, em particular, três coisas que se deve notar: (1) é com referência ao pecado que a cobertura tem lugar; (2) o efeito dessa cobertura é purificar e perdoar; (3) é diante do Senhor que tanto a cobertura como o seu efeito têm lugar. [...] Propiciar significa ‘aplacar’, ‘pacificar’, ‘apaziguar’, ‘conciliar’. E é essa ideia que é aplicada à expiação realizada por cristo. Propiciação pressupõe a ira e o desprazer de Deus, e o propósito dela é a remoção desse desprazer. Exposta muito simplesmente, a doutrina da propiciação significa que cristo propiciou a ira de Deus e tornou Deus propício a seu povo” [1]
Diante da definição supra citada fica evidente que Cristo na cruz aplacou a Ira Santa de Deus contra pecadores. Isso leva-nos a pensar, se Cristo aplacou a Ira de Deus contra os pecados de todos os indivíduos do mundo isso significa que Deus não está irado com nenhum homem e por isso nenhum indivíduo da raça humana irá ao inferno, pois ir para o inferno significa padecer debaixo da Ira Santa de Deus. Mas como alguém irá sofrer debaixo da Ira de Deus se Cristo na Cruz já aplacou a Ira de Deus contra todos os indivíduos do mundo?
Mas, e a frase do versículo 2 que diz que Cristo é a propiciação pelos pecados do “mundo inteiro”? Analisarei essa expressão.
Quero que você por um momento reflita sobre o texto de 1 Jo 2.2 a luz do versículo que se encontra em Jo 11: 51 e 52 que diz:
“Mas ele não disse isso por si mesmo; pelo contrário, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus iria MORRER pela nação, e NÃO SOMENTE pela nação, mas TAMBÉM para reunir como um só povo os FILHOS DE DEUS que estão DISPERSOS”
Cruzando 1 Jo: 2.2 com Jo 11: 51 e 52, não nos dá uma grande probabilidade de que a expressão “mundo inteiro” significa não todos os indivíduos do mundo mas significa todos os FILHOS DE DEUS que estão dispersos por todas as nações do mundo? Para corroborar essa ideia quero citar Ap 5:9 que diz:
“E cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de tomar o livro e de abrir seus selos, porque foste morto, e com teu sangue compraste para Deus homens de TODA TRIBO, LÍNGUA, POVO E NAÇÃO.”
Diante de tais versículos não me resta nenhuma dúvida a não ser a certeza de que Cristo na cruz aplacou a Ira de Deus contra os eleitos que estão dispersos por todas as nações da terra. Mas para não ficar nas minhas palavras quero citar alguns teólogos de renome que sustentam a mesma posição que eu.
O Rev. Hernandes Dias Lopes, no seu comentário bíblico, na pág 89 diz:
“O que João está ensinando certamente não é o universalismo. O sacrifício de Cristo alcança todo o mundo em extensão, no sentido de que ele morreu para comprar para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, mas não todo o indivíduo indistintamente de cada tribo, língua, povo e nação. É todo o mundo sem acepção, mas não todo o mundo sem exceção” [2]
O Rev. Augustus Nicodemus diz:
“Essa declaração de João parece contradizer outros textos bíblicos que declaram que Cristo morreu com o propósito de pagar os pecados somente do seu povo. Fica difícil entender que João está ensinando aqui (2.2) que Cristo pagou efetivamente os pecados de cada homem e mulher que já existiram. Isto significa três coisas: 1) Que Cristo sofreu e morreu em vão por milhares de pecadores que irão sofrer eternamente no inferno; 2) Que a pena paga por Cristo no lugar deles não foi válida, pois os perdidos pagarão outra vez essa pena, sofrendo eternamente; 3) O sacrifício de Cristo apenas torna possível a toda e qualquer pessoa salvar-se, mas não assegura a salvação de ninguém.
Em outros escritos de João, porém, está claro que Jesus veio dar a sua vida somente para os seus. Aqueles pelos quais Jesus sofreu e morreu são chamados de: [...] minhas ovelhas” (Jo 10.11,15,26-30) e “[...] meus amigos” (Jo 15.13); é por eles, e não pelo mundo, que Jesus roga ao Pai (Jo 17.9-20). Esse conceito se percebe também em outras partes do Novo Testamento: Jesus veio salvar “[...] o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21); o que Deus comprou com seu sangue foi a sua Igreja (At 20.28), pois Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25)” [3]
A Luz de toda a Bíblia fica claro que Cristo veio, não possibilitar, mas assegurar a salvação e aplacar a Ira de Deus contra os pecados dos eleitos que estão espalhados por todas as nações. Aqueles que insistem em dizer que 1 Jo 2.2 ensina uma expiação ilimitada só demonstram o quanto são obstinados.
Que Deus nos abençoe e nos guarde. Que o Santo Espírito sempre ilumine a nossa mente para que entendamos e aceitemos as verdades bíblicas.
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Notas:
[1] Fundamentos da Graça; Steven Lawson; pág. 738
[2] Hernandes Dias Lopes; Comentário Bíblico; pág. 89
[3] Augustus Nicodemus Lopes, Primeira Carta de João, pág. 47
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“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” - 1 João 4.7
Por Denis Monteiro - Bereianos / Teologia & Apologética
Roger Olson argumenta sua doutrina pífia baseando-se no argumento de que Deus é amor. Sim, Deus é amor.
Roger diz: “Se Deus é amor (1 João 4.7), mas intencionou a morte expiatória de Cristo para ser uma propiciação para apenas certas pessoas de sorte que apenas elas têm chance de serem salvas, então “amor” não possui nenhum significado inteligível quando se refere a Deus.”
Resposta: Bom, se for tratar de “propiciação” como explicar a morte do cordeiro no Antigo Testamento o qual era somente para o povo escolhido, Israel? Se Deus ama todo o mundo, por que o cordeiro morto não era pelas outras nações, as quais eram abominações diante de Deus? Será que o Deus do Antigo Testamento é diferente do Deus do Novo Testamento, como pregava Marcião? Seria estranho pensar em tal coisa quando o mesmo Deus diz: “Pois eu, o Senhor, não mudo (...)” (Malaquias 3.6). Roger diz também que se pensarmos na expiação limitada e no amor de Deus este “amor não possui nenhum significado inteligível quando se refere a Deus”. Pois bem, após a Queda do Homem onde está escrito que Deus TINHA que amar a todos indistintamente? O que eu vejo desde Gn 3.15 é Deus já determinando o decorrer da História para que se chegasse na “plenitude dos tempos”. Deus em Gn 3.15 fala da semente da mulher e da semente da serpente, uma “guerra” que seria travada ao longo da história até Cristo por abaixo, com poder e glória, o Diabo. Vemos Deus falando a Abraão que Isaque era o filho da promessa e não Ismael. Vemos João Batista falando que os fariseus e saduceus eram “raça de víbora” (Mt 3.7), e esse termo “raça de víbora” faz referência à linhagem deles como Jesus mostra em João 8.44: “Vós tendes por pai o Diabo”.
Roger diz: “Mas os que acreditam na expiação limitada devem interpretar o amor de Deus como algo compatível com Deus incondicionalmente selecionando algumas pessoas para o tormento eterno no inferno quando Ele poderia salvá-las (pois a eleição para a salvação e, por conseguinte, a própria salvação é incondicional). Não há nenhuma analogia na existência humana para este tipo de comportamento que é considerado como amoroso. Nós jamais consideraríamos alguém que poderia salvar pessoas que estavam prestes a se afogar, por exemplo, mas que se recusa a fazê-lo, mas que salva apenas algumas como amorosa. Consideraríamos tal pessoa maldosa, mesmo se as pessoas salvas apreciassem o que a pessoa fez para com elas.”
Resposta: O Olson faz uma afirmação que, entendo eu, nem ele mesmo percebeu. Ele diz que o amor de Deus, considerando na interpretação calvinista, é incompatível com a eleição incondicional. Bom, o amor de Deus é incondicional, João diz que “nós amamos a Deus porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19 – acréscimo do autor), Paulo diz que “em amor nos predestinou (...) gratuitamente no Amado” (Ef 1.5,6 – acréscimo do autor). O amor de Deus é o motor da predestinação (eleição), e não baseando-se em obras, mas como Paulo diz: gratuitamente (Ef 1.6). Segundo, Deus não enviará pessoas ao inferno incondicionalmente. Deus lançará pessoas ao inferno porque elas merecem assim como nós também merecíamos. Mas Cristo pagou o preço de nossos pecados na cruz. Se Cristo pagou o pecado de toda a humanidade, logo, Deus não poderá condenar o mesmo pecado duas vezes. Pois se houver tal afirmativa, logo, estará declarando que a morte de Cristo não foi eficaz para pagar os pecados e assim o pecador será condenado por aquilo que Cristo não conseguiu pagar. O que é uma blasfêmia.
Roger usa o argumento do afogamento. Uma pessoa está se afogando e Deus não quer salvá-la, logo, Deus tendo condições e não querendo salvá-la Deus seria maldoso em escolher quem Ele quer salvar. Bom, primeiro: Qual pecador, sem Deus agir em seu coração, entende que seu fim é o inferno? Sem a iluminação do Espírito Santo o pecador não sabe que está se afogando, pois para o pecador tal situação é prazerosa – ele ama o mundo, o qual é inimigo de Deus. Segundo, imaginemos: Deus, tendo todo poder, vai salvar quem está se afogando e a pessoa que está se afogando não quer ser salva. Por que Deus, sendo o todo poderoso, não foi contra a vontade de quem estava se afogando? Pois se Deus o ama Seu amor e poder é maior que a vontade daquele que está morrendo. E se Deus se priva de seu poder para que a vontade daquele que está se afogando prevaleça, como encarar esse Deus que diz: “eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o vosso terror.” (Pv 1.26)? Que ato seria mais amoroso, Deus usar toda sua força para salvar aquele que se perde, ou se privar de Seu poder para que a vontade daquele que se perde prevaleça e Deus fique olhando?
Roger diz: “A expiação limitada torna o evangelismo indiscriminado impossível. Uma pessoa que acredita na expiação limitada jamais pode dizer aleatoriamente a uma pessoa ou grupo: “Deus te ama e Cristo morreu pelos seus pecados e os meus; você pode ser salvo”.
Resposta: Se Deus já sabe quem serão os salvos, por causa da eleição pela presciência de fé, por que evangelizar o mundo inteiro sendo que Deus já sabe quem aceitará e não aceitará? A expiação limitada, assim como a Eleição Soberana, não implica na evangelização. Mas nos dá a garantia de que haverá convertidos para a glória de Deus. Pois a Bíblia não diz, em lugar nenhum, que a morte de Cristo é a possibilidade de alguém ser salvo. Porque se Cristo morre por todo o mundo, então o falso profeta e a prostituta (o qual Apocalipse mostra eles condenados) terão a chance serem salvos mudando aquilo que Deus revelou a João. Mas a Bíblia mostra que a expiação é definida e não hipotética, ela mostra que Jesus é o cordeiro de Deus que “tira” (Jo 1.29) e não que está tirando, a Bíblia mostra que Jesus “comprou” (1Pe 1.17,18) e não que está comprando, onde o autor de Hebreus nos diz que Cristo obteve “eterna redenção” (Hb 9.12).
Sendo assim, podemos concluir essa parte dizendo que Deus manda pregar em todo mundo, pois Ele já tem os seus: “E de noite disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala e não te cales; porque eu estou contigo e ninguém te acometerá para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” (Atos 18.9,10 – ênfase do autor).
Outra questão a ser definida é: Qual apóstolo, pregando para alguma multidão, disse que Deus amava todo mundo? Mas como o Roger começa sua queda com 1º João 4.7, vamos analisar. João começa fazendo a distinção de quem é de Deus e que não é de Deus. João mostra que quem é de Deus confessa que Jesus veio em carne e quem não é de Deus não confessa que Jesus veio em carne (1Jo 4.2,3). João diz que quem conhece a Deus nos ouve e quem não conhece (e entenda isso como um hebraísmo, pois é um judeu que está falando e o assunto do capitulo é o amor, logo, o termo conhecer era como o judeu via: uma relação amorosa (cf. Am 3.2) não nos ouve. Praticamente a mesma coisa que Jesus diz aos fariseus: “Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí e vim de Deus; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou (...) Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois de Deus.” (Jo 8.42,47).
Agora, se toda a humanidade é amada por Deus, como ficará no dia do Juízo? João nos diz que: “Nisto é aperfeiçoado em nós o amor, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos também nós neste mundo. No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor.” (1 Jo 4.17,18). Ou seja, se Deus ama a todos os pecadores, logo, não poderá condená-los. Pois o amor é a confiança de que não serão condenados, mas como pode haver condenação se Deus ama a todos? Paulo nos diz que o amor de Deus está derramado em nós por intermédio do Espírito Santo. Então se toda a humanidade é amada por Deus, logo, o Espírito Santo está em cada pecador não convertido. Seguir tal lógica, como o Olson mostra, é pífia. A Bíblia mostra que Deus ama os que guardam Seus mandamentos (Jo 14.21), que o amor de Deus não está naquele que ama o mundo (1Jo 2.15) e quem ama o mundo é inimigo de Deus (Tg 4.4).
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Divulgação: Bereianos
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