terça-feira, 18 de março de 2014

A corrupção do método, a redução da evangelização

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Por Morgana Mendonça Santos


"Visto não haver outro caminho de salvação a não ser o revelado no Evangelho e visto que, conforme o usual método de graça divinamente estabelecido, a fé vem pelo ouvido que atende à Palavra de Deus, Cristo comissionou a sua Igreja para ir por todo o mundo e ensinar a todas as nações. Todos os crentes, portanto, têm por obrigação sustentar as ordenanças religiosas onde já estiverem estabelecidas e contribuir, por meio de suas orações e ofertas e por seus esforços, para a dilatação do Reino de Cristo por todo o mundo. Jo 14:6; At.4:12; Rom 10:17; Mt 28:19,20; ICor 4:2; II Cor 9:6,7,10." [CFW - XXXV, IV]

A necessidade de uma evangelização fundamentada na soberania de Deus é urgente nos nossos dias, a grande comissão (Mt 28.18-20) foi distorcida no que chamamos hoje de "evangelismo ritualístico", o reduzimos e corrompemos seu verdadeiro significado. Podemos hoje questionar a igreja com essa pergunta: Qual a parte do IDE você, cristão, não entendeu? O significado da palavra corrupção usado no título, se refere ao ato de degenerar, afastar de uma conduta reta ou possuir uma variante. O que vemos hoje é uma intrigante subtração dos métodos e dos conceitos sobre o que significa evangelismo bíblico. Devemos voltar as Escrituras, a teologia bíblica, redefinindo outra vez o sentido, o conceito da grande comissão e suas perspectivas bíblicas. "Missões" não é o alvo final da igreja, porque o propósito final da igreja não é o homem. O alvo final da igreja é a adoração a Deus, isso sim é o nosso propósito final, ou seja, torne Deus conhecido para que os homens possam adorá-Lo. (Sl 117.1) Missões não significa enviar missionários, significa levar a verdade de Deus, as boas novas, através de homens e mulheres pecadores regenerados que entende o sentido bíblico dessa grande comissão.

Reduzir o método de evangelismo em quatro leis espirituais ou formas de abordagens para declaramos alguém salvo diante de Deus é o maior estrago que a igreja tem feito nos últimos tempos. Chegar para alguém e "perguntar se ele é um pecador", "se ele quer ir para o céu", "se ele deseja fazer uma oração de cinco minutos" e depois confirmar se essa "oração foi feita com sinceridade" para declarar a salvação dessa pessoa é uma grande heresia. Mas você pode questionar dizendo que a própria Escrituras afirma que devemos somente receber a Cristo. De fato, precisamos entender o que significa receber a Cristo. A mensagem deve ser, "arrependei-vos e credes no Evangelho" (Mc 1.15), receber a Cristo pela fé através da sua irresistível Graça. (Ef 2.8) Esse método medíocre, leva a igreja de Cristo a viver confirmando "salvação" daqueles que simplesmente levantam a mão no meio do culto ou dizem que um dia já fizeram uma "oraçãozinha" pedindo para Jesus entrar no seu coração. Definitivamente, concordo com um pregador reformado que diz: Choremos pelas almas enganadas! Não é por esse tipo de evangelização que Deus manifesta a Sua graça e sim apesar dessa evangelização.

É nítido que boa parte desse movimento evangelístico moderno, ainda que a graça de Deus seja mencionada, não quer dizer que foi compreendida. Sustentam a idéia herética de que pela graça, todos os homens tem a habilidade de escolher acreditar e aceitar o evangelho. Precisamos como igreja quebrar alguns paradigmas, corrigir alguns falsos ensinos que corrompem inteiramente as doutrinas da graça. Contemplamos acréscimos, adições às Escrituras, a igreja foi envolvida numa esfera pragmática, "é verdade que não está na Bíblia, mas funciona", levando a igreja a uma prática evangelística não bíblica porém "válida" - dizem eles. O que temos hoje é um método influenciado por idéias pelagianas ou semipelagianas. Corrompendo sim o método, afirmando ser a graça apenas uma ajuda externa de Deus, um tipo de ação que persuade o homem pela razão, fazendo-o escolher através do seu livre-árbitro o que deve fazer ou não. Fazendo o homem um ser independente, afirmando a idéia que a fé não é um dom, e sim, uma obra meritória para levá-las à salvação. Podendo assim o homem fazer uma escolha por Cristo, dependendo apenas de sua própria vontade.

Infelizmente é perceptível que muito dos nossos métodos de evangelização provém dessa fraude, calcada em cima de princípios que reconhece o pecado original como simplesmente uma enfermidade moral. Defendendo com isso que o homem é aquele que dá o primeiro passo em direção a Deus. Notemos o sistema de apelo por decisões iniciado por Charles Finney, levando o homem a tomar uma decisão através de um convite, "pelagiando" assim o efeito da sua conversão. Esse semipelagianismo defendido por Arminio, trouxe em sua totalidade uma influência em quase tudo o que vemos hoje na área da evangelização. Essa visão é completamente incompatível com o pensamento reformado, a visão bíblica sobre a evangelização fundamentada na soberania de Deus. Muitos sem nunca nem ler sobre a teologia reformada, de forma brutal acusam os reformadores de estar alheio a evangelização.

E quem disse que a doutrina da eleição não leva a evangelização? Precisamos entender que a grande comissão na perspectiva dos Evangelhos e do livro de Atos esta completamente arraigada na soberania de Deus. Sendo assim, de forma soberana ligada aos meios da graça. A eleição não é uma motivação a passividade e sim para atividade. O próprio Calvino, que até hoje é rotulando avesso à evangelização (conheça a sua história) declarou que a evangelização não era opcional, era parte de ser do ser cristão. Não somos responsáveis pelos resultados da nossa evangelização, e sim, pela fidelidade da mensagem e pelos métodos que usamos. O crescimento vem de Deus conforme 1Co 3.6-8. Podemos exemplificar o que foi escrito na lápide do missionário David Livingstone: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las". Um missionário que se dispôs ir a África, em constante busca pelas ovelhas do Senhor. Precisamos de homens e mulheres, cristãos, que possam defender as antigas doutrinas da graça, um evangelho centralizado na soberania de Deus, o autor e consumador da nossa fé e da nossa salvação. (Hb 12.2)

A evangelização bíblica que precisamos voltar a saborear é aquela que procura a conversão de pecadores juntamente com o discipulado daqueles que já nasceram de novo. Vejamos como diz o livro A Tocha dos Puritanos de Joel Beek, "A tocha da evangelização foi acesa originalmente, no Velho Testamento. Acesa pelo próprio Deus na primeira promessa messiânica que Ele deu a Adão e Eva, lá no Éden." (Gn 3.15) A evangelização bíblica está fundamenta na soberania divina, dessa forma Deus demonstra que tem os meios para levar avante este projeto evangelístico. Escolhendo João Batista para transpor a tocha da evangelização à era do Novo Testamento, quando Jesus ressurge dos mortos, comissionando seus discípulos para um grande desafio que assegura seu sucesso. (Mt 28.18) Note que os meios que Deus usa na ação da Sua soberania são homens pecadores como nós. Nossa motivação consiste no mandamento do mestre. p. 14,15.

A soberania de Deus no ato de eleger não permite ao evangelista reformado ficar inerte a isso, contudo como Calvino que nunca foi contra a evangelização, entendia que essa evangelização não deveria ser da forma errada. Entendendo que devemos ir, cumprindo essa ordem para que o propósito final seja satisfeito, no caso, "fazer discípulos de todas as nações", por meio do ensino e batismo (Mt 28.19-20), precisamos encarar a realidade da grande questão: como devemos ir? A grande comissão foi ordenada para discípulos, portanto, só discípulos irão cumprir. Devemos ir não por uma motivação emocional ou ardor passageiro, não isentando o conhecimento teológico, o nosso sentido de urgência deve preceder um encontro como o do próprio Isaías (Is 6), como diz São Francisco de Assis: "Pregue o Evangelho e se possível use as palavras". É impossível uma evangelização sem teologia, creio que temos uma missão de evangelizar para evangelizarmos com a missão de ensinar tudo o que Jesus ordenou para que seja obedecido. (Mt 28.20) "Todo cristão ou é um missionário ou um impostor" Charles H. Spurgeon.

Voltemos ao Evangelho, às Escrituras, Soli Deo Glória.

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Morgana Mendonça dos Santos, Recifense, Cristã Reformada, Missionaria, pecadora remida pela Graça.

Divulgação: Bereianos
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