domingo, 7 de julho de 2013

Honestidade


O menino saiu de casa cedo, para "lenhar" para a mãe, sempre muito preocupada com a manutenção de seus quatro filhos pequenos. O menino foi andando despreocupado, pois conhecia a região como a palma da mão. 


O trilho era estreito e, de vez em quando, suas pernas finas resvalavam contra a guanxuma da beira do trilho. De repente viu, meio encoberto pela guanxuma, um objeto diferente. Olhou com mais atenção e viu que era uma carteira, dessas de guardar documentos. Dentro havia grande quantidade de dinheiro em notas, novas algumas, outras mais velhas. 

Chegando em casa mostrou à mãe o que tinha achado e a mãe conseguiu descobrir num documento, o nome do dono da carteira. Tratava-se de um rico fazendeiro que, dias antes, passara por ali em demanda de um campo de caça. A fazenda do homem ficava longe, cerca de quatro léguas. No outro dia bem cedo, o menino saiu a pé, em demanda da fazenda para devolver a carteira ao seu dono.

Ao receber a carteira o fazendeiro a examinou e disse ao menino: - está faltando aqui uma nota de cinquenta mil réis, mas como essa era a gratificação que eu estava pensando dar a quem me devolvesse a carteira, fica uma coisa pela outra. Considere-se gratificado. 

O menino voltou para casa sem sequer receber uma refeição na casa do fazendeiro. No caminho começou a meditar na conveniência ou não da honestidade. Não seria muito melhor para ele, e para a sua família se tivesse ficado com a carteira do homem? Já noite chegou a casa cansado e faminto.

Expôs suas dúvidas quanto à validade da honestidade a sua mãe que lhe disse: - meu filho, a honestidade é uma virtude do indivíduo. Ou ela é sua ou não é. Você deve ser honesto não pela atitude dos outros, mas por uma atitude sua para com você mesmo. O homem não lhe deu uma recompensa, mas isso é um problema dele, não seu. A recompensa você já recebeu na aprovação de sua consciência pelo ato que você acabou de praticar. Você não acha que valeu a pena ter devolvido a carteira? 

- Sim, respondeu o menino! 

- Então, tornou a mãe, você não ficou mais pobre do que era, mas o fazendeiro, esse sim, ficou mais pobre para consigo mesmo, diante de sua própria consciência, pois de agora em diante cada vez que ele abrir aquela carteira, vai se lembrar da maldade que fez com você.

Alguns dias depois chegou à casa do menino, o fazendeiro. Queria falar com o menino e com sua mãe. Explicou que desde aquele dia em que recebeu a devolução do dinheiro, pelo menino, não conseguiu mais dormir e ali estava para pedir perdão ao menino e para dar-lhe uma nota de cem mil réis como gratificação.

Isso acontece. A honestidade nunca tira o sono de ninguém, nunca prejudica ninguém. Nesse caso, mesmo que o homem não se tivesse arrependido, o menino jamais teria de que se arrepender.
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Samuel Barbosa é pastor jubilado da Igreja Presbiteriana do Brasil

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