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Tradução: Centurio
Por John MacArthur
O pragmatismo é realmente uma séria ameaça?
Estou
convencido de que o pragmatismo apresenta precisamente a mesma sutil
ameaça para a igreja em nosso tempo que o modernismo representou há
quase um século.
O
Modernismo foi um movimento que abraçou a chamada alta crítica e a
teologia liberal enquanto negava quase todos os aspectos sobrenaturais
do Cristianismo. Mas o modernismo não se apresentou primeiramente como
um ataque evidente à doutrina ortodoxa. Os modernistas mais antigos
pareciam preocupados principalmente com a unidade interdenominacional.
Eles estavam dispostos a subestimar a doutrina em prol daquela meta,
porque eles acreditavam que a doutrina era inerentemente divisionista e
que uma igreja fragmentada seria irrelevante nos tempos modernos. Para
aumentar a relevância do Cristianismo, os modernistas procuraram
sintetizar ensinos cristãos com os mais recentes insights da ciência, filosofia, e crítica literária.
Modernistas
viam a doutrina como um assunto secundário. Eles enfatizavam a
fraternidade e a experiência, minimizavam as ênfases nas diferenças
doutrinárias. Eles acreditavam que a doutrina deveria ser fluida e
adaptável - certamente não como alguma coisa pela qual valha e pena
lutar. Em 1935 John Murray fez esta avaliação do modernista típico:
"O modernista muito freqüentemente orgulha-se na suposição de que ele se preocupa com a vida, com os princípios de conduta e com a colocação em prática dos princípios de Jesus em todas as áreas da vida: individual, social, eclesiástica, trabalhista e política. Seu slogan tem sido que o Cristianismo é vida, não doutrina, e ele pensa que a ortodoxia Cristão ou fundamentalista, como ele gosta de chamar, simplesmente está preocupada com a conservação e perpetuação de dogmas desgastados de convicção doutrinária, uma preocupação que faz da ortodoxia, na opinião dele, uma petrificação fria e inanimada do cristianismo. ["A Santidade da Lei Moral", Escritos Selecionados de John Murray 4 vols. (Edimburgo: Banner of Truth, 1976), 1:193.]
Quando
os precursores do modernismo começaram a surgir no fim do século XIX,
poucos cristãos ficaram preocupados. As controvérsias mais quentes
naqueles dias eram reações relativamente pequenas contra homens como Charles Spurgeon
- homens que estavam tentando advertir a igreja sobre a ameaça que
pairava sobre ela. A maioria dos cristãos - particularmente líderes das
igrejas - não estavam nem um pouco abertos para tais advertências.
Afinal de contas, não era como se estranhos estivessem impondo ensinos
novos na igreja; estas eram pessoas de dentro das denominações - e
grandes estudiosos do assunto. Certamente eles não tinham nenhum plano
para arruinar o núcleo da teologia ortodoxa ou atacar o próprio coração
do cristianismo. Divisionismo e cisma pareciam perigos muito maiores que
a apostasia.
Mas
quaisquer que tenham sido os motivos dos modernistas no princípio, as
idéias deles representaram uma ameaça séria à ortodoxia, como a história
provou. O movimento gerou ensinos que dizimaram praticamente todas as
principais denominações na primeira metade do século XX. Subestimando a
importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo
teológico, o relativismo moral, e a acentuada incredulidade . A maioria
dos evangélicos hoje tende a comparar a palavra "modernismo" com a
negação completa da fé. É frequentemente esquecido que o alvo dos
primeiros modernistas simplesmente era tornar a igreja mais "moderna",
mais unificada, mais relevante, e mais aceitável para uma cética era
moderna.
O alvo é o mesmo dos pragmatistas de hoje.
Como
a igreja de cem anos atrás, nós moramos em um mundo de mudanças rápidas
- grandes avanços na ciência, na tecnologia, na política mundial, e na
educação. Como os irmãos daquela geração, os cristãos hoje estão
abertos, até mesmo ansiosos, por mudanças na igreja. Como eles, nós
ansiamos por unidade entre os crentes. E como eles, somos sensíveis à
hostilidade de um mundo incrédulo.
Infelizmente,
há pelo menos um outro paralelo entre a igreja de hoje e a igreja do
fim do século dezenove: muitos cristãos parecem completamente
inconscientes - se não pouco dispostos a enxergar - que sérios perigos
ameaçam a igreja, vindo de dentro. No entanto, se a história de igreja
nos ensina alguma coisa, ela ensina que as agressões mais devastadoras
contra a fé sempre começaram com erros sutis que surgem de dentro.
Vivendo
em uma era instável, a igreja não pode se dar ao luxo de ficar
vacilando. Ministramos a pessoas desesperadas por respostas, e não
podemos minimizar a importância da verdade ou atenuar o Evangelho. Se
nos tornamos amigos do mundo, posicionamo-nos como inimigos de Deus. Se
confiamos em dispositivos mundanos, automaticamente renunciamos ao poder
do Espírito Santo.
Essas verdades são repetidamente afirmadas na Bíblia: "Não
sabeis que a amizade do mundo é inimizade com Deus? Portanto qualquer
que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tg 4:4). "Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." (1 Jo. 2:15).
"Não
há rei que se salve com a grandeza de um exército; não há valente que
se livre pela muita força. O cavalo é vão para a segurança; não livra a
ninguém com a sua grande força." (Ps. 33:16, 17). "Ai dos que
descem ao Egito a buscar socorro, que se estribam em cavalos, e têm
confiança em carros, porque são muitos, e nos cavaleiros, porque são
poderosíssimos, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao
Senhor." (Is 31:1). "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos." (Zc. 4:6).
O mundanismo ainda é um pecado?
Mundanismo
é até mesmo raramente mencionado hoje, muito menos identificado pelo
que realmente é. A própria palavra está começando a soar esquisita.
Mundanismo é o pecado da pessoa permitir que seus apetites, ambições, ou
conduta sejam moldados de acordo com valores terrestres. "Pois tudo o
que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e
a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa, e a
sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para
sempre." (1 Jo. 2:16, 17).
Entretanto
hoje nós vemos o extraordinário espetáculo dos programas de igreja
projetados explicitamente para suprir o desejo carnal, apetites
sensuais, e o orgulho humano; "a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida."
Para alcançar esse apelo mundano, as atividades da igreja vão
frequentemente além do meramente frívolo. Durante vários anos um colega
meu tem colecionado um "arquivo de horrores" com recortes que informam
como igrejas estão empregando inovações para impedir que os cultos de
adoração tornem-se tediosos. Na última meia década, algumas das maiores
igrejas evangélicas dos Estados Unidos empregaram esquemas mundanos como
comédias "pastelão", shows de variedades, exibições de luta livre, e
até mesmo strip-tease simulado, para apimentar as suas reuniões
de domingo. Nenhum tipo de grosseria, ao que parece, é ultrajante demais
para ser trazido ao santuário. O entretenimento está rapidamente se
tornando a liturgia da igreja pragmática.
Além
disso, muitos na igreja acreditam que este é o único meio de
alcançarmos o mundo. Se as multidões de sem-igreja não querem hinos
tradicionais e pregação bíblica, dizem-nos, temos que lhes dar o que
eles querem. Centenas de igrejas seguiram precisamente essa teoria,
chegando ao ponto de promover pesquisas entre os incrédulos para
aprender o que os levaria a comparecerem.
Sutilmente
o alvo maior vem se tornando a frequência à igreja e a aceitação por
parte do mundo em vez de uma vida transformada. Pregar a Palavra e
corajosamente confrontar o pecado são vistos como meios arcaicos,
ineficazes de ganhar o mundo. Afinal de contas, essas coisas na verdade
afugentam a maioria das pessoas. Por que não atraí-las ao aprisco
oferecendo o que elas querem, criando um ambiente amigável, confortável,
e suprindo exatamente aqueles desejos que são os mais prementes? Como
se pudéssemos fazer com que eles aceitem Jesus tornando-O de alguma
forma mais agradável ou fazendo a mensagem dEle menos ofensiva.
Esse
tipo de pensamento provoca um grave desvio na missão da igreja. A
Grande Comissão não é um manifesto de marketing. Evangelismo não requer
vendedores, mas profetas. É a Palavra de Deus, não alguma sedução
terrena, que planta a semente para o novo nascimento (1 Pe 1:23). Nós
ganhamos nada mais que o desprazer de Deus se buscamos remover a ofensa
da cruz (Gl 5:11).
Toda inovação é errada?
Por
favor não entendam mal minha preocupação. Não é à inovação em si que eu
me oponho. Eu reconheço que estilos de adoração estão sempre em
transformação. Também percebo que se o Puritano típico do décimo sétimo
século entrasse na Grace Community Church (onde eu sou o pastor)
ele poderia ficar chocado com nossa música, provavelmente espantado por
ver homens e mulheres sentados juntos, e muito possivelmente perturbado
por nós usarmos um sistema de alto-falantes para falar à igreja. O
próprio Spurgeon não apreciaria nosso órgão. Mas eu não sou a favor de
uma igreja estagnada. Não estou preso a nenhum estilo musical ou
litúrgico em particular. Essas coisas por si só são assuntos que as
Escrituras sequer abordam. Também não penso que minhas preferências
pessoais em tais assuntos são necessariamente superiores às preferências
de outros. Não tenho nenhum desejo de fabricar algumas regras
arbitrárias que governam o que é aceitável ou não em cultos da igreja.
Fazer assim seria a essência do legalismo.
Minha
queixa é quanto a uma filosofia que relega a Palavra de Deus a um papel
secundário na igreja. Eu creio que é anti-bíblico elevar o
entretenimento acima da pregação e da adoração no culto da igreja. E eu
me oponho àqueles que acreditam que técnicas de vendas podem trazer as
pessoas ao reino mais efetivamente do que um Deus soberano. Essa
filosofia abriu a porta para o mundanismo na igreja.
"Não me envergonho do evangelho",
escreveu o apóstolo Paulo (Rom. 1:16). Infelizmente, "envergonhado do
evangelho" parece cada vez mais uma hábil descrição de algumas das
igrejas mais visíveis e influentes do nosso tempo.
Eu
vejo impressionantes paralelos entre o que está acontecendo na igreja
hoje e o que aconteceu cem anos atrás. Quanto mais eu leio sobre aquela
época, mais a minha convicção é reforçada de que estamos vendo a
história se repetir.
Tradução: Centurio
Fonte: Grace Church
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