sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Conceito de Redenção nas Escrituras


Recentemente os símbolos tem sido grande foco de pesquisa e perguntas desde que Daniel Brown lançou o controvertido livro “O código da Vince” que fantasia a história de um professor de simbologia, Robert Langdon, que é acusado de assassinato no Louvre em Paris. Toda a trama policial, envolvendo idéias mirabolantes sobre o passado do cristianismo, é emoldurada por símbolos aparentemente desconexos. O autor deste romance aproveita do grande número de símbolos históricos para criar enigmas que serão solucionados a medida que os protagonistas compreendem o sentido primeiro de cada símbolo deixado.

O apreço por símbolos por parte do autor do livro fez com seus leitores ficassem intrigados com a profundidade de significado dos símbolos mais simples, e buscassem fontes fidedignas para comprovar seus significados. Por isso, os símbolos vieram a ter grande lugar na busca de significado na vida de muitas pessoas, tornado a simbologia uma ideologia comum entre muitos estudantes.

É bem verdade que símbolos não tem um significado único, mas conforme o tempo e a época, carregam um significado particular. Um exemplo disto é a flor de Lótus, que é normalmente associada ao budismo, mas já foi usada chineses, egípcios e hindus antigos. Contudo, apesar de sua variedade de significados, os símbolos sempre representam uma idéia central de determinado pensamento. E o cristianismo histórico não um exceção a esse fato.

Nos primeiros momentos da história do cristianismo, os cristãos adotaram o peixe como símbolo do cristianismo. Atualmente, alguns adesivos colados em carros, casas ainda levam esse símbolo. Mas qual é a razão da escolha desse símbolo?

Quando criança era muito curiosos, como a maioria das crianças, mas o meu desenvolvimento lógico era um pouco mais lento que o normal, e eu não conseguia entender a razão do peixe simbolizar a Jesus, como eu tinha ouvido falar em uma escola dominical. Certo dia ouvindo sobre a história da multiplicação dos pães, feita por Jesus, eu tive uma conclusão interessante: “Aqui está a resposta! O peixe que representa Jesus vem da multiplicação dos pães! O menino trouxe 2 peixes e 5 pães. E é lógico que o Peixe representa Jesus“.

Por certo essas não foram minhas palavras naquele dia, mas essa foi a conclusão que carreguei durante anos. Há pouco tempo atras eu compreendi o símbolo por trás do peixe escolhido pelos primeiros cristãos. Trata-se de um acróstico: “ichthus” que é a palavra grega para peixe foi assim demonstrada: “Iesus Christou Theou Huios Soter“, que significa Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. A idéia é excelente, mas poucas pessoas poderiam compreender facilmente essa idéia.

Deve ser por isso que o símbolo mais conhecido do cristianismo e que o representa facilmente é a CRUZ. Contudo, “a escolha que os cristãos fizeram da cruz como simbolo de sua fé é tanto mais surpreendente quando nos lembramos do horror com que era tida a crucificação no mundo antigo[1]“. A crucificação sempre foi vista com horror pelo mundo antigo. Os gregos e romanos adotaram a crucificação, como pena capital, dos bárbaros, que eram caprichosamente cruéis em suas formas de execução. Para os romanos, a crucificação era aplicada somente a criminosos extremamente desumanos, para que pudessem sofrer muito antes de sua morte. Com a crucificação, era possível fazer com que o criminoso sofresse durante dias, e isso servia de ilustração para outros que tentassem trilhar o mesmo caminho. Então,

Por que razão o cristianismo escolheu a cruz?

Como já foi dito anteriormente, o símbolo é a expressão gráfica do cerne de uma idéia. E dessa forma, não haveria para o cristianismo outro símbolo tão apropriado quanto a cruz. A cruz em si, como acontecimento comum no antigo mundo romano, era deveras cruel. Era um símbolo de repulsa, medo, sofrimento e desprezo. Mas para o cristianismo é símbolo de vida e liberdade, pois representa a morte de Cristo. Com isso não negamos a crueldade com que foi executada, mas afirmamos o resultado obtido por essa morte.

A cruz, como evento histórico necessário, marca o ponto mais alto da História da Redenção, e tem lugar especial na vida do cristão. Observe alguns aspectos referentes a morte de Jesus:

É na morte que a Obra Messiânica de Cristo é encerrada (Jo.19.30)
É o cumprimento do Antigo Testamento (1Co.15.3)
A morte de Cristo é a garantia da pureza do cristão, bem como das suas boas obras (Tt.2.14)
É na morte que ocorre o derramamento de sangue necessário para a perdão dos pecados (Hb.9.15, 22; cf. Mt.26.28; Ef.1.7; Cl.1.14).
É por meio do sangue de Cristo que temos Eterna Redenção (Hb.9.12).
É através da morte de Cristo que temos acesso a redenção (Rm.3.24)
Em nome de Cristo deveria ser pregada a redenção de pecados a todas as nações (Lc.24.27)
De acordo com as colocações supracitadas, não podemos deixar de reconhecer a centralidade da Cruz na vida e expectativa cristã. De fato, é impossível ser cristão sem render-se a cruz de Cristo, que representa Sua Morte em nosso favor. Aliás, cristianismo sem a cruz é mera ideologia ética sem valor. Portanto, o verdadeiro cristianismo depende intrinsecamente da cruz, pois esta é o cerne de sua ideologia e fé. Se o que foi dito é verdadeiro, e o símbolo que deveria representar tal idéia deve ser compatível a tal colocação, segue-se que a Cruz é a representação gráfica ideal para o Cristianismo.

E o que significa essa cruz senão nossa liberdade!? Nossa Redenção!? A remissão dos nosso pecados!? Comunhão com Deus!? É por meio dela que nós somos completamente libertos de nossa medíocre vida sem significado e passamos a participar da Vida Eterna que Deus nos concede por meio de Jesus Cristo.

Cruz nos lembra a morte de Cristo, que nos garante a Redenção do pecado, que nos proporciona a perfeita vida eterna com Deus.

Com isso não estamos tentando minimizar nem a Vida nem a Ressureição de Cristo[2], que são igualmente essenciais para a expectativa e vida cristã. Mas, queremos enfatizar é que a  Sua Morte é o cerne de Redenção administrada históricamente por Deus para a salvação da humanidade.

A.W Pink, quando escreveu o livro Deus é Soberano, adimitiu estar escrevendo um livro unilateral no que diz respeito ao relacionamento entre Deus e os homens no que tange a sua Soberana Administração e a volição dos homens dentro dessa Administração, pois estava interessado em enfatizar apenas o que diz respeito a Deus. No presente estudo, tenho interesse semelhante, pois quero tratar exclusivamente da morte de Cristo como cerne da Obra Redentora de Deus.

Contudo, para que isso seja corretamente exposto, teremos que passar pela História que envolve tal Obra, para, então, levantar sua realidade e aplicação. Para tanto, precisaremos passar por uma fase inicial de conceituação da Obra Redentora, observar termos envolvidos na literatura bíblica, observar algumas opiniões teológicas na história da teologia cristã, para então levantarmos um conceito aplicável para a realidade bíblica.

Conceito de Redenção
A palavra Redenção em si tem diversas definições, devido a sua origem. O Dicionário de Teologia de Grenz, Guretzki e Fee Nordling traz a seguinte definição: “Redenção é o processo pelo qual o homem pecador é resgatado da prisão do pecado e entra num relacionamento com Deus por meio de sua Graça e do pagamento feito na morte de Jesus. A redenção é uma das figuras metafóricas que o Novo Testamento usa para explicar a obra salvadora e misericordiosa de Deus em Jesus“.

Alguns pontos são notáveis em tal definição:

Reconhecimento da Redenção como um Processo: Embora o reconhecimento seja ainda primário e pouco explorado, o conceito em si é bem colocado. O que tal definição expressa até aqui, é que existe uma progressão na vida do homem para que compreenda a verdade sobre Cristo e se aproprie dela.
Reconhecimento do Pecado no homem como prisão: A idéia do pecado como prisão expõe em simples palavras a realidade da vida do homem. Como Jesus mesmo já afirmou, “todo que vive pecando é escravo do pecado” (Jo.8.34)
Exaltaçã da Graça de Deus: A Graça de Deus não poderia ter sido deixada de lado quando falamos da Eterna Redenção que nos oferece em Cristo Jesus.
Reconhecimento da Morte de Cristo como pagamento: Esse ponto é essencial para conceituação de Redenção. Sem tal premissa, toda definição estaria errada.
Contudo, não podemos considerar tal definição como suficiente. O autor dessa definição, por certo, não considerou as declarações que o Velho Testamento tem a dizer sobre o assunto. Sem contar que cre que o termo em pauta seja um figura metafórica utilizada no Novo Testamento. Tal colocação tende a minimizar o sentido original e básico do termo, e por certo sua aplicação pode ser assim, igualmente, minimizada.

Portanto, para uma compreensão e definição plausível e adequada, é necessário compreender os vocábulos envolvidos na literatura bíblica.

Definição Léxica
A redenção é objeto de estudo de critãos há muito tempo. Muito teólogos já se dedicaram a pesquisar e levantar questões bíblicas sobre o assunto. H.A. Ironside, foi um desses, e escreveu o excelente livro “Os grandes vocábulos do Evangelho, e em sua abordagem, Ironside faz a seguinte colocação sobre o termo em pauta: “A palavra ‘Redenção’ atravessa a Bíblia de capa a capa; de fato, podemos dizer sem qualquer sugestão de hipérbole que este é o grande e notável temo das escrituras Sagradas (…) Por toda parte, do Gênesis ao Apocalipse, encontramos Deus, de um modo ou de outro, a apresentar-nos a verdade da redenção – redenção em promessa e em tipo, no Antigo Testamento; redenção em gloriosos cumprimento no Novo Testamento[3]“.

Segundo Ironside, redenção refere-se ao ato da compra de algo que fora seu, readquirir algo que foi retirado temporariamente de seu poder. Pode ser empregado também como Liberdade, libertar, livrar, no sentido de redimir alguém que corria grave perigo.

Tal referência feita por Ironside, está em consonância com a maioria dos comentaristas e teólogos bíblicos. M.G. Easton, autor do Easton’s Bible Dictionary, concorda com Ironside e complementa que tal recuperação exige pagamento adequado[4]. Ray Summers, que participa da elaboração do Holman Bible Dictionary, nos lembra que “no uso antigo da idéia e das palavras apontam para uso de atividades legais e comerciais. Elas proporcionam aos escritores bíblicos uma das mais básicas e dinamicas imagens para descrever a atividade de Deus em salvar a humanidade[5]“.

Seguindo essas colocaçãoes sobre o assunto, vamos observar com mais atenção, o que a Bíblia tem a nos informar sobre o assunto. A idéia é buscar o conceito sendo exposto no Velho e no Novo Testamento..

Velho Testamento

 O livro International Standard Bible Encyclopedia, organizado por Jamer Orr, diz que “a idéia de redenção no Antigo Testamento tem início a partir do conceito de propriedade (Lv.25.26; Rt.4.4ss)[6]“. Um preço era pago em dinheiro, em conformidade com a Lei, para comprar novamente uma propriedade que necessitasse ser libertada ou resgatada (Nm.3.51; Ne.5.8). E a partir deste uso, o termo no Antigo Testamento é usada normalmente com um senso de libertação, embora o idéia de pagamento esteja presente.

Nesse mesmo sentido levantado, Deus é visto como o Redentor de Israel, pois é aquele que provê Libertação para seu povo. Em Dt.9.26 temos uma bela demonstração desse fato: “Ó Soberano Senhor, não destruas o teu povo, tua própria herança! Tu o redimiste com a tua grandeza e o tiraste da terra do Egito com mão poderosa“. Como podemos observar, Deus é visto pelo escritor sagrado como “Aquele que Liberta“. Redenção aqui é vista exatamente neste sentido, e a história da saída do povo do Egito é a prova definitiva desse sentido. Obeserve:

E quem é como Israel, o teu povo, a única nação da terra que tú, ó Deus, resgataste para dela fazerdes um povo para ti mesmo, e assim tornaste o teu nome famoso, realizaste grandes maravilhas ao expulsar nações e seus deuses de diante desta mesma nação que libertaste do Egito? (2Sm.7.23)

Observe que os termos em destaque reportam-se ao termo hebraico “padâ“, que ainda será conceituado no presente estudo. Portanto, não podemos negar que o conceito de Redenção no Velho Testamento denota o sentido de libertar, e normalmente é vista em benefício do povo de Deus (1Cr,17.21 Is.52.3). A idéia de “Redenção” inclui a libertação de todas as formas de mal (Is.52.9; 63.9 cf. Lc.2.38), ou pragas (Sl.78.35, 52) ou qualquer tipo de calamidade (Gn.48.16; Nm.25.4, 9).

O Velho Testamento também apresenta a figura do homem endividado que poderia hipotecar seus bens para conseguir pagar o que estava devendo. Se porventura, ainda não fosse suficiente ele poderia hipotecar sua força, suas habilidades como um escravo até que sua dívida fosse paga: “Depois de haver-se vendido, haverá ainda resgate para ele” (Lv.25.48). Um irmão poderia, se tivesse condições, redimi-lo, mas não era o que normalmente aconteceria. Outra maneira de redimir esse homem seria se ele herdasse subitamente uma propriedade para, então, pagar sua dívida. Contudo, existe ainda outra possibilidade, e essa merece nossa atenção: É a figura do Redentor Parente. O redentor parente seria alguém com capacidade para remi-lo, e que se “preocupasse suficientemente por ele, a ponto de responsabilizar-se pelas dívidas e as solvesse, então poderia ser libertado[7]“.

Como podemos ver, a idéia de rendenção do Velho Testamento é bem sólida, baseada em fatos concreto. Contudo, para uma compreensão mais abrangente e coesa, é necessário conhecer os termos hebraicos envolviudos nesse contexto.

O Velho Testamento Hebraico utiliza os seguintes vocábulos para  conceituar o que o Latim, língua materna do Português, chamou de “redemptio”, o Inglês de “redemption” e o português de “redenção“:

ga’al[8]

Gn. 48:16; Ex. 6:6; 15:13; Lv. 25:25f, 30, 33, 48, 54; 27:13, 15, 19, 27, 31, 33; Nm. 5:8; 35:12, 19, 21, 24, 27; Dt. 19:6, 12; Js.20:3, 5, 9; Rh 2:20; 3:9, 12; 4:1, 3, 6, 8, 14; 2 Sm. 14:11; 1 Re. 16:11; Ed. 2:62; Ne. 7:64; Jò 3:5; 19:25; Sl. 19:15; 69:19; 72:14; 74:2; 77:16; 78:35; 103:4; 106:10; 107:2; 119:154; Pv. 23:11; Is. 35:9; 41:14; 43:1, 14; 44:6, 22; 47:4; 48:17, 20; 49:7, 26; 51:10; 52:3, 9; 54:5, 8; 59:3, 20; 60:16; 62:12; 63:3, 9, 16; Jr. 31:11; 50:34; Lm. 3:58; 4:14; Dn. 1:8; Os. 13:14; Mc. 4:10; Zc. 3:1; Ml. 1:7, 12

Segundo o Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, de Harris, Archer Jr., e Waltke, o termo significa basicamente “Redimir, vingar, resgatar, livrar, cumprir o papel de resgatador[9]“. Este verbete é o verbo denominativo, que dá origem a outros termos, tal como “geûllay” (que aparece uma única vez em Is.63.4 – redenção), “geûllâ” (direito de redenção, preço de redenção) e “go’el” (redentor).

O Velho Testamento utilza o termo em quatro situações distintas: (1) É usada na legislação do Pentateuco para se referir ao resgate de um campo que for a vendido em tempos de necessidade (Lv.25.25), ou ao escravo que se vendera em termos de miséria (Lv.25.48); (2) Diz respeito a propriedades e animais, que não eram dedicados ao sacrifício ao Senhor ou eram primogênitos de animais imundos (Lv.27.11ss) que poderiam ser resgatadas por um homem que pudesse dar algo equivalente em troca, embora o preço do resgate fosse maior, para evitar trocas desonestas; (3) Refere-se, também, ao “vingador de sangue“, que era o parente mais próximo de um homem assassinado (Nm.35.12ss). Como nas relações comerciais, era necessário um valor equivalente para que uma propriedade ou escravo fossem resgatados, neste caso, de vida retirada, com a vida do assassino seria paga, visto que o parente mais próximo é o “vingador de sangue“. Neste caso, o “redentor” é um executor da pena capital, mas sem culpa para receber mesma punição; (4) Um outro uso muito comum nos Salmos e nos profetas, é a identificação de Deus como Redentor de Israel. Neste caso, o preço da redenção não é citado, embora a idéia de julgamento sobre os inimigos de Israel seja citado em Is.43.1-3.

Um uso interessante do termo está lançado em Prv.23.10-11: “Não removas os marcos antigos, nem entres nos campos dos órfãos, porque o seu Vingador é forte e lhes pleiteará a causa contra ti“. Como é evidente pelo uso de letra maiúscula na tradução da ARA, o Vingador referido é Deus. A NVI traz a idéia de “aquele que defende” de maneira um pouco superficial, embora a colocação seja aceitável do ponto de vista léxico. A versão inglesa New International Version, traz a idéia de “Defensor”, enquanto a King James Version traz “Redentor”. Segundo Girdlestone “Deus assume o lugar de redentor-parente e também de vingador do pobre e necessitado“. Todas astraduções expostas levantam um aspecto do termo “goel“, sendo que é possível, diante de fartas opções, compreender o seu significado. Portanto, o que vemos neste texto é que existe uma combinação de sentidos de “goel“, que expõe de maneira clara o seu significado[10].

O texto clássico sobre redenção está em Jó.19.25: “Por que eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra“. Alguns cristãos do passado o assinalaram como uma referência à vinda de Cristo em sua obra messiânica, o que seria uma grande colocação. Contudo, considerando o argumento do proprio livro, e a situação de Jó, seria mais correto crer que faça referência a Deus, que, como amigo e parente resgatador, por meio da fé, por fim redimiria Jó do pó da terra. Por outro lado, não podemos negar que existe uma relação profética deste texto, com a Obra Messiânica realizada por Cristo.

padâ[11]:

 Ex. 13:13, 15; 21:8; 34:20; Lv. 19:20; 27:27, 29; Nm. 3:49; 18:15ss; Dt. 7:8; 9:26; 13:6; 15:15; 21:8; 24:18; 1 Sm. 14:45; 2 Sm. 4:9; 7:23; 1 Re. 1:29; 1 Cr. 17:21; Ne. 1:10; Jo 5:20; 6:23; 33:28; Sl. 25:22; 26:11; 31:6; 34:23; 44:27; 49:8, 16; 55:19; 69:19; 71:23; 78:42; 119:134; 130:8; Is. 1:27; 29:22; 35:10; 51:11; Jr. 15:21; 31:11; Os. 7:13; 13:14; Mc. 6:4; Zc. 10:8

O Dicionário Internacional de Teologia traz a seguinte colocação sobre o termo “padâ“: “O sentido básico é o de conseguir a transferência de propriedade de uma pessoa para outra mediante pagamento apropriado de uma quantia ou de um substituto equivalente. A raiz ocorre em assírio com o sentido de ‘poupar’, e em ugartico é mais usada com o significado de ‘resgatar’. A raiz e seus derivados aparecem 69 vezes no AT[12]“.

O termo em pauta é um dos termos mais significativos para a idéia de “Redenção” do ponto de vista cristão, porque recebe influências históricas. No Êxodo o termo é usado em relação a redenção dos primogênitos de Israel, que são popado por substituição, enquanto os primogênitos do Egito são mortos (Ex.12.13, 15). Naquela ocasião, Deus livrou Israel da servidão pelo preço da morte de todos os primogênitos do Egito, sejam eles humanos ou animais (Ex.4.23; 12.29). O termo também é utilizado em relação ao leviatas e seus animais, que deveriam ser separados para Deus, em lugar do povo e de seus animais (Nm.3.44ss), que não eram dedicados aos Senhor (Ex.13.11-16; 34.19-20; Nm.18.8-32). “Aquilo que era santo para o Senhor, i.e., o primogênito de vaca, ovelha e cabra, não seria resgatado[13]“.

Um texto que merece nossa atenção aqui é Dt.15.15: “Lembrar-te-ás de que foste servo na terra do Egito e de que o SENHOR, teu Deus, te remiu; pelo que, hoje, isso te ordeno“. Israel também é visto como receptor da libertação proposta por Deus. Portanto, o termo não trata exclusivamente da questão legal ou religiosa do povo de Israel, mas é aplicado à Obra de Deus em relação a seu povo. Tal idéia, ainda será exposta em outras épocas.

Em 2Sm.7.23 vemos uma colocação importantíssima: “Quem há como o teu povo, como Israel, gente única na terra, a quem tu, ó Deus, foste resgatar para ser teu povo? E para fazer a ti mesmo um nome e fazer a teu povo estas grandes e tremendas coisas, para a tua terra, diante do teu povo, que tu resgataste do Egito, desterrando as nações e seus deuses“. O reconhecimento sobre o privilégio da nação de Israel é vista historicamente como consequência da Redenção de Deus, ou seja, da libertação do povo.

Inclusive, Isaías parece interpretar o chamado de Abraão como um ato remidor da parte de Deus: “Portanto, acerca da casa de Jacó, assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão: Jacó já não será envergonhado, nem mais se empalidecerá o seu rosto“. Com mesma visão, anteviu aquil que Deus lhe revelara sobre o futuro de Sião: “Os resgatados do SENHOR voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido” (Is.35.10; cf. 50.2; 51.11; Zc.10.8).

Como “ga’al”, “padâ” é aplciado a diversasa situações, principalmente nos Salmos. Deus é apresentado como aquele que “liberta, redimi” os homens de algum perigo (Sl.26.11; 31.5; 34.22-23; 44.26; 71.23) ou das mãos de opressores (Sl.55.18-19; 69.18-19). Nesse contexto vemos que os Salmos ensinam a insuficiência do homem diante da morte, visto não poder fazer nada perante ela (Sl.49.8-9), mas demonstra que o poder redentor de Deus não está limitado a ela (v.15-16).

O mais interessante no uso deste termo é que uma única vez é utilizado em referência ao pecado: “Espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia; nele, copiosa redenção. É ele quem redime a Israel de todas as suas iniqüidades” (Sl.130.8-9).

kapar:

Gn.32:21; Ex. 29:33, 36; 30:10, 15; 32:30; Lv. 1:4; 4:20, 26, 31, 35; 5:6, 10, 13, 16, 18, 26; 6:23; 7:7; 8:15, 34; 9:7; 10:17; 12:7f; 14:18ss, 29, 31, 53; 15:15, 30; 16:6, 10, 16, 20, 24, 27, 30, 32; 17:11; 19:22; 23:28; Nm. 5:8; 6:11; 8:12, 19, 21; 15:25, 28; 17:11f; 25:13; 28:22, 30; 29:5; 31:50; 35:33; Deut. 21:8; 32:43; 1 Sm. 3:14; 2 Sm. 21:3; 1 Cr. 6:34; 2 Cr. 29:24; 30:18; Ne. 10:34; Sl. 65:4; 78:38; 79:9; Pv. 16:6, 14; Is. 6:7; 22:14; 27:9; 28:18; 47:11; Jr. 18:23; Ez. 16:63; 43:20, 26; 45:15, 17, 20; Dn. 9:24 Is. 43:3; Am 5:12

Esse termo é o verbo denominativo dá origem a termos como “koper” (resgate, dádiva para obter favor), “kippur” (expiação) e “kapporet” (propiciatório, local da expiação). Embora exista muita discução sobre a raiz desse termo, alguns comentários devem ser elaborados. R. Laird Harris, no Dicionário Internacional de Teologia, diz que “a raiz kapar  é usada cerca de 150 vezes. Tem sido objeto de intensos debates. Existe uma raíz árabe equivalente que significa ‘cobrir’ ou ‘ocultar[14]‘“. Girdlestone nos informa que o termo árabe mencionado pelo DITAT é “Kephr“[15], e que o sentido original é de se coberto ou protegido. Nos diz também que o termo tem 3 usos distintos do sentido original em hebraico mencionado acima: (1) Pode significar um vila, povoado, aldeia (Kaper-naum = Cafarnaum = vila de Naum; cf. 1Cr.27.25; Ct.7.12); (2) Pode referir-se a um planta (Ct.1.14; 4.13); e (3) pode significar calafetar com betume (Gn.6.14).

O conceito de “pecado coberto” é normalmente abordado por estudiosos da teologia sistemática, tal como Chafer, que diz que “a economia divina com respeito à disposição de tais pecados, representados nos sacrifícios de animais durante o extenso período entre Abel e Cristo, foi a de cobrir, como mostra a raiz hebraica kaphar, traduzida como expiação[16]“. Continuando seu raciocínio  diz que o termo em pauta expressa com exatidão divina o conceito de cobrir. O International Standard Encyclopedia complementa, ainda, afirmando que o termo significa não apenas cobrir, mas também “cancelar, aplacar, oferecer ou receber uma oferta pelo pecado[17]“. O Holman Bible Dictionary contribui ao afirmar que “kapar” “é usado em conceitos e práticas estritamente religiosas. É da palavra “Kippur” que se origina “Yom Kippur”,  dia da expiação, ou ‘dia de cobrir’, talvez o mais sagrado dos dias santos no Judaísmo. A forma verbal no Velho Testamento sempre é usada com um senso religioso de cobrir o pecado ou efetuar pagamento pelo pecado. Porém, a forma substantiva às vezes é usada no sentido secular de um suborno (Am. 5:12) ou resgate (Ex. 21:30). Com ‘padâ’, é usado no senso de resgate[18]“.

De fato, não podemos negar o que a escritura nos ensina sobre a morte expiatória de Cristo (sobre a morte de Cristo ser eficiente aos pecados cometidos antes de sua vinda ver At.17.30; Rm.3.26; Hb.9.15). Segue-se que o termo pode auxiliar na compreensão do conceito de “expiação“, como é visto por todo Velho Testamento. Portanto, concluímos que, apesar da dificuldade de identificação da aplicação do termo para a teologia do Velho Testamento, o termo é utilizado teologicamente com o conceito de “cobrir” os pecados (sobre essa conclusão, ver ISBE no tópico “The English Word”). Enfim, após algumas considerações etimológicas de aplicação teológica, vamos considerar o que o termo “Kapar” e suas variante podem nos auxiliar na compreensão de Redenção no Antigo Testamento.

Em Gn.32.20 vemo um uso interessante do termo “kapar”, pois a ARA traduziu o termo como “aplacar”, a NVI como “apaziguar” e a versão da Alfalit Brasil, como “perdoar”. O contexto é a reconciliação entre Jacó e Esaú, e um presente foi envidado adiante de Jacó, pois pensava que fazendo o presente chegar antes dele, seu irmão o perdoaria. O termo é usado neste contexto, e sua aplicação em português é bem vista com qualquer uma das possibilidades destacadas.

As sete ocorrências do termo em Exodo, seis são utilizadas na ARA com sentido de “expiação” e uma como “propiciação” (Ex.32.30). Em Levítico a maioria dos casos é traduzido como “expiação“. Em Nm.5.8 vemos outro uso que merece nossa atenção. A ARA traz a seguinte tradução:  “Mas, se esse homem não tiver parente chegado, a quem possa fazer restituição pela culpa, então, o que se restitui ao SENHOR pela culpa será do sacerdote, além do carneiro expiatório com que se fizer expiação pelo culpado“. O termo “kapar” é traduzido pelo termo sublinhado no texto, mas o seu conceito é expresso pela colocação em negrito no texto. Ou seja, o bode expiatório, que era oferecido para morrer, tinha a função de “fazer restituição pela culpa“. Portanto, podemos notar que o sentido mais clássico do termo em relação a Teologia do Velho Testamento diz respeito a preço pago em favor de um débito. Deve-se lembrar que tal conceito aplica-se, não a dívida financeira, mas religiosa. Note os versos anteriores: “Dize aos filhos de Israel: Quando homem ou mulher cometer algum dos pecados em que caem os homens, ofendendo ao SENHOR, tal pessoa é culpada. Confessará o pecado que cometer; e, pela culpa, fará plena restituição, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e dará tudo àquele contra quem se fez culpado” (v.6, 7).

Dos termos do Velho Testamento, o mais significativo em termos religiosos é “Kapar”. Sem sombra de dúvidas, o conceito de “expiação” é inexoravelmente ligado ao pecado. Uma simples abordagem de Levíticos deixará isso mais que evidente. A idéia de débito acompanhado pelo perdão é claramente observada na literatura vétero-testamentária. Observe a chamada de Isaías: “Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado” (Is.6.7; cf. Nm.15.28; Sl.653; 78.38; 2Cr.30.18-19).

Como pudemos ver, a idéia de Redenção exposta no Velho Testamento é concentrada em conceitos concretos e aplicada a práticas civis e religiosas. Entretanto, a idéia de preço adequado pago em função de um débito sempre está presente, bem como a idéia de substituição para essa reconstituição. Sobre o assunto, o Holman Bible Dictionary diz que “a doutrina de redenção no Velho Testamento não é derivada de pensamento filosófico abstrato, mas do pensamento  concreto hebreu“. E isto foi bem observado em nossa exposição.

Novo Testamento

O Novo Testamento, ao contrário do Antigo, tráz conceitos mais claros para os cristãos mas, não perde de vista seu significado original. Como sabemos, o Novo Testamento aplica eficazmente o conceito vétero-testamentário à Jesus Cristo, como o Redentor do homem. Sobre isso, Ray Summers diz que “o Novo Testamento centra a redenção em Jesus Cristo. Ele comprou a Igreja com seu póprio sangue (At.20.28), deu-se pela vida do mundo (Jo.6.51), como Bom Pastor deu sua Vida por suas ovelhas (Jo.10.11) e demonstrou seu grande amor dando sua vida por seus amigos (Jo.15.13). O propósito de Jesus na terra foi realizar um sacrificío de Si mesmo para libertação do homem do pecado[19]“. Isso parece estar em concordancia com Merril  C. Tenney, quando diz que “o coração da mensagem bíblica da redenção é a libertação do povo de Deus do domínio do pecado por meio do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo e a sua consequente reconciliação com Deus e Seu Reino Celeste[20]“.

Diante das colocações neo-testamentárias, não podemos nos esquecer que tal sacrifício de Cristo em favor do homem é a maior prova da incapacidade do homem de libertar-se, por seu mérito ou capacidade, do pecado. Ironside, concorda com essa colocação, e diz que “não é possível para qualquer homem, por seus próprios meios, redimir-se das tristes condições em que se encontra devido ao pecado; eis por que necessitamos de um parente remidor que seja mais que homem, que seja ao mesmo tempo divino e humano[21]“. Ao tratarmos o assunto de Redenção no Novo Testamento temos que resgatar o sentido de deficiência humana perante Deus, em função do seu pecado. Não existem méritos no homem que o façam merecer o Sacrifício de Cristo. Não podemos retirar os perfeitos méritos de Cristo da questão. Sobre isso o  Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, organizado por Colin Brown, nos informa que:

“Sempre que os homens, por sua própria culpa ou através de algum poder superior ficam submetidos ao controle de outra pessoa, e perdem sua liberdade para implementar a vontade e as suas decisões, e quando seus próprios recursos são inadequados para enfrentar aquele outro poder, podem obter de novo sua liberdade somente mediante intervenção de um terceiro. No NT, conforme o aspecto encarado, o grupo de palavras gregas associado com lyo, sozo, rhyomai, é empregado para expressar semehante intervenção (…) No NT, estes termos se empregam de modo preeminente para a obra redentora de Cristo[22]” (grifo do autor).

J.D. Douglas acrescenta muito ao nosso estudo ao nos demonstrar uma outra perspectiva sobre a Redenção, ao dizer que “a redenção não somente lança os olhos de volta para o calvário, mas também comptempla a liberdade na qual se encontram os redimidos. [23]“. A idéia de liberdade após pagamento não deve ser deixada aqui. Aliás, tal conceito é necessário ser compreendido de maneira correta para que a Salvação oferecida por Jesus Cristo não seja mal interpretada. Lembre-se: quando Jesus disse, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo.8.32), os que o ouviram ficaram indignados por não conhecerem sua real situação diante de Deus, por isso Jesus acrescentou: “em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo.8.34). Apenas a verdade pode libertar o homem das amarras do pecado, e Jesus Cristo é a Verdade (Jo.14.6).

Para um compreensão maisq adequada da Redenção, vamos observar os termo envonvidos com esse conceito na Literatura do Novo Testamento:

lyo:

NT: Matt. 5:19; 16:19; 18:18; 21:2; Mk. 1:7; 7:35; 11:2, 4; Lk. 3:16; 13:15f; 19:30f, 33; Jn. 1:27; 2:19; 5:18; 7:23; 10:35; 11:44; Acts 2:24; 7:33; 13:25, 43; 22:30; 27:41; 1 Co. 7:27; Eph. 2:14; 2 Pet. 3:10ff; 1 Jn. 3:8; Rev. 1:5; 5:2; 9:14f; 20:3, 7; LXX: Gen. 42:27; Exod. 3:5; Jos. 5:15; Ps. 101:21; 104:20; 145:7; Job 5:20; 39:2, 5; 42:9; Isa. 5:27; 14:17; 40:2; 58:6; Jer. 47:4; Dan. 3:92; Apócrifos: 1 Es. 1:52; 9:13, 46; Jdt. 6:14; 9:2; Tbs. 3:17; 3 Ma. 1:4; 6:27, 29; 4 ma. 3:11; 7:13; 12:8f; Sir. 28:2; Dat. 3:92; 5:12

To termo Iyo significa basicamente “soltar, desligar, livrar, libertar, anular, abolir”, e como verbo denominativo dá origem a Iysis (soltura, divórcio), katalyo (quarto de visitas), akatalytos (indestrutível), eklyo (ficar solto, ficar cansado, ficar fraco), apolyo (livrar, libertar, soltar, perdoar, deixar ir, mandar embora, demitir, divorciar). Cada um dos termos derivados de Iyo é encontrado na LXX, o que atribui grande valor etimológico-conceitual ao termo em pauta no que tange ao conceito de Redenção.

Antes de observar como esse termo foi utilizado na LXX, é válido observar seu uso anterior à tradução da Torá para o grego, ou seja, é preciso ressaltar os usos do Grego Clássico. Na Odisséia, Homero utiliza o vocábulo com sentido da salvação oferecida pelos deuses aos homens, contudo sem nenhuma ligação com o conceito de pecado, demérito, ou inabilidade do homem em alcançá-la (Od.5, 397; 13, 321). Em outros autores, o conceito mais encontrado é “soltar” ou “libertar”. Portanto, a conclusão que pode-se auferir aqui é que a Etimologia de Iyo é vista fora da literatura bíblica está em harmonia com os usos bíblicos.

Na tradução da LXX o termo é visto algumas, mas em tradução a 7 diferentes termos hebraicos carregando sempre alguma idéia de “soltar” (cf. Ex.3 5; Js.5. 15 – referente a sandálias; Dn.3.9; 5.12 – resolver dificuldades; entre várias outras ocorrências). Entretanto, um texto deve ser vislumbrado aqui: Is.40.2: “Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia, que a sua iniquidade está perdoada e que já recebeu em dobro das mãos do SENHOR por todos os seus pesados”. Aqui vemo o uso mais claro no VT referente a redenção. A idéia de perdão do termo Iyo é percebida pela tradução de rasah (heb), que significa ser favorável, perdoar, favorecer. A LXX faz a aplicação conceito do termo no sentido de libertar ou deixar ir a culpa pela iniquidade. Ou seja, o conceito do termo carrega a idéia de iniquidade como dívida ou débito, e que para que ela seja quitada é necessário ser liberto ou perdoado, como vemos no texto acima.

Outro texto que merece nossa atenção aqui é Jó. 19.25: “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra”[24]. A idéia primária do texto está posta sobre Deus como Vindicador, visto não apresentar claramente a idéia de libertação do Sheol, mas da ajuda durante sua vida e resgate da justiça perdida. Neste ponto é clara a utilização de Iyo para traduzir go’el, com a intenção de apresentar o Resgate efetuado por Deus. Isso efetivamente acontece conforma exposto pelo cap.41 do livro de Jó.

Em Salmos vemos um texto que deve ser também analisado aqui: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu” (Sl.19.14). Aqui vemos a clara identificação de Deus como Redentor, ou seja, aquele que liberta. Novamente a idéia de Remidor parente está conceituada por Iyo na LXX.

No NT vemos o termo sendo aplicado em diversas ocasiões, tais como desatar a sandália (Mc.1.7; Lc.3.16; Jo.1.27; At.13.25; At.7.33 em relação a Ex.3.5), soltar o filhote da jumenta (Mt.21.2; Mc.11.2, 4-5; Lc.19.30-31, 33), soltar as cadeias de Paulo (At.22.30), desatar as ataduras de Lázaro (Jo. 1 1 .44), entre outros. Na verdade, o termo em paute é utilizado com quatro sentidos básico: (1) Libertar, Desligar, e é aplicado a Anjos (Ap.9. 14-15) e a Satanás (Ap.20.3, 7); (2) Em Lc.13 15-16 Jesus apresenta o conceito de libertar alguém de um problema espiritual (doença), que neste caso trata-se de um espírito de enfermidade. Sentido semelhante é visto em Mc.7 35; (3) Quebrar, desfazer (At.13.43), destruir (At.27.41); (4) Soltar, livrar da morte e do pecado (At.2.24; Ap.1.5) Em At.2.24 vemos que a ressurreição de Jesus rompeu os grilhões da morte, e em Ap.1.5 que o seus sangue nos libertou dos nossos pecados (cf.Ap.5.9; 7.14).

lytron:

NT: Mt. 20:28; Mc. 10:45; Lc. 24:21; Tt. 2:14; 1 Pe.1:18; LXX: Aparições como Verbo: Ex. 6:6; 13:13, 15; 15:13; 34:20; Lv. 19:20; 25:25, 30, 33, 48, 54; 27:13, 15, 19, 27, 31, 33; Nm. 18:15, 17; Dt. 7:8; 9:26; 13:6; 15:15; 21:8; 24:18; 2 Sm. 4:9; 7:23; 1 Re. 1:29; 1 Cr. 17:21; Ne. 1:10; Et. 4:17; Sl. 7:3; 24:22; 25:11; 30:6; 31:7; 33:23; 43:27; 48:8, 16; 54:19; 58:2; 68:19; 70:23; 71:14; 73:2; 76:16; 77:42; 102:4; 105:10; 106:2; 118:134, 154; 129:8; 135:24; 143:10; Pv. 23:11; Os. 7:13; 13:14; Mq. 4:10; 6:4; Sf. 3:15; Zc. 10:8; Is. 35:9; 41:14; 43:1, 14; 44:22ss; 51:11; 52:3; 62:12; 63:9; Jr. 15:21; 27:34; 38:11; Lm. 3:58; 5:8; Dn. 3:88; 4:27; 6:28; Apraições como substantivo: Ex. 21:30; 30:12; Lv. 19:20; 25:24, 26, 51; 27:31; Nm. 3:12, 46, 48, 51; 18:15; 35:31s; Pv. 6:35; 13:8; Is. 45:13; Apócrifos: 1 Macabeus. 4:11; As Odes de Salomão 1:13; Siraque. 48:20; 49:10; 50:24; 51:2; Salmos de Salomão 8:11, 30; 9:1; Adições a História de Daniel. 4:27

O termo tem grande significação na sua conceituação por sua imensa aparição na Versão Grega do Antigo Testamento, a Septuaginta (LXX). De fato, no Novo Testamento não faz mais que 5 manifestações sobre o termo[25], tanto na forma substantiva como verbal. A grande maioria das aparições de “lutron” são efetuadas na LXX, conforme podemos constatar acima. Nos livros apócrifos, que fazem parte da LXX, podemos notar o uso na forma verbal, o que evidencia que tipo de significado o termo carregava na época do seu uso. Um detalhe interessante é que apenas três vezes aparece no singular (Lv.27.31; Pv.6.35; 13.8), o resto está sempre no plural. Segundo o DITNT o sufixo tron traz a idéia de “instrumento ou meio mediante o qual se leva a efeito a ação do verbo, isto é, por meio da soltura, ou o pagamento[26].

Na Literatura Grega fora do NT, chamado Grego Clássico, encontramos comum uso de lytron em Platão, Xenofontes, Pindar e outros, com o sentido de “liberar alguém da miséria e da penalidade dos seus erros[27]“. Segundo Brown, o termo em pauta é utilizado fora da literatura bíblica desde o século V, as sua variante antilytron é apenas pós-bíblico. Os termos lytrosis e apolytrosis são raros e achados pela primeira vez no século primeiro. Contudo, a idéia de lytotes, redentor, não é encontrado fora da literatura bíblica. Portanto, notamos o valor do termo dentro da perspectiva teológica dos escritores neotestamentários e dos tradutores da LXX. Por certo tal termo tem significado importantíssimo para o conceito de redenção dentro da expectativa messiânica.

Na LXX[28] lytron traduz o termo hebraico kopper (cobir) em Ex.21.30; 30.12; Nm.31, 32; Pv.6.35; 13.8, com o sentido de oferta em troca por uma vida que está condenada ou está sujeita a castido divino. Traduz também alguns termos variantes de padâ (resgatar, redimir) como podemos observar em Nm.3.46-51. Em Lv.19.20 e Nm.18.35, onde vemos claramente o sentido da ação da redenção, bem como seu preço que deve ser pago aos primogênitos dos homens e dos animais que pertencem a Deus (sacrifício de um animal: Ex.13.13, 15; 34.20; pagamento em dinheiro: Ex.30. 13-16; Nm.18.15-16). Também traduz ga’al no caso do parente que tinha o direito e a obrigação de agir como redentor-parente (Lv.25.24, 26, 51-52). O sentido mais comum do termo pode ser percebido em Jr 32.7: “Eis que Hananel, filho de teu tio Salum, virá a ti, dizendo: Compra o meu campo que está em Anatote, pois a ti, a quem pertence o direito de resgate, compete comprá-lo” A princípio, o termo não tem aplicação religiosa, mas legal e civil.

No NT as declarações são mais claras e diretas, observe: “tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos[29]” (Mt.20.28; Mc.10.45; cf 1Tm.2.6[30]). A declaração de Jesus é feita em um contexto de liderança, quando Jesus apresenta o conceito de que veio para servir (cf. Lc.22.27). Aliás o foco é o serviço, mas Ele complemento com a expressão “dar sua vida em resgate de muitos”. Ao que tudo indica, parte de serviço de Cristo foi oferecer-se a Deus como pagamento efetivo da divida do homem perante Deus.

Neste texto vemos que o papel de Cristo em grego é desempenhado pelo vocábulo lytron, que seria um correspondente direto do grupo hebraico kipper. Assim concluímos que a morte de Cristo como resgate tem um aspecto propiciatório, bem como libertador. “Os muitos são livrados não somente da culpa, como também, ao mesmo tempo, das suas conseqüências, a morte e o julgamentos[31]“. Tal aspecto libertador acha paralelo na ocasião da Páscoa, em que o Povo de Deus foi liberto pelo sacrifício de um Cordeiro sem mácula. Assim, a conclusão levantada na Páscoa sobre o sacrifício ser anterior a liberdade, acha aqui seu ápice.

A pergunta feita por Cristo em Mc.8.37 (“Que daria um homem em troca de sua alma?”)parece ser satisfatoriamente respondida em Mc.10.45. Alias, é um contraste marcante com o texto apócrifo de Enoque 98.10: “E agora, sabei que fostes preparados para o dia da destruiição: portanto, ó pecadores, não tende esperança de viverdes, pois partireis e morrereis; pois não conheceis resgate algum; pois fostes preparados para o dia do grande julgamento, para a grande tribulação e grande vergonha para os vossos espíritos”.

A expectativa judaica para os pecadores, tal como ressaltado pelo texto de Enoque, é que sem resgate eles não tem outra alternativa. Por certo o argumento do texto apócrifo não expressa o reconhecimento de um Messias que redimiria o homem do seu débito com Deus, do seu pecado. É muito mais provável que esperassem no Messias um libertador, tal como Moiséis o fora. Observe que Estevão em seu discurso perante as autoridades judaicas apresenta a Moiséis como “chefe e libertador”(At.7.35). O termo que define Moisés como “libertador” é lytrotes, uma variante de lytron utilizada uma única vez em todo NT. Essa expectativa é vista em Simão, que segundo Lucas nos informa “esperava a consolação de Israel” (Lc.2.25) que em outras palavras significa esperava o Messias. A ele havia sido profetizado que morreria sem antes ter visto o Messias, e ao pegá-lo no colo, com oito dias de vida, ele declarou: “Agora Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra; por que meus olhos já viram a tua salvação[32]“(Lc.2.29-30). Fato semelhante acontece com Ana, uma profetiza vivua a oitenta e quatro anos que “falava a respeito do menino a todos que esperavam a redenção de Israel”(Lc.2.38). Há clara conexão entre as duas idéias aqui: Salvação e Redenção. O termo para salvação ainda será estudado (sotérios), mas redenção é exatamente lytrosis, outra variante de lytron. Ou seja, a expectativa judaica do Messias é que Ele seria o libertador, aquele que liberta (no sentido clássico de salvador), ou aquele que redimi seu povo. isso acompanhou o ministério terreno de Cristo, pois até mesmo após a sua morte tal expectativa ainda é encontrada. Isto é visto com os discípulos de Emaús, que em conversa com o próprio Cristo não o reconheceram e disseram: “O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que era varão profeta, poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo, e como os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam” (Lc.24.19-21). A idéia do texto é que o Messias fosse aquele que libertaria Israel. O termo utilizado para “redimir” é a forma verbal de lytron, lytroö. Portanto conclue-se que a Liberdade oferecida por Cristo está além das expectativas dos primários discípulos (At. 1 6) e de todo Israel, como vimos nos textos mencionados.

Assim, Cristo é aquele que resgata o homem perdido (Mt 20 28; cf. Lc. 19. 10), por meio de sua Morte em favor deles, obtendo assim nossa “eterna redenção” (Hb.9.12). A colocação de “eterna” junto a “lytrosis” atribui infalibilidade e infinitude a esse resgate. Dessa forma conclui-se que aquele que é resgatado por Cristo, para Eternidade é resgatado.

Entrementes, ainda temos que observar dois textos que são importantíssimos para a conceituação de lytron da perspectiva da conduta cristã. 1 Pe. 1 .18 diz: “sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” Pedro tem a clara visão de que o sangue de Cristo é o preço oferecido pela liberdade desfrutada pelos cristãos. Mas, segundo a perspectiva de Pedro, tal resgate diz respeito ao fútil procedimento do homem. Assim, Cristo se propõe não apenas a conceder a Redenção eterna para eternidade, mas para a presente vida do cristão, a ponto de que ele não precisa mais viver;como antes, pois foi resgatado de lá. Sentido semelhante é demonstrado por Paulo em Tt.2. 14: “o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras”. Portanto, conclui-se que Cristo não apenas efetuou pleno resgate no que diz respeito à nossa culpa perante Deus, mas Ele mesmo nos libertou do pecado e da Iniquidade, afim de nos purificar a ponto de sermos feitos um povo exclusivo Seu.

Com apolytrosis, podemos ver mais algumas colocações importantes para o conceito de redenção. Em Hb.9.12 vemos o conceito do sangue de Cristo como pagamento para redenção eterna. Em Ef 1.7 a idéia de Resgate, Libertação, Redenção é colocada lado a lado com a idéia de Remissão: “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” O Conceito de “no qual” é visto no verso anterior como “o Amado”, que é uma referência direta a Cristo. Assim, em Cristo temos a redenção, ou melhor, por meio do seu sangue temos a remissão dos pecados. Nesse texto temos a clara visão do pagamento efetivo da nossa divida a ponto de que nossos pecados são apagados, ou cancelados (cf. Rm.3.24; Cl.1.14; Hb.9.15).

Mas, ainda podemos encontrar um outro uso do termo apolytrosis, que é apenas visto em dois texto no NT. Em Rm.8.23 e Ef 1.14. Oserve: “E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso intimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8 23). O uso aqui dessa variante de lytron é claramente escatológica. Paulo em seu argumento no capítulo oito de Romanos deixa evidente sua expectativa sobre o futuro. Segundo Champlin, a redenção do corpo da perspectiva de Paulo, exige necessariamente a idéia, ainda que ausente neste trecho, a redenção, que é o cumprimento da adoção “Assim, pois, sob o titulo de ‘redenção do corpo: Paulo aponta, mais uma vez, para aquele exaltadíssimo conceito da glorificação em Cristo[33]“. Em contraste com as filosofias e ideologias não cristãs, que pregam a imortalidade da alma, até mesmo como o judaísmo pregou, o cristianismo apresenta com conceito além: A redenção do Corpo, ou, a Glorificação. Essa expectativa pode ser norteada pela experiência do próprio Senhor. Semelhantemente, Ef. 1 .14 nos diz: “qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (cf. Ef.4.30). O selo do ES no cristão é a garantia do resgate da propriedade de Deus. Ou seja, o cristão como propriedade particular de Deus, será aproximado junto a Ele no futuro, sendo que isso é garantido pelo selo do ES. Portanto, em linguagem claramente judaica, Paulo nos informa sobre o valor futuro da Redenção.

Em Sentido e Linguagem similar Lucas apresenta um discurso apocalíptico de Jesus, onde ele apresenta o conceito futuro da redenção: “exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima”. A idéia da proximidade da Redenção é introduzida pela expressão: “Então virá o Filho do Homem” em uma auto-referência. Assim, o estágio final dessa redenção levado a efeito em um futuro próximo, tal é nossa esperança e expectativa.



rýomai:

NT: Mt. 6:13; 27:43; Lc. 1:74; Rm. 7:24; 11:26; 15:31; 2 Co. 1:10; Cl. 1:13; 1Ts. 1:10; 2Ts. 3:2; 2Tm. 3:11; 4:17f; 2 Pt. 2:7, 9; LXX:Gn. 48:16; Ex. 2:17, 19; 5:23; 6:6; 12:27; 14:30; Js. 22:22, 31; Jz. 6:9; 8:34; 9:17; 11:26; 18:28; 2Sm. 12:7; 14:16; 19:10; 22:18, 44, 49; 2Re. 18:32f; 19:11; 23:18; Ed. 8:31; Ne. 9:28; Es. 4:8, 17; 10:3; Sl. 6:5; 7:2; 16:13; 17:1, 18, 20, 30, 44, 49; 21:5, 9, 21; 24:20; 30:2, 16; 32:19; 33:5, 8, 18, 20; 34:10; 36:40; 38:9; 39:14; 40:2; 42:1; 49:22; 50:16; 53:9; 55:14; 56:5; 58:3; 59:7; 68:15, 19; 70:2, 4, 11; 71:12; 78:9; 80:8; 81:4; 85:13; 88:49; 90:3, 14; 96:10; 105:43; 106:6, 20; 107:7; 108:22; 114:4; 118:170; 119:2; 123:7; 139:2; 141:7; 143:7, 11; Prov. 2:12; 6:31; 10:2; 11:6; 12:6; 13:17; 14:25; 22:23; 23:14; 24:11; Jo 5:20; 6:23; 22:30; 33:17, 30; Os. 13:14; Me. 4:10; 5:5; is. 1:17; 5:29; 25:4; 36:14f, 18; 37:12; 44:6; 47:4; 48:17, 20; 49:7, 25; 50:2; 51:10; 52:9; 54:5, 8; 59:20; 63:5, 16; Ez. 3:19, 21; 13:21, 23; 14:18, 20; 37:23; Dan. 3:88; 8:4, 7, 11; Apócrifos: Apócrifo de Julzes 8:34; 11:26; 1 Esdras. 8:60; Judite. 6:2; Tobias. 4:10; 12:9; 14:11; Tobias. 12:9; 1 Macabeus. 2:60; 5:17; 12:15; 16:2; 2 Macabeus. 8:14; 3 Macabeus. 2:12, 32; 5:8; 6:6, 10, 39; Odes 9:74; Sabedoria de Salomão. 2:18; 10:6, 9, 13, 15; 16:8; 19:9; Sir. 29:16; 40:24; Salmos de Salomão. 4:23; 12:1; 13:4; 17:45; Epistola de Jeremias. 1:35, 53; Adições a história de Daniel. 3:17, 88, 96; 6:28; 8:11; 11:45;

O verbete ryomai é um verbo defectivo médio, por isso a terminação mai, e apesar de sua grande aparição nos escritos bíblicos, especialmente na LXX, o termo ryomai não tem termos cognatos. O termo significa basicamente “socorrer”, “livrar”, “preservar”, “salvar”. Nesse sentido é um sinônimo de sozo, termo não estudo que significa basicamente “salvar” e dá origem aos termos soteria (Salvação) e soter (Salvador).

No Grego Clássico aparece apenas a partir de Homero com sentido básico de “livramento” ou Preservação”, executado normalmente pelos deuses. Na oração de Ajax ao “Pai Zeus”, ele pede que os livre dos acáios da noite escura (Ilíada, 17,645). Semelhante colocação foi feita por Aquiles a Enéias: “Somente Zeus e os demais deuses te salvaram’ (Ilíada, 20,194). Tal livremente não era efetuado apenas em situações de guerra, mas a qualquer perigo ou aflição, bem como a proteção de bens (Ilíada. 15., 257,290; Heródoto 1, 87 [livrar do mal]; 5,49; 9,76, 184; 6, 7; 7, 217). Fato interessante é que da perspectiva do pensamento politeomítico, alguns casos não poderiam ser salvos ou libertos (Ilíada, 15.141; Odisséia 12,107). Em outra forma encontrada na literatura grega secular, pode ser aplicada à ação humana, principalmente às autoridades. Os príncipes libertavam cidades e países (Ilíada 9, 396), mulheres e crianças (Ilíada 17,224), os póscritos (Sóf. OC 285). Também é aplicado a objetos inanimados, tais como muro, capacete, armadura.

Na LXX o termo em pauta traduz nasal no sentido de “libertar”, “livrar, e “salvar-se” (cerca de 90x). De forma interessante, também traduz ga’al em passagens de Isaías, e em especial o texto de Gn,48.16, com a idéia de redimir, comprar de volta, libertar. A correlação entre esses vocábulos nos levam a crer que a gama original de significados aplicados a ryomai é de fundamental importância para a Teologia da Redenção, emoldurar pelo estudo etimológico. Segundo o DITNT, W. Kash percebeu que o uso que a LXX faz do termo pode ser equiparado ao uso do Grego Clássico, principalmente no que refere-se a YHWH como libertador. Por outro lado, é impossível deixar de reconhecer o lada plenamente particular em que a LXX aplica o termo para conceitos explicitamente hebraicos. Assim, temos dois grandes grupos de uso de ryomai.

Em Salmos a ação de YHWH como libertador do aflito é facilmente observável. Os salmistas cantam sobre o livramento dos perseguidores (Sl.7.1), de vizinhos ímpios (Sl.33.4), de homens falsos e maldosos (Sl.42.1), da morte e da fome (Sl32. 19; 55. 13). do Sheol (Sl.85. 13) entre várias outras colocações. Contudo, um outro uso que deve ser observado é que em alguns momentos em especial o termo é aplicado a grandes atos salvíficos de Deus, tal como o Êxodo (Ex.6.6 14.30) e a povoação de Canaã (Jz.ó.9; 8.34) entre outros exemplos (2Re.18.32; Is.36.15; Mq.4.10 5.5; 2Sm.12.7; 22.18- 3Ma.ó.10). Neste ponto o uso equipara-se ao uso do grego clássico, o que ressalta o bom uso feito do termo dentro do seu campo semântico ma LXX.

Como vimos, além de plausível tal tradução em conformidade com o sentido exposto pelo grego clássico, temos que ressaltar o sentido mais judaico aplicado ao termo na tradução da LXX. O que significa retirar o sentido mais antropocêntrico do conceito secular para abordar um sentido mais teocêntrico, como expressa todo o VT ao referir-se à Obra de Deus. W. Kash observa que a libertação não é determinada pelo acaso, ou pelas leis vigoradas pelos deuses ou homens, mas “mediante a palavra criadora e sustentadora de Javé, para Quem a salvação do povo e do individuo faz parte da Sua ação criadora da história da salvação começada por Ele[34]“.

Nesse aspecto um texto merece nossa atenção: Acaso, os deuses das nações puderam livrar, cada um a sua terra, das mãos do rei da Assíria?” (2Re.18.33). A declaração feita por Rabsaqué em afronta a YHWH é a clara demonstração da perspectiva antropocêntrica do povo assírio. Ele equipara YHWH com outros deuses de outros povos, mostrando a supremacia da Assíria (v.34; cf. 19.11-13). Certamente era verdadeira a afirmação de que a Assíria tinha subjugado outras nações, mas um fato estava equivocado na perspectiva dos assírios: YHWH não é como os deuses dos outros povos, feitos por mão humanas, Ele é O SENHOR. Observe a oração de Ezequias: “Ó SENHOR, Deus de Israel, que estás entronizado acima dos querubins, tu somente és o Deus de todos os reinas da terra; tu fizeste os céus e a terra” (19.15). A realidade de YHWH como Soberano Deus está além da compreensão ordinária dos gentios, por isso não podem entender Seu Caráter “Libertador”: Agora, pois, Ó SENHOR, nosso Deus, livra-nos das suas mãos, para que todos os reinas da terra saibam que só tu és o SENHOR Deus” (v.19). A verdade sobre YHWH é exposta por Isaías da seguinte maneira: Mas tu és nosso Pai, ainda que Abraão não nos conhece, e Israel não nos reconhece; tu, ó SENHOR, és nosso Pai; nosso Redentor é o teu nome desde a antiguidade” (Is.63.16). Deus é o Libertador, o Redentor, Resgatador (cf.4:ó; 47:4; 48:17, 20; 49:7, 25; 50:2; 51:10; 52:9; 54:5, 8; 59:20; 63:5).

Em alguns textos vemos que a ação redentora de Deus é aplicada àquele que crêem positivamente na capacidade de YHWH de salvar. Observe Sl.21.4: Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste”; Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer” (v.8; cf. Sl.32.18-19; 33.7). YHWH é o que providência a salvação, a libertação do seu povo, e Ele ouve o clamor do justo e o livra de suas aflições (Sl.34.17); Ele livra os que o temem e confiam em sua misericórdia (Sl.33.18-19; Ez.14.20).

Portanto, diante das evidências acima lançadas, podemos notar que a consideração teocêntrica do judaísmo atribuiu uma nova perspectiva ao campo semântico do termo ryomai a ponto de ser aplicado condicionalmente ao homem, ao mesmo tempo que representa a ação do Soberano Senhor, que é poderoso para livrar seu povo (Dn.3.96 LXX- 3.29).

O termo ryomai aparece 15x em todo o NT, sendo que 7x refere-se a citações do VT, mas ele todos os casos Deus é o Libertador. Algumas vezes o termo é utilizado em situações de escárnio, tal como na crucifixão de Cristo, pois os zombadores entendiam os sofrimentos de Jesus e o não salvamento de Deus como prova absoluta da sua falsidade. Observe: Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus” (Mt.27.43; cf. Sl.21.9). De fato, Deus não o livrou da morte, como esperavam seus zombadores, mas de modo especial o livrou na ressurreição.

Um fato interessante é que o uso neotestamentário do termo em pauta não traz a idéia de Salvação, tal como entendida pelo conceito cristão. O termo que desempenha esse papel é “sozo”. ryomai ocupa-se com a verdade da libertação oferecida por Deus ao Seu povo. Observe a declaração de Jesus, na famosa oração do Pai nosso: te não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre” (Mt.6. 13). Nesse sentido apresentado pro Cristo, é impossível que seja aplicado a incrédulos. O que é apresentado é a idéia da ação continua de Deus em livrar os eleitos do mal moral. Ao homem não foi dada a plena capacidade, em sua própria condição natural, para resistir ou escapar do mal que o assedia. Dessa forma, em sua oração deve reconhecer sua insuficiência diante da tentação e pedir que Ele nos livre do mal. Nesse mesmo sentido, a obra de Deus em livrar é apresentada por Paulo aos corintos da seguinte forma: “Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos, o qual nos livrou e livrará de tão grande morte; em quem temos esperado que ainda continuará a livrar-nos”.

Uma única vez o termo faz referência a Obra de Deus na Salvação, conforme apresentada por Paulo em sua Epístola aos Colossensses: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl.1.13). De qualquer forma, a ênfase é sobre a libertação moral do homem, por que “Império das Trevas” ilustra a situação de pecado que o homem vivia antes da libertação efetuada por Deus, por meio de Jesus Cristo. Contudo, podemos nos lembrar de Rm.11.26 e 1Ts.1.10 como textos que expressão a expectativa escatológica do cristão.

agorázo:

NT: Mt.13:44, 46; 14:15; 21:12; 25:9f; 27:7; Mc. 6:36f; 11:15; 15:46; 16:1; Lc. 9:13; 14:18f; 17:28; 22:36; Jo. 4:8; 6:5; 13:29; 1Co. 6:20; 7:23, 30; 2Pt. 2:1; Ap. 3:18; ~:9; 13:17; 14:3f; 18:11; LXX: Gn. 41:57; 42:5, 7; 43:4, 22; 44:25; 47:14; Dt. 2:6; 1Cr. 21:24; 2Cr. 1:16; 34:11; Ne. 10:32; is. 24:2; 55:1; Je. 44:12; Apócrifos: Tobias. 1:13f; 1 Macabeus. 12:36; 13:49; Siraque. 20:12; 37:11; Baruque. 1:10; Eplstola de Jeremias.1 :24;

O termo agorazo tem significação estrita, sendo normalmente encontrado com o sentido de compra. José foi comprado (Gn.41.57), os filhos de Israel foram para o egito comprar mantimentos (Gn.42.5, 7; 43.4; 43.42). Normalmente essa é a idéia exposta pelo termo, conforme expresso na LXX (cf. Gn. 41 :57; 42:5, 7; 43:4, 22; 44:25; 47:14; Dt. 2:6; 1Cr. 21:24; 2Cr. 1:16; 34:11; Ne. 10:32; Is. 24:2; 55:1; Je. 44:12).

No NT esse uso parece majoritário (cf. Mt. 13:44, 46; 14:15; 21:12; 25:9f; 27:7; Mc. 6:36f; 11:15; 15:46; 16:1; Lc. 9:13; 14:18f; 17:28; 22:36; Jo. 4:8; 6:5; 13:29; Ap. 3:18). Entretanto, alguns texto merecem nossa atenção: “Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens” (1Co 7.23; cf. 6.20). A idéia é que estávamos vendidos a escravidão, mas Deus nos comprou para si. A idéia presente neste texto aponta para uma compra de alto valor. Assim, podemos concluir que essa compra implicou no pagamento de um preço alto (2Pe.2 1), que é o sangue do próprio Messias (Ap.5.9, 10) e deságua diretamente no serviço daquele que foi comprado em benefício do comprador (1 Co.6. 19, 20; 7.22, 23). Neste ponto ainda, é importante ressaltar um uso distinto do vocábulo em questão. Por vezes, encontra-se tal vocábulo precedido pela preposição “ex”, formando o vocábulo “exagorazo”. Em Gl 3.13 nota-se claramente a idéia de resgatar. Ou seja, o termo preposicionado por “ex” traz um sentido de ser comprado para nunca mais retornar à condição anterior a compra (Gl.3.13).

Conclusão
Diante das informações coletadas no estudo léxico dos termos envolvidos na conceituação de redenção, podemos concluir que:

(1) A doutrina da redenção mostrada pelo NT é um cumprimento completo da verdade mostrada em sombras no AT.

(2) Há um sentido em que o preço é pago, mas o escravo não é necessariamente liberto (que é o estado de todos por quem Cristo morreu que ainda não são salvos) e que, por uma realização mais profunda e abundante da redenção, o escravo pode ser solto e liberto (que é o estado de todos que são salvos).

(3) A relação dos não salvos com a verdade de que, pela sua morte, Cristo pagou o preço do resgate, é crer no que está declarado como verdadeiro.

(4) A relação dos salvos com a verdade de que, por sua morte, Cristo liberta, é reconhecer essa liberdade maravilhosa e, então, pela rendição de si mesmo, tornarem-se escravos voluntários do redentor, enquanto abandonam sua velha vida de pecado.

Em resumo, redenção refere-se ao ato da compra de algo que fora seu, readquirir algo que foi retirado temporariamente de seu poder. Pode ser empregado também como Liberdade, libertar, livrar, no sentido de redimir alguém que corria grave perigo. De certo, quanto a ação é aplicada a Deus, temos que admitir que trata-se de uma compra de algo que já for a completamente seu, o homem, pois sabemos que o homem é um pecador vendido e condenado. O texto de Isaías 52.3 nos diz: “Por nada fostes vendidos, e sem dinheiro sereis resgatados”. “Não é possível para qualquer homem, por seus próprios meios, redimir-se das tristes condições em que se encontra devido ao pecado; eis por que necessitamos de um parente remidor que seja mais que homem, que seja ao mesmo tempo divino e humanos[35]” (pp.14). Assim, podemos definir OBRA REDENTORA nas seguintes palavras:

Obra Redentora é um Plano estabelecido e executado historicamente por Deus em benefício do homem cujo ápice é Cristo e sua Aplicação é Eterna

Charles Hodge é que faz a seguinte observação: “As Escrituras falam de uma Economia de Redenção[36]“. A palavra Economia, utilizada em referência a Redenção, deriva da palavra grega “oikonomia” que significa administração, mordomia. A identificação dos dois conceitos nos leva a conclusão de que Deus administra historicamente a Redenção dos homens. Por esta razão é correto afirmar que existe um Plano da Salvação que deve ser anunciado. Doutra sorte, deve-se reconhecer que Deus é o Autor e Executor deste Plano. A redenção é iniciada e perfeita por Ele, pois a Ele pertence o poder para tal tarefa. Logo, Deus estabeleceu um Plano para a salvação do homem dentro da história do homem e vai levá-lo a cabo (Jo.42.2).

É das palavras de Jonas que devemos ter em mente ao levantarmos essa assunto: “Ao Senhor pertença a Salvação”. O termo salvação visto na oração feita por Jonas é yasha (heb) que tem sotérios (grego) que traz a clara idéia de libertação. A situação em que Jonas se encontrava não tinha o que podia fazer, senão reconhecer que a Salvação pertence ao senhor. Assim Ele não simplesmente inicia e termina como mantém.

Em todas as Obras de Deus nós podemos notar um plano pré-estabelecido, o que não poderia ser diferente para Obra Redentora. Ou seja, não se deve presumir que, no que diz respeito ao destino do homem tudo seja deixado ao acaso. E sobre isso a Escritura é clara, pois afirma que Deus não somente vê o fim desde o principio, mas que ele opera todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, ou com base nesse propósito (Ef.1.11). Assim, se o que acima foi dito é verdade é possível encontrar na história marcas desse plano e evidências reais que apontam para a consumação de um plano iniciado e perfeito por Deus. Dessa forma, vamos buscar essas evidências na história.

“Há luz suficiente para quem quer ver, e trevas suficientes para quem não quer ver[37]“

Dentro da progressão histórica do significado da salvação e da consecução da soberania de Deus em relação ao seu plano preestabelecido para salvação, o ponto mais alto, mais sublime e necessário é a Obra de Cristo. Por alguns teólogos a Obra de Cristo é considerada como um acidente na história, como se Deus fosse pego de surpresa por esse evento. Contudo, a história demonstra a progressão desse significado, de modo que, fica evidente que a Obra de Cristo a nosso favor é parte integral do Plano de Deus para a Salvação daqueles que fazem parte da Soberana e Amorosa Eleição Incondicional.

“Se ignorarmos o grande fim a que se dirige o plano da redenção, ou as relações das diferentes partes do plano, ou tivermos uma falsa concepção do fim e daquela relação, todas as nossas idéias serão confusas e errôneas. Seremos incapazes ou de exibi-lo a outros ou de aplicá-lo a nós mesmos[38]“.

Bibliografia:

STOTT, A Cruz de Cristo; HARRIS, GLEASON, BRUCE, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento; COENEN, BROWN, O Novo Dicionário do Novo Testamento de Teologia; GRENZ, GURETZKI, NORDLING, Dicionário de Teologia; DOUGLAS, O Novo Dicionário da Bíblia; IRONSIDE, Grandes Vovábulos do Evangelho; TENNEY, The Pictorial Encyclopedia oj the Bible; GIRDLESTONE, Synonyms of the Old Testament; BUTTLER, Holman Bible Dictionary; EASTON, Easton’s Bible Dictionary; ORR, Internacional Standard Bible Encyclopedia; FAUSSET, Fausset’s Bilbe Dictionary;  Léxicos: BDB Hebrew Lexicon;  Friberg Greek Lexicon; Louw-Nida Greek Lexicon; Lidell-Scot Greek Lexicon; Thayer’s Greek Lexicon

[1]STOTT, Jonh, A cruz de Cristo. pp.17

[2] A Ressureição é a confirmação divina da verdade exposta sobre o Cristo anunciado aos antigos (Is.53.10-11), a garantia da justificação (Rm.4.25) e da ressureição (1Co.15.20, 23) dos cristãos, da libertação do pecado (1Co.15.17), perfeição e imortalidade (1Co.15.53) entre diversas outras questões. Por isso não deve nem pode ser minimizada.

[3]IRONSIDE, H.A. Grandes Vocábulos do Evangelho. pp.17

[4]EASTON, M.G. Easton’s Bible Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[5]BUTTLER, Trent C Org. Hoiman Biblie Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[6]ORR, James Org. International Standard Bible Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[7]IRONSIDE, H.A. Grandes Vocábulos do Evangelho. pp.14

[8]Sobre colocações mais profundas e completas sobre o termo em pauta, ver Robert B. Girdlestone: Synonyms of the Old Testament, pp.117-120. Girdlestone, faz a aplicação do conceito de “ga’al” exposto no Velho Testamento no Novo Testamento, evidenciando os termos gregos envolvidos. Sua exposição é excelente.

[9]HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. pp.235

[10]Sobre Pv.23.10-11, é válido observar a tradução que a septuaginta oferece para “Por que seu Vingador é forte“: “hó gar lutrúmenos autos kúrios krataiós estin“. O uso de “kurios” associado com “lutrow” no presente do particípio médio, nominativo, masculino, singular, nos dá a clara identificação de Deus como Redentor-Parente Vingador.

[11]É comum entre os comentaristas que ga’al e padâ sem sinònimos, embora tenham suas particularidades. Observe o que o Willian Coker diz sobre o termo no DITAT:

“O emprego de padâ e seus derivados ocorre, às vezes, em paralelo com outras raizes. Deve-se destacar particularmente que ga’al é usado como sinônimo. As duas raízes dizem respeito à redenção mediante o pagamento de um resgate, embora seja sugerido que ga’alestá basicamente associado a sutações familiares e, dessa forma, dá a idéia da ação de um parente consanguínio. No entanto, o suo de padâ e de ga’al em paralelismos encontrados em Os.13.14 e Jeremias.31.11 e o seu emprego como sinônimos em Levíticos 27.27 exemplificam a sobre posição de idéias entre as duas palavras. Além disso, das 99 vezes que a LXX utiliza o verbo lutroo, em 45 vezes esse verbo está traduzino a raiz ga’al e em 43 a raiz padâ“

[12]HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. pp.1200

[13]Idem, pp.1201

[14]HARRIS, R. Laird, ARCHER, Gleason L. Jr., WALTKE, Bruce K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.  pp.743

[15]GIRDLESTONE, Robert B. Synonyms of  the Old Testament. pp.127

[16]CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistemática. Vol 3 pp.107.

[17]ORR, James Org. International Standard Bible Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[18]BUTTLER, Trent C Org. Hoiman Biblie Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[19]BUTTLER, Trent C Org. Hoiman Biblie Dictionary. Parsons Tecnology Inc.

[20]TENNEY, Merril C. The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Biblei. Vol.5, pp 49.

[21]IRONSIDE, Grandes Vocábulos do Evangelho. pp.14

[22]BROWN, Colin, Dicionário Internacional do Novo Testamneto. Vol. 4, pp.80

[23]DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. Vol.3, pp.1373

[24] Muita discussão tem sido feita sobre o conceito apresentado neste texto. Como vimos anteriormente, é certo que o texto faça referência ao remidor partente de Jó, embora tenha grande significância sobre a Obra Redentora efetuada por Cristo. Como já foi afirmado, é mais coeso crer que Jó faça menção a Deus como seu Remidor (cf. 16.19). Um detalhe que não pode passar desapercebido aqui é a continuação do texto: “Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus”. Jó parece esperar ver a Deus em sua carne, ou seja, em sua vida, o que seria uma infração de Ex.33.20, 23. Outro detalhe é que segundo a História de Jó, ele foi Vindicado por Deus no cap. 41, mas não chegou a ver a Deus literalmente. Portanto, pode-se concluir que ele vislumbra uma vida ressurreta. Assim, fica mais evidente o link entre esse texto e a expectativa messiânica posteriormente elaborada.

[25] Na forma não preposicionada. Existem outras variantes do termo encontradas em todo o NT, como anfflytron, Iytroo, lytrosis e apolytrosis.

[26] BROWN, Colin, Dicionário internacional do Novo Testamneto. Vol. 4, pp.93

[27] Thayer’s Greek Lexicon, BibleWorks Software Inc.

[28] Um detalhe importante é que a LXX diluiu o sentido de lytron ao adotar o termo anchisteus (lit. parente, cf. Rt.3.9, 12; 4.1, 3, 6, 8) e o verbo anchisteuo (ser o parente próximo, agir como parente próximo, fazer o dever de parente próximo, cf. Rt.2.20; 3.13; 4.4, 6-7). A idéia de redenção ainda é exposta pelos termos Hebraicos, embora o mesmo seja absorvido pelas expressões gregas na LXX.

[29] Ponto importante deste texto é que o resgate é aplicado a “muitos”. Tal colocação tem produzido intenso debate. Rudolff Bultmann acredita que tal colocação seja produto da Igreja Primitiva elaborada a partir de um pronunciamento feito pelo Cristo ressurreto. Entretanto, tal teoria não tem como ser provada, a não ser pelas colocações do próprio texto. Ainda seguindo essa vertente ideológica, W. Bousset acredita que a expressão seria influência do cristianismo helenístico. Outros, como J Jeremias e E. Lohse, acreditam em um fundo histórico palestiniano. Tal argumento pode ser melhor demonstrado, por duas razões: (1) O uso da expressão “Filho do Homem” (Dn.7.13); e (2) pela forma de expressão claramente semítica “muitos” (heb. Rabbtm). O segundo ponto seria claramente uma identificação com o Servo Sofredor: “foi contado entre os transgressores, contudo, levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu”. Aqui vemos um fundo histórico judaico claramente evidenciado. Segundo W.L. Lane, “muitos”, “é um termo técnico para a comunidade eleita, o povo escatológico de Deus”. Seguindo semelhante raciocínio, Brown afirma que “Mc. 10. 45 parece combinar a redenção substitutiva do único em prol dos muitos com a idéia de que os muitos são a comunidade eleita”. Deve ter em mente que tal colocação não contradiz 1Tm.2.ó, mas a restringe. Segundo a Teologia Sistemátic aCristã Reformada, a oferta de Cristo pelo pecado é suficiente para todos os homens, como Paulo nos mostra em 1Tm.2.ó, mas é aplicada somente aos eleitos, como Cristo enfatiza em Mc.10.45 e Mt 20.28.

Entretanto, a Teologia Bíblica e Exegética pode oferecer uma colocação muito mais plausível.. Observe que o vocábulo “todos” é utilizado várias vezes dentro do contexto do capítulo. João Calvino, ao comentar 1Tm.2.4, faz a seguinte colocação: “Que seria mais razoável do que todas as nossas orações se conformarem a este decreto divino?”. A oração é que tem grande foco aqui no argumento de Paulo, pois ela deve ser feita em favor de todos os homens, dos reis e de todos que se acham investidos de autoridade. Dessa forma, Paulo demonstra que dentro desse “todos os homens” incluem-se as autoridades responsáveis pela perseguição dos cristãos. Dessa forma, insurge a idéia de que a expressão totalitária de Paulo esta mais ligada a não acepção de pessoas da parte dos cristãos, inclusive em suas orações, como alinhada ao desejo do próprio Deus. “Pois se o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, então é justo que todos aqueles a quem o evangelho é proclamado sejam convidados a nutrir a esperança da vida enterna” (CALVINO, João, As Pastorais. pp.59-60). Nem mesmo João Calvino se detem a tratar da eficácia da oferta de Cristo, visto não ser o foco da discussão aqui. Mas, o que se pode dizer é que a Salvação oferecida por Cristo é indiscriminada, ou seja, atinge todas as nações, etnias, camadas sociais, pois Deus oferece o evangelho sem acepção de pessoas (Rm.2.11). Essa conclusão é evidente a partir da descrição de reis e autoridades, feitas anteriormente. Com esse contexto em mente, vemos que o resgate oferecido por Cristo, como anunciado por Paulo em 1Tm.2.6 está em conformidade com os textos de Mc e Mt. A diferença é que Paulo evidencia a não acepção de Deus para com o homem. Assim, qualquer homem pode ser alvo da salvação oferecida por Deus.

[30] Em 1Tm.2.6, Paulo faz uso de antilytron, termo que não é encontrado na LXX, e em nenhum outro lugar no NT o que provavelmente é um neologismo criado por Paulo para enfatizar o caráter da redenção. Tanto Mateus como Marcos utilizam a preposição anti após o termo lytron conceituando uma “resgate para”. A colocação de Paulo é agrupar ambos sentidos em um só termo para expressar um resgate que foi levado a efeito. Alias, muitos comentaristas tem visto no termo uma indicação de “substituição”, como sugere Charles Caldwell Ryrie em sua obra Teologia Básica (pp.332-335). D Gunthrie acredita que “o acréscimo de preposição anti, ‘em lugar de’ é significante, tendo em vista a preposição hyper,’em prol de’ que se emprega depois dela. Pensa-se em Cristo como o ‘preço de troca’ em prol de todos e no lugar deles, por motivo do qual se concede a liberdade” (The Pastoral Ephistles, IN: BROWN, Collin, Dicionário Internacional do Novo Testamento. Vol. 4, pp.100; grifo do autor)

[31] BROWN, Colin, Dicionário Internacional do Novo Testamneto. Vol. 4, pp.80

[32] O termo grego para salvação ainda será estudado, mas como percebe-se pelo contexto, tanto ele quanto a profetiza Ana tem a mesma expectativa em relação ao futuro do menino.

[33] CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Comentado Versrculo por Versículo. Vol.3, pp.720.

[34] KASH, W. Theological Dictionary of New Testament, Vol.VI, pp.1000 IN: BROWN, Colin, Dicionário Internacional do Novo Testamento. Vol. 4, pp.105

[35] IRONSIDE, H.A. Os grandes vocábulos do Evangelho. pp.14

[36] HODGE, Charles, Teologia Sistemática, pp.717

[37] PASCAL, Blaise, Pensamentos.

[38] HODGE, Charles, Teologia Sistemática, pp.718

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