terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Eleição não é fatalista nem mecanista.


Extraído do livro: Teologia Sistemática. Atual e exaustiva – Wayne Grudem. Ed. Vida Nova.

Às vezes aqueles que fazem objeções à doutrina da eleição dizem que ela é “fatalista” ou que apresenta um “sistema mecanista” do universo. Duas objeções relativamente diferente estão envolvidas aqui. Por “fatalismo” entende-se um sistemas no qual as escolhas e decisões humanas não fazem diferença alguma. No fatalismo, não importa o que façamos, as coisas continuarão seguindo seu curso previamente determinado. Portanto, é inútil tentar influenciar o resultado dos eventos ou o resultado de nossa vida esforçando-nos ou fazendo algumas escolhas importantes, porque, seja como for, não farão diferença alguma. No verdadeiro sistema fatalista, naturalmente, nossa humanidade é destruída porque nossas escolhas realmente nada significam, e nossa motivação em direção aos princípios morais é eliminada.

Em um sistema mecanista o quadro pintado é de um universo impessoal, no qual todas as coisas que acontecem foram inexoravelmente determinada por uma força impessoal há muito tempo, e o universo funciona de um modo tão mecânico que os seres humanos estão mais para máquinas ou robôs do que para pessoas de verdade. Nesse sistema, também, a genuína personalidade humana estaria reduzida ao nível de uma máquina que simplesmente funciona em harmonia com planos predeterminado e em resposta a causa e influencias igualmente predeterminadas.

Em contraste com o quadro mecanicista, o Novo Testamento apresenta a realização da nossa salvação como algo efetuado por um Deus pessoal numa comunhão pessoal com suas criaturas. Deus “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,segundo o beneplácito de sua vontade” (Ef 1.5). O ato da eleição da parte de Deus não foi nem impessoal nem mecanista, mas permeado com amor pessoal por aqueles a quem ele escolheu. Além disso, o cuidado pessoal de Deus por suas criaturas, mesmo aquelas que se rebelam contra ele, é visto claramente no apelo de Deus através de Ezequiel: “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva. Convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de morrer, ó casa de Israel?” (Ez 33.11).

Ao falar sobre nossa resposta à oferta do evangelho, as Escrituras nos veem não como criaturas mecanicista ou robôs, mas como pessoas genuínas, criaturas pessoais que fazem escolhas volitivas no sentido de aceitar ou rejeitar o evangelho. Jesus convida a cada um:“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). E também lemos o convite no fim de Apocalipse: “O Espirito e a noiva dizem vem: Vem"! Aqueles que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17). Esse convite e muitos outros semelhantes são endereçados a pessoas genuínas capazes de ouvir o convite e de responder a ele por meio de uma decisão volitiva. Com respeito àqueles que não o aceitarão, Jesus claramente enfatiza a dureza dos seus corações e sua recusa obstinada em vir a ele [ sublinhado e itálico acrescentado]:

“Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida (Jo 5.40). [O Senhor Jesus diz que àqueles que não crê nEle, é porque não são de suas ovelhas: Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; (João 10:26-27)]. Jesus, também, lamenta de tristeza por causa da cidade que o rejeitou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23.37).
Em contraste com a ideia de fatalismo, percebemos um quadro muito diferente no Novo Testamento. Nós não apenas fazemos conscientemente nossas escolhas como pessoas reais, mas as próprias escolhas são também escolhas reais, porque afetam o curso dos eventos no mundo. Elas afetam tanto nossa própria vida quanto o destino dos outros. Assim,“quem nele crê não é julgado; o que não crê está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3.18). Nossa decisão pessoal de crer ou não em Cristo tem consequências eternas em nossa vida, e as Escrituras são absolutamente unânimes ao falar sobre nossa decisão de crer ou não como o fator que decide nosso destino eterno.

A implicação derivada disso é que certamente temos de pregar o evangelho, porque o destino eterno das pessoas depende do fato de proclamarmos ou não o evangelho. Portanto, quando certa noite o Senhor falou a Paulo: “Não temas, pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9-10), Paulo não concluiu simplesmente que o “muito povo” que pertencia a Deus seria salvo, quer ele ficasse lá, pregando o evangelho, quer não. Antes, “permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.11) – isso foi muito mais tempo do que Paulo permaneceu em qualquer outra cidade, exceto Éfeso, durante suas três viagens missionárias. Quando foi dito a Paulo que Deus tinhas muitas pessoas eleitas em Corinto, ele permaneceu um longo tempo e pregou, a fim de que aquelas pessoas eleitas pudessem ser salvas! Paulo é bem claro com relação ao fato de que a menos que se pregue o evangelho outros não serão salvos:
Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? […] Assim,a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.14,17).

Será que Paulo sabia antes de entrar na cidade quem era o eleito por Deus para a salvação e quem não era? Não, ele não sabia. Isso é algo que Deus não nos mostra antes do tempo. Mas uma vez que as pessoas exercem fé em Cristo, então podemos estar confiantes de que Deus as tinha escolhidos para a salvação há muito tempo. Essa é exatamente a conclusão de Paulo com relação aos tessalonicenses; ele diz que sabe que Deus os escolhera porque quando pregava a eles, o evangelho chegou em poder e em plena convicção: “Reconhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição, porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavras, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.4-5).

 Longe de dizer que o que quer que fizesse não faria a menor diferença, já que os eleitos de Deus seriam salvos de qualquer maneira, quer ele pregasse quer não, Paulo suportou uma vida de incrível sofrimento a fim de levar o evangelho àqueles a quem Deus escolhera. No fim de uma vida cheia de sofrimento ele disse: “Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória” (2 Tm 2.10).

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