Assumir que Deus é um Deus Criador, exige de nós alguns reconhecimentos: (1) que Deus é livre para exercer sua vontade de criar; (2) que é poderoso para exercer poder suficiente para criar; (3) que é anterior e superiror a Sua criação; (4) que Sua criação é posterior e inferior a Si mesmo; (5) se Ele é o Deus criador Ele é o criador de todas as coisas; (6) e que fez o que fez para evidenciar sua Glória.
Tendo considerado isso, devemos admitir que O Deus apresentado pelas escrituras é sobremodo nobre e grande, pois é aquele que da inexistência trouxe o Universo. Por isso, definir a criação é de alguma forma também definir a Deus. Portanto, entendo que a Obra da Criação é a fruto da livre da ação do Deus trino em exercer seu poder em trazer à existência tudo o que existe do nada para louvor da sua Glória.
A. Triunidade de Deus
As escrituras são claras quando falam sobre a Criação e demonstram por fato que Deus Pai é ativo na criação: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn.1.1); “Assim diz o Senhor, teu Redentor, e que te formou desde o ventre: Eu sou o Senhor que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus, e espraiei a terra” (Is.44.24). O Deus criador é uma grande ênfase na revelação, até por que, esse reconhecimento estabelece por fato a superioridade de Yahweh aos outros deuses: Enquanto os deuses eram criados pela atividade criativa e desesperada do seres humanos (Is.44.14-17), Yahweh é o Supremo Criador dos seres humanos: “Porque todos os deuses dos povos são ídolos; mas o Senhor fez os céus” (Sl.96.5); “Os deuses que não fizeram os céus e a terra, esses perecerão da terra e de debaixo dos céus. Ele fez a terra pelo seu poder; ele estabeleceu o mundo por sua sabedoria e com a sua inteligência estendeu os céus” (Jr.10.11-12).
É evidente nas escrituras que o Deus Pai seja o protagonista na obra da criação, mas é fundamental demonstrar que essa obra é também claramente reconhecida como obra do Filho e do Espírito Santo. O Novo Testamento é claro em demonstrar que Jesus Cristo é ativo na criação: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3); “porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Cl.1.16); “nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo” (Hb.1.2).
As escrituras também apontam para a Obra do Espírito Santo na criação: “A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas” (Gn.1.2). Alguns tem visto nessa afirmação apenas uma declarção de um poder ou atividade do próprio Deus, como se o Espírito de Deus fosse uma manifestação do próprio Deus. Entretanto, é importante reconhecer a terminologia empregada por Moisés aqui. O uso da expressão hebraica “ruach elohim” em outros lugares no Velho Testamento parecem sugerir que o autor fala de uma pessoa e não uma qualidade, especialmente por desempenhar funções que são atribuídas claramente ao Espírito Santo no Novo Testamento. Em Gn.41.38 o “ruach elohim” é apresentado como aquele que estava em José em sagacidade e sabedoria. Em Ex.31.3 (cf. Ex.35.31) vemos o Senhor (YHWH) dizer a Moiséis que havia enchido Bezaleel com o “ruach elohim”. Certamente aqui, como no caso anterior, significa uma unção especial, uma comunicação especial de qualidades, que nesse caso se refere à sabedoria, conhecimento para exercer funções artísiticas na construção do Tabernáculo. É interessante notar que no Novo Testamento o Espírito Santo seja o responsável por conduzir os cristão ao desempenho do serviço a Deus em situações de dificuldades (At.2.4; 4.31; 6.3). Em 2Cr.24.20 (cf. Nm.24.2; 1Sm.10.10; 19.20; 2Cr.15.1) vemos o “ruach elohim” ser usado para levar a Palavra de Deus. Essa manifestação especial de Deus para demonstrar sua palavra é claramente atribuida a ação do Espírito Santo no Novo Testamento: “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pe.1.21); “Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos bem desejam atentar” (1Pe.1.12).
Outro detalhe que parece reforçar essa sugestão é o uso neotestamentário da palavra grega “pneuma” para descrever o Espírito Santo. O termo hebraico “ruach” também significa ar, respiração, vento como o termo neotestamentário “pneuma”. A equivalência desses dois termos nos faz pensar que os autores neotestamentários tinham razões léxicas e escrituristicas para preferirem o termo grego que usaram para descrever o “ruach elohim”. É interessante notar que a LXX trouxe a declaração, para Gn.1.2, como o “pneuma Theou” (o Espírito de Deus).
Assim sendo, é possível perceber outras ocasiões em que o “ruach” (pneuma; Espírito) é apresentado como criador: “Pelo seu Espírito clareou os céus e a sua mão traspassou a serpente fugitiva” (Jo.26.13): “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida” (Jo.33.4); “Quem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu numa medida o pó da terra e pesou os montes com pesos e os outeiros em balanças, Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro o ensinou?” (Is.40.12).
Tendo admitido que a Trindade estava ativa na criação é importante lembrar que Filho e Espírito Santo não poderes manifestos de Deus, ou agentes intermdiários, mas participantes ativos com o Pai na Obra da Criação. Portanto, podemos dizer que a Criação é uma Obra do Pai, por meio do Filho com o Espírito Santo.
B. Liberdade de Deus
Eventualmente a criação é apresentada como um ato de necessidade de Deus, como se dependesse da criação para ser Soberano Deus, ou para acalentar sua solidão cósmica. Em outras palavras, afirmar que o Deus das escrituras não era nem estava completo antes da criação, e por isso cria para poder se relacionar. Portanto, essa necessidade relacional do criador seria o motivo pelo qual o Deus teria iniciado o processo criativo.
Contudo, as escrituras não apresentam Deus desse modo. As escrituras afirmam que desde a eternidade passada Deus já estava em um relacionamento de com Cristo. Observe as palavras de Cristo: “Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo.17.5). Nesse texto é evidente que o Filho já estava com o Pai antes da existência do mundo em um estado exaltado. Isso é importante ser ressaltado como evidência da não solidão cósmica do Criador. Ao contrário, desde a Eternidade passada Deus é Trino em sua Existência e Completo como Deus Soberano. As escrituras também afirmam que Deus, Cristo e o próprio Deus coexistiam em um relacionamento de amor desde a eternidade passada: “Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo” (Jo.17.24). De fato, as escrituras apresentam com clarividência que Deus desde a eternidade passada coexistia de modo trino e, portanto, a criação não poderia ser considerada com um ato de necessidade de Deus perante sua suposta solidão.
Existe ainda a necessidade que se demonstre que o Espírito Santo estivesse antes da fundação do mundo. E sobre isso é válido lembrar que o autor de Hebreus o denomina “Espírito Eterno” em 9.14. assim, pode-se conconrdar com a premissa que era necessário que a Triunidade de Deus fosse antes mesmo da criação.
A idéia de que Deus tem vida em si mesmo (Jo.5.26) também nos auxilia a compreender a não necessidade de Deus em criar: Ele é indenpendente da criação e não tem nela sua expressão de necessidade. Assim, ele independe do universo criado e é assim apresentado: como Soberano Criador que no exercício de Seu Poder e Liberdade (Rm.9.21) trouxe à existência todas as coisas. Ele é aquele que de nada necessita, mas a tudo traz a existência: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At.17.24-25).
Então, que dizer da razão pela qual Deus teria feito o universo? As escrituras respondem essa pergunta por afirmar que a declarada vontade do Criador assim o quis: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Ap.4.11). A humanidade nada lhe acrescenta a existência (Jo.22.2), do mesmo modo que nem todo universo pode tornar Deus mais Deus ou mais exaltado do que Ele mesmo o é. Contudo, por decreto de sua livre vontade Deus traz a existência tudo o que existe para que o propósito de sua Graça fosse exercido Soberanamente em sua Criação: “havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef.1.11).
C. O Poder de Deus e a Criação Ex-nihilo
As Escrituras iniciam com uma declaração interessante: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn.1.1). O verbo hebraico utilizado nesta sentença mosaica é bara’. Alguns teólogos afirmam que a utilização deste vocábulo implique diretamente na utilização de matéria preexistente para a criação, em função das demais utilizações do verbo no contexto (cf.Gn.2.7; Sl.51.10). O verbo aparece em três ocasiões: (1) para denotar a criação do universo, (2) para a criação dos grandes monstros e (3) para a criação do homem. O que pode-se concluir, seguindo esse raciocínio, é que Deus remoldou matéria preexistente para criar o universo, os grandes animais e o homem.
Porém, a utilização do verbo hebraico, por si só, não indica a utilização de matéria preexistente (cf.Is.65.18). Aliás, parece muito sensato observar que o verbo é apenas utilizado no Qal e aplicado exclusivamente às atividades criativas de Deus e sempre desacompanhada de uma referência a um material preexistente. Ou seja, o verbo bara’ (criar, formar) não pode sustentar a idéia de que Deus tenha se utilizado de material preexistente para criar o universo.
Ainda, faz-se necessário demonstrar que a utilização dos verbo hebraico é intercambiável nas escrituras. Outros verbos além de bara’ são utilizados para expressar a idéia da criação, como asah (Gn.2.4) a respeito da criação dos céus e terra e yatzar (cf.Is.45.18). Com relação ao homem, em Gn.1.27 encontramos o bara’, mas em 1.26 e 9.6 encontramos asah e em 2.7 yatzar. Mas alguns textos são ainda mais interessantes, como Is.43.7 que utiliza as três formas de uma só vez: “…a todos os que são chamados pelo meu nome, e os que criei para minha glória, e que formei, e fiz”.
Criar, formar e fazer correspondem respectivamente aos vocábulos hebraicos bara’, yatzar e asah. Outro exemplo interessante é que em Is.45.12 lemos que Deus asah a terra e bara’ o homem, mas em Gn.1.1 Deus bara’ a terra e em 9.6 asah o homem. Em Is.44.2 utiliza-se asah e yatzar em relação ao homem, e Gn.1.27 utiliza bara’. Em Gn.5.2 lemos que Deus criou o homem, “homem e mulher os bara’”, mas em 2.22 lemos que “da costela ele asah uma mulher”.
Ou seja, fundamentar uma teoria da preexistencia da matéria, ou da eternidade desta, e que Deus apenas moldou sua forma baseado na literatura bíblica e a utilização de seus vocábulos é inconsistente.
A fim de que se confirme a veracidade bíblica da criação a partir do nada, é necessário trazer à tona que a criação marco o início das atividades temporais. Ou seja, “a criação divina é fixado como começo absoluto, não como obra realizada em algo que já existia”.
Outro fator que deve ser relembrado a favor da criação ex-nihilo (a partir do nada) é que no versículo dois a terra estava em uma situação rudimentar, mas ainda é chamada de Terra. As duas palavras hebraicas, tohû e bôhû, dão idéia de que a terra está mais que vazia e sem forma, como encontrado na tradução ARA, mas de absolutamente sem forma e vazia, ou em um estado de vacuidade como sugere o BDB Lexicon. Embora essa situação parece caótica, é a situação do mundo em sua forma elementar.
É digno de nota, ainda, que a própria cultura hebraica com todas as suas tradições, ensinos e literatura pareciam ser mergulhadas na idéia de uma Criação da parte de Deus, a partir do nada. Esse fato pode ser testemunhado pelas expressões encontradas nos livros hebraicos considerados apócrifos, como por exemplo o livro de Macabeus. Em 2Mac.7.28 encontramos a seguinte afirmação sobre os céus e a terra: “por que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o homem foi feito da mesma forma”. Esta sentença é apresentada da seguinte maneira para o latin: “quia ex nihilo fecit illa Deus et hominum genus”. Nesta citação é que encontra-se a expressão “do nada” para a criação de Deus. Por mais que o livro em si não seja fonte mais confiável de informações é observável que a cultura hebraica, impulsionada por seus escritos, tradições e informações, não duvidava de maneira nenhuma da criação de Deus a partir do nada, ou como sugere a Vulgata, ex nihilo.
As escriturasm também testemunha que o Universo veio a existir por meio da palavra de Deus: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca (…) Pois ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu” (Sl.33.6, 9). Todas as coisas foram feitas por Deus: “Senhor, tu que fizeste o céu, a terra, o mar, e tudo o que neles há” (At.4.24); “Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu” (Is.45.18).
Mas, a fim de que a discução possa ser exterminada, no que diz respeito as referências bíblicas da criação, é mister ressaltar o versículo de Hebreus 11.3, que assevera: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. O fato ressaltado pelo autor de Hebreus é que o mundo não foi feito da matéria perceptível aos sentidos ou preexistente, mas pelo ato direto da onipotência de Deus. Vale, ainda, ressaltar que o verbo utilizado para exprimir “veio a existir” é “ginomai”. A tradução mais literal traria a seguinte forma: “veio a ser”. Isso implica em afirmar que o Universo não era até a intervenção de Deus, mas veio a ser o que é por meio da ação criativa do Deus Trino.
D. A Eternidade de Deus e a Temporalidade do Universo
Como já foi demonstrado, o universo veio a ser por meio a ação criativa de Deus, e portanto, podemo concluir que Deus é anterior e superior a Sua Criação. Logo, Deus é eterno e o universo temporal. As escrituras favorecem essa conclusão com forte clareza, observe: “… desde o princípio do mundo que Deus criou” (Mc.13.19). Aqui podemos perceber a limitação temporária do mundo, pois refere-se ao seu princípio. Ora, quem tem princípio não desfruta de um estado de eterna exisência ou ausência de limitações temporais. Se o universo, como criação, teve um princípio, certamente é limitado pelo tempo, e está cronologicamente fadado ao tempo.
Assim, não se pode afirmar que Deus, para a criação do mundo, utilizou-se matéria preexistente, ou eterna, pois é marcado um início para a existência de sua criação. O Velho Testamento também parece corroborar com essa idéia, observe as seguintes orações: “...antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim , de eternidade a eternidade tú és Deus” (Sl.90.2); “O Senhor me possuía [sabedoria] no início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes do começo da terra” (Pr.8.22, 23). Podemos observar claramente que Deus, que é eterno, estava presente antes do começo da terra, e até mesmo Sua Sabedoria é demonstrada como anterior à existência da terra.
Outro detalhe, não menor que os anteriores, é que a origem do universo é atriuida a Deus. Em Ef.3.9 lemos: “Deus, que tudo criou”; Em Jo.1.3: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele”, “através de que também fez os mundos” (Hb.1.2). Portanto, a Deus é anterior e superior a Sua Criação.
E. O Objetivo de Deus
Em tudo o que faz, Deus demonstra seu supremo propósito: A sua própria Glória. Isso é evidenciado claramente nas escrituras: “nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça” (Ef.1.5, 6); “com o fim de sermos para o louvor da sua glória, nós, os que antes havíamos esperado em Cristo” (Ef.1.12); “para redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória” (Ef.1.14); “E todos os do teu povo serão justos; para sempre herdarão a terra; serão renovos por mim plantados, obra das minhas mãos, para que eu seja glorificado” (Is.60.21). Não é à toda que as Escrituras dizem que tudo que é e foi feito, para Sua Glória o é: “Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém” (Rm.11.36).
Isso não poderia ser diferente sobre a criação: “todo aquele que é chamado pelo meu nome, e que criei para minha glória, e que formei e fiz” (Is.43.7); “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Ap.4.11).
F. A Relação entre Criação e Redenção
Para algumas pessoas a queda do ser humano, a entrada do pecado na Criação de alguma forma frustraram os planos de Deus para sua criação. Depois de todo trabalho exercido em benefício de suas Criaturas, o pecado insurge como uma barreira ao propósito de Deus. É como se essas pessoas dissessem: Deus, como mal planejador que é, não foi capaz de inibir a entrada do pecado. Em uma única colocação ignoram a onisciência e onipotência de Deus.
De fato, as escrituras não nos ensinam assim. Aliás, é digno de nota que algumas declarações bíblicas nos levam a compreender que quando Deus se propos a criar ele se propos a redimir. Uma dessas ocasiões é quando João diz que a morte de Cristo era conhecida desde a fundação do mundo: “E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap.13.8). A expressão grega “apó kataboles kosmou” sugere que, desde que há mundo, o Cordeiro foi morto.
É possível que algumas pessoas tomem isso de modo equivocado, e por isso é necessário que se compreenda aqui que, a morte de Cristo aconteceu como Decreto Divino na fundação do mundo, e não como ato. Àquele que tem o tempo como indivisívil em presente contínuo, seus decretos são enunciados antes de serem executados. Essa percepção é claramente observada nas seguintes palavras de Pedro: “mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo, o qual, na verdade, foi conhecido ainda antes da fundação do mundo, mas manifesto no fim dos tempos por amor de vós” (1P2.1.19-20). A morte de Cristo, como Decreto, já estava determinada desde a eternidade passada, contudo foi manifesta no tempo em uma ocasião oportunida: plenitude dos tempos, por ocasião da Vontade Soberana de Deus.
As escrituras são claras em apresentar a morte de Cristo como um decreto eterno de Deus, e sobre isso não há qualquer dúvida: “Porque, na verdade, o Filho do homem vai segundo o que esta determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!” (Lc.22.22); “Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos” (At.2.22-23). Ou seja, mesmo antes de existir o Universo, o Plano Redentor já estava estabelecido, por Soberana Graça do Criador.
Mas, é importante demonstrar que tal Decreto não inclui apenas a Cristo como Redentor, mas também a aplicação eficiente de Sua Morte para os eleitos de Deus, pois da mesma forma que Cristo é apresentado como morto antes da fundação do mundo, os cristãos são apresentados pelas escrituras como eleitos antes da fundação do mundo: “como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele” (Ef.1.4).
Alguém poderia objetar por dizer que tal eleição é destinada à santidade e não à salvação. De fato, é essa mesmo a declaração do texto, mas gostaria de saber como alguém poderia ser eleito à santidade sem ser salvo. Outra dúvida que acompanharia essa afirmação seria: então Deus escolheu dentre os cristãos uns para serem santos enquanto outros o farão por suas forças ou serão excluídos dessa bem-aventurança? Isso certamente não é verdadeiro, até por que, na mesma carta, Paulo se refere a seus leitores como “santos que vivem em Éfeso”, contrariando tal declaração.
Mas, diante do todo as escrituras, temos consciência que a Eleição é para salvação: “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts.5.9); “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade, e para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts.2.13).
Assim, diante de tal informação das escrituras, podemos compreender que, quando Deus se propos a criar Ele se propos a Redimir. Portanto, Criar e Redimir são duas facetas de uma mesma Obra de Deus e sua auto-revelação assim nos ensina.
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