Referência: Mateus 5.6
INTRODUÇÃO
1. O evangelho de Mateus apresenta Jesus como Rei. O sermão do monte é a plataforma do Reino. Ele não descreve a vida do mundo, mas a vida daqueles que fazem parte do Reino.
2. Somente uma pessoa que é humilde de espírito e reconhece os seus próprios pecados e chora por eles e se submete à soberania de Deus, pode ter fome e sede de justiça.
3. Falaremos sobre esse apetite pelo alimento do céu.
I. QUE TIPO DE ALIMENTO DEVEMOS TER APETITE?
A fome espiritual é uma das características do povo de Deus. A ambição suprema do povo de Deus não é material, mas espiritual. Os cristãos aspiram as coisas mais excelentes. Eles buscam em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça.
Thomas Watson, puritano inglês do século XVII, disse que Jesus está falando aqui da justiça imputada e da justiça implantada. John Stott, maior exegeta do século XX, diz que a justiça bíblica tem três aspectos: legal, moral e social.
A justiça legal trata da nossa justificação, um relacionamento certo com Deus. A justiça moral trata da conduta que agrada a Deus, a justiça interior, de coração de mente e de motivações. A justiça social refere-se à busca pela libertação do homem de toda opressão, junto com a promoção dos direitos civis, de justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da honra no lar e nos relacionamentos familiares.
1. Devemos ter apetite pela justiça imputada, ou seja, justiça diante de Deus
Aquele que reconhece que é pecador, e que como pecador é injusto, e portanto, está condenado junto ao trono do Deus todo-poderoso, esse tem fome e sede de justiça. Esse deseja ser justo, ele deseja ter sua iniquidade perdoada. Esse busca a salvação.
Mas como um homem pode ser justo diante de Deus? Ele jamais estará satisfeito até que creia que Jesus foi feito por Deus nossa sabedoria, justificação, santificação e redenção (1 Co 1:30). Ele jamais estará satisfeito até que compreenda que Cristo morreu em seu lugar, em seu favor, levando sobre o seu corpo os seus pecados, encravando na cruz a sua dívida, e comprando na cruz a sua eterna redenção.
Cristo é a nossa justiça. O mais fraco dos crentes que crê em Cristo tem tanto da justiça de Cristo como o mais forte dos santos. Em Cristo somos completos e perfeitos. Cristo é a fonte da vida. Não precisamos das cistenas rotas. Quem nele crê tem uma fonte e rios de água viva. Essa justiça de Cristo é gratuita. O pão da vida é de graça. A água da vida é de graça (Is 55:1; Ap 22:17).
2. Devemos ter apetite pela justiça implantada, ou seja, uma vida nova com Deus
Não é suficiente saber que os nossos pecados estão perdoados, pois temos ainda uma fonte de pecado dentro do nosso coração e águas amargas fluem constantemente dessa fonte. Quem tem fome e sede de justiça deseja ardentemente ser transformado. Jesus disse: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” (Mt 5:20).
Quem tem fome e sede de justiça aspira as coisas do céu, ama a santidade, tem prazer nas coisas de Deus, deleita-se em Deus, ama a lei de Deus. Sua aspiração mais elevada não é ajuntar tesouros na terra, mas no céu. Seu prazer não está nos banquetes do mundo, mas nas manjares do céu. Ele tem sede de santidade. Ele tem uma nova mente, um novo coração, um novo nome, uma nova vida. Seu coração está no céu. Seu tesouro está no céu. Seu lar está no céu. Sua pátria está no céu.
Quem tem fome e sede de justiça deseja ardentemente ter mente pura, coração puro, vida pura. Anela subjugar o orgulho e ter vida certa com Deus e com os homens. Quem tem fome e sede de justiça quer sempre mais. Ele está satisfeito, mas nunca saciado. Ele ama, mas quer amar mais. Ele ora, mas quer orar mais. Ele estuda a Palavra, mas quer estudar mais. Ele obedece, mas quer obedecer mais.
3. Devemos ter apetite pela justiça promovida
Quem tem fome e sede de justiça não se conforma com a injustiça – Ele abomina o mal, ele ataca a corrupção, ele declara guerra contra toda de esquema opressor. Ele luta pela justiça social. Ele exige justiça nos tribunais, ele defende o direito do fraco, a causa dos oprimidos.
Quem tem fome e sede de justiça luta por uma sociedade onde não haja fraude, falso testemunho, perjúrio, roubo e lascívia. Ele deseja que o justo governe. Ele deseja que toda guerra cesse. Ele deseja que leis justas sejam estabelecidas. Sua oração contínua é: “Senhor, venha o teu reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu.” Ele deseja justiça diante de Deus, justiça para si e entre os homens.
Aqueles que têm fome e sede de justiça lutaram pelas grandes causas sociais: 1) O cristianismo defendeu o direito das mulheres e das crianças; 2) John Weley combateu a escravidão; 3) William Wilberforce lutou pela abolição da Escravatura na Inglaterra; 4) Martin Luther King lutou contra o preconceito racial.
II. QUE TIPO DE APETITE DEVEMOS TER PELO ALIMENTO?
1. Consideremos alguns problemas graves ligados ao apetite
a) Os mortos não têm apetite – Uma pessoa morta não tem fome. Não há restaurantes nos cemitérios. Assim, também, uma pessoa sem vida espiritual nunca vai ter fome das coisas de Deus. As coisas de Deus não atraem uma pessoa morta espiritualmente. Ela tem fome do pecado e não do pão do céu. Ela tem fome das coisas do mundo e não dos banquetes de Deus. Se você não tem fome de Deus é porque possivelmente você ainda está morto espiritualmente. A fome é o primeiro sinal de que uma pessoa está viva. Assim como uma criança ao nascer deseja o leite materno, uma pessoa ao nascer de novo, deseja ardentemente o genuíno leite espiritual. Se você tem fome e sede de justiça é porque você recebeu vida em Cristo. Mas se você está cheio com a sua própria justiça. Se está satisfeito com a sua própria vida então não há sinal de vida espiritual em você.
b) A falta de apetite é uma doença – Muitas pessoas que nasceram de novo estão doentes espiritualmente e perderam o apetite pelas coisas do céu. Pessoas doentes têm mais sono do que apetite. São como Pedro no Getsêmani, dormem em vez de orar. Também, perderam o apetite pela leitura da bíblica. Perderam o apetite pela oração. Perderam o entusiasmo de estar na Casa de Deus. Estão fracas na fé. Aqueles que se consideram cheios jamais serão saciados. “Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos” (Lc 1:53). Quando as pessoas recusam o alimento é porque não estão com fome. Quando elas fazem pouco caso do evangelho é porque estão cheias de si mesmas. Jesus tinha apetite pelas coisas do Pai. Ele disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4:34). Quem tem fome de Deus deleita-se na Palavra de Deus. Ela é mais doce do que o mel e o destilar dos favos (Sl 19:10). Jeremias disse: “Achadas as tuas palavras, logo as comi” (Jr 15:16). Mas apenas ouvir a Palavra sem colocá-la em prática é sinal de doença (Ez 33:32; Tg 1:22-25). Outros preferem recreação ao alimento.
c) A inanição é evidência de alimentação escassa – Quando as pessoas não recebem alimento suficiente para atender suas necessidades elas ficam fracas e não se desenvolvem. Há muitos crentes sofrendo inanição espiritual porque estão ingerindo muito pouco alimento. Estão recebendo apenas uma refeição por semana. Em casa não lêem a Bíblia. Não frequentam os cultos semanais. Não frequentam as reuniões de oração. Por isso estão fracas na fé. Por isso ficam expostas a toda sorte de doenças oportunistas.
d) Muitas doenças são provocadas por alimentação inadequada – A saúde começa pela boca. Ninguém pode ter boa saúde se tem uma péssima alimentação. Não há nada mais nocivo à saúde do que ingerir um alimento estragado ou venenoso. No tempo do profeta Eliseu, os discípulos dos profetas não puderam comer porque havia morte na panela. Hoje muitos crentes estão doentes porque há morte na panela. Há morte nos púlpitos. Há morte nas salas de Escola Dominical. Há morte nos livros! As pessoas estão desejando as bênçãos de Deus e não o Deus das bênçãos. Elas querem prosperidade e cura e não santidade. Elas querem sucesso e não piedade.
Elas têm sede dos aplausos dos homens e não fome da glória de Deus. O jovem rico foi a Jesus, mas ele tinha fome de salvação e também de riqueza. Muitos vão a Jesus, mas têm fome de salvação e dos prazeres do mundo; fome de salvação e também de riquezas; fome de Jesus e do pecado. Esses são despedidos vazios! Há pessoas que têm fome de mamom e não de maná. São como Acabe que se deprimem por não terem a propriedade que pertence a Nabote. Há outros que têm fome de vingança. Outros fome e sede de satisfazer seus desejos impuros. Aqueles que têm fome do pecado serão saciados por Satanás e perecerão de fome e sede para sempre.
e) A desnutrição produz raquitismo – Uma pessoa que não recebe alimento saudável e suficiente pode sofrer de raquitismo. Não há desenvolvimento. Um crente que não se alimenta de forma correta das coisas de Deus torna-se raquítico espiritualmente. Assim como uma pessoa deve evitar ingerir aquilo que tira o apetite, devemos também rejeitar tudo aquilo que tira o nosso apetite de Deus.
2. Consideremos as características do apetite
a) O apetite é um desejo real – Não podemos fazer de conta que ele não existe. A fome e a sede são as necessidades mais essenciais da vida. Ninguém sobrevive sem pão e sem água. Assim, também, ninguém pode pertencer ao reino sem ter fome de justiça. O maior anelo de um crente é ser perdoado, é ser vestido com a justiça de Cristo. Seu maior desejo é ser santo, puro e glorificar a Deus. Antes tínhamos fome de pecar; agora temos fome para não pecar. Quem tem apetite enfrenta qualquer dificuldade para saciar a sua fome. Ele se deleita na comida. Há algumas diferenças entre o apetite verdadeiro pelas coisas de Deus e o apetite hipócrita: 1) O hipócrita não deseja Deus, mas apenas as bênçãos de Deus – É como Balaão, ele quer morrer a morte dos justos, mas não viver a vida dos justos (Nm 23:10).
2) O apetite do hipócrita é condicional – Ele quer Jesus e os seus pecados; ele quer Jesus e as riquezas; ele quer Jesus e a cobiça; ele quer Jesus e o mundo. 3) Os desejos do hipócrita são fora de tempo – As cinco virgens loucas, desejam entrar nas bodas tarde demais. Elas queriam as bodas, mas não se prepararam.
b) O apetite é um desejo constante – Comemos pão hoje e temos fome de novo amanhã. Assim também é com respeito às coisas espirituais. Temos fome de Deus e somos saciados. Mas queremos mais. Queremos mais do seu amor, da sua graça, do seu poder. Somos como Moisés. Ele conheceu a Deus na sarça. Ele conheceu os milagres de Deus no Egito. Ele viu o poder de Deus arrancando o povo do Egito, abrindo o mar vermelho, dando água no deserto e fazendo chover pão do céu. Ele viu o dedo de Deus escrever a lei em tábuas de pedra. Mas ele queria mais de Deus. Ele clamou: “Senhor, mostra-me a tua glória!” Esta fome e esta sede continuam e aumentam no simples fato de saciá-la. Quanto mais você se alimenta de Deus, mais você tem fome de Deus. Davi disse: “Minha alma tem sede do Deus vivo” (Sl 42:2). Isaías diz: “Com minha alma suspiro de noite por ti e, com o meu espírito dento de mim, eu te procuro diligentemente…” (Is 26:9).
c) O apetite é um desejo intenso – O que pode ser mais intenso do que a fome e a sede. Essa é a necessidade mais básica e mais urgente da vida. Não basta ter fome, é preciso estar morrendo de fome. Enquanto o filho pródigo estava com fome foi buscar as alfarroba dos porcos, mas quando estava morrendo de fome, busca a casa do Pai. Victor Frankl narra sua dolorosa experiência no campo de concentração nazista. Ele disse que o principal assunto dos prisioneiros era sobre comida. Eles faziam sacrifícios tremendo apenas para ter uma concha de sopa. Houve um tempo em Samaria que se vendia uma cabeça de jumento por um preço de ouro.
Na Coréia do Norte já se chegou a comer defuntos. A fome provoca uma dor insuportável. Oh, que Deus nos mande uma fome assim de justiça. Que possamos clamar como Paulo: “Miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24). Que o desejo de ter uma vida certa com Deus seja desesperadora em nosso coração. Oh, que possamos ter fome de Deus como Davi: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42:2); “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água” (Sl 63:1). “A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper da manhã” (Sl 130:6). Aquele que tem fome de Cristo é o que diz: “Dá a Jesus senão eu morro”.
d) O apetite é um desejo insubstituível – Se uma pessoa está desesperadamente faminta não adianta você oferecer a ela entretenimento, uma boa música, ou colocar talheres de prata sobre a mesa ou enfeites bonitos. Nada substitui o pão e a água. Assim, também, nada substitui Deus. Nada substitui a salvação em Cristo. As oferendas do mundo não podem satisfazer um coração sedento de Deus. Salomão buscou saciar a sua sede nos prazeres do álcool, nas riquezas, no sexo e na fama e descobriu que tudo era vaidade. Jesus fala da bem-aventurança daquele que tem fome e sede não de dezenas de coisas, mas daquele que é específico no seu apetite: feliz é o que tem fome e sede de justiça. Hoje as pessoas querem Jesus e a riqueza, Jesus e o sucesso, Jesus e as glórias do mundo. Mas, feliz é o que tem fome de justiça!
III. QUE BÊNÇÃOS SÃO DESTINADAS AOS QUE TÊM APETITE PELAS COISAS DO CÉU?
1. Ele é saciado com uma bênção singular
Quando uma pessoa tem apetite de pão, ele come pão, mas volta a ter a mesma fome de pão. Quando ela deseja beber, ela bebe, mas volta a ter a mesma sede. Muitas pessoas têm fome de bens materiais, mas ninguém pode satisfazer sua alma com bens materiais. O mais rico dos homens não conseguiu ser tão rico como gostaria de ter sido. Os homens têm tentado satisfazer seus corações com as possessões do mundo: eles compram casas e mais casas, carros e mais carros, fazendas e mais fazendas, cidades e mais cidades, até terem a sensação de que são os únicos donos da terra, mas ninguém conseguiu satisfazer a sua alma com coisas da terra. Alexandre, o grande conquistou o mundo todo da época e morreu chorando por não ter mais terra para conquistar. Deus colocou a eternidade no coração do homem e coisas não preenchem esse vazio.
Jesus chamou de louco o homem que pensou que poderia alimentar a sua alma com bens materiais. Somente aqueles que saciam suas almas com o pão do céu são verdadeiramente saciados: Jesus disse: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6:35). Só Jesus satisfaz. Só a justiça de Deus satisfaz a alma!
2. Ele é saciado com uma bênção apropriada
Uma pode só pode ser saciada com alimento. Assim, também, aqueles que têm fome e sede de justiça serão fartos de justiça. Eles desejam justiça e terão justiça. Eles desejam Deus e terão Deus. Eles desejam um novo coração e terão um novo coração. Eles desejam ser guardados do pecado e serão guardados do pecado. Eles desejam ser perfeitos e serão aperfeiçoados. Eles desejam viver onde o pecado não entrará e eles serão arrebatadas para morar no céu, onde o pecado jamais entrará.
3. Ele é saciado com uma bênção abundante
O que Cristo promete não é apenas uma refeição imediata ou provisória, mas uma satisfação completa e eterna. Aquele que tem fome e sede de justiça será farto agora, aqui, na terra e também no céu. Jesus disse: “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede, pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Ninguém jamais será satisfeito sem que antes esteja faminto e sedento!
A provisão de Deus é abundante. Não apenas nossos pecados são perdoados. Somos justificados. Somos feitos filhos de Deus. Somos feitos herdeiros de Deus. Tornamo-nos co-participantes da natureza de Deus. Cristo passa habitar em nós, como nossa esperança da glória. O Espírito passa habitar em nós e tornamo-nos santuários da sua habitação. Seremos guardados por ele para sempre. Então, Receberemos uma herança incorruptível. Teremos um corpo glorioso. Celebraremos seu nome para sempre nas mansões celestes.
CONCLUSÃO
Se você não tiver fome e sede de Deus agora, você terá fome e sede tarde demais. Agora você pode ser saciado, mas então jamais o será. O homem rico morreu e foi para o inferno e em tormento, clamou por uma gota de água e até isso lhe foi negado (Lc 16:24). Aquele que não tiver fome e sede de justiça agora, vai ter sede de misericórdia na eternidade, mas será tarde demais. Aquele que não tiver fome e sede de justiça agora, sofrerá fome e sede para sempre sem jamais ser saciado.
A calor aumenta a sede. Quando as pessoas estiverem queimando no inferno sob o fogo da ira de Deus, esse calor irá aumentar a sua sede por misericórdia, mas nada haverá para saciar essa sede.
Mas se você tiver fome e sede de justiça agora, você será feliz agora e eternamente. Você será satisfeito agora e eternamente. “Bem-aventurado os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”
Fonte: Hernandes Dias Lopes
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