“Nada de Grande existe na terra a não ser o homem; nada há de grande no homem a não ser sua mente”
Sir William Hamilton
“Que obra prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como a sua faculdade é infinita! Em forma de movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência como se parece com um Deus”
Shakespeare
“O homem é maior que o universo; o universo pode esmagá-lo, mas não sabe que está esmagando um ser humano”
Blaise Pascal
“Nem uma excelente alma está isenta de um misto de loucura”
Aristóteles
“Não existe grande gênio sem uma tinta de loucura”
Sêneca
“Homo mortalis deus”
Cícero
Ao tratar do homem como criação de Deus, pode-se chegar a conclusões como essa: Existe uma dignidade latente no homem. Existe algo de realmente grandioso no homem. Mas deve-se ressaltar que isso é apenas perceptível no homem original. Não podemos elevar o homem às alturas, pelo fato de que hoje não está na mesma condição, está destituído de Deus, alheio à Sua Vida. É como um belo pássaro livre gravemente machucado, tem asas mas não pode voar.
Devemos ter uma concepção clara do que é o homem original, quais suas qualidades essenciais, sua postura, suas características pessoais e espirituais. Temos que abordar o homem original como peça única de toda uma criação, visto que após ele apenas sobraram apenas resquícios da criação original.
A abordagem sobre a condição original do homem é intimamente ligada ao fato de que o Homem é criado a Imagem de Deus. Essa definição merece atenção pelo fato de que historicamente diferentes abordagens foram realizadas gerando grandes conflitos teológicos. É possível notar três grandes abordagens sobre o assunto: Protestante, Católica e Racional.
A abordagem Protestante afirma que o homem foi criado por Deus em um estado de justiça e santidade. A Católica afirmar que o homem foi criado, mas que sua justiça original lhe foi acrescida, por isso veio a cair. A última abordagem formada por, pelagianos, soncinianos e arminianos afirma que o homem foi criado em um ambiente de neutralidade moral, mas completamente dotado de livre-arbítrio, de modo que pudesse seguir para essa ou aquela direção (“o homem determina sua própria condição moral“). Entretanto, de acordo com os relatos bíblicos podemos notar que dois aspectos sintetizam a condição original do homem: Semelhança natural e moral com Deus. O que se pode afirmar, por ora, é:
“O estado original do homem deve (1) contrastar-se com o pecado; (2) ser um paralelo com o estado de restauração[1]“
A. Semelhança natural com Deus
Semelhança natural está ligada ao fato da pessoalidade do homem. Segundo STRONG, “pessoalidade é o duplo poder de conhecer a si mesmo relacionado com o mundo e com Deus e determinar o eu com vistas aos fins morais” (pp.89).
Pessoalidade = Auto-conhecimento + Auto-determinação.
O homem, mesmo sendo criado à imagem de Deus, não é a representação exata de Deus. O homem possui características derivadas do próprio Deus, que dão a ele a dignidade de ser um ser humano. Sem tais características, o homem não pode ser humano. Mesmo a insanidade não reduz o homem a uma condição animal, nem mesmo a uma categoria subumana, mas obscurece essa Imagem em que o homem foi criado.
Não há dúvidas que o fato do homem ser criado segundo a Imagem de Deus implica que até mesmo os aspectos mais naturais do homem derivem de Dele. Ou seja, as faculdades intelectuais, sentimentos naturais, liberdade moral e a volição, no homem são reflexos do que Deus é em primeiro lugar.
Por ser criado à Imagem de Deus o homem dispõe de uma capacidade moral e racional. Essas capacidades asseguram a condição de homem ao ser humano, e é impossível que participe dessa condição sem a presença dessas dádivas. Ou seja, embora o homem hoje esteja em um estado de pecado, não perdeu completamente essas características, mas é impossível que elas sejam exatamente como foram outrora.
Portanto, é importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a capacidade moral e intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é válido demonstrar que mesmo após a queda o homem é apresentado como sendo imagem de Deus (Gn.9.6; 1Co.11.7; Tg.3.9). Segue-se que é impossível afirmar que o homem perdeu totalmente a Imagem de Deus, da mesma forma que é impossível afirmar que ela seja identicamente a mesma.
A imagem de Deus no homem, mesmo hoje, ainda aufere a tal uma dignidade que ninguém pode retirar dele. Pode notar tal afirmação no exemplo abaixo:
“Robert Burns, andando com um nobre em Edimburgo, encontrou um velho conterrâneo de Ayr e parou para conversar com ele. O nobre ficou esperando com crescente importunação, e, depois, repreendeu Burns por conversar com um homem de péssimo paletó. Burns respondeu: ‘Eu não estava conversando com o paletó; eu estava conversando com o homem”.
Contudo, é necessário que se afirme que apenas Cristo é a Imagem de Deus de maneira completa. Isso é observado em Hb.1.3, que afirma que Cristo é a “expressão exata do ser de Deus”. Em Cl.1.15 fala que Cristo é a Imagem do Deus invisível. Assim, Cristo é de forma absoluta a Imagem de Deus.
B. Semelhança moral com Deus
Como é de conhecimento geral, Deus é santo por definição. Para que Deus possa ser Deus, é necessário que Ele usufrua de Santidade Absoluta. Se o homem é criado à Imagem de um Deus Absolutamente Santo, é óbvio que este desfrute da santidade de Deus. Entretanto, o homem original é o reflexo finito deste atributo moral de Deus, que lhe foi comunicado.
Em Eclesiastes, Salomão faz um reconhecimento muito verdadeiro. Segundo seu entendimento Deus fez o homem “reto” (Ec.7.29). A palavra usada por Salomão, traduzido por reto, denota que Deus fez o homem “upright” em todos os seus caminhos, ações, modo de vida, intenções do coração, mente e vontade.
Essa percepção inibe a possibilidade de que se afirme que o homem tenha sido criado inocente. A inocência é apenas possível àqueles que tendo não tendo consciência sobre algum ato malévolo e não se encontre culpado diante dele. O homem original era plenamente consciente sobre suas obras. Ele não era uma criança que não tem conhecimento da maldade que pode realizar, e não pode compreender plenamente suas capacidades morais, a ponto de descobrir que pode fazer mal uso delas. O homem original é marcado pelo pleno conhecimento:
“Não mintais uns aos outros,, uma vez que vos despistes do velho homem com seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3.10)
O texto citado utiliza o verbo “refazer”, que pode ser traduzido como “renovar”. Ambas palavras reportam ao fato de que o novo homem é feito novamente ou renovado. Assim, pode-se afirmar que na regeneração o homem retoma progressivamente a característica original do homem criado a Imagem de Deus. Se isso é verdadeiro, como é bem demonstrado como tal, o homem original desfrutava de uma condição de CONHECIMENTO PLENO.
Se o homem original é marcado por um conhecimento pleno, não é possível que sofra da deficiência exigida por aqueles que afirmam sua inocência. É impossível que o homem deixe de conhecer ou compreender perfeitamente sua condição moral. Logo, não é ingênuo, é SANTO.
O Novo Testamento testemunha esse fato. Em Efésios, Paulo faz semelhante afirmação:
“…e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef.4.24)[2]
Neste texto acontece mesmo fenômeno que acontece em Cl.3.10, pois se nota que na salvação o homem retorna a uma posição que perdeu com a entrada do pecado. Se isto é verdadeiro, o homem original vivia plenamente em justiça e retidão. Retidão é exatamente a mesma palavra utilizada em Lc.1.75, quando Zacarias afirma que Deus os libertou para que pudessem adorar sem temor e em “santidade”. É certo que a palavra em questão, em sua literalidade, significa santidade. Se isto é verdadeiro, a conclusão correta é que a Condição do Homem Original é de Santidade (Retidão) e Justiça.
Portanto, “a criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição original do homem era de santidade positiva, e não um estado de inocência ou de neutralidade moral[3]“.
[1] PHILLIPPPI, Glaubenslehre In: STRONG, Augustus Hopkins, Teologia Sistemática. Vol. II, pp. 87.
[2] Deve-se ressaltar que a palavra retidão, originalmente carrega a idéia de santidade, e que segundo a tradução KJV pode-se ler: “verdadeira santidade“. Entretanto, o termo referente a verdade é um Genitivo de Origem, ou seja, justiça e santidade procedem da verdade, como ficou bem demonstrada pela tradução ARA.
[3] BERKHOF, Louis, pp. 189
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