sábado, 10 de novembro de 2012

Era Judas Iscariotes Salvo?



Judas Iscariotes
(Ish Karioth – Homem de Queriote)
Informações sobre sua vida
  • Judas deixou tudo para se tornar discípulo de Cristo (Mt.19.27; Mt.10.1-4; Mc.3.13-19; Lc.6.12-16)
    • Isso implica que ele teve acesso aos mesmos privilégios e aprendizados que todos os outros discípulos:
      • Judas recebeu autoridade da parte de Cristo sobre espíritos imundos, para expulsá-los e para curar toda sorte de doença (Mt.10.1; Mc.3.15);
      • Judas foi chamado para ser enviado a pregar[1] (Mc.3.14)
    • Isso significa que ele foi separado dentre uma multidão que seguia a Cristo para ser considerado seu discípulo/apóstolo:
      • O ato de selecionar Judas da parte de Cristo foi antecedido por uma noite de oração (Lc.6.12)
      • A seleção aconteceu entre vários dos discípulos de Cristo. Judas foi pessoalmente selecionado por Cristo dentre várias possibilidades (Lc.6.13)
      • Judas foi denominado por Cristo como apóstolo[2]. O termo apóstolo po de significar “enviado” e “contém em si um elemento de autoridade concedida e reconhecida por aquele que envia[3]“
    • Isso não significa que essa seleção não tenha em si o pré-conhecimento de Cristo e sua predeterminação para a função a que ele desempenharia
      • Jesus escolheu 12 entre os discípulos, mas reconheceu que um era o diabo (Jo.6.70-71). Essa afirmação não é necessariamente definitiva para a não salvação de Judas, pois Jesus teria feito algo muito semelhante a Pedro (Mt.16.22-23; Mc.8.32-33)
      • Judas traiu sob influencia e domínio do Diabo (Lc.22.3-6; Jo.13.2)
  • Judas andou por três anos lado a lado com Jesus, e teve a oportunidade de ouvir ensinamentos que outros seguidores Dele não puderam ouvir (Mc.4.34; Mt.13.36ss; ).
  • Judas foi testemunha ocular dos sinais e milagres realizado por Cristo (Mt.8.23-27; Mt.9.18-26; Mt.15.32ss; etc.).
  • Judas foi selecionado como administrador dos recursos que sustentavam a Jesus e seus discípulos durante o ministério de Jesus. (Jo.12.1-6). Também foi considerado como ladrão.
  • Judas foi contado entre os apóstolos e parte do ministério deles realizado com Cristo (At.1.16)
  • Judas foi o responsável pela entrega de Cristo à morte
    • A entrega de Cristo envolveu suborno[4] (Mt.26.14-16; Mc.14.10-11; Lc.22.4-6)
    • Judas estava debaixo da influência do Diabo na execução dessa traição (Lc.22.3-6; Jo.13.2)
    • Debaixo do conhecimento do que haveria de sofrer, Jesus recomenda que Judas faça o que tem que fazer depressa (Jo.13.27). Isso assegura que a ação de Judas estava debaixo do conhecimento de Cristo e predeterminação de Deus (At.2.22-23)
Judas e o dilema do Mal
  1. Judas foi escolhido para ser o traidor?
  2. Se foi escolhido com esse propósito, ele não realizou a vontade de Deus? Isso não o torna melhor que os outros discípulos, que além de não se envolverem no processo (à exceção de Pedro) o abandonaram?
  3. Mas, Judas estava sob domínio e posse do Diabo. Isso significa que isso aconteceu debaixo da permissão e decreto de Deus. Como Deus pode usar o mal sem tornar-se culpado por ele?
  4. Qual é a diferença entre o que fez Judas e Pedro?
  5. Judas pode ter estar na Eternidade com Deus no futuro? Por quê?
Tabela de possibilidade de Salvação de Judas
Argumentos a Favor
Réplica
1. Judas foi selecionado por Cristo para ser discípulo e apóstolo.
  • a. Mt.10.1, Mc.3.13: parakaleomai – também usado para referir-se a atividade seletiva de Deus (At.2.39 – salvífico; At.13.2; 16.10 – ministerial);
  • b. Lc.6.13: eklegomai – termo também usado para designar os eleitos ou a eleição (Mc.13.20; Lc.9.35; Jo.15.16, 19; At.13.17; 15.7; 1Co.1.27-28; Ef.1.4)
A seleção de Judas não implica em que tenha sido chamado à salvação. O chamado de Judas pode evidenciar a pretrição salvífica.§   Ele poderia ter sido enquadrado como aquele que foi “parakaleomai” (chamado), mas não “eklegomai” (escolhido) (Mt.22.14). §   É também possível que Judas tenha sido escolhido por Cristo para ser o traidor (Jo.6.70-71; 13.18).
2. Judas exerceu funções ministeriais como os outros discípulos e apóstolos, debaixo da autoridade e autorização de Cristo:
  • a. Mt.10.1: Ele recebeu de Cristo a autoridade sobre espíritos imundos e para curar doenças (Mc.3.15)
  • b. Mc.3.14: Ele foi selecionado para estar com Cristo pessoalmente e foi comissionado por Ele para pregar. (kerusso)
  • c. Mt.10.7: Nas instruções da pequena comissão, Jesus, ele recomendou que pregassem a mensagem do Reino dos Céus.
Jesus teria ensinado que nem todos que exerceram funções ministeriais são de fato salvos.Funções ministeriais nunca definiram a salvação:
  • § Ninguém é salvo por elas (Ef.2.8-9)
  • § Realizá-las não é necessariamente evidência da salvação (Mt.7.21-23).
3. As definições ministeriais de Judas, também são definições do trabalho desempenhado por Cristo:
  • a. Mt.4.23: A proclamação (kerusso) nesse caso é atribuído ao Evangelho do Reino. O texto também fala sobre um ministério de sinais e milagres (Mt.9.35; 11.1; Mc.1.14; 1.39; 1.45)
  • b. Mc.3.14: Quando Cristo selecionou os 12, ele os escolheu para realizar o trabalho que já realizava, e que transmitia a seus seguidores.
  • 4. As funções ministeriais de Judas também são definições do trabalho desempenhado pelos apóstolos após a ressurreição de Cristo:
  • a. Proclamação: Essa ação foi tomada por todos os seguidores que teriam experimentado a verdadeira salvação (At.2; 3; 4; 8.5; 9.20; 10.40-43…)
  • b. Sinais e Milagres: At.2.43; At.3.1-8; At.8.7…
5. A Judas Iscariotes foi prometido que estaria, no Reino, e que se assentaria em um dos doze tronos que julgaria a nação de Israel, no futuro.
  • a. Mt.19.27: Pedro afirma que os que estavam com Jesus naquele momento, tinham largado tudo para seguir a Cristo.
  • b. Mt.19.28: Jesus não confronta esse fato, e complementa que aqueles que o haviam seguido se assentariam em doze tronos para julgar as doze tribos de Jerusalém
  • c. Mt.19.29: Jesus assegura que aqueles que haviam deixado para trás o que os discípulos haviam deixado, herdariam a vida eterna.
  • d. Lc.22.28-30: Jesus teria dito que aqueles que estavam com Cristo naquele momento eram os que teriam permanecido com Ele. A esses ele garantiu a presença no Seu Reino no futuro.
Vamos fazer a réplica desse argumento em duas etapas:.
  • § MATEUS: Em Mateus essa afirmação de Jesus é feita na presença de todos os discípulos e a presença do termo “doze tronos” pressupõe que Jesus incluísse a todos os discípulos que estavam presentes. Entretanto, Pedro quando se refere a ausência de Judas em Atos, diz que era necessário que a vaga dele fosse suprida. De onde vem essa necessidade? É provável que provenha dessa afirmação de Cristo.
  • § LUCAS: Em Lucas temos um detalhe interessante, essa cena acontece durante a última noite. Cristo já havia anunciado que havia entre eles um traidor (v.21-22). Após essa declaração os discípulos se perguntam que é o traidor, e posteriormente quem seria o maior entre eles. Comparando esse fato com a narrativa de João, o diálogo que segue Lc.22.28-30 trata-se da negação de Pedro, que em João acontece após o momento em que Judas já teria sido possuído por Satanás e teria saído da presença dos outros discípulos. Assim, Jesus teria se referido apenas aos 11 presentes. A falta do termo “doze” em definição aos tronos, também sugere isso.
6. Jesus concedeu acesso ao perdão divino a todos os que estavam envolvidos na cena da crucifixão, por que Judas estaria de fora? (Lc.23.34)O fato de o perdão estar acessível, não significa que ele tenha sido aproveitado. Acaso, os romanos envolvidos na crucifixão de Cristo estavam automaticamente salvos por terem ouvido essas palavras? Acaso a fé não lhes foi necessária?
7. O suicídio de Judas não autentica sua não salvação. Aliás, parece que Pedro também não o destinou ao inferno (At.1.25):
  • a. No discurso em Atos, Pedro afirma que Judas foi para o “seu lugar”. Não há indicações objetivas que isso represente a ausência eterna de Deus (inferno).
  • b. É possível que a morte terrível que teve Judas, seja esse lugar a que refere-se Pedro. Esse era o lugar esperado para um traidor.
  • c. A expressão “transviou” (parabaino) pode indicar que Judas esteve sinceramente na companhia de Cristo, até que mudou de idéia, deixou, abandonou o posto ou cargo.
O suicídio pode não indicar que Judas era um não salvo, mas também não evidencia sua salvação.A questão de ter-se transviado, não significa que ele fora salvo e caiu em pecado, mas que abandonou o posto de discípulo e apóstolo. De fato, pode significar que ele esteve sincero na presença de Cristo seu seguidor. Mas, desde quando sinceridade no seguir a Cristo é requisito para salvação?
Argumentos Contra
Réplica
1. Durante o ministério de Cristo, Ele anunciou abertamente que entre seus seguidores havia pessoas que, embora estivessem com Ele, não eram de fato dele:
  • a. Jo.2.23-25: Após alguns dos seguidores de Cristo terem visto os sinais que ele fazia, passaram a crer no nome de Jesus. Entretanto, o próprio não se confiava a eles, pois os conhecia.
  • b. Jo.6.64: Após um sermão pesado, Jesus afirma que entre aqueles ouvintes haviam descrente. A expressão grega para “descrentes” é exatamente o termo grego empregado para crer como requisito para salvação (Jo.6.29; 30; 35; 36; 40; 47; 64). Nesse mesmo verso, João acresce que Jesus teria conhecimento desde o princípio sobre os que não criam e quem o havia de trair. Portanto, Judas não teria crido em Cristo.
  • c. Jo.6.66-71: Na continuação da passagem anterior, Jesus oferece a oportunidade para que seus discípulos o abandonem, assim como muitos dos seus seguidores o fizeram após seu discurso. Pedro, em nome de todos, diz que eles criam em Cristo. Ao ouvir isso, Jesus alerta Pedro em sua inocência, dizendo que um dos doze era um Diabo.
  • d. Portanto, Judas faz parte daquele grupo de pessoas que embora estivessem próximos a Cristo nunca pertenceram a Ele.
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2. Judas também é citado por Jesus nos seus últimos momentos e fica evidente nesse momento que Judas nunca fez parte da salvação, muito embora isso não fosse perceptível, mesmo entre os que estavam com Jesus.
  • a. Jo.13.10-11: Após ter argüido Pedro sobre sua postura diante de sua humildade, Jesus afirma que quem já se banhou não necessita de lavar os pés, mas complementa: “Ora, vós estais limpos, mas não todos”. João explica que Jesus havia dito isso, pois sabia quem era o traidor.
  • b. Jo.13.18: Após recomendar a prática da humildade com o lavar dos pés, Jesus afirma que eles serão bem-aventurados se praticarem essas coisas. Entretanto, completa dizendo que não fala com respeito a todos, mas ele sabe a quem escolheu. Isso era para evidenciar o cumprimento profético de Sl.41.9, como uma referência a Judas (Jo.13.26-30).
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3. Jesus havia ensinado que aqueles quem o Pai teria dado a Ele, de modo nenhum ele jogaria fora (Jo.6.37):
  • a. Jo.6.39: A segurança da Salvação é assegurada por Cristo, pois não perderia nenhum daqueles que o Pai o teria dado, e esses seriam ressuscitado no último dia.
  • b. Jo.6.40: Todos aqueles que depositassem fé e cressem no Filho, teriam acesso a vida eterna e seriam ressuscitados por Cristo no último dia.
  • c. Jo.6.44: Ninguém pode chegar a Cristo se não for encaminhado pelo Pai. Esse será salvo (Jo.6.65). O inverso é verdadeiro (Jo.14.6).
  • d. A verdade sobre a salvação é exposta no capítulo 6 de João, tanto da perspectiva da Predestinação Divina, quanto da Responsabilidade Humana. Entretanto, a garantia dessa salvação está restrita a Deus, como o que encaminha e garante essa salvação. Esses que são segurados por Cristo, não podem ser perdidos, pois estão garantidos por Deus.
  • e. Jo.17.12: Em sua oração, Jesus atesta que esteve com os discípulos, que os guardava em nome de Deus e os protegia de modo que nenhum deles se perdeu. Isso está em conformidade com o ensino de Jo.6. Entretanto, Jesus também afirma que o Filho da Perdição havia sido perdido e isto estava em conformidade com a revelação das Escrituras.
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4. Jesus teria dito que a pessoas que resistiam ao seu ensino que eles pertenciam ao Diabo (Jo.8.44):
  • a. Jo.8.42: Jesus apresenta um princípio simples para a salvação: Se os seus ouvintes tivessem por Pai a Deus, certamente eles iram amar a Cristo, pois ele mesmo teria vindo de Deus.
  • b. Jo.8.43: Nesse verso, Jesus questiona-se por que não compreendem sua linguagem. A resposta é simples, é por que eles são incapazes de ouvir o que ele diz. Tal incapacidade não é uma deficiência intelectual, mas uma resistência pessoal às verdades anunciadas.
  • c. Jo.8.44: Em explicação à essa resistência, Jesus afirma que esse pertencem ao Diabo. Em grego, podemos ler: vocês do Diabo são. Essa fato explica a falta de compreensão e a incapacidade em ouvir o que ele dizia.
  • d. Jo.6.70: Judas foi chamado de Diabo. A construção grega pode ser lida da seguinte maneira: “um de vocês diabo é”. Essa sentença é muito semelhante àquela que garante que eles pertencem ao Diabo. É possível inferir que o mesmo aconteça aqui. Se isso é verdadeiro, Judas sempre pertenceu ao Diabo, nunca foi salvo e foi escolhido para ser instrumento do maligno (Lc.22.3-6; Jo.13.2, 27) debaixo da supervisão e determinação de Deus (At.2.23) para a realização a crucificação de Cristo, executada voluntariamente por homens (At.2.23; cf. Mc.15.13, 14; Lc.23.21; Jo.19.2, 15).
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[1] O termo grego empregado no texto de Marcos é muito significativo, pois não tratava-se de uma pregação qualquer, mas do “kerigma” (o que é pregado, a mensagem) do evangelho. A pregação apostólica ficou conhecida como o KERIGMA da Igreja Primitiva. Já o ato de proclamar é identificado pelo verbo cognato “kerusso“, usado nesse texto de modo a dar a entender que Judas também estava escalado como um proclamador autorizado do reino e do evangelho de Cristo.
[2] A palavra “apóstolos” é utilizada nos evangelhos designar aqueles que estavam com Jesus, que foram eleitos por Ele para o acompanharem e que foram enviados por Ele (cf. Mt.10.2-5; Lc.6.13; Lc.11.49). Já em Atos pode-se notar que a referida palavra tem seu significado estendido, sendo atribuída àqueles que têm autoridade para ministrar, são ligados diretamente a Jesus (At.1.26; 2.37, 43; 4.33, 35-37; 5.12, 29), tem autoridade doutrinária (At.2.42), tem autoridade conciliar (At.15.2, 4, 6, 22-23) e são escolhidos pelo próprio Senhor Jesus (At.1.2). Essas são as características atribuídas a Judas, quando selecionado por Cristo para ser APÓSTOLO.
[3] PINTO, Carlos Osvaldo, Análise Exegética de Tito 1.1-2. Material não Publicado.
[4] Como Judas era familiar com o roubo, podemos dizer que tinha problemas com a sedução do dinheiro.

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